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Estratégias bioclimáticas
Resumo
O artigo que se apresenta pretende identificar as capacidades expressivas dos eco
materiais na arquitectura., pois o apelo que habitualmente surge para a sua utilização
tem como base a muita e variada informação técnica que os acompanham.
Dominantemente apelam ao seu uso com base valores quantitativos (a massa, a
poupança energética, poupança de CO2, etc.).
Este estudo pretende identificar as qualidades expressivas dos eco materiais,
contribuindo para fomentar a sua utilização com base nas suas qualidades
expressivas.
Metodologicamente, procurou-se definir o que são eco materiais e enquadra-los em
famílias para posterior sistematização. Posteriormente, e dentro de cada família,
procurou-se identificar as qualidades expressivas que cada família de eco materiais
contem. Em parte as qualidades expressivas dos eco materiais são semelhantes aos
materiais tradicionais pois resultam de upgrades dos mesmo, existem contudo alguns
eco materiais que tem qualidades expressivas específicas.
Quer disponham dessas qualidades únicas, ou tenham as qualidades expressivas dos
materiais tradicionais, os eco materiais traduzem em si uma qualidade significante ás
obras em que são utilizados, pois trazem para a obra a vontade de criar um mundo
melhor para um homem mais feliz, e essa é a essência que move os arquitectos e faz
avançar a arquitectura.
Palavras-chave:
Abstract
Methodologically, we tried to define what are eco materials and frame them in
families for further systematization.
Finally, whether they have these unique qualities, or have they preserve the
expressive qualities of traditional materials, eco materials translate into a
significant quality to the buildings in which they are used, as they bring to the
work the will to create a better world for a happier man, and this is the essence
that moves the architects and achieves new architectural advances.
Keywords:
III
IV
ÍNDICE
3.-Conclusão ............................................................................................................. 25
V
VI
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES:
Fig.- 1 - Mapungubwe Visitors Centre, Africa do Sul, Peter Rich, 2008. Fonte: http://www.archdaily.com... 4
Fig.- 3 - Dragspelhuset, Lago Ovre Gla, Suécia, 24h Architecture, 2001. Fonte: http://www.inhabitat.com . 6
Fig.- 4 - Pavilhão de Portugal, Expo 2010, Xangai, Carlos Couto. Fonte: Archdaily.com ............................. 6
Fig.- 5 - Centro Cultural Tjibaou, Renzo Piano, 1998. Foto: Archenova ....................................................... 8
Fig.- 7- Muralha Bizantina de Selçuk, Tuquia, Sec. VI. Foto: Maria Fremlin ............................................. 10
Fig.- 9 - Plastic House, Tokio, Kengo Kuma, 2005. Fonte: http://www.kkaa.co.jp ...................................... 12
Fig.-10- Atelier, Quito, Equador, Arq. David Moreno. Fonte: www.archdaily.com ...................................... 12
Fig.- 11 -The Ricyclops, Utrech, Holanda, 2012 Architeten. Fonte: http://www.2012architecten.nl .......... 14
Fig.-12 - Platoon Kunsthalle, Seul, Coreia do Sul, 2009 Platoon+ Graft Architects.
http://www.archdaily.com/27386/platoon-kunsthalle-graft-architects/ ......................................................... 14
Fig.-15 -Solar Ivy, Smit- Sustainable Design, 2009.. Fonte: http://solarivy.com ........................................ 18
Fig.- 22 -Institut for Forest na Nature Research, Wageningen, Holanda, Günther Behnisch, 1998............ 24
VII
1. ENTENDIMENTO DO ECO MATERIAL.
A certificação ambiental dos materiais que dispomos ainda se encontra numa fase de
implementação. Existem, tal como nas Analises de Ciclo de Vida, numerosos sistemas
de avaliação, de certificação ambiental dos materiais de construção, a exemplo a ISO
14020, ISO 21930, Cradle to Cradle, CEN BT 14/2005, PEFC (Programme for the
Endorsement of Forest Certification), entre outros, que estabelecem critérios e
abordagens distintas para emitir declarações de impacto ambiental. Em boa parte dos
catálogos de materiais que habitualmente acompanham o acto do projecto, o
arquitecto deve começar a encarar os indicadores ambientais, do mesmo modo que
encara a categoria de resistência ao desgaste de um pavimento.
