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Gestores e Competências Organizacionais no Terceiro Setor em Itabira – MG

Gestores e Competências Organizacionais no Terceiro Setor


em Itabira – MG
Managers and organizational abilities in the third sector in itabira – MG
Solange Maria Pimenta
Doutora em Sociologia pela Université Paris I (Pantheón, Sorbonne); professora do Mestrado Profissional
da Faculdade de Estudos Administrativos (FEAD).

Elvécio Ribeiro Brasil


Mestre em Administração pela Faculdade de Estudos Administrativos (FEAD); superintendente da Fundação
Comunitária de Ensino Superior de Itabira (FUNCESI).

RESUMO ABSTRACT
O cenário atual em que se encontram as orga- The current situation of Third Sector organiza-
nizações do Terceiro Setor exige de seus ges- tions demands from their managers the devel-
tores desenvolvimento de competências ade- opment of abilities suitable to the new reality
quadas à nova realidade dessas organizações. of these organizations. Aiming at analyzing
Com o objetivo de analisar as competências manager’s abilities from organizations in this
dos gestores das organizações deste setor em sector in Itabira-MG and comparing them to
Itabira-MG e compará-las com um modelo te- a theoretical model developed during the in-
órico construído durante a investigação, este vestigation, this study presents the comparison
estudo apresenta o contraponto entre teoria e between theory and practice, that is, what is
prática, isto é, o que se espera desses gestores expected from the managers and how they
e como eles se comportam, de fato, diante dos behave, in fact, when dealing with the chal-
desafios que se apresentam para as organiza- lenges their companies present. In a qualita-
ções que dirigem. Inserida em uma estratégia tive research methodology, data gathering was
de pesquisa qualitativa, a coleta de dados foi made in two stages, the first through question-
realizada em duas fases, sendo a primeira, fei- naires from 118 organizations and the second
ta mediante questionários respondidos por through semi-structured interviews made with
118 organizações e, a segunda, a partir de managers from 12 selected organizations. The
entrevistas semi-estruturadas, realizadas com main results showed how these managers are
gestores de 12 organizações selecionadas. Os unprepared and how their practices are be-
principais resultados revelaram o desprepa- low the line of the organizations’ purposes.
ro desses gestores, cujas práticas estão muito Those differences prevent the development
aquém dos propósitos das organizações. Estes of Third Sector organizations and make them
descompassos impedem o desenvolvimento move away from their objectives and purposes.
das organizações do Terceiro Setor e fazem Those divergences, however, allow this paper
com que elas se distanciem de seus objetivos to be an encouraging beginning to the devel-
e finalidades. Tais divergências, no entanto, opment of new studies and new proposals for
permitem que este trabalho seja um promissor this area.
ponto de partida para a realização de estudos
e de novas propostas para esta área.

Palavras-chave: Gestão no terceiro setor, ter- Keywords: Management in the third sector,
ceiro setor, ONGs. third sector, NGOs.

Endereços dos autores:

Solange Maria Pimenta


Rua Itacolomi, 22, Mangabeiras – Belo Horizonte-MG – CEP 30210-390 – Telefone: (31) 3281-3707 – E-mail: solange@face.ufmg.br
Elvécio Ribeiro Brasil
Rodovia MG 03, Córrego Seco – Areão, Itabira-MG – CEP 35900-021 – Telefone: (31) 3839-3602 ou (31) 9737-3635 – E-mail: elvecio.brasil@funcesi.br

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Introdução e quanto aos meios. Quanto aos fins, a pesquisa foi do


