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A Fábrica Rheingantz, fundada em 1873 na cidade do Rio Grande foi a pioneira na industrialização no Rio
Grande do Sul e a primeira na produção de lã no país, chegou a empregar 1.200 funcionários em uma
área de 143 mil metros quadrados. Seu complexo é formado pela vila operária, casas de mestres, um grupo
escolar, jardim de infância e cassino dos mestres. Esse conjunto de edificações permanece erguido, apesar
da degradação ambiental e econômica que vem sofrendo desde que a atividade chegou ao fim em 1968.
Este trabalho foi desenvolvido por meio do método de abordagem dedutivo, descritivo e pesquisa de campo
com o objetivo de apresentar o conceito de paisagem cultural como estratégia de preservação do complexo
da fábrica Rheingantz. Para tanto, fundamentou-se nas referências teóricas da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional
(IPHAN), na Carta de Cracóvia (2000), entre outros. Conclui-se que a instituição do conceito de paisagem
cultural, permitirá aos órgãos públicos promoverem modelos de gestão compatíveis com a preservação do
patrimônio material e da memória, desenvolvendo estratégias de uso local potencializando a economia,
resguardando os saberes e fazeres locais.
Essa estrutura criou uma nova dinâmica, com características próprias, alterando a
paisagem local, uma vez que, para Berque (2004), sujeito e paisagem são co-integrados
em um conjunto unitário que se autoproduz e autorreproduz.
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questionário empregada na coleta de dados com o objetivo de apresentar o conceito de
paisagem cultural como estratégia de preservação do complexo da fábrica Rheingantz em
Rio Grande, antes que todo esse patrimônio desapareça como podemos observar na
secção 2.3.
Para tanto, fundamentou-se o objeto nas referências teóricas da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a qual, em 1992, incorporou a
categoria “paisagem cultural” a fim de valorizar as inter-relações entre o homem e o meio
ambiente, do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), o qual, na Portaria n.º
127, de 30/04/2009, criou um instrumento nacional de reconhecimento da paisagem
cultural brasileira definido como chancela, da Carta de Cracóvia (2000), da Carta de Bagé
(2007), e de outros documentos relevantes para a pesquisa.
2.1. Localização
O município do Rio Grande conta com uma população de aproximadamente 200 mil
habitantes e um PIB anual de cerca de 04 bilhões de reais, localiza-se na planície costeira
sul do Estado do Rio Grande do Sul, tendo como limites: ao Norte, o município de Pelotas
e a Laguna dos Patos; ao Leste, o Oceano Atlântico e o Canal do Rio Grande; a Oeste, os
municípios de Capão do Leão, Arroio Grande e a Lagoa Mirim; ao Sul, o Município de
Santa Vitória do Palmar. Está sobre os paralelos 31º 47. 02./32º 39. 45. e os meridianos
52º 03. 10./52º 44. 10 (fig. 01). É o mais antigo município do Estado e dista a 317km ao
sul da capital, Porto Alegre.
Rio Grande foi a primeira capital do Estado, teve a primeira câmara de Vereadores
(1761), a mais antiga loja maçônica do Rio Grande do Sul (1840), a primeira Câmara de
Comércio (em 1844, quarta entidade de classe mais antiga do Brasil), a primeira
biblioteca pública gaúcha (1846), o mais antigo farol (Farol Capão da Marca, inaugurado
por Dom Pedro II em 1849), a primeira mulher formada em medicina no país (Rita Lobato
Velho-1887), o time de futebol mais antigo do Brasil, o Esporte Clube Rio Grande, fundado
em julho de 1900 e também, o objeto desse estudo, a primeira indústria de lã do Brasil,
Rheingantz e Vater (1873).
Até 1880 Rio Grande contava apenas com estabelecimentos artesanais, sua importância
era principalmente comercial. Entretanto, a fixação de estrangeiros, a peculiaridade do
conjunto costeiro com um porto marítimo e hidrovias e a alfândega riograndina somados
ao forte comércio com a Europa e ao capital acumulado pelos comerciantes, faz com que
surja um impulso industrialista (COPSTEIN, 1974).
