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O CONCEITO DE PAISAGEM CULTURAL COMO ESTRATÉGIA PARA

PRESERVAÇÃO DO COMPLEXO DA FÁBRICA RHEINGANTZ EM RIO


GRANDE – RS

SILVA, ROGÉRIO P. (1); BLANK, DIONIS M. P. (2); SCHMIDT, KELLY R. (3)

1. Mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPel. Professor da Universidade


Federal do Rio Grande – Furg.
E-mail: piva_furg@hotmail.com

2. Mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPel.


E-mail: dionisblank@gmail.com

3. Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPel. Bolsista da CAPES.


E-mail: kel.tur@gmail.com

A Fábrica Rheingantz, fundada em 1873 na cidade do Rio Grande foi a pioneira na industrialização no Rio
Grande do Sul e a primeira na produção de lã no país, chegou a empregar 1.200 funcionários em uma
área de 143 mil metros quadrados. Seu complexo é formado pela vila operária, casas de mestres, um grupo
escolar, jardim de infância e cassino dos mestres. Esse conjunto de edificações permanece erguido, apesar
da degradação ambiental e econômica que vem sofrendo desde que a atividade chegou ao fim em 1968.
Este trabalho foi desenvolvido por meio do método de abordagem dedutivo, descritivo e pesquisa de campo
com o objetivo de apresentar o conceito de paisagem cultural como estratégia de preservação do complexo
da fábrica Rheingantz. Para tanto, fundamentou-se nas referências teóricas da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional
(IPHAN), na Carta de Cracóvia (2000), entre outros. Conclui-se que a instituição do conceito de paisagem
cultural, permitirá aos órgãos públicos promoverem modelos de gestão compatíveis com a preservação do
patrimônio material e da memória, desenvolvendo estratégias de uso local potencializando a economia,
resguardando os saberes e fazeres locais.

Palavras-chave: Fabrica Rheingantz. Paisagem Cultural. Preservação.


1. INTRODUÇÃO

A primeira indústria de lã do país e a pioneira no processo de industrialização no Rio


Grande do Sul teve origem na cidade do Rio Grande no ano de 1873, sob o nome de
Rheingantz e Vater. A “fábrica Rheingantz”, como é conhecida até hoje, situada na
principal avenida de acesso ao centro da cidade, chegou a empregar 1.200 funcionários
em uma área de 143 mil metros quadrados.

Essa estrutura criou uma nova dinâmica, com características próprias, alterando a
paisagem local, uma vez que, para Berque (2004), sujeito e paisagem são co-integrados
em um conjunto unitário que se autoproduz e autorreproduz.

O complexo da fábrica Rheingantz é formado pela vila operária, casas de mestres e


técnicos, um grupo escolar, jardim de infância, cassino dos mestres, além de vias de
deslocamento e construções originadas pelo trabalho industrial. Sua implantação foi
fundamental na urbanização, no crescimento portuário e na expansão da malha férrea do
Rio Grande. Esse conjunto de edificações que permanece erguido, apesar da degradação
ambiental e econômica que vem sofrendo desde que a atividade entrou em declínio e
chegou ao fim por volta da década de 1970, configurou a ruína do espaço, bem como a
retração da atividade econômica e consequente empobrecimento da cidade.

Conjuntamente com a memória construída ao longo de gerações, esse complexo


representa um patrimônio cultural do país e, em função disso, deve ser preservado. Todos
os esforços já empreendidos nesse sentido utilizaram a mémoria como foco principal para
o tombamento, contudo fracassaram. A demora na implantação de uma política de
proteção e do tombamento de estruturas arquitetônicas em geral e do complexo da
Fábrica Rheingantz, particularmente, tem efeitos devastadores não só para os bens
edificados mas também, para compreensão do processo histórico de formação da
industria e ocupação interiorana no Brasil.

A compreensão da paisagem segue o componente cultural através dos fatos históricos


formadores da identidade. Essa associação de paisagem e identidade possibilita a
utilização do conceito de Landscape Character Areai já utilizada nos estudos de Usher em
1999, que demonstra ser possível identificar a paisagem através da relação identitária por
meio de métodos quantitativos.

Deste modo, este trabalho foi desenvolvido utilizando-se do método de abordagem


dedutivo, com relação aos seus objetivos o estudo classifica-se como pesquisa descritiva,
quanto aos métodos de procedimento utiliza-se da pesquisa de campo com a técnica de

2
questionário empregada na coleta de dados com o objetivo de apresentar o conceito de
paisagem cultural como estratégia de preservação do complexo da fábrica Rheingantz em
Rio Grande, antes que todo esse patrimônio desapareça como podemos observar na
secção 2.3.

Para tanto, fundamentou-se o objeto nas referências teóricas da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a qual, em 1992, incorporou a
categoria “paisagem cultural” a fim de valorizar as inter-relações entre o homem e o meio
ambiente, do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), o qual, na Portaria n.º
127, de 30/04/2009, criou um instrumento nacional de reconhecimento da paisagem
cultural brasileira definido como chancela, da Carta de Cracóvia (2000), da Carta de Bagé
(2007), e de outros documentos relevantes para a pesquisa.