tipo descritivo. Quanto aos meios utilizados para a in-
O fim do século XX foi marcado por um intenso vestigação, a pesquisa se caracterizou como um estudo
debate acerca do papel do Estado, ante o cenário da de caso. Segundo Yin (2001, p. 32), “o estudo de caso
globalização e as questões relativas ao seu tamanho e é uma investigação empírica que investiga um fenô-
à sua atuação. Em decorrência disso, diversas reformas meno contemporâneo dentro de seu contexto da vida
foram apresentadas com vistas a adequar o Estado às real, especialmente quando os limites entre o fenôme-
novas exigências impostas por um novo contexto. En- no e o contexto não estão claramente definidos”.
tre as propostas de reformas mais discutidas, pode-se
destacar a redução dos gastos do Estado com progra- Pelas características do tema proposto e pela na-
mas sociais e, até mesmo, suas parcerias com entidades tureza dos objetivos, foi utilizada uma abordagem
públicas não-estatais. A estas entidades não-estatais mista, com enfoques de pesquisa quantitativos e
caberiam ações no sentido de atender às demandas qualitativos.
sociais, enquanto que, ao Estado, caberia o papel de
agente regulador. Essas carências sociais, em especial O universo considerado para a presente pesquisa
nos países emergentes, têm sido negligenciadas pelos foi o conjunto de organizações do Terceiro Setor da
programas governamentais, acompanhando um di- cidade de Itabira-MG. Para identificar as organizações
recionamento de ações, por parte do Estado, para o e classificá-las de acordo com seu ramo de atuação, foi
enxugamento da máquina estatal. Em outras palavras, utilizado um questionário com o objetivo de obter um
uma diminuição das responsabilidades até então, cre- mapeamento que contivesse, dentre outros, os seguin-
ditadas ao poder público. tes elementos: número de funcionários, receita, tem-
po de existência e impacto na comunidade. Das 300
Tal cenário tem sido favorável ao aparecimento de organizações identificadas, 118 responderam ao ques-
um número cada vez maior de organizações de cunho tionário aplicado. Em seguida, os questionários foram
alternativo, o que constitui um fenômeno dos tempos tabulados e as informações utilizadas para categorizar
contemporâneos. A sociedade civil, organizada por as organizações, definir a amostra e elaborar os rotei-
meio de organizações não-governamentais – ONGs e ros das entrevistas, utilizadas no desenvolvimento da
as entidades sem fins lucrativos, têm se mobilizado no segunda fase.
sentido de suprir necessidades coletivas. Ressalta-se que
estes organismos são vistos, muitas vezes, como a gran- Nessa segunda fase, foram realizadas entrevistas
de possibilidade e esperança de sobrevivência para as semi-estruturadas com os gestores das organizações,
populações mais carentes e vêm aumentando seu po- as quais foram escolhidas de forma intencional, a par-
der de influência. O termo “Terceiro Setor” é utilizado tir da análise dos elementos citados anteriormente.
para diferenciar essas organizações do “setor privado” Assim, optamos por selecionar 12 (doze) organizações,
(segundo setor) e do “setor público” (primeiro setor). respeitando a distribuição e importância das principais
áreas de atuação. As entrevistas foram transcritas na
Apesar de pertencerem a setores diferentes, é pos- íntegra e os dados coletados foram agrupados e dis-
sível perceber um aumento das semelhanças na admi- tribuídos em várias categorias sucessivas, refinando e
nistração de organizações desses setores. O uso cada sofisticando esses dados de acordo com o objetivo da
vez mais freqüente de contratos, que vinculam o finan- pesquisa, utilizando-se categorizações com base nos
ciamento a determinados níveis de serviço e resultados elementos.
no Terceiro Setor, requer conhecimentos e habilidades
que são praticados pelo setor privado há muitos anos. Buscou-se também clarificar conceitos fundamen-
Da mesma forma, as organizações do setor privado tais, possibilitando o desenvolvimento do referencial
e público têm aumentado sua eficácia ao incentivar teórico necessário à implementação da pesquisa e ela-
o envolvimento dos funcionários com as missões e os borar um modelo teórico das competências dos gesto-
valores difundidos no Terceiro Setor, área que detém res de organizações do Terceiro Setor para compará-lo
algumas especificidades e que, de certa forma, condi- com os dados obtidos na pesquisa.
ciona um elenco de competências próprias.
Terceiro setor: conceitos e complexidade
Metodologia
O conceito que envolve as organizações do Terceiro
Para estabelecer o tipo de pesquisa, tomou-se como Setor, como visto, não é recente; possui uma antece-
base a taxionomia apresentada por Vergara (2003), que dência lógica e histórica aos setores público e privado
a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins (RIFKIN, 1997). As organizações associativas têm raí-