1
Contudo podemos destacar as investigações desenvolvidas pela Escola d’Arquitectura
de Barcelona da Universidade Internacional da Catalunya que tem produzido uma
série de investigação muito centrada na questão dos eco-materiais. Um dos mentores
destas investigações é o Arq. Ignasi Perez Arnal. No livro “Eco Productos, en la
arquitectura e el deseño” (Arnal, Sauer, et al. 2008), encontramos uma definição lata
do que são eco-materiais. Esta definição é extraordinariamente útil pois consegue
sintetizar em linhas gerais critérios de escolha para a questão dos eco-materiais.
Na sua visão estratégica, o Arq. Ignasi Perez Arnal sintetiza um conjunto de 10
pressupostos que nos permitem um bom enquadramento na problemática do que são
os eco-materiais:
― 1- Material absorvente de CO2: A escolha de um material que participe activamente
na solução de uns dos mais complicados problemas actuais. A mitigação do
aquecimento global é a melhor opção que a construção pode dar ao meio ambiente.
2- Material sustentável: Se utilizarmos as matérias-primas que a natureza nos oferece
de maneira inesgotável, não condicionamos o futuro das nossas reservas.
3- Materiais recicláveis: O destino de um material reciclável encontrasse na
reutilização, não acaba no aterro.
4- Material reciclado: Evitamos a contaminação e o consumo de energia necessários
para a fabricação nova do mesmo material, consequentemente reduzimos a
quantidade de resíduos.
5- A pureza compositiva: Quanto mais matérias-primas sejam necessárias para obter
um material, mais complicada se torna a sua separação e a sua reciclagem.
6- Energia incorporada: Para além de dos custos energéticos iniciais (extracção,
transporte, fabricação…), é importante compreender a dependência energética do
material ao longo do seu ciclo de vida (inércia térmica, manutenção, rupturas e
desgaste, possibilidade de ser reciclado ou reutilizado).
7-Grau de industrialização: Apenas para projectos de muito pequena escala se justifica
a utilização de um material artesanal que exija muita mão-de-obra e a utilização
intensiva de recursos em obra (água e energia). Em todos os restantes projectos
deveriam-se utilizar materiais industriais onde existe um consumo controlado de
recursos e energia.
8- Materiais saudáveis: Evitar o uso de produtos que possam afectar a saúde do
fabricante, do utilizador e do trabalhador no processo de reciclagem. Principalmente
no que se refere a partículas tóxicas ou cancerígenas.
9- Exigências de manutenção: Materiais com baixa manutenção favorecem o conforto
do utilizador e diminuem a utilização de pinturas, lubrificantes e vernizes.
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10- Materiais com certificação ecológica: Poucos materiais tem certificação que
garanta uma boa utilização dos recursos, os que a têm merecem um tratamento
privilegiado (Sauer 2008)‖.
Para além de uma noção estratégica inicial da problemática dos eco materiais, deverá
o arquitecto com o desenvolvimento do projecto, investigar mais profundamente as
suas características, quer em termos de extracção/fabrico, quer em termos de
desempenho e reciclagem no final da sua vida útil. Esta é uma postura que em certa
medida pode ser encarada como um regresso ao passado. Na altura dos mestres
construtores, a materialidade da edificação era escolhida com um rigor extremo.
Hoje em dia parte dessa metodologia saiu da alçada do arquitecto. Os materiais são
escolhidos por catálogo durante o projecto, sendo escrutinados pelas exigências
regulamentares que constroem os cadernos de encargos. Posteriormente é a
fiscalização da obra que afere se realmente os materiais apresentados cumprem as
exigências técnicas descritas nos cadernos de encargos. Por via dessa repartição de
trabalho a relação entre o arquitecto e a materialidade da coisa construída perdeu
profundidade. O arquitecto prima mais a pele do edificado do que a sua essência e
essa é uma tendência que urge combater.