2. LOCALIZAÇÃO, DESCRIÇÃO E ESTADO ATUAL DO OBJETO DE ESTUDO

2.1. Localização

O município do Rio Grande conta com uma população de aproximadamente 200 mil
habitantes e um PIB anual de cerca de 04 bilhões de reais, localiza-se na planície costeira
sul do Estado do Rio Grande do Sul, tendo como limites: ao Norte, o município de Pelotas
e a Laguna dos Patos; ao Leste, o Oceano Atlântico e o Canal do Rio Grande; a Oeste, os
municípios de Capão do Leão, Arroio Grande e a Lagoa Mirim; ao Sul, o Município de
Santa Vitória do Palmar. Está sobre os paralelos 31º 47. 02./32º 39. 45. e os meridianos
52º 03. 10./52º 44. 10 (fig. 01). É o mais antigo município do Estado e dista a 317km ao
sul da capital, Porto Alegre.

Figura 1 – Localização do objeto de estudo.


Fonte: Elaborada pelo autores.
3
O município apresentou uma multiplicidade de experiências históricas desde o início de
seu povoamento em 1737. Enquanto primeiro núcleo sistemático de colonização luso-
brasileira no atual Rio Grande do Sul, a localidade acumulou ao longo do período colonial
e imperial, historicidades inovadoras que se destacam no contexto regional e nacionalii.
No que se refere ao Patrimônio Cultural Histórico não é diferente.

Rio Grande foi a primeira capital do Estado, teve a primeira câmara de Vereadores
(1761), a mais antiga loja maçônica do Rio Grande do Sul (1840), a primeira Câmara de
Comércio (em 1844, quarta entidade de classe mais antiga do Brasil), a primeira
biblioteca pública gaúcha (1846), o mais antigo farol (Farol Capão da Marca, inaugurado
por Dom Pedro II em 1849), a primeira mulher formada em medicina no país (Rita Lobato
Velho-1887), o time de futebol mais antigo do Brasil, o Esporte Clube Rio Grande, fundado
em julho de 1900 e também, o objeto desse estudo, a primeira indústria de lã do Brasil,
Rheingantz e Vater (1873).

2.2. Descrição do objeto de estudo

Até 1880 Rio Grande contava apenas com estabelecimentos artesanais, sua importância
era principalmente comercial. Entretanto, a fixação de estrangeiros, a peculiaridade do
conjunto costeiro com um porto marítimo e hidrovias e a alfândega riograndina somados
ao forte comércio com a Europa e ao capital acumulado pelos comerciantes, faz com que
surja um impulso industrialista (COPSTEIN, 1974).

Pesavento (1985) confirma esse impulso elencando alguns dos empreendimentos no


período. Além da Rheingantz em 1873, A fábrica de Charutos e a Moinhos Rio-grandense
em 1891, correarias, fábricas de biscoitos e de alimentos em conservas, entre outros.

A Fábrica Rheingantz foi fundada em 1873, na cidade do Rio Grande pelo descendente
de Alemães Carlos Guilherme Rheingantziii e o Alemão Hermann Vater com a
denominação de Rheingantz e Vater.

Conforme Martins (2006) a sociedade industrial foi formada com noventa conto de réis. As
instalações de 43 mil metros quadrados foram construídas em um terreno de 143 mil
metros quadrados, cedido pela municipalidade. Em 1881 a sociedade é dissolvida ficando
sob administração de Carlos Rheingantz que em 1884 altera a denominação para
Rheingantz & Cia. Em 1891, compra áreas pastoris e rebanho para obtenção de lã,
entretanto, com a Revolução Federalista (1893-95) o rebanho é praticamente dizimado
pondo fim ao projeto de expansão. Após esses imensos prejuizos a empresa muda

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novamente sua denominação passando a chamar Companhia União Fabril, nome que se
manteve até a década de 1960.

Figura 2 – Tecelagem Rheingantz, Rio Grande – RS, 1884.


Fonte: Acervo da Biblioteca Pública do Rio Grande.

Sua principal atividade baseava-se na produção de tecidos de lã, algodão e na confecção


de tapetes, destinados basicamente, ao comércio exterior e aos estados de São Paulo e
Rio de janeiro.

Figura 3 – Saida dos funcionários da Tecelagem Rheingantz em 1944.


Fonte: Acervo da Biblioteca Pública do Rio Grande.

Roche (1969) afirma que “os capatazes e contramestres e toda a mão-de-obra


especializada haviam sido importados da Alemanha ao mesmo tempo que as máquinas”.

Mas não haviam apenas alemães trabalhando na Rheingantz. A “Fábrica” que chegou a
empregar no início do século vinte, mais de 1200 pessoas – se levarmos em
consideração que neste período residiam na cidade cerca de 20 mil pessoas podemos
vislumbrar a dimensão e importância dessa indústria – era um local onde segundo

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Paulitsch (2006), “brasileiros, portugueses, italianos, alemães, norte-americanos e
espanhóis mesclavam-se num emaranhado de sotaques e tradições”.