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zes históricas profundas, geradas pelas tradições cris- nizações do Terceiro Setor é que elas se apresentam
tãs de religiões orientais, que incentivavam a carida- como um novo modelo de administração. Apesar de
de, as doações e o trabalho sem finalidades lucrativas sua composição e organização serem frutos de uma
(SALAMON, 1998). De acordo com Rifkin (1997), nos grande variedade de conceitos originários de mode-
Estados Unidos existem 1,2 milhão de organizações los administrativos dos dois outros setores, as organi-
sem fins lucrativos. Já no Brasil, segundo o Ministério zações do Terceiro Setor apresentam fortes traços ex-
do Trabalho, em 1991, existiam aproximadamente 200 clusivos que as diferenciam da organização pública ou
mil organizações sem fins lucrativos, empregando um privada. Elas fazem contraponto às ações do governo e
milhão de pessoas. Este número, quando comparado ao mercado, pois incluem a participação da sociedade
com outros países, parece pequeno, porém, esse setor como um todo sem diferenciação de níveis sociais; pro-
já aparece como a terceira maior categoria na geração movem experiência popular por meio da participação
de empregos no país. Em 1995, o número subiu para voluntária; projetam uma visão integradora da vida
1,4 milhão, o que inclui trabalhadores remunerados e pública; emprestam um sentido maior aos elementos
voluntários, mas representa quase o dobro dos 600 mil que as compõem; apresentam um novo modelo de
servidores federais em ativa (LARANJEIRA, 1997). Estes gestão baseado no exercício da cidadania, na transpa-
números são debatidos no Brasil, dada a fragilidade da rência, no caráter público de suas atividades.
base estatística do país para caracterizar este setor.
Não sendo nem empresa (segundo setor) nem
Oliveira (1997, p. 26) cita o sociólogo Herbert de governo (primeiro setor), as organizações do Tercei-
Souza, o Betinho, para falar do Terceiro Setor: ro Setor englobam, de modo espontâneo e voluntá-
rio, um sem-número de ações que visam ao interes-
...As ONGs se caracterizam por uma opção radi- se comum (FERNANDES, 1994). Segundo Salamon e
cal pela sociedade civil. Seu espaço é o da auto- Anheier (1996), elas mantêm algumas características
nomia e do questionamento permanente do Es- próprias: são formalmente constituídas; são priva-
tado. Numa postura em que as questões giram das; não buscam o lucro como finalidade; têm ges-
em torno, fundamentalmente, do quando, ou tão independente; possuem grande significância no
como vamos participar no seu interior, ou va- trabalho voluntário.
mos ocupar o Estado, estamos compartilhando
de um mito: fazer, é fazer a partir do Estado. Diferentes visões, originárias de olhares diferencia-
dos, estabelecem pesadas críticas sobre a relação entre
As referências de Betinho às ONGs como organiza- o Estado e o Terceiro Setor, ressaltando que a organi-
ções da sociedade civil e ao seu papel no fortalecimen- zação da sociedade civil deve questionar e incentivar
to da democracia e de uma cidadania participativa vão as ações governamentais e não “substituir o Estado”
influenciar fortemente o desenho de uma nova identi- em suas atuações primordiais. Acrescentam que o es-
dade e um novo protagonista na esfera pública: paço disputado deve ser direcionado para “regular”
o Estado, fazê-lo cumprir assim suas responsabilidades
...As ONGs são microorganismos do processo econômicas, sociais, políticas e culturais, não aceitando
democrático, são referências, lugares de inova- as limitações de um “Estado Mínimo”. Embora ciente
ção e criação de novos processos, mais rumos destas críticas este trabalho não pretende desenvolvê-
que caminhos, mais luz que iluminação. Com las ou se fundamentar nesta posição teórico-paradig-
a liberação da sociedade e do Estado, a partir mática. O Terceiro Setor é sim um espaço de partici-
principalmente da nova Constituição, as ONGs pação e descobertas de novas maneiras de agir e de
estão desafiadas a assumir o seu papel, ocupar pensar sobre a realidade social. Por isso é necessário
os espaços públicos e assumir o exercício de sua um diálogo permanente entre os vários setores, que
cidadania: o que são, por que lutam, o que pro- devem agir e pensar em conjunto. Isso pode acarretar
põem. Sair do micro para o macro, do privado uma confusão de papéis ou de abdicação da autono-
para o público, da resistência para a proposta, mia e responsabilidade inerentes a cada parceria (CAR-
do anti para o pró. Fazer tudo isso sem preten- DOSO, 2000), mas não pode permitir a transferência
der substituir a diversidade de atores sociais que de papéis – o que não significa que o Terceiro Setor
compõem a sociedade civil, mas também sem não possa agir como agente inovador, mobilizador,
abrir mão do papel próprio que têm a desempe- proativo e integrador, em áreas prioritárias que ainda
nhar (OLIVEIRA,1997, p. 26). não foram suficientemente atendidas pelo governo.