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Fig.- 1 Mapungubwe Visitors Centre, Africa do Sul, Peter Rich, 2008. A utilização de materiais vernaculares potencia a
relação da obra com o sitio. Fonte: http://www.archdaily.com
Fig.- 2- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten, 2008. Ao longo do dia as texturas, o brilho, a luz e as
sombras vão metamorfosear -se, revelando toda a sua riqueza expressiva do adobe. Fonte: http://www.architonic.com
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2. AS FAMILIAS DOS ECO-MATERIAIS.
Para além da eficiência, esses materiais, a pedra, o adobe, a palha, o tijolo de terra
seca, a madeira, o têxtil, as peles etc., faziam parte do meio onde eram edificados, de
igual modo, as soluções arquitectónicas adoptadas também se encontravam em
simbiose com o habitat, adquirindo assim uma linguagem muito vincada na sua
relação com a mãe natureza. Por esse motivo encontramos nestes materiais,
características tectónicas na sua expressividade, dado que nascem da terra, e
normalmente se encontram em harmonia com o território.
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Fig.- 3- Dragspelhuset, Lago Ovre Gla, Suécia, 24h Architecture, 2001. Num clima nórdico, onde os longos invernos
marcam a vida das pessoas e dos edifícios, existe uma necessidade real de exacerbar a temperatura dos espaços.
Neste caso de um modo surpreendente, somos aconchegados por peles a revestir a nossa envolvente. Fonte:
http://www.inhabitat.com
Fig.- 4 Pavilhão de Portugal, Expo 2010, Xangai, Carlos Couto. A utilização da cortiça como elemento de revestimento
exterior, só se tornou possível devido aos avanços tecnológicos da indústria. Apesar de ter uma expressão inovadora
na nossa tradição arquitectónica, a cortiça, tal como os outros materiais ancestrais, quando sujeitos a inovações
tecnológicas, ainda mantém parte da sua expressividade vernacular. Fonte: Archdaily.com
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são de fácil extracção e execução, quer energético, pois lidamos com produtos que
requerem pouca energia incorporada para se concretizarem.
Esta reutilização de métodos e materiais tradicionais tem sido caracterizado por duas
estratégias de acção: se por um lado se tem recuperado as tecnologias tradicionais,
como o adobe, a construção em madeira sustentável, as argamassas e ligantes
tradicionais, como a cal aérea e as argamassas de terra com fibras vegetais, a
construção em palha entre outros; por outro lado alguns destes materiais tradicionais
sofreram updates tecnológicos. Encontramos nesta situação o super adobe, os blocos
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Fig.- 5- Centro Cultural Tjibaou, Renzo Piano, 1998. Neste projecto Renzo Piano materializa uma homenagem à
cultura Karnak da Nova Guiné, reinterpretando a construção tradicional, adicionando-lhe a eficiência tecnológica e
energética que o caracteriza. Este projecto reinventa a atmosfera da comunidade que pretende celebrar. O projecto,
com sua a utilização dos materiais tradicionais, enaltece a significância do modo de vida sustentável característico da
cultura Karnak. A atmosfera, tal como Zumthor a descreve, está enfatizada pela harmonia entre o construído e a
natureza circundante. Foto: Archenova
Fig.- 6- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, 2006. O objecto arquitectónico torna-se corpo,
corpo da arquitectura, fundação da sociedade, preparando o seu futuro e garantindo a sua sustentabilidade. A
materialidade da construção personifica todas essas intenções, elevando a expressividade da obra e construindo uma
poesia concreta e significante. Fonte: http:// http://www.anna-heringer.com
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de terra compactada, as coberturas em terra vegetal, os derivados do bambu entre
muitos outros. Esta actualização tecnológica veio suprir algumas das desvantagens
dos materiais tradicionais, como o risco sísmico, a propensão para incêndios, a
resistência à água, a facilidade de construção e a durabilidade (Studio 2010).
