Está en la página 1de 54

Departamento de Química

ANÁLISE ESTRUTURAL

ESPECTROSCOPIA
DE RMN

 Duarte Paulo Correia

Funchal, Abril de 2002


ghfghfghfgfg 2
Índice Geral

1. Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) 3


1.1 Introdução 3
1.2 Origem do sinal 5
2. Espectrofotómetros 7
2.1 Espectrofotómetro de RMN (onda contínua) 9
2.2 Espectrofotómetro de RMN (Transformadas de Fourrier) 10
2.3 Resumo 13
3. Espectros RMN e Estrutura Molecular 13
3.1 Deslocamento Químico 14
3.2 Número de sinais e identificação dos tipos de protões 19
3.3 Resumo 22
3.4 Acoplamento Spin – Spin 23
3.5 Integração em RMN 30
3.6 Interpretação dos espectros 1H-RMN 32
3.7 Resumo 34
4. Espectroscopia de RMN de carbono 13 35
4.1 Sinais no espectro de 13C-RMN 36
4.2 Deslocamento químico do 13C 36
4.3 Interpretação dos espectros 13C-RMN 39
4.4 Resumo 40
5. Ressonância Magnética Nuclear Bidimensional – 2D 41

6. Ressonância Magnética Nuclear – Aplicações 42

7. Exame médico 43

8. Conclusão 45

9. Bibliografia 47

Apêndice 1 48

Apêndice 2 50

Ressonância Magnética Nuclear 1


1. Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear
(RMN)

1.1 Introdução
A espectroscopia é o estudo da radiação electromagnética com a matéria. A
espectroscopia de ressonância magnética nuclear baseia-se no fenómeno de RMN para o
estudo das propriedades físicas e químicas da matéria, interpretando-se como um ramo
da espectroscopia que explora as propriedades magnéticas de núcleos atómicos.
A espectroscopia de ressonância magnética nuclear encontra várias aplicações em
diversas áreas científicas. Em química a espectroscopia de RMN é frequentemente
usada no estudo da estrutura dos compostos usando técnicas uni ou bidimensionais
simples substituindo deste modo, as técnicas de cristalografia por raios X . Trata-se de
uma técnica não destrutiva que permite a análise de compostos orgânicos e alguns
inorgânicos.
Desde a sua descoberta, em 1946 (Felix Bloch e Edward Purcell) a espectroscopia
de RMN tem tido um rápido crescimento, fruto dos contínuos avanços da tecnologia e
da utilidade deste método em química.[1]
Como outras técnicas espectroscópicas, NMR depende das variações de energia
quantificáveis que podem ser induzidas em pequenas moléculas quando estas são
irradiadas por radiação electromagnética. Os requisitos energéticos da NMR (10-6
kJ/mol) são relativamente pequenos quando comparados com outras técnicas
espectrofotométricas ( a radiação de infravermelho situa-se nos 10-4 kJ/mol ; ultravioleta
no intervalo 160-1300 kJ/mol).
Este tipo de espectroscopia está relacionada com as transições induzidas pelas
radiofrequências (rf) entre estados quantificados de energia dos núcleos orientados num
campo magnético.

γ-rays x-rays UV VIS IR µ-wave radio

10-10 10-8 10-6 10-4 10-2 100 102


wavelength (cm)

Ressonância Magnética Nuclear 2


O método funciona, de uma forma geral, da seguinte maneira. O núcleo de certos
elementos e isótopos comportam-se como se
fossem ímans girando em torno de um eixo.
Quando se coloca um composto contendo
1 13
átomos de H ou de C num campo
Figura 1 – Orientação dos spins magnético muito forte e simultaneamente se
nucleares num campo magnético.[2]
irradia o composto com energia
electromagnética, os núcleos podem absorver energia num processo denominado
ressonância magnética.
A absorção desta radiação pelos núcleos desses elementos é quantificada e da origem
a um espectro característico.[3]

Figura 2 – Espectro de NMR de


protão do etil benzeno [2]

Sabemos que além da carga e da


massa, cerca de metade dos núcleos
conhecidos possuem um spin ou momento angular. A rotação destas partículas
carregadas – rotação de carga – gera um movimento magnético orientado segundo o
eixo de spin, o que significa que estes núcleos funcionam como minúsculas barras
magnéticas.[4]
Quando os núcleos são colocados num potente campo magnético uniforme, Ho, estes
sofrem uma torção e tendem a tomar uma orientação «permitida», em relação ao campo
externo. Este último alinha os núcleos que giram opondo-se à tendência desordenada
dos processos térmicos. Porém, os núcleos não se
alinham em posição perfeitamente paralela (ou
antiparalela), em relação ao campo. Na realidade,
ωo
µ
os eixos dos respectivos spins ficam oblíquos em
Ho
relação ao campo, e tal como a parte superior de
um giroscópio, sofre um movimento de precessão,

Ressonância Magnética Nuclear 3


em que cada polo do eixo nuclear descreve uma trajectória circular no plano do campo.
[1]
Figura 3 – Rotação do núcleo num
campo magnético.[1]

Por exemplo para núcleos com spin


igual a ½., quando a frequência do
campo magnético uniforme atinge a de
precessão, estes absorvem energia e
passam a um nível energético superior,
antiparalelo ao campo H0. Um desses
núcleos, é o do átomo de hidrogénio, ou
seja, o protão 1H.[4]
Por volta de 1950, descobriu-se que
as frequências de ressonância nuclear
não dependem apenas da natureza dos
núcleos atómicos, mas também do
ambiente químico. A utilidade desta técnica tornou-se então muito óbvia, na medida que
poderia ser utilizada para determinar o número e o tipo de grupos químicos num
composto.[2] Porém, quando associada a outros métodos espectroscópicos, a técnica de
espectroscopia de ressonância magnética nuclear, RMN, revolucionou a metodologia de
identificação e caracterização das moléculas fornecendo um grande volume de
informações, fruto dos efeitos das acções inter- e intramoléculares sobre os valores da
força do campo magnético ao nível dos núcleos das moléculas.

1.2 Origem do sinal


Tal como os electrões possuem o número quântico spin (S), os núcleos de 1H e de
alguns isótopos também possuem spin. O núcleo do hidrogénio comporta-se como um
electrão em que o seu spin é 1/2 e pode assumir dois estados: +1/2 e -1/2, o que
pressupõe a existência de dois momentos magnéticos. Existem ainda outros núcleos
que apresentam igual número quântico como o 13C, 19F e 31P, porém, elementos como
12
C, 16O e 32S não têm spin (DS = 0) e por isso não dão espectros de RMN. Há ainda
núcleos com spin maior que ½, contudo o estudo destes núcleos não será aqui
efectuado.

Ressonância Magnética Nuclear 4


Como o protão tem carga eléctrica, a rotação deste gera um pequeno momento
magnético, cuja direcção coincide com a do eixo do spin. Este pequeno momento
magnético confere ao protão em rotação as propriedades de uma pequena barra
magnetizada. Na ausência de campo magnético externo, os momentos magnéticos dos
protões de uma amostra estão orientados ao acaso. Quando um composto contendo
hidrogénio (portanto, protões) é colocado num campo magnético externo, os protões só
podem assumir uma de duas orientações possíveis em relação ao campo magnético
externo. O momento magnético do protão pode, estar quer alinhado "paralelamente" ao
campo externo, quer "antiparalelamente".[5]

Figura 4 – Alinhamento do spin nuclear na ausência e presença de um campo


magnético externo.[6]

Como vemos, os dois alinhamentos do protão num campo magnético não têm a
mesma energia. Quando o protão está alinhado a favor do campo (paralelamente -α) sua
energia é mais baixa que a energia quando está alinhado contra o campo magnético
(antiparalelamente -β). Sem campo magnético não há diferença de energia entre os
protões, e a diferença de energia gerada pelo campo externo aplicado depende da
intensidade desse campo. É então necessária certa quantidade de energia para fazer o
protão passar do estado de energia mais baixa para o estado de maior energia, que no
espectrofotómetro de RMN 1H é proporcionada à radiação electromagnética utilizada
(radiofrequência).
O sinal da espectroscopia de RMN resulta, assim, da diferença entre a energia
absorvida pelos spins que efectuam uma transição do estado de menor energia para o
estado de maior energia e a energia emitida pelos mesmos que simultaneamente
efectuam uma transição do nível de energia superior para o de energia inferior.[7] O
sinal é então proporcional à diferença populacional entre os estados considerados. Uma
vez que a capacidade de detectar estas pequenas diferenças populacionais é acentuada,

Ressonância Magnética Nuclear 5


a espectroscopia de RMN torna-se num método sensível, sendo porém não tão sensível
quanto o desejado.[5]
O sinal RMN é um sinal com duas
componentes desfasadas de 90º. Estes quando
são detectáveis, são constituídos por uma
componente de absorção e uma componente
de dispersão, representadas na seguinte figura.

Figura 5 – Formato das curvas dos dois sinais


RMN observáveis.[1]

Com a utilização de um detector fase-sensível, pode observar-se quer o modo de


absorção quer o modo de dispersão. Porém os espectros de RMN são habitualmente
observados no modo de absorção, enquanto o de dispersão é utilizado para controle da
frequência de campo[1].

2. Espectrofotómetros
Um espectro de ressonância magnética de alta resolução é um aparelho disponível
em muitos laboratórios e fabricado comercialmente. Os instrumentos comerciais são
fornecidos com imãs permanentes com campo de aproximadamente 14000 Gauss e
produzem espectro de protão a 60 MHz, bem como espectros de 19F, 11B, 13C, 2H,
15N e 31P nas combinações apropriadas de frequência e força do campo magnético.
O espectrofotómetro de RMN é costituido por um grande “refrigerador” que contém
dois líquidos extremamente frios: o
hélio líquido a – 269 ºC e o azoto
líquido a – 195 ºC. O hélio encontra-se
na parte mais interna do “refrigerador ”
de forma a arrefecer uma bobina
supercondutora que cria o campo
magnético e o azoto na parte externa
para evitar a evaporação demasiado
rápida do hélio. A amostra a ser analisada pelo espectrofotómetro, é então colocada num
orifício situado na parte superior do “refrigerador”(onde a técnica aponta).

