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  O patolÓGICO

O PATOLÓGICO
Centro Acadêmico Adolfo Lutz - Medicina Unicamp - ano mmx - fevereiro

Bem-vinda, XLVIII turma!

SPASMO! SEXUALIDADE
Thais Dias(XLV) Depois da sobrevivência, não existe nada mais importante
“Espero que esteja sempre comigo, para ambos como andarilhos de pés descalços por esses ventos a ser resolvido, para os homens, do que os problemas rela-
desbravando trilhas pelo sertão das palavras e da vida.” cionados à disfunção eretiva do pênis.

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SAIU NA MÍDIA PATOCULTURAL HPMA


“Direita Volver” de Marcelo Ru- “É tarde, é tarde, é tarde” Calouro: Não deixe que a medicina se
bens Paiva.
Alice no país das maravilhas: torne a rotina idiota de deixar de viver,
“País do futuro com esse passado e
para aprender os modos de morrer. O
presente? Se liga! “
Onírico, lúdico e atual: novo filme estréia em Patológico, edição Março de 1990
2010.
» leia mais, p. 6 » leia mais, p. 8 » leia mais, p. 8
2  O patolÓGICO fevereiro de 2010

SEXUALIDADE
Sexualidade e o deficiente fí- foi danificada, o homem pode, no período de excita- na fase de reabilitação, como, por exemplo, as infec-
ção, continuar apresentando a chamada “ereção psico- ções urinárias e do trato genital, a presença de fístulas
sico gênica”, ou ereção provocada pelas fantasias sexuais; uretrais, a utilização de práticas para o controle da es-
“Depois da sobrevivência, não existe nada mais aquela que surge quando a pessoa assiste a filmes eró- pasticidade através de cirurgias nos nervos periféricos
importante a ser resolvido, para os homens, do que os ticos ou lê revistas pornográficas, por exemplo. e as infiltrações nervosas com álcool ou fenol. Estes
problemas relacionados à disfunção eretiva do pênis. Existe um fenômeno trágico nas primeiras tentati- tratamentos das seqüelas são mais prejudiciais para
O homem que se torna deficiente físico deve observar vas sexuais de lesados medulares, que ocorre quando a função sexual do que a própria deficiência física. A
se existe a presença de ereções penianas espontâneas, o homem percebe que tem ereções durante a mas- maioria dos médicos se esquece de informar aos pa-
as chamadas ereções reflexas, e como e quando elas turbação. Quando toca com as mãos o seu pênis, ele cientes dos riscos da utilização destes recursos.
ocorrem. percebe que a ereção é rígida, e tudo parece indicar O sentimento psíquico de impotência e inadequa-
As ereções deste tipo não têm ligação direta com que sua sexualidade não foi afetada. Então, tendo uma ção demanda questões mais amplas ligadas ao resgate
a excitação sexual; podem aparecer por estimulação parceira, ele investe nas preliminares, e também cons- da identidade pessoal; toda história pessoal, sua forma
proprioceptiva da uretra, por exemplo, quando a bexi- tata que, enquanto sua parceira manipula seu órgão, de ver o mundo e os outros, suas crenças, seus valores
ga está cheia, ou por estimulação tátil, quando o órgão seja de forma oral ou manual, continua tendo ereções e seus medos sofrem uma revolução.
sexual recebe estimulação direta. Este tipo de ereção de boa qualidade, porém, quando tenta realizar uma A única saída é utilizar todo o seu potencial tentan-
é comum em paraplégicos e tetraplégicos espásticos, penetração, após alguns minutos, perde a ereção. Ele do dar maior objetividade ao problema, evitando am-
aqueles que têm movimentos involuntários de braços volta a manipular o pênis e tem ereção, mas por mais bigüidades e falsas interpretações. O que o deficiente
ou de pernas. que tente não consegue completar o coito. físico mais necessita é clareza de idéias para que possa
Os homens deficientes físicos ou não, indepen- O homem não compreende que pode ter “falhado”; tomar ele mesmo as decisões sobre o procedimento
dente da orientação hetero ou homossexual, em geral sente-se excitado e com desejo intenso de penetrar que mais lhe convém. E quem participar deste resgaste,
atribuem essencial importância ao desempenho fálico sua parceira. Sabe que o problema não é falta de von- seja um profissional, um familiar, ou um(a) parceiro(a)
(do pênis) quando avaliam a si mesmos, identificam o tade, não é depressão, não é nada com sua parceira, sexual, precisa desenvolver um grau mais adequado
masculino, o macho, com o órgão sexual. Mesmo que sente-se potente, porém tem a realidade da perda ere- de envolvimento com sua problemática global para
não tenham sensibilidade genital, mesmo que consi- tiva e o medo da rejeição. A parceira não compreende, assim poder atuar de forma empática e relamente mo-
gam satisfazer suas parceiras utilizando o corpo todo, pode sentir-se insegura e atacar seu parceiro, ou passar bilizadora.”
mesmo que sejam amados com ardor, se não tem um a se culpar. O sexo torna-se um tormento, e, pasmem, o Texto extraído do livro: A Revolução Se-
nível de controle da ereção, sentem-se impotentes, único vilão desta história quase nunca é descoberto. xual Sobre Rodas
não somente para o sexo, mas muitas vezes para todo É muito difícil manter o mesmo estímulo do pênis Autor: Fabiano Pulhmann
tipo de relacionamento mais íntimo. na relação com penetração quando somente a ereção Editora: Nome da Rosa
A grande maioria dos deficientes físicos não apre- reflexa está preservada. Sua ereção psicogênica, aque- Opiniões, sugestões ou críticas para a co-
senta disfunção erétil. Apenas quando há alterações la obtida sem que ocorra contato com a genitália, está luna: gabrielamartelli@hotmail.com
circulatórias importantes e nas lesões graves do sis- lesada, então quando o homem muda de posição, o
tema nervoso central podemos encontrar disfunções estímulo é cortado bruscamente, sendo quase impos-
eretivas. Vale lembrar que hoje existe tratamento efi- sível evitar o frustrante corte da excitação do casal.
caz para quase todos os problemas sexuais de causa Outro problema sério é que, infelizmente, algumas
orgânica. disfunções sexuais são agravadas por procedimentos
Nas lesões medulares, dependendo da região que invasivos, ocorridos no período de hospitalização e/ou

espaço aaaal
Devido a gastos anteriores e complicações decorrentes das dívidas, a
AAAAL está implantando o KIT INTERMED/CALOMED.

