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Cláudio Paulino Chaves
José Anastácio de Sousa Aguiar
Luciano Furtado Sampaio
Rogério Castilho

Casos Clínicos em
HIPNOSE
Técnicas hipnoterapêuticas a serviço
da saúde mental e emocional

Fortaleza
2017
Casos clínicos em hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
© 2017 Copyright by Cláudio Paulino Chaves
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
Cláudio Paulino Chaves

Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida total ou parcialmente, sem
autorização prévia por escrito do autor, sejam quais forem os meios empregados:
xerográÀcos, fotográÀcos, mecânicos, eletrônicos, gravação ou quaisquer outros.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610 de 19/2/1998
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Os autores desta obra desaconselham a utilização de técnicas
de hipnoterapia por qualquer pessoa que não esteja devidamente
qualiÀcada. A hipnose clínica somente pode ser conduzida e aplicada
por proÀssionais habilitados para o desempenho deste mister.
Revisão
Cláudio Paulino Chaves
José Anastácio de Sousa Aguiar
Luciano Furtado Sampaio
Rogério Castilho

Coordeção editorial
Jon Barros

Projeto gráÀco
Juscelino Guilherme

Bibliotecária
Carmem Araújo

R341 Casos clínicos em hipnose : técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde


mental e emocional / Cláudio Paulino Chaves … [et al.]. – Fortaleza :
GráÀca LCR, 2017.
160 p. : 14 x 21 cm.
Inclui bibliograÀa.
ISBN 978-85-7915-286-3
1. Hipnose. 2. Reprogramação mental. 3. Terapias de vidas passadas.
4. Técnicas hipnoterapêuticas. 5. Hipnoterapia. I. Chaves, Cláudio
Paulino. II. Aguiar, José Anastácio de Sousa. III. Sampaio, Luciano
Furtado. IV. Castilho, Rogério.
CDU: 615.851.2
159.962.2
GRÁFICA LCR
Tel. 85 3105.7900 | Fax. 85 3272.6069
Rua Israel Bezerra, 633 | Dionísio Torres | Fortaleza | CE
atendimento01@graÀcalcr.com.br | www.graÀcalcr.com.br
“Dedico este livro: a meus pais adotivos, e biológicos. A
todos os meus irmãos de alma, os amigos. Minha dedicação
especial a minha amada imortal, Daniela Sena e minhas duas
Àlhas, Ariadne e Áquila Chaves. A Paramahansa Yogananda,
que viveu e me auxiliou a compreender a mensagem viva do
Cristo. Dedico aos andantes do caminho da vida, seres espiri-
tuais, como eu, revestidos de um corpo físico. Que recebam e
sintam nossas melhores vibrações. Gratidão sem limites a to-
dos. Sem vocês eu seria nulo.”
Cláudio Chaves

“Minha gratidão à Divindade, aos familiares e aos ami-


gos que participam do projeto de confecção deste livro e à mi-
nha esposa Soraya Aguiar, pela existência tão doce. Dedico o
livro aos meus alunos e pacientes, bem como a todos que se
interessem pelo tema.”
José Anastácio de Sousa Aguiar
“Eu, Luciano Sampaio, como participante deste livro, de-
dico o meu trabalho: À Homéria, a escolhida de Deus para mim
como esposa, que nos uniu num imenso amor e na fé. E aos
seus pais, Manoel e Isaura, e seus treze irmãos. Aos meus pais,
Leônidas e Mundinha (Raimunda), por seus testemunhos de
trabalho, amor e fé. E aos meus dezessete irmãos vivos, por
suas amizades. Ao meu tio e padrinho Padre Duza (José Leite
Sampaio), in memoriam, por seu exemplo de padre, sua amizade
e incentivo à minha vocação sacerdotal e aos estudos de parap-
sicologia e hipnose. Aos amigos e amigas da jornada da vida,
peregrinos do Reino do Pai, Deus.”
Luciano Sampaio

“Dedico minha parte deste livro a você que está lendo. É


uma troca, injusta, já que você está dedicando seu bem maior,
seu tempo, a mim, a nós. Espero, sinceramente, te dar algo de
útil, uma luz, uma ideia, uma esperança. Se precisa de ajuda,
que te inspire a procurar um proÀssional. Se trabalha com te-
rapias, ou pretende, que te impulsione a se aperfeiçoar mais e
mais, para ser um poderoso instrumento de mudanças posi-
tivas na vida das pessoas. Aos meus colegas de Jornada, meu
muito obrigado pelo convite e pela oportunidade. Entendo
que a Hipnose pode ser utilizada de diversas maneiras; a Hip-
noterapia, só com Amor. A todos vocês, o meu.”
Rogério Castilho
Apresentação
É com enorme satisfação que recebi a incumbência do
Prof. Rogério Castilho em tecer uma crítica sobre este li-
vro. Em primeiro lugar, já o conheço como pessoa e como
profissional. Já intercambiamos cursos. Posso afirmar que
possui competência, conhecimento, experiência e maestria
de sobra, no mister a que se propõe fazer. Quanto ao Prof.
Luciano Sampaio, também o conheço pessoalmente quando
ministrei cursos de Hipnose Clínica e de Hipnose Foren-
se em Fortaleza – CE e, também, por literatura. Sinônimo
de conhecimento, didatismo, dedicação e prática clínica.
Eu não preciso conhecer os Profs. Cláudio Chaves e José
Anastácio de Sousa Aguiar para por meio da leitura de seus
escritos, perceber e compreender a profundidade de seus
estudos e competências que transparecem das suas exposi-
ções escritas.
Isto posto, analisando o conjunto da obra dos auto-
res, transpostos no livro, penso que vem preencher uma
lacuna existente na área de casos clínicos em Hipnote-
rapia. Manifestam um conhecimento profundo em várias
áreas do conhecimento terapêutico, citando-se, desde a
Psicanálise, Gestalterapia, Terapia Analítica de Jung, Te-
rapias de Regressão, PNL e outros, integrando tudo isso à
hipnose clínica.
Tais autores conhecem, tem a experiência, sabem,
gostam do que fazem e fazem bem feito. Na minha concep-
ção, tudo isso é a chave do (e para o) sucesso! Recomendo
às pessoas da área e aos iniciantes. Terão os leitores muito a
ganhar, a aprender e a acrescentar ao seu cabedal de conhe-
cimentos já adquiridos. Desejo bom proveito e boa leitura
aos leitores adquirentes desta obra singular. Por outro lado,
externo os meus mais profundos e sinceros parabéns aos
escritores pela boa escolha e seletividade dos temas e dos
casos clínicos. Com certeza um grande diferencial e sucesso
na área!
Dr. Rui Fernando Cruz Sampaio
Médico Psiquiatra e Psiquiatra Forense,
Psicólogo, Hipnoterapeuta e Hipnólogo há 39
anos, Fundador do Laboratório de Hipnose
Forense do Instituto de Criminalística do
Estado do Paraná.
Prefácio
Encontrava-me em Fortaleza, numa sala de aulas repleta
de mulheres e homens sedentos por novos conhecimentos de
hipnose e as suas aplicações, com obliquidade na teoria e na
prática do exercício da psicanálise, quando, de repente, vejo
um certo movimento entre os presentes, demora um pouco e
aproxima-se de mim o nobre colega Cláudio Chaves e me in-
daga se eu poderia prefaciar uma obra literária resultante das
experiências clínicas dele e de mais três, tão notáveis quanto
ele, segundo meu conhecimento, verdadeiras revelações que
transformam o Estado do Ceará, como grande expressão da
hipnose no Nordeste brasileiro.
Surpreso, honrado, por tamanha conÀança e não de mui-
to fácil tarefa, não pude me furtar ao convite. Aceitei-o cons-
ciente da responsabilidade de trazer aos privilegiados que
tornarem este livro uma bússola didática, cuja apresentação
de cada capítulo e dos casos clínicos experienciados pelos
autores obtiveram uma forma singular de transmitir o legado
do pai da hipnose, Dr. Franz Friedrich Anton Mesmer, (1734-
1815), nascido em Iznang, Swabia, Alemanha, em 23 de maio
de 1734 e dos seus mais variados discípulos.
Destaco a linguagem usada nesta literatura, que certamen-
te facilitará a compreensão dos leitores, disponibilizando uma
forma contemporânea de aprendizagem dos mais signiÀcativos
temas estudados na atualidade: Reprogramação Mental, Tera-
pias de Vidas Passadas e a Hipnoterapia no tratamento, prati-
camente, de todas as patologias que aÁigem a humanidade.
É muito comum que me perguntem como a hipnoterapia
(hipnose clínica) trata meus pacientes e quais casos podem
ser assistidos por essa técnica. Diferentemente do que muita
gente pensa, a hipnose clínica não ajuda a resolver apenas qua-
dros relacionados aos transtornos mentais, que nesse caso são
problemas emocionais, mas também contribui na garantia de
mais qualidade de vida ao atuar em outros casos.
O conteúdo dos casos clínicos aqui relatados responde,
através da dedicação dos autores, ao longo de várias décadas e
de muitos estudos, o que todos querem saber, além de quebrar
paradigmas e dissolver mitos que algumas pessoas imputaram,
por simples desconhecimento, a hipnose e a sua extraordiná-
ria contribuição, aplicabilidade e benefícios.
No século XXI está havendo uma verdadeira explosão
das mais variadas formas do uso da hipnose no mundo e em
todos os campos relacionados ao homem e as suas necessi-
dades. O tratamento das patologias é o mais comentado, mas
também já é por demais notório, que com vistas a redução das
resistências limitadoras das ações, impulsionadas pelo instin-
to humano (Id – Inconsciente), é resultante do estado alterado
de consciência, vivenciados cotidianamente. Denomina-se tal
entendimento, como uma maneira que foi desenvolvida sem
censura, sob a forma de mecanismos de defesa, para tornar a
vida menos pesada e consequentemente mais prazerosa, ideal
da essência de todos que buscam viver mais e melhor.
Dr. Reginaldo RuÀno
Psicanalista e Hipnoterapeuta
Sumário
Dedicatória
Apresentação – Dr. Rui Fernando Cruz Sampaio
Prefácio – Dr. Reginaldo RuÀno

Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que sua


mente tem que você precisa conhecer
Cláudio Paulino Chaves por ele mesmo ..................................... 13
Caso I - Quando o castigo do pai se transforma em dor,
sofrimento e ira ................................................................................. 17
Caso II - Quando o suicida suplica pela vida ........................... 28

Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as respostas às


suas questões mais importantes podem estar onde você
nunca imaginou
José Anastácio de Sousa Aguiar por ele mesmo ...................... 45
Caso I - Uma regressão a vidas passadas; ou Conhecendo a
origem da dor para curar-se........................................................... 51
Caso II - A formação de um Complexo; ou O Amor e o
Perdão como ressigniÀcantes universais................................... 55
Caso III - A prisão autoimposta (in)voluntária; ou A retomada
da liberdade pessoal ....................................................................... 59
Caso IV - Sonhos, mensageiros dos complexos; ou
A amorização pelo Método PANG ............................................. 62
Caso V - A função da ovelha negra; ou O poder destruidor
da vida de mentiras e aparências ................................................. 66
Caso VI - O desequilíbrio do ‘Animus’; ou O que signiÀca
mesmo ganhar a vida?..................................................................... 70
Caso VII - O desequilíbrio da ‘Anima’; ou Perfeição
ou felicidade? ........................................................................74
Caso VIII - A autoconÀança agressiva e a fragilidade interior;
ou A função compensatória dos opostos junguiana ...............77
Caso IX - A dádiva como maldição e a maldição como dádiva;
ou O processo de Individuação e a (auto)busca do Si-mesmo ...81
Caso X - O potencial curativo da Terapia de Vidas Passadas;
ou TVP, realidade ou produto do inconsciente? ..................... 84
BibliograÀa ........................................................................................ 86

Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico


Luciano Sampaio por ele mesmo ................................................. 89
Medo da hipnose? ............................................................................91
Hipnose é ciência? ........................................................................... 93
Hipnose cura?................................................................................... 95
Hipnose e imaginação ................................................................... 101
Caso I - Carlos, homossexual por introjeção inconsciente?...... 103
Caso II - O corpo é vítima da mente ..........................................105
Caso III - Auto-hipnose e seu poder..........................................107
Caso IV - Hipnose e progressão ao futuro ................................113
Caso V - O amor hipnótico curou Tatiane............................... 115
Caso VI - Cláudia liberta-se de síndrome do pânico .............117
Caso VII - Milena virava o demônio: por quê? ........................120
Caso VIII - Vanice mamou na mãe que morrera no parto... 124
Caso IX - Neuma revive e reprograma um aborto .................126
Caso X - Hipnose liberta Pedro de pedoÀlia ...........................127
BibliograÀa .......................................................................................130

Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua


melhor versão
Rogério Castilho por ele mesmo ................................................133
Caso I – O menino que não comia.............................................. 141
Caso II – A mulher que fora abusada ........................................147
Caso III – A mulher que fumava .................................................150
Caso IV – O homem com claustrofobia ....................................153
Caso V – A mulher com medo de avião ....................................156
Caso VI – A mulher que comia demais .....................................158
Capítulo I
Reprogramação mental.
Os segredos que sua mente tem
que você precisa conhecer
Sobre o Autor

Cláudio Paulino Chaves


(85) 99970.0007
* idhclaudiochaves@uol.com.br
idhclaudiochaves
idhclaudiochaves

Sou um apreciador do autoconhecimento e de formas tera-


pêuticas de alivio rápido dos sintomas emocionais com ênfase em
neuroses. Isso se deve ao fato de ter sido adotado aos dois anos
de idade e recebido uma educação repressora, e também por ter
apanhado muito nas principais fases do meu desenvolvimento fí-
sico e emocional. Desde cedo alimentei a curiosidade por temas
não convencionais para crianças e adolescentes como eu, focando
principalmente em assuntos relacionados a alívio de dores afeti-
vas. Eu queria saber o porquê daquela sensação de estar sendo
cortado por dentro e do constante nó que me sufocava a garganta.
Na minha formação sempre tive pouco apreço pelas dis-
ciplinas tradicionais ensinadas na escola. Procurei sempre co-
nhecer as explicações do porque sofremos e as possíveis alter-
nativas para minimizar esse sofrimento. Encontrar respostas
convincentes que me proporcionassem bem estar era o meu
objetivo. Procurava ansiosamente uma chave que abrisse a
porta para solucionar esse mistério. A princípio conheci solu-
ções religiosas, teológicas, ÀlosóÀcas, senso comum. Nada sa-
tisfazia minha exigente e obstinada busca de conhecimentos
que me permitissem mudanças rápidas e práticas.
Fiz dezenas de terapias. Desejava ansioso, um alívio para
as minhas angustias e sensações de não pertencer a este mun-
do. Eu queria uma resposta para minhas inquietações. As luvas
não se encaixavam nos meus dedos.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |13
Sobre o Autor

Em 08/01/1996 Àz meu primeiro curso que abordava as


técnicas de Programação Neurolinguística. Encontrei a pri-
meira parte das soluções que eu procurava. Tive a oportu-
nidade, na prática, de experimentar a fórmula de como me
livrar da maior dor que eu carregava em minha alma. Ressen-
timentos pesadíssimos contra minha mãe adotiva. Depois de
cinquenta minutos de sessão, com técnicas de PNL, tudo que
eu tinha em relação àquelas mágoas simplesmente evapora-
ram. Fiquei maravilhado.
Eu disse para mim mesmo: “quero aprender o máximo
sobre essa abordagem que nos permite ter resultados rápi-
do”. De lá para cá foram muitos cursos e algumas formações
em Practitioner e Master em PNL. Acumulei mais de 532
horas de treinamentos. Agradeço aos meus dois principais
mentores nessa arte, a queridíssima amiga Márcia Muniz, a
quem muito estimo, e ao Rogério Castilho, coautor deste li-
vro, amigo e parceiro.
Lamento o fato desses ensinamentos não fazerem parte
da nossa educação convencional. Muitas pessoas desconhe-
cem a PNL. Por isso, estou elaborando um treinamento de ses-
senta horas de estudos teóricos e práticos intitulado: “O mapa
da mente” - Manual do autoconhecimento emocional.
Sinto-me no dever de dar essa contribuição na área do
autodesenvolvimento.
Na busca por mais conhecimento que completasse a for-
mula terapêutica de alívio rápido de sintomas, foi que em 30
de Julho de 2000 Àz meu primeiro curso de hipnoterapia com
o professor Gilberto Carvalho. Outra onda de contentamento
apoderou-se de mim. Fiquei tão envolvido com a capacidade
dessas técnicas que depois disso Àz 26 cursos das mais va-
riadas técnicas de hipnose com grandes conhecedores no as-

Casos Clínicos em Hipnose:


14 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Sobre o Autor

sunto. Cito alguns: a psiquiatra Dra. SoÀa Bauer, o psicólogo


e amigo Rogério Castilho, o Àlósofo e também amigo Lucia-
no Sampaio, o jurista Anastácio Aguiar, meu irmão de longas
conversas sobre a mente humana e transcendência, o médico
Psiquiatra Dr. Rui Sampaio, Fábio Puentes, Alberto Dell’Isola,
meu nobre amigo Reginaldo RuÀno, entre outros, totalizando
até o momento 460 horas de preciosos treinamentos. A pedido
de amigos e conhecidos elaborei o meu próprio treinamento de
hipnose, que ministro a cada dois meses.
Na condição de Hipnoterapeuta, uso a PNL e Hipnose
como as duas principais ferramentas, com as quais me identi-
Àco pela sua aplicabilidade e eÀcácia nos resultados.
Tive a satisfação de fazer curso de Coaching, com Mário
Rocha e dois cursos de Eneagrama, um com o Padre Domin-
gos Cunha e outro com André Batista. Nessa caminhada, tive
o prazer de conhecer o Carlos de Souza e Bruno Rodrigues que
participaram de um curso que ministrei. Eles me apresenta-
ram uma ferramenta extraordinária, que acabaram de desen-
volver, chamada MI3D, que é capaz de identiÀcar e mapear os
perÀs comportamentais e emocionais do indivíduo. Foi então
que fui convidado pelos dois para colaborar nesse treinamento
na parte referente a reprogramação mental.
Usando um mix de todos estes conhecimentos aliados
a uma sensibilidade de sintonia com quem me procura, tenho
conseguido resultados satisfatórios na grande maioria dos
casos em que atuo. As duas narrações que faço a seguir são
demonstrações do passo a passo das técnicas aplicadas, bem
como dos respectivos resultados obtidos.
Atualmente trabalho como Hipnoterapeuta. Meu desejo é
ajudar as pessoas a encontrarem a sua felicidade emocional.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |15
Cláudio Paulino Chaves

Caso 1

Quando o castigo do pai se transforma em


dor, sofrimento e ira

Esta história é narrada pelo próprio cliente, a partir de


sua perspectiva. Minha intenção é apresentar uma versão con-
tada por quem passou e viveu o processo de uma regressão de
memória e uma ressigniÀcação de trauma.
Era uma fatídica tarde de terça feira, em meados de maio
de 2015. Minha psiquiatra estava viajando e os comprimidos
estavam no Àm. Só restavam dois. Eu temia entrar numa crise
incontrolável caso meus remédios acabassem. Cheguei meio
tímido à sala de atendimento do Sr. Claudio Chaves. Para que-
brar o gelo, lembro-me que tivemos uma conversa sobre Àloso-
Àa, mas não lembro ao certo o tema central. Após a conversa,
eis que veio a pergunta: “Em que posso lhe ajudar?”.
De início Àquei sem saber direito o que dizer. Confesso
que estava um pouco nervoso.
– Tudo o que eu quero é controlar a minha agressividade
e falta de paciência.
– Você poderia ser mais especíÀco? – perguntou-me o
terapeuta.
– O que eu quero mesmo é resolver esse meu problema.
– Embora você tenha me dado um oceano para procurar,
vamos trabalhar – brincou o terapeuta.
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |17
Cláudio Paulino Chaves

Conversamos durante uma hora sobre alguns acontecimen-


tos da minha vida e sobre os caminhos que a sociedade trilha. Re-
Áetimos sobre como as pessoas se distanciam da sua verdadeira
essência e como isso era extremamente prejudicial. Foi uma con-
versa esclarecedora. Parecia que eu estava no rumo certo. Acabada
a sessão, o senhor Cláudio pediu para que eu voltasse na semana
seguinte. Disse que iríamos procurar um caminho onde o equilí-
brio fosse restabelecido dentro da minha mente sábia. Naquela se-
mana, Àquei extremamente pensativo e muito esperançoso.
As minhas reÁexões levaram-me a compreender os motivos
pelos quais os meus tratamentos, ao longo de tantos anos, não
haviam resolvido muita coisa. Eles atacavam a consequência, mas
não sabiam lidar com a causa. Para conhecer os meus problemas
bastava ouvir a minha história por alguns minutos. O que não À-
cava claro era o tratamento. A forma como atacar o mal pela raiz.
Uma semana depois, bastante empolgado, voltei para a
sala de atendimento do Sr. Claudio. Logo iniciamos uma con-
versa trivial por alguns minutos. De repente, veio a pergunta
crucial: “Você quer resolver este conÁito? Você está mesmo
disposto? Saiba que para isso funcionar você precisará querer
com todas as suas forças”.
Aquelas perguntas soaram como música para os meus
ouvidos. Respondi que sim com todo vigor. Tomada a decisão
ele me perguntou: “O que mais te incomoda?”. Respondi que
era a incontrolável agressividade. Citei um exemplo de como a
agressividade se transformava rapidamente em fúria.
Quando fazia sinal para um ônibus e o motorista não pa-
rava eu Àcava tão furioso que uma força incontrolável saía de
dentro de mim, transtornando todo o meu ser. Eu começava a
xingar, a esbravejar, e se tivesse um pau ou uma pedra à mão
eu não hesitava em atirar. Enquanto narrava aquela situação,

Casos Clínicos em Hipnose:


18 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

chamou-me à atenção a maneira respeitosa e tranquila como o


terapeuta olhava para mim. Parecia querer dizer: “Fique tran-
quilo! Tudo isso vai passar”. Mesmo assim foi sincero ao dizer
que não poderia me garantir nada. O que o deixava conÀante
eram os resultados obtidos, uma vez que a grande maioria dos
casos havia sido resolvida em até sete sessões. Fiquei torcendo
para o meu caso ser um desses. Ele fora muito franco comigo.
Nesse momento me convidou para sentar em uma pol-
trona confortável e aplicou uma técnica de relaxamento pro-
gressivo. Entrei em um estado profundo de relaxamento e
começamos a embarcar numa viagem através do meu incons-
ciente. Depois de vasculhar muitas memórias e buscar o início
daquela minha revolta, de toda a minha agressividade, remon-
tamos a uma memória tão antiga, que nem fazia ideia que ain-
da tivesse registro dela.
O Sr. Cláudio pediu-me para que eu fosse para um lugar
seguro. Um lugar onde eu me sentisse confortável e tranquilo.
Ali, por algum tempo, pude deliciar-me com uma quietude e paz
que nem sonhava que existisse dentro de mim. Só aquela expe-
riência já pagava a sessão. Depois ele me disse que precisávamos
resolver algo muito importante para a minha vida. Pediu para
que eu me concentrasse na pior raiva, no pior ódio, na pior fúria
que já tinha tido até então. Que eu buscasse ao máximo aquela
sensação. Perguntou-me como eu estava me sentindo. Eu disse
que péssimo. Ele então pediu para que eu imaginasse que estava
andando numa estrada muito longa com aquela sensação e que
ela iria me levar à causa inicial onde tudo aquilo havia come-
çado. “Ande nessa estrada – disse-me ele. Ande depressa! Mais
depressa ainda!”. Na medida em que ele falava ia também esta-
lando os dedos. De repente, ele disse: “agora!”, e estalou os de-
dos ainda com mais força. Após isso tocou a minha testa. “Onde
você está nesse momento?” - perguntou.
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |19
Cláudio Paulino Chaves

– Eu estou em casa com papai e a babá.


– Qual sua idade? – me perguntou.
– Tenho seis anos.
– Diga pra mim o que você está vendo, ouvindo e sentin-
do. Tudo o que você está vivenciando agora.
– Meu pai me chamou e disse para eu ir à padaria com a
babá comprar pães. Era a primeira vez que faria isso. Esperei
muito tempo por esse dia. Senti um orgulho incalculável. Era
muito importante para mim comprar aqueles pães para ele.
Era como se eu fosse alguém que ele amava muito. Fazer uma
tarefa para ele era super importante para mim. Eu estava cheio
de orgulho. Ao me pedir para fazer aquela compra, o meu pai
demonstrava estar conÀando em mim.
Segurei a mão da babá e saímos. Ao chegar próximo à pa-
daria soltei a mão dela e corri para chegar primeiro. Ela deu um
grito ensurdecedor dizendo para eu tomar cuidado com os carros.
Não havia nenhum carro. Mas, mesmo assim, ela disse que ia con-
tar tudo para o meu pai. Eu não havia feito nada errado, pensei.
Na volta eu pedi para levar o saco com os pães. Ao nos aproxi-
marmos de casa, novamente saí correndo para entregar os pães
ao meu pai. Eu estava muito feliz. De repente, a babá falou para
ele que eu havia soltado a mão dela e atravessara a rua correndo e
um carro poderia ter me acidentado. Imediatamente o rosto dele,
que até então estava sereno e tranquilo, transformou-se num ros-
to esquisito, de raiva e contrariedade. Ele tomou o saco da minha
mão e jogou em cima de uma cadeira. Carregou-me para dentro
de casa. Independente do motivo, o que ocorrera foram gritos e
mais gritos, humilhações, xingamentos e, então, ele tirou o cinto
de sua calça e começou a dar algumas lapadas naquela criança in-
defesa. Lembro que ela apenas tentava, em vão, fugir daquele cin-
to de couro certeiro. Dava vontade de correr, mas sabia que seria

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

pior. Enquanto os desumanos golpes eram desferidos, palavras de


ordem como “Engole esse choro” foram proclamadas. Após cerca
de dez lapadas, a criança foi mandada para seu quarto sem poder
chorar. Desabou na cama e Àcou ali, sozinha, por horas. Não havia
uma Àgura materna ou sequer uma Àgura de apoio para enxugar
as lágrimas. Era só a criança, Deus, e muitas duvidas. Sem falar
no sentimento enorme de impotência. O que eu havia feito de tão
errado se tudo o que Àz fora só para ajudar? Será que eu não era
amado? Certamente que não! – pensei.
O Sr. Claudio então me perguntou:
– O que você está sentindo?
Angústia, revolta, raiva, rancor, ódio, amargor, injustiça
– respondi.
Para mim estava muito claro o que acontecera. Ali estava a
origem de tudo. Lembro-me que eu tremia de revolta na cadeira.
Tudo aquilo parecia muito real. E de fato, era. Aquela criança
era eu. E estava sendo castigada apenas por ser o que ela era:
uma criança. Além disso, ela nem sequer podia ter um suporte.
Que tipo de pessoa faria uma monstruosidade dessas contra um
ser indefeso, sem a menor noção da realidade? Como que uma
criança de seis anos entenderia que aquela agressão era apenas
para o seu bem? Nunca ninguém chegou e explicou para ela, de
forma que realmente pudesse entender que não deveria brigar
com as irmãs, que deveria andar de mãos dadas com a babá, e
que aquelas atitudes eram prejudiciais para ela mesma. Apenas
quiseram impor padrões de comportamento que ela não com-
preendia e não concordava. E, ainda por cima, haviam sido im-
postas através de violência. Nem deram chance dela se lamen-
tar. De ter um ombro afetivo ou até mesmo de se explicar. Tudo
isso era revoltante. Onde estava a presença da minha mãe? Onde
estava o juízo do meu pai? Eu era apenas uma criança!

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |21
Cláudio Paulino Chaves

O castigo físico doía. Mas doía muito mais o castigo emo-


cional por conta das fortes palavras vindas da boca de meu pai.
Eu não queria ouvir aquilo. Tudo que eu queria era que ele enten-
desse que eu atravessei a rua porque eu queria voltar logo com as
compras para agradá-lo. Nesse momento, o senhor Cláudio pediu
para que eu parasse a cena. Parei! – disse eu disse. Ele continuou:
– Como você está se sentindo?
Com muito medo. Estou nervoso e com raiva do meu pai.
Se eu fosse do tamanho dele duvido que ele Àzesse isso comigo.
Aí ele pediu para que eu deixasse a cena parada. Nesse
momento, o senhor Cláudio pediu para que eu voltasse para o
meu lugar seguro. Imediatamente me vi nesse lugar, não como
uma criancinha, mas com a minha idade atual. A criança Àcou
lá parada na cena.
O terapeuta começou a conversar comigo, eu continuava
em transe.
– Você quer ir lá ajudar aquela criança indefesa?
– É tudo o que mais quero – respondi – Ela não pode
Àcar lá abandonada, sem proteção.
– Muito bem – disse-me ele. Vamos lá então. Fique tran-
quilo, pois estarei a todo o momento ao seu lado.
Ouvir isso foi reconfortante. Um, dois e três – estalou os
dedos e disse para eu voltar lá. Imediatamente voltei para a cena
que estava parada. Ele pediu para que eu visse e vivesse tudo aqui-
lo como se estivesse dentro de uma bolha transparente que me
protegeria de toda a emoção negativa e que me daria a força ne-
cessária para resolver aquela questão. Ele pediu para que eu me
aproximasse da cena que estava Àxa, observasse, e Àcasse atento,
porque ele iria pedir para que a criança deixasse a cena seguir.
– Você precisa de ajuda para se sentir forte e tranquila?

Casos Clínicos em Hipnose:


22 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

Sim! – respondeu a criança.