Ressonância Magnética Nuclear 6


Quando introduzida no aparelho, é sugeita a um fluxo de ar que faz girar o tubo
porta-amostra deforma a se obter a homogeniedade da amostra. Uma vez dissolvida a
amostra, o solvente que a compõe é deuterado e sob a frequência desejada , é formado
um campo magnético resultando então num espectro de RMN após tratamneto
específico dos sinais.[8]
Mencionamos que a frequência desejada e a força do campo são seleccionadas e o
campo magnético é varrido dentro de uma faixa de força de campo seleccionada. O
espectro de protão é usualmente obtido a 60 ou a 100 MHz, sendo que a região usual de
varrimento alcança 1000 Hz a 60 MHz ou 1700 Hz a 100 MHz. Medindo-se os
deslocamentos de frequência a partir de uma marcador de referência obtém-se
geralmente uma precisão de mais ou menos 1 Hz. O registro é apresentado como uma
série de picos cujas áreas são proporcionais ao número de protões que representam. As
áreas dos picos são medidas por um integrador electrónico que traça uma linha em
diversos níveis. A diferença entre os níveis é proporcional à área dos picos. A contagem
dos protões com auxílio do gerador é extremamente útil. Os picos ocultos sob outros
picos podem ser, por exemplo, detectados, ou a pureza da amostra, quando o trabalho é
quantitativo, pode ser determinada. [3]
Os espectrofotómetros permitem aos químicos medir a absorção de energia pelos
núcleos mais comumente analisados como o de 1H e de 13C.
Um dos exemplos mais sonantes refere-se à espectroscopia de ressonância
magnética de protões (1H-RMN). Os aparelhos de 1
H-RMNem geral utilizam imãs
supercondutores com campos magnéticos muito intensos e pulsos curtos de radiação de
radiofrequência, que provocam a absorção de energia pelos núcleos de 1H. A excitação
dos núcleos provoca um fluxo de pequena corrente eléctrica numa bobina receptora que
envolve a amostra. O instrumento então amplifica a corrente exibindo o sinal (um pico
ou uma série de picos) no computador, que por sua vez efectua a premeditação dos
sinais e depois de um cálculo matemático (transformada de Fourier), exibe um espectro
legível.
Existem vários tipos de espectrofotómetros de RMN, entre os quais o de onda
contínua e o de transformada de Fourrier. A ressonância magnética nuclear surgiu com
aparelhos de ondas contínuas (C.W.), até que em 1970 os primeiros aparelhos baseados
nas transformadas de Fourrier (F.T.) apareceram e dominaram o mercado.[9]

Ressonância Magnética Nuclear 7


2.1 Espectrofotómetro de RMN (onda contínua)

O espectrofotómetro de ressonância magnética nuclear é constituído por seis


componentes fundamentais: um magnete, que separa os estados energéticos do spin
nuclear; um transmissor, que fornece a energia RF; o suporte da amostra, provido de
bobinas eléctricas para a ligação desta ao gerador RF; um detector que processa os
sinais RMN; um registador que fornece o espectro ; finalmente, um gerador para o
“varrimento” do campo magnético da região de ressonância, para produzir o espectro.

Ho

Magnete
N S
B1

Registador
Transmissor

Detector

Figura 6 - Aspecto esquemático dos componentes de um espectrofotómetro de


RMN.[6]

O espectrofotómetro RMN difere dos instrumentos ópticos em dois aspectos. Por


um lado, os níveis magnéticos nucleares são muito próximos, pelo que é necessária
energia das radiofrequências para induzir as transições; além disso, a radiação RF é
monocromática, o que elimina a necessidade de prismas ou redes. Como a diferença
entre os níveis de energéticos é determinada pelo campo magnético externo aplicado,
pode obter-se o espectro por “varrimento” do campo magnético (Método do
varrimento do campo), enquanto se mantém constante a frequência da radiação RF, ou
por variação desta última (Método de varrimento da frequência ), enquanto se ,mantém
constante o campo externo, como na espectroscopia convencional.

Ressonância Magnética Nuclear 8


A maioria dos espectrofotómetros RMN actuais trabalham com uma força de campo
de 14,09KG e um campo RF de 60 MHz. Trata-se de aparelhos relativamente baratos e
de fácil manejo, para medidas de rotina dos protões. Porém, como os deslocamentos
químicos e a sensibilidade do aparelho dependem do campo, é, por vezes, vantajoso
trabalhar a uma força de campo superior, em proporção com a homogeneidade e
estabilidade.[1]
Mediante condições apropriadas, o espectrofotómetro de RMN permite efectuar o
espectro de outros núcleos como é o caso do 19F, 13C entre muitos outros, sendo para tal,
necessário, apenas uma sonda e fonte RF diferente para cada tipo de núcleo em análise.
No caso da espectroscopia em que a excitação é conseguida recorrendo a ondas
contínuas, a ideia é a mesma que para o Ultravioleta, isto é, é efectuado um scaner das
frequências de uma forma contínua (ou um “varrimento” do campo magnético, que tem
o mesmo efeito − ω = γ Β ), e registado sucessivamente como os diferentes
4500 componentes do M0 dão origem
4000
ωo or Bo a Mxy a diferentes frequências
3500
(ou campos magnéticos)
3000

2500 Obtém-se um domínio do


Series1
2000 tempo no espectro de
1500
frequência uma vez que o
1000

500
“varrimento” não é
0 ωo or Bo suficientemente lento.[4]

time
Com espectrofotómetros bem
estabilizados, a reprodutibilidade dos sucessivos registos espectrais permite a melhoria
da sensibilidade dos mesmos. Actualmente , é habitual um aumento da sensibilidade de
10 a 50 vezes, o que requer algumas horas de funcionamento estável. Porém, o
espectrofotómetro com base na transformada de Fourrier permite o mesmo aumento de
sensibilidade em muito menos tempo.

2.2 Espectrofotómetro de RMN (Transformadas de Fourrier)

O maior impulso para a evolução da técnica de espectroscopia de ressonância


magnética nuclear surgiu nos finais da década de 60. Richard R. Hernst descobriu,(
juntamente com Weston A.Anderson) que a sensibilidade do espectro de RMN poderia

Ressonância Magnética Nuclear 9


ser aumentada dramaticamente se o “varrimento” a baixa frequência fosse substituído
por pequenos e intensos impulsos de radiofrequência. Os impulsos provocavam um
sinal que seria emitido pelo núcleo, sinal este que é medido como uma função do tempo
após cada impulso. Ernst verificou, contudo que era possível extrair as frequências de
ressonância de tal tipo de sinal e converter o sinal num espectro de RMN recorrendo a
uma operação matemática(Transformadas de Fourrier, FT). A descoberta de Ernest é a
base da espectroscopia moderna de RMN, designada por FT-NMR. Esta nova técnica
contribui para um aumento da sensibilidade de cerca de 10 vezes e nalguns casos 100
vezes, uma vez que a resposta do impulso contém informações em todas as frequências
de ressonância de uma forma simultânea.[2]
Os espectrofotómetros de FT-RMN usam um sistema de radiação de radiofrequência
(R.F.) de forma a provocar no núcleo exposto a num campo magnético, a rotação para
um alinhamento de energia superior. Neste método a amostra é irradiada não com uma
série sucessiva de frequências isoladas, como no caso da RMN de onda contínua, mas
sim com uma banda de frequências centrada na frequência de ressonância do núcleo em
estudo. O intenso impulso R.F. excita simultaneamente toda a banda de frequências de
precessão da espécie nuclear escolhida.
Todos os núcleos iram tornar a emitir radiação R.F. à respectiva frequência de
ressonância, criando, assim, um modelo de interferência na emissão de R.F. resultante
versus tempo, conhecida como queda de indução livre (FID). O sinal de queda da
indução livre que se segue a cada impulso repetitivo é tratado num conversor de códigos
analógico para dígito. Os sinais transitórios sucessivos são, deste modo, acumulados
num computador laboratorial, até se obter a razão sinal/ruído apropriada. Usando os
algoritmos de Fourrier o computador realiza, então, uma rápida transformação de
Fourrier para o domínio da frequência, permitindo a apresentação normal do espectro de
absorção versus frequência.[1]
Para explicar os resultados obtidos por esta técnica, é usada uma “ferramenta”
matemática, a Transformada de Fourrier. Esta permite a transformação de informação
no domínio do tempo para o domínio da frequência e traduz a linguagem dos núcleos
em algo compreensível para o analisador sendo dada pelas seguintes equações.[8,10]

S(ω) =  ∫

­iωt 
s(t) e dt
S(ω) =  s(t) e
-∞ ­iωt dt

s(t) = 1/2 π
-∞ ∫
Ressonância Magnética Nuclear 10
iωt 
S(ω) e dt
Estas duas equações transformam o sinal de RMN de uma forma para outra mais
compreensível.

Figura 7 – Transformada de Fourrier aplicada ao sinal obtido[2]

O diagrama a) da figura mostra o sinal do 13C , que ocorre na natureza em cerca de


1% do carbono total numa solução de etilbenzeno obtido pela técnica do pulso. Após a
transformada de Fourrier, obtém-se o espectro de 13C – diagrama b). Se a experiência
fosse realizada com a técnica antiga, durante o mesmo período, apenas seria possível
efectuar um “varrimento” e o espectro obtido aparentar-se-ia com o do diagrama c).[2]
A magnitude das variações de energia envolvendo a espectroscopia de RMN são
pequenas, o que significa que a sensibilidade é uma das maiores limitações. Uma das
maneiras de ultrapassar este problema é permitir a gravação simultânea e ao longo do
processo dos espectros obtidos, e em seguida adicionar cada um destes num somatório
que resulta no espectro final. Uma vez que o ruído de fundo é casual, a adição dos
espectros é efectuada como a raiz quadrada do número de espectros obtidos. Por
exemplo, se são efectuados gravados e somados 1000 espectros de um composto, o
ruído de fundo aumenta numa proporção de 10, porém o sinal aumenta em magnitude
cerca de 1000, aumentando assim a sensibilidade.[1]
FT-NMR torna possível o estudo de pequenas quantidades de material bem como de
isótopos interessantes de baixa abundância natural. [2]
Além dos espectrómetros descritos existem outros tipos como é o caso do RMN de
onda pulsada, e o de risca larga. Neste ultimo, a sua utilização direcciona-se
essencialmente para estudos sobre sólidos, fornecendo uma valiosa informação relativa
a estruturas cristalinas ou não-cristalinas, assim como movimentos internos nos
polímeros.

Ressonância Magnética Nuclear 11


2.3 Resumo
 Os espectrofotómetros de ressonância magnética nuclear são constituídos por:[3]
- Um forte íman cujo campo homogéneo possa ser variado de forma contínua e
precisa sobre uma faixa relativamente estreita. Isto é obtido por meio de um
gerador de varrimento;
- Um oscilador de radiofrequência;
- Um receptor de radiofrequência;
- Um registrador;
- Calibrador e integrador;
- Um compartimento de amostra que permite o posicionamento desta em relação
ao campo magnético principal, à espiral do transmissor e à espiral do receptor.
 Existem vários tipos de espectrofotómetros, entre os quais:
- Espectrofotómetro de onda contínua – a frequência é variada de forma contínua
e linear, por modulação da frequência básica.
- Espectrofotómetro de impulsos ou de onda pulsada (transformada de Fourrier) –
a radiação de radiofrequência é muito mais intensa, mas é aplicada durante
curtos intervalos de tempo.