Esse Kit já vem sendo utilizado por outras faculdades, como a Unesp-
Botucatu, USP-Pinheiros e USP-Ribeirão, Santa Casa, PUCCAMP, entre ou-
tras.

E tem dado ótimos resultados, com grande adesão dos alunos. Esse ano,
o Kit Intermed sai apenas R$45,00 para associados e R$30,00 para atletas
(também associados). Ao adquirir o Kit, você ganha a bata da compe-
tição, uma camiseta, artigos de torcida, alojamento para todos os dias,
ônibus (ida e volta), e ainda pode ter acesso à casa do atleta. Por isso, é
de grande importância se tornar um associado.

Para ser um, basta adquirir a sua Carteirinha AAAAL, que oferece mui-
tas vantagens, que incluem o desconto no kit, descontos nos produtos
exclusivos da Lojinhaaaal e em eventos da nossa Atlética, descontos em
empresas conveniadas que variam desde moda à alimentação, e des-
contos em cinemas e teatros. Essa carteirinha serve como carteirinha de
estudante! Para mais informações, mktaaaal@gmail.com ou fale com um
integrante da AAAAL.

A.A.A.A.L. 2010
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Carta de uma estudante em movimento


Foi quando minha dor encontrou a tua, mundo do que imaginamos. há mais de 2 milhões de acampados, que ainda
ali doendo em minha alma, Pude perceber que é responsabilidade de esperam por seu pedaço de chão, debaixo de lonas
alma que havia se exilado em ti todos os que passam a enxergar a maneira como e paus. Mas o mais terno da luta é ver a gratidão
sentindo minhas dores. a sociedade exclui, explora e condena, fazer ao movimento daqueles que tudo o que tem
algo para mudar essa situação. É enxergar-se hoje, foi pela militância de seus coordenadores e
Foi então que não sabia
responsável e perceber-se parte das engrenagens dirigentes.
se sentia tuas dores em minha alma
que movimentam a nossa sociedade. Um grande descoberta para mim e aqueles
ou tua alma em minhas dores que tiveram a oportunidade de conhecer um
Depois que me enxerguei como responsável
eu no outro, o outro em mim por isso tudo, não pude mais calar-me e aceitar assentamento ou acampamento de perto, é tirar
(trecho do poema Fragmentos de Mauro o egoísmo dos estudantes e o individualismo a venda dos olhos posta pela mídia, comandada
Luis Iasi) corporativo da medicina. Precisei ir atrás de pelos setores conservadores e patrimonialistas da
ferramentas e aprendizados que me mostrassem sociedade brasileira. Eles perseguem quem luta
Faz dias que penso em escrever este texto, o que é possível fazer para mudar essa realidade pela plena realização dos direitos sociais garantidos
mas me era muito difícil colocar as idéias no lugar. tão cruel. O estágio surgiu nesse ponto. na Constituição e por medidas de melhoria das
Confesso, fugi um pouco das reflexões que o Estágio A partir dele, pude conviver com pessoas que condições de vida do povo brasileiro, como
de Vivência em Extensão Popular (ENVEPOP) um dia não tiveram onde viver, nem tiveram escola, saúde, trabalho e dignidade. É necessário
me proporcionou, pois foram tantas angústias condições de trabalhar dignamente, pois sempre criminalizar, estigmatizar os pobres que lutam e
e experiências, que tive medo. Mas algo fez a estiveram submetidas à exploração, à exclusão se organizam, como violentos e causadores da
necessidade de reflexão instabilidade política, para que
bater em minha porta: haja manutenção da ordem
ontem tive a belíssima dirigida por esses setores da
chance de conhecer sociedade.
um acampamento Vale a pena ver de verdade
do Movimento dos o que acontece, antes de tirar
Trabalhadores sem Teto suas próprias conclusões.
(MTST), onde teremos Não podemos ignorar a
o prazer de fazer uma individualidade de cada ser
vivência com os calouros da humano, pois em qualquer
XLVIII turma de medicina. organização haverá pessoas
Qual não foi minha idôneas e pessoas mal-
surpresa ao me deparar com intencionadas. Mas somos
o Acampamento Zumbi estudante críticos e não podemos
dos Palmares, o mesmo nos deixar levar por opiniões
nome do assentamento massificadas e preconceituosas,
do Movimento dos antes de conhecer a realidade
Trabalhadores Rurais sem de cada um.
Terra (MST), onde tive a Fazer uma vivência é acreditar
oportunidade de viver nesse conhecer de perto,
por 11 dias, justamente acreditar que só poderemos
no Estágio de Vivência ser pessoas e profissionais
da Jornada de Extensão bons, e comprometidos com
Universitária (JORNExU) da nossa gente e nossa sociedade,
UFPB! se pudermos enxergar de
Tantas lembranças, verdade, lado a lado, quais as
angústias, saudades, preocupações... Tudo de dos meios produtivos, dos sistemas educacional e necessidades das pessoas e qual nossa parcela de
repente veio à tona e me levou a relembrar e de saúde de qualidade. E graças a um movimento responsabilidade nisso.
digerir um pouquinho mais de tudo o que vivi social organizado, de pessoas exploradas que Depois de conviver com D. Maria da Penha,
de 25 de janeiro a 12 de fevereiro deste ano, perceberam o quão errada está essa exclusão e D. Dora, Nego, Mile, Luciano, Nice, Paulo Sérgio,
no assentamento Zumbi dos Palmares e no decidiram ir atrás de sua dignidade, conseguiram Dilma, Zé do Brejo, Beta, Damião, Higor, Gabriela,
Acampamento Pequena Vanessa, no município de enfim, trabalho, terra, vida. Laís e tantos outros lutadores, tenho a sensação
Mari, interior paraibano. de que nunca mais me omitirei perante a miséria
Para quem não sabe, o conceito Estágio de É aí que os estudantes de medicina se e a exploração. Participar da luta significa estar
Vivência se aplica a estágios que ocorrem por entrelaçam à dinâmica. Como estudantes, ao lado deles, apoiá-los nas bandeiras e auxiliar
todo o Brasil e que tem como objetivo promover devemos democratizar nossos conhecimentos, na descriminalização de um movimento que tem
a interação entre estudante e comunidade, as oportunidades que tivemos, para que outros apenas três objetivos: Lutar pela terra, lutar pela
não de maneira assistencialista, mas sim lado também as tenham, e basear a produção do reforma agrária e lutar por uma sociedade mais
a lado, vivendo como o outro vive. Assim, conhecimento nas realidades sociais. Como futuros justa e fraterna, que é meu objetivo daqui em
podemos enxergar de maneira crítica o papel médicos, devemos entender a saúde de maneira diante, como estudante, médica, militante e ser
de cada ser humano, entendendo o papel social completa, que tem como seu determinante humano.
de sua profissão e atentando às contradições central as condições sociais. A partir disso, se torna Sarah Barbosa Segalla(XLVI(
e necessidades do outro para que possamos óbvio que, como promotores de saúde, devemos Gestão Rosa dos Ventos
aprender e crescer juntos. defender aqueles que compartilham da luta pela
A razão pela qual decidi participar de um dignidade humana, por condições sociais que
estágio como esse, é que ao longo do último propiciem saúde mental, física, espiritual e social
ano, no qual participei da Gestão Roda Viva, pude para as pessoas.
aprender através do movimento estudantil e da Daí minha imensa gratidão ao movimento
prática de extensão popular, que os estudantes sem terra, que pude conhecer na pele, e perceber
e, no caso, os estudantes de medicina, tem muito o quanto fez por mais de 15 milhões de pessoas,
mais a ver com as contradições sociais do nosso atualmente assentadas no Brasil. Além dessas,
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O MAIS POLÊMICO DOS nossos RITUAIS


