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Pós-graduação Letras UNIFESP 2º. Semestre de 2019

Prof. Dr. João Adolfo Hansen

Poemas espanhóis, portugueses e luso-brasileiros do século XVII

Soneto Soneto
Mientras por competir con tu cabello, La dulce boca que a gustar convida
oro bruñido el sol relumbra en vano, un humor entre perlas distilado
mientras con menosprecio en medio el llano y a no invidiar aquel licor sagrado
mira tu blanca frente al lilio bello; que a Jupiter ministra el garzón de Ida,
mientras a cada labio,por cogello, amantes no toquéis si queréis vida:
siguen más ojos que al clavel temprano, porque entre un labio y otro colorado
y mientras triunfa con desdén lozano Amor está de su veneno armado
de el luciente cristal tu gentil cuello; cual entre flor y flor sierpe escondida.
goza cuello,cabello,labio y frente, No os engañen las rosas,que a la Aurora
antes que lo que fue en tu edad dorada diréis que,aljofaradas y olorosas,
oro,lilio,clavel,cristal luciente se le cayeron del purpúreo seno;
no solo en plata o víola troncada manzanas son de Tántalo,y no rosas,
se vuelva,mas tú y ello juntamente que después huyen de el que incitan hora
en tierra,en humo,en polvo,en sombra,en nada. y solo de el Amor queda el veneno.
(D.Luís de GÓNGORA y Argote-1583) (Góngora-1584)

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Soneto Soneto
Ilustre y hermosísima Maria, Cosas,Celalba mía,he visto extrañas:
mientras se dejan ver a cualquier hora casarse nubes,desbocarse vientos,
en tus mejillas la rosada Aurora, altas torres besar sus fundamentos,
Febo en tus ojos,y en tu frente el dia, y vomitar la tierra sus entrañas;
y mientras com gentil descortesia duras puentes romper,cual tiernas cañas,
mueve el viento la hebra voladora arroyos prodigiosos,rios violentos
que la Arabia en sus venas atesora mal vadeados de los pensamientos,
y el rico Tajo en sus arenas cría: y enfrenados peor de las montañas;
antes que de la edad dorada Febo eclipsado, los dias de Noé, gentes subidas
y el claro dia vuelto en noche obscura, en los más altos pinos levantados,
huya la Aurora de el mortal nublado; en las robustas hayas más crecidas.
antes que lo que hoy es rubio tesoro Pastores, perros, chozas y ganados
venza a la blanca nieve su blancura, sobre las águas vi, sin forma y vidas,
goza,goza el color,la luz el oro. y nada temi más que mis cuidados.
(Góngora-1583) (Góngora-1596)
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Soneto Soneto (“Enseña como todas las


cosas avisan de la muerte”)

¡Ah de la vida!?Nadie me responde? Miré los muros de la patria mía,


Aquí de los antaños que he vivido; si un tiempo fuertes,ya desmoronados,
la fortuna mis tiempos han mordido; de la carrera de la edad cansados,
las horas mi locura las esconde. por quien caduca ya su valentía.
¡que sin poder saber cómo ni adónde, Salíme al campo,vi que el sol bebía
la salud y la edad se hayan huído! los arroyos del hielo desatados;
Falta la vida, asiste lo vivido y del monte,quejosos,los ganados,
y no hay calamidad que no me ronde. que con sombras hurtó su luz al día.
Ayer se fué, mañana no ha llegado, Entré en mi casa,vi que amancillada
hoy se está yendo sin parar un punto; de anciana habitación era despojos;
soy un fue, y un seré y un es cansado. mi báculo más corvo y menos fuerte,
En el hoy, y mañana, y ayer, junto vencida de la edad senti mi espada,
pañales y mortaja, y he quedado y no hallé cosa en que poner los ojos
presentes sucesiones de difunto. que no fuese recuerdo de la muerte.
(D.Francisco de QUEVEDO Villegas) (Quevedo)

Soneto Soneto: A um Desengano


Sinto-me sem sentir todo abrasado Será brando o rigor, firme a mudança,
No rigoroso fogo, que me alenta, Humilde a presunção, vária a firmeza,
O mal, que me consome, me sustenta, Fraco o valor, covarde a fortaleza,
O bem, que me entretém, me dá cuidado: Triste o prazer,discreta a confiança,
Ando sem me mover, falo calado, Terá a ingratidão firme lembrança,
O que mais perto vejo,se me ausenta, Será rude o saber, sábia a rudeza,
E o que estou sem ver, mais me atormenta, Lhana a ficção, sofística a lhaneza,
Alegro-me de ver-me atormentado: Áspero o amor, benigna a esquivança.
Choro no mesmo ponto, em que me rio, Será merecimento a indignidade,
No mor risco me anima a confiança, Defeito a perfeição, culpa a defensa,
Do que menos se espera estou mais certo; Intrépido o temor, dura a piedade,
Mas se de confiado desconfio, Delito a obrigação, favor a ofensa,
É porque entre os receios da mudança Verdadeira a traição, falsa a verdade,
Ando perdido em mim, como em deserto Antes que vosso amor meu peito vença.
(Antônio Barbosa Bacelar (1610-1663) (Violante do Céu-1607-1693)