3. Espectros RMN e Estrutura Molecular


Para a maior parte dos fins, os espectros RMN de alta resolução podem descrever-se
em termos de deslocamentos químicos e constantes de acoplamento. Dois outros
parâmetros por vezes referidos são os tempos de relaxação spin-rede e spin-spin dos
núcleos. A rotação interna, as trocas químicas e outros processos podem afectar os
tempos de relaxação, de modo a originar efeitos termo-dependentes sobre os espectros.
Nos sólidos predominam as interacções directas dipolo-dipolo magnéticos, os tempos de
relaxação são prolongados e o espectro de RMN é constituído por riscas muito largas.
Nos líquidos e gases, as interacções directas dipolo-dipolo anulam-se, em geral, pelos
rápidos movimentos intra- e intermoleculares, os tempos de relaxação são muito
menores e observam-se espectros de RMN de riscas finas.[1]

Ressonância Magnética Nuclear 12


3.1 Deslocamento Químico
Se os protões de uma molécula qualquer perdessem todos os seus electrões e fossem
isolados dos outros núcleos, todos estes absorveriam energia num campo magnético de
intensidade bem determinada e para uma dada frequência de radiação electromagnética.
No entanto, esta situação não corresponde à realidade.
Numa molécula, alguns núcleos de hidrogénio estão em regiões de densidade
electrónica maior do que em outros, pelo que teremos então protões que absorvem
energia em campos magnéticos de intensidades ligeiramente diferentes. Como resultado
teremos sinais no espectro de RMN que aparecem em diferentes posições. Desta forma,
estamos perante protões que apresentam um deslocamento químico diferente.
Porém, a intensidade do campo em que a absorção ocorre depende sensivelmente
das vizinhanças magnéticas de cada protão. O mecanismo pelo qual as vizinhanças
químicas modificam o campo magnético, Bo num dado núcleo depende do tipo de
ligações e de átomos que rodeiam o núcleo em questão. Estas vizinhanças magnéticas,
por sua vez, dependem de dois factores: dos campos magnéticos gerados pelos electrões
em movimento e dos campos magnéticos que provêm de outros protões vizinhos
(acoplamentos de spins entre os núcleos de 1H). [5]
Assim como o número de sinais num espectro de RMN diz-nos quantas espécies de
protões existem numa molécula, a posição dos sinais ajuda-nos a determinar que espécie
de protões se trata: aromáticos ou alifáticos; primários, secundários, ou treciários;
benzílicos, vinílicos ou acetilénicos; adjacentes a átomos de halogéneo ou a qualquer
outro grupo de átomos.
Todas estas diferentes espécies de protões têm diferentes ambientes electrónicos que
determinam assim, o local exacto do espectro em que o protão absorve. [4]
A circulação dos electrões de uma ligação sob a influência de um campo magnético
externo gera campo magnético de baixa intensidade (campo induzido) que protege o
protão em relação ao campo externo. Isto quer dizer que o campo magnético real que
actua sobre o protão é menor do que o campo externo.
Desta forma, se o campo induzido opõe-se ao campo aplicado, o protão encontra-se
protegido. Porém se o campo induzido reforça o campo aplicado, então o campo sentido
pelo protão sofre um aumento e o protão diz-se desprotegido.

Ressonância Magnética Nuclear 13


A circulação de electrões–
especificamente electrões π - à volta de
núcleos vizinhos gera um campo que
dependendo da situação do protão, tanto
pode contrariar, como reforçar o campo
aplicado sofrido pelo mesmo.
Para um determinado campo
magnético externo, um protão que está
fortemente protegido pelos electrões não
Figura 8 – Campo induzido que
pode absorver a mesma energia que um
reforça o campo aplicado nos protões
aromáticos – Protões desprotegidos protão de baixa protecção. Um protão
protegido ou blindado, absorverá energia
num campo externo de maior intensidade (frequências mais elevadas). Desta forma será
então necessário um campo externo mais intenso para compensar o efeito do pequeno
campo induzido.
O grau de protecção do protão pelos electrões vizinhos depende da densidade
electrónica relativa em torno desse protão. A densidade electrónica em torno do protão,
por sua vez, depende, em grande
parte, da presença de grupos
eletronegativos. Quanto mais
próximo destes grupos "aceitadores
de electrões", menos blindado estará
o protão.
Por outro lado, a deslocalização de electrões, isto é, a ressonância também contribui
para a desprotecção do protão. Assim, protões aromáticos de anéis benzénicos não são
protegidos (como podemos ver na figura 8 ), e absorvem energia num campo magnético
de baixa intensidade. Em contrapartida, protões ligados a carbonos de duplas e triplas
ligações possuem blindagem relativamente alta, devido à elevada densidade electrónica
das ligações π, e absorvem energia num campo magnético mais alto.
Os deslocamentos químicos são medidos na escala horizontal do espectro, em Hertz
(Hz), e normalmente exprimidos em partes por milhão (ppm), pois os deslocamentos
associados são muito pequenos quando comparados com a intensidade do campo

Ressonância Magnética Nuclear 14


magnético externo. Quanto mais para esquerda se localiza o sinal, menor é o campo
magnético sobre o núcleo.[5]

Figura 9- Escala de desvio químico para a espectroscopia de 1H-RMN.[11]

O ponto de referência a partir do qual se medem os deslocamentos químicos não é,


por questões de ordem prática, o sinal do protão nuclear, mas o sinal de um certo
composto, em regra, o TMS, tetrametilsilano (CH3)4Si.
O TMS contém 12 protões, mas estes são todos
quimicamente equivalentes, pelo que originam um único
sinal muito nítido. Como o silício é menos eletronegativo
que o carbono, os protões do TMS estão em regiões de
grande densidade electrónica. Por isso estão muito
blindados e o sinal ocorre numa região do espectro onde
poucos átomos de hidrogénio absorvem energia, pelo que muito raramente este
composto referência interfere com os sinais dos outros protões. Depois de o espectro ter
sido levantado, pode-se eliminar o TMS facilmente por evaporação. O valor do
deslocamento químico é desta forma expresso pela seguinte formula.

ν1
δ= × 10 6
Hamostra − HTMS

em que Hamostra e HTMS são as posições das riscas de absorção para a amostra e
referência, respectivamente, expressas em unidades de frequência (hertz), e ν1 é a
frequência operacional do espectrofotómetro.
Particularmente este tipo de desvios químicos podem não só ser significativamente
sensíveis à natureza do solvente como à presença de espécies paramagnéticas.
Além do TMS, são usados outros padrões de referência (secundários) que são
usados em soluções aquosas. A tabela seguinte mostra exactamente alguns desses
padrões em soluções aquosas.[12]

Ressonância Magnética Nuclear 15


Tabela 1- Referências secundárias para 1H-RMN de soluções aquosas.[12]

Referência δH
DSS 0,0(a)
TSS 0,0(a)
t-BuOH 1,231
CH3CN 2,059(b)
Acetona 2,216(b)
DMSO 2,710(c)
N(Me)4+Br- 3,178
p-Dioxano 3,743

(a) Derivado do TMS em solução aquosa


(b) Sujeito a troca em meio básico
(c) Impróprio em meio ácido

Como já se acentuou, é o fenómeno de desvio químico que torna a espectroscopia de


RMN uma técnica poderosíssima na identificação e determinação da estrutura de
substâncias. Tal como a espectroscopia de I.V. onde há frequências características de
grupos de átomos, também se verificam zonas características de absorção RMN para a
maior parte das situações moleculares em que se encontram núcleos 1H ou 13
C.
Em seguida apresenta-se uma lista de desvios químicos de alguns das classes se
compostos mais comuns.

Ressonância Magnética Nuclear 16


Figura 10- Desvios químicos característicos da 13C-RMN para amostras em CDCl. A
escala é relativa ao TMS a δ=0.[13]

Tendo em conta a figura e a tabela resumo, apresentada no apêndice 1, podem ser


efectuadas algumas verificações:[14]

 Os protões primários absorvem em campos magnéticos mais elevados que os


protões secundários e estes em campos superiores aos dos protões terciário.

R-CH3 R-CH2-R R3C-H


δ 0,8 – 1,0 δ 1,2 – 1,5 δ 1,4 – 1,7

e ainda

Ar-CH3 Ar-CH2-R Ar-CHR3


δ 2,2 – 2,5 δ 2,5 – 2,9 δ 2,8 – 3,2

 A elevada electronegatividade de um elemento ligado a um carbono favorece o


aumento do deslocamento químico dos protões do carbono.

Electronegatividade
R-CH2-I R-CH2-Br R-CH2-Cl R-CH2-F
δ 3,0 – 3,3 δ 3,2 – 3,4 δ 3,5 – 3,7 δ 4,2 – 4,5

 Substituintes múltiplos "sacadores" de electrões aumentam o desvio químico


relativamente aos substituintes simples.

CHCl3 CH2Cl2 CH3Cl


δ 7,27 δ 5,30 δ 3,05

 O efeito desprotector dos grupos "sacadores" de electrões diminui com o aumento


das distâncias.

R’O-CH3 R’O-CH2CH3 R’O-CH2CH2CH3


δ 3,2 – 3,5 δ 1,2 – 1,4 δ 0,9 – 1,1

Ressonância Magnética Nuclear 17


 Como substituinte, os anéis aromáticos induzem um desvio químico superior ao
provocado pelos grupos alifáticos.

Ar-NH2 R-NH2
δ 3 – 3,5 δ 0,6 – 2,5
Ar-OH R-OH
δ 4 – 12 δ 1 – 5,5
Ar-C≡C-H R-C≡C-H
δ 2,8 – 3,1 δ 2,3 – 2,5
Ar-O-CH3 R-O-CH3
δ 3,7 – 4,0 δ 3,2 – 3,5
Ar-(C=O)-H R-(C=O)-H
δ 9,7 – 10,3 δ 9,4 – 9,9
Ar-(C=O)-CH3 R-(C=O)-CH3
δ 2,4 – 2,6 δ 2,1 – 2,4

3.2 Número de sinais e identificação dos tipos de protões


Numa dada molécula protões com o mesmo ambiente absorvem à mesma indução
magnética aplicada e são designados por protões equivalentes. O número de sinais no
espectro de RMN diz-nos, então, quantos conjuntos de protões equivalentes, ou quantas
“espécies” de protões, existem na molécula.
De forma a compreender o estabelecimento da equivalência entre os protões de uma
molécula, serão abordados alguns exemplos dados pelas seguintes fórmulas de
estrutura.

Cloreto de etilo Cloreto de isopropilo cloreto de n-propilo


CH3-CH2-Cl CH3-CHCl-CH3 CH3-CH2-CH2-Cl

2 sinais no RMN 2 sinais no RMN 3 sinais no


RMN

Tendo em conta que, para serem quimicamente equivalentes, os protões têm de ser
também estereoquimicamente equivalentes, dai que para as seguintes estruturas temos a
seguinte análise. a
CH3
a a b
b c
CH3 CH3 H c
H H H H
C=C C=C b
CH3 H Br H
c
a b H H
d d
3 sinais no RMN
2 sinais no RMN 4 sinais no RMN

Ressonância Magnética Nuclear 18


2-Metilpropeno 3-Bromopropeno Metilciclopropamo

No caso particular do 1,2-dicloropropano o espectro é constituído por 4 sinais.