Figura 4 – Complexo da Fábrica Rheingantz na primeira metade do século XX.


Fonte: Acervo da Biblioteca Pública do Rio Grande

Praticamente desde o início de suas atividades a fábrica Rheingantz, já possuía uma


polítca de incentivos e de responsabilidade social. Organizou uma cooperativa de
consumo, assistência médica, enfermaria, farmácia, escola primária, creche, biblioteca,
casas para operários e mestres, cassino dos mestres, etc. Embora, para Pesavento
(1988) tais práticas escamoteavam por meio de medidas assistencialistas a coerção
econômica imposta aos trabalhadores, isto é, estabelecia um controle extra-fábrica.

Figura 5 – Parte da fachada principal, Cassino dos Mestres e algumas casas de operários ao
fundo.
Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.

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Enquanto as casas dos operários foram construídas tipo fita, enfileiradas, alinhadas ao
limite do terreno, as dos mestres e contramestres eram isoladas, com recuo e
predominância do estilo germânico. Também foi construído o cassino dos mestres que
servia para hospedar técnicos vindos de outras regiões e para o lazer dos empregados
com cargos hierarquicamente superiores. Todas estas construções mudaram a paisagem
local e deram início a expansão da cidade, fig 07.

A fábrica que está localizada na principal avenida de entrada da cidade e próxima ao


centro histórico, viu surgir em seu entorno vias de acesso, bairros e etc. Segundo
Copstein (1982) a cidade do Rio Grande tinha uma área de aproximadamente 175
hectares em 1878, expandindo-se para 458 hectares no final do século XIX. A empresa
teve sob sua administração 169 propriedades, conforme Martins (2006).

2. 3. A “Fábrica” hoje: discussão judicial e estado de conservação

Todo esse complexo (fig. 4) que, através da produção fabril ajudou a impulsionar a
economia local e está marcado na memória da população como parte integrante de sua
identidade, encontra-se abandonada, sem qualquer função, abrigando desocupados e
sendo alvo de vândalos.

Figura 6 – Fachada principal.


Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.

Como pode-se observar na fachada principal (fig. 6 e 7), a ação do tempo e do homem
estão atuando inexoravelmente para o total comprometimento da estrutura, vidros
quebrados, portas destruidas, roubos de peças e maquinários e cobertura ruindo.

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Figura 7 – Fachada principal.
Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.

Enfim, embora, a estrutura do complexo e sua história, em grande parte resista, ainda
hoje, ao tempo e a degradação (apesar do péssimo estado de conservação de algumas
casas como é o caso do cassino dos mestresiv, figs. 8 e 9, e algumas casas de Mestres,
fig. 10), se nada for feito, rapidamente, perigamos perder talvez o único sítio industrial
urbano histórico do Estado do Rio Grande do Sul que ainda mantém parte de sua
estrutura edificada.

Figura 8 – Cassino dos mestres (vista lateral).


Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.

Portanto, urge que se determine de uma forma ou de outra, o tombamento e todos os


procedimentos oriundos de sua chancela.

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Figura 9 – Cassino dos mestres (vista frontal).
Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.

Em 22/12/1994, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul ingressou com Ação
Civil Pública em desfavor do Município do Rio Grande e do Estado do Rio Grande do Sul
buscando declarar a relevância histórica, cultural, arquitetônica e urbanística do conjunto
urbano da Fábrica Rheingantz, com a condenação dos réus a realizarem o tombamento
ou instaurarem o procedimento de tombamento do prédio da Fábrica Rheingantz,
incluindo a Vila Operária interna e o Grupo Escolar Comendador Rheingantz, sendo os
réus obrigados também a estabelecer o entorno. A condenação do Estado-réu a
estabelecer por ato próprio a delimitação do entorno com relação aos bens para o
tombamento e a condenação do Município-réu a indenizar os danos causados ao
patrimônio cultural, histórico, estético, arquitetônico e urbanístico em razão de ter
autorizado a demolição de dois prédios que estavam elencados como bens de interesse
sócio-cultural.

Figura 10 – Cassino dos mestres.


Fonte: Elaborada pelos autores em 15/05/2010.

Depois de muitos anos de discussão, a sentença foi proferida em 10/05/2006. Na


oportunidade, a julgadora decidiu pela extinção do processo sem julgamento do mérito
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quanto aos pedidos de inventário, de vigilância, de declaração de relevância histórica,
cultural, arquitetônica e urbanística do conjunto urbano da Fábrica Rheingantz e de
delimitação pelo Estado-réu do entorno dos bens já tombados. Todavia, julgou procedente
ao efeito de condenar os réus a instaurarem procedimento de tombamento do conjunto
urbano da Fábrica Rheingantz, disciplinando o entorno, no prazo de um ano, sob pena de
multa diária de dois salários mínimos nacionais; condenar os réus (o Estado no que tange
aos bens por ele tombados e o Município no que se refere aos prédios relacionados como
de interesse sócio-cultural) a fiscalizá-los, expedindo relatório das condições em que se
encontram e das providências que serão adotadas, no prazo de três meses, sob pena de
multa diária de dois salários mínimos nacionais. Por fim, determinou improcedente o
pedido contra o Município do Rio Grande de indenização pela demolição dos prédios
referidos.