Eu via perfeitamente tudo o que estava acontecendo. De
repente, o terapeuta me disse:
– Aproxime-se da criança. Lembre-se que essa bolha
está protegendo você de qualquer emoção negativa.
Eu me aproximei da criança.
– Ele está pedindo para que eu lhe pergunte se você quer
a minha ajuda.
– Ela disse que sim! – respondi.
– Então pergunte o que ela mais precisa para se sentir
forte e segura?
– Ela respondeu que quer se sentir protegida. Que o pai
entenda que ela não fez as coisas como ele está pensando. Que
ela não queria magoá-lo nem que ele Àcasse com raiva.
Tudo que a criança me dizia eu contava para ele. Agora
ele está pedindo para eu me abaixar e Àcar à altura dela. Pediu
para eu dizer que estava ali para protegê-la, e que tudo seria
resolvido e que eu a abraçasse e lhe transmitisse muita segu-
rança. Também me perguntou se eu queria falar com o meu
pai. Respondi que sim. Então ele orienta para que a criança
que está comigo preste muita atenção na conversa.
Ele sugere, então, para que eu fale com o meu pai para
esclarecer o ocorrido. Nesse momento, senti uma emoção muito
diferente. Senti que deveria esclarecer algo que estava muito mal
compreendido. Argumentei que talvez ele não quisesse, mas que
estaria fazendo uma grande injustiça contra um inocente. Meu
pai imediatamente quis saber do que eu estava falando. Eu lhe
disse que qualquer que fosse o motivo que o estivesse levando a
falar daquela forma, que ele se lembrasse que ela era apenas uma
criança e, além do mais, seu Àlho. Não se espanca um Àlho, ainda
mais uma criança como se fosse um escravo. Nessa hora senti
Casos Clínicos em Hipnose:
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Cláudio Paulino Chaves

aquela frágil e pequena mãozinha apertar levemente a minha


mão como se me dissesse que conÀava em mim e que era aqui-
lo que ela queria que eu esclarecesse. Continuei – falar daquela
forma e castigar daquele jeito era a pior maneira dele resolver a
situação. Falei para ele que uma criança não vê as coisas como
um adulto, porque ainda não tem seu aparelho psíquico forma-
do e amadurecido para compreender o mundo como ele é. Que
aquela reação que ele teve com ela, estava minando a relação de
segurança, conÀança e amor que havia entre os dois. Aquilo po-
deria desencadear vários distúrbios emocionais. Que uma crian-
ça, quando faz algo diferente do que os pais querem, não é com a
intenção de declarar guerra, de simplesmente desobedecer. Elas
têm um motivo próprio e particular, e que muitas vezes é total-
mente diferente de como ela é interpretada pelo adulto.
Naquele instante meu pai baixou a cabeça e um grande
arrependimento se apoderou dele. Houve um silencio naquele
momento. Meu pai levantou a cabeça e disse que estava sentin-
do vergonha de ter feito o que fez. Ele disse que nunca imaginou
que aquilo pudesse ter os resultados que eu acabei de falar. Disse
ainda que foi a maneira como ele aprendeu a educar, e que nunca
havia parado para pensar que fazendo a correção daquela forma
poderia provocar tanto sofrimento. Falei que, quando ele havia
deixado pela primeira vez a criança ir à padaria com a babá, ela
sentira orgulho e satisfação em poder fazer algo importante para
o seu pai. Que ela havia esperado ansiosamente por aquele dia.
Que o que a levou a soltar a mão da babá e atravessar a rua foi ape-
nas a vontade de fazer as compras, voltar rapidamente, para não
deixar o seu pai esperando. E que na volta ela queria tanto agradar
o pai que voltou correndo para lhe entregar o embrulho e obter
sua aprovação por ter podido fazer algo tão importante para ele.
Nesse momento, as lágrimas de arrependimento correm
pelo rosto do pai. Ele olha para a criança, curva-se diante dela e
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Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

se ajoelha para pedir perdão. Embora magoada, a criança abra-


ça o pai e diz que o ama muito. Os dois vivem um momento
inteiramente restaurador e mágico. As cicatrizes daquela má-
goa foram inteiramente restauradas. Eu só larguei a mão dela
na hora do abraço. Na verdade, eu também estava abraçando
os dois. Naquele momento pude compreender que os adultos,
quando traumatizam emocionalmente as crianças, os adoles-
centes ou até mesmo outros adultos, não têm noção do tama-
nho da dor que suas indiferenças, suas injustiças e suas ma-
nias são capazes de provocar nos outros. Naquele momento,
eu pude compreender o que é arrependimento e o verdadeiro
poder do perdão. Pude também compreender as palavras de
Jesus quando cruciÀcado. No âmago da dor, ele brada “Pai per-
doai, pois eles não sabem o que fazem”. Posso garantir que não
sabiam mesmo. Nós não sabemos. Se soubéssemos, faríamos
tudo muito diferente.
De repente, eu ouço a voz do terapeuta:
– Pergunte-lhe como ela está se sentindo agora?
– Ela está bem – respondi.
– E você, como está se sentindo?
– Muito bem – respondi.
– Pergunte-lhe também se ela quer que você a proteja de
hoje em diante?
– Ela quer sim.
– Mas e você? Quer protegê-la também?
– Quero muito!
– Então, convide-a para conhecer o seu lugar seguro. Se
ela aceitar vá até lá com ela.
– Sim ela aceitou. Já estamos aqui brincando. Nos diver-
tindo muito – respondi

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |25
Cláudio Paulino Chaves

– Brinquem bastante. Mostre para ela como é bom estar


assim em paz. Sentir-se tranquila e segura. Aos poucos vá permi-
tindo que essa criança comece a entrar dentro de você para que
os dois sejam o que verdadeiramente são - um só. Se a sua criança
se sentir feliz e segura, tudo isso será passado a você na forma de
leveza, de alegria, de paz interior e de muita tranquilidade. Agora,
o seu lado adulto e o seu lado criança se integraram totalmente.
Vocês serão uma única pessoa, muito mais forte e destemida. Já
que estão juntas e integradas, permita que a sua mente inteligente
e sábia restaure todas as relações e acontecimentos antes preju-
dicados por conta daquele trauma. Você não precisa saber como
isso acontecerá. Sua mente sábia sabe muito bem como fazer.
Simplesmente deixe-se levar, limpar a sua alma, e Áuir. Permane-
ça assim por mais algum tempo. Eu volto já para falar com você.
Tudo à minha volta permanecia em silêncio. Mas, dentro de
mim, algo estava ainda acontecendo. Sentia-me alegre, tranquilo,
restaurado e completo. Podia aÀrmar, sem sombra de dúvida, que
essa foi uma das melhores sensações que já tive em minha vida.
Ao retornar, o terapeuta pediu para que eu me concen-
trasse na sua voz.
– Quero que você se veja agora naquela cena inicial.
Aquela onde você teve a pior raiva. Como você se sente?
Algo estranho e maravilhoso estava acontecendo. Sim-
plesmente a emoção era totalmente outra. Aquela ira havia
acabado e minha relação com ela era de neutralidade e com-
preensão. Era a mesma cena. Mas a minha emoção em relação
a ela era outra. Fiquei maravilhado.
Fiquei pensando sobre as pessoas, minhas conhecidas,
que estão vivendo um inferno mental e emocional, por falta de
vivenciar uma experiência dessas. O senhor Cláudio voltou a
falar comigo.

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26 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

– Como você está se sentindo em relação aquela cena?


– Ela não me afeta mais. Estou tranquilo. A ira se foi.
– Muito bem, muito bem. Agora quero, se você também
quiser, que a partir de hoje, todas as vezes que algo conÁitante
surgir em sua vida, você se comporte com ponderação, discerni-
mento e sabedoria. Que você se relacione com o contraditório de
forma a ter domínio e o máximo controle possível sobre as situa-
ções conÁitantes. Que você use suas sabedorias internas para
lhe ajudar a se relacionar da melhor forma possível com as con-
trariedades. O que você acha dessa nova forma de se comportar?
– Eu sonho com isso. Quero ser senhor das minhas emo-
ções e não vitima delas. Eu sei que a partir de hoje minha rela-
ção com os conÁitos do dia a dia serão bem diferentes.
Desde aquela data, eu não fui mais a mesma pessoa. Os
episódios praticamente mensais de explosões de raiva simples-
mente cessaram. Sempre que precisava me acalmar, quando mi-
nha mente começava a perder o controle, bastava acessar aquele
sentimento através de um totem, que eu relaxava completamen-
te. Desde a última sessão, há aproximadamente um ano e quatro
meses, o único episódio em que eu explodi ocorreu pelo fato de
ter bebido um pouco além da conta e estar sob uma situação
extremamente estressante, a qual acho não valer a pena relatar
aqui. Nunca me imaginei tão tranquilo em toda a minha vida. Eu
me considero completamente curado dos episódios de explosão.
É claro que ainda me aborreço com certas coisas. Ainda dis-
cuto e sinto raiva e angústia. Mas agora eu sou um ser humano que
pode se sentir normal. Consigo ter reações equilibradas. Aquela
memória que estava em mim, que me revoltava, perdeu o sentido.
Eu renasci. E, por isso, serei sempre muito grato ao senhor Claudio
Chaves. Nem precisei de sete sessões. Foram bem menos.

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Cláudio Paulino Chaves

Caso 2

Quando o suicida suplica pela vida

Há alguns anos, num sábado, recebi uma ligação de uma se-


nhora de nome Luzia. (Os nomes que utilizo neste trabalho são
Àctícios). Ela estava aÁita e fez-me várias perguntas consecutivas:
O senhor trabalha com esse negócio de hipnose? Todos os casos
dão certo! O senhor garante que a pessoa Àca boa? O Sr. sabe tirar
da cabeça das pessoas a vontade delas quererem se matar?
Expliquei para ela que a hipnose é uma ferramenta de
grande auxílio e o que eu faço é conduzir a pessoa para que
ela mesma se resolva internamente. Esclareci que a pessoa Àca
consciente o tempo todo e depois ela lembra exatamente o que
aconteceu. Que tenho êxito, como disse, na grande maioria dos
casos e que a única garantia que posso dar é a do meu máximo
empenho. AÀrmei também que já tive êxitos nos mais varia-
dos casos, inclusive em alguns em que os clientes acabaram
desistindo do suicídio. Ela Àcou um pouco desapontada com
algumas respostas, mas elogiou a minha sinceridade.
Encontramo-nos na sala de atendimento. Seu desesperado
empenho em procurar ajuda era para sua neta de vinte e seis anos,
que estava desistindo de viver. Luzia descobriu uma carta de des-
pedida da neta. A carta dizia que o único impedimento que a sus-
tentava era não deixar a avó sozinha e desamparada, e que rezava
muito para Deus lhe tirar aqueles pensamentos da sua cabeça.

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28 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

A neta se chamava Elizabeth. Já havia sido casada uma


vez. Desiludiu-se e separou. Levava uma vida normal e vivia
com a avó. Estava namorando um rapaz há cerca de três anos.
A relação era boa, mas caíra na rotina e acomodação. O rapaz
terminou o namoro. Depois daquele dia, tudo mudou na vida
de Elizabeth, que caiu em um processo de tristeza, depressão e
vontade de desistir de viver. Marcamos uma nova sessão, ago-
ra com a presença da Elizabeth. As duas compareceram no dia
seguinte, mas Luzia Àcou esperando na recepção.
Depois de fazer as perguntas rotineiras, perguntei: como
você se vê? Na resposta, Elizabeth enfatizou que se via como
uma pessoa fraca, inútil e sem graça. Que a vida perdera o
sentido, e tudo que ela queria era desaparecer. Não dava para
esperar uma resposta muito melhor do que essa para alguém
que havia traçado um projeto de morte. Perguntei-lhe quan-
do tinha surgido aquela impressão negativa a seu respeito. Ela
disse que o estranho era o fato de sempre ter sido uma pessoa
conÀante, cheia de entusiasmo, que sempre gostara de estudar
e trabalhar, mas que há uns quatro meses se sentia deÀnhando,
sem saber como reagir. Essas mudanças começaram quando
meu namorado terminou o relacionamento.
A sessão já estava quase chegando ao Àm quando eu
lhe Àz uma pergunta enfática: você quer esquecer o seu ex? A
resposta também foi enfática: Quero sim! não tenho nenhuma
dúvida. Conversamos um pouco mais e perguntei quando ela
gostaria de marcar o próximo encontro. Pode ser amanhã? –
perguntou. Peguei a agenda e marcamos para o dia seguinte.
Elizabeth estava sozinha. Achei um bom sinal. Ela ex-
plicou que preferiu vir só para não incomodar sua avó. Disse
também que passara o dia anterior, depois do nosso encontro,
pensando sobre o que havíamos conversado. Ela confessou que

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |29
Cláudio Paulino Chaves

nunca imaginara que seria possível uma pessoa ajudar outra a


esquecer alguém de forma tão simples como eu aÀrmara.
Fiz ver a Elizabeth que não apenas eu, mas outros colegas
também são preparados e competentes para ajudar pessoas a
eliminarem pensamentos perturbadores de suas cabeças. Que
também Àco impressionado com a quantidade de indivíduos
que sofrem por falta de um auxílio adequado, ou ainda por
desconhecerem que essa ajuda é possível. Mostrei a Elizabeth
que o princípio regulador desse processo é uma máxima do
Dr. Milton Erickson que diz que se a mente é capaz de criar
um problema, ela também é capaz de resolvê-lo. Essa reÁexão
deixou Elizabeth sensivelmente mais conÀante.
Comecei aplicando uma técnica da PNL denominada “sub-
modalidade”. Ela consiste basicamente em você descobrir como o
cliente representa as imagens, sons, sensações e localização refe-
rente ao que quer resolver ou mudar. IdentiÀcados esses elemen-
tos foi possível, no caso de Elizabeth, diminuir o tamanho, modi-
Àcar a forma, intensidade das cores, distorcer os sons associadas
a imagem, afastar essa imagem para bem distante da pessoa dei-
xando-a cada vez menor, sem cor, e com uma nova representação
emocional sobre aquilo que antes lhe causava incomodo.
Perguntei se Elizabeth tinha uma imagem do ex em seu
celular. Como a resposta foi aÀrmativa, pedi para ver. Per-
guntei também o que ela sentia ao olhar para aquela imagem.
“Sinto um embrulho na barriga”, disse ela. – “algo muito de-
sagradável. Um sentimento péssimo!”. Esse era o gancho que
eu precisava para dar continuidade ao trabalho. “Você quer se
livrar disso agora? – perguntei com convicção. “Sim eu quero!
Mas é possível mesmo?”– perguntou Elizabeth ainda um tanto
insegura. “É possível sim! Mas para isso acontecer é preciso
que você esteja decidida”.

Casos Clínicos em Hipnose:


30 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

– Sim eu estou.
Depois de concluído o processo, pedi para que Elizabeth
olhasse novamente para a fotograÀa. Ela olhou e começou a
sorrir. Olhou novamente e sorriu mais ainda. Ficamos mara-
vilhados com o resultado. Ela me deu um abraço bem forte e
exultava de alegria: “Deu certo! Deu certo! Eu não acredito que
deu certo. Meu Deus! Eu não sinto mais nada ao olhar para a
imagem dele. Quero voar de tanta alegria”. Despedimo-nos e
Elizabeth foi para casa.
No dia seguinte, às nove da manhã, recebi uma ligação.
Era Elizabeth. Sua voz abafada, demonstrava angústia. “Está
acontecendo algo muito estranho comigo! – disse ela – Tudo
voltou novamente!”. “Como assim? – perguntei. Por favor ex-
plique melhor”. “Saí ontem daí pela manhã me sentindo muito
bem. Estava alegre e cheia de vida. Voltei a ser o que era antes.
Eu estava cheia de esperança. Pensei em voltar para minha vida
naturalmente. Mas à tarde, do nada, comecei a sentir algo estra-
nho. Apenas uma leve sensação de mal estar. Algo sem impor-
tância. Mas aos poucos essa sensação foi aumentando, aumen-
tando, e à noite já estava muito forte. Para dormir tive que tomar
remédio. Pensei várias vezes em lhe telefonar, mas me contive.
Tive uma das minhas piores noites na vida. A primeira vez que
lhe procurei os sintomas eram os mesmos, mas eles estavam di-
retamente associados à Àgura do meu ex-namorado. Agora não!
Nem penso mais nele. A angustia, o vazio interior, o sentimento
de inutilidade e a apatia, são intensos e sem motivos aparentes.
Eu ouvi atentamente todo aquele relato desesperado. Ela
tinha pensamentos suicidas e atribuía à sua incapacidade de
lidar com o fato da separação física e emocional do seu namo-
rado. Me procurara com a intenção de esquecê-lo. Acreditava
que ao remover as lembranças e a sensação da separação vol-

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |31
Cláudio Paulino Chaves

taria ao seu estado normal de equilíbrio, e retomaria a vida.


Foi aplicada uma técnica eÀcaz e, mesmo assim, toda a emoção
anterior voltara com força total.
Para mim estava claro que todos aqueles sintomas que a
Àzeram chegar até mim não era por causa da separação. A sepa-
ração fora apenas o gatilho disparador de um conjunto de emo-
ções que estavam naturalmente acomodadas, mas que foram
liberadas com o choque emocional provocado pela separação.
No dia seguinte recebi Elizabeth, acompanhada de
sua avó. Ao me ver Dona Luzia perguntou: “O que houve Sr.
Cláudio? Estou muito aÁita por ver minha neta nesse estado.
Ela chegou em casa tão alegre e sorridente! Veja como está ago-
ra!”. Expliquei que a melhora que ela havia tido fora um ganho
considerável comparada ao estado em que se encontrava. Dei-
xei claro que eu estava envolvido com a questão e que o que
dependesse de mim seria feito com o máximo empenho.
Pedi para que Elizabeth me contasse, passo a passo,
como foi que o seu estado emocional se transformara depois
que deixara a sala de atendimento. Ela narrou que estava tudo
bem e que de repente as sensações começaram a voltar sem
que tivesse controle. Quanto mais as horas passavam mais ela
se sentia sufocada, com um vazio interno muito grande e von-
tade de se matar. Perguntei se ainda se lembrava do ex. Não!
– respondeu ela. – É exatamente por esse motivo que não en-
tendo porque estou me sentindo assim.
Sugeri que Àzéssemos uma sessão de relaxamento e em
seguida uma indução. Sua avó novamente preferiu esperar lá
fora. Elizabeth sentou-se na confortável poltrona reclinável,
olhou para mim e pediu: “Por favor, me ajude. Por tudo eu lhe
peço, me ajude a trazer minha vida de volta”. Vi sua alma chorar!
Falei que tínhamos dois pontos fundamentais para fazermos um

Casos Clínicos em Hipnose:


32 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

bom trabalho: o desejo sincero dela de se livrar daquele sintoma,


e minha vontade igualmente sincera de encontrarmos juntos a
solução. Ela encheu-se de esperança e me disse: – “tenho fé”.
Depois do relaxamento progressivo, da indução e do
aprofundamento, pedi para que imaginasse um lugar que re-
presentasse para ela muita paz e segurança. O melhor lugar
possível. Quase sempre uso esse expediente – induzir a pessoa
a imaginar um lugar, imaginário ou real, onde se sinta em segu-
rança. Esse lugar servirá de abrigo no caso da pessoa, durante
a regressão, reviver alguma lembrança desconfortável e entrar
em estado de sofrimento incontrolável. Voltando ao lugar se-
guro obterá alívio imediato referente aquelas memórias, possi-
bilitando que eu retome a regressão de outra forma.
Ela concordou. Em pouco tempo seu rosto dava sinais
de que estava nesse lugar agradável e seguro. Perguntei onde
estava. “Estou em uma fazenda de meu tio. Adoro esse lugar.
Aqui é muito agradável. Só me traz lembranças maravilho-
sas”. “Muito bem!” – apoiei – Agora, quero que façamos uma
caminhada juntos, pode ser?“. “Pode sim! Respondeu. “Mas
antes quero fazer um trato. Se, em qualquer momento, eu
disser para você voltar para esse lugar seguro você o faça ime-
diatamente. Combinado? Tudo bem! – consentiu Elizabeth.
“Algumas vezes eu vou dizer algo do tipo eu quero que você
faça isso ou quero que você vá agora para tal lugar. Mas quero
deixar claro que você só irá se achar que deve ir. Que só fará o
que eu lhe peço se achar que deve fazer. Tudo bem?” – “Tudo
bem!”– respondeu.
Quero que você agora se veja no exato momento em que
saiu dessa sala de atendimento ontem. Quero que vá para sua
casa, para o instante em que você começou a se sentir mal.
Nesse momento seu rosto revelou o incômodo que ela estava

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |33
Cláudio Paulino Chaves

sentindo. Pedi para que revivesse o ápice daquele estado de


desconforto. Quando percebi que estava quase insuportável,
pedi para que se concentrasse naquela emoção e que ela fa-
ria uma viagem na busca do primeiro momento em que aquela
sensação acontecera na sua vida.
Imagine agora que você está fazendo um voo. Um voo
para o seu passado. O tempo começa a voltar. Voltar muito rá-
pido. Você começa a sentir o vento tocar o seu corpo. O vento
passa rápido, mas suave. Os seus olhos veem as imagens pas-
sando muito rápido. A sua mente sábia vai lhe levar agora para
o primeiro momento em que a dor semelhante à que você está
sentindo agora, surgiu. O tempo continua passando rápido.
Mais rápido ainda.
Neste momento estalei os dedos e disse: “Você está no
exato momento que procurávamos. Pode dizer onde está?
– Estou na casa da minha avó com minha família.
– Qual sua idade?
– Cinco anos.
– O que está acontecendo?
– Minha mãe está me açoitando com um cipó.
– Por que ela está fazendo isso?
– Porque eu roubei uma boneca de minha prima que
mora ao lado.
– Quero que você congele a cena.
– Está congelada.
– Agora quero que você saia da cena e vá para o exato
momento em que pegou a boneca emprestada de sua prima.
– Eu não peguei a boneca emprestada. Eu roubei!
– O que você entende por roubar? Eu quis investigar o

Casos Clínicos em Hipnose:


34 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

porquê dela confessar ter roubado. Havia, a meu ver, um sinal mui-
to importante na ênfase que ela dera à palavra “roubar” e não “a pe-
gar emprestado”. O que aquilo poderia signiÀcar na cabeça de uma
criança de cinco anos? Talvez ali estivesse a chave da questão.
– Eu sei que roubar é você pegar algo de alguém escon-
dido. Tomar para você nem que a outra pessoa precise. Você
quer tirar dela. Sei que isso é um erro. Isso não está certo.
– Se você sabe que isso não está certo, porque você quer
roubar?
– Porque eu sinto alegria em fazer isso. Eu gosto de pegar
as coisas das pessoas às escondidas. Fico feliz na hora em que
vejo o objeto e acabo querendo pra mim. É algo muito bom. O
fato de pegar é melhor do que o que sinto depois que já tenho
o objeto comigo.
Uauuuuu! Quanta sinceridade, eu pensei. Ela não só gostava
de roubar. Elizabeth sentia grande prazer em fazê-lo e era cons-
ciente do que estava sentindo. E agora? Como conduzir esse pro-
cesso no melhor caminho? Da forma mais conveniente e eÀcaz?
A mente racional fica querendo intervir o tempo todo.
Nessas horas, prefiro agir com a inteligência intuitiva.
Deixar-me levar numa onda de sensibilidade e sintonia
com a outra pessoa. Continuei:
– O que você sente quando sua mãe ou pai descobrem e
lhe punem pelo roubo que você fez?
– Só minha mãe me bate. Meu pai não. Eu Àco com raiva
dela. Ela não quer saber de nada. Só me bate e xinga. Eu sei que
as palavras dela não vão resolver nada.
Por um momento eu senti como se estivesse me afastan-
do do objetivo especíÀco da sessão. A conversa e as descober-
tas estavam agradáveis. Mas parecia que estávamos indo em
outra direção. Tentei retomar o controle dos fatos.
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |35
Cláudio Paulino Chaves

– Quero que você deixe a cena congelada e vá, agora,


para o momento exato em que está roubando a boneca da sua
prima. Quando você estiver nesse momento balance aÀrmati-
vamente. Ela balançou a cabeça.
– O que você está sentindo agora?
– Meu coração está batendo rápido. Minha respiração
está forte. Estou com medo de ser vista.
– Você quer parar?
– Quero não. Quero pegar a boneca agora. Vou pegar.
– Por favor, congele essa cena.
– Por quê? .
– Preciso falar antes com você. Eu quero que antes de
pegar a boneca, você peça para o seu coração e sua respira-
ção se acalmarem. Quero que você também Àque calma. Conte
lentamente dez respirações. A cada uma delas você Àcará mais
calma ainda. Quando terminar você me diz que terminou.
Passado algum tempo ela disse: Terminei.
– Agora quero que escolha uma pessoa que você ama
muito, para estar aí perto de você. Quando ela estiver, você me
diga quem é ela.
– Minha avó está comigo agora.
– Agora quero que você peça para ela lhe dizer algo mui-
to importante. E quero ouvir o que ela vai lhe dizer.
De repente a “avó” da Elizabeth, começou a falar pela
boca dela.
– Elizabeth, minha querida neta. Tenho, e você sabe, um
grande amor por você. A última coisa que eu quero na vida é lhe
machucar. É meu dever como sua avó falar algo importante nesse
momento. Quero deixar claro que nada lhe pedirei nem lhe cen-
surarei pelo que você venha a fazer. Eu respeito integralmente sua
Casos Clínicos em Hipnose:
36 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

decisão, mas antes de toma-la, quero que você me ouça. Na sua


idade passam muitas coisas pela sua cabecinha. Sei que muitas
vezes você se sente só nesse mundo. Que às vezes você não sabe
o que fazer e que as pessoas não lhe entendem. Boa parte disso é
verdade. Nesse mundo parece que as coisas não são como quere-
mos. Muitas vezes temos que descobrir sozinhas como elas são. E
isso geralmente dói. Uma coisa é certa! Esse mundo é como se fos-
se um grande jardim. Aqui plantamos hoje, aqui colheremos ama-
nhã. Temos que tomar cuidado com o que semeamos. Em alguns
momentos parece que estamos plantando Áores, mas quando va-
mos colher elas são apenas espinhos. Sei que você tem uma vonta-
de quase incontrolável de pegar a boneca da sua prima. Fazer isso
é semear algo. Geralmente esses frutos são bem amargos na fase
adulta. Não raro o arrependimento e a dor são inevitáveis. Você
pode fazer aquilo que quiser. Você pode escolher qual semente
irá plantar. A decisão é sua e sei que você fará o que tiver de fazer.
Percebi um silêncio, como se a avó tivesse parado de fa-
lar. Então perguntei.
– Você quer falar algo para sua avó?
– Quero sim.
– Pode falar. Ela está lhe ouvindo. .
– Vovó! Eu quero plantar uma boa semente. Mas essa
vontade de roubar é muito forte. Eu não sei o que fazer. A von-
tade é mais forte do que eu.
Nessa hora não tive dúvidas. Era necessário intervir. Fa-
zer a ponte. Contribuir se possível, para que uma boa semente
fosse plantada. Então falei:
– Pergunte à sua avó se ela tem alguma boa semente para
lhe dar. E que essa semente seja tão bela, agradável e forte a
ponto de fazer você se encantar por ela. Que essa semente seja
capaz de fazer com que a vontade quase incontrolável de rou-

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |37
Cláudio Paulino Chaves

bar, seja substituída. Quero ouvir você perguntar isso à sua


avó. Quero ouvir a resposta dela.
– Vovó! A senhora tem uma semente mágica para me dar
que seja capaz de mudar totalmente essa minha vontade?
– Tenho sim minha querida. Mas só você poderá decidir
o que deseja fazer com ela.
Depois da resposta da avó, pedi para que Elizabeth per-
guntasse qual era a semente e, se ela quisesse, poderia receber.
– Qual é a semente vovó?
– Só posso lhe entregar essa semente na forma de um
abraço, com muito amor. Depois dele você será capaz de con-
trolar qualquer força. E, se quiser, só plantará sementes do
bem a partir de hoje.
Nesse momento, o silêncio. Os braços de Elizabeth se fe-
charam e as lágrimas começaram a rolar em seu rosto quase infan-
til. Sua alma sorria. Um momento de paz, leveza e de uma energia
indescritível apoderou-se daquela sala de atendimento. Fiz ques-
tão de me envolver com aquela experiência. Sempre aconselho:
se a emoção for desagradável, Àque de fora. Desassocie-se. Se a
emoção for boa, abrace-a. Associe-se. Foi exatamente o que Àz.
Sentindo ser o momento ideal, comecei a falar com a Elizabeth.
– Como você está se sentindo agora?
– Estou muito feliz! Leve... Feliz... Feliz.
– Quero que você agradeça à sua avó por ter participado des-
se momento tão agradável. Quando ela tiver saído você me avisa.
– Eu a agradeci e ela já foi.
– Muito bem. Quero que você veja a boneca da sua prima
agora.
– Estou vendo. Estou com ela em minhas mãos.

Casos Clínicos em Hipnose:


38 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

– O que você quer fazer com ela?


– Nada.
– Que emoção ela lhe causa?
– Nenhuma. Ela é da minha prima. Só isso!
– O que aconteceu com aquela antiga vontade?
– Ela foi substituída por amor. Muito amor. Agora eu sei
como plantar boas sementes quando quiser.
– Quero que você agradeça pela experiência que ocorreu
nesse local e depois quero que volte para aquela cena congela-
da. Quando estiver lá você me diz, certo?
– Já estou.
– Agora descongele a cena.
– Já descongelei.
– Onde sua mãe está?
– Não sei. Ela não está mais aqui.
– Você acha que ela não está mais aí por quê? Ela não
estava lhe castigando antes?
– Eu não Àz nada de errado. Por isso ela não está mais aqui.
– Como você está se sentindo?
– Maravilhosamente bem. Muito mais leve.
– Agora quero que você veja um longo caminho de luz.
Ele vai desde aí onde você está até aquele lugar seguro. Você irá
percorrer essa luz. Essa luz irá limpar todos os ressentimentos,
mágoas e conÁitos que você já passou na vida. De hoje em dian-
te, todas as vezes que você precisar tomar uma decisão impor-
tante irá lembrar das sementes que você tem e com elas tomará
as mais sábias decisões. Você está vendo esse caminho de luz?
– Sim estou.
– Que cor é essa luz?
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |39
Cláudio Paulino Chaves

– Azul bem clarinha.


– Muito bem. Sinta-se tão leve que seja capaz de come-
çar a Áutuar por dentro desse caminho de luz que vai limpan-
do todo o seu ser, todas as suas memórias. Vá agora! Quan-
do chegar ao lugar seguro me avise. Vá sem pressa. Deixe sua
mente sábia lhe conduzir.
Esperei algum tempo e logo depois ela me disse já ter
chegado ao lugar seguro.
– Lembre-se! De hoje em diante, sempre que precisar, você
poderá pegar uma dessas sementes do bem que acabou de ga-
nhar e com ela poderá resolver qualquer situação que quiser.
Agora vou contar de dez até um. Quando eu disser um, no seu
tempo, do seu jeito, você ira abrir seus olhos. Estará totalmente
reestabelecida e para sempre a sua vida terá um novo signiÀcado
e uma nova trajetória de acordo com as sementes que você tem e
com as que você recebeu da sua avó e as cultivou.
Ao chegar ao um ela abriu os olhos e seu semblante era
de pura leveza, paz e contentamento.
– Tudo bem? – a recebi com um sorriso no rosto.
– Tudo muito bem – sorriu.
– Como foi a experiência?
– Libertadora. Tudo para mim está agora muito claro.
Eu não lhe procurei por causa do meu ex, mas eu vim aqui por
causa dele. Eu tinha certeza que fora a separação que me cau-
sara a angustia e a vontade de não viver. Não foi. Ela foi só
a desculpa. Meu Deus, que loucura! Nunca imaginei que uma
vontade contida na infância aos cinco anos de idade poderia
causar um desdobramento tão insano. Eu vivi tudo do jeito
que aconteceu. O local, as pessoas, minha mãe me batendo... a
boneca era a mesma! Tudo do jeito que aconteceu.

Casos Clínicos em Hipnose:


40 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo I – Reprogramação mental. Os segredos que
sua mente tem que você precisa conhecer

– E o aparecimento da sua avó?