Os ambientes dos dois protões ligados ao C-1 não são os mesmos, o que traduz-se
numa absorção a diferentes intensidades de campo. Porém pode suceder a situação em
que os protões não sejam suficientemente diferentes para os sinais estarem
apreciavelmente separados e então resultar em menos sinais dos que haviam sido
previstos. Desta forma impõe-se uma questão: como é que é possível predizer o número
de sinais no espectro de ressonância magnética nuclear?
Ora bem, para avaliar a equivalência de protões recorre-se ao mesmo método que
permite-nos identificar o número de isómeros.[4]
Assim temos que para uma mesma molécula podem existir vários átomos de
hidrogénio equivalentes, isto é, com o mesmo deslocamento químico. Portanto, o sinal
destes protões cai na mesma posição do espectro de RMN. Dizemos então que estamos
perante protões homotópicos.
Por exemplo, o espectro de 1H-RMN da molécula de etano (C2H6) dá um único pico
- um singleto. Mas como é que 6 átomos de hidrogénios podem dar apenas um sinal?
Tal situação é possível porque todos estes protões do etano têm as mesmas
propriedades químicas. Por exemplo, se substituirmos qualquer um dos hidrogénios por
um grupo Z qualquer, teremos a mesma molécula C2H5Z, idêntica tanto na estrutura
geométrica e espacial quanto nas propriedades físico-químicas. Sabe-se que no grupo
metil (-CH3) todos os três protões são equivalentes, pois existe a possibilidade de
rotação da ligação sigma. Assim a substituição de um protão qualquer de cada um dos
carbonos do etano por um grupo Z, dá origem à mesma molécula. Já na molécula de

Ressonância Magnética Nuclear 19


eteno (H2C=CH2) a ligação dupla não permite a rotação, e forma-se dois compostos
isoméricos diferentes (Cs e trans) ao substituirmos um protão de cada um dos carbonos.
Porém a simetria da molécula derivada da existência de um plano de simetria, faz
com que existam protões homotópicos que são interpretados como um único sinal.
Um exemplo é a molécula do 2-metilpropeno, em baixo representada, com dois
grupos de protões homotópicos (em azul e em vermelho)

Substituindo qualquer um dos dois átomos de hidrogénio azuis por um bromo,


temos a mesma molécula: 1-bromo-2-metilpropeno. Por outro lado, ao substituir
qualquer um dos seis átomos de hidrogénio vermelhos teremos também, a mesma
molécula: 3-bromo 2-metilpropeno. Deste modo, o 2-metilpropeno dá dois sinais no
espectro de RMN 1H: um correspondente aos protões homotópicos azuis e outro
correspondente aos vermelhos.
Em suma, podemos dizer que os protões são considerados homotópicos porque
possuem a mesma vizinhança, e o espectro de RMN 1H não detecta diferenças químicas
entre estes hidrogénios, uma vez que eles têm o mesmo grau de blindagem. A diferença
entre os dois sinais do 2-metilpropeno deriva somente do deslocamento químico dos
dois grupos de hidrogénio.
Se a substituição de cada um dos átomos de hidrogénio pelo mesmo grupo leva à
formação de compostos que são enantiómericos, então, os dois protões considerados são
enantiotópicos. Neste caso, os ambientes destes dois protões são imagens um do outro
num espelho plano e num meio aquiral comportam-se como se fossem equivalentes
dando apenas um sinal no espectro. [4, 5]
Consideremos, por exemplo, o brometo de etilo. A substituição de qualquer um dos
dois protões metilénicos daria um de dois enantitómeros.

Ressonância Magnética Nuclear 20


Os dois átomos de hidrogénio do brometo de etilo são enantiotópicos. O composto
dá então, dois sinais no espectro de 1H-RMN: um correspondente aos três protões
homotópicos do grupo metil e outro correspondente aos dois protões enantiotópicos,
que também são equivalentes.
Por outro lado, se a substituição de cada um dos átomos de hidrogénio pelo mesmo
grupo leva à formação de compostos que são diasteroisómericos, os dois protões
considerados são diasterotópicos.
A identificação deste tipo de protões num composto é muito importante porque eles
não têm o mesmo deslocamento químico e dão sinais diferentes no espectro, contudo,
na maioria das vezes, estes sinais são tão próximos que torna-se difícil distinguir cada
um deles. A única forma de poder assegurar uma boa reprodutibilidade do espectro é
recorrer a espectrófotometros de alta frequência.
São então este tipo de protões que podem ser responsáveis pelo aparecimento de
sinais extra no espectro de RMN.
As moléculas de cloroeteno e 1-bromopropanol, abaixo representadas, são um
exemplo típico de compostos com este tipo de protões.[5]

Ressonância Magnética Nuclear 21


3.3 Resumo
Felizmente, todos os protões não podem absorver energia na mesma frequência ou no
mesmo campo magnético externo aplicado o que possibilita a identificação de cada um
no espectro de RMN. Para tal há alguns conceitos a ter em conta.[15]
 O número de sinais no espectro de 1H-RMN de uma molécula é igual ao número de
protões estereoequivalentes.
 Os protões são estereoequivalentes, se estes formam ligações semelhantes, isto é, se
a geometria no resto da molécula é idêntica, e se o caracter das ligações vizinhas
também é idêntico.
 A identificação de protões equivalentes numa molécula pode ser conseguida por
dois métodos distintos: Ou podemos usar cada protão como ponto de referência e
caracterizar o resto da molécula de forma a localizar protões com ambientes
idênticos. Ou podemos observar as operações de simetria que relacionam cada um
dos protões.
 Se os protões possuem ambientes químicos semelhantes então os sinais de RMN
têm tipicamente desvios químicos semelhantes. É então possível discriminar certos
deslocamentos químicos característicos dos protões de vários grupos funcionais de
compostos.
 O deslocamento químico pode ser expresso
- Como a diferença de frequência entre o sinal dum padrão (ex. TMS) e o
respectivo sinal da amostra.
- Ou como um valor independente da frequência numa escala de δ de acordo com
a seguinte formula

(Δν × 10 − 6 )
δ= ppm (onde υ0 é a frequência do espectrofotómetro)
ν0

3.4 Acoplamento Spin - Spin


Desdobramento do sinal é o fenómeno que ocorre devido às influências magnéticas
dos átomos de hidrogénio adjacentes aos átomos responsáveis pelo sinal. Este efeito é
conhecido como acoplamento spin-spin.[5] Este acoplamento spin-spin de protões em

Ressonância Magnética Nuclear 22


carbonos adjacentes, também responsável por cada um dos picos observados, é também
muito importante para a determinação da estrutura de compostos. Porém para o
entender, há que ter em conta que os protões não são somente afectados pelo campo
magnético externo, mas também pelos campos magnéticos de todos os protões dos
carbonos adjacentes.[14]
O desdobramento traduz o ambiente dos protões responsáveis pela absorção, mas
em relação aos electrões, mas em relação a outros protões, adjacentes. Podem
compreender o que sucede se nos imaginarmos sentados num protão e olharmos em
todas as direcções: podemos ver e contar os protões ligados aos átomos de carbono que
se encontram adjacentes ao átomo de carbono a que se fixa o nosso protão, podendo até
ver protões ainda mais afastados.[4]
Quando estamos perante o acoplamento de um protão com outro forma-se um pico
duplo (dupleto), entre três protões forma-se um pico triplo (tripleto) e assim por diante.
Os sinais com múltiplos picos (mais de 7 ou 8) podem ser chamados multipletos.

Figura 11- desdobramento do sinal de protão na espectroscopia de RMN.[5]

Os efeitos do acoplamento spin-spin são transferidos principalmente pelos electrões


de ligação e não são usualmente observados se os protões acoplados estiverem
separados por mais de três ligações sigma.[5]
Porém, se os protões que permitem o acoplamento, têm desvios químicos
suficientemente distintos, o número de picos em 1H-NMR é N+1, onde N é o número
total de protões quimicamente equivalentes em átomos de carbono adjacentes. Esta
dedução é uma regra designada por regra do N+1.
A tabela seguinte ilustra o número de picos num multipleto, resultantes da regra N+1,
e as intensidades ideais esperadas para cada pico.

Tabela 2- Desdobramentos resultantes N protões equivalentes em átomos de carbono


adjacentes.[14]
N Aparência dos Intensidade relativa dos
picos picos
0 Singleto 1

Ressonância Magnética Nuclear 23


1 Doubleto 1:1
2 Tripleto 1:2:1
3 Quarteto 1: 3 : 3:1
4 Quinteto 1:4:6:4:1
5 Sexteto 1 : 5 : 10 : 10 : 5 : 1
6 Septeto 1 : 6 : 15 : 20 : 15 : 6 : 1

Podemos ver como a regra do N+1 aplica-se a alguns dos mais comuns padrões de
desdobramento nos seguintes exemplos:

1- CH - Singleto de área relativa 3. Três protões não são desdobrados


3
Y
2- CH - Tripleto de área relativa 3. Três protões são desdobrados por 2
3
CH - Quarteto de área relativa 2. Dois protões são desdobrados por 3
2
Y
3- CH3 CH-3Doubleto de área relativa 6. Seis protões são desdobrados por 1
CH - Septeto de área relativa 1. Um protão é desdobrado por 6
Y
4- C(CH3)3- Singleto de área relativa 9. Nove protões não são desdobrados
Y
5-
X C -HDoubleto de área relativa 1. Um protão é desdobrado por 1
Y C -HDoubleto de área relativa . Um protão é desdobrado por 1
6- CH3- Doubleto de área relativa 3. Três protões são desdobrados por 1
X CH - Quarteto de área relativa 1. Um protão é desdobrado por 3
Y
7- X

CH2 - Tripleto de área relativa 2. Dois protões são desdobrados por 2


CH2
- Tripleto de área relativa 2. Dois protões são desdobrados por 2
Y
8- X

CH2- Doubleto de área relativa 2. Dois protões são desdobrados por 2


X CH - Tripleto de área relativa 1. Um protão é desdobrado por 2
Y

Ressonância Magnética Nuclear 24


Assim temos que N Protões irão desdobrar os
protões adjacentes em (N+1) picos. As intensidades
destes picos são simplesmente o resultado das
possíveis orientações de spin, portanto, os protões de
um grupo CH2 podem ter os seguintes spins:

O par intermédio é degenerado, portanto um protão


adjacente ao grupo CH2 será dividido em três picos distintos na razão 1:2:1.
A separação entre estes picos é referida como sendo a constante de acoplamento, J,
que é medida em Hz
Os efeitos do desdobramento são vulgarmente descritos recorrendo a um esquema
designado por “árvore de desdobramento – splitting tree” que mostra a absorvância
inicial a ser dividida, por uma constante de acoplamento J, em (N+1) picos.
Um esquema deste tipo é muito útil para a compreensão de modelos de
desdobramento mais complexos, como os que ocorrem no Br-CH2-CH2-CH2-OD, como
se pode ver na seguinte figura. [16]

Figura 12- Espectro de 1H-NMR do C3H6ODBr [16]

Como era esperado, o deutério (2H) com spin=1, não mostra qualquer pico em RMN
de protão. Porém o grupo metileno adjacente ao bromo é deslocado para δ=3,4 e o
metileno adjacente ao oxigénio tem δ=3,75 aparecendo como simples tripletos, cada
um dividido por um grupo CH2 central.

Ressonância Magnética Nuclear 25


Relativamente às constantes de acoplamento
para estes modelos de desdobramento, estas
apresentam-se ligeiramente diferentes. A
constante a-b é J =15 Hz enquanto que a
constante b-c é J = 12 Hz. O modelo de
desdobramento para o metileno central é mais
complexo, pois inicialmente é desdobrado pelos
protões do carbono a num tripleto, J= 15 Hz, e
em seguida, cada um destes picos resultantes é novamente desdobrado pelos protões do
carbono c num tripleto com J = 12 Hz.
Ao analisar à “árvore de desdobramento”, podemos fazer uma estimativa do número
de picos do espectro, que neste caso será 9 picos centrados a cerca de δ=1,53. Porém, o
espectro de NMR obtido, ilustrado na figura 12, mostra apenas 5 picos nesta região. Tal
situação fica a dever-se ao facto dos 7 picos centrais estarem apenas separados por 2
Hz, e o espectrofotómetro de 60 MHz não ter capacidade de resolução suficiente.[16]
Porém nem sempre se observa desdobramento do sinal, uma vez que poderemos estar
perante protões equivalentes homotópicos ou enantiotópicos, ou seja, não ocorre
desdobramento de sinal entre protões com mesmo deslocamento químico. Assim, por
exemplo, no espectro do etano (CH3CH3) apenas verifica-se a existência de um pico
(singleto), correspondente aos seis átomos de hidrogénio homotópicos.
Para melhor compreensão da capacidade de desdobramento do sinal, provocado pelo
acoplamento spin-spin em diferentes situações, serão abordados alguns exemplos de
análise de espectros de 1H-RMN.[5]

i. PROPANOL

O grupo OH actua como um grupo "retirador de electrões", isto devido à sua alta
eletronegatividade, o que provoca não só uma deslocalização da densidade electrónica
da molécula na direcção do grupo em causa, como também um efeito indutivo na
cadeia nesse mesmo sentido.