A Fábrica Rheingantz foi fundada em 1873, na cidade do Rio Grande pelo descendente
de Alemães Carlos Guilherme Rheingantziii e o Alemão Hermann Vater com a
denominação de Rheingantz e Vater.
Conforme Martins (2006) a sociedade industrial foi formada com noventa conto de réis. As
instalações de 43 mil metros quadrados foram construídas em um terreno de 143 mil
metros quadrados, cedido pela municipalidade. Em 1881 a sociedade é dissolvida ficando
sob administração de Carlos Rheingantz que em 1884 altera a denominação para
Rheingantz & Cia. Em 1891, compra áreas pastoris e rebanho para obtenção de lã,
entretanto, com a Revolução Federalista (1893-95) o rebanho é praticamente dizimado
pondo fim ao projeto de expansão. Após esses imensos prejuizos a empresa muda
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novamente sua denominação passando a chamar Companhia União Fabril, nome que se
manteve até a década de 1960.
Mas não haviam apenas alemães trabalhando na Rheingantz. A “Fábrica” que chegou a
empregar no início do século vinte, mais de 1200 pessoas – se levarmos em
consideração que neste período residiam na cidade cerca de 20 mil pessoas podemos
vislumbrar a dimensão e importância dessa indústria – era um local onde segundo
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Paulitsch (2006), “brasileiros, portugueses, italianos, alemães, norte-americanos e
espanhóis mesclavam-se num emaranhado de sotaques e tradições”.
Figura 5 – Parte da fachada principal, Cassino dos Mestres e algumas casas de operários ao
fundo.
Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.
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Enquanto as casas dos operários foram construídas tipo fita, enfileiradas, alinhadas ao
limite do terreno, as dos mestres e contramestres eram isoladas, com recuo e
predominância do estilo germânico. Também foi construído o cassino dos mestres que
servia para hospedar técnicos vindos de outras regiões e para o lazer dos empregados
com cargos hierarquicamente superiores. Todas estas construções mudaram a paisagem
local e deram início a expansão da cidade, fig 07.
Todo esse complexo (fig. 4) que, através da produção fabril ajudou a impulsionar a
economia local e está marcado na memória da população como parte integrante de sua
identidade, encontra-se abandonada, sem qualquer função, abrigando desocupados e
sendo alvo de vândalos.
Como pode-se observar na fachada principal (fig. 6 e 7), a ação do tempo e do homem
estão atuando inexoravelmente para o total comprometimento da estrutura, vidros
quebrados, portas destruidas, roubos de peças e maquinários e cobertura ruindo.
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Figura 7 – Fachada principal.
Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.
Enfim, embora, a estrutura do complexo e sua história, em grande parte resista, ainda
hoje, ao tempo e a degradação (apesar do péssimo estado de conservação de algumas
casas como é o caso do cassino dos mestresiv, figs. 8 e 9, e algumas casas de Mestres,
fig. 10), se nada for feito, rapidamente, perigamos perder talvez o único sítio industrial
urbano histórico do Estado do Rio Grande do Sul que ainda mantém parte de sua
estrutura edificada.
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Figura 9 – Cassino dos mestres (vista frontal).
Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.
Em 22/12/1994, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul ingressou com Ação
Civil Pública em desfavor do Município do Rio Grande e do Estado do Rio Grande do Sul
buscando declarar a relevância histórica, cultural, arquitetônica e urbanística do conjunto
urbano da Fábrica Rheingantz, com a condenação dos réus a realizarem o tombamento
ou instaurarem o procedimento de tombamento do prédio da Fábrica Rheingantz,
incluindo a Vila Operária interna e o Grupo Escolar Comendador Rheingantz, sendo os
réus obrigados também a estabelecer o entorno. A condenação do Estado-réu a
estabelecer por ato próprio a delimitação do entorno com relação aos bens para o
tombamento e a condenação do Município-réu a indenizar os danos causados ao
patrimônio cultural, histórico, estético, arquitetônico e urbanístico em razão de ter
autorizado a demolição de dois prédios que estavam elencados como bens de interesse
sócio-cultural.