O cotidiano, da forma que vivemos nos à mais tradicional das Faculdades de Direito do semanais, pela classificação na Intermed, pelas
dias de hoje, é geralmente polarizado por dois país. E todo ano os recém ingressantes ouvem atividades do Centro Academico e/ou da Atlé-
opostos: o cumprimento integral de todas as dos mais velhos que eles também podem pra- tica, pela organização da formatura, por ligas
leis e regras presentes em uma sociedade até ticar o Pindura, pois agora são franciscanos. acadêmicas e, acima de tudo, pelo peso de ser
a ausência completa destas leis e regras pre- Surge a questão: mas e a LEI? Como já ex- um futuro médico, formado em uma das mais
viamente estabelecidas. É evidente que são plicado, o ritual legitima ações durante o mo- conceituadas faculdades do país.
situações estereotipadas em uma visão sim- mento de sua ação que independem de leis
plificadora e superficial do cotidiano. Porém, prévias. Insistimos em criticar um ritual que, por
é entre os dois opostos que necessariamente No entanto, o presente texto não tem por mais que muitos sugiram o contrário, possui
situamos nossas atitudes e compreendemos a objetivo julgar juridicamente determinado ri- uma dose de violência embutida nele. Mas
realidade a nossa volta. tual, mas sim compreender a origem do ritu- esquecemos de citar o quanto de violência
Mas tal fenômeno não é algo individual al mais polêmico de nossa faculdade: o trote. já impregnada temos dentro de nosso curso,
que, caso somássemos todas as posturas indi- Trote o qual, por mais que muitas vezes seja nossos estudantes, nossa faculdade. Insistimos
viduais, teríamos como resultado um coletivo sugerido, nunca foi consenso dentro de uma no direito de escolha dos calouros de se sub-
definido. Deve-se considerar as diversas es- faculdade tão heterogênea e, provavelmente, meterem ou não a uma hierarquia proclama-
feras que surgem para garantir a famigerada nunca será. Trote o qual, por mais que muitas da de tantas maneiras, mas esquecemos que
“ordem” coletiva, o que muitas vezes funciona vezes seja sugerido, não é agradável, desejado quanto mais tempo passa depois da condição
como justificativa para cerceamentos individu- e obrigatório para todos os recém ingressantes de calouro, mais a faculdade parece escassa de
ais. desta faculdade. escolhas próprias.
Nesse sentido, formadas as esferas e situan- É necessário, inicialmente, considerar que É nesse contexto que parece ser legitimada
do a sociedade em torno delas, teríamos como algo que não é necessariamente “politicamente uma tradição antiga e bem estruturada, a qual
princípio e objetivo a gênese de um coletivo correto” não possa ser prazeroso. Se não fosse promete um ritual de iniciação, sob a condição
harmônico que seguisse regras de maneira prazeroso para uma parcela, tanto dos calou- de calouro (já despido de muitos valores pré-
suficiente a garantir subsistência tanto para ros quanto dos veteranos, o ritual não surgiria, vios), assumindo a “base da cadeia alimentar
a sociedade quanto para as próprias esferas. da faculdade”, com o objetivo de ingressar na
No entanto, quando há, em grupos menores nova vida universitária e conseguir se adaptar
de pessoas, valores diferentes dos que eram Para conseguir suportar e se a ela. No entanto, é fato que, muitas vezes, para
proclamados e ditos para todos, é criada uma adaptar aos futuros seis anos, é conseguir suportar e se adaptar aos futuros seis
necessidade de legitimar esses valores. Assim, anos, é muito mais cômodo e fácil assumir tal
surge o RITUAL. Dentro dele, serão concedidos muito mais cômodo e fácil assu- condição e aceitar situações que previamente
AUTORIDADE e LEGITIMIDADE para o pequeno mir tal condição e aceitar situa- seríamos contra.
grupo, o que garantirá a estrutura, organização ções que previamente seríamos Insistimos em achar que a semana de ca-
e execução destes “novos” valores. O que deve lourada é um ritual breve, mas, no entanto,
ficar claro é que estes novos valores não são contra. ele faz parte de um ritual muito maior. Inicia
válidos no coletivo, apenas no ritual. Exempli- quando você lê seu nome na lista do vestibu-
ficando: fazer contato com o mundo transcen- lar. O fim dele não é fácil definir. O meio dele
dente em um centro espírita é algo aceitável, muito menos permaneceria. Aliás, o ritual do pode variar muito, mas, certamente, doses de
porém se você o fizer em um espaço público, trote surge exatamente da euforia da conquis- violência e pressão intensa comporão seu en-
corre o risco de ser punido. ta e do desejo de ingressar na nova vida, a vida redo. Quem o legitima? Nós mesmos, quando
Outro elemento de um ritual é a repetição. universitária. o aceitamos. Quem o propaga? Nós mesmos,
Criar uma metodologia dá segurança e familia- Mas se há tanta euforia, não poderíamos quando o aceitamos ou tentamos justificá-lo
ridade para o grupo. “O ritual é um manifesto canalizá-la para algo mais produtivo e harmô- como a única saída.
contra a indeterminação”. É necessário saber nico, algo menos “alcoólico e intenso”? Só se Talvez, a grande diferença do nosso próprio
exatamente onde ele ocorrerá, garantir a pre- mudássemos tudo: a faculdade, a universida- ritual para tantos outros rituais é que, como ele
sença da maior parte do grupo e garantir a de, o perfil de quem está entrando e o perfil de parece sem fim, é impossível sentir que você
entrada contínua de novas pessoas no grupo. quem já entrou. completou o ritual e agora faz parte do grupo
Assim, surgem dentro da Universidade rituais É pífio querer acreditar em um trote solidá- que o executa. Somos executores e protago-
que são executados e somente compreendi- rio, humano e transformador em uma facul- nistas. Surge, assim, a dificuldade de analisá-lo.
dos se considerados sob a ótica do grupo que dade em que os estudantes recebem de 60 Surge, assim, a razão de tanta polêmica. Como
os conceberam. No dia onze de agosto, grande a 100 horas de conteúdo por semana. É pífio podemos ser contra um ritual que sabemos ser
parte dos estudantes da Faculdade de Direito querer acreditar em um trote diferente em impossível sair? Mais fácil aceitá-lo como a úni-
do Largo de São Francisco consomem em res- uma universidade que impossibilita estudan- ca saída e executá-lo nos novos protagonistas.
taurantes da cidade e, ao invés de pagarem a tes de medicina de se matricular em matérias Inevitavelmente, eles serão iniciados, ou na
conta, vão embora celebrando o tradicional de outros institutos, de montarem sua própria semana de calourada, ou no primeiro dia de
Pindura, muitas vezes sendo detidos e levados grade curricular. É pífio querer acreditar em aula.
até a delegacia. É comum ver a indignação dos uma calourada transformadora para recém in- Nos últimos anos, criou-se, dentro deste
donos de restaurantes, dos outros clientes do tegrantes que, em sua maioria, passaram pelo ritual, um grupo de pessoas mobilizadas a fa-
estabelecimento e de muitos daqueles que menos os últimos cinco anos sacrificando sua zer força contrária ao próprio ritual. O que era
nunca cursaram Direito a respeito da levianda- juventude para assimilar conteúdo suficiente inevitável, elas se esforçarão para não ser. O
de praticada pelos universitários. Agora, expe- para derrotar mais de nove mil candidatos. É trote humano e transformador que era pífio,
rimente chamar um franciscano de leviano e pífio querer acreditar em idéias construtivas elas genuinamente acreditam. Não por serem
você estará sujeito a discutir horas a respeito surgindo de estudantes que estão há pelo me- necessariamente contra tradições. Mas por se
do quão tradicional é o ritual e quanto aqui- nos um ano sendo pressionados diariamente negarem a propagar o mesmo ritual, se nega-
lo faz parte da história de uma faculdade de pelos professores, pelos colegas, pelos pais, rem a justificá-lo.
quase duzentos anos. Justificariam que não é pela classificação na turma, por qual residência
um ritual aleatório, tem data exata, há um pro- escolherão, pela própria prova de residência, Henrique Sater (Abrealas) - XLV
tocolo a ser seguido (inclusive para não correr por um hospital sobrecarregado, por estágios Gestão Rosa dos Ventos
riscos de penas judiciais) e é algo pertencente com até três plantões por semana, por treinos
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Projeto Rondon – Relato de dois Rondonistas