– Ali foi minha melhor parte ao me relacionar com o amor
que existe dentro de mim. Minha mente sábia, como o senhor cha-
ma me mostrando uma saída, também sábia. Minha avó me ama de
verdade. Por isso, foi ela quem apareceu para me ajudar. Acho que
não acreditarão se eu falar dessa experiência para alguém.
– Você sabe que eu pretendo um dia escrever um livro
narrando essas histórias?
– Faça isso! As pessoas precisam saber que há algo den-
tro delas que as podem tornar muito melhor do que são.
– Sabe Elizabeth! A maioria do sofrimento emocional das
pessoas é por desconhecerem o poder que têm dentro de si. Qua-
se sempre carregamos muitos lixos emocionais por não sabermos
como nos livrar deles. Nascemos para ser felizes, mas, para muitos,
suas programações internas os impedem dessa nobre tarefa. Não
se trata de negar o sofrimento. É mais uma questão de como me
relacionar com o que me faz sofrer. Não posso impedir que o vento
sopre no meu barco, mas posso aprender a direcionar sua vela.
– Agora entendo com clareza o que o senhor está me dizendo.
Ali nos despedimos. Ela retornou para casa. Depois disso
recebi algumas mensagens e uns dois telefonemas. Elizabeth esta-
va completamente livre daquelas sensações conÁitantes. Tomara
um novo rumo na vida. A última notícia que tive dela foi um con-
vite para o seu casamento. Não pude comparecer porque naquele
dia e horário estava atendendo mais uma pessoa que precisava se
livrar de algumas pedras que carregava na mochila e me escolhera
para ajudá-la a se livrar delas. Mas essa é uma outra história.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |41
Capítulo II
Terapia de Vidas Passadas: as respostas
às suas questões mais importantes
podem estar onde você nunca imaginou
Sobre o Autor

José Anastácio de Sousa Aguiar


tacio111@bol.com.br
*
http://portaldabuscaespiritual.blogspot.com.br
Tacio Aguiar

“Os senhores acalentam a ilusão de haver uma


coisa como liberdade psíquica e não querem de-
sistir dela. Lamento dizer que discordo categori-
camente dos senhores a este respeito.”
Sigmund Freud

Desde muito cedo, interessei-me sobre as temáticas liga-


das à natureza humana e ao Divino. Com o passar do tempo,
e pelos motivos óbvios do limitado alcance do meu concebível
às coisas do Alto, contentei-me em explorar as questões liga-
das ao ser humano, estando sempre em mente as inquietações
relativas ao Inconcebível.
Dentre essas questões, uma aparecia em destaque: a
psique humana, em seus inÀnitos desdobramentos - nature-
za, leis, determinantes, causalidades, inÁuências, limitações e
tantas outros. Um ponto, em especial, me aguçava a curiosida-
de; eu, até então, entendia que cada um de nós era senhor de
sua própria vida, em outras palavras, cada um tinha a autono-
mia para determinar o que fazer na vida, e claro, eu entendia
que cada um, sendo livre, iria procurar ser e fazer o melhor
para si. Entretanto, não era isso que eu presenciava observan-
do as pessoas. Onde eu estava errado? O que eu ainda não ha-
via compreendido? Por que muitos, vendo o melhor, faziam o
pior? Existe uma força maior do que o livre-arbítrio? Será que

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |45
Sobre o Autor

não somos senhores da nossa própria vontade? E, se assim fos-


se, por que não?
Pois bem, decidi-me, mesmo que de uma forma, talvez,
não-consciente, tentar entender quais eram as leis que regiam
o comportamento humano e as razões que as coisas aconte-
ciam de uma forma e não de outra.
Meu passo inicial, no início dos anos 2000, foi o estudo
da FilosoÀa, incentivado pelo amigo Cláudio Guterres, a quem
sou sempre grato. Estudar os Àlósofos clássicos abriu-me os
limites do concebível de uma maneira ainda não experimenta-
da. Desfrutar dos ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristó-
teles era ao mesmo tempo uma aventura e um começo de um
reencontro comigo mesmo. As emoções, entretanto, estavam
apenas começando. Logo depois, fui apresentado aos Àlósofos
místicos e, assim, descobri (ou fui descoberto por) Heráclito,
o obscuro, Plotino, São João da Cruz, Jakob Boheme, Mestre
Eckhart, Vitor Hugo e tantos outros. Nesse diapasão e como
consectário lógico, tive a honra de ter acesso à literatura imor-
tal e à poesia mística de Goethe, Shakespeare, Fernando Pes-
soa, Rumi, HaÀz, Tagore e outros.
Nesse contexto, a cada livro lido, a cada verso saborea-
do, minhas dúvidas racionais aumentavam... Ocorreu-me, en-
tão – e talvez seja essa a minha grande dívida de gratidão aos
místicos -, que talvez a melhor forma de entender a si mesmo
e o que nos rodeia não seja simplesmente pelo culto da razão,
mas pela experiência da transcendência.
Era hora de estudar outra ciência, pois a FilosoÀa já tinha
prestado o seu serviço. Eu Ànalmente conseguia começar a enten-
der o que estava escrito no pórtico do Oráculo de Delfos e come-
çar a vislumbrar o enigma da EsÀnge, dando início aos primeiros
passos para a retirada do véu de Ísis (processo do autoconheci-

Casos Clínicos em Hipnose:


46 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Sobre o Autor

mento). Como agradecimento ao que a FilosoÀa havia me opor-


tunizado, publiquei os livros: “O Despertar para a FilosoÀa” e “Os
Sete Pecados Capitais: uma análise histórico ÀlosóÀca”.
Encontrei a (ou fui encontrado pela) Psicanálise no pri-
meiro terço da década de 2010. Foi paixão à primeira vista.
Várias das questões não respondidas pela FilosoÀa, pude des-
cobrir com a Psicanálise. Comecei com a leitura dos livros de
Freud, depois passei a ler o que se tinha publicado sobre o ve-
lho mestre. Estonteante para mim, foi a descoberta desse novo
mundo. Durante o curso de Psicanálise, tive a honra de apren-
der a hipnose com o Professor Luciano Sampaio, a quem tenho
uma grande dívida de gratidão. Ao concluir o curso, já havia
lido quase tudo disponível sobre Freud e feito resumos de sua
obra e publicado na internet. Precisava de outro desaÀo...
Aconteceu-me na Psicanálise o que já havia acontecido
na FilosoÀa, descobri em autores como Carl G. Jung, Carl Ro-
gers, Abraham Maslow, Wilhelm Reich, que a psique deve ser
compreendida em todas as suas dimensões (concepção holís-
tica), e não somente na lógica simplista do que se pode medir
e aferir. Há a necessidade de ir além...
Assim, descobri a (ou fui descoberto pela) Terapia de
Vidas Passadas (TVP). Em verdade, fascinado com a técnica
da Psicologia Analítica de Jung, vislumbrei que o terapeuta
tem a obrigação de saber utilizar todas as ferramentas possí-
veis para dar uma resposta adequada às diversas demandas de
seus pacientes. Havia certos casos que trabalhava que não res-
pondiam à terapia convencional que até então dominava, eu
precisava ir além...
Comecei os estudos sobre a TVP pela Deep Memory
Proccess, de Roger Woolger, um psicólogo junguiano que
descobriu a TVP, uma abordagem terapêutica muito potente

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |47
Sobre o Autor

e inovadora. Iniciava-se a minha mais nova descoberta de ou-


tro(s) mundo(s). Havia muito o que estudar: Morris Nether-
ton, Ian Stevenson, Brian Weiss, e assim o Àz.
Pois bem, a partir do estudado e compreendido, aliado
à experiência do atendimento clínico desenvolvi o Método
PANG (Perdão, Aceitação, Não-resistência e Gratidão), que
me permitiu potencializar os resultados desejados.
Nesse contexto, tenho utilizado a técnica da Terapia de
Vidas Passadas como ferramenta auxiliar no tratamento psica-
nalítico e os resultados estão, como vocês poderão avaliar, nos
casos clínicos que se seguem. Fica ao inteiro dispor do leitor
acreditar ou não, aÀnal, como regra, descobri que os limites do
nosso universo pessoal são ditados pelos limites que impomos
ao nosso concebível.
Aproveito os casos abordados para trazer ao leitor al-
guns dos temas da Psicologia Analítica de Jung, como tributo e
justo reconhecimento ao velho mestre, que tanto fez para des-
vendar os mistérios do Inconsciente e ir além... Assim, trato
das seguintes temáticas: Complexo (caso II), Energia Psíquica
(caso III), Sonhos, Arquétipos, Inconscientes Coletivo e Pes-
soal (caso IV), Sombra e Persona (caso V), Animus (caso VI),
Anima (caso VII), Função Compensatória dos Opostos (caso
VIII), Processo de Individuação e Si-mesmo (caso IX).
Lembro ao leitor que nomes, sexos e alguns detalhes dos
protagonistas dos casos clínicos foram alterados para prote-
ger a identidade dos pacientes, sem abandonar a Àdelidade à
temática abordada.
Agradeço a parceria dos amigos Cláudio Chaves, Lucia-
no Sampaio e Rogério Castilho, coautores deste livro, e para-
benizo a iniciativa e liderança do Cláudio Chaves para a con-
secução desta obra.

Casos Clínicos em Hipnose:


48 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Sobre o Autor

É com dever de justiça que aproveito a oportunida-


de para agradecer ao amigo França da Silva, coordenador do
curso de formação em Psicanálise, a conÀança em ter, desde
os tempos dos bancos escolares de psicanálise, me convida-
do para ministrar palestras e cursos, naquela época sobre os
livros de Freud; e atualmente sobre várias temáticas: Vida e
Obra de Freud, Vida e Obra de Jung, O Mapa da Alma de Jung,
O Método PANG (Perdão, Aceitação, Não-resistência e Grati-
dão), Terapia de Vidas Passadas e outros.
Comecei este pequeno texto relatando que tudo havia
começado pelo meu interesse nas questões relativas à natu-
reza humana e ao Divino; descobri na caminhada que quanto
mais me entendia, mais compreendia o outro e o Divino. AÀ-
nal, como nos ensina Mestre Eckhart: “Nada importa muito, se
não se trata de descobrir em nós o Absoluto.”
Grato ao leitor por nos prestigiar com o seu precioso
tempo, desejando a todos vocês uma excelente leitura (via-
gem), namaste.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |49
José Anastácio de Sousa Aguiar

Caso Clínico em Hipnose I

Uma regressão a vidas passadas; ou


Conhecendo a origem da dor para curar-se
“Aqueles que não aprendem nada sobre os fatos
desagradáveis de sua vida forçam a Consciência
Cósmica que os reproduza tantas vezes quanto
seja necessário para aprender o que ensina o dra-
ma do que aconteceu. O que negas, te submetes;
o que aceitas, te transforma.”
Carl Gustav Jung

A regressão a vidas passadas, ou como alguns preferem Te-


rapia de Vidas Passadas (TVP), é uma técnica que tenho utiliza-
do no meu trabalho psicanalítico quando outras ferramentas se
mostram ineÀcazes. No meio psicanalítico, a referida abordagem
tem vários defensores, entretanto, tem também proÀssionais que
a evitam ou até mesmo entendem que é apenas ilusão do paciente.
Pois bem, tenho me posicionado no sentido de que os
sucessos obtidos pela TVP são as melhores credenciais em de-
fesa dela, tudo o mais são discussões teóricas que, em geral,
esbarram nos limites das crenças de cada um.
Em minha experiência clínica, percebo que, em geral, o
paciente chega ao consultório com um elevado grau de confu-
são mental, suas ideias não são claras, seus sentimentos estão

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |51
José Anastácio de Sousa Aguiar

descontrolados e suas emoções se contradizem. Um dos prin-


cipais fatores que favorecem este estado de desordem emo-
cional, em geral, é o limitado conhecimento que se tem de si
próprio. Quanto mais o indivíduo desconhece suas aptidões,
limitações, pontos fortes e fracos, mais ele se deixa levar pe-
los solavancos da vida; por outro lado, quanto mais ancorada a
pessoa estiver em si mesma, mais ela está protegida das intem-
péries do dia a dia.
O nosso conhecimento como seres humanos sobre qual-
quer coisa é condicionado pelas capacidades e limitações da
nossa consciência. O entendimento correto da psique ou, a bem
dizer, de qualquer outra coisa, depende do estado de consciên-
cia de cada um, e este, por óbvio, estará tão mais próximo do
equilíbrio, quanto mais conseguir a harmonia da psique.
Em assim sendo, o processo de autoconhecimento é
uma ferramenta imprescindível na conquista e manutenção
da saúde emocional e mental. Entretanto, não é uma tarefa
fácil, posto que um dos maiores obstáculos na conquista de
si mesmo é o árduo trabalho de limpeza da culpa e do medo
residual do passado.
Era o caso de Nice. Ela era uma jovem senhora com bas-
tante sucesso na vida proÀssional, que havia noivado há pouco
tempo, entretanto, sua vida afetiva estava em desequilíbrio.
Sua queixa principal referia-se a uma obsessão que ela tinha
com um antigo namorado, Pedro, que havia atrapalhado ou-
tros relacionamentos anteriores e, agora, estava próximo de
gerar nela uma crise de culpa. A Àxação de Nice no ex-namo-
rado era o principal fator que havia impedido novos relaciona-
mentos e tirava a sua paz. O relacionamento com o ex-parcei-
ro não tinha sido nada fácil, Pedro tinha índole violenta e as
brigas e discussões eram recorrentes, chegando ao ponto da
agressão física.
Casos Clínicos em Hipnose:
52 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

Após ter tentado sem sucesso outras abordagens com


Nice, perguntei a ela se poderíamos tentar a TVP, e ela pron-
tamente concordou.
Depois de uma rápida indução, Nice se via no corpo de
uma outra mulher, que ela identiÀcou como Rana, uma bela e
pobre jovem em algum lugar da França no século XIII. Via-se
como uma camponesa cheia de sonhos e planos juvenis que
havia iniciado um relacionamento com um homem mais velho
que ela, de nome Thomas.
Adiantei-a no tempo para um evento relevante que jus-
tiÀcasse a sua relação atual. Rana agora estava morando em
uma pequena casa que Thomas havia comprado para ela, em
uma região distante da cidade. Thomas agora era monge, um
cavalheiro templário, que almejava alcançar o título de Grão-
mestre da Ordem Templária. Aquele objetivo de Thomas, e
pelo fato de ser proibido casar pelo voto da castidade, o levara
a esconder o relacionamento com Rana da sociedade local, fato
que muito a incomodava e que era motivo constante de desen-
tendimento do casal.
Certa feita, Thomas a visitara e disse que iria se ausentar
por um longo período e que achava melhor que ela permane-
cesse longe da sociedade para não levantar suspeitas. Aquela
atitude foi a gota d’água para Rana, que tinha sonhos de ca-
sar e ter uma vida normal. Uma violenta discussão iniciou-se
e Thomas empunhou sua espada, atingindo o Áanco esquerdo
de Rana.
Nice passou a sentir a dor da morte de Rana, se contor-
cendo e gemendo com suas duas mãos sobre a lateral esquerda
do seu ventre. Adiantei-a um pouco no tempo e ela se viu como
espírito Áutuando sobre o corpo sem vida de Rana, enquanto
Thomas fugia confuso em seu cavalo.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |53
José Anastácio de Sousa Aguiar

Pedi que ela acompanhasse o galope do cavalo e descre-


vesse a reação de Thomas. Ela olhou bem a face dele e relatou
que seu rosto estava repleto de lágrimas de arrependimento.
De posse das técnicas adequadas, solicitei ao espírito de Rana
que perdoasse Thomas daquele ato e também vislumbrasse
Thomas pedindo perdão a ela. Após algumas outras instruções
com o foco no Amor, Perdão, Compaixão, Aceitação, Não-re-
sistência e Gratidão, trouxe Nice de volta ao tempo presente.
Nice ficou maravilhada com a experiência e no mes-
mo dia me enviou uma empolgada mensagem dizendo que
havia encontrado na internet todas as informações que ha-
via vivenciado na regressão: o nome de Thomas era Thomas
Berard (ou Bernard) e o objetivo de Thomas fora alcançado,
ele havia se tornado grão-mestre dos Cavalheiros Templá-
rios de 1256 a 1273.
Agradeci a Nice sua pesquisa, mas destaquei que o mais
importante não era o fato em si, nem mesmo a comprovação
de que Thomas realmente havia existido, mas a ressigniÀcação
das emoções dela, na atualidade, a partir do conhecimento e
revivência do fato passado.
Após aquela sessão, Nice demonstrara uma melhora
acentuada de seu quadro neurótico, mas ainda houve necessi-
dade de continuar com mais algumas sessões da TVP. Entre-
tanto, isso é outra história...

Casos Clínicos em Hipnose:


54 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

Caso Clínico em Hipnose II

A formação de um Complexo; ou O Amor e


o Perdão como ressigniÀcantes universais

“Os falsos sábios, reconhecendo a irrealida-


de comparativa do Universo, imaginaram que
podiam transgredir as suas Leis: estes tais são
vãos e presunçosos loucos, eles se quebram na
rocha e são feitos em pedaços pelos elementos,
por causa da sua loucura. O verdadeiro sábio,
conhecendo a natureza do Universo, emprega
a Lei contra as leis, o superior contra o infe-
rior; e pela arte da alquimia transmuda aquilo
que é desagradável naquilo que é agradável, e
deste modo triunfa. O Domínio não consiste
em sonhos anormais, em visões, em vida e ima-
ginações fantásticas, mas sim no emprego das
forças superiores contra as inferiores, escapan-
do assim das penas dos planos inferiores pela
vibração nos superiores. A transmutação não é
uma denegação presunçosa, é uma arma ofensi-
va do mestre.”
Três Iniciados, em “O Caibalion”

Era a primeira vez que atendia Katia, uma jovem de cerca


de 30 anos que adentrou à sala com os ombros arqueados e sem
brilho nos olhos. Ela me procurara com uma demanda de severa
ansiedade. Contou-me que seu estado de agitação constante a
vinha incomodando desde quando era criança, entretanto nos
últimos anos, em especial, no período da faculdade, estava se

Casos Clínicos em Hipnose:


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José Anastácio de Sousa Aguiar

tornando insuportável, a ponto de inÁuenciar negativamente na


tomada de decisões simples, como escolher uma roupa.
Realizando a anamnese, foi possível identiÀcar que, na
verdade, a ansiedade era apenas uma das questões que a aÁi-
giam, ela também tinha um elevado grau de insegurança, bem
como uma baixa autoestima. Contou-me que sua mãe sempre
foi muito exigente com ela e sempre comparava, de forma pe-
jorativa, a sua personalidade introvertida com a personalidade
extrovertida da sua irmã mais velha.
Pois bem, durante a análise, por meio do método freu-
diano da Associação Livre, Kátia não conseguiu lembrar-se de
nenhum evento que pudesse ser o catalisador das questões que
hoje a incomodavam, entretanto, todas as vezes que lembrava
algo de um passado remoto, suas palavras eram interrompidas
por abundantes lágrimas.
A retomada do equilíbrio emocional era a pedra angular
daquele caso. Após realizar com Kátia algumas técnicas de re-
laxamento, ela retomou o controle de suas emoções e pedi para
ela que olhasse Àxamente para a porta que estava a sua frente e
deixasse a sua mente livre para Áuir seus pensamentos. Já sob
um leve transe hipnótico, perguntei o que ela gostaria de fazer
e ela me respondeu que gostaria de abrir a porta. Pedi que des-
se seguimento a seu desejo, só que desta vez de olhos fechados.
Ela me contou que ao abrir a porta, viu um quarto escuro com
a sensação de que as pessoas estavam olhando para ela. Sentia-
se acuada, insegura e com medo.
Utilizando as técnicas de hipnose, facilitei a regressão
de Katia ao momento da gênese do seu trauma. Ela visualizou
uma cena que já havia se apagado do seu consciente há muito
tempo: ela tinha cerca de 5 anos quando a sua mãe se irritou
quando ela derrubou um copo de leite sobre o tapete e compa-

Casos Clínicos em Hipnose:


56 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

rou-a de forma ríspida e humilhante com a irmã. Aquele evento


Àcou congelado em sua memória, gerando um Complexo que
constantemente era constelado com os eventos da vida diária
que se referissem ao tema.
Após a utilização das técnicas terapêuticas apropriadas
para o caso dela, pedi, para Ànalizar, que ela visualizasse a mãe
dela aproximando-se e pedindo que a abraçasse, ao mesmo
tempo que ambas pediam perdão uma para outra. Por longos
minutos, Katia permaneceu abraçada a sua mãe, enquanto as
lágrimas escorriam, mas já não mais de insegurança e medo, e
sim fruto da convicção daqueles que sabem que são amados.
Tivemos uma longa conversa sobre os mecanismos in-
conscientes que inÁuenciam a mente consciente e a tornam,
quando não verdadeiramente compreendidos e superados,
vulneráveis aos Complexos (conteúdos inconscientes res-
ponsáveis pelas perturbações da consciência) que povoam o
Inconsciente. Expliquei, em especial, que os Complexos, con-
teúdos autônomos do Inconsciente Pessoal formado por lesões
ou traumas psíquicos, têm em seu núcleo a imagem do even-
to traumático e orbitando a imagem nuclear encontram-se as
emoções negativas geradas pelas lesões do passado. Esses con-
teúdos emocionais negativos que alimentam os Complexos
Àcam susceptíveis a eventos do mundo exterior que possam
desencadear um processo psíquico de carga emocional, mui-
tas vezes, incontrolável, que Jung deu o nome de Constelação
(sempre faço analogia da Constelação de um Complexo com a
erupção de um vulcão, posto que a pessoa Àca sujeita a descar-
gas de energia que não estão sob o controle do ego).
Os Complexos são o que permanecem na psique depois
que ela digeriu a experiência e a reconstruiu em objetos ou
estruturas internas. Caso a psique, ao realizar a digestão das

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |57
José Anastácio de Sousa Aguiar

experiências, não consiga integralizá-las (ou seja, acomodar a


energia absorvida de forma equilibrada e consciente), o con-
teúdo excedente não funcional será direcionado para a gera-
ção ou alimentação de um ou mais complexos.
Um Complexo possui solidez psíquica; é estável e dura-
douro ao longo do tempo. Deixado em seu próprio espaço sem
intervenção da consciência do ego, em especial pela ressigni-
Àcação, ele tende a não se alterar muito. Pode-se testemunhar
isso em repetições dos mesmos padrões de reação e descarga
emocional, dos mesmos equívocos e erros, das mesmas esco-
lhas infelizes feitas mais de uma vez na vida da pessoa.
Cumpre lembrar que os humanos são impelidos por for-
ças psíquicas, motivados por pensamentos que não necessa-
riamente se baseiam em processos racionais, e sujeitos a ima-
gens e inÁuências para além daquelas que podem ser medidas
no meio ambiente observável.
Quanto mais forte são os complexos, mais eles restrin-
gem a faixa de liberdade de escolha do ego (livre-arbítrio). O
que une os vários elementos associados do complexo e os man-
tém no lugar, em torno da imagem primordial (trauma), é a
emoção. Este é o elemento aglutinante de todo o processo. As-
sim, a função da terapia é descongelar a imagem nuclear (trau-
ma) do Complexo, por meio da ressigniÀcação das emoções
(degelo das imagens mnêmicas congeladas), e o meio mais eÀ-
caz da técnica terapêutica é a verdadeira realização do Amor
e Perdão.
Renovada, Katia, agora, tinha uma melhor compreensão
de suas pulsões instintuais e podia dar novo começo a sua vida
emocional e aos seus relacionamentos. Despediu-se com um ar
de esperança e um renovado brilho no olhar.

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

Caso Clínico em Hipnose III

A prisão autoimposta (in)voluntária; ou


A retomada da liberdade pessoal
“Num universo tão complexo, no seio de um or-
ganismo de forças regido por uma lei tão sábia,
que nunca falhou deÀnidamente, como podes
acreditar que teu destino esteja abandonado
ao acaso, e o desequilíbrio momentâneo, que te
aÁige e te parece injustiça, não seja condição de
mais alto e mais perfeito equilíbrio.”
Pietro Ubaldi, em “A Grande Síntese”

Recentemente, atendi uma jovem paciente, Eva, que


adentrou ao consultório com um garboso cachecol vermelho.
Reclamava a referida moça que suas relações amorosas e pro-
Àssionais estavam conturbadas e que isso a motivara a procurar
um psicanalista. Acrescentou ela que se relacionava com pes-
soas casadas, apesar de ter um caso sério. Cobrava Àdelidade do
segundo relacionamento e exigia atenção excessiva dos outros.
Ao dar início à sessão demonstrou descrença no método
psicanalítico e disse nem saber ao certo a razão de estar ali.
Depois de descortinar os eventos de sua vida, em especial a
conturbada infância em razão de um pai ausente e agressivo
e uma mãe submissa e confusa, bem como os sentimentos por
ela vividos, restou evidenciado que sua vida se baseava numa
insuperável e sufocante ambivalência emocional, o que lhe
causava constante conÁito interno.
Após realizar a anamnese, pedi a Eva que escolhesse al-

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |59
José Anastácio de Sousa Aguiar

gum ponto do quadro “Noite Estrelada”, de Vincent van Gogh,


que tenho em meu consultório e o mirasse Àxamente por al-
guns minutos, deixando os seus pensamentos Áuírem, à medi-
da que eu realizava uma indução hipnótica simples.
Passados alguns minutos, solicitei que me relatasse o que
havia vivenciado. Ela me aÀrmou que havia escolhido o rede-
moinho que aparece ao centro do quadro, ao que eu a indaguei
o que ele representava para ela e qual era a emoção associada à
imagem em sua mente. Ela asseverou, após alguns instantes de
reÁexão, que o redemoinho lhe lembrava o útero materno e a
emoção que lhe ocorria era de aconchego e proteção.
O que Freud chamou de Libido; Schopenhauer, de Ver-
dade, Jung chama de Energia Psíquica, que nada mais é do
que o sangue vital da psique. Sem ela, não há possibilidade de
existência de vida psíquica. Enquanto Freud sustentou que a
sexualidade é o motivador principal da maioria dos processos
mentais e comportamentos, Jung entendia que a libido sexual
constituía apenas um ramo da força vital.
Pois bem, de uma forma ou de outra, ocorre que essa ener-
gia psíquica disponível deve ser utilizada para adaptação à vida
e ao mundo, processo denominado por Jung de progressão da
libido. Caso o indivíduo não supere as diversas fases nas quais
a vida se desenrola durantes as etapas de desenvolvimento da
psique, a energia disponível entra em regressão (regressão da
libido) e desaparece no inconsciente, onde ativa os complexos.
A energia não desaparece do sistema; antes, ela desapa-
rece da consciência. Caso isso ocorra, o consciente e incons-
ciente entram em polaridades opostas, dilacerando a pessoa
pelo constante conÁito interior, desenvolvendo-se uma severa
ambivalência, que paralisa a vida. Esse quadro caracteriza-se
pelos estados de depressão, conÁito interior, ambivalência in-
capacitadora, incerteza, dúvida e perda de motivação.
Casos Clínicos em Hipnose:
60 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

Nesse diapasão, a intensidade e frequência de perturba-


ções na vida quotidiana do indivíduo são úteis indicadores dos
níveis de energia dos complexos inconscientes. O nível ener-
gético de um conteúdo psíquico pode ser indicado por emo-
ções e reações positivas e negativas.
Eva não havia superado o quadro opressivo e de desamor
de sua infância, além de que a mágoa instalada em sua psique
impedia que sua energia psíquica Áuísse para os processos
adaptativos progressivos de sua vida, levando-a a estagnar na
carência afetiva parental de outrora.
Demonstrei para a paciente que uma das principais fun-
ções da psicanálise é trazer para o consciente os conteúdos
reprimidos do inconsciente e a partir daí, trabalhá-los para a
superação das Àxações em (e regressões à) fases infantis e a
consequente obtenção da saúde emocional.
A título de exemplo, destaquei a clara mensagem que seu
inconsciente havia nos enviado quando ela, ao observar o quadro,
Àxou-se no redemoinho, que representou para ela a vã tentativa de
retorno ao aconchego e proteção do útero (regressão da libido), fru-
to da sua incapacidade de lidar com suas próprias emoções atuais.
Perguntei qual teria sido a razão de ela estar usando na-
quele dia o já citado exuberante cachecol. Surpresa com a per-
gunta, mas já conÀante no método, a jovem, após uma rápida
reÁexão, informou que não havia percebido a razão no momen-
to da escolha do acessório, mas agora conseguia discernir que
tinha escolhido o cachecol para se sentir desejada pelas pes-
soas, imputando, assim, ciúmes em seus amantes e aumentan-
do de forma artiÀcial e efêmera a sua combalida autoestima.
Demonstrou alegria radiante em identiÀcar suas Àxa-
ções na fase narcisista infantil, bem como pelo fato de o adulto
ter dado início ao processo de libertação das prisões impostas
pela criança interna magoada e carente.
Casos Clínicos em Hipnose:
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Caso Clínico em Hipnose IV

Sonhos, mensageiros dos complexos ou


A amorização pelo Método PANG
“Quanto melhor alguém é, mais benevolente se
torna com relação a todas as coisas e com rela-
ção aos homens.”
Plotino, em “Tratado das Enéadas”

Vários foram os pensadores que teorizaram sobre os sonhos


e suas modalidades de interpretação. Em verdade, desde a Grécia
Antiga, ou até mesmo antes, as pessoas associam seus sonhos a sig-
niÀcados e procuram desvendá-los no contexto de suas vidas. Para
os antigos gregos, os sonhos eram avisos ou advertências dos deuses.
Foi Freud, em 1900, ao lançar o livro “A Interpretação de
Sonhos”, quem deu grande contribuição ao estudo dos proces-
sos que inÁuenciam e estruturam os sonhos, dando um caráter
cientíÀco ao tema. Para o pai da Psicanálise, os sonhos eram
realizações de desejos, assim, os aparentes absurdos da narra-
tiva onírica revelariam necessidades ocultas no inconsciente.
Já Jung, entendia que os sonhos são os mensageiros dos
Complexos, sendo então, uma das formas de interação entre
a consciência do Ego e o inconsciente (morada dos comple-
xos). No cerne das mensagens está a tentativa de realização
do equilíbrio homeostático da psique, pela compensação dos
opostos (relação Consciente-Inconsciente). Em outras pa-
lavras, na eterna busca pelo equilíbrio, o conteúdo onírico
busca levar ao consciente o que excede, perturba, incomoda
e aÁige o inconsciente.
Casos Clínicos em Hipnose:
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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

Outros pontos importantes para a compreensão da in-


terpretação de sonhos são os conceitos junguianos de Incons-
ciente Coletivo, Pessoal e Arquétipos. O Inconsciente, como
a própria palavra antecipa, é a porção da psique que está si-
tuada fora do conhecimento consciente. Ele está dividido em
inconsciente pessoal, aquele repositório de memórias, pensa-
mentos, imagens, emoções que nunca foram conscientes, ou já
foram um dia e não mais o são; e inconsciente coletivo, aquele
que aloja as imagens arquetípicas. Já por Arquétipo, Jung nos
ensina que é um padrão potencial inato de imaginação, pen-
samento ou comportamento que pode ser encontrado entre
seres humanos em todos os tempos e lugares.
Para Jung, a nossa psique se assenta, em suas camadas
mais profundas, nos diversos níveis de inconscientes coletivos
dos diversos grupos que participamos direta ou indiretamente
em nossa vida, dos nossos familiares e antepassados. As cama-
das menos profundas são compostas pelos diversos níveis do
Inconsciente Pessoal.
Os sonhos, como produtos típicos do Inconsciente, são
estruturados com elementos arquetípicos oriundos das diver-
sas camadas coletiva e pessoal e são energizados pelos diver-
sos complexos, ganhando mais energia daquele complexo que
se encontra mais constelado (energizado emocionalmente).
Pois bem, após dizer seu nome, Marta já foi me falando
que havia me procurado porque uma amiga havia falado para
ela que eu tinha interpretado seus sonhos. E como Marta sofria
há vários anos de sonhos recorrentes que lhe tiravam o sono e a
paz, mesmo sem acreditar muito na psicanálise, me procurara.
Durante a anamnese, foi possível identiÀcar que Marta
havia tido uma infância e adolescência muito difícil. Após per-
der seu pai em tenra idade, como Àlha mais velha, foi criada

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |63
José Anastácio de Sousa Aguiar

pela mãe, apática e sem iniciativa, para ser o “homem” da casa


e prover as necessidades dos irmãos. Desde cedo, ela experi-
mentou um fardo de cobranças e preocupações que excediam
suas capacidades ainda em formação. Desenvolveu um estilo
autoritário e obstinado, destoante da sua realidade mais ínti-
ma; doce e carente.
Os sonhos dela eram recorrentes desde a adolescência;
consistiam basicamente em sentir-se perseguida por um ca-
chorro preto em um campo. Ela corria com todas as suas forças
até se deparar com um lago de águas turvas e pouco acolhedo-
ras. Parada à beira do lago, o cachorro se aproximava perigosa-
mente, e nesse momento, ela acordava aÁita e angustiada.
Marta contava as suas memórias sempre regada de mui-
tas lágrimas, que mais jorravam de seus olhos à medida que
as emoções se acentuavam. Sua mágoa principal era dirigida à
sua mãe, mas sentia que seu pai também a havia abandonado.
Tendo em vista que o horário da sessão se aproximava
do Àm, decidi ensinar algumas técnicas simples de amoriza-
ção pelo Método PANG (Perdão, Aceitação, Não-resistência e
Gratidão) para que ela pudesse praticar em casa. Solicitei que
ela realizasse os exercícios a qualquer hora do dia, mas Àzesse
impreterivelmente antes de dormir e, se possível, passasse a
anotar a evolução dos seus sonhos.
A técnica do Método PANG tem por objetivo desenergi-
zar os complexos. Como Jung nos ensina, todo complexo tem
em seu núcleo uma imagem traumática e orbitando o complexo
estão as energias emocionais negativas que se realimentam nos
pensamentos que têm similitudes com as emoções recalcadas.
Ao fomentar e cultivar pensamentos e emoções relati-
vas ao perdão, aceitação, não-resistência e gratidão, dirigin-
do-os para as pessoas que mais trazem lembranças indese-

Casos Clínicos em Hipnose:


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jadas do passado (no caso de Marta, mãe e pai), permiti a


ela dissipar os sentimentos traumáticos. Em consequência,
a imagem cristalizada do evento doloroso inicial não se sus-
tenta sem a emoção que a alimenta e tende a diminuir e, às
vezes, desaparecer da psique.
Na sessão seguinte, Marta chegou com um caderno de
anotações em mãos e, de início, já foi me dizendo o quanto seus
sonhos tinham melhorado. Houve necessidade de mais algu-
mas sessões até Marta libertar-se de seus próprios fantasmas,
medos e culpas.