Não contentes com a sentença, o Município do Rio Grande e o Estado do Rio Grande do
Sul apelaram. Diante disso, em 29/08/2007, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
entendeu, por maioria, negar provimento às apelações, em razão de não merecer
correções a sentença prolatada. Ainda não satisfeito, o Estado moveu embargos de
declaração, sustentando que haveria contradição na decisão do Tribunal, sob o
fundamento de que ora seria afirmado que o tombamento já estaria determinado e ora
daria a entender que apenas estaria, se determinado a instauração do procedimento de
tombamento. Assim, o Tribunal manifestou-se, mais uma vez, esclarecendo que o ente
federado está obrigado a instaurar o procedimento de tombamento, contudo não,
obrigatoriamente, precise decretar o tombamento, até porque o tombamento tem a
natureza de um ato discricionário. Nesses termos, foi proposta a execução da sentença, a
qual perdura até hoje.
Conforme descrito até aqui, o valor histórico e cultural dos imóveis que fazem parte do
complexo da Fábrica Rheingantz é inquestionável, tanto que já foram declarados como
integrantes do “Patrimônio Cultural do Estado”, por meio da Lei Estadual n.° 11.585/2001.
Entretanto, conforme evidencia Ferreira (2009, p. 29) o declínio e consequente
esvaziamento da fábrica como unidade produtiva, bem como o avanço da degradação
dos prédios e maquinários, geraram um sentimento de luto e a necessidade de reter
alguns desses vestígios do passado, lugares de memória que se transformaram. A autora
acresce que a ação do Estado sempre se caracterizou como de omissão e negligência,
cabendo aos antigos funcionários cumprirem uma espécie de função guardiã da empresa,
atuando em diversas frentes como o resguardo ao prédio (os casos de roubos de fios de
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cobre havia se tornado frequente), a apropriação de objetos pequenos que eram levados
para serem guardados nas residências dessas pessoas, a luta pelo reconhecimento do
lugar como portador de uma memória da cidade.
Nesse contexto, com inteira razão o Ministério Público trouxe à discussão o tema,
fundamentando-o em vasta legislação existente, seja em nível federal ou estadual, no que
concerne ao dever de preservação do patrimônio histórico e cultural, evidenciando,
inclusive, medidas como a de tombamento para que a Administração Pública possa
conservar tais sítios. Dessa forma, agir com descaso com imóveis que retratam a cultura
do nosso povo seria um verdadeiro crime contra a história.
No entanto, apesar disso, o processo de execução remonta mais de três anos e já foram
realizadas inúmeras audiência públicas com a população local e as autoridades, no
sentido de dar uma solução ao impasse. Por conta deste fato e observando o estado de
ruína do complexo da Fábrica Rheingantz, a proposta desta pesquisa foi apresentar uma
outra solução ao complexo, agora sob a ótica de paisagem cultural. Não só pelo valor
histórico e a identidade que ele forma, mas também, pelo contraste e singularidade que
representa em uma cidade com estilo predominantemente Açoriano-Português a estrutura
basicamente germânica do complexo da Rheingantz.
3. METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido de acordo com o raciocínio dedutivo buscando analisar os
conceitos de paisagem cultural. Marconi e Lakatos (2006) enfatizam que o método
dedutivo caracteriza-se pela conexão descendente entre a teoria e a ocorrência dos
fenômenos, a teoria em evidência, neste caso, trata-se da paisagem cultural como
estratégia para preservação do complexo da fábrica Rheingantz.
Quanto aos seus objetivos o estudo classifica-se como pesquisa descritiva, que segundo
Koche (1997), estuda as relações entre duas ou mais variáveis de um dado fenômeno
sem manipulá-las, também constata e avalia essas relações à medida que essas
variáveis se manifestam espontaneamente em fatos, situações e nas condições que já
existem.