Ressonância Magnética Nuclear 26


Assim, da esquerda para a direita, teremos uma diminuição da densidade electrónica
dos hidrogénios em causa, o que explica o deslocamento químico desses protões no
espectro (recordemos que quanto maior a blindagem dos protões, mais para a direita do
espectro será o seu deslocamento químico).
Os protões vermelhos são homotópicos e consequentemente têm o mesmo
deslocamento químico. Eles acoplam-se entre si e com os H azuis, que estão separados
destes por menos de quatro ligações. O sinal resultante é desdobrado num tripleto,
porém, esse desdobramento ocorre somente devido ao acoplamento com os H azuis.
O desdobramento do sinal é então independente dos hidrogénios homotópicos,
contudo a influência destes faz-se sentir como um aumento da intensidade do pico (a
curva integral tem, deste modo, valor 3).
Pode-se assim generalizar, que o número de picos no sinal de um protão é igual ao
número de protões adjacentes + 1.
Seguindo o mesmo raciocínio, temos que:
Os protões azuis também homotópicos, acoplam com os H vermelhos e com os H
verdes formando um sexteto de curva integral 2. No caso dos protões verdes
homotópicos, estes acoplam com os H azuis formando por sua vez um tripleto de curva
integral 2.
Sob o ponto de vista teórico, era de esperar que os H verdes acoplassem com o H do
grupo hidróxido, pois a distância é de três ligações. Contudo, muitas vezes este tipo de
protões mesmo estando separado de outro hidrogénio por menos de quatro ligações
sigma, não sofrem acoplamentos com outros protões, a não ser em presença de
solventes específicos, que diminuem a polaridade do meio.
Este comportamento pode ser explicado uma vez que o grupo hidróxido efectua
ligações de hidrogénio intermoleculares, que dificultam, deste modo, a interacção com
outros protões.

ii. BROMO-METANOATO DE ISOPROPILA

Ressonância Magnética Nuclear 27


Os protões vermelhos são homotópicos pois possuem a mesma vizinhança química,
dando, deste modo, apenas um sinal - um dupleto (de curva integral 6), em virtude do
acoplamento com o H verde.
O protão verde acopla com os seis H vermelhos e gera um septeto, de curva integral
1. Os protões azuis, que também são homotópicos, geram um único sinal. Porém, como
não há protões adjacentes, o pico é único - um singleto, de curva integral 2.
A análise dos deslocamentos químicos observados, pressupõe uma explicação que se
baseia no efeito da electronegatividade dos grupos Br, oxigénio e carbonilo. O H verde
é o menos blindado, pois está separado do oxigénio por apenas duas ligações. No caso
dos H vermelhos, estes estão separados do oxigénio por três ligações, o que provoca um
efeito electronegativo por parte do oxigénio sobre estes protões menos pronunciado,
ficando, deste modo mais protegidos. Finalmente, os H azuis estão ligados a um
carbono que por sua vez se liga a um bromo, de pequena electronegatividade, e a um
carbonilo. Estas vizinhanças provocam então, um efeito electromnegativo menor que o
oxigénio e por conseguinte, uma maior blindagem resultando num sinal que cai numa
posição de campo alto.

iii. ÁCIDO p-TOLUIL-ACÉTICO

Neste ultimo exemplo temos que uma situação em que o protão do hidróxido não
acopla com outros protões dando deste modo um sinal - singleto, de curva integral 1.

Ressonância Magnética Nuclear 28


Os protões vermelhos são homotópicos, e por isso dão apenas um sinal - um singleto
(de curva integral 2), uma vez que não é possível o acoplamento com os átomos de
hidrogénio adjacentes. Cada protão azul acopla com um H violeta adjacente e dá um
dupleto. Porém, como os protões azuis são homotópicos e o sinal tem curva integral 2.
Os protões violetas, por outro lado, também são homotópicos e cada um deles acopla
com um H azul adjacente, gerando também um dupleto de curva integral 2. Os protões
verdes são homotópicos e não possuem átomos de hidrogénio adjacentes, e por isso dão
um singleto, de curva integral 3.
Os deslocamentos químicos observados são explicados devido ao efeito da
electronegatividade do grupo carboxilo e ao efeito da deslocalização de electrões gerado
pela ressonância do anel benzenico, que desprotege os hidrogénio aromáticos. Desta
forma, temos que o H do carboxilo é fortemente desprotegido pela acção da
electronegatividade dos oxigénios. Os H verdes têm uma blindagem relativamente alta,
pois estão muito distantes do grupo carboxilo.[A]

3.5 Integração em RMN


A primeira característica a realçar no espectro de RMN 1H é a relação entre o número
de sinais no espectro e o número de tipos diferentes de átomos de hidrogénio no
composto. O que é importante na análise de um sinal no espectro não é a sua altura, mas
a área subentendida pelo pico. Estas áreas, quando medidas com exactidão, estão entre
si na mesma razão que o número de átomos de hidrogénio que provocam cada sinal.
Deste modo, a área limitada por uma banda de absorção é proporcional ao número de
núcleos responsáveis por essa absorção. [1, 5] Os espectrofotómetros medem
automaticamente estas áreas e constroem curvas denominadas curvas integrais,
correspondentes a cada sinal em que as alturas destas curvas são proporcionais às áreas
subentendidas pelos sinais.[5]
O integral é representado por uma função escalonada: a altura de cada escalão é
proporcional ao número de núcleos dessa região particular do espectro, com um rigor
que anda na ordem dos ± 2 %.
Para análise quantitativa terá que incluir-se juntamente com a amostra uma
quantidade conhecida de um composto referência. O sinal RMN deste último deverá, de
preferência, conter um forte singleto situado numa região do espectro de RMN não
ocupada pelos picos da amostra, uma vez que é essencial para a integração a

Ressonância Magnética Nuclear 29


desfasagem do sinal de dispersão. A partir da áreas dos dois picos Aamostra e Apadrão e do
peso do padrão interno tomado, calcula-se a quantidade presente do componente da
amostra à custa da expressão :
Npadr . Mam. Aam.
Wamostra = Wpadr . × × ×
Nam. Mpadr . Apadr .
em que Npadr. e Nam. representam, respectivamente, o número de protões nos grupos do
padrão e da amostra que dão origem aos picos de absorção, e Mpadr., Mam. são os pesos
moleculares dos respectivos compostos.
Uma vez conhecida a formula empírica do composto, o cociente entre a altura total
( expressa em quaisquer unidades arbitrárias) e o número de protões representa o
incremento da altura por protão. Mesmo sem dispor deste dado, mas conhecendo a
origem de determinada banda, pode-se calcular o incremento por protão a partir da
diferença de elevação dessa banda, dividindo-a pelo número de protões do grupo
responsável pela absorção. Porém, não há qualquer processo de tratamento das bandas
sobrepostas. [1]
O desvio químico e os modelos de desdobramento spin-spin, dão uma elevada
informação acerca dos ambientes dos protões nas moléculas. Mas existe ainda outro tipo
de informação que podemos facilmente obter a partir de um espectro de RMN. A
integração dos picos, permite-nos calcular o número relativo de cada grupo de protões
que dão origem ao grupo em questão.
Os espectrofotómetros modernos dão-nos routinamente as integrações num formato
digital. Como já foi constatado, o espectro de 1H-RMN dá-nos a integração baseando-se
na contagem dos protões, porém, os sinais dos espectros de 13C-RMN são dependentes
em muito mais do que o número de núcleos equivalentes que dão origem ao sinal. Na
maior parte das vezes, não é muito difícil combinar os valores da integração RMN com
os padrões de desdobramento spin-spin para deduzir o número real de protões numa
molécula simples. Por exemplo, os padrões de desdobramento do tripleto e do doubleto
no bromoetano, informa-nos imediatamente que o grupo etil está presente na molécula.

Ressonância Magnética Nuclear 30


Figura 13 – Espectro de RMN do Bromoetano e respectiva integração.[17]

O tripleto deve derivar da absorção do grupo CH3, e o quarteto deve ser originado a
partir do grupo CH2, uma vez que os desdobramentos spin-spin reflectem o número de
protões vizinhos. Os protões do CH3 com δ = 1,68 devem ter uma área relativa de 3,
enquanto que o sinal de absorção do grupo CH2 tem uma área de 2.
As alturas reais (que são proporcionais às áreas dos picos) são respectivamente 36,5
mm e 24,5 mm. Então a razão entre os picos é:
36,5 1,49
=
24,5 1
Se assumirmos que a integração acarreta alguns erros ( em cerca de 10%), podemos
arredondar o número relativo de protões não equivalentes para 1,5. Uma vez que não é
possível para um composto conter 1,5 protões a razão deve então ser 3:2 (ou 6:4, etc).
No caso do bromoetano, temos então três protões metil para dois protões
metilénicos.[17]

3.6 Interpretação dos espectros 1H-RMN


Em seguida dar-se-á alguns exemplos de espectros de 1H-RMN de compostos.

Figura 14 – Espectro de 1H-RMN da 3-pentanona.[18]

Ressonância Magnética Nuclear 31


O espectro de RMN de protão tem um quarteto e um tripleto, o que indica a
presença de um grupo CH2 adjacente a um CH3. O pico a δ= 2.5 (2H) encontra-se na
área geralmente observada para os grupos metil adjacentes a grupos moderadamente
electronegativos. Por outro lado o pico a δ= 1.2 (1H) encontra-se na zona de absorção
dos grupos metil simples adjacentes aos carbonos (CH3CH2). A molécula contém um
oxigénio, porém o pico a δ= 2.5 não está suficientemente blindado para representar uma
ligação do tipo -O-. Deste modo, está-se perante um grupo carbonil.

Figura 15 – Espectro de 1H-RMN do acetato de etil.[18]

O espectro de RMN de protão tem 3 picos: um quarteto a δ= 4.1 (2H), um tripleto a


δ= 1.2 (3H) e um singleto a δ= 1.97 (3H). O quarteto e o tripleto sugerem a existência
de um acoplamento do CH2 com o CH3 num grupo etil. O pico a δ= 4.1 encontra-se na
área onde geralmente observa-se grupos CH adjacentes a grupos electronegativos, i.e.,
oxigénio e o pico a δ= 1.97 na região correspondente aos grupos metil adjacentes ao
carbonil.

Figura 16 – Espectro de 1H-RMN do Tolueno.[18]

Ressonância Magnética Nuclear 32


O espectro de protão de RMN tem 2 picos: um singleto a δ= 7.1 (5H), e outro
singleto a δ= 2.3 (3H). O pico a δ= 7.1 situa-se na zona de absorção dos aromáticos,
sugerindo assim a presença de um composto aromático mono-substituido. Por outro
lado, o pico a δ= 2.3 situa-se na região dos grupos metil adjacentes a grupos
moderadamente electronegativos.
Os compostos aromáticos mono-substituidos possuem 3 tipos de hidrogénios no
anel, porém, o facto da constante de acoplamento entre eles ser geralmente pequena e os
desvios químicos muito próximos, faz com que o multipleto previsto apareça como um
singleto.