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Fig.- 7 Muralha Bizantina de Selçuk, Tuquia, Sec. VI. A muralha Bizantina, apresenta o reaproveitamento de elementos
romanos, criando uma textura sui generis neste pano da muralha da cidadela de Selçuk. A tradição de
reaproveitamento de elementos construtivos em desuso ou em ruína foi uma constante durante séculos. Só após a
industrialização é que este hábito se perdeu. Foto: Maria Fremlin
Fig.- 8 Parede de Polly-brics, sistema de encaixe translúcido, realizado a partir da reciclagem de garrafas de plástico
(PET), graças ao seu funcionamento, inspirado no Lego, este material permite a sua remontagem múltiplas vezes.
Neste caso, construiu o Pavilhão da Moda para a Taipei International Expo. Um edifício provisório de 130 m.
Fonte: http://inhabitat.com/
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2.2-OS ECO-MATERIAIS RECICLADOS.
Hoje em dia essa postura de encarar os desperdícios como uma consequência normal
dos métodos de produção está a desaparecer. Por um lado, devido ao aumento dos
custos de matérias-primas e energia ligados à transformação, armazenagem e
transporte dos materiais utilizados e, por outro lado, devido à exaustão dos recursos
naturais e energéticos. Este aumento de custos de produção leva a que muitos
materiais que não tinham valor económico passem a ser apelativos de um ponto de
um ponto de vista económico.
Outro factor determinante nesta alteração é a aplicação, cada vez mais intensa, por
partes dos governos do princípio do poluidor e da política dos RRR (Reduzir,
Reutilizar, Reciclar). Para além das desvantagens económicas e operacionais que a
penalização regulamentar impõe, a existência de resíduos é encarada como indicador
do grau de eficiência e competitividade das indústrias e isso tem forte reflexo na sua
capacidade de atrair investidores e clientes.
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Fig.- 9- Plastic House, Tokio, Kengo Kuma, 2005. A paleta que os eco-materiais nos fornecem é enorme, isso permite
desenvolver numerosas e diversas respostas na sua utilização. Neste caso Kenso Kuma constrói um ensombramento e
recobre a cobertura com granulado de plástico reciclado. O plástico reciclado é um dos muitos eco materiais que temos
ao nosso dispor. Fonte: http://www.kkaa.co.jp
Fig.- 10, Atelier, Quito, Equador, Arq. David Moreno. O aproveitamento das madeiras provenientes de demolição traz
as complexidades expressivas do tempo à obra. O contraste entre o novo e o antigo constrói riqueza expressiva. Fonte:
www.archdaily.com
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Hoje a paleta de materiais reciclados com que podemos construir aumentou
significativamente. Quer ao nível dos materiais tradicionalmente reciclados, como o
ferro e o alumínio entre outros, que viram a sua percentagem de reciclagem
aumentarem vertiginosamente, no caso de aço para a construção civil a percentagem
de material incorporado situa-se nos 80% (Gervásio 2008), quer ao nível dos produtos
derivados de novos processos de reciclagem, como é o caso do vidro e dos plásticos.
Por outro lado, encontramos no mercado uma oferta cada vez maior de empresas que
separam e revendem elementos de construções demolidas, desde portas, vãos,
pavimentos em madeira, antigas coberturas, vigas de madeira etc. Estes elementos
são residuais no nosso mercado mas permitem encontrar soluções onde podemos tirar
partido expressivo da antiguidade desses materiais utilizando estratégias de projecto
que aproveitam o Re-use como característica expressiva.
Um segundo grupo de materiais reciclados que tem vindo a crescer no nosso mercado
de materiais de construção são os materiais derivados de resíduos de produtos de
grande consumo. Este conjunto de materiais é resultado da separação e recolha
desses resíduos, que posteriormente são transformados em novos produtos. Esses
materiais resultantes da transformação dos resíduos do papel, das embalagens (Tetra
Pack, PET etc.), dos resíduos da indústria de madeira, de têxteis fora de uso, de
resíduos sobrantes das pedreiras e das indústrias exploradoras, etc., e que hoje em
dia são hoje em dia utilizados como matéria-prima de novos materiais de construção,
originam toda uma recente panóplia de soluções que responde às mais diversas
solicitações da construção.