Ainda segundo Oliveira (1997), o que é mais inte- Segundo Rafael (1997, p. 54), o Terceiro Setor:
ressante no estudo e na análise da gestão das orga- apresenta questões básicas que pedem respos-

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tas urgentes e que constituam uma possível pelas utilizações no setor privado ou setor público,
agenda de investigação e reflexão para: definir obedecendo-se, no entanto, as suas especificidades.
e compreender uma cidadania ativa que partin-
do do âmbito privado, incida sobre o âmbito pú- Como visto, existem diversas tentativas de defi-
blico; entender o papel complementar do setor nição do Terceiro Setor, motivo de intenso debate e
em relação ao Estado e à empresa; avaliar o im- polêmica, sobretudo nos anos 1990. O conceito mais
pacto do Terceiro Setor no desenvolvimento so- aceito atualmente é o de uma esfera de atuação pú-
cial, cultural e humano de nossas comunidades. blica, não-estatal, formada a partir de iniciativas priva-
Todo este esforço parte da avaliação positiva e das voluntárias, sem fins lucrativos, no sentido do bem
estimulante das potencialidades do setor para comum (BRASIL, 2001).
resultar em futuro melhor para o nosso povo.
Há um consenso para incentivar, o quanto an- No caso brasileiro, um corte importante para a
tes, processo de profissionalização das institui- análise e compreensão do Terceiro Setor deve ser fei-
ções do Terceiro Setor, que resulte em eficiência to com base na legislação que vigorou até março de
e eficácia operacional. 1999, pela qual faziam parte de sua composição todas
as instituições jurídicas, de direito privado, sem fins lu-
Juridicamente há, também, uma confusão de con- crativos. Por diversas razões históricas, abrigaram-se,
ceitos sobre os limites institucionais de uma Organi- sob esta denominação genérica, distintos agentes e
zação Não-Governamental (ONG), organização do organizações da sociedade civil (OSCs), formando um
Terceiro Setor e organização sem fins lucrativos. Nesse conjunto heterogêneo de atuação em causas específi-
campo, encontram-se as associações, fundações, coo- cas e gerais, nos campos político, social, econômico e
perativas, Organizações da Sociedade Civil de Interesse cultural.
Público (OSCIPS) e Organizações Sociais (OS). Do pon-
to de vista jurídico, quando as pessoas se reúnem com Desta forma, as entidades que compõem o Terceiro
uma idéia qualquer, caracteriza-se uma associação; Setor não possuíam qualificação específica, por finali-
porém, quando uma ou mais pessoas se reúnem, com dade ou causa, no direito brasileiro. Tal heterogenei-
um patrimônio que é designado para uma atividade dade, além da complexidade em se mapear, quantifi-
pública, caracteriza-se uma fundação. Mais recente- car, qualificar e analisar as organizações, dificultava o
mente, no Brasil, duas leis criaram figuras jurídicas iné- estabelecimento de normas, incentivos e políticas para
ditas. Trata-se das OS e das OSCIPs previstas pelas leis o setor, representando uma grande barreira para seu
no 9.637/98 e no 9.790/99, respectivamente. Essas enti- desenvolvimento e para a clara percepção da socie-
dades acrescentam elementos de qualificação entre as dade quanto aos diferentes propósitos aos quais ser-
relações e a forma de gerenciamento do Estado com a viam. Assim, sob o mesmo estatuto jurídico, estavam
sociedade. Esse marco legal vincula as organizações da as organizações efetivamente de interesse e utilidade
sociedade civil a normas que estabelecem um regime pública, que prestavam serviços gratuitos à popula-
de maiores restrições e maior vigilância do Estado, se ção, e outros tipos de organizações como clubes de
comparado ao regime jurídico aplicável às tradicionais serviços, de futebol, universidades e escolas privadas,
entidades privadas de utilidade pública. dentre outros. Deste modo, a idéia de um Terceiro Se-
tor aplica-se mais para delimitar um tipo de atuação
Cada vez mais surge a necessidade das organiza- diferenciada das instâncias de governo e de mercado,
ções do Terceiro Setor se incluírem no contexto com- mas que, embora com a mesma característica legal, é
petitivo no qual estão inseridas. Embora estas organi- composto por um conjunto de instituições bastante
zações não tenham fins lucrativos, em alguns segmen- diferentes quanto à filosofia de atuação, dimensões,
tos, como, por exemplo, educação e saúde, concorrem temáticas e formas de intervenção.
entre si, com o setor privado e até mesmo com o se-
tor público, pois suas receitas advêm da cobrança de Em decorrência, o setor carece de estudos e pesqui-
serviços prestados. Outra forma de competição é por sas e não há um levantamento preciso do número de
recursos de dotações orçamentárias do setor público, entidades que nele se enquadram, ainda que alguns
doações e patrocínios do setor privado e também de trabalhos mais recentes, como o de Landim e Ligneul
outras entidades sem fins lucrativos cujo objetivo é fi- (1999) apontem para a existência de mais de 240 mil.
nanciar e investir em programas e ações sociais. Se elas
realmente desejarem a perenização de suas atividades Gestão no terceiro setor
e também tiverem como objetivo atingir êxito naquilo
que se propõem fazer, deverão necessariamente bus- O campo da gestão é um dos espaços centrais para
car padrões de excelência próprios ou já consagrados o avanço das organizações do Terceiro Setor. A profis-