Figura 17 – Espectro de 1H-RMN do 4-metilbenzaldeido.[18]

O espectro de 1H-RMN possui 3 picos: um singleto a δ= 2.2 (3H), um outro singleto


a δ= 10 (1H) e dois doubletos centrados mais ao menos a δ= 7.6. Os doubletos
encontram-se na região dos aromáticos e o facto de se observar dois doubletos (2H
cada), significa que estamos perante um composto 1,4-disubstituido. Quanto ao singleto
a δ= 2.2, este situa-se na zona dos grupos metil adjacentes a grupos moderadamente
electronegativos, enquanto que o outro singleto situa-se na região correspondente aos
protões aldeídicos.

Ressonância Magnética Nuclear 33


Figura 18 – Espectro de 1H-RMN do 4-isopropil-1-methoxibenzeno[18]

O espectro de 1H-RMN possui 4 tipo de picos: um singleto a δ= 3.6 (3H), dois tipos
de doubletos centrados mais ao menos a δ= 6.9 (4H), um septeto a δ= 2.7 (1H) e um
doubleto a δ= 1.6.
O singleto a δ= 3.6 refere-se a um grupo CH3 isolado adjacente a um centro
electronegativo, como o oxigénio. O septeto e o doubleto indicam a presença de um
grupo isopropil – CH(CH3)2 em que o carbono se encontra ligado a um grupo
moderadamente electronegativo e os dois doubletos a δ= 6.9 indicam que está-se
perante um composto aromático 1,4-disubstituido.

3.7 Resumo
Um fenómeno muito importante que explica o aparecimento de sinais no espectro de
RMN e que resulta da presença de protões vizinhos e da sua influência é o acoplamento
spin-spin.[15]
 O acoplamento spin-spin ocorre entre 2 ou mais grupos de protões, se estes são:
- não equivalentes
- suficientemente próximos (a menos de 3 ligações σ)
 A constante de acoplamento, Jax, é uma medida de intensidade do acoplamento spin-
spin entre os dois protões A e X e é definida como:
Jax – é a distância entre duas linhas adjacentes individuais no sinal do multipleto do
grupo A, provocado pelo acoplamento com o grupo X, em hertzs.
 A intensidade de um sinal é determinada como sendo a área abaixo da curva do
espectro de RMN.
 A intensidade do sinal é proporcional ao número de protões equivalentes que lhe dá
origem.

4. Espectroscopia de RMN de carbono 13


Embora o 13C corresponda a apenas 1,1% do carbono natural, o facto do núcleo desse
isótopo de carbono provocar um sinal de RMN tem grande importância para a análise
de compostos orgânicos. Tal situação, apesar de parecer muito restrita, é possível uma

Ressonância Magnética Nuclear 34


12
vez que o principal isótopo do carbono, o C, com abundância natural de cerca de
89,9%, não tem spin magnético, e por isso não tem capacidade de gerar sinais de RMN.
De certa maneira, os espectros de RMN 13C são, usualmente, menos complicados que
os espectros de RMN 1H e mais fáceis de interpretar.
Devido ao fato de o 13C existir naturalmente em percentagem tão baixa, os sinais de
RMN gerados pelos seus núcleos, em analogia com os sinais gerados pelos núcleos dos
protões, não poderiam ser visualizados no espectro. Porém, a técnica utilizada nos
aparelhos de RMN 13C consiste em irradiar um pulso curto e potente de radiofrequência,
13
que excita todos os núcleos de C existentes na amostra. Os dados são então
digitalizados automaticamente e guardados num computador numa série de pulsos
repetidos, construindo desta forma os sinais.
Ao contrário do espectro de RMN 1H, que necessita apenas algumas miligramas de
amostra, na RMN de 13C é preciso de 10 a 200 mg em 0,4 ml de solvente deuterado.
13
Essa grande diferença é necessária para compensar a baixa percentagem de C, e
permitir o acumulação de sinais. Além disso, enquanto no espectro de RMN 1H a faixa
de absorção magnética dos protões varia de 0 a 10 ppm, eventualmente 14 ppm, no
espectro de RMN 13C a faixa varia de 0 a 240 ppm, como se pode constactar na seguinte

figura.[5]
Figura 19 - Escala de desvio químico para a espectroscopia de 13C-RMN.[11]

4.1 Sinais no espectro de 13C-RMN


Um aspecto que simplifica bastante a interpretação do espectro de RMN 13C é o
facto de cada tipo de átomo de carbono produzir apenas um pico (singleto). Não há
acoplamentos carbono-carbono que provoque o desdobramento do sinal em picos
múltiplos. Por isso pode-se utilizar aparelhos de RMN mais simples, de 30 ou 60 MHz,
já que não é necessária grande precisão para distinguir sinais desdobrados. Nos

Ressonância Magnética Nuclear 35


espectros de 1H-RMN, os protões que estão próximos uns dos outros (separados por um
máximo de 3 ligações) acoplam-se entre si e geram sinais desdobrados. Isso não ocorre
com carbonos adjacentes, pois apenas um em cada 100 átomos de carbono tem o núcleo
de 13C (cuja abundância é de aprox. 1,1%). Deste modo, a probabilidade de dois átomos
de carbono 13 estarem adjacentes é de 1 em 10.000, o que elimina, a possibilidade do
desdobramento dos sinais.
Embora não ocorram interacções carbono-carbono, os núcleos dos hidrogénio ligados
ao carbono podem interferir e desdobrar os sinais de 13C em picos múltiplos. Porém, é
possível eliminar os acoplamentos H-C recorrendo a uma técnica de irradiação selectiva
(técnica de desacoplamento). Deste modo, eliminadas as interacções protão-carbono,
num espectro de RMN 13C completamente desacoplado, está-se na situação em que cada
tipo de carbono produz apenas um pico.[5]

4.2 Deslocamento químico do 13C


Conforme vimos anteriormente, nos espectros de 1H, o deslocamento químico de um
determinado núcleo depende da densidade relativa de electrões em torno do átomo. As
Baixas densidades electrónicas em torno de um átomo expõem o núcleo ao campo
magnético e provocam o aparecimento de sinais em campos baixos (ppm maiores, para
a esquerda da escala) no espectro de RMN. Por outro lado, densidades electrónicas
relativamente altas em torno de um átomo blindam o núcleo contra o campo magnético
e provoca o aparecimento de sinais em campos altos (ppm menores, para a direita da
escala) no espectro de RMN.
Os carbonos que estão ligados exclusivamente a outros átomos de carbono e de
hidrogénio, têm blindagem elevada diante do campo magnético, enquanto que os
carbonos ligados a grupos eletronegativos, ou seja, grupos "sacadores de electrões",
estão relativamente desblindados.[5,4]

Ressonância Magnética Nuclear 36


Figura 20- Desvios químicos característicos da 13C-RMN para amostras em CDCl. A
escala é relativa ao TMS a δ=0.[13]

O padrão de referência mais utilizado em 13C-RMN, é igualmente o tetrametilsilano


(TMS), porém os carbonos do TMS (equivalentes) absorvem energia em 60 ppm sendo
que a atribuição do valor 0 ppm serve apenas para indicar a referência.
Contudo existem compostos que absorvem energia em campos mais baixos que o
TMS, como é o caso dos alcanos. Dentro dessa faixa pode-se prever o deslocamento
químico de 13C de hidrocarbonetos quer lineares quer ramificados.
É possível realizar cálculos teóricos simples de absorção dos carbonos, que desta
forma permite-nos comparar com os dados experimentais das tabelas e confirmar a
presença de cada carbono. Para tal apenas é necessário ter em conta alguns parâmetros
tais como o deslocamento químico do 13C (δ = -2,5); o número de átomos de carbono
que causam determinado efeito, n (carbono a,b,g,d…); e o parâmetro de deslocamento
aditivo, em ppm, A, dado pela seguinte tabela:

Tabela 3- Valores do parâmetro de deslocamento aditivo.[5]


13 13
C (A) C (A)
A + 9,1 2 (3o)*
o
- 2,5
B + 9,4 2o (4o)* - 7,2
G - 2,5 3o (2o)* - 3,7
D + 0,3 3o (3o)* - 9,5
E + 0,1 4o (1o)* - 1,5
1 (3o)*
o
- 1,1 4o (2o)* - 8,4
1o (4o)* - 3,4 - -

Ressonância Magnética Nuclear 37


* As notações 1o (3o) e 1o (4o) significam, respectivamente, um carbono primário ligado
a um terciário e um carbono primário ligado a um quaternário. As notações 2o (3o) e 2o
(4o) significam, respectivamente, um carbono secundário ligado a um terciário e um
carbono secundário ligado a um quaternário, e assim por diante. O primeiro número
(fora dos parêntese) é o carbono que se está analisando. Para cada carbono desses deve-
se acrescentar ao cálculo o valor dado na da tabela (A).
Por exemplo, estudemos o seguinte o seguinte hidrocarboneto:

Os valores de deslocamento químico observados experimentalmente para estes


carbonos são: C1 e C5 (δ = 11,3), C2 e C4 (δ = 29,3), C3 (δ = 36,7), C6 (δ = 18,6).
Os carbonos C1 e C5 bem como C2 e C4 têm mesmo deslocamento químico porque
são equivalentes na molécula, pois têm a mesma vizinhança e a molécula é simétrica.
Deste modo podemos efectuar o cálculo teórico dos deslocamentos químicos (δ)
recorrendo à seguinte fórmula
δ = -2,5 + S nA

Para efectuar o estudo teórico temos que ter em conta que carbonos a são aqueles
ligados directamente ao carbono analisado, os carbonos b são aqueles ligados ao
carbono a, e assim por diante. Desta forma temos:
- Para C1 e C5: um carbono a, um carbono b, dois carbonos g e um carbono d.
Cálculo de δ: -2,5 + (9,1 x 1) + (9,4 x 1) + (-2,5 x 2) + (0,3 x 1) = 11,3

- Para C2 e C4: dois carbonos a, dois carbonos b e um carbono g. Além disso, C2 é


um carbono secundário ligado a um terciário [2o(3o) = -2,5].
Cálculo de δ: -2,5 + (9,1 x 2) + (9,4 x 2) + (-2,5 x 2) + (-2,5 x 1) = 29,5

- Para C3: três carbono a e dois carbonos b. Além disso, C3 é um carbono terciário
ligado a dois carbonos terciários [2o(3o) = -3,7].
Cálculo de δ: -2,5 + (9,1 x 3) + (9,4 x 2) + (-3,7 x 2) = 36,2

- Para o C6: um carbono a, dois carbonos b e dois carbonos g. Além disso, C6 é


um carbono primário ligado a um terciário [1o(3o) = -1,1].
Cálculo de δ: -2,5 + (9,1 x 1) + (9,4 x 2) + (-2,5 x 2) + (1,1 x 1) = 19,3

Ressonância Magnética Nuclear 38


Comparando estes valores obtidos através dos cálculos teóricos com os valores
observados:

C1 e C5 11,3 (observado) 11,3 (calculado)


C2 e C4 29,3 (observado) 29,5 (calculado)
C3 36,7 (observado) 36,2 (calculado)
C6 18,6 (observado) 19,3 (calculado)
Verifica-se que os valores ou são exactamente iguais ou ligeiramente diferentes.[5]

4.3 Interpretação dos espectros 13C-RMN


São imensos os exemplos que podem ser dados de espectros de 13C-RMN, porém, aqui
apenas serão ilustrados alguns.