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Fig.- 11 The Ricyclops, Utrech, Holanda, 2012 Architeten. Aproveitamento de cubas de cozinha provenientes de
demolição para a construção de depósito de aproveitamento de águas pluviais. Fonte: http://www.2012architecten.nl
Fig.- 12 Platoon Kunsthalle, Seul, Coreia do Sul, 2009 Platoon+ Graft Architects. Passada uma vida útil de 20 anos, os
contentores marítimos normalmente são desactivados. Hoje em dia encontramos cerca de 20 milhoes de contentores
desactivados à espera de uso. Este centro cultural, construído recorrendo a 28 contentores ISO High Cube
devidamente recuperados, demonstra como o desenho arquitectónico consegue trazer novos significados e usos aos
desperdícios da sociedade de consumo. Este é apenas um dos muitos exemplos de arquitectura que recorre a estes
elementos, que constroem arquitecturas de emergência, residências de estudantes, habitações e muitos outros usos
com as mais variadas expressões. http://www.archdaily.com/27386/platoon-kunsthalle-graft-architects/
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Dentro deste tipo de materiais destacamos os plásticos, pois a sua versatilidade e
capacidade de reaproveitamento é enorme, onde do mobiliário urbano, às coberturas,
à exploração das suas capacidades como elemento portatante, passando pela sua
utilização como película em estruturas geodésicas, ou pelo seu uso como enquanto
inerte. Uma das grandes vantagens dos plásticos reciclados reside na sua
durabilidade. A outra vantagem dos plásticos reciclados deve-se ao facto de
necessitarem de pouca manutenção ao longo da sua vida útil tornando o seu ciclo de
vida muito concorrencial. Veja-se o caso dos decks ou do mobiliário urbano: se forem
realizados em madeiras exóticas, vão contribuir para a destruição de florestas e
habitats tropicais que se encontram muito delapidados e em grande perigo, para além
do mais, estas madeiras necessitam de manutenção, habitualmente realizada através
da utilização de óleos e vernizes, cujos processos de fabrico são fortemente
poluidores. Utilizando decks e mobiliário urbano de plástico reciclado, tem-se um
material que reduz o problema dos resíduos, não destrói floresta tropical, e tem um
ciclo de vida muito eficiente, pois não necessita de manutenção.
Existe ainda um terceiro grupo destes materiais reciclados que prima pela
experimentação e pela busca de novas soluções. Este grupo de materiais tem como
principal particularidade o facto de utilizar os resíduos directamente sem nenhuma
transformação industrial. Vamos passar a designá-los Miss-use de materiais
directamente reciclados.
Neste grupo de materiais podemos encontrar algumas das soluções mais imaginativas
e surpreendentes com que os arquitectos e construtores nos têm brindado. A
reutilização de contentores marítimos, a utilização de tubos de cartão, a construção
em papel e utilização de garrafas de plástico são alguns dos modos como que se tem
marcado a procura de aproveitamento para os resíduos que a sociedade actual
produz. Esta reutilização e adaptação, sem a intervenção de processos industriais de
transformação, têm especial relevância, pois na maioria dos casos ela revela uma
grande capacidade de reformulação dos princípios de construção.
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Fig.- 13- Pavilhão Vasarely, Aix-en-provence, 2006, de Shigeru Ban. A utilização de materiais reciclados marca a obra
de Shigeru Ban de modo notável, neste caso vemos o aproveitamento de tubos de cartão, resíduos de cartão da
indústria têxtil.
Fig.- 14- Plasticamente, Riccardo Giovaneti, 2009. Discos e pratos em plástico reciclado, constroem uma cúpula quase
fechada. Contudo as transparências que restam entre os elementos, criam uma tensão que convida ao usufruto do
espaço. Fonte: http://www.contemporist.com
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Estas construções constituem casos emblemáticos na capacidade de redesenhar um
material conferindo-lhe novos usos e significados expressivos. Mais, com estas
estratégias de reutilização de materiais provenientes directamente de reciclagem, a
obra ganha uma vantagem inédita, a surpresa das coisas novas, pois no seu
reaproveitamento, este materiais ganham materialidades surpreendentes.
