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Na definição do marco referencial que balizará a atuação da UGF, devem ser tomadas em
consideração incidências estruturais e conjunturais mais evidentes, bem como os desafios para a
educação brasileira, o ensino superior e o setor privado, em relação aos quais a Universidade deverá,
permanentemente, posicionar-se.
O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO, por sua vez, é outra macroestrutura cujos efeitos fazem-
se sentir no quotidiano de homens e instituições por todo o mundo, e não seria diferente com a
Universidade e seus agentes – docentes, discentes, gestores e funcionários. A tendência é a crescente
integração de mercados, de tecnologias, de procedimentos; a busca de estratégias que permitam tornar
esse processo positivo, e não um cadinho de conflitos; a existência de relações perigosamente
assimétricas, como as do Primeiro e Terceiro Mundo, as dos Estados Unidos com o conjunto de nações
que seu potencial econômico e bélico deixa para trás, as dos estados tradicionais com as células
terroristas ou as máfias do narcotráfico. Todas essas características da globalização, de uma forma ou de
outra, incidem sobre a vida universitária, não apenas pelo fato de propiciarem análises acadêmicas, mas
porque podem alterar sua autonomia, seu desenvolvimento e até determinar sua existência.
Esse legado histórico não é o único fator que condiciona tal diversidade. Há também, embora
muitas vezes desconsiderado pela sua aparente auto-evidência, o fator geográfico. A continentalidade do
país implica numa diversividade de situações econômicas e ambientais que maximizam problemas e
implicam em soluções complexas, impossíveis de redução e fórmulas rigidamente planejadas e de
pretensa validade nacional.
Por outro lado, as diferentes historicidades e a continentalidade do país podem também atuar
como fatores altamente positivos. Se considerarmos a riqueza cultural e a plasticidade implícitas à
diversidade e, ao reverso, a notável unidade cultural e lingüística numa superfície territorial de contínuas
dimensões continentais, percebemos como os problemas podem resolver-se em soluções criativas e
enriquecedoras. A ausência de dificuldades linguísticas, religiosas e étnicas, como os que ocorrem em
outros países continentais – Rússia, Índia e China – é fator altamente positivo para a afirmação histórica
do Brasil. Em conseqüência, cabe à Universidade, como a todas demais agências sociais, identificar seu
papel e sua forma de atuar.
Catalisar todos esses condicionamentos para um programa social positivo nas próximas
gerações, que inclua objetivos como desenvolvimento equilibrado social e regionalmente, plenificação da
cidadania, mentalidade aberta e inovadora e afirmação dos valores humanistas, é um magno desafio cuja
superação dar-se-á sem dúvida pela generalização e qualificação da educação e, nela, do ensino superior.
Por outro lado, a expansão da educação superior no País encontra um outro dilema. A
duplicação do número de matrículas ocorrida entre 1997 e 2004 - de dois para quatro milhões de
estudantes – aparentemente não se repetirá, dado o gargalo do poder aquisitivo da população. Não
obstante a recomendação da Unesco, de 1998, para a generalização do ensino superior, ou a vontade
política freqüentemente manifestada de alcançar-se rapidamente o patamar chileno ou argentino da
população em idade escolar universitária em relação à população total, parece razoável que até 2010
convivamos com uma expansão moderada do sistema universitário, a menos que ocorra um rápido e
acentuado aumento de ingressos nas classes de renda C e D. As políticas inclusivas,como FIES e Pro-
Uni, não tem sido suficientes para alargar de modo significativo a população universitária naqueles
padrões. A própria projeção de estabilidade do ensino médio entre 2005 e 2010 – manutenção de uma
base de 10,3 milhões de alunos - reforça esta impressão, a menos que ocorra outra mudança estrutural, a
passagem da 8ª série do ensino fundamental para o ensino médio de um maior percentual de alunos.
Ao mesmo tempo, a educação superior continuará sendo pressionada pela demanda de seus
egressos pelos cursos de pós-graduação, de atualização, de aperfeiçoamento e de extensão, ditada pelas
mais diversas motivações da sociedade – o aprofundamento científico e tecnológico, o acompanhamento
das transformações dos diferentes setores profissionais, o aprimoramento cultural.
Por tais razões, parece razoável admitir que o dilema conjuntural – estabilidade com leve
expansão, versus crescente demanda social pela educação superior – poderá superar-se e apontar para
uma consolidação do ensino superior e de suas instituições, melhor qualificadas, a longo prazo.
Entretanto, é necessário sobreviver no médio prazo. Há, assim, quer para a passagem do médio prazo (os
próximos dez anos) quer para o lançamento de bases sólidas a longo prazo, alguns desafios a equacionar,
enfrentar e vencer no âmbito da educação superior e, particularmente, pela Universidade Gama Filho.
Em primeiro lugar, o desafio da qualidade. Isso ocorre a partir de duas premissas simples de
enunciar, mas de complexa implementação. A Universidade busca que o aluno consiga construir seu
próprio conhecimento – isto é, que domine conceitos, categorias e processos, antes que informações – e
que, nos primeiros semestres adquira as condições básicas para um bom rendimento acadêmico. Isto
implica num trabalho propedêutico que habilite o aluno a construir seu próprio conhecimento – e, assim,
preparar-se para “aprender a aprender”.
Entende-se, enfim, como meio para a superação desses desafios – tornados ao mesmo tempo
objetivos institucionais – a racionalização nos empreendimentos implementados, o comportamento ético
nas atitudes interna corporis e externas de seus membros (gestores, docentes, funcionários, discentes), a
consideração sistemática das variáveis estratégicas e a saúde financeira da instituição. A viabilidade desta
somente ocorrerá mediante uma estabilidade econômico-financeira que passe por três condicionantes: o
auto-financiamento, a partir da contribuição dos alunos; as contrapartidas em capital, equipamentos e
recursos humanos obtidos por meio de parcerias com empresas privadas e públicas; e a habilitação, com
projetos de qualidade, nos programas de fomento nacionais, estrangeiros e internacionais.