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Caso Clínico em Hipnose V

A função da ovelha negra; ou


O poder destruidor da vida de mentiras e
aparências
“Tenha como inútil aquilo que algum dia possa
te levar a transgredir tua fé, a perder tua honra,
a odiar, a suspeitar, a amaldiçoar, a dissimular,
a cobiçar o que terá que ser oculto por muros
ou véus. Quem privilegia a razão, seu deus inte-
rior e o culto silencioso da virtude íntima, não se
presta a espetáculo, não se lamenta, não procura
a solidão e a multidão, mas viverá sem desejos e
sem temor. Nisso reside o maior dos bens.”
Marco Aurélio, em “Meditações”

Era evidente a tristeza e o abatimento de Maia, mulher


contando com cerca de 40 anos, aparentando, entretanto,
muito mais. Contou-me ela que me procurara em razão dos
problemas causados pela Àlha, Mara Eco. Relatou, a desolada
mãe, que a sua Àlha única era considerada na família a ovelha
negra, pois a partir da pré-adolescência tornou-se rebelde, in-
dócil e irritadiça. Já na adolescência, envolveu-se com drogas e
chegava a passar dias sem dormir em casa.
Pedi que ela me reportasse a sua vida e a sua relação com
o marido. Após uma hesitação inicial, contou-me, acompanha-
do de muitas lágrimas, que o seu casamento era um desastre.
Ela casara cedo em razão de ter engravidado, entretanto, na
verdade, nunca o amara (nem ele a ela, supunha). A vida do

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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

casal, desde sempre, era uma falácia, mas a situação piorara


quando ela descobriu que o marido levava uma vida dupla,
posto que o mesmo se relacionava com outro homem. Assim,
Maia passou a dedicar-se totalmente ao trabalho como fuga de
seus problemas pessoais. Nesse ambiente, Mara crescera.
Pois bem, a Àlha do casal representava todo o desajuste
da relação familiar, funcionando, na verdade, como um espe-
lho da vida de aparências levada por aquela família. Mara, que
à primeira vista era tida como algoz da suposta tranquilidade
do lar, era, em verdade, vítima do desamor de seus pais.
A inexistência da sinceridade, companheirismo e diálo-
go gerou todo o desequilíbrio familiar. Assim, a toda evidência,
somente com o cultivo das referidas qualidades poder-se-ia
restabelecer a harmonia.
O mapa da alma idealizado por Jung é eminentemente
dual, posto que os principais institutos teóricos por ele desen-
volvidos estão, de ordinário, dispostos em pares de opostos,
senão vejamos: Consciente-Inconsciente; Animus-Anima (que
veremos nos casos clínicos a seguir); e Persona-Sombra.
Persona e sombra são estruturas complementares e exis-
tem em toda psique humana. Por sombra, entende-se os aspec-
tos rejeitados e inaceitáveis da personalidade que são recal-
cados e formam uma estrutura compensatória para os ideais
de si-mesmo do ego e para a persona. Já persona é a interface
psíquica que o indivíduo usa quando do seu relacionamento
com a sociedade, constituindo-se na sua identidade social.
Todos nós temos uma sombra, isso é inevitável. Ao
adaptar-se ao mundo, por meio da interação social, o ego de
um modo, muitas vezes, inteiramente involuntário, emprega
a sombra para executar operações desagradáveis que ele não
poderia realizar sem submeter-se a um conÁito moral.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |67
José Anastácio de Sousa Aguiar

A sombra não é diretamente experimentada pelo ego,


sendo inconsciente, e, normalmente, é projetada nos outros.
Quando uma pessoa se sente demasiadamente irritada por
outra que manifesta uma qualidade negativa qualquer, essa
reação é usualmente um sinal de que está sendo projetado um
elemento inconsciente da sombra.
Os aspectos que compõem a sombra – seu conteúdo e
qualidades – são adquiridos pelo processo de desenvolvimen-
to do ego. O que a consciência do ego rejeita torna-se sombra;
o que ela aceita de forma positiva e proativa torna-se parte
integrante de si mesma e da persona. A sombra é caracteriza-
da pelos traços e qualidades que são incompatíveis com o ego
consciente e persona.
A sombra e a persona são pessoas estranhas ao ego que
habitam a psique junto com a personalidade consciente que
nós próprios sabemos ser. Há a pessoa pública e oÀcial, a que
Jung chamou de persona, a qual está mais ou menos identiÀ-
cada com a consciência do ego e forma a identidade psicos-
social do indivíduo. A personalidade da sombra, entretanto,
não é visível (nem ao próprio indivíduo) e só aparece em oca-
siões especiais.
Sombra e persona são como dois lados da mesma moeda;
uma está à vista do público, a outra está escondida e é solitá-
ria. Usualmente, elas são o oposto mais ou menos exato uma
da outra. É possível ver a sombra como uma espécie de contra-
-pessoa, como uma subpersonalidade que quer o que a persona
não permitirá. Já a persona é a pessoa que passamos a ser em
resultado dos processos de aculturação, educação e adaptação
aos meios físicos e sociais.
O desenvolvimento da persona é tipicamente um impor-
tante problema na adolescência e início da idade adulta, quan-

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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

do a psique tem que lidar com as pressões do mundo interno


de realização de desejos e as condicionantes de conformidade
do mundo externo.
Pois bem, Mara crescera em um ambiente hostil e de de-
sequilíbrio energético provocado por brigas e mentiras de seus
pais. Desde tenra idade presenciou situações de desamor, tris-
teza, violência e amargura geradas por seus pais.
Maia e seu marido levavam uma vida de aparências (per-
sona do casal), situação não aceita pela personalidade sensível
e carente da Àlha. Nesse contexto, Mara absorveu as sombras
dos pais e as representava em sua persona, por meio da rebel-
dia, irritabilidade e pulsão de morte.
Realizei uma indução hipnótica em Maia e quando do
aprofundamento do estado hipnótico, pedi que ela deixasse
seus pensamentos Áuírem e me relatasse o que estava viven-
ciando no estado de transe. Ela me disse que estava se vendo
caindo em um buraco muito escuro e, à medida que afundava,
via de relance todos os momentos de dor e sofrimento que ela
e o marido geraram.
Quando da ressigniÀcação, pedi que ela visse asas se for-
mando nas suas costas, permitindo, assim, que ela parasse de
afundar e começasse o voo de retorno ao céu. Houve necessi-
dade de várias sessões para a completa recuperação de Maia.
Ao Ànal, ela e o ex-marido seguiram destinos diferentes, mas
cada um libertou-se do fardo de dor e sofrimento que haviam
cultivado com a inconsciência de ambos.

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Caso Clínico em Hipnose VI

O desequilíbrio do ‘Animus’; ou
O que signiÀca mesmo ganhar a vida?

“Se acaso encontrares nessa vida algo melhor do


que a justiça, a verdade, a temperança, a cora-
gem, melhor ainda do que o pensamento que a si
mesmo basta quando, submisso à razão, fornece
o rumo certo de atividade, que com seu destino
se conforma ao aceitar a sorte que não escolheu,
se, reaÀrmo, encontrares algo melhor, abraça-te
a isso com todas as forças e goza o bem supremo
que descobristes (...)
Caso alguém me convencer, me provar que pen-
so ou procedo erradamente, tratarei de corrigir-
me, já que busco a verdade, que nunca fez mal a
ninguém. Mas quem persiste no erro e na igno-
rância faz mal a si mesmo.
De mim, faço o que é meu dever. Desse dever não
me afastarão os outros seres que são inanimados,
irracionais ou se transviaram e desconhecem seu
melhor caminho. (...)
Coloca sua felicidade nas ações de outrem aque-
le que ama a glória. Aquele que ama o prazer, nas
próprias sensações. Aquele que ama a inteligên-
cia nas próprias ações põe sua felicidade. (...)
Passar todo dia como se fosse o último, sem agi-
tação, sem moleza, sem falsidade, nisso consiste
a perfeição dos costumes. (...)

Casos Clínicos em Hipnose:


70 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

Se uma causa exterior te perturba, a tua aÁição


não vem dessa causa, mas, sim, do teu juízo a
respeito dela. Em teu poder está a possibilidade
de diluir essa aÁição. Se teu desgosto decorre de
uma disposição interior, quem te impede de cor-
rigir teu estado de espírito.”
Marco Aurélio, em “Meditações”

SoÀa era uma paciente na meia idade, com “a vida ga-


nha”, como, de pronto, me falou ao início da consulta. Tinha
um bom emprego, 2 lindas Àlhas, já formadas e casadas, mas
sentia um vazio existencial muito grande, que não conseguia
preencher com nada, nem mesmo com a religião.
Contou-me que era a Àlha mais velha de 3 mulheres, e
que seu pai, um rico comerciante, falecera quando ela tinha
10 anos de idade, deixando a família com problemas Ànancei-
ros. Sua mãe, mulher de saúde debilitada, nunca foi capaz de
assumir os afazeres domésticos, função que ela tinha assumi-
do, desde muito nova, com uma certa resistência, mas pro-
curava cumprir com esmero. Sua irmã mais nova era muito
elogiada pela beleza e tinha um tratamento diferenciado por
parte da mãe.
Pois bem, este quadro se seguiu até os dias atuais, e sua
principal reclamação era que, apesar de seus esforços, não era
reconhecida pela sua mãe. Tornara-se em razão das circuns-
tâncias, uma mulher decidida, eÀcaz, assertiva, mas também
austera, rigorosa e insensível.
A realidade familiar que a circundava desde cedo, levou-a a
desenvolver uma acentuada energia masculina perante a vida
e desequilibrar de forma evidente seu ‘animus’. Assim, o ree-
quilíbrio de sua energia psíquica era imperioso, entretanto, o

Casos Clínicos em Hipnose:


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José Anastácio de Sousa Aguiar

turbilhão que se instalara na vida de SoÀa desde tenra idade


não lhe permitia ver mais nada além do que lhe era familiar –
trabalho, dinheiro e problemas para resolver.
Jung nos proporciona uma visão ampla da forma como
o indivíduo se relaciona com o mundo interior e exterior. Ani-
ma e animus são personalidades subjetivas que representam
um nível do inconsciente mais profundo do que a sombra. Eles
representam e revelam as características da alma e conduzem
para os domínios do inconsciente coletivo, seriam como Àgu-
ras arquetípicas da psique.
Convencionalmente, a relação da mulher com o seu mun-
do interior dá-se por meio de imagens arquetípicas do eterno
masculino, conhecido como Animus, que forma um elo entre
a consciência do ego e o inconsciente coletivo. Por outro lado,
a relação do homem com seu mundo interior dá-se por meio
de imagens arquetípicas do eterno feminino, conhecido como
Anima, formando-se da mesma forma o elo acima referido.
Animus/anima é uma estrutura psíquica que é comple-
mentar da persona e vincula o ego à camada mais profunda da
psique, sendo o meio pelo qual o ego pode ter acesso às ex-
periências mais profundas. Pode ser entendida também como
uma disposição ou atitude que governa as relações dos indiví-
duos com o mundo interior do inconsciente.
Nesse contexto, é possível veriÀcar que as atitudes aus-
teras e insensíveis de SoÀa eram fruto do desequilíbrio do seu
Animus, ou como Jung diria: a possessão pelo Animus.
SoÀa, na verdade, era sobrepujada pelo seu inconsciente.
A elevada carga emocional dos pensamentos e opiniões – con-
sequência das responsabilidades que ela teve que arcar desde
cedo – a controlavam, em vez de ela controlar as suas emoções.
Como consequência, seus relacionamentos tendiam a sofrer

Casos Clínicos em Hipnose:


72 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

danos irreparáveis, porque as pessoas que interagiam com ela


tinham que se proteger do seu descontrole emocional.
Por mais que ela tentasse ser receptiva, não conseguia,
posto que as fortes cargas emocionais oriundas do seu incons-
ciente a transformavam em uma pessoa pouco gentil e amigável.
Pessoas com esse padrão são propensas a atritos e do-
minadas por impulsos inconscientes de poder e controle. Ca-
racteriza-se também pela existência de um ego subdesenvol-
vido, incapaz de reter e conservar os conteúdos que Áuem do
inconsciente e precisariam ser objeto de reÁexão e digestão
prévias por parte da consciência do ego, antes de se transfor-
marem em ação verbal e física.
No trabalho terapêutico, no caso de SoÀa, enfoquei
primordialmente a elevação do seu nível de consciência. As
dores e mágoas do passado não mais justiÀcavam as suas
projeções na sua vida atual. O passado havia criado nela ra-
nhuras em sua psique, feridas não cicatrizadas que a levava
a atuar sempre como refém de si mesmo, melhor dizendo: de
seu Animus inconsciente.
Lembrei a ela que ganhar a vida não podia se limitar ao
aspecto Ànanceiro, mas sim a todos os níveis, principalmente,
o emocional. Era preciso apaziguar e harmonizar as suas forças
internas, pois só assim ela teria o discernimento adequado para
lidar com o seu Animus. E o trabalho terapêutico tinha necessa-
riamente que começar curando a criança carente e ferida.
Realizamos, assim, algumas sessões de hipnose com este
foco, fomentar o perdão e resgatar o amor não vivido.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |73
José Anastácio de Sousa Aguiar

Caso Clínico em Hipnose VII

O desequilíbrio da Anima;
ou Perfeição ou felicidade?
“É em vão que se vagueia de ciência em ciên-
cia: cada um aprende somente aquilo que
pode aprender.”
Johann W. von Goethe, em “Fausto”

Pedro tinha um estilo típico e inconfundível. Imponente


e sisudo, adentrara ao consultório com um ar ao mesmo tempo
resoluto e inseguro. Demonstrando muita convicção e Àrmeza
nos gestos, foi logo me falando que somente me procurara após
muita insistência de sua ex-esposa, minha paciente.
Pedi para que me dissesse em que poderia ajudá-lo. Asseve-
rou que achava que eu não poderia fazer nada por seus problemas,
já que ele tentara por toda sua vida resolvê-los e não conseguira,
mas já que estava ali, iria me contar um pouco de sua história.
Relatou-me que casara jovem, aos 18 anos, e viera de uma
família pobre, o que o obrigou a trabalhar muito, desde cedo.
Tivera cinco Àlhos e apesar de suas diÀculdades Ànanceiras,
dera o melhor de si, sempre procurando dar tudo de melhor
para os Àlhos e a esposa. Acrescentou que todos os Àlhos, en-
quanto na fase da infância, sempre foram comportados e sub-
missos a ele, mas a partir da adolescência, todos, sem exceção,
se revoltaram, de uma forma ou de outra.
Na atualidade, encontra-se sozinho, recebendo visi-
tas esporádicas de sua ex-esposa. Após um longo descorti-

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

nar dos atritos entre ele e os Àlhos, me confessara, sob forte


emoção, que fora até mesmo ameaçado de morte por dois dos
Àlhos e genros.
Acrescentou que programara toda a vida de seus Àlhos,
indicando a eles o que deveriam fazer, tanto no lado proÀs-
sional como pessoal, já que ele sabia muito bem o que fazer,
posto ter vencido todos os desaÀos em sua vida. Finalizou as-
sim: “Fui perfeito, não admito que meus Àlhos sejam menos
que isso”.
Depois de ter descortinado mais detalhes sobre as suas
relações com a ex-mulher e Àlhos, pedi a ele que me contasse
como havia sido a infância, em especial a relação com o pai e
mãe. Esta pergunta foi a gota d’água que faltava para derrubar
a fortaleza de imponência e sisudez. Já conÀante em mim, re-
latou-me que suas lembranças em relação ao pai eram carre-
gadas de dualidade, pois ao mesmo tempo que via o pai como
uma Àgura distante e autoritária, sentia sempre uma carência
muito grande, nunca satisfeita em razão da relação fria e formal
entre ambos. As lágrimas nos seus olhos vieram a rolar mesmo
quando ele se referiu a mãe. Contou que ela era a submissão
e medo em pessoa, alguém que nunca conseguiu expressar-se
emocionalmente, apesar de ordinariamente ter cumprido a sua
missão de cuidar da casa.
Pois bem, o ambiente opressor e de pouca liberdade do
lar de Pedro o impossibilitou de deixar Áuir as suas emoções,
que permaneceram reprimidas e inÁuenciavam negativamente
a sua vida na atualidade.
Como vimos no caso clínico anterior, a relação do ho-
mem com seu mundo interior dá-se por meio de imagens ar-
quetípicas do eterno feminino, conhecido como Anima. Como
as emoções de Pedro permaneceram recalcadas, a sua capaci-

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |75
José Anastácio de Sousa Aguiar

dade para lidar com o seu lado emocional restou atroÀada e


subdesenvolvida, o que o levou a replicar o comportamento
austero e rude de seu pai com seus próprios Àlhos, o que Jung
denomina de Projeção.
A Projeção de uma Anima mal desenvolvida está sem-
pre associada à incapacidade do indivíduo de lidar com seus
afetos e sentimentos. No geral, um homem que está frequen-
temente mal-humorado, diz-se que tem um “problema de
Anima”. A persona de alguém nesta situação é hipersensível
e impregnada de emocionalidade. Pequenas contrariedades
podem levar a reações desproporcionais e gerar imensas va-
riações de humor, caracterizando-se pela intensa disfuncio-
nalidade da psique. Seus relacionamentos são tipicamente
repletos de conÁitos, porque ele tem reações poderosas de-
mais para que consiga dominá-las.
As projeções que Pedro fazia de seu passado remoto
conturbado na sua família atual traziam a ele toda uma carga
de desequilíbrio energético. Cumpre lembrar que as projeções
são originárias do inconsciente e não do ego. Em geral, entre-
tanto, o ego não é suÀcientemente desenvolvido para entender
os prejuízos das projeções da Anima, assim, o indivíduo Àca
refém das reminiscências de um passado não trabalhado.
A escassez de maturidade da Anima fortemente in-
Áuenciara o desequilíbrio das energias psíquicas de Pedro,
mas ao mesmo tempo seria o Ào de Ariadne do tratamento
terapêutico. A ênfase da terapia e da hipnose, para o caso
dele, foi a tomada de consciência dos medos, culpas, mágoas
e sentimentos reprimidos, o que o levou a fortalecer o ego e
reformatou o seu destino.

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
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Caso Clínico em Hipnose VIII

A autoconÀança agressiva e a fragilidade


interior; ou A função compensatória dos
opostos junguiana
“Deus existe para mim na medida em que me
assumo a mim próprio livremente. Não existe
como objeto do saber, mas como revelação na
existência.
A iluminação da nossa existência enquanto li-
berdade também não demonstra a existência de
Deus, apenas indica o ponto em que a certeza da
sua existência é possível.
Em nenhuma prova da existência de Deus, pode o
pensamento alcançar o seu desígnio, se o que pre-
tende é uma certeza absoluta. Mas o malogro do
pensamento não redunda em nada. Aponta-nos
aquilo que se nos manifesta na inesgotável e sem-
pre problemática consciência englobante de Deus.
Enquanto conheço apenas os motivos e as Ànali-
dades da minha ação estou no domínio do Ànito
e relativo. Só quando vivo segundo o que carece
de fundamentação objetiva, vivo pelo absoluto.
O absoluto não pode ser demonstrado, não
pode ser apontado como existência no mundo
– os testemunhos históricos são apenas alusões.
Aquilo que sabemos é sempre relativo. O que se
pode mostrar já não é absoluto.”
Karl Jaspers, em “Iniciação FilosóÀca”

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |77
José Anastácio de Sousa Aguiar

Carl G. Jung, o pai da psicologia analítica, Àcou mun-


dialmente conhecido após desenvolver diversos conceitos na
área da psique humana, dentre eles: o inconsciente coletivo, os
arquétipos, a individuação e a sincronicidade. Entretanto, não
seria exagero inferir que um dos conceitos junguianos menos
conhecidos, talvez seja um dos principais pilares do seu traba-
lho, trata-se da teoria da compensação (ou teoria dos processos
compensatórios ou função compensatória dos opostos). Foi a
partir deste fundamento que surgiram várias de suas criações,
como: a Anima e o Animus, os Tipos Psicológicos Introvertido
e Extrovertido, dentre outros.
Para Jung, a vida de cada um de nós poderia ser divi-
dida em duas metades. Na primeira parte, o indivíduo tende
a estabelecer e perseguir metas objetivas e concretas, tendo
como principal objetivo o desenvolvimento do ego e da per-
sona. Já na segunda metade da vida, os valores e objetivos
tendem a se alterar, passando a ter importância questões an-
tes negligenciadas, como os aspectos subjetivos da existên-
cia. O objetivo dessa fase seria a Individuação, que Jung de-
Àniu como o processo do desenvolvimento psíquico que leva
ao conhecimento da totalidade, que seria em última análise, a
realização da unidade psicológica, no sentido mais amplo do
termo, o que pressupõe unir aspectos conscientes e incons-
cientes da personalidade.
O mecanismo psicológico por meio do qual a indivi-
duação ocorre é a compensação. Cumpre destacar, de início,
que a relação fundamental entre consciente e inconsciente
é compensatória. Na primeira metade da vida, o crescimen-
to do ego para fora do inconsciente resulta na separação
entre a consciência do ego e a matriz inconsciente donde
provém. A tendência do ego é tornar-se unilateral e exces-
sivamente confiante em si mesmo. Quando isso acontece, o
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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

inconsciente começa a compensar essa unilateralidade. As


compensações podem ocorrer de várias formas, especial-
mente em sonhos.
A função compensatória consiste em introduzir equilí-
brio no sistema psíquico e este processo pode dar-se também
por meio de atos falhos, esquecimentos ou revelações milagro-
sas; proporcionando acidentes, desastres, golpes de sorte, etc,
podendo gerar ideias inovadoras que conduzem a um novo re-
começo, ou noções levianas, as quais levam ao desastre.
Quando se chega à meia-idade, ocorre um processo di-
ferente na psique, o estado de espírito da pessoa tende a não
mais se interessar pelos objetivos da fase anterior, a tarefa ago-
ra consiste em uniÀcar o ego ao inconsciente, o qual contém os
valores subjetivos primordiais não vividos pela pessoa e o seu
potencial espiritual não realizado. Em outras palavras, a pes-
soa tende a se tornar o que sempre foi potencialmente, desta
feita de forma consciente. Esse desenvolvimento, na segunda
metade da vida, é o clássico signiÀcado junguiano do processo
de individuação.
Nesse contexto, relato o seguinte caso. João, um senhor
na meia-idade, chegou ao meu consultório com a demanda de
que se sentia triste e deprimido, apesar de suas conquistas ma-
teriais. Relatou ser um executivo de uma grande multinacio-
nal, entretanto seu desempenho proÀssional estava em deca-
dência e sua maior reclamação era em relação às suas emoções.
Ele mesmo relatou que era muito autoconÀante e para atingir
as suas metas no trabalho corporativo precisava lançar mãos
da agressividade, posto que, como ele mesmo enfatizou: “Só
assim eles entendem e obedecem”.
VeriÀcou-se, durante o tratamento terapêutico, que João
havia perdido o pai muito pequeno e a família passou por pro-

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técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |79
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blemas Ànanceiros e ele precisou desde cedo ser, como citou:


“Arrojado e agressivo.”
Em verdade, João tinha um complexo de inferioridade
e uma fraqueza interna muito intensa, questões essas que ele
procurava compensar, perante o mundo exterior, com uma
autoconÀança agressiva. Em outras palavras, a autoconÀança
agressiva era um reÁexo de sentimentos interiores (incons-
cientes) de fraqueza e inferioridade, que não tinham sido tra-
balhados e reclamavam de forma recorrente a atenção do cons-
ciente, levando João a uma espiral de confusão e incertezas,
que fomentavam a sua agressividade.
A neurose de João baseava-se num conÁito interno que
garantia a unilateralidade da psique: o inconsciente era repri-
mido e João acabava num impasse que lhe consumia a energia
vital. O processo de individuação de João estava comprome-
tido porque o consciente e o inconsciente não formavam um
todo, posto que suas questões inconscientes eram reprimidas
e não integralizadas. Certamente, a questão central da terapia
seria a cura da criança interna ferida por meio do reequilíbrio
da sua energia psíquica, o que foi paulatinamente realizado
por meio da hipnose ercksoniana.

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

Caso Clínico em Hipnose IX

A dádiva como maldição e a maldição como


dádiva; ou O Processo de Individuação e a
(auto) busca do Si-mesmo
“Considera brevemente o que te ocupa durante esse
percurso. Poderias acaso crer que teria sido para um
destino tão nulo que te verias dotado de faculdades e
propriedades tão superiores? Terias nascido tão pe-
netrante, tão grandioso, tão vasto nas profundezas
de teus desejos e pensamentos somente para consu-
mires tua existência com ocupações tão fastidiosas
por sua periodicidade; tão tenebrosas e limitadas
em seu objetivo; enÀm, tão contrárias à tua nobre
energia, dado o capricho que parece mantê-las em
sua dependência e delas ser o soberano árbitro?”
Louis-Claude de San-Martin, em “O Ministério
do Homem-Espírito”

A primeira vez que atendi Morgana, pareceu-me que ela carre-


gava os problemas do mundo nos seus ombros. Contou-me que tinha
40 anos, entretanto seu rosto entristecido e com profundas marcas
de expressão apontava para uma idade emocional muito superior.
Apesar das suas feições guardarem reminiscências da sua beleza dos
seus anos dourados, a sua fraca energia e a postura insegura perante a
vida aumentavam mais ainda os seus sinais externos de tristeza.
Contou-me que outrora fora uma mulher muito bonita e
desejada e sempre tivera os homens aos seus pés. Bem jovem já
era destaque nas passarelas e revistas de moda. Sua irresistível

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técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |81
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beleza e encantamento trouxeram a ela uma sensação de poder


absoluto e infalibilidade. Assim, começara sua vida proÀssio-
nal de modelo muito cedo. Seu sucesso, em idade tão precoce,
também lhe apresentou o mundo dos vícios e da futilidade.
Cedo ela já não controlava mais o vício em drogas e sua com-
pulsão perdulária em compras. O fundo do poço não demorou
a chegar, em uma de suas sessões diárias de droga, seu orga-
nismo não resistiu e ela teve uma parada cardiorrespiratória
que a levou para o hospital e lá permaneceu por longos 40 dias
lutando para viver.
Não tinha nem 25 anos e já perdera tudo o que ganhara, in-
cluindo a sua saúde e beleza. Passou por várias clínicas de reabili-
tação durante quase quinze anos e somente após os períodos no
hospital conseguia retomar um pouco do controle sobre a sua vida.
A experiência total de integridade ao longo de uma vida in-
teira é conceituada por Jung como Individuação. Em outras pala-
vras, a profunda unidade interior num nível consciente, apesar de
ser uma proeza rara deve ser, segundo Jung, não só a tarefa de cada
indivíduo, mais ainda, um imperativo psicológico.
O mecanismo psicológico por meio do qual a individuação
ocorre é a compensação. Em outras palavras, a relação fundamen-
tal entre consciente e inconsciente é de natureza compensatória.
Caso haja um desequilíbrio entre o ego e sua matriz no incons-
ciente, como no caso de Morgana, que se deixou envolver pelos
prazeres do mundo externo, o Si-mesmo se encarregará de com-
pensar o desequilíbrio energético, restabelecendo a harmonia na
psique. Dessa forma, a individuação é um Àm em si mesmo.
Em geral, o ego de cada um, por si só, é incapaz de reali-
zar a uniÀcação ampla da personalidade (equilíbrio conscien-
te – inconsciente), necessitando de ajudas, que no geral ocor-
rem por meio de eventos fortuitos - atos falhos, reencontros

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo II – Terapia de Vidas Passadas: as resposta às suas questões
mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

casuais, acidentes, etc, sendo o Si-mesmo, na visão de Jung,


o responsável por corrigir o rumo do processo de desenvolvi-
mento da personalidade.
O consciente e o inconsciente não formam um todo
quando um deles é suprimido e prejudicado pelo outro. O in-
consciente é vida, e essa vida volta-se contra aquele que não
pretender vivê-la.
Durante o desenvolvimento da personalidade, o Si-mesmo
colide com a psique e tende a gerar mudanças no indivíduo, em
todos os níveis: físico, psicológico e espiritual. O processo de indi-
viduação é impulsionado pelo Si-mesmo e levado a efeito por meio
do mecanismo da compensação. Em linhas gerais, é possível inferir
que o Si-mesmo é um centro transcendente que governa a psique
do lado de fora dela própria e circunscreve a sua integridade.
Era evidente em Morgana o desequilíbrio de sua psique.
A vaidade e futilidade que ela vivenciou, desde tenra idade, a
inÁuenciaram perigosamente para a unilateralidade, criando
nela uma tensão constante que demandava muita energia psí-
quica e tornava sua vida mais vazia à medida que fazia sucesso.
A parada cardiorrespiratória que a havia levado a quase
morte, ao mesmo tempo fora o elemento chave que permitiria
um novo recomeço. Por não conseguir lidar bem com a sua dádi-
va, Morgana a transformou em maldição. Entretanto, esta mes-
ma maldição que tanto a fez sofrer, abria as portas para o encon-
tro com a sua verdadeira natureza e o resgate do Si-mesmo.
Morgana adaptou-se muito bem às sessões de relaxa-
mento e induções hipnóticas que fortaleciam a sua autoestima
e preenchiam seu vazio existencial, antes ocupado pelas dro-
gas. À medida que o tempo passava mais e mais ela redesco-
bria-se, tanto no nível emocional, como no proÀssional, desta
feita, desenvolvendo o seu adormecido talento para pintura.

Casos Clínicos em Hipnose:


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Caso Clínico em Hipnose X

O potencial curativo da Terapia de Vidas


Passadas; ou TVP, realidade ou produto do
inconsciente?
“A única lei, a verdadeira lei, não é uma lei, mas uma
compreensão, uma harmonia, uma inspiração e uma
expiração que fazem do ser uma célula do Divino.”
Zérah, personagem do livro “O Caminho dos Essênios”

Por mais que tentasse, Cassandra não conseguia rela-


cionar-se bem com a Àlha. Ela me dissera que já havia ten-
tado tudo, havia inicialmente procurado os grupos de acon-
selhamento da sua congregação religiosa, depois tentara o
acompanhamento por meio de um psicólogo e, recentemente,
tentara um psiquiatra, todos sem o menor sucesso.
Relatou-me, a aÁita mãe, que sua Àlha mais nova des-
de tenra idade demonstrara desconforto em sua presença, e a
situação só se agravou com o passar dos anos. Atualmente, já
com 19 anos de idade, Poliana permanecia arredia à mãe. O re-
lacionamento da referida jovem com seu pai e os outros irmãos
mais velhos, apesar de tenso, estava na casa do aceitável.
Após duas sessões de terapia tradicional, sugeri à Cas-
sandra que tentássemos a hipnose, que poderia tanto pro-
porcionar um estado de relaxamento a sua angustiada reali-
dade, bem como poderíamos obter informações valiosas que
facilitassem a terapia. Ela informou que apesar de já haver
ouvido falar da existência da hipnose, desconhecia o seu po-
tencial curativo. Seria, então, a sua primeira sessão.
Pois bem, ao longo de três sessões, Cassandra descreveu-me,
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mais importantes podem estar onde você nunca imaginou

sob forte emoção, que sua Àlha em duas ocasiões em vidas passadas
era sua opositora: a primeira num cenário político na guerra de seces-
são americana; e a segunda, mais recente, no Ànal do século XIX, vie-
ram como homens que disputavam a conquista de uma mesma mu-
lher. Os dados obtidos permitiram potencializar o efeito curativo da
terapia analítica, e atualmente ambas, após compreenderem os sen-
timentos envolvidos que as afastava, permitiram-se o perdão mútuo.
O paciente, em geral, está frequentemente fechado em
um único nível de interpretação simbólica da realidade. Essa
visão de mundo, normalmente, é contaminada pelas questões
não resolvidas de seu passado, que reforçadas por comporta-
mentos em desequilíbrio energético, o leva a fazer o pior, mui-
tas vezes, sabendo, mesmo que inconscientemente, o melhor.
A dor de Cassandra, após experiências de provações,
sofrimentos e solidão, ao mesmo tempo que era motivo de
muita angústia e revolta, foi o canal que a levou a se permitir
a cura, o que desencadeou nela a sequência de atos que lhe
abriam o caminho do reequilíbrio de sua psique.
Após um não breve tratamento, Cassandra perguntou-me
se seria real ou fruto de seu inconsciente os eventos que ela pre-
senciou em vidas passadas. Respondi que ela seria a melhor pes-
soa para responder esta pergunta, posto que o que ela vivenciara
era personalíssimo e somente ela poderia fazer este julgamento.
Após uma breve reÁexão, asseverou: “Realmente, nenhuma pa-
lavra poderia descrever o que senti, vi e vivi, mas o que realmen-
te importa é a minha redenção dos erros passados e a nova opor-
tunidade que estou tendo de recomeçar com consciência e paz”.
Sem qualquer formação terapêutica, Cassandra entendeu
perfeitamente qual deve ser o cerne de toda técnica que se dis-
ponha a aliviar o sofrimento humano: permitir que o indivíduo
realize seu próprio potencial de amor e com essa autodescober-
ta reencontre o caminho da paz que o eleva ao Divino.
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |85
José Anastácio de Sousa Aguiar

BibliograÀa

CANNON, Dolores – Between death and life – Ozark – 1993;


DORST, Brigitte – C. G. Jung, espiritualidade e transcendên-
cia – Editora Vozes – 2015;
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FREUD, Sigmund – Obras psicológicas completas de Sigmund
Freud – Volume I a XXIII – Imago – 1996;
LAPA, Hugo – Apostila de Terapia de Vidas Passadas;
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NETHERTON, Morris – Vida Passada, uma abordagem psico-
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NEWTON, Michael – Destiny of souls – Llewellyn – 2014;
PINCHERLE, Lívio T. – Psicoterapias e estados de transe –
Summus editorial – 1985;
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do inconsciente – Summus editorial – 1990;
RESENDE, Célia – Terapia de Vidas Passadas – Viva livros – 2012;
STEIN, Murray – Jung, o mapa da alma – Cultrix – 2006;
WEISS, Brian – Muitas vidas, muitos mestres – Sextante;
WOOLGER, Roger J. – As várias vidas da alma – Cultrix – 2012.