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Fig.- 15 Solar Ivy, Smit- Sustainable Design, 2009. A Solar Ivy é um novo modo de produção de energia solar por
através de elementos foto voltaicos. Composto por numerosas células individuais, com os elementos foto voltaicos e
circuitos eléctricos impressos em folhas de Polietileno reciclado, com um baixo custo económico e um impacto
ambiental mínimo. Este material comporta-se de um modo flexível, mimetizando as folhas de uma hera, pode ser
disponibilizado com vários graus de transparência e em várias cores. Tem ainda como vantagem adicional o seu baixo
custo e a possibilidade de se substituir as folhas que se danificam. Expressivamente, este material reage às correntes
de ar, provocando efeitos cinéticos surpreendentes. Fonte: http://solarivy.com/#
Fig.- 16 Thermeleon. Um novo material de revestimento, desenvolvido pelo MIT, que pode ser aplicado em telhas ou
em vidro, permite controlar os ganhos solares térmicos alterando a sua coloração. Na fotografia temos o exemplo da
telha. No caso do vidro, a baixas temperaturas o material fica transparente, permitindo ganhos térmicos no interior,
tornando-se opalino quando a temperatura aumenta, reflectindo o calor desse modo. Fonte:
http://www.guiadastecnologias.com/index/2009/12/04/telhas-thermeleon-mudam-de-cor-para-regular-a-temperatura-no-
interior-da-casa/
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Desde a produção e tijolo utilizando gás natural, menos poluente que os fornos
eléctricos, muito dependentes das centrais térmicas, pois o gás natural emite muito
menos gases de efeitos de estufa (Ceranor 2010), passando pelo redesenho da sua
estrutura de modo a melhorar a sua eficiência térmica e mecânica, até ao fabrico de
tijolos utilizando cinzas provenientes de centrais térmicas, o que aumenta a suas
características físicas e térmicas, sequestrando carbono e evitando as explorações de
barro que destoem a camada superior do solo fértil. (Kayali 2008).
Uma outra tendência nos materiais de nova tecnologia provém da nano tecnologia, a
manipulação a nível molecular permite o desenho de produtos de modo inovador. O
desenho da materialidade adquire assim novo significado, nunca antes na história da
humanidade tivemos tecnologia que nos permitisse criar produtos tão eficientes.
Habitualmente a noção que temos de nano tecnologia não entra no léxico habitual do
fenómeno arquitectónico.
Hoje com a nano tecnologia podemos ter tintas e vernizes ecológicos, com
especificações únicas, e com ciclos de vida mais prolongados (rubiomonocoat 2010).
Interessa também aos materiais que possam alterar as suas materialidades de acordo
com as condições climáticas, por exemplo as tecnologia Thermeleon, desenvolvida no
MIT, que permite a alteração cromática de um gel. Essa alteração caracteriza-se pelo
facto de a altas temperaturas exteriores a cor do material ser branca,
consequentemente reduzindo a sua capacidade de acumular calor, quando a situação
se inverte, e as temperaturas exteriores ficam frias, o material passa a cor negra,
acumulando energia e calor (MADMEC, et al. 2009), estando vocacionada para ser
aplicada em coberturas, nomeadamente em telhas, ou em vidros, regulando trocas
térmicas que os envidraçados efectuam com o interior das construções
As nano tecnologias têm como grande virtude uma outra característica, a partir do
momento em que podemos manipular as moléculas para criar materiais, podemos
estudar os materiais naturais e observar o modo como eles respondem às diversas
solicitações. Qualquer estrutura ou material natural responde a especificações
exactas, nunca desperdiçando recursos ou energia. Com a nano tecnologia e atitudes
de desenho bio miméticas, podemos tentar replicar essa eficiência para materiais e
estruturas desenhadas pelo homem. Estas linhas de investigação prometem materiais
revolucionários, materiais que vão alterar o desenho arquitectónico das coisas.