Lição de vida e de cidadania. Este é o lema do se muito empolgante. Ao chegar em Salvador, e AIDS, Drogas e Álcool, Violência Doméstica e
Projeto Rondon, projeto de extensão universitária fomos transportados até Feira de Santana-BA, e Sexual, Importância da Amamentação, Esporte e
coordenado pelo Ministério da Defesa em ficamos hospedados por dois dias no quartel do Lazer e Primeiros Socorros.
colaboração com outros ministérios, que foi 35º Batalhão de Infantaria, onde houve a abertura Com a participação no projeto Rondon,
reativado em janeiro de 2005 a partir de uma oficial da operação e oficinas de sobrevivência na obtivemos uma verdadeira lição de vida e de
proposta da UNE – União Nacional dos Estudantes caatinga, ministradas por soldados. cidadania. Através desta experiência, pudemos
enviada ao Presidente da República. A equipe da UNICAMP juntou-se à equipe da ajudar a melhorar um pouco a realidade dos baixa-
O Projeto tem como objetivo contribuir para a Faculdade Dom Bosco de Curitiba-PR e partiu grandenses, aprendemos muito sobre a história e
formação do universitário como cidadão; integrar de Feira de Santana com destino ao município a cultura do sertão baiano e reconhecemos que
o universitário ao processo de desenvolvimento de Baixa Grande, local de nossa intervenção. ainda há muito a ser feito e é nosso papel como
nacional, por meio de ações participativas sobre Fomos muito bem recepcionados pelo prefeito e cidadão brasileiro melhorar a qualidade de vida
a realidade do país; consolidar, no universitário outras autoridades na pequena cidade de Baixa destas comunidades. Um dos momentos que mais
brasileiro, o sentido de responsabilidade social e Grande com cerca de 20.000 habitantes, que em nos chamaram a atenção foi a visita ao lixão, local
coletiva em prol da cidadania, do desenvolvimento sua maioria reside na zona rural em pequenos que se destina o lixo da área urbana e em que se
e da defesa dos interesses nacionais; e estimular, encontra uma mulher de 30 anos com provável
no universitário, a produção de projetos coletivos distúrbio psiquiátrico e seus oito filhos. Esta família
locais, em parceria com as comunidades assistidas. passa o dia em um pequeno barraco no meio do
Isto é o que está escrito na cartilha do rondonista lixão junto a urubus e lixo hospitalar que também
(termo para denominar quem participa do projeto é descartado no mesmo local.
Rondon), mas é uma forma do rondonista levar um Para participar do Rondon é necessário montar
pouco do seu conhecimento obtido na universidade uma equipe composta por dois docentes e seis
para a sociedade, bem como aprender muito estudantes, de diferentes cursos, e construir um
através do contato com uma população muito rica projeto baseado no edital do Ministério da Defesa,
culturalmente e ao mesmo tempo muito pobre contemplando ações em diversas áreas como
em recursos socioeconômicos. saúde, educação, direitos humanos e justiça,
Nossa equipe foi uma das selecionadas para comunicação, meio ambiente, cultura, entre outras.
participar da operação Centro-Nordeste 2010, na A execução do projeto ocorre nos períodos de
cidade de Baixa Grande (sertão baiano) do dia 15 povoados, sob precárias condições de vida. A férias, janeiro/fevereiro ou julho. Mais informações
ao dia 31 de janeiro. Junto à nossa equipe há mais participação do projeto Rondon em Baixa Grande podem ser encontradas em www.defesa.gov.br/
de 300 rondonistas apenas no estado da Bahia, em tornou-se uma verdadeira atração na cidade, projeto_rondon e no site da PREAC (Pró-reitoria
cidades escolhidas em função de seu baixo IDH. foram dadas entrevistas na rádio local e realizadas de Extensão e Assuntos Comunitários).
Além do estado da Bahia, os estados de Tocantins, diversas atividades, em formato de oficinas para
Alagoas e Goiás também recebem rondonistas todos os públicos (entre eles profissionais de
Diego Barbosa / Rafael (Habib) XLVI
nesta mesma operação. A equipe partiu de São saúde, como os agentes comunitários de saúde)
Paulo rumo a Salvador, a bordo do avião C-105 na zona urbana e em sete povoados. Entre as
Amazonas (camuflado) da Força Aérea Brasileira. oficinas de saúde, falamos sobre o Programa
Em princípio a viagem não foi tão confortável (era Saúde da Família, Acolhimento e Humanização
um avião de transporte de soldados), mas tornou- no SUS, Prevenção de verminoses, Higiene, DST