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sionalização dos que atuam nesta área é defendida, conceito é um constructo sócio-político, as entidades
principalmente para aqueles que desempenham pa- sociais não poderão dispensar normas de assistência
péis gerenciais, pois gestores com sólida informação que possam oferecer aos excluídos condições primeiras
e domínio de técnicas administrativas permitiriam o e fundamentais de inclusão social, mas poderão identi-
cumprimento mais sistematizado e articulado dos ob- ficar formas para desenvolvêlas tendo como horizonte
jetivos das Instituições sociais. a perspectiva de emancipação. Para tanto, as próprias
Segundo Ckagnazaroff (2001), no que se refere à entidades podem avaliar, de modo mais radical, o im-
gestão, o Mercado ou Segundo Setor, é fonte de cria- pacto de sua atuação na superação da pobreza mate-
ção e inovação, tendo ainda uma grande capacidade rial dos excluídos.
de investimento de capital. As técnicas de gestão utili-
zadas no setor privado têm sido adaptadas ao Terceiro Para compreendermos o desafio do planejamen-
Setor; entretanto, essa ação é criticada já que a gestão to estratégico, faz-se necessário compreender esse
do setor privado está pautada no lucro, o que não se termo. Kotler (2000), um dos defensores da sua utili-
coaduna com a área específica do Terceiro Setor. As- zação, propõe conceito de planejamento estratégico
sim, o Terceiro Setor deve procurar suas próprias es- como uma metodologia gerencial que permite estabe-
tratégias de gestão, havendo então a necessidade de lecer a direção a ser seguida pela organização, visando
considerar as competências necessárias aos gestores maior grau de interação com o ambiente. O projeto de
das organizações desta área. trabalho das organizações do Terceiro Setor pode ser
potencializado se for pensado como um planejamento
Na mesma linha, Teodósio (2001) afirma que as estratégico de sua ação social. Isto significa projetá-las
organizações estatais e privadas gerariam tecnologias com uma visão de futuro, uma análise do lugar em que
gerenciais que seriam incorporadas ao Terceiro Setor, a organização se encontra e da posição que preten-
mediante a alocação de exexecutivos privados, a ação de alcançar, um entendimento das forças que podem
de consultores e a incorporação de modelos gerenciais restringir e impulsionar esse movimento. Esse enfoque
de órgãos e empresas controladores das organizações pode desencadear um processo de enriquecimento da
do Terceiro Setor. Segundo o autor, a transposição cultura e da própria identidade da organização.
de técnicas gerenciais da esfera privada, porém, não
é linear e absoluta, pois elas esbarram nas especifici- O desafio de gestão da qualidade dos serviços co-
dades da gestão social e carregam em si conceitos e meça pela incorporação da voz ativa de todos os inte-
pressupostos que podem, às vezes, provocar distorções ressados (diretos e indiretos) no trabalho das entidades
quanto a este tipo de gestão. Termos como cliente e sociais, nos indicadores de avaliação e no planejamen-
usuário, por exemplo, não se adequam às organiza- to das suas ações. É fundamental compreender que o
ções não-governamentais, pois não incorporam o con- fortalecimento das organizações do Terceiro Setor de-
ceito de cidadania. O autor considera mais apropriada pende, antes de tudo, da qualidade de suas ações que
a idéia cidadão-beneficiário. é também um fator crítico que potencializará, ou não,
a formação de parcerias e a captação de recursos para
Caberia, então ao gestor do Terceiro Setor, princi- as organizações.
palmente, conciliar as perspectivas política, social e le-
gal com as suas próprias. As tradições de benemerência, voluntarismo tradi-
cional e carência de recursos ainda presentes no Ter-
Moura (1988), em estudo desenvolvido para a Se- ceiro Setor explicam a quase ausência de uma política
cretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária da adequada de gestão de pessoas em um segmento bas-
Presidência da Republica – SEHAC, apontou sete desa- tante amplo de entidades. Através da gestão poderá se
fios que as organizações do Terceiro Setor devem su- buscar formas para superar essa lacuna e, mais ainda,
perar para que possam atingir seus objetivos de forma preparar as organizações sociais para enfrentarem o
mais eficiente: desafios da concepção do projeto de amplo processo de reorganização das relações no tra-
trabalho, do planejamento estratégico, da gestão da balho e que está transformando o perfil das empresas e
qualidade dos serviços, da gestão de pessoas, da for- profissionais de todos os mercados. Num momento em
mação de alianças e parcerias, da ação em rede e o da que as organizações do Terceiro Setor emergem como
sustentabilidade. alternativa de ocupação numa sociedade em que há
cada vez menos empregos elas precisam ser pró-ativas.
O primeiro desafio da gestão de entidades sociais é Elas têm potencial para defender o valor do trabalho,
promover a revisão ou formulação do seu projeto de combater causas da desqualificação das pessoas e até
trabalho à luz de um conceito de cidadania como pro- mesmo rearticular o trabalho ao prazer de trabalhar.
cesso emancipatório. Mesmo considerando que este E isso precisa acontecer, antes de tudo em seu próprio