Casos Clínicos em Hipnose:


86 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III
Hipnose e seu poder clínico
Sobre o Autor

Luciano Furtado Sampaio


(85) 99972.6153
* lucianosampaio@gmail.com
www. lucianosampaio.com.br

Aos 14 de janeiro de 1953 nasci com Laécio, irmão gêmeo,


sendo o oitavo dos vinte e dois Àlhos do casal Leônidas e Mun-
dinha, no pacato sítio Gangorra, do então distrito São Pedro
de Milagres, hoje Abaiara/CE. Família de formação católica, de
orações diárias, missas dominicais e semanais na casa da nossa
avó Júlia, mãe de papai.
Quando completamos doze anos, o meu tio e padrinho,
Padre José Leite Sampaio (Padre Duza), irmão do papai, per-
guntou-nos se queríamos ser padres. Com a resposta positiva,
em agosto de 1965 entramos no Seminário São José, da dio-
cese do Crato/CE. Após alguns anos, Laécio reconheceu não
ser essa a sua vocação e saiu. Eu continuei. Posteriormente,
tornei-me professor de ÀlosoÀa da Universidade Estadual do
Ceará - UECE, onde trabalhei trinta e três anos. Após tempos
intercalados de Seminários, ordenei-me sacerdote, em 1983,
em São Geraldo do Araguaia pelas mãos do cardeal Dom Aloí-
sio Lorscheider, como missionário da Arquidiocese de Fortale-
za. Com dezessete anos de ministério sacerdotal, atuando em
paróquias e formador em Seminários, deixei o ministério para
me casar com Homéria, com quem sou muito feliz.
Meu despertar para a hipnose: Padre Duza, estudioso
de parapsicologia e hipnose, a exercia para ajudar pessoas.
Curioso, eu o observava. Também via alguns hipnólogos na
televisão. Quando Àz mestrado de ÀlosoÀa em Belo Horizon-
te/MG, conheci a Dra. Renate Jost, que criara a Abordagem

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |89
Sobre o Autor

Direta do Inconsciente (ADI), método terapêutico com re-


gressão de idade. Escreveu dois livros a respeito: Chaves do
inconsciente; e O inconsciente sem fronteiras. Submeti-me a
este tratamento e vi resultados. Era pura regressão hipnótica,
embora aÀrmasse ela que não. Vi-me, por exemplo, no útero
da minha mãe, grávida de mim no quinto mês. Ela, juntamen-
te com papai, na sala da nossa casa, daquele tempo (1952),
feliz, recebendo uma rosa branca da vovó Júlia. Ao Ànal da-
quela sessão, perguntei ao terapeuta se aquilo era verdade.
Perguntou-me: sua mãe é viva? Respondi que sim. Ele disse:
pergunte a ela. Mamãe, depois, conÀrmou-me tudo, e, curio-
sa indagara-me como sabia daquelas informações. Conclui
ser hipnose algo mais sério do que via na televisão: tudo Àca
registrado no inconsciente e traumas podem ser ressigniÀca-
dos, como faz a ADI e outras terapias.
Resolvi, então, fazer psicanálise. No curso houve um
módulo de hipnose, cujo professor foi Dr. Reginaldo RuÀno,
de Recife/PE. Houve práticas e hipnotizei. IdentiÀquei-me
muito com a hipnose. Resolvei estudá-la profundamente e ser
hipnólogo clínico, a Àm de ajudar às pessoas a se libertarem
de traumas inconscientes profundos através desta técnica que,
tão rapidamente, pode transformar vidas, se ministrada por
pessoas éticas e competentes.
Hoje, aposentado, dedico-me, exclusivamente, a esta
missão. Apresento, na participação deste livro, alguns casos
que acompanhei.

Casos Clínicos em Hipnose:


90 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Luciano Furtado Sampaio

MEDO DA HIPNOSE?

O medo é natural, cultural e necessário ao ser humano. É


preventivo e nos faz cautelosos diante da realidade. O perigo
é ele nos paralisar e não avançarmos ou ousarmos em nossos
objetivos. Vencemos os medos quando conquistamos conhe-
cimentos e conÀança no que fazemos. Exemplos: Perdemos
medo de Deus quando conÀamos em seu amor e em sua mi-
sericórdia; e dos procedimentos cirúrgicos quando cientes da
competência do médico.
É comum encontrarmos pessoas que têm medo da
hipnose, quer pelos mitos, quer pelo pouco conhecimento
desta ciência e pelos muitos preconceitos a seu respeito. Isto
porque a hipnose é mais divulgada pela mídia, sobretudo,
por shows hipnóticos em TVs, os quais geram curiosidades e
medos. Têm seu lado positivo por demonstrarem o fantástico
poder da nossa mente inconsciente. No entanto, é mister
conhecer, em especial, a dimensão clínica da hipnose, que
favorece procedimentos terapêuticos, curativos, de diversos
tipos de desordens psicoemocionais, como estresse, ansiedade,
depressão, fobias, dependências químicas, tiques, gagueira,
obesidade emocional etc.
Quais os medos mais frequentes em relação à hipnose?
Um medo corriqueiro é o de perder o controle, a autonomia,
a liberdade pessoal, tipo: O hipnólogo pode fazer tudo o que
quer com a pessoa? Ela Àca inconsciente? Vai lembrar-se de-
pois do que vivenciou no transe? Pode descobrir segredos in-

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |91
Luciano Furtado Sampaio

desejados, como: e se eu descobrir que minha mãe me rejeitou?


Falou-me uma senhora que pediu hipnose, mas estava com
esse temor.
Eis as respostas: Quanto à perda da liberdade, tal não
ocorre. No processo hipnótico, o indivíduo Àca consciente do
que vem do inconsciente, acompanha tudo o que acontece, e
depois se lembra de tudo o que vivenciou no transe, a não ser
que o hipnólogo lhe sugira esquecer.
Hipnose implica conÀança e empatia. A pessoa acredita
e interage com o hipnólogo. Então, ela vive o que se permite
viver. Se, por exemplo, um hipnólogo inconsequente, irres-
ponsável, induz um hipnotizado a matar alguém ou a tirar a
roupa em público, se sua formação não lhe permite isso, ela
reage (não interage) e sai imediatamente do transe hipnótico,
rejeitando a sugestão. Portanto, a consciência moral é preser-
vada até pelo inconsciente, o que é muito bom. Neste sentido,
também os segredos não são violados; pelo contrário, são pro-
tegidos. Em hipnose clínica, tudo o que se vivencia é para o
bem, a saúde física, psíquica e emocional do ser da pessoa.
Na prática, na sua grande maioria, quem passa por hipno-
se liberta-se do medo e deseja aprofundar-se mais e mais, pois
cada vez que é hipnotizado, tem sempre ganhos de mudanças,
a começar pela capacidade de concentração então conquistada.

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92 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

HIPNOSE É CIÊNCIA?

Antes de responder a esta pergunta, lembro que há três


formas básicas de concepção de ciência: as ciências exatas,
como a matemática e a física; as ciências humanas, como a so-
ciologia e a psicologia; e as ciências da saúde, como a medicina
e a enfermagem.
Por lidar com o ser humano e seu psiquismo, a hipnose
está entre as ciências humanas e da saúde, como aÀrmam o
médico psiquiatra americano Frank S. Caprio e o psicanalista
Joseph R. Berger: “A hipnose é hoje em dia uma ciência respei-
tada. Ela ganhou interesse universal e mantém posição bem
deÀnida na proÀssão médica” (CAPRIO; BERGER, 1965, p. 3).
As ciências estudam fenômenos que acontecem e que
nem sempre os entendemos à primeira vista. Têm como razão
de ser explicar-nos como os fenômenos ocorrem, como aconte-
cem. Portanto, seu objetivo primeiro é explicitar conhecimen-
to e compreensão sobre um campo especíÀco da realidade. As
ciências humanas buscam libertar o ser humano da ignorância,
do senso comum e apresentar novos pontos de vista sobre a
realidade. Neste prisma, as ciências da saúde buscam libertar
ou prevenir o ser humano de doenças, traumas e ajudá-lo a
harmonizar-se física, psíquica e emocionalmente.
Então, a hipnose integra-se como ciência, em primei-
ro lugar, por possuir uma área especíÀca de estudo: a mente
humana inconsciente com suas inerentes características. Se-
gundo, por ter ela um método determinado: a sugestão focada,
centrada num ponto, por onde se conquista o transe ou fenô-
meno hipnótico, tendo em vista transformações da realidade
focada. Não há hipnose sem inconsciente, sem sugestões di-
recionadas, muito menos sem estado de transe. Por Àm, a hip-

Casos Clínicos em Hipnose:


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Luciano Furtado Sampaio

nose clínica é ciência por apresentar resultados terapêuticos.


Logo, é ciência da saúde: saúde psíquico-emocional.
Nesta ótica, assim se pronuncia o Dr. Marlus Ferreira:
“O processo da hipnose clínica pode ser descrito como uma sé-
rie de comunicações, numa via de duas mãos entre o hipnólogo
e o paciente” (FERREIRA, 2012, p. 101).
O hipnólogo clínico estuda este campo de saber com o
objetivo de ajudar as pessoas a se libertarem de traumas, ad-
vindos, em geral, de histórias inconscientes. É quando a pessoa
sofre os sintomas sem ter a consciência das causas. Frequen-
temente, as ciências da saúde lidam com as doenças com base
nos sintomas, enquanto a hipnose se propõe ir além, ir às cau-
sas destes. E quando são libertas as causas dos fenômenos, os
sintomas desaparecem. Que fantástica é a hipnose!
Como observado, as pessoas, normalmente, sofrem trau-
mas: medos, pânicos, fobias e outras neuroses, as quais, em geral,
remédios não curam. No entanto, segundo se constata, após um
trabalho com sugestões hipnóticas eÀcazes, estes traumas podem
ser reprogramados e haver ressigniÀcações ou curas profundas.
Para o hipnólogo clínico, o maior desaÀo consiste, portan-
to, em sugerir às pessoas hipnotizadas as ressigniÀcações das
neuroses introjetadas nas suas mentes. Neurose é uma crença,
emocionalmente, registrada e executada pelo inconsciente. Um
registro emocional pode ser reprogramado, ressigniÀcado. Isso
é possível porque a mente inconsciente é autocurativa.
Veremos, no futuro, que por seu poder sobre a mente e
suas consequências terapêuticas na vida humana, a hipnose
será muito mais reconhecida como ciência do que no presente!
Estude-a, pratique-a e conÀrme o exposto!

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

HIPNOSE CURA?

Hipnose é atualmente uma técnica terapêutica já re-


conhecida pelos conselhos federais de medicina, odontolo-
gia, psicologia, Àsioterapia e terapia ocupacional. Do mesmo
modo é, historicamente, praticada pela psicanálise e tantas
outras ciências.
Fiz vários cursos Brasil afora, assim como ministro cur-
sos de hipnose clínica regressiva, onde proÀssionais da saúde
buscam conhecer este saber detentor de tanta inÁuência sobre
a mente humana, sobretudo sua capacidade de reprogramativa
traumas profundos inconscientes.
É interessante lembrar: há, no dia a dia, duas formas de
conhecimento e utilização da hipnose: a hipnose de palco, show
ou pública e a hipnose clínica, terapêutica.
A primeira, a hipnose pública, tem como objetivo de-
monstrar o poder da mente humana inconsciente. Esta forma
desperta nas pessoas curiosidades, dúvidas, medos, mitos e,
naturalmente, alegrias a respeito da hipnose. Não deixa de ser
interessante ver alguém trocar o seu nome, assim como alguém
alucinar e ver um amigo chegando e cumprimentá-lo. É o lado
mais popular, brincalhão e humorístico da hipnose. Tem, pois,
a sua função social e razão de ser no sentido de perceber carac-
terísticas do inconsciente, embora muitos a critiquem. Como é
a mais divulgada, alguns até acham que hipnose é só a pública.
A segunda, a hipnose clínica, podemos dizer ser este o
lado sério ou a dimensão cientíÀca da hipnose, que estuda a
mente com o objetivo de libertar as pessoas de traumas incons-
cientes. Sua importância é tornar possível o acesso ao incons-
ciente, por regressão, indo, por exemplo, às causas dos sintomas
vividos pela pessoa. Ao chegar às causas, faz-se a ressigniÀcação

Casos Clínicos em Hipnose:


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Luciano Furtado Sampaio

das mesmas, eliminam-se os sintomas, podendo, então, haver


curas, reprogramações na mente.
Hipnose acontece por motivação, relaxamento, sensibili-
dade e sugestões associadas a imaginações. Ela implica a disso-
ciação entre o consciente e o inconsciente, ou seja, levar a pessoa
a sair do foco consciente, racional, lógico e entrar no imaginário,
no mundo da imaginação ou da fantasia.
O segredo da hipnose é, exatamente, este: o inconsciente
não faz a distinção entre a realidade e a imaginação. A imagina-
ção é real no inconsciente e, sendo real, é capaz de possibilitar
mudanças na mente. Por isso, hipnotizada, a pessoa pode comer
cebola e sentir gosto de maçã por assim ser sugerido ou tomar
água e sentir o gosto de leite de gado saboroso, igual àquele que
a mamãe lhe dava quando criança. É que, como diz Émile Coué,
o grande incentivador francês da auto-hipnose:
A chave do meu método reside no conhecimento da
superioridade da imaginação sobre a vontade. (...) É
a imaginação que sempre sobrepuja a vontade. (...) O
inconsciente é que nos dirige física e moralmente. É ele
que preside o funcionamento de todos os nossos ór-
gãos e mesmo a mais diminuta célula de nosso ser, por
intermédio dos nervos (COUÉ, 2005, p. 80).

Portanto, o inconsciente tem mais poder sobre nós que o


consciente. Ora, se a mente inconsciente tem tanto poder, pode
ressigniÀcar ou reprogramar traumas. Pode curar, se a mente da
pessoa se abre e se permite isso acontecer. Neste sentido, a ex-
pectativa e a conÀança são fundamentais. Este poder de cura está
na mente da pessoa, como diz o psiquiatra americano, Dr. Milton
Erickson: “O inconsciente do paciente tem todos os recursos de
que ele necessita para sua cura” (RUIZ, Horacio, 2012, p. 132).
Aqui nos vem uma pergunta a ser esclarecida: o hipnó-
logo cura? Minha resposta taxativa: não! Na verdade, o hipnó-
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Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

logo não tem nenhum poder de cura. Ele não é um curador em


si. Essa mentalidade ou crença existiu numa fase da história
da hipnose. Conforme acreditava o médico Anton Mesmer, de
quem se deriva o mesmerismo, de suas mãos saíam Áuídos que
curavam pessoas.
Como, então, acontece a cura pela hipnose? Toda hipnose
é uma auto-hipnose, isto é, ao receber uma sugestão do hipnólo-
go, a mente inconsciente da pessoa passa a senti-la, a acreditar
no que está recebendo e a executá-la: assim, a sugestão aconte-
ce, torna-se real. E mais, isto é possível por ser a mente huma-
na, sobretudo a mente inconsciente, mutável e autocurativa, ou
seja, ela que registrou um problema, uma fobia, por exemplo, é
capaz de refazê-lo, reprogramá-lo por meio de sugestões ade-
quadas à situação experimentada pela pessoa.
O que é, então, necessário para poder um trauma gerado
pelo inconsciente ser ressigniÀcado, reprogramado, curado? In-
discutivelmente, a pessoa que está sendo hipnotizada precisa
acreditar no que está vivenciando, acreditar na hipnose e, em
especial, acreditar na sua cura; a sugestão, na hora do transe,
deve tornar-se real. Sem crença, não haverá nenhuma mudança
na mente. E, ainda, é mister empatia, rapport com o hipnólogo.
Como mencionei, o hipnólogo não cura, quem cura é a mente
do paciente que se reprograma ao acolher suas sugestões e dei-
xá-las acontecer. Implica, pois, entrega total, conÀança plena no
que se está vivenciando pela hipnose.
E, abrindo um parêntese, é interessante lembrar aqui as
palavras de Jesus Cristo às pessoas que o procuravam com o de-
sejo de serem curadas e eram curadas. Dizia-lhes sempre: “A tua
fé te curou” ou “A tua fé te salvou.” A pessoa desejava, acredita-
va e acontecia. Jesus não dizia: “Eu te curei.” Apelava, sim, para
o poder da fé vivida pela pessoa. Sem crença, sem fé, portanto,
não há cura. Pode haver milagre, que é uma intervenção direta
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de Deus na realidade, na vida da pessoa. Pela hipnose não faze-


mos milagres, mas, sim, terapias. Hipnose implica, portanto, ex-
pectativa, fé, conÀança, sentimento, entrega plena no momento
preciso do ato hipnótico, porque é assim que funciona nossa
mente, sobretudo a mente inconsciente.
Na técnica hipnótica denominada ponte humana, a pes-
soa só a vivencia quando, a partir da sugestão dada, de que ela
vai, por exemplo, virar uma barra de ferro, ela escuta, imagina-se
e sente-se virando uma barra de ferro. Acredita tornando-se uma
barra de ferro e acontece, a mente executa. No caso, a pessoa Àca
totalmente enrijecida como uma barra de ferro. Podemos colocá-
-la entre duas cadeiras, dura, inquebrável. Costumo demonstrar
isso nos cursos ou programas de TV e Àcar em pé em cima da
pessoa, para, simplesmente, mostrar o poder da mente.
Pense, então, comigo: se, por sugestões dirigidas à mente in-
consciente de alguém, esta é capaz de fazer com que o corpo deste
Àque rígido como uma barra de ferro, então é, também, possível
se sugerir, repetidas vezes, dizendo a uma pessoa doente que seu
corpo está sadio, ou que um órgão seu, doente, está curado, esta
sugestão tornar-se real, e a pessoa Àcar curada. Como sabemos, é
a mente inconsciente que administra nosso corpo, todas as suas
funções orgânicas e emocionais, como aÀrma Michael Streeter:
“É a mente inconsciente que está a adotar estas sugestões como
uma nova realidade e o resto do corpo, cérebro e mente actuam de
acordo com ela” (STREETER, 2004, p. 42).
No seu livro 9 passos para reverter ou prevenir o câncer e outras doenças,
aprenda a cura interior, a Dra. Shinavi Goodman conta como se curou de
um câncer no seio. Consoante relata, começou com os tratamentos
convencionais, radioterapia e quimioterapia, mas percebeu que es-
tes poderiam apenas adiar sua morte. Queria Àcar curada. Decidiu,
então, estudar as doenças psicossomáticas e submeter-se a um novo
tratamento. Foi aos Estados Unidos, estudar com o Dr. Carl Simon-
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Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

ton, pioneiro na medicina mente/corpo. Segundo ele, a causa do cân-


cer e de outras doenças estava ligada a estados negativos da mente e
estes podem ser revertidos. Descreve, a esse respeito, Shivani:
Meu próprio triunfo sobre o câncer e meu trabalho com
aqueles que desaÀam a doença pelo mundo me ensina-
ram que o câncer e outras doenças são o resultado de se
negar a bondade e a dignidade inerentes e da nossa iden-
tiÀcação com não ser suÀciente bom e digno. Tornamo-
nos cheios de medos e dúvidas – em vez de aproveitar do
amor e da alegria do nosso verdadeiro self – e com isso o
corpo começa a se avariar (GOODMAN, 2007, p. 26).

A Dra. Shivani estudou, então, a psiconeuroimunologia,


ou PNI do Dr. Simonton, que explica a dinâmica de uma doença
psicossomática:
A palavra psiconeuroimunologia signiÀca que pensamen-
tos (psico) afetam o sistema nervoso (neuro) que então
afetam o sistema imune (imunologia). O Dr. Simonton in-
troduziu descobertas a partir de pesquisas validadas que
mostram como os pensamentos negativos, que produzem
estresse emocional (em nosso sistema nervoso) afetam o
nosso sistema imunológico (GOODMAN, 2007, p. 26).

O sistema imunológico fragilizado possibilita o câncer e


outras doenças se desenvolverem e matarem o corpo, a pessoa.
Então, o que precisamos? Repensar nossos jeitos negativos de
pensar sobre nós mesmos e reativarmos as células doentes, pois,
segundo Shivani: “Existe uma resposta psicológica em cada célula
do corpo para cada pensamento que temos” (GOODMAN, 2007,
p. 26). Uma técnica utilizada por Shivani Goodman foi precisa-
mente a auto-hipnose, além de outras técnicas terapêuticas: “Tor-
nei-me conhecida por minha competência em reverter desordens
psicossomáticas usando a terapia gestáltica, biofeedbach e auto-
-hipnose” (GOODMAN, 2007, p. 26). Isso porque, como aÀrma a

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |99
Luciano Furtado Sampaio

autora, “nossos corpos têm capacidade de curar-se e recuperar-se


dos efeitos de estresse, lesões e enfermidades” (p. 27).
Logo, a cura pode acontecer tanto por meio da hetero-hip-
nose, alguém dá sugestões, a pessoa acredita e vivencia resultados
curativos, como pela auto-hipnose, quando a pessoa acredita nos
resultados e dá sugestões a si mesma. Para tal, são indispensáveis
desejos, pensamentos, crenças e emoções juntas. Pois se um trau-
ma vem de fortes registros emocionais inconscientes, uma rejei-
ção, por exemplo, para ser revertida são necessárias vivências de
emoções mais fortes que a original, como o desejo e a crença na
cura ou, alguém doente, ver-se feliz e plenamente curada.
Qual é, então, a tarefa do hipnólogo num procedimento
hipnoterapêutico? É a de ser um guia dando sugestões às men-
tes, como aÀrmam Caprio e Berger:
Os hipnotizadores não possuem poderes incomuns ou
sobrenaturais. O hipnotizador é uma pessoa que sabe
muito bem que, na realidade, é o paciente que se hip-
notiza a si próprio. O hipnotizador é meramente um
indivíduo que aprendeu a ciência e a arte de transmitir
os poderes da sugestão efetiva. Ele ensina o paciente a
como promover a autoindução e chegar ao estado hip-
nótico (CAPRIO; BERGER, 1965, p. 15).

Portanto, é o próprio paciente por seus esforços que


consegue atingir o estado hipnótico. Ao saber o hipnólogo
da capacidade reprogramativa da mente humana, conhecer a
realidade das pessoas e estando habilitado como hipnólogo
clínico, cabe-lhe dar sugestões ajustadas para que a mente do
hipnotizado possa reprogramar-se, acolhendo a cura ou outras
perspectivas de vida que este deseje mudar.
Quanto mais estuda e pratica a hipnose, tanto mais pode-
rá o hipnólogo ajudar às pessoas que o procuram. Concluímos,
pois: a hipnose clínica é curativa!
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Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

HIPNOSE E IMAGINAÇÃO

A hipnose é um fenômeno da mente capaz de despertar


nas pessoas um ar de mistério, de curiosidades, de interroga-
ções, tipo: como é possível? O que o hipnólogo faz é verdade, é
fato ou é tudo combinado com a pessoa que ele hipnotiza para
que ela vivencie aquilo que ele sugere? Se hipnose é verdade,
como e por que é possível?
Embora tenha estudado ÀlosoÀa e teologia, só passei
a entender o fenômeno da hipnose por meio dos estudos da
psicanálise e, nesta, o estudo da compreensão mais profun-
da do funcionamento da mente humana em suas dimensões
consciente, subconsciente e inconsciente. Ao pesquisar, de
modo especial, as características do inconsciente, suas reais
funções no ser humano, o que mais me chamou a atenção foi
entender o poder da imaginação sobre nós. Saber que a ima-
ginação é mais forte que a vontade, a inteligência, o pensar.
É que a mente inconsciente funciona com a imaginação, com
imagens, com metáforas, como preferem os hipnólogos erick-
sonianos. A imaginação é a sua linguagem e um excelente
meio de acessar e conversar com o inconsciente, como aÀrma
SoÀa Bauer: “Metaforizar é essencial. É o meio de ser indireto,
de conversar a linguagem do inconsciente” (BAUER, 2010, p.
101). Um parêntese, e pergunto-me, neste momento: Por que
Jesus falava em parábolas? Para atingir mais profundamente
as mentes das pessoas?
Comparando e explicitando mais: enquanto a mente
consciente tem como função principal pensar, é o que nos
torna racionais e livres, a mente inconsciente funciona essen-
cialmente com imagens, com símbolos, de forma irracional, in-
direta. Um exemplo disto são os sonhos, os quais constituem

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Luciano Furtado Sampaio

produções do inconsciente, e se manifestam como histórias


sendo vividas através de imagens, em geral estranhas, incom-
preendidas, daí precisarem ser interpretadas (interpretação
de sonhos), compreendidas dentro do contexto da história de
cada sonhador, tamanha a criatividade imaginativa do incons-
ciente. Sonhamos nossa história: seja um desejo reprimido
sendo realizado, seja um trauma que vem à tona ou uma outra
manifestação que o inconsciente queira fazer, entendendo que
ele sabe tudo da nossa vida, inclusive nosso futuro.
Mas, o que, na verdade, tem a ver imaginação com hip-
nose? Iniciaria respondendo: não há hipnose clínica sem ima-
ginação. Hipnose é fruto de uma sugestão acolhida e vivida
internamente pela mente mais profunda da pessoa, o incons-
ciente, associada a uma imaginação, que se torna real. A pessoa
dissocia-se do mundo real, consciente, para o mundo imaginá-
rio ou da fantasia. E quando o imaginário aÁora na pessoa, a
sugestão torna-se real: e a hipnose acontece!
Então, insisto, o segredo da hipnose é que a mente in-
consciente não faz a distinção entre a realidade e a imaginação.
A imaginação é real no inconsciente.
Que vantagens há nisso? Precisamente, no poder que a
imaginação tem de transformar a realidade. De reverter reali-
dades doentias na pessoa em saúde. E sabemos que quando há
mudanças na mente, há mudanças na vida real.
Veja um exemplo de realidade transformada pela imagi-
nação hipnótica. Hipnotizei uma jovem depressiva cuja mãe
falecera no seu parto. Ela não havia mamado nem na mãe nem
em outra mulher. Sugeri-lhe, então, sentir-se no útero mater-
no, viver o nascimento, a mãe acolhendo-a com muito amor
e dando-lhe de mamar. Hipnotizada, ela não reÁetiu naquele
momento a morte da mãe, pelo contrário, sua carência do ma-

Casos Clínicos em Hipnose:


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Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

mar, sua carência de sentir o afeto da mãe passou a tornar-se


real para ela naquela hora. E ela viveu intensamente isso, ma-
mou. Como descreveu depois, sentia o prazer de mamar, e isto
preencheu o vazio do prazer oral, fase do primeiro ano de vida,
na qual a criança vivencia prazer, ou, se não, Àca o vazio. Disse,
ainda, sentir o gosto do leite. A propósito, sugeri-lhe se ver e
se sentir mamando todos os meses, até um ano. Exemplo: Você
tem cinco meses, está no colo da mamãe e ela está lhe dando de
mamar com muito amor. Esse imaginário foi real, as carências
de mamar e do amor da mãe foram preenchidas naquele mo-
mento tão signiÀcativo.
Resultado: a depressão naquela jovem sumiu, simples-
mente desapareceu, relatou-me ela posteriormente. É isto o
que chamamos de reprogramação ou ressigniÀcação pela hip-
nose. Ou seja, a hipnose, ao usar a imaginação, tem esse poder
transformador nas mentes. Cabe ao hipnoterapeuta ser cria-
tivo e competente nas sugestões imaginativas para facilitar as
reais mudanças na mente do paciente.

Caso I: CARLOS, HOMOSSEXUAL POR


INTROJEÇÃO INCONSCIENTE?
A mente humana, sabemos, possui três dimensões: cons-
ciente, subconsciente e inconsciente. Vivenciamos sintomas
que são inconscientes: não sabemos as causas. Conforme es-
tudos revelam, já no útero materno podemos introjetar dese-
jos dos pais para conosco e, no futuro, passamos a perguntar:
por que sou assim? Por que sinto essas coisas? Buscamos nos
entender. Veja este caso. Atendi Carlos, um jovem com vinte
e um anos, que me disse: “Desde a adolescência sou homos-
sexual, e não sei por quê. Vim aqui, porque gostaria de saber.
Busquei, mas não me realizei na relação com mulheres, porém,

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |103
Luciano Furtado Sampaio

com homens, sinto excitação, orgasmo, realização e amor.” De


imediato, respondi-lhe: “Carlos, conscientemente, você não
sabe, nem eu, porém sua mente inconsciente sabe as causas
de tudo o que acontece com você, sabe por que você é homos-
sexual.” Expliquei-lhe o poder da hipnose, aceitou e Àzemos
uma regressão hipnótica à vida intrauterina. Utilizei a técnica
da Linha do Tempo, retornando ao seu passado. Num momen-
to falou-me: “Estou no útero da minha mãe, mas ela não me
quer.” Perguntei-lhe: “Por que sua mãe não lhe quer?” Respon-
deu: “Porque eu sou um menino, ela quer uma menina.” Conti-
nuei: “Está bem, você está crescendo no útero da sua mãe e vai
chegar, naturalmente, o momento do seu nascimento. Quando
você nascer, me avise.” Como o inconsciente funciona rápido
e sempre no presente, logo me falou: “Nasci, mas minha mãe
continua com raiva. Ela queria que eu fosse mulher.” Insisti e
sugeri-lhe ver-se maiorzinho com a mãe. Logo olhou de lado,
com a expressão de que estaria no seu colo, e disse: “Estou no
seu colo com dois anos, mas ela insiste em desejar-me uma À-
lha mulher. Sua vontade era a de que eu estivesse, agora, ves-
tido de mulher.”
Então, provavelmente, diante deste persistente desejo
desta mãe, de que seu Àlho fosse mulher, Carlos, inconscien-
temente, sobretudo, para não continuar sentindo-se rejeitado
por ela, introjetou para si o referido desejo: ser mulher. Acolhe
o desejo que se torna real no seu inconsciente: “Sou mulher.”
Que acontece? O Àlho vê-se, e é, Àsicamente, homem, no entan-
to, sente-se e é, psiquicamente, mulher. Torna-se uma crença
inconsciente. Essa introjeção, naturalmente, será determinan-
te na história do Àlho, como foi desde sua adolescência. Após
o processo de regressão, perguntou-me Carlos: “Quer dizer
que eu sou homossexual porque minha mãe me quis mulher?”
Respondi-lhe: “Você não sabia nem eu, seu inconsciente mos-

Casos Clínicos em Hipnose:


104 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

trou essa realidade. É um indicativo de compreensão da sua


história, da sua realidade.” E para ter mais indícios vindos dele
sobre a verdade dessa possível introjeção, perguntei-lhe: “Car-
los, na prática homossexual, você é passivo ou ativo?” Olhe a
evidência na resposta que me deu: “Já vivenciei as duas expe-
riências, porque depende dos apelos dos parceiros, porém sin-
to-me feliz quando sou mulher.”
Talvez tenhamos chegado à causa da homossexualidade
de Carlos. Como sabemos, cada caso é um caso. Como também
sabemos, não há sintomas sem causas. É fato incontestável:
esse jovem não tem culpa dos sintomas. Vive consequências de
registros inconscientes bem profundos. Ainda como sabemos,
no útero, o inconsciente não pensa, não analisa, nem julga o
que acolhe. Ele recebe, sente, registra, acredita e executa dese-
jos dos pais e, diria, até de Deus. Desejos esses que podem ser
introjetados, e levar a profundas consequências na vida futura
dos Àlhos, como vimos com este jovem. Razão porque não de-
vemos julgar ninguém. Carlos não escolheu ser homossexual.
Na sua história constatou-se ser, e resolveu assumir, mas de-
sejando saber as razões, que soube pela regressão hipnótica.
Fantástica a nossa mente!
Sugestão: Assim sendo, é essencial que os pais, desde o úte-
ro materno, acolham e amem os filhos como eles são: ho-
mem ou mulher.

