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nº 2059
RTT
3. Para os anos de 2008 e 2009, ou seja, desde a entrada em vigor da Lei 11.638/07, o
RTT será facultativo, devendo a pessoa jurídica manifestar sua opção pelo regime na
Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica de 2009 – devida em
30.6.2009 e cujo programa gerador acaba de ser aprovado pela Instrução Normativa de nº
945, de 29.5.2009 (“IN 945/09”).
4. A opção pelo RTT será irretratável e será aplicável ao biênio 2008/2009, abrangendo
o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (“IRPJ”) e a Contribuição Social sobre o Lucro
Compilado para uso exclusivo dos integrantes do escritório. Cópias dos atos noticiados neste boletim podem
ser solicitadas à Biblioteca. Orientação legal será dada exclusivamente pelos advogados — © 2009. Direitos
autorais reservados a Pinheiro Neto Advogados.
Lei 11.941/09 - o RTT e a harmonização do
padrão contábil brasileiro
Líquido (“CSL”) – para pessoas jurídicas sujeitas ao lucro real e presumido –, bem como a
Contribuição ao Programa de Integração Social (“PIS”) e a Contribuição ao Financiamento
da Seguridade Social (“COFINS”), nas sistemáticas cumulativa ou não cumulativa.
5. A partir de 2010, o RTT será obrigatório para todas as pessoas jurídicas sujeitas ao
IRPJ e à CSL segundo o lucro real, presumido ou arbitrado, assim como para o PIS e a
COFINS, em qualquer sistemática. O RTT então vigerá, nos termos do artigo 15, § 1º da Lei
11.941/09, até a entrada em vigor “de lei que discipline os efeitos tributários dos novos
métodos e critérios contábeis, buscando a neutralidade tributária.”
8. O artigo 17 da Lei 11.941/09 detalha a ordem dos procedimentos que devem ser
observados pelas empresas sujeitas ao RTT em caso de eventuais conflitos entre a lei
tributária e as novas normas contábeis, qual seja: (i) apurar o resultado do exercício de
acordo com as disposições da Lei das S.A., com as modificações dadas pela Lei 11.638/07 e
pelos artigos 37 e 38 da Lei 11.941/09, bem como as normas emitidas pela CVM, no caso das
companhias abertas e outras que optem pela sua observância; (ii) proceder aos ajustes
específicos no lucro líquido do período no Livro de Apuração do Lucro Real (“LALUR”), de
forma a reverter o efeito da utilização de métodos e critérios contábeis diferentes daqueles
vigentes em 31.12.07; e (iii) realizar os demais ajustes no LALUR para a adição, exclusão e
compensação dos valores prescritos ou autorizados pela legislação tributária, para apuração
da base de cálculo do imposto.
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Lei 11.941/09 - o RTT e a harmonização do
padrão contábil brasileiro
aplicada sobre os métodos e critérios contábeis vigentes em 31.12.07, ou seja, sem levar em
conta os efeitos das alterações contábeis introduzidas pela Lei 11.638/07, pelos artigos 37 e
38 da Lei 11.941/09, ou ainda pelos normativos da CVM ou pronunciamentos do CPC.
10. Cabe notar que o artigo 23 do texto final da MP 449/08 foi vetado pelo Presidente da
República. Tal dispositivo estabelecia que “a fim de preservar a neutralidade tributária
prevista no § 1o do art. 15 desta Lei, os métodos e critérios contábeis introduzidos pela Lei
no 11.638, de 28 de dezembro de 2007, relativos às contrapartidas de aumentos ou
diminuições de valores atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência de sua
avaliação a valor justo ou a valor presente, não produzirão efeitos para fins de imposto de
renda, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL, da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social - COFINS e da Contribuição para o PIS/PASEP”.
11. O referido veto suscitou debates a respeito da eventual possibilidade de esses ajustes
– de elementos do ativo e do passivo a valor justo ou a valor presente, conforme exigido pelos
artigos 183, I, “a” e 184, III, da Lei das S.A. – terem ficado excluídos da neutralidade
tributária do RTT. Em que pesem as chances de o fisco eventualmente vir a adotar essa
posição, acreditamos que a melhor interpretação é no sentido de que os artigos 16 e 17 da Lei
11.941/07 garantem a neutralidade tributária para toda e qualquer receita, custo ou despesa
gerada a partir da adoção dos novos métodos contábeis, ou seja, para as receitas, custos e
despesas que não seriam reconhecidas para fins fiscais se fossem aplicados os métodos e
critérios contábeis vigentes em 31.12.2007. Nesse conjunto, portanto, estariam naturalmente
incluídos na neutralidade tributária do RTT os efeitos fiscais decorrentes dos ajustes de
elementos do ativo e do passivo a valor justo e a valor presente.