Figura 21 – Espectro de 13C-RMN do 1,2-dimetoximetano[18]

O espectro de 13C-RMN tem 2 picos: um quarteto a δ= 54 (CH3) e um tripleto a δ=


13
80 (CH2). Como a molécula tem quatro carbonos e apenas dois picos em C-RMN
então conclui-se que o composto deve ter simetria. Ambos os picos estão na região
adjacentes aos átomos electronegativos.(oxigénio)

Figura 22 – Espectro de 13C-RMN do etil cianoacetato.[18]

Ressonância Magnética Nuclear 39


O espectro de 13C-RMN tem 5 picos: um quarteto a δ= 14 (CH3), dois tripleto um a δ
= 59 (CH2) e outro a δ= 22 (CH2) respectivamente e ainda dois singletos um a δ= 118 e
outro a δ= 172. Uma vez que a molécula tem 5 carbonos e 5 picos então a molécula não
possui simetria. O singleto a δ= 172 situa-se na região do carbonil podendo ser um
ácido ou um éster. O CH2 a δ= 59 está na região onde ocorrem os carbonos adjacentes
aos átomos electronegativos (i.e. oxigénio) e o CH3 a δ= 14 é um metil simples
terminal, o que pressupõe a presença de uma espécie -O-CH2CH3.
Por outro lado o singleto a δ= 118 refere-se a um carbonitrilo e a blindagem ao CH2
a δ= 22 indica que este está adjacente ao carbono-sp do nitrilo.

Figura 23 – Espectro de 13C-RMN da Acetofenona.[18]

O espectro de 13C-RMN tem 6 picos. Um quarteto a δ= 27 (CH3), três doubletos


(grupos CH) a δ= 129, 128 e 133, e ainda dois singletos um a δ= 137 e outro a δ= 197.
Uma vez que a molécula tem oito carbonos e 6 picos, significa então que deve ter algum
grau de simetria. O singleto a δ= 197 situa-se na região do carbonilo podendo ser um
aldeido ou uma cetona. Os grupos CH3 a δ= 27 referem-se a um grupo metil simples
terminal, ligeiramente blindado por um grupo moderadamente electronegativo (um
carbonilo). Os doubletos a δ= 129,128 e 133 e ainda o singleto a δ= 137 situam-se nas
regiões dos aromáticos e sugerem a existência de grupos aromáticos monosubstituidos,
com simetria em quatro dos seis carbonos.

4.4 Resumo
A espectroscopia 13C-RMN permite estudar as estrutura das moléculas.[15]

Ressonância Magnética Nuclear 40


 Permite reconhecer o esqueleto de carbono de um composto e o ambiente químico
de cada um dos núcleos de carbono.
13
 O espectro de C-RMN pode ser muito complicado devido aos diversos
13
acoplamentos C-1H, porém podemos simplificá-lo recorrendo a irradiação
simultânea da amostra com uma banda de frequência intensa – Desacoplamento de
banda larga.
 Os desvios químicos em 13C-RMN são significativamente maiores que em 1H-RMN.
 Em determinadas moléculas é possível determinar teoricamente a posição do sinal
do 13C no espectro de RMN

5. Ressonância Magnética Nuclear Bidimensional – 2D


Um dos desenvolvimentos mais importantes para a espectroscopia durante os anos de
1960 – 1970 foi o desenho de novos magnetes, baseados em materiais supercondutores.
Este novo tipo de magnetes possibilitou a obtenção de campos magnéticos maiores e
mais estáveis levando á obtenção de espectros com muito melhor sensibilidade e
resolução. A partir deste momento podia-se
estudar sistemas mais complexos. Porém, o
grande desenvolvimento surgiu com Ernst que
desenvolveu em 1975 um sistema de FT-RMN
bidimensional (2D), baseado nas técnicas de
pulsação. O diagrama ilustra o desenvolvimento do tempo do método FT-RMN
unidimensional (1D) e FT-RMN (2D).
Em RMN (1D), os spins nucleares são expostos a um pulso após o qual, é detectado
um sinal no receptor em função do tempo t. Em RMN
(2D), os spins nucleares são sujeitos a dois ou mais
pulsos, com um intervalo de tempo t1.
Após o segundo pulso, o sinal é obtido da mesma
forma que para RMN (1D), embora aqui se designe a
variável de tempo por t2. Depois desta etapa, o
espectrofotómetro retomo o mesmo procedimento mas
repetindo-o com outros valores de t1. A variação de t1,
modifica o sinal medido durante t2. Esta situação origina

Ressonância Magnética Nuclear 41


então, uma tabela bidimensional que contém a intensidade do sinal como função da t 1 e
t2.
Após estas variáveis serem submetidas às transformadas de Fourrier, obtém-se um
espectro de frequência bidimensional na forma de um mapa, que mostra a dependência
da intensidade do sinal em duas variáveis de frequência, denominadas F1 e F2.[2]
Os dois eixos de frequências correspondem às frequências de ressonância de
protões e carbonos 13. A ocorrência de um sinal num determinado local significa que o
átomo de carbono, que no mapa corresponde à “latitude” está directamente ligado ao
protão cuja frequência de ressonância é dada pela “longitude”.
Os espectros
unidimensionais de
protão e de carbono 13
são ilustrados nos
extremos da seguinte
figura.

Figura 24 – Espectro
de correlação para uma
molécula orgânica.[2]

1. Ressonância Magnética Nuclear - Aplicações


A espectroscopia de ressonância magnética nuclear é hoje em dia usada praticamente
em todos os ramos da química , quer nas universidades como também nos laboratórios
industriais.
Uma investigação típica em RMN, combina vários tipos de espectros 1D, 2D e por
vezes até 3D ou 4D. É a acumulação desta informação que fornece vulgarmente uma

Ressonância Magnética Nuclear 42


figura detalhada da estrutura da molécula. Por exemplo, a estrutura tridimensional
completa de muitas proteínas e outras macromoléculas biológicas tem sido determinada
por este meio.
A espectroscopia de RMN também tem sido usada para estudar não só a estrutura das
moléculas mas também a interacção entre diferentes espécies moléculares (ex. Enzimas
- substracto), para estudar os seus movimentos em líquidos e polímeros, bem como para
obter informação acerca das velocidades de certas reacções. [2]
Ocupa, igualmente, um lugar saliente no campo da análise qualitativa e quantitativa,
desde componentes em produtos alimentares, a fluidos biológicos e metabolitos em
tecidos e órgãos de seres vivos intactos, de um modo não invasivo e não destrutivo.[3]
A classe de possíveis aplicações da RMN é demasiado grande para se efectuar uma
lista exaustiva, porém algumas destas aplicações incluem: Verificação do grau de pureza
das matérias primas; Análise de drogas e fármacos; controlo e qualidade de produtos
químicos; investigação de reacções químicas; investigação de substâncias
desconhecidas bem como análise de polímeros.
Por outro lado, a caracterização espacial do sinal de RMN da água (juntamente com o
desenvolvimento acelerado das capacidades de computação) permitiu, também, o
desenvolvimento do domínio de imagem por ressonância magnética, hoje uma das
técnicas imageológicas fundamentais em medicina e noutras áreas.[3]
A técnica adaptada aos objectivos do utilizador constitui um excelente método de
estudo do cérebro, medula espinhal, ossos esponjosos, pelve masculina ou feminina e
grandes articulações[19]. Para tal é utilizado e cada vez com mais regularidade nos
hospitais, um aparelho de ressonância magnética de imagem, RMI, que não é mais do
que um aparelho de RMN especializado.

2. Exame médico - RMN


Ressonância Magnética Nuclear (RMN), ou RMI como é conhecido no meio, é um
exame que permite aos médicos analisarem as estruturas internas do corpo sem o
recurso aos raios-x. Esta tecnologia possibilita aos médicos detectar doenças em
desenvolvimento, ou anormalidades mais precocemente. Basicamente a RMN utiliza
um poderoso campo magnético e ondas de radiofrequência e a combinação do campo
magnético e radiofrequência produz imagens muita claras de estruturas do corpo
humano como o cérebro, espinha, articulações, coração e outros órgãos vitais.

Ressonância Magnética Nuclear 43


O exame é realizado numa sala contendo grande máquina de RMN designada pelos
médicos por "Magnete". A unidade de RMN parece um túnel aberto no meio de uma
grande caixa, podendo ser de diferentes tipos mas com um funcionamento semelhante.

Figura 25- Exame médico por ressonância magnética nuclear.[20]

Ressonância Magnética Nuclear 44


O procedimento para a análise clinica é o seguinte. O paciente deita-se numa
confortável maca que irá suavemente deslocar-se para dentro do magnete onde o scan
(exame) será realizado.
Por vezes a "bobina", que é apenas um rádio
receptor especial, é colocada em torno da área do
corpo a ser estudado, cabeça, joelho, fígado. etc. e
noutras situações, o técnico injecta um medicamento
(agente contraste) através de uma injecção de forma
a facilitar a interpretação das imagens do corpo do
paciente. Os dados obtidos pelo scan são
processados por um poderoso computador que os
transforma em imagens muito nítidas que o médico
especialista irá interpretar.
A RMN por si própria é um procedimento totalmente indolor, virtualmente sem
efeitos colaterais. Actualmente milhões de pacientes tem feito esse tipo de exame
comprovando ser extremamente seguro até porque a técnica utiliza apenas ondas de
rádio e magnetização com as quais convivemos no dia a dia.[20]

3. Conclusão
A espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear tornou-se num método standar
em muitos laboratórios de química. Esta técnica é reconhecidamente a mais importante
para a investigação a nível molecular, permitindo obter informação estrutural e
dinâmica para qualquer estado da matéria, uma vez que existem relações muito
próximas entre os dados obtidos por 1H-RMN e o arranjo dos protões na molécula em
investigação.[3, 15]
São várias as informações que podemos obter num espectro tais como

Informação contida no espectro Arranjo dos protões

Ressonância Magnética Nuclear 45


Número de linhas de ressonância Número de grupos de protões equivalentes
Posição dos sinais de ressonância Tipo de grupos de protões
Intensidade relativa dos sinais de
Número de protões que provocam o sinal
ressonância
Posição dos grupos de protões relativamente
Estrutura fina dos sinais de ressonância
a cada um deles

Em muitos casos este conhecimento permite-nos


- Predizer espectros de moléculas baseando-se apenas na formula estereoquímica.
- Propor uma estrutura para uma molécula desconhecida baseando-se apenas no
seu espectro.
- Decidir entre várias estruturas possíveis para uma molécula baseando-se no
espectro obtido, ou pelo menos um limite de várias possibilidades.
A aplicação da espectroscopia de RMN baseia-se, deste modo, essencialmente na
correlação empírica das estruturas com deslocamentos químicos observados e
constantes de acoplamento.[15]
Em termos de investigação clínica e desenvolvimento de imagem, a RMN direciona-
se para determinados objectivos nomeadamente:[12]
- Comparar a RMN com outras modalidades.
- Aproveitar as características únicas da imagem RMN.
- Determinar as técnicas mais úteis para cada local ou doença.
- Determinar a utilidade de medidas directas de T1 de tecidos normais e de lesões
benignas e malignas.
- Interaccionar com a cirurgia e radioterapia na preparação, planeamento e estudo
da resposta ao tratamento de cancros e linfomas.
- Avaliar o problema da segurança.
- Desenvolver técnicas de aumento de contraste.
A espectroscopia de ressonância magnética nuclear, e uma técnica que vem sendo
muito usada fruto das enormes vantagens que possui, nomeadamente a possibilidade de
estudar um elevado número de núcleos e em todas as fases (gás, liquido e sólido),
elevadas intervalos de temperaturas, técnica não destrutiva e segura. Porém o recurso a
esta técnica também traz alguns inconvenientes que referem-se à insensibilidade do
método, bem como a impossibilidade de analisar misturas multicomponentes e ao
elevado custo dos aparelhos e sua manuntenção.[21]
Contudo, a versatilidade da NMR faz dela um dos métodos mais importantes e
perspicaz usados nas mais diversas ciências onde tem aplicação tal como a área

Ressonância Magnética Nuclear 46


científica onde têm de ser respeitados alguns códigos impostos pelos organismos
próprios, e resumidos no apêndice 2.