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A técnica de coleta de dados empregada na pesquisa foi questionário com questões
previamente formuladas e testadas. A amostra da pesquisa foi por conveniência. Foram
entrevistados 218 riograndinos, no período compreendido entre os dias 07 (sete) e 11
(onze) de junho de 2010, por bolsistas do Centro de Estudos Urbano-Portuário-Industrial
do Rio Grande – CEUPIRG, da Universidade Federal do Rio Grande - FURG.
A técnica utilizada para apreciação dos dados foi a análise qualitativa do conteúdo dos
questionários que, segundo Martins (2002), busca descrever ou interpretar o conteúdo
das mensagens.
Nas palavras de Sauer (1998), a paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem
natural por um grupo cultural. A cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem
cultural o resultado. A paisagem cultural é um artefato simultaneamente natural e cultural
constituída por elementos que a tornam portadora de diferentes valores que podem lhe
conferir interesse patrimonial. A noção de patrimônio está ligada a três categorias: tempo,
espaço e valor.
Para Delphim (2005), o valor da paisagem cultural decorre de sua função e de sua
capacidade de reter marcas e registros antrópicos. O homem é um dos elementos de
valor na paisagem, muitas vezes o principal. Sob a ótica cultural a leitura e a
compreensão da paisagem não se limitam ao espaço. É também temporal. A paisagem
testemunha e preserva dados de épocas passadas, sob os pontos de vista geológico,
paleontológico e arqueológico. Qualquer marca que o homem introduza na paisagem
significa uma modificação para sempre, um novo significado, um diferente valor
patrimonial. Técnicas materiais, crenças religiosas e ideológicas perpassam cada
paisagem. A paisagem é uma chave para a compreensão do passado, do presente e do
futuro.
“A paisagem é um conjunto de formas que, num dado momento, exprime as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. O espaço
são as formas mais a vida que os anima” (SANTOS, 1996, p.103).
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Por definição, a paisagem cultural surge quando é conferido valor aos bens agenciados
pelo homem sobre o seu espaço e expressa a sua relação com o meio natural, mostrando
as transformações que ocorrem ao longo do tempo. Conforme referem Nunes, Santiago e
Rebolo Squera (2006), ao estabelecer seus próprios valores e significados aos locais que
ocupa, o ser humano inevitavelmente os transforma, imprime nos elementos nativos da
localidade a sua marca, seja modificando-os ou criando novos elementos e introduzindo-
os no ambiente original, o que, como consequência, cria novas relações e dinâmicas. A
interação do homem e do ambiente natural resulta na criação da paisagem, um conjunto
de características relacionadas entre si que conferem o diferencial de cada localidade.
Algum tempo depois, verificando-se a existência de bens que podiam ser incluido nas
duas categorias, foi criada a classificação de bem misto, para aqueles que tinham sua
inscrição justificada tanto por critérios naturais quanto culturais, mas sem uma análise da
integração entre ambos. Foi apenas em 1992, no mesmo ano em que se realizou a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de
Janeiro, que a Unesco adotou a categoria “paisagem cultural”, valorizando todas as inter-
relações entre homem e meio ambiente, entre o natural e o cultural.
Nos termos de Santilli (2009), as paisagens culturais são classificadas em três categorias,
para fins de inscrição como patrimônio mundial: a) paisagens claramente definidas, que
são aquelas desenhadas e criadas intencionalmente, como jardins e parques construídos
por razões estéticas; b) paisagens evoluídas organicamente, também chamadas de
“essencialmente evolutivas”, que se subdividem em paisagens-relíquia ou fóssil, cujo
processo de construção terminou no passado, e paisagens contínuas ou vivas, em que os
processos evolutivos ainda estão em curso; c) paisagens culturais associativas, que têm o
seu valor determinado de acordo com associações feitas acerca delas, como as
associações espirituais de povos tradicionais com determinadas paisagens. Não há, até o
momento, nenhum sítio brasileiro reconhecido como paisagem cultural na lista de
patrimônio mundial da Unesco, assim como nenhum sítio inscrito no Livro do Tombo
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Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico que tenha sido tombado por seu valor enquanto
“paisagem cultural”, no sentido definido pela Unesco, que privilegia as interações entre
cultura e natureza e os componentes materiais e imateriais.
