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Soneto Soneto
Mientras por competir con tu cabello, La dulce boca que a gustar convida
oro bruñido el sol relumbra en vano, un humor entre perlas distilado
mientras con menosprecio en medio el llano y a no invidiar aquel licor sagrado
mira tu blanca frente al lilio bello; que a Jupiter ministra el garzón de Ida,
mientras a cada labio,por cogello, amantes no toquéis si queréis vida:
siguen más ojos que al clavel temprano, porque entre un labio y otro colorado
y mientras triunfa con desdén lozano Amor está de su veneno armado
de el luciente cristal tu gentil cuello; cual entre flor y flor sierpe escondida.
goza cuello,cabello,labio y frente, No os engañen las rosas,que a la Aurora
antes que lo que fue en tu edad dorada diréis que,aljofaradas y olorosas,
oro,lilio,clavel,cristal luciente se le cayeron del purpúreo seno;
no solo en plata o víola troncada manzanas son de Tántalo,y no rosas,
se vuelva,mas tú y ello juntamente que después huyen de el que incitan hora
en tierra,en humo,en polvo,en sombra,en nada. y solo de el Amor queda el veneno.
(D.Luís de GÓNGORA y Argote-1583) (Góngora-1584)
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Soneto Soneto
Ilustre y hermosísima Maria, Cosas,Celalba mía,he visto extrañas:
mientras se dejan ver a cualquier hora casarse nubes,desbocarse vientos,
en tus mejillas la rosada Aurora, altas torres besar sus fundamentos,
Febo en tus ojos,y en tu frente el dia, y vomitar la tierra sus entrañas;
y mientras com gentil descortesia duras puentes romper,cual tiernas cañas,
mueve el viento la hebra voladora arroyos prodigiosos,rios violentos
que la Arabia en sus venas atesora mal vadeados de los pensamientos,
y el rico Tajo en sus arenas cría: y enfrenados peor de las montañas;
antes que de la edad dorada Febo eclipsado, los dias de Noé, gentes subidas
y el claro dia vuelto en noche obscura, en los más altos pinos levantados,
huya la Aurora de el mortal nublado; en las robustas hayas más crecidas.
antes que lo que hoy es rubio tesoro Pastores, perros, chozas y ganados
venza a la blanca nieve su blancura, sobre las águas vi, sin forma y vidas,
goza,goza el color,la luz el oro. y nada temi más que mis cuidados.
(Góngora-1583) (Góngora-1596)
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Soneto Soneto
Discreta, e formosíssima Maria, O todo sem a parte não é todo,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora A parte sem o todo não é parte,
Em tuas faces a rosada Aurora, Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: Não se diga, que é parte, sendo todo.
Enquanto com gentil descortesia Em todo o Sacramento está Deus todo,
O ar, que fresco Adônis te namora, E todo assiste inteiro em qualquer parte,
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Te espalha a rica trança voadora, E feito em partes todo em toda a parte,
Quando vem passear-te pela fria: Em qualquer parte sempre fica o todo.
Goza,goza da flor da mocidade, O braço de Jesus não seja parte,
Que o tempo trota a toda ligeireza, Pois que feito Jesus em partes todo,
E imprime em toda a flor sua pisada. Assiste cada parte em sua parte.
Oh não aguardes, que a madura idade Não se sabendo parte deste todo,
Te converta em flor, essa beleza Um braço,que lhe acharam,sendo parte,
Em terra, em cinza, em pó,em sombra, em nada. Nos disse as partes todas deste todo.
(Gregório de Matos e Guerra-1636-1696) (Gregório de Matos e Guerra)
Soneto Soneto
Ó mão não de cristal, não mão nevada, Um soneto começo em vosso gabo;
Mão de relógio sim, pois que pudeste Contemos esta regra por primeira,
Nesta mísera terra, em que nasceste, Já lá vão duas,e esta é a terceira,
Fazer dar tanta infinda badalada. Já este quartetinho está no cabo.
Que mão de almofariz enxovalhada Na quinta torce agora a porca o rabo:
Foi tal como tu foste, ó mão celeste A sexta vá também desta maneira,
Pois foste,quando mais resplandecente Na sétima entro já com grã canseira,
Em tantas de papel, tão mal louvada. E saio dos quartetos muito brabo.
Nem de cebola a mão negra, e grosseira Agora nos tercetos que direi?
Queimada entre morrões publicamente Direi, que vós,Senhor,a mim me honrais,
Merecia tão míseras Poesias. Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Mas louvo-as de sutis em grã maneira Nesta vida um soneto já ditei,
Pois que para apagar a flama ardente Se desta agora escapo, nunca mais;
Se fizeram de indústria assim tão frias Louvado seja Deus, que o acabei.
(D.Tomás de Noronha-(?-1651)- (Gregório de Matos e Guerra)
(Às poesias que se fizeram a uma (Ao Conde da Ericeira D.Luiz de Menezes
queimadura da mão de uma senhora) pedindo louvores ao poeta não lhe achando
ele préstimo algum)
Soneto Soneto
À margem de uma fonte,que corria Mancebo sem dinheiro,bom barrete,
Lira doce dos pássaros cantores Medíocre o vestido,bom sapato,
A bela ocasião das minhas dores Meias velhas,calção de esfola-gato,
Dormindo estava ao despertar do dia. Cabelo penteado,bom topete.
Mas como dorme Sílvia,não vestia Presumir de dançar,cantar falsete,
O Céu seus horizontes de mil cores; Jogo de fidalguia,bom barato,
Dominava o silêncio sobre as flores, Tirar falsídia ao Moço do seu trato,
Calava o mar, e rio não se ouvia. Furtar a carne à ama,que promete.
Não dão o parabém à bela Aurora A putinha aldeã achada em feira,
Flores canoras,pássaros fragrantes, Eterno murmurar de alheias famas,
Nem seu âmbar respira a rica Flora. Soneto infame,sátira elegante.
Porém abrindo Sílvia os dois diamantes, Cartinhas de trocado para a Freira,
Tudo a Sílvia festeja, e tudo a adora, Comer boi,ser Quixote com as Damas,
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Aves cheirosas,flores ressonantes. Pouco estudo,isto é ser estudante.
(Gregório de Matos) (Gregório de Matos)
Soneto Soneto
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Ven ya,miedo de fuertes y de sabios;
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: irá la alma indignada con gemido;
Com sua língua ao nobre o vil decepa: debajo de las sombras y el olvido
O Velhaco maior sempre tem capa. beberán por demás mis labios secos.
Mostra o patife da nobreza o mapa: Por tal manera Curios,Decios,Fabios
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; fueron;por tal ha de ir cuanto ha nacido;
Quem menos falar pode, mais increpa: si quieres ser a alguno bien venido,
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. trae com mi vida fin a mis agravios.
A flor baixa se inculca por Tulipa; Esta lágrima ardiente con que miro
Bengala hoje na mão, ontem garlopa: el negro cerco que rodea a mis ojos,
Mais isento se mostra o que mais chupa. Naturaleza es,no sentimiento.
Para a tropa do trapo vazo a tripa, Con el aire primero este suspiro
E mais não digo,porque a Musa topa empecé,y hoy le acaban mis enojos,
Em apa, epa,ipa,opa,upa. porque me deba todo el monumento.
(Gregório de Matos) (Quevedo- “Llama a la muerte de otra
manera”)