Soneto Soneto
Discreta, e formosíssima Maria, O todo sem a parte não é todo,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora A parte sem o todo não é parte,
Em tuas faces a rosada Aurora, Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: Não se diga, que é parte, sendo todo.
Enquanto com gentil descortesia Em todo o Sacramento está Deus todo,
O ar, que fresco Adônis te namora, E todo assiste inteiro em qualquer parte,
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Te espalha a rica trança voadora, E feito em partes todo em toda a parte,
Quando vem passear-te pela fria: Em qualquer parte sempre fica o todo.
Goza,goza da flor da mocidade, O braço de Jesus não seja parte,
Que o tempo trota a toda ligeireza, Pois que feito Jesus em partes todo,
E imprime em toda a flor sua pisada. Assiste cada parte em sua parte.
Oh não aguardes, que a madura idade Não se sabendo parte deste todo,
Te converta em flor, essa beleza Um braço,que lhe acharam,sendo parte,
Em terra, em cinza, em pó,em sombra, em nada. Nos disse as partes todas deste todo.
(Gregório de Matos e Guerra-1636-1696) (Gregório de Matos e Guerra)

Soneto Soneto
Ó mão não de cristal, não mão nevada, Um soneto começo em vosso gabo;
Mão de relógio sim, pois que pudeste Contemos esta regra por primeira,
Nesta mísera terra, em que nasceste, Já lá vão duas,e esta é a terceira,
Fazer dar tanta infinda badalada. Já este quartetinho está no cabo.
Que mão de almofariz enxovalhada Na quinta torce agora a porca o rabo:
Foi tal como tu foste, ó mão celeste A sexta vá também desta maneira,
Pois foste,quando mais resplandecente Na sétima entro já com grã canseira,
Em tantas de papel, tão mal louvada. E saio dos quartetos muito brabo.
Nem de cebola a mão negra, e grosseira Agora nos tercetos que direi?
Queimada entre morrões publicamente Direi, que vós,Senhor,a mim me honrais,
Merecia tão míseras Poesias. Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Mas louvo-as de sutis em grã maneira Nesta vida um soneto já ditei,
Pois que para apagar a flama ardente Se desta agora escapo, nunca mais;
Se fizeram de indústria assim tão frias Louvado seja Deus, que o acabei.
(D.Tomás de Noronha-(?-1651)- (Gregório de Matos e Guerra)
(Às poesias que se fizeram a uma (Ao Conde da Ericeira D.Luiz de Menezes
queimadura da mão de uma senhora) pedindo louvores ao poeta não lhe achando
ele préstimo algum)

Soneto Soneto
À margem de uma fonte,que corria Mancebo sem dinheiro,bom barrete,
Lira doce dos pássaros cantores Medíocre o vestido,bom sapato,
A bela ocasião das minhas dores Meias velhas,calção de esfola-gato,
Dormindo estava ao despertar do dia. Cabelo penteado,bom topete.
Mas como dorme Sílvia,não vestia Presumir de dançar,cantar falsete,
O Céu seus horizontes de mil cores; Jogo de fidalguia,bom barato,
Dominava o silêncio sobre as flores, Tirar falsídia ao Moço do seu trato,
Calava o mar, e rio não se ouvia. Furtar a carne à ama,que promete.
Não dão o parabém à bela Aurora A putinha aldeã achada em feira,
Flores canoras,pássaros fragrantes, Eterno murmurar de alheias famas,
Nem seu âmbar respira a rica Flora. Soneto infame,sátira elegante.
Porém abrindo Sílvia os dois diamantes, Cartinhas de trocado para a Freira,
Tudo a Sílvia festeja, e tudo a adora, Comer boi,ser Quixote com as Damas,
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Aves cheirosas,flores ressonantes. Pouco estudo,isto é ser estudante.
(Gregório de Matos) (Gregório de Matos)

Soneto Soneto
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Ven ya,miedo de fuertes y de sabios;
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: irá la alma indignada con gemido;
Com sua língua ao nobre o vil decepa: debajo de las sombras y el olvido
O Velhaco maior sempre tem capa. beberán por demás mis labios secos.
Mostra o patife da nobreza o mapa: Por tal manera Curios,Decios,Fabios
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; fueron;por tal ha de ir cuanto ha nacido;
Quem menos falar pode, mais increpa: si quieres ser a alguno bien venido,
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. trae com mi vida fin a mis agravios.
A flor baixa se inculca por Tulipa; Esta lágrima ardiente con que miro
Bengala hoje na mão, ontem garlopa: el negro cerco que rodea a mis ojos,
Mais isento se mostra o que mais chupa. Naturaleza es,no sentimiento.
Para a tropa do trapo vazo a tripa, Con el aire primero este suspiro
E mais não digo,porque a Musa topa empecé,y hoy le acaban mis enojos,
Em apa, epa,ipa,opa,upa. porque me deba todo el monumento.
(Gregório de Matos) (Quevedo- “Llama a la muerte de otra
manera”)

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