A Carta de Cracóvia (de 26 de outubro de 2000) está baseada nos mesmos objetivos da
Carta de Venezav, e apresenta a importância de uma conscientização relacionada a
identidade, a memória e ao passado. Está fundamentada na mudança de valores que há
em diferentes momentos históricos e contextos sociais relacionados ao patrimônio
arquitetônico, urbano ou paisagístico, e apresenta métodos ligados diretamente à
preservação do patrimônio, sua identificação, conservação, manutenção, reparação,
restauração, e gestão.
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Nesse sentido, a CEP se distingue da convenção da Unesco não por ter abrangência
apenas regional (e não internacional) como também, por cobrir todas as paisagens,
inclusive aquelas que não têm valor excepcional. Ela estabelece normas de proteção e
gestão de todas as formas de paisagens e incentiva a participação dos cidadãos nas
decisões sobre as políticas relativas às paisagens nas quais vivem.
Além das paisagens culturais de “excepcional valor universal”, reconhecidas pela Unesco
através de sua convenção internacional, o Brasil criou um instrumento nacional de
reconhecimento das paisagens culturais brasileiras, denominado chancela e regulado
pela Portaria n.º 127, de 30/04/2007, do presidente do Iphan. Tal instrumento foi criado
com fundamento no artigo 216, parágrafo 1.º da Constituição Federal de 1988, que
determina que o poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento, desapropriação e “outras formas de acautelamento e preservação”.
De acordo com a referida Portaria, a paisagem cultural brasileira é uma porção peculiar
do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio
natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. A
paisagem cultural brasileira é declarada por chancela instituída pelo Iphan, mediante
procedimento específico, e qualquer pessoa natural ou jurídica é parte legítima para
requerer a instauração de processo administrativo visando a rubrica de uma paisagem
cultural brasileira.
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será comunicada à Presidência do Iphan e às Superintendências Regionais em cuja
circunscrição o bem se situar.
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Em agosto de 2007, oficializou-se na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, a Carta de
Bagé ou Carta da Paisagem Cultural, que tem como objetivo a defesa das paisagens
culturais em geral. O Artigo 10 do documento define que: “A paisagem cultural inclui,
dentre outros, sítios de valor histórico, pré-histórico, étnico, geológico, paleontológico,
científico, artístico, literário, mítico, esotérico, legendário, industrial, simbólico, pareidólico,
turístico, econômico, religioso, de migração e de fronteira, bem como áreas contíguas,
envoltórias ou associadas a um meio urbano.
Segundo sua regração, “a paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano
imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma de
todos os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza, e,
reciprocamente, da natureza com o homem”.
Entre os sítios que estão sendo considerados para chancela como paisagens culturais
brasileiras estão o Vale do Ribeira (SP), a Serra da Bodoquena (MS), o Vale do Itajaí
(SC), Canudos (BA) e os Céus de Brasília.
Com base no exposto, as paisagens culturais, para serem incluídas na lista do patrimônio,
devem ser selecionadas pelo seu valor universal, pela sua representatividade em termos
de uma região geocultural claramente definida, pela sua capacidade de ilustrar elementos
culturais distintos da região e pelo reconhecimento da sociedade. Portanto, conceito de
paisagem cultural abarca também as idéias de pertencimento, significado, valor e
singularidade do lugar.
A Fábrica Rheingantz atende a todos esses requisitos. Por ser a primeira indústria do país
na produção de lã e a pioneira no processo industrial do Rio Grande do Sul, tem um valor
e uma representatividade inquestionável. Na escala local, mesmo tantos anos após o fim
das atividades ainda é lembrada por grande parte da população riograndina como
representante de sua identidade.