Não contentes com a sentença, o Município do Rio Grande e o Estado do Rio Grande do
Sul apelaram. Diante disso, em 29/08/2007, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
entendeu, por maioria, negar provimento às apelações, em razão de não merecer
correções a sentença prolatada. Ainda não satisfeito, o Estado moveu embargos de
declaração, sustentando que haveria contradição na decisão do Tribunal, sob o
fundamento de que ora seria afirmado que o tombamento já estaria determinado e ora
daria a entender que apenas estaria, se determinado a instauração do procedimento de
tombamento. Assim, o Tribunal manifestou-se, mais uma vez, esclarecendo que o ente
federado está obrigado a instaurar o procedimento de tombamento, contudo não,
obrigatoriamente, precise decretar o tombamento, até porque o tombamento tem a
natureza de um ato discricionário. Nesses termos, foi proposta a execução da sentença, a
qual perdura até hoje.

Conforme descrito até aqui, o valor histórico e cultural dos imóveis que fazem parte do
complexo da Fábrica Rheingantz é inquestionável, tanto que já foram declarados como
integrantes do “Patrimônio Cultural do Estado”, por meio da Lei Estadual n.° 11.585/2001.
Entretanto, conforme evidencia Ferreira (2009, p. 29) o declínio e consequente
esvaziamento da fábrica como unidade produtiva, bem como o avanço da degradação
dos prédios e maquinários, geraram um sentimento de luto e a necessidade de reter
alguns desses vestígios do passado, lugares de memória que se transformaram. A autora
acresce que a ação do Estado sempre se caracterizou como de omissão e negligência,
cabendo aos antigos funcionários cumprirem uma espécie de função guardiã da empresa,
atuando em diversas frentes como o resguardo ao prédio (os casos de roubos de fios de

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cobre havia se tornado frequente), a apropriação de objetos pequenos que eram levados
para serem guardados nas residências dessas pessoas, a luta pelo reconhecimento do
lugar como portador de uma memória da cidade.

Nesse contexto, com inteira razão o Ministério Público trouxe à discussão o tema,
fundamentando-o em vasta legislação existente, seja em nível federal ou estadual, no que
concerne ao dever de preservação do patrimônio histórico e cultural, evidenciando,
inclusive, medidas como a de tombamento para que a Administração Pública possa
conservar tais sítios. Dessa forma, agir com descaso com imóveis que retratam a cultura
do nosso povo seria um verdadeiro crime contra a história.

No entanto, apesar disso, o processo de execução remonta mais de três anos e já foram
realizadas inúmeras audiência públicas com a população local e as autoridades, no
sentido de dar uma solução ao impasse. Por conta deste fato e observando o estado de
ruína do complexo da Fábrica Rheingantz, a proposta desta pesquisa foi apresentar uma
outra solução ao complexo, agora sob a ótica de paisagem cultural. Não só pelo valor
histórico e a identidade que ele forma, mas também, pelo contraste e singularidade que
representa em uma cidade com estilo predominantemente Açoriano-Português a estrutura
basicamente germânica do complexo da Rheingantz.

3. METODOLOGIA

Este estudo foi desenvolvido de acordo com o raciocínio dedutivo buscando analisar os
conceitos de paisagem cultural. Marconi e Lakatos (2006) enfatizam que o método
dedutivo caracteriza-se pela conexão descendente entre a teoria e a ocorrência dos
fenômenos, a teoria em evidência, neste caso, trata-se da paisagem cultural como
estratégia para preservação do complexo da fábrica Rheingantz.

Quanto aos seus objetivos o estudo classifica-se como pesquisa descritiva, que segundo
Koche (1997), estuda as relações entre duas ou mais variáveis de um dado fenômeno
sem manipulá-las, também constata e avalia essas relações à medida que essas
variáveis se manifestam espontaneamente em fatos, situações e nas condições que já
existem.

Quanto aos métodos de procedimento, esta pesquisa classifica-se também, como


pesquisa de campo, que de acordo com Oliveira (2001), consiste na observação dos fatos
tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis
presumivelmente para posteriores análises.

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A técnica de coleta de dados empregada na pesquisa foi questionário com questões
previamente formuladas e testadas. A amostra da pesquisa foi por conveniência. Foram
entrevistados 218 riograndinos, no período compreendido entre os dias 07 (sete) e 11
(onze) de junho de 2010, por bolsistas do Centro de Estudos Urbano-Portuário-Industrial
do Rio Grande – CEUPIRG, da Universidade Federal do Rio Grande - FURG.

Quanto à forma de abordagem do problema esta pesquisa classifica-se como quantitativa


e qualitativa.