EXTENSÃO popular: comunidades qUILOMBOLAS par de decisões ao longo de sua execução. entre a universidade e a comunidade e as decisões e
Escolhidos tema e local de atuação, é preciso encon- demandas da comunidade, já que se trata de uma cons-
Construindo um projeto trar um professor orientador para o trabalho. O indica- trução coletiva.
do é que o professor seja da mesma área de atuação do Esse projeto, então, é submetido a um edital,
A extensão faz parte da educação universitária. projeto e que tenha tempo suficiente para se envolver no qual pode ser aprovado e, assim, sair do papel! Para
Seu nome sugere uma expansão de conhecimento com as atividades. Caso o projeto precise de financia- dar continuidade ao trabalho, é preciso estar apto a
e aprendizado para além dos muros da universidade, mento, é importante encontrar um edital de projetos lidar com as burocracias referentes à bolsa do projeto
desconstruindo a idéia de separação entre o indivíduo de extensão. A partir disso, o projeto está pronto para
e seu contexto social, geralmente presente no ensino. A ser desenvolvido. É muito importante manter contato
extensão é pautada pela interação entre a universidade constante com a comunidade, pois o projeto pode ser
e a comunidade, havendo, portanto, DIÁLOGO e COM- revisto e aprimorado ao longo de sua execução, dian-
PARTILHAMENTO de conhecimentos entre ambas. O es- te de novas situações apresentadas pela comunidade
tudante que pratica extensão popular não só fortalece ou pela sociedade. Além disso, deve-se ressaltar que o
seu embasamento teórico, como também demonstra projeto não deve se limitar pela bolsa, pode se esten-
comprometimento com a realidade social, assumindo der além do previsto pelo financiamento e obter mais
papel transformador. recursos fornecidos por um próximo edital. A ação só
Sabendo-se da importância da extensão universitá- termina quando a comunidade conseguir autonomia
ria, é preciso estar ciente também de como praticá-la. para lidar com o tema proposto inicialmente.
Tal é o objetivo deste texto: descrever a preparação de A próxima etapa, agora, é pôr em prática o que
um projeto de extensão para a sua realização. O primei- de extensão. Um exemplo é o edital da Pró-Reitoria de este texto descreve. Como disse Guimarães Rosa, “mes-
ro passo é a escolha de um tema e do local de atuação. Extensão e Assuntos Comunitários (PREAC), que ano tre não é quem sempre ensina, mas quem de repente
Para isso, deve-se considerar as reais necessidades da passado estava com bolsas de financiamento de até 10 aprende”. Então, que possamos, por meio da extensão,
comunidade e a capacidade da universidade de atuar mil reais. O passo seguinte, então, é escrever o projeto, ensinar, aprender, trocar, transformar...
diante do tema, promovendo autonomia. É importan- apresentando suas justificativas, objetivos, metodolo- Carolina Fudo - XLVII
te atentar, também, para o nível de organização da co- gia, cronograma e orçamento. Mesmo que o projeto
munidade. Se esta já possuir uma organização prévia não necessite de financiamento, é interessante redigi- Josué Augusto do Amaral Rocha - XLV
(como nas Comunidades Quilombolas onde realizamos lo para tornar o trabalho mais organizado. O projeto
um projeto de saúde), o trabalho se torna mais fácil. escrito deve estar amparado pela literatura com refe-
Além disso, deve-se sempre respeitar a autonomia de rências bibliográficas adequadas e deve levar em conta
decisão da comunidade em aceitar o projeto e partici- a integração entre docentes, discentes e funcionários,
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Saiu na mÍDIA
Direita Volver dantes que estavam na Paulista de Medicina.
Liberou, depois de ter fichado todo mundo.
Menos dois: Eliana e eu.”
quecido.”
“Tinham meninas que estavam com meias
de seda e nem participavam da manifestação.
O ex-coronel Erasmo Dias, que morreu há “Fomos interrogadas com revólver na ca- Viraram tochas humanas, nunca mais pude-
uma semana, não teve velório de um herói, beça em salas separadas, e diziam: “Onde está ram andar de saia ou maiô, meses de hospital
nem foi homenageado por populares. Apenas sua irmã Veroca? A Eliana já falou tudo e foi para curar as queimaduras.”
alguns membros da família, que reclamaram liberada, e se você não falar, vai acabar como o Ela lembra: “No estacionamento estavam
da falta de reconhecimento. seu pai.” Era mentira, pois Eliana não tinha fala- alunos e professores aterrorizados pela vio-
Se ele dizia que cumpria ordens, quem as do nada, mas fiquei apavorada, eu sabia onde lência. Meus colegas que me encontraram no
comandou não apareceu. ela estava e não falei.” dia seguinte explodiram em choro de alívio,
Anticomunista convicto, desempenhou o “Fomos liberadas graças à intervenção do achavam que eu estava morta.”
papel de salvar os valores da família e proprie- governador Paulo Egídio. Nunca vou esquecer Sob vaias da plateia, Erasmo respondeu:
dade, que seriam “tolhidos” por aqueles terro- da cara lívida da mamãe, que veio nos bus- “Eu era autoridade! Tinha que fazer valer o
ristas jovens cabeludos e maconheiros, mani- car.” princípio de autoridade, não importa se eram
pulados pela Internacional Comunista. Anos depois, o ex-coronel se beneficiou da meninas comunistas ou baratas, o que fosse,
Era a sinopse da sua vida. Ajudou a implan- democracia pela qual lutávamos e se elegeu tinha que reprimir.”
tar uma ditadura sanguinária que se mantinha deputado. “Eu disse depois que achava que ele era
não pelo debate, mas pelo terror, e declarava Entrevistei-o várias vezes como repórter. gente, por isso tinha defendido o direito à li-
que era contra a tortura. Foi minha fonte em matà ©rias em que eu in- berdade democrática. Inclusive a dele, de ter
Em 1968, descarregou o revólver ao redor vestigava, com Cláudio Tognolli, a presença da suas posições políticas defendidas num parla-
do ex-líder estudantil e amigo Luiz Travassos, CIA no Brasil durante a ditadura. mento”, Veroca conclui. “Morreu achando que
preso no congresso clan- gente que pensa diferente é barata.
destino da UNE em Ibiúna. Perdeu completamente a compostura
Em 1969, no Vale do Ribeira, quando fiz a pergunta. Minha impres-
jogava numa cova os guer- são é que ele estava querendo passar
rilheiros da VPR presos e para a história de outra maneira. Ti-
descarregava a automática nha levado um recorte de jornal que
ao redor. falava de Rubens Paiva. Não chegou a
Perguntei-lhe uma v ez mostrar, eu vi na mão dele.”
se isso não era tortura. Tei- Erasmo Dias era assumido. No Bra-
moso, dizia que não. sil, a direita costuma pensar de um jei-
O coronel tinha um mé- to, mas dedetiza o discurso. Na Euro-
rito; se “mérito” é a palavra pa, a direita é declaradamente racista.
apropriada. Era dos poucos É bom, porque o eleitor lá sabe quem
do regime que defendiam é quem. Já aqui...
seus métodos e a forma Na edição de réveillon de telejor-
equivocada e despropor- nal da Band, depois de mostrar ima-
cional da luta, como invadir gens de lixeiros desejando felicidades,
uma universidade católica, a Boris Casoy, sem saber que o áudio
PUC, já durante a Abertura. estava aberto, mandou: “Que merda:
Tirou estudantes e pro- dois lixeiros desejando felicidades do
fessores das salas para alto de suas vassouras. O mais baixo
colocá-los sentados no es- na escala do trabalho.”
tacionamento em frente e O vídeo caiu na internet. Simboli-
reprimir a reunião que ocorria no Tuca, para Me abriu os arquivos e deu horas de de- za o discurso reprimido de parte da socieda-
a reconstrução da UNE. Gritava no estaciona- poimento para o meu livro Não És Tu, Brasil de brasileira, que cria elevadores de serviço e
mento: “Onde está a Veroca! Eu quero a Vero- (1996), sobre a Guerrilha do Vale do Ribeira; social em condomínios, mas avisa que é ilegal
ca!” ele comandou a fracassada repressão. discriminar.
Veroca é minha irmã mais velha. Líder estu- Eu via nele um combatente confuso, como A mesma que se deslumbra pelo réveillon
dantil, era a alma do movimento que retomou um histérico diante dos seus erros. Suas con- dos VIPS de Trancoso ou coberturas de Copa-
a luta pelas liberdades democráticas e anistia vicções eram facilmente derrubadas. Ele sabia cabana e igno ra os milhões de cidadãos nas
no fim dos anos 70 - que representou a estaca que participara de uma missão insana. Como areias e avenidas.
que romperia com as artérias do regime miliar profissional, eu respeitava o repertório da mi- No País em que garçom não come a mesma
e o afastamento definitivo de parte da socie- nha fonte. Como democrata, desprezava. comida que o cliente, nem na mesma mesa,
dade civil que o apoiava e financiava. Em 1999, Serginho Groisman teve a ideia Boris disse num lapso (e se desculpou apenas
Num encontro clandestino de estudantes genial de juntar Veroca e o ex-coronel num depois da repercussão) o que está no incons-
também reprimido, Erasmo encontrou na tria- programa de TV. E sempre me lembra que foi ciente da nossa formação.
gem minhas irmãs e estudantes da USP, Eliana um dos mais marcantes que fez. País do futuro com esse passado e presen-
e Nalu, e as levou. Veroca perguntou ao vivo: “Como o senhor te? Se liga!
Aqui o relato da Nalu, que hoje mora em Pa- se sentiu depois de ter sido eleito, usufruindo
ris, na troca de e-mails familiar em que anun- nossas conquistas democráticas? Porque nos Marcelo Rubens Paiva
ciei a morte do ex-coronel. massacrou por isso, entrou na PUC jogando Estado de S. Paulo - Sábado, 16 de
“Nesse dia ele prendeu mais de cem estu- bombas em mulheres grávidas, com cavalos
Janeiro de 2010
em sala de aula, gritando o meu nome en lou-
  O patolÓGICO fevereiro de 2010 7