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interior e para os seus próprios quadros. Competências

Alianças estratégicas são também conhecidas como Tendo em vista as mudanças no cenário mundial
acordos de cooperação, acordos de colaboração, as- e a necessidade constante de capacitação do quadro
sociações, parcerias e outros termos que definem a gerencial para acompanhar e gerar essas mudanças, a
existência de cooperação entre duas ou mais partes questão das competências vem despertando o interes-
intencionando atingir objetivos comuns e/ou comple- se tanto da área acadêmica como gerencial. Neste con-
mentares entre si. As parcerias podem ser pragmáticas texto, o desenvolvimento de competências possui um
ou instrumentais, voltadas aos interesses dos próprios papel significativo na medida em que contribui para
parceiros, que se aliam para obter benefícios privados a formação das pessoas e para a mudança de atitude
ou otimizar seus próprios recursos. Por outro lado, há em relação às práticas de trabalho, ou mesmo para a
também parcerias que se orientam pelo princípio de- percepção da realidade, buscando agregar valor à or-
mocrático regido pelo espírito cívico e voltado à obten- ganização.
ção de benefícios para a coletividade.
A noção de competência tem aparecido nos últimos
O desafio da ação em rede passa pelo fortaleci- anos como uma forma de repensar as organizações e
mento das entidades do Terceiro Setor e da própria o papel dos indivíduos que as compõem. De um modo
sociedade implicando na transição entre ações relati- geral, pode ser relacionada a duas dimensões estraté-
vamente isoladas e a formação de redes horizontais de gicas: uma dimensão corporativa e uma dimensão in-
ação voltada à efetivação de políticas públicas na área dividual, na qual estaria incluída a dimensão gerencial
social. E aqui se entendem que as políticas públicas não (RUAS, 2001).
são responsabilidade exclusiva do Estado, mas de toda
a sociedade. A noção da rede possibilita romper a rigi- Compreender e identificar as competências pode
dez implícita no conceito de “entidade social”. trazer inúmeros benefícios à empresa. Por isso, busca-se
agora o estudo das competências organizacionais. Para
O desafio da sustentabilidade está na transposição Drucker (1999, p. 99) as competências organizacionais
de uma situação de dependência para uma capacidade fazem parte da personalidade de cada organização, as
de se manter e tem a ver com a capacidade de articu- diferenciam das demais e geram vantagem competi-
lar alianças e parcerias geradoras de recursos, os quais tiva. Segundo Ruas (2001), competências organizacio-
são usados de modo eficaz para a solução de proble- nais são competências coletivas, que aparecem sob a
mas sociais que interessam a todos os parceiros. Nes- forma de processos de produção e/ou atendimento,
sa perspectiva, passa a ser fundamental a capacidade nos quais estão incorporados conhecimentos tácitos e
de comunicação da entidade social com todos os seus explícitos, sistemas e procedimentos de trabalho, entre
parceiros potenciais, bem como a capacidade de dar outros elementos menos visíveis como princípios, valo-
visibilidade às ações e aos resultados gerados com a res e culturas dominantes na organização.