A técnica utilizada para apreciação dos dados foi a análise qualitativa do conteúdo dos
questionários que, segundo Martins (2002), busca descrever ou interpretar o conteúdo
das mensagens.

4. A PAISAGEM CULTURAL E SUAS GENERALIDADES

4.1. Conceitos e normas para o reconhecimento

Nas palavras de Sauer (1998), a paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem
natural por um grupo cultural. A cultura é o agente, a área natural é o meio, a paisagem
cultural o resultado. A paisagem cultural é um artefato simultaneamente natural e cultural
constituída por elementos que a tornam portadora de diferentes valores que podem lhe
conferir interesse patrimonial. A noção de patrimônio está ligada a três categorias: tempo,
espaço e valor.

Para Delphim (2005), o valor da paisagem cultural decorre de sua função e de sua
capacidade de reter marcas e registros antrópicos. O homem é um dos elementos de
valor na paisagem, muitas vezes o principal. Sob a ótica cultural a leitura e a
compreensão da paisagem não se limitam ao espaço. É também temporal. A paisagem
testemunha e preserva dados de épocas passadas, sob os pontos de vista geológico,
paleontológico e arqueológico. Qualquer marca que o homem introduza na paisagem
significa uma modificação para sempre, um novo significado, um diferente valor
patrimonial. Técnicas materiais, crenças religiosas e ideológicas perpassam cada
paisagem. A paisagem é uma chave para a compreensão do passado, do presente e do
futuro.

“A paisagem é um conjunto de formas que, num dado momento, exprime as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. O espaço
são as formas mais a vida que os anima” (SANTOS, 1996, p.103).

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Por definição, a paisagem cultural surge quando é conferido valor aos bens agenciados
pelo homem sobre o seu espaço e expressa a sua relação com o meio natural, mostrando
as transformações que ocorrem ao longo do tempo. Conforme referem Nunes, Santiago e
Rebolo Squera (2006), ao estabelecer seus próprios valores e significados aos locais que
ocupa, o ser humano inevitavelmente os transforma, imprime nos elementos nativos da
localidade a sua marca, seja modificando-os ou criando novos elementos e introduzindo-
os no ambiente original, o que, como consequência, cria novas relações e dinâmicas. A
interação do homem e do ambiente natural resulta na criação da paisagem, um conjunto
de características relacionadas entre si que conferem o diferencial de cada localidade.

A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, aprovada em


1972, estabeleceu a inscrição de bens como patrimônio mundial em duas categorias
diferentes: patrimônio natural ou patrimônio cultural. Havia, no texto da convenção, um
antagonismo entre as categorias cultural e natural, reflexo da origem bipartite da
preocupação com o patrimônio mundial, oriunda de dois movimentos separados: um que
se preocupava com os sítios culturais e outro que lutava pela conservação da natureza,
conforme destaca Ribeiro (2007).

Algum tempo depois, verificando-se a existência de bens que podiam ser incluido nas
duas categorias, foi criada a classificação de bem misto, para aqueles que tinham sua
inscrição justificada tanto por critérios naturais quanto culturais, mas sem uma análise da
integração entre ambos. Foi apenas em 1992, no mesmo ano em que se realizou a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de
Janeiro, que a Unesco adotou a categoria “paisagem cultural”, valorizando todas as inter-
relações entre homem e meio ambiente, entre o natural e o cultural.

Nos termos de Santilli (2009), as paisagens culturais são classificadas em três categorias,
para fins de inscrição como patrimônio mundial: a) paisagens claramente definidas, que
são aquelas desenhadas e criadas intencionalmente, como jardins e parques construídos
por razões estéticas; b) paisagens evoluídas organicamente, também chamadas de
“essencialmente evolutivas”, que se subdividem em paisagens-relíquia ou fóssil, cujo
processo de construção terminou no passado, e paisagens contínuas ou vivas, em que os
processos evolutivos ainda estão em curso; c) paisagens culturais associativas, que têm o
seu valor determinado de acordo com associações feitas acerca delas, como as
associações espirituais de povos tradicionais com determinadas paisagens. Não há, até o
momento, nenhum sítio brasileiro reconhecido como paisagem cultural na lista de
patrimônio mundial da Unesco, assim como nenhum sítio inscrito no Livro do Tombo

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Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico que tenha sido tombado por seu valor enquanto
“paisagem cultural”, no sentido definido pela Unesco, que privilegia as interações entre
cultura e natureza e os componentes materiais e imateriais.

A Carta de Cracóvia (de 26 de outubro de 2000) está baseada nos mesmos objetivos da
Carta de Venezav, e apresenta a importância de uma conscientização relacionada a
identidade, a memória e ao passado. Está fundamentada na mudança de valores que há
em diferentes momentos históricos e contextos sociais relacionados ao patrimônio
arquitetônico, urbano ou paisagístico, e apresenta métodos ligados diretamente à
preservação do patrimônio, sua identificação, conservação, manutenção, reparação,
restauração, e gestão.