COMAU
Orientador: Dra Eliana Martorano Amaral
Banca Básica
Banca Preventiva Título do Trabalho: “ O Veneno Bruto da Aranha
Phoneutria Nigriventer Altera a Expressão de
Título do Trabalho: “Acidentes Fatais De Proteínas da Barreira Hematoencefálica e a
A Comissão Organizadora do COMAU 2009 Motocicleta: Um Sério Problema De Saúde Permeabilidade desta”
quer parabenizar os premiados da XVIII Pública” Autor: Paulo Alexandre Miranda Odorissi
edição:
Autor: Carlos Eduardo Carrasco (graduando (graduando do terceiro ano de medicina da
Banca Clínica UNICAMP)
do terceiro ano de medicina da UNICAMP)
Título do Trabalho: “Avaliação De Fatores de Orientadora: Profa. Dra Maria Alice da Cruz
Höfling
Risco para Fratura de Quadril em Mulheres
Idosas”
Autor: Ximênia Mariama de Souza (graduanda
COMAU 2010
do quarto ano de medicina da UNICAMP) Ajude a construir a XIX edição do
Orientadora: Maria Elena Guariento Congresso Médico Acadêmico da
Unicamp (COMAU).
Banca Pediatria Desde 1992, alunos de medicina da
Título do Trabalho: “Associação Entre Síndrome Faculdade de Ciências Médicas da
de Turner, Presença de Cromossomo Y e Tumor Unicamp se reúnem para promover este
Gonadal” Ximenia, Beatriz, Tássia, Carlos Eduardo, Aline e Paulo importante evento anual, que estimula
Autor: Beatriz Amstalden Barros (graduanda a interação de pesquisa científica,
do quarto ano de medicina da UNICAMP) Orientador: Gustavo Pereira Fraga
ensino médico, saúde e atualizações da
Orientador: Gil Guerra Jr.
Banca Cirurgia área médica.
Título do Trabalho: “Aumento da Resposta Venham fazer parte desta história e
Banca GO Contrátil
Título do Trabalho: “Avaliação do Processo de ajudar a melhorar
Intestinal in vitro à Metacolina no Modelo
Implantação de um Programa de Rastreamento Experimental de Gastrosquise” o evento neste ano de 2010.
de Estreptococo do Grupo B na Gestação” Autor: Aline Cristina Regis (graduanda do Interessados devem mandar e-mail até
Autor: Tássia Regina Yamanari (graduanda do terceiro ano de medicina da UNICAMP)
Orientador: Prof. Dr. Lourenço Sbragia Neto o dia 01 de abril para: comau2009@
terceiro ano de medicina da UNICAMP) gmail.com.