4. Bibliografia

[1]– Willard H., Merritt.Jr. L., Dean, J.,”Análise Instrumental” ,2ª edição, Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1979
[2]- http://www.nobel.se/chemistry/laureates/1991/illpres/
[3]- http://www.deq.eng.ufba.br/polimeros/rmn.html
[4]- Morrison, R. and Boyd,; "Química Orgânica", 13ª ed., Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa, 1996
[5]- http://www.geocities.com/Vienna/Choir/9201/espectrometria3.htm
[6]- http://208.7.154.206/gmoyna/NMR_lectures/NMR_lecture1/index.htm

Ressonância Magnética Nuclear 47


[7]- http://fischer.union.edu/chem20/nmrfacts.html
[8]- http://www.shu.ac.uk/schools/sci/chem/tutorials/molspec/nmr3.htm
[9]- http://www.chem.vt.edu/chem-ed/spec/spin/ftnmr.html
[10]- http://www.psrc.usm.edu/spanish/nmr.htm
[11]- http://www.chem.toronto.edu/coursenotes/CHM240/RAB.webfolder/index.html
[12]- Gil, Victor M.S., Geraldes, Carlos F.G.C. “Ressonância Magnética Nuclear –
Fundamentos e Aplicações ”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1987
[13] http://www.cem.msu.edu/~reusch/OrgPage/VirtualText/Spectrpy/nmr/
nmr1.htm
[14]- Eaton, David C., “Laboratory Investigations in Organic chemistry”, Macgraw-
Hill Book Company, New York, 1989
[15]-http://www.org.chemie.tu-muenchen.de/people/rh/nmrueb/uebung.prg/html.txt/
english/einfach.html
[16]- http://www.chem.uic.edu/web1/OCOL-II/WIN/SPEC/HNMR/NMRF.HTM
[17]- Mohring Jerry R., Hammound, Christina Noring, et all, “Experimental Organic
Chemistry - A balanced Approach: Macroscale and Microscale”, W.H.Freeman and
Company, New York, 1998.
[18]- http://chipo.chem.uic.edu/web1/ocol/spec/NMR.htm
[19]- http://www.lui-bertolo.hpg.ig.com.br/Resson_Magne/Ressonancia_Magnetica.htm
[20]- http://www.radiology.com.br/pacientes_resmag.htm
[21]- http://www.student.oulu.fi/~pingman/nmrlabra/basics.htm
[22]- http://ernst.dq.ufscar.br/~calvin/TRADUQN.DOC

Apêndice 1

Tabela 4 - Desvios químicos de vários protões*.[13]

Composto ou classe Tipo de protão δ(ppm)


Alifáticos primários R-CH3 0,8 – 1,0
Alifáticos secundários R-CH2-R 1,2 – 1,5
Alifáticos terciários R3C-H 1,4 – 1,7
Vinílicos C=C-H 4.6 – 5.9
Alilícos C=C-CH3 1.6 – 1.9
Acetilénicos alifáticos R-C≡C-H 2.3 – 2.5
Acetilénicos aromáticos Ar-C≡C-H 2.8 – 3.1
Aromáticos Ar-H 6 – 8.5
Benzílicos primários Ar-CH3 2,2 – 2,5

Ressonância Magnética Nuclear 48


Benzílicos secundários Ar-CH2-R 2,5 – 2,9
Benzílicos terciários Ar-CHR2 2,8 – 3,2
R-OH 1 – 5,5
Álcoois HO-CH 3,4 – 4,0
HO-CH2-CH 1,2 –1,6
Fenois Ar-OH 4 – 12
R-NH2 0,6 –2,5
R’2N-CH3 2,2 – 2,6
Aminas alifáticas
R’2N-CH2CH3 2,5 – 2,8
R’2N-CH2CH3 1,0 – 1,3
Ar-NH2 3 – 4,5
Aminas aromática Ar-NH-CH3 2,8 – 3,1
Ar-NH-CH2CH3 3,0 – 3,3
R’O-CH3 3,2 – 3,5
R’O-CH2-R 3,4 – 3,8
Éteres alifáticos
R’O-CH2CH3 1,2 – 1,4
R’O-CH2CH2CH3 0,9 – 1,1
ArO-CH3 3,7 – 4,0
Éteres aromáticos
ArO-CH3-R 3,9 – 4,3
Continuação da tabela 4
Composto ou classe Tipo de protão δ(ppm)
R’-(C=O)-CH3 2,1 – 2,4
R’-(C=O)-CH2-R 2,3 – 2,7
Cetonas alifáticas R’-(C=O)-CH2CH2-R 1,1 – 1,4
Ar-(C=O)-CH3 2,4 – 2,6
Ar-(C=O)-CH2-R 2,5 – 2,8
R-(C=O)-H 9,4 – 9,9
Aldeídos alifáticos H-(C=O)-CH2-R 2,1 – 2,4
H-(C=O)-CH2CH2-R 1,1 – 1,4
Aldeídos aromáticos Ar-(C=O)-H 9,7 – 10,3
R’O-(C=O)-CH3 1,9 – 2,2
R’O-(C=O)-CH2CH3 2,1 – 2,4
R’O-(C=O)-CH2CH2-R 1,2 – 1,4
Esteres alifáticos
R’-(C=O)-O-CH3 3,6 – 4,0
R’-(C=O)-O-CH2CH3 3,7 – 4,1
R-O-(C=O)-H 8,0 – 8,2
ArO-(C=O)-CH3 2,0 – 2,5
ArO-(C=O)-CH2CH3 2,2 – 2,7
Esteres aromáticos
Ar-(C=O)-O-CH3 4,0 – 4,2
Ar-(C=O)-O-CH2CH3 4,2 – 4,5
R-(C=O)-OH 10,4 – 12,0
Ácidos carboxílicos alifáticos R-CH2-(C=O)-OH 2,2 – 2,4
R-CH2CH2-(C=O)-OH 1,0 – 1,4
Ácidos carboxílicos aromáticos Ar-(C=O)-OH 10,4 – 12,0
R-(C=O)-NH2 5,5 – 7,5
Amidas alifáticas R2N-(C=O)-CH3 1,8 – 2,2
R-(C=O)-NH-CH3 2,8 – 3,0
R-CH2-Cl 3,5 – 3,7
Cloretos alquílicos
R-CH2CH2-Cl 1,6 – 1,8

Ressonância Magnética Nuclear 49


Cloretos metilénicos CH2Cl2 5,30
Clorofórmio CHCl3 7,27
* O deslocamento químico destes protões varia com o tipo de solvente utilizado, com a
temperatura e com a concentração.
Apêndice 2
i. RECOMENDAÇÕES DA IUPAC [22]

Abaixo estão listadas as recomendações de RMN publicadas pela IUPAC, que


referem-se a deslocamentos químicos (incluindo apresentação de espectros) além de
outras. Essas recomendações são relativas à notação e são particularmente dirigidas às
publicações em revistas de química.

1 - O núcleo que origina o espectro em análise deve ser sempre especificado


10
explicitamente por extenso ou abreviado (ex.: RMN de B ou RMN de boro-10). O
número de massa do isótopo deve ser dado, excepto nos casos em que não há
ambiguidade. Abreviações tais como RMP para designar RMN de protão não são
recomendadas. No termo RMN multinuclear a palavra “nuclear” fica repetida e
portanto, é também desaconselhado. Quando for necessário se referir a vários núcleos,
deve-se escrever por extenso ressonância magnética multinuclear.

2 - A apresentação gráfica do espectro deve mostrar o aumento da frequência para a


esquerda na horizontal e o aumento de intensidade na vertical.

3 - A escala adimensional para deslocamentos químicos deve estar ligada a uma


referência, que deve ser claramente apresentada. Os procedimentos utilizados devem ser
cuidadosamente definidos.

4 - O factor da escala adimensional para deslocamento químico deve ser em partes


por milhão, para o qual ppm é a abreviação apropriada. A radiofrequência da referência,
apropriada ao núcleo em questão e ao espectrofotómetro usado, deve sempre ser
apresentada com bastante exactidão em relação aos valores numéricos dos
deslocamentos listados. Infelizmente, os softwares fornecidos pelos fabricantes para
converter unidades de frequência para ppm em RMN com Transformada de Fourier,
usam, às vezes, a frequência portadora no denominador, em vez da verdadeira
frequência da referência, o que pode ocasionar erros significativos.

Ressonância Magnética Nuclear 50


5 - A escala de deslocamento químico deve ser definida em relação às frequências de
ressonância, com a conversão de sinal apropriada (isto é, sinal positivo deve implicar
que a amostra sofre ressonância em frequência maior que a referência). A fim de evitar
ambiguidades de sinal, o termo “deslocamento químico” não deve ser usado para
descrever variações na blindagem.

6 - O símbolo δ (delta grego) deve ser usado para escalas de deslocamentos químicos
com a convenção de sinal dada acima. Tal símbolo não deve nunca ser usado para se
referir a blindagem. Assim, recomenda-se para estar de acordo com o que vem sendo
praticado que a escala δ do núcleo X seja definida por:

δX, amostra = νX, amostra - νX, referência (1)


νX, referência

e que a notação ppm apareça com o valor numérico apropriado, quando relevante.
Esta definição pode ser alternativamente escrita:

δX, amostra/ppm = νX, amostra - νX, referência x 106 (2)


νX, referência
ou
δX, amostra/ppm = νX, amostra - νX, referência/Hz (3)
νX, referência /MHz

Esta redefinição (Equação (1) ou as alternativas (2) e (3) ) permite que valores
possam ser escritos em ppb (como é apropriado para alguns efeitos de isótopos) ou %
(relevante para alguns deslocamentos de metais pesados), ou ainda em ppm (que sem
dúvida alguma permanecerá como o uso mais comum).

7 - O núcleo em questão deve ser indicado subscrito ou entre parênteses, ex.: δC ou


δ (13C), a menos que não haja ambiguidade.

8 - Tanto quanto possível, a informação completa deve ser fornecida nas publicações
em relação a qualquer parâmetro que possa influenciar nos deslocamentos químicos,
tais como:
(I) Estado físico da amostra, isto é, sólido, líquido, solução ou gás, e outros fatos
adicionais relevantes, quando necessário.
(II) Para soluções, o nome do solvente e a concentração do soluto.

Ressonância Magnética Nuclear 51


(III) A natureza do procedimento de referenciação, ex.: interna, externa (tubos
coaxiais ou substituição), frequência absoluta.
(IV) O nome do composto de referência e, se usado internamente na solução, sua
concentração.
(V) A temperatura e a pressão da amostra.
(VI) Se oxigénio ou outros gases foram removidos da amostra.
(VII) Qualquer produto químico presente na amostra além da substância sob
investigação e do composto de referência.

9 - O sinal do 1H de uma solução diluída (≈1% vol. em CDCl3 preferencialmente) do


tetrametilsilano, deve ser usado como referência interna primária para as frequências de
ressonância (e também os deslocamentos químicos) de todos os núcleos. Entretanto,
para soluções aquosas as recomendações da Ref. 3, são indicadas.

Ressonância Magnética Nuclear 52

También podría gustarte