As estratégias de gestão para o patrimônio cultural abordadas na Carta de Cracóvia


(2000, p. 4) levam em consideração os contínuos processos de mudança, transformação,
desenvolvimento e a necessidade da adoção de regulamentos apropriados nas decisões
tomadas durante os processos e no controle dos resultados. Acorda também para a
necessidade de identificar os riscos, atuando preventivamente através de planos de
emergência. A conservação deste patrimônio cultural deve integrar-se com o
planejamento econômico e a gestão da comunidade, contribuindo para o desenvolvimento
sustentável, qualitativo e social. Por isso, é importante criar uma estrutura de
comunicação que requer a participação efetiva dos cidadãos.

Entre as paisagens culturais inscritas na lista do patrimônio mundial da Unesco estão


alguns sistemas agrícolas tradicionais e locais: os terraços de arroz das cordilheiras
filipinas (data da inscrição: 1995); as primeiras plantações de café do sudeste de Cuba,
situadas no pé da Sierra Maestra (data da inscrição: 2000); a paisagem agrícola do sul da
ilha de Öland, no mar Báltico, na Suécia (data da inscrição: 2000), que é dominada por
um platô de calcário, onde o homem se adapta, há 5.000 anos, a um ambiente hostil; a
paisagem cultural da região vinícola de Tokaj, na Hungria (data da inscrição: 2002); as
paisagens vinícolas da ilha vulcânica do Pico, que integra o arquipélago de Açores (data
da inscrição: 2004) e do Alto-douro, em Portugal (data da inscrição: 2001).

Cabe ainda salientar que a importância de proteger a paisagem, enquanto fator de


qualidade de vida das pessoas e da consolidação da identidade levou o Conselho
Europeu a discutir a elaboração da Convenção Européia de Paisagem (CEP). Assinada
em Florença no dia 20 de outubro de 2000 por 28 países, a CEP entrou em vigor em
março de 2004. A Convenção tem como objetivo promover a proteção, a gestão e o
ordenamento da paisagem, além de organizar a cooperação européia nesses aspectos.

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Nesse sentido, a CEP se distingue da convenção da Unesco não por ter abrangência
apenas regional (e não internacional) como também, por cobrir todas as paisagens,
inclusive aquelas que não têm valor excepcional. Ela estabelece normas de proteção e
gestão de todas as formas de paisagens e incentiva a participação dos cidadãos nas
decisões sobre as políticas relativas às paisagens nas quais vivem.

4.2. Conceito e normas de reconhecimento no Brasil

O arquiteto de paisagem e técnico do Iphan Carlos Fernando de Moura Delphim (2007)


define a paisagem cultural como um sistema complexo, dinâmico e instável, onde os
diferentes fatores evoluem, de forma conjunta e interativa, e defende a necessidade de
que a legislação a proteja contra eventuais danos e ações lesivas.

Além das paisagens culturais de “excepcional valor universal”, reconhecidas pela Unesco
através de sua convenção internacional, o Brasil criou um instrumento nacional de
reconhecimento das paisagens culturais brasileiras, denominado chancela e regulado
pela Portaria n.º 127, de 30/04/2007, do presidente do Iphan. Tal instrumento foi criado
com fundamento no artigo 216, parágrafo 1.º da Constituição Federal de 1988, que
determina que o poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento, desapropriação e “outras formas de acautelamento e preservação”.

De acordo com a referida Portaria, a paisagem cultural brasileira é uma porção peculiar
do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio
natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. A
paisagem cultural brasileira é declarada por chancela instituída pelo Iphan, mediante
procedimento específico, e qualquer pessoa natural ou jurídica é parte legítima para
requerer a instauração de processo administrativo visando a rubrica de uma paisagem
cultural brasileira.

O requerimento para a chancela da paisagem cultural brasileira, acompanhado da


documentação pertinente, poderá ser dirigido às Superintendências Regionais do Iphan,
em cuja circunscrição o bem se situar; ao Presidente do IPHAN ou ao Ministro de Estado
da Cultura. Sendo verificada a pertinência do requerimento para chancela da paisagem
cultural brasileira, será instaurado processo administrativo. O Departamento do
Patrimônio Material e Fiscalização (DEPAM/Iphan) é o órgão responsável pela
instauração, coordenação, instrução e análise do processo. A instauração do processo

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será comunicada à Presidência do Iphan e às Superintendências Regionais em cuja
circunscrição o bem se situar.

Para a instrução do processo administrativo poderão ser consultados os diversos setores


internos do Iphan que detenham atribuições na área, as entidades, órgãos e agentes
públicos e privados envolvidos, com vistas à celebração de um pacto para a gestão da
paisagem cultural brasileira a ser chancelada. Finalizada a instrução, o processo
administrativo será submetido para análise jurídica e expedição de edital de notificação da
chancela, com publicação no Diário Oficial da União e abertura do prazo de trinta dias
para manifestações ou eventuais contestações ao reconhecimento pelos interessados.