12. A corroborar esse entendimento está o fato de que o RTT foi concebido no texto
original da MP 449/08 sem o artigo 23 que agora foi vetado pelo Presidente da República.
Ao sugeri-lo na Proposta de Emenda nº 117, datada de 10.12.2008, o Deputado Tião Vargas,
do PT-RS, afirmou que o objetivo do dispositivo era dar segurança jurídica aos contribuintes,
uma vez que os ajustes decorrentes do novo método contábil para a mensuração do valor
justo dos ativos, embora registrados como receita financeira, não refletem acréscimo
patrimonial, de modo que se pretendia evitar que a fiscalização viesse a adotar interpretação
diversa e capaz de levar à tributação desses valores.
13. Porém, as próprias razões do veto ao artigo 23 da Lei 11.941/09 reforçam que o RTT
foi criado para funcionar sem esse dispositivo e, do modo como redigido, o dispositivo vetado
poderia até mesmo instituir isenção tributária que permaneceria vigente mesmo após o
término do RTT, quando da edição de lei que venha a disciplinar os efeitos fiscais das novas
normas contábeis.
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Lei 11.941/09 - o RTT e a harmonização do
padrão contábil brasileiro
14. Cumpre notar, também, que o artigo 15, § 1º, da Lei 11.941/09 é claro quanto à
intenção do Governo de estabelecer o princípio da neutralidade fiscal para as mudanças
inseridas no padrão contábil brasileiro. Assim, em casos de dúvida de interpretação, a
disposição contida no artigo 15, § 1º, da Lei 11.941/09 favorece sempre a interpretação que
assegure a neutralidade fiscal da adoção dos padrões internacionais de contabilidade.
15. Tendo em vista que o artigo 195-A da Lei das S.A., acrescentado pela Lei 11.638/07,
determinou que as subvenções para investimento e as doações recebidas do Poder Público,
assim como os prêmios na emissão de debêntures, devem todos transitar pelo resultado das
companhias, o RTT tratou especificamente dos mecanismos para garantir a neutralidade
fiscal dessas regras, preservando a isenção do imposto de renda aplicável ao recebimento
desses valores, desde que mantidos em reservas específicas e observadas as demais condições
estabelecidas nos artigos 18 e 19 da Lei 11.941/09.
Lucro Presumido
16. Para as empresas tributadas pelo lucro presumido e optantes do RTT nos anos de
2008 e 2009, a opção aplica-se a todos os trimestres de 2008, sendo que, nos dois primeiros,
a eventual diferença entre o valor devido com base na opção pelo RTT e o valor antes
apurado e pago deverá ser recolhida – se a menor – ou poderá ser utilizada para
compensação do imposto devido em trimestres posteriores – se a maior –, com os
acréscimos de juros moratórios previstos na legislação tributária.
17. O capítulo V da Lei 11.941/09 traz ainda outras disposições que alteram a regulação
dada pela Lei 11.638/07 e complementam o processo de harmonização do padrão contábil
brasileiro, “inclusive aperfeiçoando a redação de alguns artigos com o objetivo de tornar
mais claro o entendimento dos dispositivos introduzidos pela referida Lei e aproximar a
qualidade da informação contábil brasileira aos padrões internacionais.” Dentre as
alterações introduzidas, destacamos abaixo as principais inovações.
Demonstrações Financeiras
18. O artigo 177, § 2º, da Lei das S.A. foi alterado para excluir a possibilidade, criada pela
Lei 11.638/07, de adoção de um “balanço tributário” como base da escrituração, que
posteriormente seria ajustado para fins de apuração da escrituração mercantil (“LALUC”).
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Lei 11.941/09 - o RTT e a harmonização do
padrão contábil brasileiro
19. Com a nova redação dada ao dispositivo pela Lei 11.941/09, a companhia observará
exclusivamente em livros ou registros auxiliares, sem qualquer modificação da escrituração
mercantil e das demonstrações reguladas na Lei das S.A., as disposições da lei tributária, ou
de legislação especial sobre a atividade que constitui seu objeto, que prescrevam, conduzam
ou incentivem a utilização de métodos ou critérios contábeis diferentes ou determinem
registro, lançamento ou ajustes ou a elaboração de outras demonstrações financeiras.