utilização dos recursos mobilizados.
Decorrentes das competências organizacionais, te-
Assim, tem-se que a gestão das organizações do mos as competências individuais e gerenciais. Segundo
Terceiro Setor tem se tornado mais complexa, sendo Zarifian (2001), Parry (1996) e Ruas (2001), o conceito
que a absorção de tecnologias de gestão do setor de competências individuais procura ir além do con-
privado e/ou público deve ser adaptada à lógica es- ceito de qualificação. Para esses autores, competência
pecífica do setor. A concepção de projetos de tra- refere-se à capacidade da pessoa de assumir iniciativas,
balho com perspectivas de emancipação, planeja- ir além das atividades prescritas, ser capaz de compre-
mento estratégico focado nos seus objetivos, gestão ender e dominar novas situações de trabalho, ser res-
de qualidade dos serviços, gestão de pessoas com as ponsável e ser reconhecida por isso. A competência não
características próprias do setor com a introdução do estaria limitada pela tarefa ou ao conhecimento ou
colaborador voluntário, formação de alianças e par- qualificação do indivíduo, mas estaria apoiada nestes.
cerias que assegurem mecanismos capazes de ajudar
na sustentabilidade e otimização dos resultados de- Ruas (2001, p. 15) define competência gerencial
sejados, ação de rede que possibilite uma atuação como a “capacidade de mobilizar, integrar e colocar
mais abrangente com toda a sociedade são os desa- em ação conhecimentos, habilidades e formas de atu-
fios a serem enfrentados e vencidos pelas organiza- ar (recursos de competência) a fim de atingir/superar
ções que se acham inseridas no Terceiro Setor. Para desempenhos configurados na missão da empresa e
tanto, exige-se a presença de gestores que desenvol- da área”. Complementa ainda que a competência ge-
vam e efetivem as competências necessárias. rencial está fundamentada em conhecimentos (saber),

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habilidades (saber fazer) e atitudes (saber ser). De acor- operacional da comunidade;


do com Tushman e Nadler (1997) as competências ge-
renciais correspondem a habilidades para resolução de • Condução de ações e iniciativas sob a prática
problemas, identificação de oportunidades e ameaças, da gestão participativa;
capacidade para lidar com a incerteza e implementa-
ção conjunta de decisões. • Capacidade de motivar, sensibilizar e engajar
a mão-de-obra voluntária;
Competências no terceiro setor
• Possuir credibilidade a partir de sua atuação e
Segundo Salomon (1998), as capacidades das orga- liderança, dando visibilidade a todas as ações do pro-
nizações do terceiro setor são: cesso que estiverem sob sua liderança;
• Capacidade de organizar e integrar a entida-
• Proximidade com o público, permitindo iden- de que dirige em iniciativas visando à ação em redes
tificar de forma mais objetiva os demandados, necessi- (atuação solidária);
dades e aspirações da comunidade;
• Capacidade de condução da entidade a níveis
• Capacidade de mobilização das potencialida- de alta competitividade, mediante a eficiência, a eficá-
des e energias populares; cia e a efetividade de sua atuação e de suas decisões.