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Fig.- 17 PORO, Arq. Miguel Veríssimo. Estudo de material bio mimético, utilizando nano tecnologia, de modo a
comportar-se como a pele humana, reagindo às necessidades energéticas da edificação. Poderá vir a ser utilizado na
câmara-de-ar dos vidros duplos ou como revestimento. Fonte: http://www.revarqa.com/uploads/docs/dossier/78-79-
Dossier.pdf
Fig.- 18 Monocoque, Arq.Neri Oxman. Bio mimetismo. O principio na esquerda, o osso humano, e o protótipo na
direita. O osso humano distribui a sua densidade e flexibilidade à medida das solicitações, Neri Oxman propõe replicar
a mesma performance utilizando dois materiais distintos, a negro o material rígido e a branco o material flexível. Esta
Arquitecta lidera projectos de investigação para a criação de materiais de nova tecnologia, socorrendo-se de algoritmos
e tecnologias de ponta. Através destas investigações procura uma hiper-modernidade que replique a sofisticação com
que natureza responde às mais diversas solicitações. Fonte: http://www.materialecology.com/
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Esta tendência de ir procurar respostas nas soluções que a natureza gera na sua
infinita criatividade, tem permitido a abertura de múltiplas linhas de investigação, não
só no desenvolvimento de novas materialidades, mas também na procura de novas
soluções arquitectónicas. As possibilidades que estas estratégias abrem já estão a ser
exploradas pelos arquitectos: podemos referir as investigações do Arq. Miguel
Veríssimo (Premio BES Inovação 2007) que procura desenvolver uma parede
inspirada na pele humana, PORO (Verrissimo 2010), onde os poros serão substituídos
por células reguladoras de ventilação e de ganhos solares. Outros arquitectos levam o
desenvolvimento destas noções ao nível dos próprios conceitos da matéria,
procurando atingir novos paradigmas arquitectónicos, como a arquitecta Nery Oxman,
que explora a hiper-modernidade do fenómeno arquitectónico, criando novos
materiais, que resultam da adaptação do desenho de materiais naturais ao nível do
seu desenho estrutural. (Oxman, http://www.materialecology.com/ 2010).
Uma das facetas mais interessantes que tem surgido nas últimas décadas da
arquitectura mundial tem a ver com a utilização de elementos biológicos na
construção. A presença de elemento naturais na construção de edifícios tem vindo a
aumentar progressivamente.
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Fig.- 19 Ford Rouge Centre, Dearborn, Michigan, William McDonough, 1998. Projecto de reconversão da Ford Motor
Company, onde, por proposta do Arq, William McDonough, a cobertura do principal edifício fabril, foi ajardinada com
plantas autóctones. Para além dos enormes ganhos económicos decorrentes das poupanças energéticas, verificaram-
se ganhos consideráveis na qualidade do ar e das aguas pluviais e culminando essa experiência, verificou-se que a
cobertura passou a ser utilizada por numerosas espécies para nidificação. Aqui temos um ninho de ave que nidificou,
apenas 5 dias após a conclusão da obra. Fonte: www.mcdonoughpartners.com
Fig.- 20 La Caixa, Madrid, Herzog de Meuron, 2007. A utilização de elementos bio-construídos, neste caso um jardim
fachada, para além de aumentar as capacidades bioclimáticas do imóvel, e acrescentar biomassa às zonas urbanas,
contribui significativamente para expressividade deste projecto. Os contrastes entre o aço Corten, a alvenaria de tijolo e
a fachada verde alteram a lógica habitual do objecto arquitectónico. Fonte: www.swissmade-architecture.com
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Em primeiro lugar temos de apontar o enorme sucesso que as coberturas ajardinadas
têm vindo a conquistar, quer pela vontade dos promotores e projectistas em aumentar
a eficiência bioclimática dos seus edifícios, quer pela sua vontade em devolver solo à
natureza, compensando-a assim pela perda de solo natural em favor da construção.
Existe ainda um aumento da qualidade do ar exterior assim como uma diminuição da
temperatura circundante, quando comparada com uma cobertura clássica. Este tipo de
coberturas têm cumpre igualmente uma importante função como armazenadora de
águas pluviais, retendo cerca de 30% do seu volume na terra, e contribuindo para a
sua filtragem para posterior utilização em sistemas secundários de água canalizada
(regas e águas sanitárias) ou para reabastecer lençóis freáticos exauridos.
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Fig.- 21 Institut for Forest na Nature Research, Wageningen, Holanda, Günther Behnisch, 1998. A utilização de
elementos vegetais no interior do edifício contribui para melhorar significativamente a qualidade do ar, o que, aliado ao
grande pátio central arquitectónico, contribui para optimizar a performance bio climática do projecto.