VENHA PARTICPAR DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO XIX COMAU!


ENVIE UM E-MAIL ATÉ 01/04 PARA COMAU2009@GMAIL.COM

SPASMO!
Amizade, idéias e poesia em E parafraseando o diálogo do personagem Pablo Ne- Sobre a características dinâmicas que essas contí-
ruda no belíssimo filme O Carteiro e o Poeta, “metáfora nuas metáforas a inspirarem o trabalho de cada chapa,
prosa... já é poesia”. não é acaso, é reflexo. Aproveito-me de um verso de
A Rosa dos Ventos sempre será a metáfora (ou po- “The Road Not Taken” onde se constata que “um ca-
Este texto é um diálogo, literária e literalmente um esia quase tátil, corporificada) daquilo que nos dá sen- minho sempre leva a outro” e é natural que assim seja
dedinho de prosa com o texto apresentado nesta mes- tido... e um sentido polissêmico, tanto direção quanto quando se constrói ano a ano um trabalho. E a Rosa
ma coluna no jornal passado. A conversa é com um significado. Este instrumento serviu sim aos navegan- dos Ventos nos tem levado para essa estrada menos
autor que entre bolas de meia e de gude muito apro- tes que se lançaram no mar como se atravessassem o percorrida, essa travessia Roseana (que carece muita
priadamente já chamei de ”passado no meu presente, mundo da dúvida. Como já disse o poeta, “Navegar é coragem, afinal viver é muito perigoso), travessia sem
menino a sempre me dar a mão”, e que sempre vai me preciso, viver não é preciso” é na imprecisão da vida lenço e sem documento contra muitos ventos que
lembrar de umas aulas de linguagem vivida, escrita e que a rosa nos é mais necessária do que na precisão insistem em soprar na direção do senso comum, do
sentida nos mares de morros das Minas Gerais. Tomarei dos mares... mesmo os mais revoltos... tão necessária comodismo, e da reprodução automática dessa socie-
suas palavras, metáforas e citações como mote para a como a água que mata a sede. dade sem crítica. E isso sempre trará os espinhos, e os
malha de pensamento tecido que chamamos de texto, A mim... A rosa dos ventos sempre deu e dá o senti- furacões. Mas os caminhos sempre têm as encruzilha-
assim como algumas considerações sobre o tema em do de se fazer medicina. Medicina para que? Por que? das, e esses encontros (como o que houve desta autora
questão. Para quem? Desde que tinha um pulso pulsante numa com o anterior) é que nos dão a força para seguir em
Em umas teorias, de uns loucos lúcidos que estudam roda viva, e descobria que o corpo para mim é pou- frente.
linguagem, e mais especificamente uma parte chama- co e que seria impossível passar por esse per-curso de Essa “pública-ação” de carinho é pouco para uma
da: Metáfora Conceitual, existem o que chamou-se de seis anos sem compreender os caminhos pelos quais pessoa tão presente. Presente na memória, presente
metáforas primárias, que seriam metáforas existentes seguimos, em que mapas estão inseridos, e por que no quotidiano, presente no jornal, presente no exercí-
em várias línguas, de maneira semelhante e geralmen- insistem em nos levar por determinadas diretrizes . cio político de democracia que não é meramente re-
te são relacionadas aos aspectos mais elementares da Foram essas rosas, que assim como a rosa de Vinicius presentativa e sim participativa dentro de um centro
vida humana e menos dependentes da cultura, como de Morais me fizeram perceber nossa cegueira inexata acadêmico. E espero que esteja sempre comigo, para
por exemplo as metáforas do sufocamento... da fome por essas rotas alteradas que alguns insistem em nos ambos como andarilhos de pés descalços por esses
como vontade dentre outras tantas... Mas a mim, pelo mostrar como único caminho possível. Foram esses ventos desbravando trilhas pelo sertão das palavras e
pouco já lido nessas andanças... sempre me pareceu ventos que me fizeram em fim enxergar nossas feridas da vida.
que a metáfora dos caminhos, sempre foi primária, sociais como rosas cálidas, sem cor, sem perfume, sem Thais Dias (XLV)
como se a direção vivida fosse tão basal como a sede. rosa, sem nada. Gestão Rosa dos Ventos
8  O patolÓGICO fevereiro de 2010