Caso II: O CORPO É VÍTIMA DA MENTE


Ao estudar a mente humana e acolher relatos de pacien-
tes, fui conÀrmando, cada vez mais, o poder da mente sobre o
corpo. Isso me relembrou a famosa expressão latina do poe-
ta Juvenal: “Mens sana in corpore sano” (GASPAR, 2017) - uma
mente sã num corpo são - , que mesmo sem os atuais conhe-

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |105
Luciano Furtado Sampaio

cimentos sobre a mente inconsciente, já desejava ao ser huma-


no uma mente sadia num corpo sadio. Remeti-me, ainda, às
conclusões da medicina contemporânea, isto é, a maioria das
nossas doenças é psicossomática (psico = mente, soma, do gre-
go = corpo), consequência do poder da mente, que leva o corpo
a adoecer e até morrer. O câncer é um exemplo. Como fun-
ciona isso? Se alguém, por algum motivo inconsciente, sentir
uma rejeição registrada na vida intrauterina e desejar morrer, a
mente, com sua criatividade, sem pensar nem julgar, começa a
gerar uma doença em órgãos sensíveis ou íntimos (na mulher:
útero, seios; no homem: próstata, cabeça), a Àm de matá-lo,
já que há um desejo inconsciente de morrer. O inconsciente é
um executivo de crenças introjetadas, positivas ou negativas,
assim como é um excelente administrador interno de doenças
ou de saúde, pois ele tanto mata quanto cura.
Chamou-me a atenção, a exemplo deste poder do in-
consciente, o relato de duas irmãs que atendi. Ao entrarem
juntas no consultório, contaram suas histórias desde a infân-
cia. Enalteceram o pai e a mãe. Depois, uma falou-me: “Vou
revelar-lhe algo que nunca contei para ninguém, nem noutra
terapia. O nosso pai era muito bom, mas tinha um grave defei-
to: enamorava-se das empregadas que trabalhavam em nossa
casa. Aconteceu um dia, quando nós, crianças inocentes, com
nove e dez anos, entrarmos, inesperadamente, na cozinha e
vimos papai pegando nos seios da empregada. Veja o quanto
isso nos marcou! Fomos crescendo, chegaram a adolescência
e a juventude e, incrível, os nossos seios não cresceram. Casa-
mo-nos, tivemos Àlhos cada uma e não lhes demos de mamar
por não termos seios crescidos para tal.”
Que aconteceu? Introjetou-se nas mentes inconscientes
daquelas crianças um medo, associado a um sentimento pro-
fundo, que lhes gerou esta crença: “Se os nossos seios cresce-
Casos Clínicos em Hipnose:
106 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

rem, o papai vai também pegá-los.” Com esta crença incons-


ciente, seus seios não cresceram.
O inconsciente é literal, os seus seios não se desenvolveram
para, provavelmente, não terem de passar por aquela possível
situação com o pai, porém Àcaram as consequências para suas
vidas de mulheres adultas, inclusive não conseguirem dar de ma-
mar aos Àlhos. E o interessante, haver acontecido com as duas.
Portanto, o corpo é vítima da mente! Para termos um
corpo mais sadio, mais saudável, cuidemos da nossa mente.

Caso III: AUTO-HIPNOSE E SEU PODER


Atualmente se noticia criticamente a elevada porcenta-
gem de partos cesarianos no Brasil e se divulga a importância
do parto normal. Trago à tona experiências de parto sem dor
via hipnose e auto-hipnose. Segundo um amigo terapeuta con-
tou-me, os três partos da sua esposa foram sem dor. Disse que
durante cada gravidez, dava-lhe sugestões hipnóticas de que o
parto seria normal e sem dor, e assim acontecia.
Como forma de aumentar o número de partos naturais
e reduzir custos, o sistema público de saúde da Grã-Bretanha,
Inglaterra, está oferecendo cursos de auto-hipnose às mulhe-
res grávidas. O método conhecido como hypnobirthing tem se
popularizado e ensina às futuras mães técnicas de respiração
e relaxamento profundo, capaz de levá-las a um parto sem es-
tresse e com pouca ou nenhuma dor. Excelente iniciativa do
poder público, geradora de conforto para a mãe e para a crian-
ça neste momento tão marcante em suas vidas, o parto.
Trago o testemunho do senhor Jota, de Caucaia/CE, o
qual fez um curso comigo de auto-hipnose e depois me es-
creveu dizendo como a vivenciou para tratar da sua saúde e
como Àcou curado. Seu problema: ao se alimentar, as gorduras

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |107
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dos alimentos, que normalmente se espalham pelo organismo


como um todo, não se espalhavam, pelo contrário, concentra-
vam-se exclusivamente no intestino. Isto lhe ocasionava cons-
tantes desarranjos. Após o curso, determinou-se fazer auto-
-hipnose e em poucos dias Àcou curado. Conforme sua esposa
contou-me, ela preparava duas formas de comida, uma para
ele, sem gorduras, e outra para os demais membros da família,
mas após a auto-hipnose, faz apenas um tipo, pois ele já está
comendo de tudo e sentindo-se normal. Jota fez questão de
dar seu testemunho em alguns cursos posteriores e mostrava
como sua pele agora estava com a oleosidade normal; antes era
ressecada. E após o resultado vivido, passou-me um e-mail ex-
plicando o que fez: simplesmente utilizou, de forma criativa,
a imaginação, eliminando o excesso de gordura no intestino e
dizendo para si que iria comer normalmente e as gorduras se
alastrariam em todo o seu organismo, dando-lhe saúde. Usou
a imaginação porque aprendeu que o segredo da hipnose e da
auto-hipnose está na utilização de imagens criativas.
Por meio da hipnose ou da auto-hipnose, o ser humano é
capaz de realizar mudanças em sua vida: pode reprogramar si-
tuações inconscientes indesejadas como traumas (pânico, fo-
bia, gagueira), comportamentos (autoestima baixa, agressivi-
dade, raivas, culpas, timidez) e vícios (drogas, bebidas, fumo).
Assim como pode programar um parto sem dor ou um objetivo
a ser alcançado. Como sabemos é, sobretudo, a mente incons-
ciente que administra todos os órgãos do nosso corpo, nossas
emoções e instintos. Assim, ela pode, por algum registro ne-
gativo inconsciente, gerar doença, doenças psicossomáticas,
como pode, mediante sugestões adequadas, curá-las. Isso é
possível porque nossa mente é autocurativa. A vantagem da
hipnose é que ela não Àca apenas nos sintomas, ela pode ir às
causas dos problemas e ressigniÀcá-las. Sabemos, ainda, que

Casos Clínicos em Hipnose:


108 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

toda hipnose é, na verdade, uma auto-hipnose: a pessoa acolhe


as sugestões e vive-as interiormente. É neste viver real que as
mudanças passam a acontecer.
O que é, então, auto-hipnose? É uma técnica de aborda-
gem do inconsciente, onde a pessoa pode, por meio de suges-
tões, programar a mente, mudar situações de sua vida.
A auto-hipnose foi muito ensinada, divulgada e popula-
rizada pelo francês Émile Coué (1857/1926) como terapia no
tratamento de patologias somáticas e psicológicas, com ex-
celentes resultados. Ela é a maneira mais eÀcaz de se tomar
conta de si, de se cuidar. Coué assim a deÀne: “Auto-hipnose
é domínio de si mesmo pela auto-sugestão consciente.” Foi,
precisamente, Émile Coué quem constatou que a imaginação
é mais importante em nós do que a vontade, do que o querer, a
razão. Diz ele que se há um conÁito em nós entre a vontade e
a imaginação, ganha sempre a imaginação. A imaginação tem
poder de cura, de transformação. Ainda como diz, “podemos
governá-la”, utilizá-la a nosso favor, para conquistarmos o que
desejamos, desde que desejemos algo possível.
Vejamos um exemplo curativo do poder da imaginação:
se alguém, por algum motivo, não mamou na mãe, e passa, en-
tão, num processo de hipnose ou auto-hipnose, a imaginar-se,
a ver-se e sentir-se mamando na mãe, esse exercício feito com
constância e intensidade pode preencher, no inconsciente, a
carência, o vazio por não haver mamado. Isso é possível, exata-
mente, porque o inconsciente não faz a distinção entre a ima-
ginação e a realidade: a imaginação é real no inconsciente. É
quando uma mentira em terapia não é mentira; é sugestão de
cura. A imaginação é a linguagem do inconsciente. E não sendo
o inconsciente racional (o que é racional em nós é o conscien-
te), ele transforma os pensamentos em símbolos, em imagens.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |109
Luciano Furtado Sampaio

Daí a importância de sugestões com imagens, por possibilita-


rem o acesso ao inconsciente. Então, para que uma sugestão
seja captada pelo inconsciente, é necessário e imprescindível
ser ela reforçada pela imaginação, visualização e sentimentos,
que fortalecem o imaginário.
Émile Coué sugeriu às pessoas repetirem diariamente,
vinte vezes antes de dormir e vinte vezes ao acordar, a seguinte
frase: “Todos os dias, de todos os pontos de vista, vou cada vez
melhor” (COUÉ, 2005, p. 39). Repeti-la vinte vezes antes de
dormir e vinte vezes ao acordar, a Àm de curarem e reprogra-
marem suas vidas. Ao repetir esta e ou outras frases positivas,
estas tendem a gerar crenças positivas para a vida, e o incons-
ciente as executa. Ele é essencialmente executivo de crenças,
positivas ou negativas. Se forem sugestões positivas, a vida
será positiva, de sucessos, mas se forem negativas, limitantes,
a vida será de insucessos e fracassos. Típico da pessoa que diz:
“Comigo nada dá certo. Tudo o que começo, não termino. E o
pior, ninguém me ama”. Ora, nós somos nossos pensamentos,
nossas crenças e estas determinam nosso estado de vida. Uma
pessoa que pensa assim também não se ama. Mas a auto-hip-
nose irá ajudá-la, como propõe Émile Coué.
Já os doutores americanos, Frank S. Caprio e Joseph R.
Berger, dizem: “A auto-hipnose é, na verdade, uma forma de
cura psíquica, levada a efeito por meio da aceitação e aplica-
ção voluntárias de nossas próprias sugestões” (CAPRIO; BER-
GER, 1965, p. 19). E dizem mais: “A auto-hipnose em particular
é um excelente meio de aprimoramento. Ela permite às pes-
soas adquirirem uma nova maneira de pensar e desvendarem o
caminho do sucesso na vida” (CAPRIO; BERGER, 1965, p. 22).
Para eles, a auto-hipnose é uma autoterapia, como
explicam:

Casos Clínicos em Hipnose:


110 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

Por autoterapia queremos dizer aqui autoterapia


hipnótica, que se baseia no princípio consubstan-
ciado nesta aÀrmativa: “Eu posso – eu preciso – eu
conseguirei atingir meus objetivos. Eu tenho a força
mental necessária para aceitar e pôr em prática certas
sugestões que darei a mim mesmo e que me permi-
tirão vencer praticamente todas as diÀculdades, me-
lhorar minha personalidade e adquirir uma ÀlosoÀa
de vida mais sã.” (CAPRIO; BERGER, 1965, p. 34).

Também o médico psiquiatra americano, Dr. Milton


Erickson (seus discípulos desenvolveram a hipnose erickso-
niana) aÀrma sobre a auto-hipnose: “A auto-hipnose exerce
papel inestimável no processo que torna mais fácil ao indivíduo
descobrir e compreender o funcionamento do próprio organis-
mo e do próprio espírito, desvendando os fatores que causam
as suas angústias e aprendendo a controlá-las” (ERICKSON,
1965, p. 3).
A título de sugestão, propomos alguns passos para o
bom êxito na prática da auto-hipnose, para alguém que deseja,
por exemplo, uma cura:
1. Determinar um tempo para fazer a auto-hipnose, como ges-
to de amor por si: você merece!. Serão dez minutos? Marcar
início e Àm;
2. Escolher um lugar, confortável, onde fará a auto-hipnose;
3. DeÀnir um objetivo de mudanças que deseja conquistar,
tipo: curar-se;
4. Relaxar todo o corpo mediante respiração lenta e profunda;
5. Imaginar, visualizar e sentir-se vivendo o objetivo, tendo
conquistado. Envolver, portanto: imaginação, visualização
e sentimento (determinantes no inconsciente). Tendo um
Ànal feliz, tipo: estou curado (sempre no presente). Vendo-
se e sentindo-se assim;

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |111
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6. No tempo previsto (dez minutos?), vai despertar bem dis-


posto, bem ativo, bem acordado e muito feliz.
É fundamental para conquistas na auto-hipnose:
1. Acreditar em você;
2. Acreditar que o poder de mudança, de cura já está em você,
que é o seu inconsciente (por meio da imaginação). É só
questão de lhe proporcionar este poder;
3. Acreditar que vai conquistar o objetivo a que se propôs;
4. Por Àm, determinar-se vivenciar com perseverança (envol-
ver imaginação, visualização e sentimento) a auto-hipnose:
prática constante até ver os resultados.
Uma grandeza da mente humana é ser capaz de muta-
bilidade, de resiliência, de programação e reprogramação de
objetivos. Conforme a crença cultural, parto dói. Nossa mente
inconsciente funciona com crenças registradas, conscientes
ou inconscientes. Se uma mulher grávida passa a registrar,
com convicção, em auto-hipnose, que terá o parto sem dor,
isso pode acontecer. Sabemos que a mente inconscientemente
administra o corpo, as emoções e as crenças.
Quem dera, como na Inglaterra, os órgãos de saúde no
Brasil busquem conhecer a importância da hipnose e da auto-
-hipnose e possibilitem às mulheres vivenciar o prazer de par-
tos saudáveis e sem dores. Excelente opção para as mães, para
os bebês e para a economia do país. A convivência do parto
normal é saudável para a criança, pois aí ela tem sua primeira
experiência de enfrentar algo a seu favor, isto é, querer nascer
e em sintonia com a mamãe, com o corpo da mamãe, que tam-
bém se preparou durante toda a gravidez para esse momento,
para o parto.
Portanto, esta é uma maneira eÀcaz de tomar conta de
si, de se cuidar. AÀnal, auto-hipnotizar-se é um gesto de amor.

Casos Clínicos em Hipnose:


112 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

Caso IV: HIPNOSE E PROGRESSÃO AO


FUTURO
Consoante é hoje comprovado cientiÀcamente, o incons-
ciente sabe o futuro. Premonições são reconhecidas. E pela hip-
nose, é possível acessar o futuro. É saudável e até curativo, em
hipnose, se lançar a pessoa a um futuro positivo. Nunca negativo.
Tenho induzido pacientes, pela hipnose progressiva, ao futuro,
sugerindo se ver conquistando o que deseja para seu futuro. Isto
tem ajudado, inclusive, pessoas com depressão a se libertarem
desta grave doença, considerada incurável para muitos.
Partilho, a seguir, uma vivência de hipnose progressiva
com um jovem estudante que depois me deu retorno, compro-
vando que nossa mente sabe, realmente, o futuro.
Ensinei ÀlosoÀa na Universidade Estadual do Ceará
(UECE) e os alunos, ao saberem ser eu também psicanalista
e hipnólogo, pediam-me para hipnotizá-los. Prometia-lhes
para o Ànal do último dia de aula, tendo em vista não ser um
tema da disciplina por mim ministrada. Tamanha era a curio-
sidade que neste dia não faltava ninguém. Num dia destes, de
junho de 2011, expliquei um pouco sobre a hipnose, o porquê
de ser esta possível e, em seguida, parti para a prática, para a
demonstração do transe hipnótico. Sugeri que quem desejasse
ser hipnotizado viesse para a frente. Um dos alunos pediu-me:
“Professor, estou estudando para fazer um concurso do Ronda
(incorporação da Polícia Militar do Estado do Ceará). Hipno-
tize-me para ver se vou passar neste concurso, pois eu preciso
trabalhar, professor!”
Sabendo eu que o inconsciente é clarividente e conhe-
ce toda a nossa vida passada, presente e futura, hipnotizei-o
com facilidade, assim como outros alunos, e dei-lhe a seguin-
te sugestão, já em direção a um dado futuro: “Sua mente sabe
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |113
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tudo de você. Você já fez o concurso (não havia feito), veja se


o seu nome está na relação dos aprovados.” De olhos fecha-
dos, olhava internamente, e, de repente, alegre, exclamava:
“Passei professor!, passei” Perguntei-lhe: “Você está vendo o
seu nome na lista dos aprovados?” Respondeu: “Sim, estou.”
Curioso, insisti em perguntar-lhe: “Aonde você está vendo o
seu nome na relação dos aprovados?” Respondeu: “Na inter-
net.” Aprofundei o transe e disse-lhe: “Que bom, está vendo
como você é inteligente, fez o concurso, passou, já foi convo-
cado! Onde você está trabalhando?” De imediato respondeu:
“Estou dentro do carro do Ronda na Beira-Mar (Fortaleza,
Ceará).” Insisti em perguntar: “Você está dentro do carro do
Ronda na Beira-Mar?” Respondeu que sim. Perguntei-lhe: “O
que você vê?” Respondeu: “A calçada, as pessoas passando,
a areia da praia e o mar.” Sugeri-lhe, então: “Observe bem e
guarde na memória todas estas imagens que está vendo: o
mar, a praia, a calçada e as pessoas passando.” Por Àm, tirei-o
da hipnose. Lembrava-se de tudo e estava feliz, muito feliz
por ter visto que passaria no concurso e iria trabalhar. Não
manifestou dúvidas do que vira.
Um ano depois, meados de 2012, quando eu estava na
coordenação do curso, como coordenador, toca o telefone ce-
lular. Atendo. Era aquele ex-aluno, o qual me indagou: “Pro-
fessor, o senhor se lembra daquela hipnose que fez comigo e
que eu me vi no futuro, trabalhando no Ronda?” Respondi-lhe:
“Sim, me lembro!” Disse ele: “Pois olhe, professor, incrível! Só
me lembrei do senhor, por isso estou lhe telefonando para lhe
relatar o que estou vivenciando, neste momento. Estou dentro
do carro do Ronda na Beira-Mar, como me vi na hipnose. E o
mais impressionante, o que eu vi lá no transe hipnótico, na sala
de aula, estou vendo aqui, tudo igual, com detalhes: A calçada,
as pessoas passando, a areia da praia e o mar.”

Casos Clínicos em Hipnose:


114 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

Agradeci-lhe feliz pelo retorno feito: de uma hipnose


de progressão ao futuro, que fora conÀrmada, segundo havia
vivenciado. Fiquei ainda mais convicto do inÀnito poder do
inconsciente e, sobretudo, da fantástica capacidade da hip-
nose: ela sabe e pode nos revelar algo do nosso futuro! Sabe
coisas boas e coisas ruins do futuro. E para evitar coisas ruins
aparecerem, é que sempre sugiro à pessoa ver momentos fe-
lizes. Assim como este aluno, vários pacientes já me deram
retornos de momentos felizes vividos por meio da hipnose
e que já aconteceram em suas vidas: uma jovem se viu com
um futuro namorado e ele surgiu na vida real, o que a dei-
xou surpresa ao se ver sentada com ele numa poltrona, como
aconteceu na hipnose.

Caso V: O AMOR HIPNÓTICO CUROU


TATIANE
Atendi uma jovem, Tatiane, a quem, inicialmente, per-
guntei: “Em que posso ajudá-la?” Respondeu: “A conhecer-me
melhor e a me libertar. Pois não me entendo, nem sei por que
sinto tristeza, angústia e um vazio dentro de mim. A vida está
sem sentido. Estou sem gosto de viver. Estou depressiva.”
Com ela vieram seus pais. E, como de costume, con-
versei antes com eles. Perguntei, especificamente, à mãe três
coisas básicas. Primeira: “Quando a senhora ficou grávida
desta filha, como se sentiu?” Disse: “Foi horrível. Rejeitei-a.
Ainda namorava, e aconteceu a gravidez. Não foi esperada.
Tive medo dos meus pais e vergonha das pessoas.” Segun-
da: “Como foi o parto?” Respondeu: “Chegou o dia, ela não
nascia, o médico fez parto cesariano.” Terceira: “A senhora
deu de mamar a ela?” Resposta: “Não! Incrível, ela não quis
mamar. Rejeitava meus peitos.” E completou a mãe: “Eu sin-

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to que ela não gosta de mim. Tem uma revolta e é grosseira


comigo. Entendo, hoje, que sou culpada pelo sofrimento da
minha filha.” E ao pai, perguntei: “Quando criança, o senhor
brincava com ela, era carinhoso?” “Pouco”, disse ele. “Na
verdade, eu e minha esposa trabalhávamos muito e quem
cuidava dela era a babá. Mas percebo que ela gosta mais de
mim do que da mãe.” E a mãe concluiu a conversa: “Minha
ausência foi tanta, que ela chamava a babá de mãe. Ficava
triste com isso.”
Mediante esses relatos dos pais, entendi o sofrimento de
Tatiane. Era uma vítima das rejeições vividas. O inconsciente
daquela Àlha registrou tudo, desde os primeiros instantes de
vida no útero materno. E este registro estava repercutindo na
sua vida atual.
Para viver um futuro saudável, com saúde física, psí-
quica e emocional, o ser humano necessita ser acolhido e
amado desde o ventre materno. Ele precisa ser cuidado e
acompanhado com amor em cada fase do seu desenvolvi-
mento: oral, anal, fálica e da latência. As falhas ou omissões
nestas fases geram neuroses profundas, como as vividas por
esta filha.
O inconsciente é literal, não analisa nem julga o que re-
cebe; ao contrário, registra e executa o que é introjetado sem
que a pessoa tenha consciência das causas dos sintomas que
vivencia. Ele registra os fatos com os sentimentos do momento
e revive-os depois.
Traumas profundos como o relatado podem ser ressig-
niÀcados por atitudes e terapias que atinjam, amorosamente,
suas causas, trabalhem o perdão e restaurem o gosto de viver
no mais profundo do ser humano. Como vimos, o amor hipnó-
tico curou Tatiane.

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Caso VI: CLÁUDIA LIBERTA-SE DE


SÍNDROME DO PÂNICO
Uma jovem professora universitária, Cláudia, procurou-me
queixando-se de sofrer crises horríveis de síndrome de pânico.
Conforme relatou, quando a crise surgia, havia uma sensação for-
te de que iria morrer: o coração palpitava forte, Àcava insegura e
com medo, sentia frieza e tremor em todo o corpo. Como men-
cionou, tomava remédios, mas não Àcava boa, estes apenas rela-
xavam o sistema nervoso. No entanto, o que desejava mesmo era
Àcar boa. E comentou, ainda, algo estranho e curioso para ela: não
sabia por que tinha esse pânico, ou seja, não sabia a causa de seus
sofrimentos. Era algo essencialmente inconsciente.
Fizemos uma regressão hipnótica e fui dizendo a Cláu-
dia que seu inconsciente sabia por que ela tinha pânico, que
ela lhe pedisse ir à causa deste, a Àm de poder ressigniÀcar
aquela situação e, realmente, se libertasse. Disse-lhe, também,
que nossa mente é mutável, o inconsciente é reprogramável, e
que, como ele registrou esse problema, esse pânico, agora, ele
realizasse, com nossa ajuda, a mudança desejada.
Cláudia, então com vinte e sete anos, foi descendo na sua
história e num instante disse: “Estou no útero da minha mãe e
estou escutando um grito.” Perguntei-lhe: “Quem está gritan-
do e por quê?” Respondeu-me: “Minha mãe.” “Por que sua mãe
está gritando?” “Porque o meu pai deu uma tapa nela.” Per-
guntei-lhe: “O que você está sentindo?” Respondeu: “Pânico!”
AÀnal, chegara Cláudia à causa de seu pânico. Perguntei-lhe,
ainda: “Qual é a sua idade aí?” Falou com segurança: “Estou
entre dois e três meses no útero da minha mãe.” Continuei
este diálogo com ela e sugeri-lhe: “Cláudia, olhe para sua mãe
e diga-me onde ela está, como ela está.” Respondeu: “Está na
cozinha, chorando.”

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |117
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Entendendo esse momento: Como uma criança, no úte-


ro materno, com essa idade, pode olhar para sua mãe e descrevê-
-la? É que ali, no útero, ela é toda inconsciente e este transcende
espaço e tempo. Assim, no útero materno, ela tanto via quanto
sentia tudo o que acontece ao seu redor: via e sentia tudo o que
ocorria com sua mãe. Sabe, sentimental e contemplativamente,
por exemplo, se seus pais se amam, se eles a amam ou não. São
dados que Àcam na memória inconsciente, com repercussões
na vida futura da pessoa. Por isso, Cláudia foi capaz de respon-
der que sua mãe estava na cozinha e chorando. Curiosamente,
e para que ela depois conÀrmasse e acreditasse no que estava
vivenciando, perguntei-lhe: “Qual é a roupa que sua mãe está
usando?” Parou um pouco, como que olhando, e respondeu: “É
um vestido branco, com bolinhas coloridas.”
Tendo em vista uma ressigniÀcação desta história, con-
tinuei a indagar-lhe: “E o seu pai, onde ele estava e como esta-
va?” Respondeu: “Está no quarto, triste e arrependido pelo que
fez tanto com a minha mãe, quanto comigo. Ele está sentindo
que também me afetou com aquela tapa.”
Quando terminamos esta anamnese inconsciente, que
ela saiu do transe, disse: “Eu não sabia que meu pai havia dado
uma tapa na minha mãe!” Perguntei-lhe: “Sua mãe é viva?” Res-
pondeu que sim. Então, disse-lhe: “Pergunte a ela.”
Naquele momento, com estas informações, sabendo,
sobretudo, quando foi gerado nela o pânico, comecei com
Cláudia o processo terapêutico. Sabendo também que o in-
consciente trabalha com imagens e sentimentos e que estes
são reais no inconsciente, sugeri-lhe, então, ações imaginati-
vas, que gerassem emoções fortes e reprogramativas. Comecei
fazendo com ela uma terapia que iria possibilitar, telepatica-
mente, uma reconciliação entre seus pais. Pois tudo que ela

Casos Clínicos em Hipnose:


118 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

vivenciasse na terapia, mentalmente, seus pais, que eram vi-


vos, estariam recebendo em seus inconscientes e se perdoando
em suas mentes. Por isso, disse-lhe: “Cláudia, veja, agora, seu
pai indo ao encontro da sua mãe, abraçando-a e pedindo-lhe
perdão. E quando terminar esse momento de reconciliação
entre o seu pai e a sua mãe, você me avisa.” Fiquei em silên-
cio, aguardando ela se manifestar. Com pouco tempo, ela me
disse: “Pronto.” Disse-lhe: “Que bom.” E continuei o processo
terapêutico, buscando, agora, ajudar a Cláudia a ressigniÀcar
o pânico gerado lá no ventre da mãe, e que tanto a fazia sofrer
no decorrer da vida. Sugeri-lhe, então: “Veja também o seu pai
vindo, agora, ao seu encontro, abraçando-a e pedindo-lhe per-
dão por aquela tapa que ele deu em sua mãe e que gerou pânico
em você!” De novo Àquei em silêncio, aguardando seu retorno.
Com um tempo de espera ela disse: “Pronto.” Perguntei-lhe:
“Como foi?” Ela falou: “Foi ótimo, o papai chegou sorridente,
abraçou-me carinhosamente, disse que me amava e pediu-me
perdão.” Indaguei-lhe: “Como se sentiu?” “Senti-me amada e
feliz com aquele gesto do meu pai e o perdoei.”
Importante lembrar: estes gestos e estas palavras não
aconteceram naquele tempo, mas, sim, agora, no processo hip-
nótico. Foram, imaginativamente, reais na sua mente e Àzeram
toda diferença na vida de Cláudia.
Concluída a sessão, foi feliz para casa. Um mês depois,
telefonou-me agradecendo e dizendo: “Luciano, não sinto mais
nada, não tive nenhuma crise de pânico. Obrigada pela sua
participação nesta minha vitória.” E concluiu: “Quero, ainda,
te dizer duas coisas, que perguntei à minha mãe: a tapa existiu
e o vestido também.”
Parabenizei-a, reforçando o poder informativo, transfor-
mador e ressigniÀcativo da nossa mente.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |119
Luciano Furtado Sampaio

Termino com um detalhe: atendi a Cláudia apenas


duas vezes: na primeira, Àzemos a anamnese, escutei sua his-
tória, geramos empatia, conÀança; na segunda, houve a hip-
nose reprogramativa. Estou certo de que tudo isso só aconte-
ceu porque ela acreditou que poderia Àcar curada. Havia uma
expectativa por sua mudança, abriu-se para tal e integrou-se
muito bem ao processo hipnótico terapêutico.

Caso VII: MILENA VIRAVA O DEMÔNIO: POR


QUÊ?
Recebi para terapia uma jovem senhora, a Milena, e
com ela vieram seu esposo e sua mãe. Conversei antes com es-
tes e ambos disseram: “Ela é possessa, vira o demônio e nestes
momentos fala com voz grossa, de homem, Àca agressiva, diz
que é o satanás, que não tem medo de ninguém e que vai nos
devorar.” Vale ressaltar, desde já, que a Milena era acompa-
nhada por um psiquiatra com diagnóstico de esquizofrenia e
tomava remédios para tal.
Fiz uma regressão hipnótica com ela, conduzindo-a
ao útero materno e ao chegar neste nível, perguntei-lhe:
“Milena, como você se sente no útero da mamãe?” Respon-
deu: “Sinto-me uma menina meiga, amável e bonitinha.” De-
sejei continuar o diálogo com Milena e perguntei-lhe: “Você
sente mais alguma coisa?” Ela se mexeu, mas ficou calada e
preferi respeitá-la no seu silêncio. Continuei a terapia no
seu processo de crescimento, parto, infância, pois chegaria
a oportunidade de falar de outros sentimentos vividos. Essa
experiência primeira deixou-a inquieta, a ponto de, depois,
ela comentar com sua mãe, que me relatou na sessão seguin-
te. Disse ela à mãe: “Mãe, ele fez uma hipnose comigo e eu
me vi e me senti na barriga da senhora sendo uma meni-

Casos Clínicos em Hipnose:


120 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

na meiga, amável e bonitinha. E depois me perguntou se eu


queria lhe dizer mais alguma coisa que eu sentia, mas tive
vergonha de falar o que eu via e sentia.” A mãe, então, per-
guntou-lhe: “E o que foi, filha, que você sentiu a mais quan-
do estava na minha barriga e que teve vergonha de falar
para ele?” Milena, então, disse: “Mãe, foi horrível, eu me vi
e me senti um diabinho na barriga da senhora.” A mãe, sur-
presa, insistiu: “Como que é, Milena? Você se viu um diabo
na minha barriga?” A filha confirmou: “Sim, mãe, eu me vi
e me senti um diabinho dentro da sua barriga.” Sua mãe,
de imediato, lembrou-se do que vivenciou com o marido
quando descobriu que estava grávida e comunicou-lhe da
gravidez. A mãe passou a relatar para Milena uma história,
assim como o seu entendimento, agora, da dita possessão
que sofria a filha: “Minha filha, é inacreditável essa história!
Mas agora estou entendendo tudo, estou sabendo o porquê
de tudo o que está acontecendo com você. Pois olhe, deixe-
me lhe contar um fato que estou imaginando seja a origem
desta sua história de virar demônio. Quando eu fiquei grá-
vida de você e soube que era uma menina, eu passava a mão
na minha barriga e dizia: “Filha te amo. Você é uma meni-
na meiga, amável e bonitinha, como você se sentiu.” Mas,
quando eu falei para o seu pai que estava grávida, ele, com
sua ignorância e rejeição, apontou para a minha barriga e
disse: ‘Quem está na tua barriga é o diabo.’ E repetiu isso
muitas vezes durante a gravidez. Gerava-me uma tristeza
escutar isso da parte dele, mas continuei firme e mantive a
gravidez, por amor a você.”
Milena nasceu e, quando jovem, geralmente aconte-
ce a partir da adolescência, manifestou-se o que estava no
mais profundo do seu inconsciente: ser o diabo, como dis-
sera seu pai.