Fonte: www. www.behnisch.com
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3. -Conclusão
Outra estratégia de utilização dos eco materiais tem sido caracterizada pela
recuperação da utilização de materiais ditos vernaculares. Esta reabilitação no uso de
materiais vernaculares tem assentado na essência comum de todas as arquitecturas
vernaculares. Todas as arquitecturas vernaculares são por norma arquitecturas
alicerçadas na escassez de recursos e profundamente embrenhadas no seu habitat. A
eficiência com que as arquitecturas tradicionais e vernaculares lidam com essa
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Fig.- 23 Diagrama da expressividade do eco materiais vernaculares.
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escassez, quer por via da sua eficácia bioclimática, quer por via do uso regrado com
utilizam os materiais, tem sido inspiradora de respostas sustentáveis para a
problemática da construção.
Esta classe de materiais tem uma expressividade peculiar, pois a sua proximidade
com o meio, enfatiza sua ligação ao habitat onde se inserem. Esta relação de
adjacência com o habitat envolvente, aliada a uma eficiência espartana na utilização
de recursos naturais, fornece às obras construídas com os eco materiais vernaculares,
uma característica única, elas constroem-se colaborando com a terra.
Em terceiro lugar, em alguns dos eco materiais reciclados, como na utilização para
construção de garrafas PET, reaproveitamento de contentores, ou na reutilização de
materiais reciclados de construção, como na utilização de madeiras antigas ou no
aproveitamento genérico de elementos reciclados de construção, podemos presenciar
duas classes de expressividades diferentes. A utilização de resíduos da sociedade de
consumo aproveitados como recursos para construir sem processamento industrial,
Miss-use, descobrimos imaginativas soluções construtivas. Sendo que estas adquirem
um carácter totalmente novo, pois a sua utilização é recente a sua utilização
arquitectónica, e as soluções encontradas proporcionam a surpresa das coisas quase
novas. Digo quase novas pois desde meados do Sec XX numerosos artistas plásticos
já exploravam este tipo de expressividade.
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Fig.- 25 Diagrama da expressividade do eco materiais de nova tecnologia.
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que reagem às condicionantes atmosféricas, regulando a sua forma, cor ou estrutura
interna para proporcionarem níveis de conforto e segurança adequados aos seus
utilizadores é resultado de investigações, onde a tecnologia que é desenvolvida
reflecte um reconhecimento e valorização dos processos que a natureza nos oferece.
Com a utilização destes novos materiais, que devido à sua capacidade de adaptação
às necessidades, minimizam a utilização de recursos e de energia, atinge-se níveis de
expressividade singulares. Por um lado, e em simultâneo, eles afirmam a sua
sofisticação tecnológica, materializando o engenho do ser humano em resolver os
problemas e inovar, por outro lado, pela sua eficiência e respeito pelo ambiente, eles
afirmam a vontade de construir um futuro melhor.
Esta característica altera o paradigma da construção, pois por norma cada vez que
edificávamos, retirávamos espaço ao entorno natural ou agrícola. E essa alteração de
modelo, é per sí, uma expressão grandiloquente, profundamente revolucionária no
modo como encaramos o fenómeno arquitectónico, sendo uma das respostas mais
expressivas e significantes que o campo dos eco materiais nos apresenta.
A variedade com que nos podemos expressar utilizando eco materiais, criando
arquitecturas plenas de emoções e significados é quase ilimitada. A sua variedade
ultrapassa a multiplicidade dos materiais não ecológicos, muitos eco materiais
ultrapassam igualmente as solicitações dos materiais não ecológicos. Mas a
derradeira diferença, encontra-se na capacidade dos eco materiais nos possibilitarem
a esperança de continuar a construir sem exaurir recursos. Esta é, em última análise,
a grande expressividade dos eco materiais. A sua utilização permite-nos projectar
obras complexas de expressividade que reflectem a formação humanista dos
arquitectos, pois no conceito do projecto e da obra, encontramos a vontade de
respeitar as gerações que virão.
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