Patocultural
“É tarde, é tarde, é tarde!”
tária e cruel. Ou seria uma alegoria do próprio poder tuar no novo estágio psicobiológico. São perceptíveis
opressivo do Estado monárquico. Uma das cenas mais os problemas psicológicos de identidade e questiona-
espetaculares do livro ocorre quando Alice cresce de mentos existenciais pelos quais Alice passa, tentando
“Uma definição de insanidade é crer que maneira desmedida e ininterruptamente num tribunal, apreender e assimilar o novo mundo que descobre.
podemos continuar fazendo o que vínhamos Além da análise social, há várias metáforas de cunho
fazendo e obtermos resultados diferentes”. filosófico e existencial. A primeira metáfora do livro in-
(A Rainha de Copas em Alice no País das teiro, da entrada na toca do coelho é a metáfora mais
Maravilhas) clássica da introdução ao estudo da filosofia, e da busca
pelo conhecimento, usada em livros didáticos ou mes-
“Alice’s Adventures in Wonderland” (freqüentemen-
mo em outras obras infanto-juvenis como “O Mundo de
te abreviada para “Alice in Wonderland” é a obra mais
Sofia” de Jostein Gaarder. Essa e muitas outras questões
conhecida do escrito inglês Charles Lutwidge Dodgson,
permeiam todo a narrativa.
mais conhecido pelo seu pseudônimo Lewis Carroll. É
No ano de 1951 a Disney fez um longa-metragem
certamente uma das maiores obras primas da literatura
em desenho animado de muito sucesso da adaptação
mundial.
da história para o cinema. E agora, no dia 5 de março
Alice é uma obra repleta de fantasias oníricas e lúdi-
de 2010 será lançado uma nova obra, desta vez, com
cas a cerca da realidade e da linguagem. São simboliza-
grandes atores e muita computação gráfica dirigida por
ções e alegorias que a primeira vista contestam a lógica
Tim Burton, com Johnny Deep no papel do chapeleiro
e o senso comum, primando pelo absurdo. Contudo re-
louco, que ganhou grande destaque na história. O fil-
velam metáforas lúcidas a respeito do mundo e da so-
me será uma espécie de sequencia do clássico original,
ciedade. Metáforas que a exemplo de obras de autores
em que Alice aos 17 anos foge de uma festa em que
como Kafka ou Guimarães Rosa suscitam um mundo
seria pedida em casamento e cai novamente no “País
de (re)significados. Com o adendo de ser, além de tudo,
das Maravilhas” que tinha visitado há dez anos e não se
uma narrativa bela que de fato é apreciada por crianças
lembrava.
e jovens do mundo todo.
A leitura do livro, juntamente com todo esse frisson
O País das Maravilhas onde Alice vê-se transportada
do lançamento no cinema, fez na verdade com que me
em seu sonho seria o nosso mundo. Um mundo marca-
lembrasse de um trecho extraído do documentário
do pelas incertezas e pela falta de razão. É interessante
“Labirinto” sobre o cineasta nacional Glauber Rocha: “
notar que a sociedade no País das Maravilhas, como a
O mundo fundia-se numa festa libertária, e a transfor-
nossa, também é dividida em classes, em castas. Há ani-
mação social viria do casamento da arte com a política,
mais e outros seres que representam o proletariado e a
em que ela se revolta contra a Rainha e demais mem- da realidade com a utopia, da verdade com o delírio”. E
classe média (profissionais liberais, intelectuais, dentre
bros presentes no julgamento, uma possível metáfora quando se trata de transformação social, repito o Coe-
outros), o caso de personagens como o Coelho Branco
do povo unido rebelando-se e depondo a monarquia lho Branco: “Vamos, que já é tarde”
e o Dodô. No cortejo real, as cartas figurativas, como se
opressiva. O livro também é interpretado como o uni-
supõe, são os reis, rainhas e valetes, dentre eles o Rei e
verso particular e peculiar da criança em desenvolvi-
a Rainha de Copas, regentes do País. No contexto histó-
mento, que se vê ingressando na conturbada adoles-
rico-social da época em que o livro foi publicado, mas
cência. As súbitas diminuições e aumentos do tamanho Thais Dias- XLVII
a Rainha de Copas pode ser a representação da própria
de Alice representam a instabilidade emocional própria (Gestão Rosa dos Ventos)
rainha inglesa daquele período: Rainha Vitória, autori-
do recém adolescente, além da dificuldade deste se si-

HPMA composta principalmente de comerciantes, um ato tão vil e covarde quanto o trote vio-
Algumas considerações sobre o trote pequenos burgueses e profissionais liberais. lento, se soubesse qual foi sua origem e de-
A classe média logo se tornou desejosa de senvolvimento. A tão falada integração que o
Existe na universidade brasileira uma insti- ver seus filhos de posse de algum diploma de trote promoveria poderia ser obtida em muito
tuição absolutamente estúpida e condenável, curso superior. A classe alta universitária não maior escala se alguns jovens universitários
mas que está tão enraizada na mentalidade viu com bons olhos o acesso da classe média não fossem tão “iguinorantes”. Devemos aci-
estudantil que dificilmente poderemos fazer aos cursos superiores e criaram então o trote, ma de tudo respeitar a liberdade individual a
com que ela deixe de existir. Trata-se do trote. como forma de humilhar os calouros oriundos que cada ser humano tem direito.
Podemos analisar o surgimento deste há- de uma classe social inferior. Vamos estimular o trote saudável em detri-
bito idiota levando em consideração fatores Depois de alguns anos, o trote institucio- mento do violento. Vamos fazer pedágio, to-
históricos, sociais e culturais. nalizou-se e tomou grande impulso durante mar cerveja, cantar, dançar, praticar esportes
Nos primórdios da criação dos cursos su- o regime militar, uma vez que era incentivado e plantar árvores. Vamos contribuir para que o
periores no Brasil apenas a classe alta tinha pelo próprio governo com intuito de desunir a trote violento seja em breve apenas mais uma
acesso ao estudo universitário. Isto se devia classe estudantil, que era na época um baluar- triste página deste livro chamado Brasil.
em parte ao fato de que apenas os mais abas- te de oposição a ditadura. Moise Dalva XXVIII
tados tinham condições financeiras de manter Não foram poucos os casos de pessoas que O Patológico, edição Maio de 1990, pág.
seus filhos em instituições de ensino superior. morreram ou tiveram várias lesões corporais 2, Coluna Boca do Povo.
Estudar na época significava um fator de sta- devido ao trote. Vivemos atualmente numa Calouro: Não deixe que a medicina se
tus social. época de grandes mudanças no Brasil e no torne a rotina idiota de deixar de viver,
Com a decadência das grandes monocul- mundo. Racionalizar e ter uma opinião cons-
turas latifundiárias, a industrialização, a urba- ciente das ações que praticamos torna-se um
para aprender os modos de morrer.
O Patológico, edição Março de 1990
nização e o comércio tiveram um grande im- pré-requisito indispensável para que possa-
pulso dando oportunidade para o surgimento mos viver numa sociedade melhor e mais jus-
em grande escala de uma nova camada social, ta. Ninguém em sua sã consciência praticaria

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