20. Foi também revogado o parágrafo 7º do artigo 177 da Lei das S.A., que havia sido
introduzido pela Lei 11.638/07 e estabelecia que não poderão ser base de incidência de
impostos e contribuições nem ter quaisquer outros efeitos tributários os lançamentos de
ajuste efetuados exclusivamente para a harmonização de normas contábeis e as
demonstrações e apurações com eles elaboradas. Em verdade, como confirmado na
Exposição de Motivos da MP 449/08, esse dispositivo tornou-se inócuo em face da
instituição do RTT, que já garante a neutralidade fiscal da adaptação das regras contábeis
brasileiras aos padrões internacionais.
21. A Lei 11.941/09 extinguiu a conta contábil de “ativo diferido”, sendo que, o artigo
299-A, acrescentado à Lei das S.A., estabelece que o saldo existente no ativo diferido em
31.12.08 e que, pela sua natureza, não puder ser alocado a outro grupo de contas, poderá
permanecer no ativo sob essa classificação até sua completa amortização, sujeito à análise
sobre a recuperação de que trata o artigo 183, § 3º, da Lei das S.A.
23. A Lei 11.941/09 modificou também o artigo 226, § 3º, da Lei das S.A. e acrescentou-
lhe o artigo 185-A, determinando que a CVM estabelecerá normas especiais de avaliação e
contabilização aplicáveis à aquisição de controle, participações societárias ou segmentos de
negócios, bem como às operações de fusão, incorporação e cisão que envolvam companhia
aberta. O novo parágrafo 4º do artigo 252 da Lei das S.A. esclarece que essa competência da
CVM alcança também operações de incorporação de ações que envolvam companhias
abertas.
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Lei 11.941/09 - o RTT e a harmonização do
padrão contábil brasileiro
24. Essa alteração foi importante, pois a antiga redação do artigo 226, § 3º, da Lei das
S.A. criava uma regra confusa e de limitada aplicação para a avaliação dos ativos a valor de
mercado em operações de incorporação de sociedades independentes e vinculadas à
transferência de controle. A nova redação desse dispositivo e a criação do artigo 185-A dão
maior flexibilidade para a CVM estabelecer o adequado tratamento contábil para essas
operações.
25. O artigo 59 da Lei 11.941/09 esclarece que não se incluem entre as contas do
patrimônio líquido, para fins do cálculo de juros sobre o capital próprio, os valores relativos a
ajustes de avaliação patrimonial a que se refere o artigo 182, § 3º, da Lei das S.A., com a
redação dada pela Lei 11.638/07 e pela própria Lei 11.941/09. Este dispositivo da Lei das
S.A. trata das contrapartidas de aumentos e diminuições de valor atribuídos a elementos do
ativo e do passivo em decorrência de sua avaliação a valor justo, de modo que esses valores
não serão considerados para fins do cálculo de juros sobre o capital próprio.
26. A Lei 11.941/09 também altera a qualificação dos investimentos sujeitos à avaliação
pelo método da equivalência patrimonial, em virtude da alteração do artigo 243 da Lei das
S.A. O objetivo foi o de adequar a definição de coligada àquela prevista nas normas
internacionais de contabilidade, que não estabelecem um percentual mínimo para que uma
sociedade investida seja classificada como coligada.
27. Com a nova redação do artigo 243 da Lei das S.A., considera-se coligada a sociedade
na qual a investidora tenha influência significativa sobre a administração da investida, sem
controlá-la. O parágrafo 4º do artigo 243 dispõe que há influência significativa quando a
investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões das políticas financeira ou
operacional da investida, sem controlá-la. Essa influência será presumida quando a
investidora detiver 20% ou mais do capital votante da investida, sem controlá-la.
Conclusão
28. A Lei 11.941/09 é fruto de intenso debate entre o Executivo e as duas Casas
Legislativas, onde sofreu cerca de 400 propostas de emendas por deputados e senadores até
que se chegasse ao texto finalmente submetido a sanção presidencial. É natural, portanto,
que surjam debates em torno da necessidade e alcance de certos dispositivos. No geral,
porém, a Lei 11.941/09 será muito bem recebida pelo meio empresarial brasileiro,
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