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LUIZ FELIPE PONDÉ

"Tea Party"
O "europeu" Obama se revelou
inábil para lidar com a "liberdade
americana"

O ATUAL movimento conservador "Tea Party" (a festa ou o


partido do chá) nos EUA merece nossa atenção. No século
18, contra o aumento dos impostos, os colonos americanos
teriam jogado sacos de chá ao mar como um recado ao rei
inglês: "Não vamos aceitar mais impostos". Esse fato marca o
início da Revolução Americana.
Como todo movimento de massa é meio ridículo, com ilhas
de significado em meio a desertos de clichês. Mas não é só
isso. A referência ao "gatilho" da Revolução Americana é
profunda no imaginário dos Estados Unidos e não pode ser
tratada como se fosse uma coisa de caipiras ignorantes que
vivem entre porcos comendo seus farelos enquanto espancam
suas esposas infelizes.
A mídia e a academia geralmente boicotam uma atenção
maior ao Iluminismo americano (diferente do francês, mais
conhecido), que funda a mentalidade americana e gera
fenômenos do tipo "Tea Party" como um derivado possível.
Um exemplo cotidiano desse boicote ou falta de neutralidade
é a crítica à Fox News, alinhada aos republicanos. A mídia
em geral é alinhada aos democratas, por isso o ataque à Fox
News. Tampouco há neutralidade na academia: quase todos
são de "esquerda", negar isso é má-fé. Professores negam aos
alunos a chance de conhecer referências que diferem das suas
próprias crenças políticas, como se essas fossem "ciência". O
pensamento de "esquerda" (mesmo aguado) permanece
hegemônico na esfera das ideias e das políticas públicas.
Mas o que é esse Iluminismo norte-americano? Quando o
"Tea Party" se diz defensor da liberdade, não é blefe, está
sustentado numa tradição responsável em grande parte pelo
sucesso dos EUA. Há uma sólida concepção de liberdade na
experiência histórica americana que vê como parte essencial
da liberdade sua relação íntima com o risco e a coragem de
assumir sozinho a responsabilidade pela vida. A vida é
perigosa e a verdadeira liberdade cobra um preço, financeiro
e existencial.
O filósofo John Adams (presidente dos EUA entre 1797 e
1801) dizia que a liberdade deve ser protegida contra seus
inimigos via instituições políticas. Uma das formas de
entendermos isso é: as instituições políticas devem impedir
que o Estado crie leis que o torne um "sócio" na vida
econômica ou moral dos cidadãos.
A chave do Iluminismo americano é a liberdade e não a
igualdade. Aliás, esta só vale enquanto define que todos são
igualmente livres perante a lei para cuidar de suas vidas sem
ter que carregar ninguém nas costas, a menos que seja
voluntariamente.
Por outro lado, esse Iluminismo é fundado numa suspeita
acerca da natureza humana (herança de uma colonização
calvinista clássica). Daí que discursos sobre "direitos pagos
pelo Estado" soam como desculpas para preguiçosos que
simplesmente não acordam cedo ou não aguentam o preço
que a liberdade individual custa: o risco do fracasso no lugar
do sucesso. As pessoas adoram viver à custa do Estado: o
culto da vítima social é uma praga na Europa.
A "colônia" americana logo ultrapassaria a Europa. O que
esses americanos se perguntam é: por que devemos nós, mais
fortes, "aprender" com os europeus (mais fracos)? O
"socialista" Obama aqui não é diferente do rei inglês, se
metendo na vida cotidiana desta liberdade intratável e
inegavelmente produtora de riqueza. O "europeu" Obama se
revelou inábil para lidar com a "liberdade americana".
O filme "O Último dos Moicanos", baseado no romance
homônimo de James Fenimore Cooper, pode nos ser útil aqui.
O longa-metragem se passa durante a guerra contra os
franceses pela América do Norte. Os ingleses organizavam as
chamadas "colonial militias" para lutarem contra os
franceses, milícias essas que servirão de base para o Exército
americano que derrotará os ingleses 20 anos depois.
Num dado momento, um oficial inglês que organiza a milícia
de Nova York se irrita com o personagem Nathaniel,
interpretado por Daniel Day-Lewis, colono criado entre os
moicanos. E por quê?
Indagado por um colono o que faria se suas famílias fossem
atacadas, enquanto eles lutassem ao lado dos ingleses, o
oficial diz: "Pelo lar, pelo rei, pela nação, por isso devem ir à
guerra". Nathaniel retruca: "Não me venha dizer o que eu
faço com o meu escalpo". O oficial pergunta: "E você se
considera um súdito leal da coroa?", ao que Nathaniel
responde imediatamente: "Não me considero súdito de nada".
Esse é o espírito.

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