Casos Clínicos em Hipnose:


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Luciano Furtado Sampaio

Entendendo este fato: O inconsciente registra tudo


desde o ventre materno. Ficaram registrados e introjetados
na memória inconsciente da Milena, desde a vida intraute-
rina, dois sentimentos, duas crenças: Primeira: para mamãe,
ela era “uma menina meiga, amável e bonitinha.” E é inte-
ressante como isto também se manifestava na vida adulta.
Contou-me seu esposo: “Eu não gosto de uma atitude dela.
Tem hora que ela fica como uma menina bobinha para meu
lado. Ela não é mais menina, é uma mulher adulta. Irrita-me
isso!” Segunda: Para o pai, no ventre da mãe, ela era o “dia-
bo”. O inconsciente é literal e neste as crenças não são está-
ticas, elas são vivas, atuantes e vão se manifestando na vida
futura, tal qual foi registrado. Ele executa, sem questionar
nem pensar, as crenças registradas. Se havia na Milena uma
crença segundo a qual ela “é o diabo”, esta crença se torna
real na sua vida futura. Ela passou a viver e a sentir o sinto-
ma, sem saber o porquê, ou seja, sem saber as causas destas
manifestações diabólicas.
Outros elementos de compreensão: Quanto maior a
intimidade, a conÀança e a crença entre quem fala e quem aco-
lhe os registros, maior se torna a possibilidade de uma crença
ser introjetada e manifestar-se no decorrer da vida. Uma emo-
ção forte gera uma reação forte. Neste caso, de Milena, ela in-
trojetou os sentimentos da mãe e do pai para com ela: da mãe,
acolhendo-a com amor, e do pai, com ódio, rejeitando-a.
É esquizofrênica? Milena manifestava duas personalida-
des, “dois eus”: o eu consciente, como mulher normal, que se
casa, estuda, trabalha e toma conta da sua vida, e o eu incons-
ciente, que aÁorava, trazendo à tona o que dissera sua mãe:
meiga, amável, bonitinha, assim como dissera seu pai, no tem-
po da gravidez: é o diabo.

Casos Clínicos em Hipnose:


122 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

Sabemos que a pessoa esquizofrênica costuma criar,


via inconsciente, um personagem, no caso, o diabo, virando
possessa. No entanto, o que mais me chamou a atenção neste
caso foi o fato de que não fora, na verdade, o demônio que
se apossara de Milena, mas, sim, tudo foi fruto de um regis-
tro, uma crença passada pelo pai, de que ela era o diabo. Daí,
então, seu inconsciente fez acontecer, personiÀcou aquela
crença. O inconsciente executa crenças, como já vimos e a
pessoa não sabe, conscientemente, que é o seu inconsciente
que está realizando aquilo.
Pelo exposto, pergunto: podemos conÀrmar que a cha-
mada possessão diabólica vivida por esta jovem mulher era, de
fato, fruto de uma esquizofrenia? Ou vivia Milena uma neurose
gerada inconscientemente pelo que o pai dissera a seu respei-
to, quando sua mãe lhe comunicou que estava grávida?
Quando, então, nos confrontarmos com uma pessoa pos-
sessa, no mínimo, desconÀemos, pois pode não ser ação do de-
mônio em si, porém sintoma de uma causa inconsciente mais
profunda. Mas, diria, o médico tinha razão na sua avaliação:
Milena dissociava sua personalidade: saía do normal e virava
outra personagem. O que não se sabia era a causa. Por isso, ge-
ralmente, os psiquiatras sugerem, para pessoas nestes estados,
fazerem, também, um tratamento psicológico.
Neste sentido, estranha-me o que fazem algumas igrejas
com seus Àéis. Chegam estes sem nenhum demônio, mas co-
meçam-se a ouvir uma doutrinação, um discurso emocionado
sobre as forças do demônio nas pessoas. Estas passam a acha-
rem e sentirem que o que têm é fruto de “coisas” do demônio.
Com essa crença, como o inconsciente é literal e realiza nossas
crenças, as pessoas viram possessas: caem, gritam. É quando
vem o líder religioso, o qual passa a gritar: “Sai, satanás!” Nesta

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técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |123
Luciano Furtado Sampaio

hora os Àéis acreditam que estão com o demônio, mas, tam-


bém, acreditam no poder do líder religioso, e que este está a
expulsá-lo. E o demônio sai! O líder ganhou um Àel e a pes-
soa libertou-se do demônio, que acreditou ter tido, ter sido
possesso. Ou seja, neste caso, o demônio é instalado e depois
desinstalado. Repito: nossa mente funciona a partir das suas
crenças introjetadas. Se há uma crença de que estou com o de-
mônio, ela vai acontecer, é executada pelo inconsciente. Assim
também ocorre com doenças: são somatizadas.
Tratamento e conclusão: Trabalhei com Milena uma
ressigniÀcação desta história: Ela vendo seu pai lhe pedindo
perdão pelo que dissera lá no tempo da vida intrauterina, para
que se libertasse da neurose introjetada, a qual tanto lhe pre-
judicava na vida pessoal e social. Libertou-se. De acordo com
notícia que tive posteriormente, ela estava muito bem na Itá-
lia, vivendo com a família, trabalhando normalmente e liberta
das “possessões”.
Então, umas perguntas Ànais para reÁetirmos: Sabe-se
que esquizofrenia é uma psicose que tem tratamento, mas não
tem cura. Então, se Milena fosse esquizofrênica, Àcaria cura-
da? E se fosse, realmente, uma possessão demoníaca, o diabo
se submeteria a uma terapia reprogramativa e sairia facilmente
daquela jovem? Tinha, então, Milena, apenas uma neurose gra-
ve, profunda, e esta pode, sim, ser tratada, curada, o que acon-
teceu mediante regressão hipnótica? Foi assim que a tratei.

Caso VIII: VANICE MAMOU NA MÃE QUE


MORRERA NO PARTO
Atendi Vanice, que sofria com depressão há anos. Foi
expondo sua história: a mãe havia morrido por ocasião do seu
parto. Não viveu, portanto, a experiência de mamar na mãe,

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124 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

nem em nenhuma outra mulher, aÀrmou. Com a morte da mãe,


o pai, que Àcara com três Àlhos, distribuiu-os entre parentes e
foi embora para São Paulo. Vanice cresceu sem pai e sem mãe.
Foi acolhida, adotada por uma tia. Na adolescência descobriu-
se homossexual e resolveu assumir esta condição, que não fora
sua escolha.
Ao fazer regressão em Vanice, a seu pedido, com o de-
sejo de se libertar da depressão, conduzi-a ao útero materno
e ao seu nascimento. Via-se nascendo normalmente e, para
minha surpresa, sentia-se no colo da mãe viva e a mãe lhe
fazendo carinho. Ao perceber isso, sugeri que a mãe iria lhe
dar de mamar, dizendo-lhe: “Olha a sua mamãe lhe dando o
seio para mamar, mama na mamãe!” E reforçava: “O peito da
mamãe é gostoso! Você sente prazer ao mamar. O leite da ma-
mãe é gostoso!” Agi assim para que ela superasse o vazio de
não haver mamado na vida real. E sabendo que o inconscien-
te não faz a diferença entre a realidade e a imaginação, que a
imaginação é real no inconsciente, aproveitei e fui sugerindo
Vanice a se sentir crescendo e mamando mês a mês, até um
ano de vida. Ao terminar a sessão, ela comentou impressio-
nada: “Nossa, sei que a minha mãe morreu no meu parto, mas
aqui eu me senti realmente mamando na minha mãe. Uma
experiência incrível.”
Para completar, sugeri a Vanice ver-se no paraíso e o seu
pai vindo ao seu encontro, humildemente, abraçando-a e pe-
dindo-lhe perdão por havê-la rejeitado após a morte da mãe. É
que, na minha experiência terapêutica, depressão tem muito a
ver com rejeições.
Resultado: Com essa regressão, Vanice libertou-se da
depressão.

Casos Clínicos em Hipnose:


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Luciano Furtado Sampaio

Caso IX: NEUMA REVIVE E REPROGRAMA


UM ABORTO
Neuma é uma senhora que me procurou com vários pro-
blemas, mas deu ênfase a um, que disse nunca haver contado
a ninguém, nem em análise, nem em conÀssões a padres, pela
vergonha que sentia. Com o seu primeiro namorado teve rela-
ções sexuais e engravidou. Ela Àcou apavorada. Muito medo de
contar aos pais. Medo de tudo, pela novidade, e de todos, cons-
trangida. Como Àcaria sua imagem diante das pessoas, sobre-
tudo pela convivência cristã que tinha na paróquia? Conversou
com o namorado que também não quis assumir e decidiram pelo
aborto. Foi feito e tudo Àcou às escondidas. A vida continuou,
formou-se numa área psicoterapêutica, onde atua. Não conse-
guiu se casar, nem formar uma família. Um sonho frustrado. A
única criança que gerou na vida foi aquela e matou-a.
Resultado: Este fato tornou-se um grande pesadelo na
consciência. Surgiu-lhe um remorso, uma tristeza interior, um
arrependimento profundo e, sobretudo, uma tremenda culpa.
Ao contar chorava muito, e repetia: “Eu não me perdoo, sinto
um vazio e uma dor no peito por isso.”
Convidei-a a fazer um relaxamento, conduzindo-a a
imaginar um paraíso e ela se vendo andando nesse paraíso.
Disse-lhe que tudo que ali acontecesse seria para a sua liberta-
ção. ConÀrmou-me estar vendo e andando no paraíso, embora
continuasse chorando o seu remorso, a sua dor. Então, disse-
lhe: “Enquanto você vai andando nesse paraíso, surge, espon-
tânea e livremente, uma criança.” Num instante falou ela: “Es-
tou vendo uma criança.” Pergunto-lhe: “É um menino ou uma
menina?” Responde: “É uma menina.” Falei-lhe: “Esta criança é
aquela que você matou.” Neuma cai em prantos. Disse-lhe: “Vá
ao encontro dela e peça-lhe perdão pelo que você fez com ela.

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126 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

E veja que, também, ela vem ao seu encontro, oferece-lhe uma


rosa linda.” E, ainda, exclama: “Mamãe, eu te perdoo!”. Digo-
lhe: “Acolha essa menina em seus braços, com muito amor e
carinho.” E mais uma vez: “Filhinha, me perdoe.” Neuma não
parava de chorar. Falei-lhe: “Neuma, foi Deus que mandou sua
Àlha vir ao seu encontro e lhe perdoar amorosamente. Deus,
com certeza, já havia lhe perdoado, por seu arrependimento,
mas precisava acontecer este momento de você vê-la, pedir
perdão à sua Àlha, sentir o seu perdão e sentir-se perdoada,
amada por ela. Acolha a paz que este momento lhe traz. Li-
berta do vazio, da dor, da mágoa, da culpa. E saiba, de hoje em
diante, você não vai mais sentir-se sozinha, vai sentir sua Àlha
como amiga e conÀdente, nas horas mais difíceis da vida. Vo-
cês se amam. Sinta-se liberta e grata por este momento.”
Na vez seguinte, Neuma chegou aÀrmando: “Luciano, real-
mente, após aquela sessão, sinto-me liberta. Tirei um grande peso
de dentro de mim. Já não sinto o que sentia.” Também me senti fe-
liz em ter proporcionado àquela senhora meios de libertar-se dos
profundos sofrimentos que a atormentavam há mais de vinte anos.

Caso X: HIPNOSE LIBERTA PEDRO DE


PEDOFILIA
Acolhi e atendi Pedro, um paciente muito especial por sua
metodicidade e desejo profundo de libertação. Cada vez que vi-
nha falava das mudanças de comportamentos em sua vida com
base no vivenciado nas sessões anteriores. E quando concluía seu
relato, dizia: “Quero fazer terapia para me libertar de tal proble-
ma.” E situava o problema. Um dia Pedro chegou à sessão e men-
cionou: “Hoje trago para terapia um problema muito sério, que,
na verdade eu nunca falei para ninguém. É um segredo até hoje.
Não falei nem com outro terapeuta nem nunca fui pego, porque

Casos Clínicos em Hipnose:


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Luciano Furtado Sampaio

é grave, sei que poderia ter sido preso ou estar preso por ser cri-
me sério: É o problema da pedoÀlia: Sou pedóÀlo. Fui abusado
sexualmente na minha infância por um tio. Foram muitas vezes,
por alguns anos. Era algo que me dava nojo e raiva. Eu tinha ódio
daquilo, mas não conseguia me libertar. Fui crescendo e passei
a fazer o mesmo com outras crianças. Hoje sinto que era como
se eu quisesse me vingar do que Àzeram comigo. Tudo começou
na adolescência, na escola, com colegas. Na vida adulta passei a
fazer com crianças e adolescentes. Eu olhava para uma criança
ou um adolescente e vinha uma vontade louca, incontrolável, de
abusá-los sexualmente. E não tinha controle, era algo mais forte
do que eu. Quando eu queria resistir para não fazer, era pior, a
vontade Àcava mais forte e terminava procurando-os e fazendo.
Não me casei porque me compensava nisto. Hoje sinto quanto
Àz mal a essas crianças e jovens. Como fui traumatizado, mas
também sei que deixei muitos traumas nas pessoas.” E falou de
uma Praça em Fortaleza onde todos os sábados ia lá para pegar
crianças e ter casos com elas: “Elas se submetiam pelo dinheiro:
Dava dez reais a cada uma. Vendiam jornais. Sei que maltratei e
traumatizei aquelas crianças. Mas hoje eu quero fazer a hipno-
se para me libertar dessa grave doença, a pedoÀlia. Como já me
libertei de outros problemas, inclusive das surras do avô, quero
me libertar desse mal mental. Acredito que conseguirei.”
Técnica utilizada: Comecei com Pedro um relaxamento
e sugeri-lhe sentir-se andando num paraíso, já velho conheci-
do dele na terapia, e enquanto ia andando no paraíso, seguro e
tranquilo, começava a perceber que aquelas crianças e jovens
das quais havia abusado sexualmente no passado iam chegan-
do ao paraíso e ele começava a falar com cada uma delas.
Disse ele: “Elas estão chegando. Estou vendo fulano, vou
ao encontro dele -dizia o nome da criança ou jovem, que aqui,
por ética, preservo. Citando o nome falava: “Perdoe-me por
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Capítulo III – Hipnose e seu poder clínico

tudo o que eu Àz com você, pelo mal que lhe causei. Eu o preju-
diquei, estou arrependido e lhe peço perdão. Quero me libertar
e quero que você também se liberte de todos os traumas que
lhe causei. Acredite, você está liberto para sempre, liberto dos
sofrimentos que lhe causei.”
E assim foi fazendo com muitos outros, sempre nomean-
do seus nomes. Abraçava cada um que chegava no paraíso.
Quando foram chagando as crianças da praça ele disse: “Essas
crianças eu não sei dos seus nomes”, mas passava a abraçar
cada uma, repetindo o que dizia para as outras.
Resultado: há sete meses atendo Pedro e ele sempre
confessa: “Sinto uma mudança muito grande em mim. Eu
mesmo admiro a transformação. Olho crianças e adolescentes,
que antes eu Àcava louco por elas, e não sinto mais o que
sentia. A vontade incontrolável de tê-las sexualmente passou.
Foi incrível essa mudança. Não sou mais pedóÀlo!”
Concluindo: Por lidar com o ser humano e seu psiquis-
mo, a hipnose está entre as ciências humanas e da saúde e
compete-lhe trabalhar para libertar o ser humano de traumas
e harmonizá-lo, física, psíquica e emocionalmente. Esse papel
de hipnólogo clínico gera em mim profunda alegria por sentir
que estou ajudando às pessoas a se libertarem de tantos trau-
mas que atormentavam suas vidas.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |129
Luciano Furtado Sampaio

BibliograÀa

BAUER, SoÀa. Manual de hipnoterapia ericksoniana. Rio de


Janeiro: Wak Editora, 2010.
CAPRIO, Frank; BERGER, Joseph R. Ajuda-te pela
auto-hipnose. São Paulo: Bestseller, 1965.
COUÉ, Émile. O domínio de si mesmo pela auto-sugestão
consciente. São Paulo: Editora Martin Claret, 2005.
ERICKSON, Milton. In: CAPRIO, Frank; BERGER, Joseph R.
Ajuda-te pela auto-hipnose. São Paulo: Bestseller, 1965.
ERICKSON, Milton. In: RUIZ, Horacio. Guia prático de hip-
nose. São Paulo: Madras, 2012.
FERREIRA, Marlus Vinícius Costa. Hipnose na prática clí-
nica. São Paulo: Atheneu, 2012.
GASPAR, Jean. Opinião: “Mens sana in corpore sano”. Dispo-
nível em: [http://www.dino.com.br/releases/“mens-sana-in-
corpore-sano”]. Acesso em: [8 jul 2017].
GOODMAN, Shivani. 9 passos para reverter ou prevenir o
câncer e outras doenças, aprenda a cura interior. Osasco/SP:
Novo Século, 2007.
RUIZ, Horacio. Guia prático de hipnose. São Paulo: Madras,
2012.
STREETER, Michael. Hipnose, liberte o poder da mente.
Lisboa: Editorial Estampa, 2004.

Casos Clínicos em Hipnose:


130 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV
Hipnoterapia na prática:
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Sobre o Autor

Rogério Castilho
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Paulistano, Àlho de um carioca e de uma paulista, nas-


cido aos 28 de março de 1966, porém registrado apenas no dia
29, que se tornou a data ‘oÀcial’.
Aos 13 anos de idade decidi abandonar a escola. Queria
ser jogador de futebol e suponha jogar bem, o que alimentava
o sonho. Praticava com aÀnco, na rua, nas praças, na calçada,
onde fosse possível – e até em alguns lugares que, francamen-
te... Um único teste “proÀssional” acabou com as minhas ilu-
sões. Se eu era ‘bom’ de bola, os outros garotos eram ótimos.
Trabalhei como engraxate, balconista de bar, ofÀce-boy e a
escola Àcou em segundo plano. Aos 14 voltei a estudar e aos
16 fui fazer supletivo, para recuperar o que considerava tempo
perdido. Fiz um curso técnico e lá conheci um professor que
marcou para sempre a minha vida: Cláudio Roberto Palombo,
professor de biologia, que jamais esquecerei. Eu realmente me
sentia atrasado, então decidi que iria estudar a sério.
Sentava-me na carteira bem diante da mesa dos pro-
fessores para absorver o máximo das aulas e fazer pergun-
tas, muitas perguntas quando os mestres estavam sentados.
O professor Cláudio percebeu alguma coisa de diferente em

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |133
Sobre o Autor

mim; dava-me uma atenção que acho que nem merecia. EnÀm,
conversávamos sobre política, o que para alguém da minha
idade à época era um espanto. “Diretas, já!” (procure no Goo-
gle), redemocratização, Àm do bipartidarismo. Dentre tantos
assuntos, surgiu minha curiosidade pelo mundo “esotérico” e
o professor me presenteou com uma edição da revista PLANE-
TA. A capa era sobre Umbanda ou Candomblé, não me lembro
bem. Levei para casa e a devorei. Fiquei encantado por aquele
novo mundo que se descortinava para mim. Passei a comprar
a revista e a cada mês me tornava “especialista” no tema de
capa. Estudei Tarô, Cartomancia, Pirâmides, discos voadores,
Radiestesia, Mapa Astral, Leitura de Aura, Iridologia, “Poder
da Mente”. Fiz inscrição na biblioteca pública e passei a ler o
que encontrava sobre os temas. Curiosamente, a Hipnose ja-
mais me chamou a atenção. Inclusive, demorou muitos, muitos
anos para que me interessasse por ela.
Nesta época eu era muito pobre, morava com minha
mãe num cômodo nos fundos do local de trabalho dela, o que
já era um up-grade, porque antes morava na favela. Não ti-
nha dinheiro sequer para comprar livros, quanto mais para
fazer cursos. Para satisfazer a imensa curiosidade, assistia a
todas as palestras gratuitas que podia. E de tudo: esoterismo,
política, artes, culinária, o que houvesse. Ficava olhando e
admirando os palestrantes, atento a como falavam, a como
caminhavam no palco, a como projetavam os slides. Desde
então, decidi o que queria fazer na vida. Só não tinha a menor
ideia de como.
Um dia, assistindo na televisão a um programa de en-
trevistas apresentado pela Bruna Lombardi, conheci o Dr. Lair
Ribeiro e Àquei encantado com a facilidade com que ele falava,
os temas, os termos, a capacidade de citar de memória dados
e mais dados sobre o que pejorativamente chamam de “autoa-
Casos Clínicos em Hipnose:
134 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Sobre o Autor

juda”. Fiquei alucinado! Era aquilo que eu queria! Logo em se-


guida, Dr. Lair lançou uma coleção de materiais em Àtas K7
(procure no Google!) que vinham encartadas em fascículos se-
manais. Eu atormentava o jornaleiro, quase todos os dias, per-
guntando “Chegou? Chegou?” até que tivesse o novo material
em mãos. E eu ouvia as Àtas à exaustão; 30 minutos cada lado,
várias vezes. Decorei os textos. Passei a repeti-lo para meus
amigos e sentia uma satisfação imensa em ter gente me ou-
vindo, aprendendo alguma coisa comigo. DeÀnitivamente era
aquilo mesmo que eu queria fazer na vida. O Dr. Lair Ribeiro
falava sobre, vim a descobrir depois, Programação Neurolin-
guística, a PNL. Hoje, nos idos de 2017, é pouco conhecida;
imagine nos remotos anos 80...
Abro aqui um parêntese para revelar outra paixão: o
rádio. Meu outro sonho era ser locutor de rádio, mas nunca
tive aquele vozeirão, então usei da Áexibilidade (já praticava
PNL sem saber!) e enveredei pelo caminho do humor. Vozes
caricatas, imitações, brincadeiras. Ouvia o “Show de Rádio”,
depois Serginho Leite, os caras do Café com Bobagem (Goo-
gle, Google...) e comecei a escrever piadas e esquetes, e mandar
para as rádios. Alguém gostou, me chamaram e fui trabalhar
na Rádio Cidade (acho que nem no Google...), então primeiro
lugar em audiência em São Paulo. Fiz algum sucesso, tanto que
o Gugu me chamou para fazer um quadro em seu programa
no SBT. Entrei para a TV, trabalhei em várias emissoras (SBT,
Record, BAND, Rede TV!, Gazeta) e aí voltamos ao tema deste
livro. Em diversas ocasiões estive no mesmo estúdio que Fá-
bio Puentes, o hipnotista uruguaio mais conhecido do Brasil,
e na época não me chamava a menor atenção. Ele fazia seus
números e eu só me preocupava em saber quando terminaria
para eu entrar, ou vice-versa. Realmente não dava atenção às
apresentações dele.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |135
Sobre o Autor

Voltemos ao Dr. Lair Ribeiro. Nos tempos das vacas ma-


gras e das Àtas K7, vi a propaganda de um curso dele, de 3 dias.
Pedi informações por carta (!) e quando recebi os detalhes,
quase caí duro. O preço do treinamento era algumas vezes o
salário que ganhava. Escrevi para ele, dizendo que gostaria
muito de fazer o curso, mas que não reunia condições no mo-
mento e que um dia... ah, um dia. Bem, um dia cheguei em casa
e havia uma carta-resposta dele para mim. Uma carta pessoal
do Dr. Lair Ribeiro para mim! Nela, ele dizia entender minhas
condições e me ofereceu 50% de desconto no curso. Fiquei ao
mesmo tempo feliz e constrangido, nunca achei de bom tom
pechinchar o valor do trabalho das pessoas. Respondi de ime-
diato, agradecendo mas declinando – por dois motivos: nem a
metade eu conseguiria pagar, e, o principal, não havia pedido
desconto. Dizia que mesmo sem conhecer o trabalho, deveria
valer o quanto ele pedia. Mais uma vez ele respondeu que o
desconto estava de pé para quando eu quisesse.
Um salto no tempo, eu trabalhando na BAND, vou fazer
uma matéria exatamente no curso dele, uma imersão de 3 dias
num hotel fazenda. Já em condições de pagar, nem Àz valer o
“desconto vitalício”. Mergulhei no treinamento, que foi um di-
visor de águas na minha vida. Não entendi absolutamente nada
que estava fazendo, mas era tudo muito intenso e bom. Neste
curso ele não explica muita coisa, apenas diz “faça isso, faça
aquilo” e as mudanças são imediatas. Saí de lá transformado, as
pessoas percebiam e diziam isso para mim, e totalmente deter-
minado a aprender o que Àz, os quês e porquês de tudo aquilo.
Foi aí que conheci outro cara sensacional, que marcou
e mudou positiva e substancialmente a minha vida: Villela da
Matta, presidente do então Instituto de Performance Humana
Continuum, hoje Sociedade Brasileira de Coaching. Um dado
interessante é que em nosso primeiro contato, uma palestra
Casos Clínicos em Hipnose:
136 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Sobre o Autor

explicativa sobre PNL, não “fui com a cara” dele. Achei a Flora,
sua esposa, muito mais por dentro do tema e das explanações.
Mesmo assim, fui fazer o Practitioner com eles, e posso dizer
sem pestanejar: foi a melhor decisão que tomei na vida! An-
thony Robbins bem diz que é nos momentos de decisão que
nosso destino é traçado, e o meu foi ali. Uma nova vida, repleta
de possibilidades se abriu para mim. Ali me entendi e entendi
um monte de coisas, ali recebi a explicação para muita coisa e
ganhei o manual do meu cérebro. Também foi ali meu primeiro
contato com a Hipnose, já que faz parte da grade curricular do
Practitioner. Foi no sexto e último módulo, eu já estava en-
cantado com os fantásticos resultados que vinha obtendo na
minha vida e na das pessoas que começava a ajudar.
Quando chegou a Hipnose pensei “UAU! PNL por si só
já é sensacional, com Hipnose então!!!” e tive a certeza absoluta
de que era a peça que faltava no meu quebra-cabeças. Ser pa-
lestrante, trabalhar com Humor, ajudar pessoas – e com essa
ferramenta absurdamente simples e eÀcaz? Estava completa
a Gestalt. Só o que faltava era coragem, confesso. Villela me
pressionava, perguntando quando é que eu iria começar a tra-
balhar efetivamente com aquilo tudo e eu saía pela tangente,
“Quando Àzer o Master”, “Quando terminar a faculdade” (es-
tudava Jornalismo), depois disso, depois daquilo. As tradicio-
nais desculpas. Então ele me apresentou a Olimar Tesser, um
hipnotista iniciante que viu em mim a oportunidade de apare-
cer na televisão, e eu vi nele a oportunidade de aprender mais
sobre Hipnose. Ficamos amigos, fomos parceiros num projeto
chamado “H2 - Humor & Hipnose”. Aluguei um teatro por seis
meses e Àcamos em cartaz, apresentando um espetáculo em
que cada um atuava na sua área. Observei bastante, a chamado
Hipnose de Palco é realmente impressionante, principalmen-
te para quem não tem muito conhecimento. Foi um momento

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |137
Sobre o Autor

enriquecedor de aprendizagem que logo se esgotou quando


percebi que por mais interessante que seja, a Hipnose de Palco
não tem muita Ànalidade. Seus defensores alegam que serve
para demonstrar o “poder” que as pessoas hipnotizadas têm e
que os shows promovem a Hipnose clínica. Discordo frontal-
mente, digo que, ao contrário, a Hipnose de Palco AFASTA as
pessoas da clínica.
Ao longo do livro, veremos melhor este conceito: não é o
que você diz que conta, é o que você faz. Fiz Hipnose de Palco
por algum tempo, ressalvando a utilidade da clínica, reiteran-
do que “se a pessoa esquece o próprio nome, pode “esquecer”
um trauma, uma fobia, uma mágoa”, fazendo todo um discurso
das maravilhas terapêuticas da Hipnose Clínica, após o show,
em que a audiência havia passado uma hora e meia VENDO as
pessoas hipnotizadas no palco dançando, “mudando de sexo”,
atendendo o sapato como se fosse um telefone, Àcando coladas
à cadeira, tocando violinos imaginários e toda a sorte de de-
monstrações circenses que fazem parte o espetáculo. Não há
discurso que suplante o que os olhos veem.
Participo com frequência de programas de televisão,
dando entrevistas sobre Hipnose Clínica. Vez por outra pe-
dem que eu faça demonstrações, em especial programas com
auditório, onde a “oferta” de sujeitos é maior e eu SEMPRE
negocio para que a apresentação tenha um viés terapêutico.
Pode-se ver em meu canal de vídeos participações na Globo,
SBT, BAND, Rede TV!, Gazeta (SP), Rede Vida, RecordNews
e diversos programas de webTV, e na esmagadora maioria, mi-
nhas participações apresentam alguma intervenção terapêuti-
ca. Nas raras exceções, o acordo foi quebrado unilateralmente.
Em algumas aparições paguei o “pedágio” de fazer demonstra-
ções que satisÀzessem a Produção do programa e apenas isso
foi para o ar. Trabalhei por 20 anos em rádio e em TV. Sei como
Casos Clínicos em Hipnose:
138 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Sobre o Autor

funciona a coisa. Continuo e continuarei a divulgar os benefí-


cios da Hipnose Clínica, suas aplicabilidades em busca de aju-
dar a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Tenho amigos
que trabalham com outra abordagem, eu respeito isso. Só não
é a minha praia. Uma pergunta que deixo no ar é: por que será
que não existem anestesistas de palco?
Nas paredes da minha sala de atendimento exibo 56 di-
plomas e certiÀcados nas áreas de Hipnose, PNL, Neurociên-
cias, Psicologia – e um de Jornalismo. Este número se refere a
março de 2017, porque não pretendo parar por aí. Devotei mi-
nha vida a aprender, aprender, aprender e ensinar tudo o que
for útil e eÀcaz em mudar positivamente a vida das pessoas.
Fiz cursos com Richard Bandler, Anthony Robbins, Roxanna
Erickson, Teresa Robles, SoÀa Bauer, Jeffrey Zeigg, Paul Adler,
Michael Hall, Bern Isernt, Deborah Epelman, Ruy Sampaio,
Benomy Silberfarb entre outros. Aprendi muito com alguns,
um pouco com todos, e montei meu método baseado no em-
pirismo clinico, na experimentação. Aprofundei os estudos,
me graduei em Psicologia, pós-graduei em Neurociência, Àz
Especialização em Hipnose Clínica. O que aplico e ensino tem
Hipnose clássica, ericksoniana, PNL, Psicologia Positiva, Te-
rapia Cognitivo Comportamental, Gestalt. Um pouco de cada,
um muito de mim. Agradeço a cada um dos mestres com quem
aprendi e com os quais continuo aprendendo.
Durante um período fui Humorista, vivi disso, e sen-
tia-me muito bem em fazer rir e perceber as pessoas mudan-
do de estado de espírito, Àcando mais leves e alegres. Fiquei
me perguntando como fazer para que as sensações positivas
delas durassem mais tempo e encontrei na Hipnose clínica a
resposta. Há anos vivo exclusivamente disso, já dei curso em
quase todos os estados do Brasil, uma vez em Berlin, na Alema-
nha, uma vez em Lausanne, na Suíça, duas vezes em Bogotá, na
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |139
Sobre o Autor

Colômbia, duas vezes no Japão (em 4 cidades) e 18 vezes em


Portugal (Porto e Lisboa). Enquanto escrevo este livro, conta-
bilizo mais de 7000 alunos nos 4 cantos do mundo. Alguns de-
les se tornaram amigos e muitos, muitos deles fazem sucesso
na área terapêutica. Jamais vou me vangloriar pelos resultados
deles, aÀnal são DELES e só chegaram aonde estão por terem
feito o meu e vários outros cursos, por terem se aperfeiçoado
e se manterem em constante estudo. Sinto orgulho deles, mas
guardo este sentimento comigo. O mérito é deles, assim como
tenho o meu, pelo estudo, esforço e dedicação. Entretanto,
ainda não cheguei “lá”. Estou em movimento. Acompanhe-me,
tenho uma ou duas coisas a compartilhar com você!