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Faixa Etária
16% 22% 18 a 25
26 a 29
15%
30 a 39
40 a 49
11%
50 a 59
17% 19% 60 ou mais
ESCOLARIDADE
fundamental
15% 16% funfamental incompleto
8%
médio
4% 19% médio incompleto
superior
38%
superior incompleto
Figura 12 – Escolaridade.
Fonte: Elaborada pelos autores.
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NA SUA OPINIÃO A FÁBRICA RHEINGANTZ
REPRESENTA UM PATRMÔNIO CULTURAL
HISTÓRICO RG?
12%
sim
14%
não
já representou mas
74% representa mais
Para Luca (2007), a maior dificuldade em relação à paisagem de valor patrimonial é a sua
preservação. Cada paisagem é específica em sua relação aos lugares, às culturas e às
instituições. É preciso enfatizar a participação da própria população, através do
reconhecimento dos valores e significados. A relação entre a comunidade e o espaço
onde vivem, suas formas tradicionais de ocupação e uso do solo são fundamentais para a
gestão da paisagem. O envolvimento da comunidade promove a valorização de sua
identidade e seus valores é peça chave para a identificação de seu papel na preservação
da paisagem local.
Quando foi perguntado se a fábrica Rheingantz deveria ser tombada como patrimônio
cultural riograndino, 76% dos entrevistados responderam que sim (Figura 14)
demonstrando uma forte identidade com o objeto pesquisado.
24%
sim
não
76%
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No que se refere a capacidade de ilustrar elementos culturais distintos da região, o
complexo representa uma pequena porção da cultura e arquitetura alemã dentro de uma
área com características essencialmente Portuguesa.
6. CONCLUSÃO
A Fábrica Rheingantz atende a todos os requisitos exigidos para ser incluido na lista de
patrimônio. Tem um valor e uma representatividade indiscutível por ser a primeira
indústria do país na produção de lã e a pioneira no processo industrial do Rio Grande do
Sul. Na escala local é reconhecida como patrimônio cultural histórico por 74% da
população. Do total dos questionados, 76% acreditam que o complexo deve ser tombado,
por representar a identidade do povo local.
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Paisagem e identidade são elementos fortemente vinculados, entretanto, quando nada é
feito para preservá-los, o tempo atua de forma inapelável acelerando sua transformação.
A necessidade de intervenção no complexo fica explicitado quando observa-se a sua
diminuição e desintegração ao longo dos anos.
A Rheingantz talvez seja o único sítio industrial urbano histórico do Estado do Rio Grande
do Sul que ainda mantém parte de sua estrutura ainda edificada apesar da grande
degradação que vem sofrendo ao longo desses 137 anos. Portanto, urge que se
determine de forma ou de outra o tombamento e todos os procedimentos oriundos de sua
chancela.
REFERÊNCIAS
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i Holzer (1999) afirma que o conceito de Landscape tem o sentido de formatar a terra, implicando numa associação das
formas físicas e culturais.
ii Torres, Luiz Henrique. Câmara Municipal do Rio Grande: Berço do Parlamento Gaúcho
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iii Carlos Guilherme Rheingantz que foi agraciado com o Título de Comendador no ano de 1893 pelo Imperador D.
Pedro II era filho do Alemão Jacob Rheingantz, fundador da Colônia Alemã de São Lourenço, atual cidade de São
Lourenço.
iv Prédio construído em estilo enxaimel que se encontra praticamente em ruína.
v CARTA INTERNACIONAL SOBRE A CONSERVAÇÃO E O RESTAURO DE MONUMENTOS E SÍTIOS, 1964. Art. 1.º
- O conceito de monumento histórico engloba, não só as criações arquitetônicas isoladamente, mas também os sítios,
urbanos ou rurais, nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilização particular, de uma fase significativa da
evolução ou do progresso, ou algum acontecimento histórico. Este conceito é aplicável, quer às grandes criações, quer
às realizações mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo.
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