Após, as manifestações serão analisadas e as contestações julgadas pelo DEPAM/Iphan,


no prazo de trinta dias, mediante prévia oitiva da Procuradoria Federal, remetendo-se o
processo administrativo para deliberação ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.
Sendo aprovada a chancela da paisagem cultural brasileira pelo Conselho Consultivo do
Patrimônio Cultural, a súmula da decisão será publicada no Diário Oficial da União, sendo
o processo administrativo remetido pelo Presidente do Iphan para homologação final do
Ministro da Cultura. A aprovação da chancela da paisagem cultural brasileira pelo
Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural será comunicada aos Estados-membros e
Municípios onde a porção territorial estiver localizada, dando-se ciência ao Ministério
Público Federal e Estadual, com ampla publicidade do ato por meio da divulgação nos
meios de comunicação pertinentes.

A chancela da paisagem cultural brasileira implica no estabelecimento de pacto que pode


envolver o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando a gestão
compartilhada da porção do território nacional assim reconhecida. O pacto
convencionado para proteção da paisagem cultural brasileira chancelada poderá ser
integrado de Plano de Gestão a ser acordado entre as diversas entidades, órgãos e
agentes públicos e privados envolvidos, o qual será acompanhado pelo Iphan.

Tem por objetivo atender ao interesse público e contribuir para a preservação do


patrimônio cultural, complementando e integrando os instrumentos de promoção e
proteção existentes, nos termos preconizados na Constituição Federal. Além disso,
considera o caráter dinâmico da cultura e da ação humana sobre as porções do território
a que se aplica, convive com as transformações inerentes ao desenvolvimento econômico
e social sustentáveis e valoriza a motivação responsável pela preservação do patrimônio,
devendo ser revalidada num prazo máximo de dez anos.

16
Em agosto de 2007, oficializou-se na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul, a Carta de
Bagé ou Carta da Paisagem Cultural, que tem como objetivo a defesa das paisagens
culturais em geral. O Artigo 10 do documento define que: “A paisagem cultural inclui,
dentre outros, sítios de valor histórico, pré-histórico, étnico, geológico, paleontológico,
científico, artístico, literário, mítico, esotérico, legendário, industrial, simbólico, pareidólico,
turístico, econômico, religioso, de migração e de fronteira, bem como áreas contíguas,
envoltórias ou associadas a um meio urbano.

A Carta de Bagé sugere nas intervenções, a participação da comunidade residente.

Segundo sua regração, “a paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano
imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma de
todos os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza, e,
reciprocamente, da natureza com o homem”.

Entre os sítios que estão sendo considerados para chancela como paisagens culturais
brasileiras estão o Vale do Ribeira (SP), a Serra da Bodoquena (MS), o Vale do Itajaí
(SC), Canudos (BA) e os Céus de Brasília.

5. A PAISAGEM CULTURAL COMO ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO DO COMPLEXO


DA FÁBRICA RHEINGANTZ

Com base no exposto, as paisagens culturais, para serem incluídas na lista do patrimônio,
devem ser selecionadas pelo seu valor universal, pela sua representatividade em termos
de uma região geocultural claramente definida, pela sua capacidade de ilustrar elementos
culturais distintos da região e pelo reconhecimento da sociedade. Portanto, conceito de
paisagem cultural abarca também as idéias de pertencimento, significado, valor e
singularidade do lugar.

A Fábrica Rheingantz atende a todos esses requisitos. Por ser a primeira indústria do país
na produção de lã e a pioneira no processo industrial do Rio Grande do Sul, tem um valor
e uma representatividade inquestionável. Na escala local, mesmo tantos anos após o fim
das atividades ainda é lembrada por grande parte da população riograndina como
representante de sua identidade.

Podemos constatar na análise do questionário aplicado a 218 riograndinos, 44% do sexo


feminino e 56% masculino, essa representatividade. A faixa etária dos participantes é
bastante diversificada, conforme se observa na Figura 11.

17
Faixa Etária

16% 22% 18 a 25
26 a 29
15%
30 a 39
40 a 49
11%
50 a 59
17% 19% 60 ou mais

Figura 11 – Faixa etária.


Fonte: Elaborada pelos autores.

O grau de escolaridade de 73% das pessoas que participaram da entrevista é de, no


máximo, o ensino médio completo, Figura 12.

ESCOLARIDADE

fundamental
15% 16% funfamental incompleto
8%
médio
4% 19% médio incompleto
superior
38%
superior incompleto

Figura 12 – Escolaridade.
Fonte: Elaborada pelos autores.

E, 74% deles afirmam que o complexo da Rheingantz representa um patrimônio cultural


histórico do Rio Grande (Figura 13).

18
NA SUA OPINIÃO A FÁBRICA RHEINGANTZ
REPRESENTA UM PATRMÔNIO CULTURAL
HISTÓRICO RG?

12%
sim
14%

não

já representou mas
74% representa mais

Figura 13 – Opinião quanto a representatividade Patrimonial do Complexo Rheingantz.


Fonte: Elaborada pelos autores.