Casos Clínicos em Hipnose:


140 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Rogério Castilho

O MENINO QUE NÃO COMIA

M. J. trouxe seu Àlho depois de me ver em ação no progra-


ma da Ana Maria Braga. Embora lá eu tenha aparecido tratando
de tabagismo, ela entendeu que a hipnoterapia se aplica a outras
questões e, aÁita pela situação do Àlho, entrou em contato pe-
dindo atendimento com urgência. Quando vi P. S. pela primeira
vez, supus tratar-se de uma criança de nove ou dez anos, quando
ele já tinha quatorze. Aparência esquálida, olhar desviante, de-
sânimo evidente; P.S. demonstrava total desinteresse no mundo
externo. Monossilábico, respondia às minhas perguntas com
“sim”, “não”, e, mais comum, “não sei”. A queixa da mãe: ele não
comia. Nada. Demorava duas horas para ingerir um pãozinho,
sob protestos e insistências de M.J., que praticamente empurra-
va com os dedos pequenos pedaços de comida na boca do Àlho,
que trancava os dentes, diÀcultando o processo.
Estabeleci Rapport com ele, espelhei postura, respira-
ção, utilizei todo um arsenal de técnicas para penetrar naquele
mundinho e tudo em vão. Ele se fechava em copas. Perguntas
diretas absolutamente não funcionavam; P.S. não manifesta-
va nenhum interesse em estabelecer qualquer tipo de diálogo,
não dava nenhuma pista sobre sua decisão de não mais comer.
Sozinho com a mãe, perguntei sobre todos os aspectos da
vida do garoto, quando e onde nascera, se tinha irmãos, sobre o pai,
a infância, o dia a dia, enÀm, tudo que pudesse me ajudar a enten-
der o que se passava. Mesmo com todas as respostas, não sabíamos,
nem a mãe nem eu, o motivo daquele comportamento dele. Ela ape-
nas havia identiÀcado um gradual desinteresse por comida da parte
Casos Clínicos em Hipnose:
técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |141
Rogério Castilho

dele. Em princípio, lidou como se fosse uma característica do Àlho,


até que a situação foi tomando proporções alarmantes: perda seve-
ra de peso, imunidade baixa, tonturas e desmaios frequentes.
M.J. fez o “caminho normal”: levou-o a um médico, que
recomendou um psiquiatra infantil, que lhe receitou remédios.
Nada adiantando, pediu ajuda ao padre local, recorreu até
mesmo à macumba, até que me viu na televisão e se apresen-
tou dizendo eu ser sua última esperança. Até então, eu nunca
havia tratado de um caso parecido, o que se tornou também
um desaÀo. Para a imensa maioria das pessoas, comer está as-
sociado a prazer, a satisfação, e P.S. não demonstrava prazer
NEM em comer – nem em nada.
Agendamos a sessão para dali a alguns dias, o que me
deu tempo para pesquisar e pensar no que faria. No dia marca-
do, chegaram cedo, bem antes do horário agendado. A ansieda-
de da mãe era notória e totalmente compreensível. P.S. estava
com a mesma cara de desânimo.
Eu e ele na sala de atendimento, solicitei que se sentasse na
“poltrona do papai” e procurasse Àcar bem confortável. Iniciei o
Relaxamento Progressivo e em poucos minutos P.S. começou a
demonstrar sinais hipnogênicos clássicos, a saber: relaxamento
do tônus muscular, respiração profunda e lenta, relaxamento
das mandíbulas, com separação dos dentes de cima com os de
baixo, boca entreaberta, grande salivação. Imediatamente suge-
ri que mesmo se ele dormisse, que continuasse a ouvir a minha
voz. Na metade do Relaxamento, ele já estava em transe pro-
fundo. Continuei com o processo por perceber que a exaustão
psicológica apresentada estava, obviamente, associada a uma
exaustão física. Ele precisava, muito, descansar.
Fiz o Aprofundamento, contando números decrescentes
e sugeri um lugar seguro. Suas pistas oculares indicavam que

Casos Clínicos em Hipnose:


142 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

ele estava respondendo bem aos comandos, o que me deixou


animado e conÀante no resultado do processo. Experimentei
dar sugestões diretas, de apreço e aceitação pela comida ofere-
cida por sua mãe, e P.S. não deu nenhuma resposta Àsionômica
que eu pudesse detectar, nem positiva nem negativa. Fixei-me
nesta possibilidade: como não demonstrou aversão às suges-
tões, Àquei com a esperança de que as tivesse aceito. Findei o
atendimento e conversei um pouco mais com a mãe, explican-
do genericamente o que eu havia feito. Combinamos uma nova
sessão para dali uma semana.
Na semana seguinte, M.J. chegou com algum alívio, já
que P.S. havia reagido um pouco melhor em relação à comida,
mas que ainda estava longe do que ela esperava. Disse que ele
“beliscou” alguma coisa, bem mais do que “comia” antes, mas
ainda quase nada perto do que ela considerava ideal. Ele apa-
rentava uma ligeira melhora no ânimo e no aspecto geral. Esta-
belei Rapport, e ele entrou em transe rapidamente; o aprofun-
damento também foi bastante facilitado. Desta vez, mudei a
abordagem: Àz-lhe um processo de regressão, sugestionando o
seu inconsciente que voltasse no tempo até o momento em que
decidira não mais comer. Fui repetindo a sugestão, conforme
P.S. foi me dando sinais Àsiológicos de que me acompanhava:
um ligeiro franzir de senho, alterações sutis mas perceptíveis
na respiração, um breve apertar de lábios. Num determinado
momento, aparentou maior desconforto, movendo-se na pol-
trona. Perguntei-lhe aonde estava naquele momento.
– Em casa, sussurrou.
– O que está fazendo aí? – Perguntei.
– Nada. Eu estou triste.
– Está triste por quê? Há alguém com você?
– Minha irmã está indo embora. – E começou a chorar.

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |143
Rogério Castilho

– Acalme-se, e volte no tempo um pouco mais. Antes


disso está tudo bem, não está?
– Está, respondeu. Então sugestionei que se mantivesse
seguro e que em pouco tempo minha voz voltaria. Saí da sala e
fui ter com a mãe dele.
– Diga-me uma coisa: o que houve com a sua Àlha?
– O que houve com minha Àlha???, respondeu pergun-
tando, assustada.
– Desculpe, não fui muito claro. P.S. se lembrou de algo
na infância dele, envolvendo a irmã.
– Não houve nada. Tudo normal.
– Ela mora com vocês?
– Mora.
– Ele se lembra dela indo embora...
– Ela só saiu de casa para a faculdade, que era em outra
cidade.
Bingo! As peças se encaixaram para mim. Agradeci e re-
tornei à sala de atendimento.
– OK, estou de volta... Continue relaxado e tranquilo...
Vá novamente ao momento em que sua irmã “vai embora”. O
que você vê?
– Ela indo embora.
– Ela carrega alguma coisa nas mãos?
– A mochila e uma mala. Eu não quero que ela vá embora...
– OK... Entenda uma coisa: ela está indo estudar. Vai pra facul-
dade, não vai embora. Logo ela volta. Você quer ir embora também?
– Não. Eu quero Àcar com a minha mãe. – E chorou.
– Você vai Àcar com a sua mãe... Por muito tempo... Sua mãe
precisa muito de você... Entende isso? Ela precisa muito de você...

Casos Clínicos em Hipnose:


144 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

P.S. assentiu com a cabeça, suspirou profundamente e


parou de chorar.
– E quanto mais a sua mãe Àcar velha, mais ela vai preci-
sar de você. Com o tempo ela vai Àcar mais velha e mais fraca.
De que tipo de pessoa ela vai precisar ao lado dela?
– Forte, respondeu com voz trêmula.
– Que tipo?
– Forte.
– Você é forte?
– Não...
– Você é grande?
– Não...
– O que precisa para Àcar grande?
– Crescer.
– O que precisa para crescer e Àcar forte?
– Comer.
– Precisa do quê?
– Comer!
– Quanto?
– Precisa comer bastante.
– Você quer crescer e Àcar forte, para ajudar a sua mãe?
– Quero!
– E tem que fazer o que para isso?
– Comer bastante.
– Você tem vontade de comer bastante?
– Tenho.
– Ótimo... Muito bom... Agora imagine você comendo...
crescendo... Àcando forte... ajudando a sua mãe... grande e for-

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |145
Rogério Castilho

te... Isso, muito bem... Você está indo muito bem... Você sabe
que para comer é preciso ter fome... Pode agora se lembrar de
como é ter fome... aquela fome boa, aquela vontade de comer
alguma coisa gostosa... agora...
P.S. foi dando sinais Àsiológicos de que estava realizan-
do todas as sugestões, positivamente. Finalizei a sessão, per-
guntei como ele estava, disse: com fome! Pedi que aguardasse
um pouquinho e saí da sala. Pedi para que M.J. fosse à padaria
na esquina e comprasse um sanduíche e um suco. Ficou me
olhando e perguntou se eu estava com fome. Sorri e insisti nas
instruções. Em minutos ela voltou com o lanche, que exalava
um agradável aroma, que despertava apetite até em quem aca-
bara de comer. Convidei-a a entrar na sala e oferecer o lanche
ao Àlho. Ao vê-lo devorar o sanduíche com prazer, e gemidos
característicos de quem estava apreciando mesmo a iguaria,
M.J. chorou copiosamente. Confesso que tive que me conter
para não deixar a emoção tomar conta de mim. Alguém ali ti-
nha que comandar a situação, e manter o ar de proÀssiona-
lismo. Hipnoterapeutas sabem do que estou falando; somos
humanos, nos envolvemos com as histórias e, principalmente,
com os resultados. Não foram poucas as vezes em que chorei
junto com os clientes, felizmente apenas quando das resolu-
ções dos casos. Nas anamneses, por piores que sejam as situa-
ções, mantenho-me dissociado, analisando as questões tecni-
camente. Ao Ànal, sim. Vale tudo.
Algumas semanas depois, M.J. me mandou uma foto de
um garotão de óculos escuros, gel nos cabelos, de camiseta
sem mangas. Demorei a reconhecer P.S. naquele retrato. Ele
estava ótimo! Ganhara vários quilos, exibia aquele ar típico
dos adolescentes que começam a se descobrir. Fiquei feliz por
ele, feliz por ela, muito feliz pelos “milagres” que a Hipnose
pode proporcionar.
Casos Clínicos em Hipnose:
146 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

A MULHER QUE SOFREU ABUSO SEXUAL

L.D. é uma bela mulher, jovem, atraente. Entretanto,


chegou a mim extremamente insegura, tímida, mal me olha-
va nos olhos. Nos conhecemos desde os tempos em que eu
participava de grupos de estudos presenciais de Hipnose. Ela
namorava um dos membros e estava sempre lá, observando
de longe. Sua proÀssão proporcionava que viajasse com fre-
quência, convivendo com os mais diversos tipos de pessoas.
Comunicativa no trabalho, reservada socialmente, pelo me-
nos ali conosco.
Na anamnese, apresentou-se bastante incomodada com
algo que tinha imensa diÀculdade em pronunciar. Insisti que
estava diante de um proÀssional, que éramos amigos fora dali,
naquele momento a relação era outra, que ela podia me dizer
QUALQUER coisa, que permaneceria ali, entre nós. Com di-
Àculdade, e sem me olhar nos olhos, disse que na adolescên-
cia, aos 12 anos, fora morar com uma tia, proprietária de uma
pensão, que alugava quartos para homens. E que “a alugava”
também... 12 anos de idade... Ao Ànalmente me relatar esta
barbaridade, seu rosto aparentava um misto de tristeza e de
raiva. Estreitei o Rapport, acolhendo-a e procurando a deixar
o mais à vontade possível diante daquela situação. Agendamos
a sessão.
No dia, chegou cedo, apertando os dedos das mãos, ges-
ticulando com nervosismo, embora procurasse demonstrar
tranquilidade. Expliquei-lhe novamente o processo, que se-
ria relaxante e confortável, até onde fosse possível. Deitou-se,
diminui a luz e iniciei o Relaxamento Progressivo. L.D. Àcou
impassível. Tive diÀculdades em identiÀcar os sinais hipno-
gênicos, apenas a respiração denunciava mudanças de estado.

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técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |147
Rogério Castilho

Aprofundei, sugestionando que Àzesse uma contagem regres-


siva mentalmente, desde o 300.
– 300... 299... 298... 297... 296... (silêncio)... Continue a
contagem... A cada número, relaxe duas vezes mais... Quando
se perder, retorne ao último número que se lembrar... (silên-
cio)... Continue a contagem... Relaxe... Relaxe...
Finalmente os sinais foram mais acentuados, indicando
um bom nível de transe. Apliquei uma técnica conhecida como
Terapia da Linha do Tempo, de Tad James, adaptada. A Àz se
lembrar de que o ocorrido se dera há umas duas décadas e que,
portanto, os protagonistas já estariam hoje com uma idade
considerável. Faríamos uma viagem no tempo, uma viagem
mágica, uma viagem de resgate e eu iria junto com ela. Segurei
em sua mão e sugestionei que voltasse no tempo, e que seria
a última vez que sofreria por conta daqueles acontecimentos.
Quando demonstrou inquietação, pedi que voltasse um pouco
mais, ANTES do ocorrido. Naquele instante, estava tudo bem.
Sugeri que a L.D. de hoje, já uma mulher feita, conversasse com
a L.D. de 12 anos, e que lhe dissesse tudo de bom que lhe ocor-
rera na vida depois daqueles momentos trágicos. A ideia era a
de “empoderar” a jovem L.D., para que pudesse passar pelos
fatos com o mínimo de sofrimento possível.
L.D. se emocionou. Chorou um choro de resignação, lá-
grimas de um último sofrimento, necessárias, catárticas, puri-
Àcadoras. Pedi que me desse um sinal quando estivesse pron-
ta. Apertou a minha mão, e entendi que era a hora. Sugeri que
revivesse os acontecimentos, mas sendo a L.D. de hoje, mui-
to mais forte e com muito mais recursos do que aos 12. Que
passasse pelas lembranças bem depressa, como um Àlme em
câmera rápida. Ao Ànal, que voltasse e passasse novamente,
e mais uma vez. A ideia era a de dessensibilizar as memórias,

Casos Clínicos em Hipnose:


148 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

como quando se assiste a um Àlme de terror pela segunda ou


terceira vez; as emoções se diluem, já se sabe o que vai aconte-
cer, o impacto é mínimo – se ainda houver.
Quando percebi sinais de alívio em seu rosto, considerei
que estava feito. Fiz a integração com sugestões de autoestima
e de conÀança. L.D. foi despertando serena e se dizendo leve.
Pediu-me um abraço e me apertou forte. Agradeceu diversas
vezes, dizia estar se sentindo maravilhosamente leve, como há
muito não sentia.
Eu também estava bem, muito bem. Viva a Hipnose Clínica!!

Casos Clínicos em Hipnose:


técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |149
Rogério Castilho

A MULHER QUE FUMAVA

Fui convidado a participar do programa “Mais Você”, apre-


sentado por Ana Maria Braga, na Rede Globo de Televisão. Que-
riam fazer uma pauta sobre Hipnose no combate ao tabagismo. Fi-
quei entusiasmado com o convite, mas recusei indicar alguém para
ser tratado justamente para que não surgissem suspeitas. Infeliz-
mente este é um meio onde há muita desconÀança, justiÀcada, por-
que há quem faça QUALQUER COISA para ter 5 minutos de fama.
A produção do programa, então, se incumbiu de encon-
trar alguém que aceitasse passar pelo processo e ir ao progra-
ma relatar como foi. E.H, 30 anos, advogada, aceitou o convite.
A conheci apenas no dia da primeira gravação, já que o proces-
so para parar de fumar com Hipnose envolve algumas sessões.
Simpática, falante, aparentou estar decidida, e com um bom
motivo: iria se casar e Àrmara um pacto com o noivo, também
fumante, de que ambos abandonariam o cigarro antes do ma-
trimônio, para que tivessem uma casa nova livre da fumaça e
do mau cheiro típicos. Expliquei o processo e E.H. aceitou, e
se prontiÀcou a fazer a parte dela. Muita gente acredita que a
Hipnose faça milagres e que o sujeito não precisa fazer nada;
em muitos casos, apenas as sessões resolvem, mas não são to-
dos. Antitabagismo requer algumas “lições de casa”, já que tra-
ta-se de um vício, envolvendo dependência química.
No método que aplico, a primeira sessão é gravada no
celular da pessoa, para que ouça a sessão por 7 dias, em casa.
No caso da E.H., gravei no meu notebook e queimei um CD
que ela levou. Nesta primeira sessão, trabalhamos para que o
fumante remova o (ou os) motivo(s) de fumar de sua história,
sugestionamos que o cigarro “desapareça”, para que deixe de
fazer parte da vida da pessoa e reforçamos a força de vontade,

Casos Clínicos em Hipnose:


150 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

que será imprescindível para se manter os novos comporta-


mentos até que se tornem hábitos.
Fumar está amparado num tripé: dependência química,
física e psicológica. A química é um tanto óbvia: o cigarro con-
tém inúmeras substâncias, muitas delas viciantes – e cance-
rígenas. Ao inalar a fumaça, entre 7 a 19 segundos a nicotina
entra na corrente sanguínea e atinge uma área do cérebro cha-
mada zona de recompensa, proporcionando enorme prazer.
Com a repetição se dá o vício. A dependência física está ampa-
rada nos movimentos repetitivos que o fumante faz; é comum
quem tenta parar de fumar sem ajuda e engorda. O movimento
da mão à boca continua, mas ao invés do cigarro, comida... E a
dependência psicológica é o que eu chamo de “tem que”. Acor-
dou, “tem que” fumar; tomou café, “tem que” fumar. Namorou,
“tem que” fumar. É preciso quebrar esse “tem que”.
A TV Globo gravou a chegada dela, as apresentações e ex-
plicações de minha parte. Não permiti que acompanhassem as ses-
sões, por se tratar de momento íntimo, onde os clientes expõem
suas questões, suas fragilidades e esperam ajuda, e não publici-
dade. A primeira sessão Áuiu muito bem, com E. H. respondendo
bem aos comandos hipnóticos e atingindo bom nível de transe.
Uma semana depois, lá estavam de volta a cliente e a equi-
pe de TV. Novamente gravaram o papo inicial e o pós-sessão.
Neste segundo encontro, E.H. relatou ter ouvido a gravação to-
dos os dias e ter diminuído o consumo de cigarros de forma con-
siderável, mas ainda fumava, o que é normal dentro do processo.
Poucas pessoas param logo na primeira sessão, embora todas
reÀram diminuição no número de cigarros fumados. Expliquei
a ela que aquele seria o dia em que deixaria de fumar. A indu-
ção ao transe foi muito facilitada pelo Rapport estabelecido e
aprofundado tanto com a primeira sessão como com a audição

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técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |151
Rogério Castilho

da gravação. Nesta sessão, instalamos condicionamentos aver-


sivos, associando cigarros a enjoos, náuseas e mal estar. E. H.
demonstrava Àsiologicamente estar vivenciando as sugestões,
fazendo cara de nojo congruente com as sugestões. Antes de À-
nalizar, trabalhei a quebra da dependência física, sugestionando
que passaria a beber mais água, nos momentos em que normal-
mente fumaria, e com o uso de canudos, para suprir a necessida-
de de algo roliço entre os dedos. Pós transe, sugeri que utilizasse
adesivos de nicotina, para suprir a necessidade química. São de
venda livre, indicados para dependências altas, médias ou bai-
xas, determinadas por um teste que fazemos na sessão inicial.
Deve-se usar um adesivo por dia, em parte do corpo sem pelos.
As instruções são simples e vêm na caixa dos adesivos. Mui-
ta gente usa os adesivos e continua fumando, sendo vítima de
overdose de nicotina, sentindo-se mal – e abandonando o adesi-
vo, por supor que lhe Àzera mal. Abandonar o vício do tabagis-
mo não é fácil e requer acompanhamento proÀssional.
Na terceira sessão, E.H. já relatou não mais fumar. Estava
bastante satisfeita com o processo e consigo mesma. Sentia-se
mais bem disposta, notara mudanças positivas na pele e nos cabe-
los, o que aumentou a motivação e a autoestima. Fizemos, então,
a sessão de fechamento, trabalhando justamente essas questões.
Projetamos um futuro mais saudável e agradável, sem fumaça,
sem mau cheiro, sem desperdício de dinheiro e de tempo. Confor-
me combinado, ela deu uma pequena entrevista para a equipe da
Globo e fora agendada nossa participação no programa.
Alguns dias depois, lá estávamos nós no “Mais Você”, com
a Ana Maria Braga, que nos recepcionou com toda a gentileza
e com curiosidade sobre o procedimento e seus resultados. As
três sessões foram primorosamente editadas e podem ser vistas
em meu canal de vídeos: www.youtube.com/rogeriocastilho.

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152 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

O HOMEM COM CLAUSTROFOBIA

Faço acompanhamento com um nutrólogo, há algum


tempo, e ele, curioso com o meu trabalho, passou por algumas
sessões comigo. Ficou tão encantado com os resultados, que
mandou a namorada – e uma penca de clientes. Pessoas que o
procuram com problemas físicos ou nutricionais, ele trata. Os
que considera com questões psicológicas a resolver, me indica.
Foi o caso de R.S., um homem enorme, com quase 2 metros de
altura. Consultor, referiu claustrofobia, o que causava trans-
tornos quando visitava clientes e precisava utilizar elevadores.
Panorâmicos eram impossíveis para ele. Assim como máquinas
de tomograÀa, que ele precisava utilizar por conta de questões
sérias de saúde.
Chegou bastante apreensivo, embora dissesse conÀar
cegamente em nosso nutrólogo, que me indicara com bastante
entusiasmo. Expliquei como funciona a Hipnoterapia, tirando
os medos e as suposições fantasiosas tão comuns aos leigos.
Ele não “sairia do corpo”, não “apagaria”, nem me contaria se-
gredos. O risco de “não voltar” seria zero e as sensações muito
prazerosas. O Rapport foi bem estabelecido, e R.S. demons-
trou tranquilidade quanto ao procedimento. Promovi o Rela-
xamento Progressivo e antes mesmo do aprofundamento ele
já dava sinais inequívocos de transe profundo. Relaxamento
corporal e facial completo, respiração profunda e lenta, lábios
entreabertos. Estabeleci contato através de sinais ideomoto-
res, para garantir que ele não dormiria e que poderíamos se-
guir com o protocolo.
Apesar do aparente estado, promovi um leve aprofunda-
mento, com contagem regressiva desde o 10. No 1, aprofundei
o Rapport:

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técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional |153
Rogério Castilho

– Esta será a última vez que a ideia de estar em algum


lugar fechado te incomodará. Preciso que se imagine em um,
ou lembre-se da última vez em que foi realmente desagradável.
Faça-me saber que está lá.
R.S. ficou um pouco agitado, com alguns sinais an-
siogênicos clássicos. Daí a importância do aviso anterior de
que seria a última vez o incômodo, senão os mecanismos de
defesa o protegeriam deste “sofrimento”. Prossegui com o
atendimento:
– Agora, sem acordar, coloque sua mão onde começa a
sensação ruim no seu corpo. Sem acordar... sem acordar...
Sua mão direita se moveu lentamente, estacionando so-
bre o estômago. Agradeci e perguntei para onde aquela sen-
sação seguia, se para cima, para baixo, para um lado ou para o
outro. Novamente a mão se moveu, lentamente, em direção à
garganta. Mais uma vez, agradeci. Lancei mão de uma técnica
de PNL, chamada Cura Rápida de Fobia, criada por Richard
Bandler, de quem sou Trainer licenciado. Há diversas partici-
pações minhas em programas de televisão, eliminando fobias
ao vivo. ConÀra em meu canal de vídeos!
Sugestionei, então, que R.S. promovesse a reversão do
movimento energético da fobia, até que se dissipasse total-
mente. Ele respondeu positivamente ao comando, fazendo os
movimentos contrários.
– Quando sentir que acabou completamente, relaxe bem
profundo, sugeri.
R.S. cessou os movimentos e afundou ainda mais na pol-
trona. Suspirou profundamente, me dando a senha de que se
livrara de algo pesado, grave, limitante. Sua satisfação era vi-
sível – e a minha provavelmente também, se houvesse algum
observador ali.

Casos Clínicos em Hipnose:


154 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

Promovi a chamada “Ponte ao Futuro”, quando o Àz se


imaginar em locais fechados e vivenciando a experiência com
total calma e tranquilidade. R.S. aparentava executar as tare-
fas com facilidade. Percebi um semi-sorriso de canto de boca,
e então iniciei os procedimento de dehipnotização. Fiz conta-
gem crescente, sugestionando a cada número mais consciência
e bem estar. Ele despertou se dizendo muito bem.
Fiz-lhe, então, o convite para que testássemos suas rea-
ções no metrô, já que há uma estação bastante próxima do
meu Instituto. Lá chegamos e procurei o deixar bastante à
vontade para abortar a missão, caso se sentisse inseguro, mas
ele reaÀrmava a sensação de conÀança e de bem estar que
sentia. Comprei os bilhetes e descemos até a plataforma. Lá
chegando, o levei até a boca do túnel, dizendo que era de lá
que vinham os trens. Ele olhou com tranquilidade. Embar-
camos, eu sempre monitorando suas respostas Àsiológicas e
tudo bem. R.S. demonstrou curtir a viagem, dizendo fazer 25
anos que não entrava no metrô, e que logo convidaria a Àlha
para um passeio daqueles.
Descemos na primeira estação, para fazer o trajeto de
volta. R.S. estava radiante por não sentir nenhum desconforto.
Embarcamos no trem em sentido contrário, para o regresso ao
Instituto e quando a composição entrou no túnel, parou! Ime-
diatamente olhei para ele e perguntei se estava tudo bem. Ele
se autoanalisou e disse que estava surpreendentemente tran-
quilo. Coisa de 10 segundos depois, o trem seguiu. Descemos,
saímos à rua e ele veio me agradecer, com um abraço. Disse que
meu trabalho era excelente e que me recomendaria para todos
os seus conhecidos. E então eu disse:
– O meu trabalho é fácil, difícil é convencer o maquinista
a parar o metrô dentro do túnel...

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A MULHER COM MEDO DE AVIÃO

L.M. é uma bem sucedida executiva do ramo de Comu-


nicação de um grande conglomerado de uma capital de estado
brasileira. Veio a mim referindo fobia de avião, pouco tempo
após eu ter aprendido a técnica de Cura Rápida de Fobia. Em-
polgado, garanti a ela que resolveria o problema rapidamente
e que ela voltaria para casa tranquila como nunca.
L.M. não demonstrou muita credulidade, mas havia me
visto na Ana Maria Braga e criado conÀança em mim, então
seguimos com o processo. Fiz-lhe uma indução rápida e ime-
diatamente apliquei a técnica. Em pouquíssimo tempo, a des-
pertei e disse que estava pronta. Ficou me olhando, incrédula,
e perguntando como seria possível. Seguro, disse que já havia
aplicado a técnica com sucesso e que ela iria conferir, in loco,
no voo de volta. Despedimo-nos e esperei não mais vê-la, como
é comum nesses casos.
Dia seguinte, minha secretária avisa que ela estava
ao telefone.
– Olá, L.M., como está?
– Bem, obrigada.
– E então, como correu tudo?
– Olha, o voo até aí foi ruim, mas o de volta foi mui-
to pior!
Fiquei estático por alguns segundos, sem saber o que di-
zer. “Não pode ser”, pensei.
– Bem, volte aqui para refazermos o processo!
– Sim, mas vou de ônibus...
São algumas centenas de quilômetros de distância, o que
conÀrmava a motivação de L.M. em se livrar da fobia. Enquan-
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156 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

to isso, eu matutava o motivo da técnica não ter surtido efeito.


Até então, todas as aplicações foram um sucesso. Eu estava an-
sioso pela segunda sessão.
Logo que chegou, L.M. me tranquilizou, disse que con-
Àava no meu trabalho e estava segura de que tudo sairia como
esperado. E então Àz os procedimentos corretos, a começar
por uma boa e detalhada anamnese: o que exatamente ela sen-
tia, desde quando, se sabia o que disparou aquilo, etc. Fiquei
bastante intrigado quando me disse que vir foi desconfortável
e que voltar foi pior. Isso nunca acontecera antes. Pedi deta-
lhes, e juntos fomos concluindo que quando L.M. viajava na
poltrona da janela dos aviões, sentia-se muito mal; na do meio,
mal e na da ponta, indiferente. Logo concluí que não podia ser
fobia de avião, porque os sintomas fóbicos não graduam assim.
Investigando mais a fundo, concluí que na verdade ela sofria
sim de fobia, mas de altura! Outras situações passadas conÀr-
maram o diagnóstico. Aí sim, o procedimento foi refeito, tal
qual com o cliente com claustrofobia, agora com foco na ques-
tão especíÀca da altura (acrofobia).
Ao Ànal da sessão, L.M. apresentava sinais de calma e de
tranquilidade. Já viera segura, tanto que comprara passagem
aérea para a volta, reiterando a segurança que depositava em
mim – e eu nela. Minha participação na TV a impressionara a
ponto de retornar para um novo procedimento mesmo o pri-
meiro resultando em fracasso. Anos depois, L.M. voltou a me
procurar, para tratar de outra questão especíÀca. E disse que
era uma grande propagandista do meu trabalho, que propor-
cionou a ela viagens internacionais extremamente prazerosas.
E ela, me deu uma enorme lição e como proceder, cumprindo
cada etapa do processo, sem pressa e atentando-me aos deta-
lhes. Este caso foi bastante rico para ela e para mim.

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A MULHER QUE COMIA DEMAIS

C.E. me procurou também após ter me visto em progra-


mas de televisão. Dentista, 28 anos, era uma mulher bem acima
do peso e disse que comia compulsivamente, desde “sempre”.
Seu consultório era num sobrado, em cima de uma padaria,
que era a sua perdição. Entre os pacientes, descia para comer
“de tudo”. Doces, salgados, sorvetes. C.E. dizia não resistir à
ideia de que precisava comer – e comia. Comia “como um pe-
dreiro”, disse. Suplicou ajuda, os olhos úmidos.
Expliquei-lhe os procedimentos e agendamos a primeira
sessão para dali a alguns dias. Chegou no horário, um tanto an-
siosa. Promovi o Relaxamento Progressivo e o aprofundamen-
to clássico, com contagem decrescente de números. Entrou em
bom estado de transe, com sinais hipnogênicos bem marcados.
Desde a anamnese, pretendi fazer regressão para descobrir a
causa da compulsão, e assim procedi. Fui sugestionando que
seu inconsciente voltasse no tempo, no seu tempo, até o mo-
mento em que decidira comer compulsivamente.
C.E. é o que chamamos de “bom sujeito hipnótico”,
em pouco tempo assentiu com a cabeça, demonstrando ter
chegado ao momento zero. Perguntei-lhe onde estava e que
idade tinha.
– Tenho 3 anos e estou num berço. Tomo uma mamadei-
ra, enquanto minha mãe diz que quando eu terminar há uma
papinha à minha espera. Diz que preciso comer bastante para
Àcar bonita.
Ali deu-me o click de que o motivo estava bastante claro:
qual mulher não quer Àcar bonita? Algumas fazem plásticas,
outras exageram na maquiagem ou nos exercícios físicos e C.E.
levou adiante a estratégia que entendeu com o comando de sua

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Capítulo IV – Hipnoterapia na prática: descubra a sua melhor versão

mãe, desenvolvendo assim uma compulsão alimentar com o


objetivo não bem estruturado de Àcar bonita.
Obviamente o processo não estava dando certo, já que
comer bastante a tinha levado ao sobrepeso e à frustração
consigo mesma. Nós seres humanos nos motivamos para fu-
gir da dor e para buscar prazer. A segunda motivação esta-
va sendo bem suprida com a ingestão de variados tipos de
alimentos, provavelmente saborosos. Já o fugir da dor, C.E.
deve ter buscado atender de diversas maneiras, até procu-
rar a Hipnoterapia. Anthony Robbins diz que nos motiva-
mos muito mais pela dor – infelizmente, penso eu. No caso
de C.E., a dor serviu para que procurasse ajuda proÀssional.
Pelo menos foi um bom motivador.
De posse da informação que necessitava, promovi uma
ressigniÀcação, explicando:
– C.E... aos 3 anos de idade, faz todo o sentido sua mãe
te dizer que você tem que comer bastante... Assim como fazia
sentido ela te dizer para não falar com estranhos, para só atra-
vessar a rua com um adulto a te segurar a mão... Hoje, você é
uma mulher adulta, estas recomendações não te servem mais...
Você pode decidir o quanto comer... quando comer... e o que
comer... Pode optar por alimentos leves e saudáveis... Pode es-
colher algum tipo de exercício físico que te dê prazer... E pode
se imaginar com o corpo ideal, com o peso ideal... Agora...
C.E. demonstrava satisfação em suas expressões Àsionô-
micas, chegando a sorrir. Despertou relatando sentir-se muito
bem, disposta e animada. Agendamos mais duas sessões sema-
nais e sua perda de peso entre elas foi visível. Bom sujeito hip-
nótico + motivação + estratégia = sucesso. Viva a Hipnoterapia!

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Rogério Castilho

AGRADECIMENTOS

A Richard Bandler, criador da Programação Neurolin-


gupistica, meu mestre e mentor. Uma honra ser seu Trainer
licenciado, e ao Dr. Milton Erickson, pai da Hipnose Moderna.
Mesmo nunca tendo escrito um único livro, seus ensinamen-
tos me guiam, assim como a muitos hipnoterapeutas.
Una-se aos Grandes e te tornarás um deles. Assim espero.

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160 | técnicas hipnoterapêuticas a serviço da saúde mental e emocional
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