Para Luca (2007), a maior dificuldade em relação à paisagem de valor patrimonial é a sua
preservação. Cada paisagem é específica em sua relação aos lugares, às culturas e às
instituições. É preciso enfatizar a participação da própria população, através do
reconhecimento dos valores e significados. A relação entre a comunidade e o espaço
onde vivem, suas formas tradicionais de ocupação e uso do solo são fundamentais para a
gestão da paisagem. O envolvimento da comunidade promove a valorização de sua
identidade e seus valores é peça chave para a identificação de seu papel na preservação
da paisagem local.

Quando foi perguntado se a fábrica Rheingantz deveria ser tombada como patrimônio
cultural riograndino, 76% dos entrevistados responderam que sim (Figura 14)
demonstrando uma forte identidade com o objeto pesquisado.

VOCÊ ACREDITA QUE A" FÁBRICA DEVE SER


"TOMBADA COMO PATRIMÔNIO " RIOGRANDINO?

24%

sim
não

76%

Figura 14 – Opinião quanto ao tombamento da Fábrica.


Fonte: Elaborada pelos autores.

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No que se refere a capacidade de ilustrar elementos culturais distintos da região, o
complexo representa uma pequena porção da cultura e arquitetura alemã dentro de uma
área com características essencialmente Portuguesa.

Seguindo o conceito de Vieira (2008) “a paisagem ao mesmo tempo em que é produto da


história, reproduz a história, mostra a concepção que o homem teve de diversas
atividades e necessidades, exprime, portanto, as características próprias dos homens que
a criaram”. O complexo da Rheingantz é assim, produto da história reproduzindo história.
Um suporte de memória que remete aos tempos de pujança produtiva e importância no
desenvolvimento industrial brasileiro.

A estrutura basicamente germânica, edificada em 143 mil metros quadrados de área,


pode ser associada, também, ao conceito que HOLZER (1999, p. 151) definiria como uma
“porção do espaço relativamente ampla que se destaca visualmente por possuir
características físicas e culturais suficientemente homogêneos para assumirem uma
individualidade.

Portanto, ressaltada a importância do complexo da Fábrica Rheingantz, parece sensato


propor sua preservação por meio da utilização do conceito de paisagem cultural. É, no
mínimo, uma alternativa que merece ser considerada no contexto atual, porque não
exister vedação no âmbito legislativo, bem como, porquanto significou no passado na
expansão da região sul do Brasil e o que representa essa memória a um considerável
grupo de indivíduos.

6. CONCLUSÃO

Ao analisar a história do complexo da fábrica Rheingantz é possível concluir que é


plausível considerar o conceito de paisagem cultural para embasar o processo de
transformação no local. O conceito é utilizado porque há uma condição onde as
celebrações, ofícios e saberes se constróem estabelecendo uma experiência singular.

A Fábrica Rheingantz atende a todos os requisitos exigidos para ser incluido na lista de
patrimônio. Tem um valor e uma representatividade indiscutível por ser a primeira
indústria do país na produção de lã e a pioneira no processo industrial do Rio Grande do
Sul. Na escala local é reconhecida como patrimônio cultural histórico por 74% da
população. Do total dos questionados, 76% acreditam que o complexo deve ser tombado,
por representar a identidade do povo local.

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Paisagem e identidade são elementos fortemente vinculados, entretanto, quando nada é
feito para preservá-los, o tempo atua de forma inapelável acelerando sua transformação.
A necessidade de intervenção no complexo fica explicitado quando observa-se a sua
diminuição e desintegração ao longo dos anos.

A Rheingantz talvez seja o único sítio industrial urbano histórico do Estado do Rio Grande
do Sul que ainda mantém parte de sua estrutura ainda edificada apesar da grande
degradação que vem sofrendo ao longo desses 137 anos. Portanto, urge que se
determine de forma ou de outra o tombamento e todos os procedimentos oriundos de sua
chancela.

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geografia cultural. In: ROSENDHAL, Zeny., CORRÊA, Roberto L. Org. Paisagem, Tempo e
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21
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i Holzer (1999) afirma que o conceito de Landscape tem o sentido de formatar a terra, implicando numa associação das
formas físicas e culturais.
ii Torres, Luiz Henrique. Câmara Municipal do Rio Grande: Berço do Parlamento Gaúcho

22
iii Carlos Guilherme Rheingantz que foi agraciado com o Título de Comendador no ano de 1893 pelo Imperador D.
Pedro II era filho do Alemão Jacob Rheingantz, fundador da Colônia Alemã de São Lourenço, atual cidade de São
Lourenço.
iv Prédio construído em estilo enxaimel que se encontra praticamente em ruína.
v CARTA INTERNACIONAL SOBRE A CONSERVAÇÃO E O RESTAURO DE MONUMENTOS E SÍTIOS, 1964. Art. 1.º
- O conceito de monumento histórico engloba, não só as criações arquitetônicas isoladamente, mas também os sítios,
urbanos ou rurais, nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilização particular, de uma fase significativa da
evolução ou do progresso, ou algum acontecimento histórico. Este conceito é aplicável, quer às grandes criações, quer
às realizações mais modestas que tenham adquirido significado cultural com o passar do tempo.

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