• Identificação de novos problemas e emergên- O gerente no Terceiro Setor tem um papel diferen-
cias e maior agilidade em trazê-los à discussão pública; ciado daquele observado nas organizações públicas
e privadas. A capacidade de captar mão-de-obra está
• Capacidade de sensibilizar, motivar e mobili- associada à habilidade de construção de uma gestão
zar recursos humanos e financeiros paralisados; de Recursos Humanos voltada também para o traba-
lho voluntário, no reforço do significado deste traba-
• Atuar como agentes na promoção de mudan- lho em sua elaboração produtiva. O gestor no Tercei-
ças e transformações da realidade; ro Setor, por sua exposição pública, deve, portanto,
ter sólida reputação a fim de trazer confiabilidade às
• Capacidade para formação de novas lideran- suas ações. Capacidade de pensamento estratégico e
ças; de implementação de ações assertivas para suprirem
as carências administrativas e laborais da mão-de-obra
• Autoridade para contribuir na legitimação e – carências comuns no setor – são condições de enfren-
garantia de apoio popular às políticas exigidas. tamento cotidiano nestas organizações.

Moura (1988) destaca como competências individu- Esses os gestores ocupem o alto escalão da organi-
ais dos colaboradores do Terceiro Setor: zação, conciliam preocupações de nível operacional e
estratégico, visto que instituições do Terceiro Setor es-
• Capacidade de gerir pessoas; tão muito centradas na figura destes gestores e não na
estrutura organizacional. Eles devem ter conhecimen-
• Habilidade para formar alianças e parcerias; tos financeiros e de marketing, habilidades interpes-
soais e capacidade de articulação política. Eles traba-
• Capacidade de mobilização de recursos; lham com diferentes atores sociais: de voluntários até
órgãos financiadores, passando pela mídia, Governo e
• Habilidade para trabalhar em equipe; beneficiários.

• Visão de futuro. Outros problemas também se apresentam


para as organizações do Terceiro Setor, como os
Teodósio (2001) assim define as competências ge- ligados à imagem e à credibilidade junto à so-
renciais do Terceiro Setor: ciedade. Estas organizações devem se posicionar
em uma área de atuação que ainda se encontra
• Compromisso com o processo de melhoria de em construção e que tem passado por inúme-
qualidade de vida da comunidade; ras mudanças. Entre as tentativas de esfera de
atuação pode-se destacar a criação da ABONG
• Adoção de posturas desburocratizadas e sim- – Associação Brasileira de Organizações Não-Go-
plificadas de gestão, compatíveis com o nível cultural e vernamentais, com o objetivo de tentar regular

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Solange Maria Pimenta, Elvécio Ribeiro Brasil

o desenfreado surgimento de ONGs, particular- tos de competências existentes na literatura, e aqui


mente nos anos 1990. estudados, foi possível estabelecer um modelo teóri-
co (Quadro 1). A seguir, compara-se este “modelo” às
A substituição de velhas práticas por novas propos- competências evidenciadas pelos gestores das organi-
tas de gerenciamento, fenômeno que vem ocorrendo zações pesquisadas em Itabira. Evidências obtidas pela
no mundo organizacional, acontece mediante tensão pesquisa realizada.
permanente entre as lógicas da organização: manu-
tenção de um estado, inovação, mudança de estado. Optou-se pela construção do modelo teórico por
Isso reaviva, no Terceiro Setor, a complexidade geren- entender que este atende aos objetivos da pesquisa,
cial diante das inovações e o surgimento de questiona- mesmo considerando as limitações do próprio modelo
mentos próprios da transição. Neste setor, várias são e das especificidades do Terceiro Setor. Um modelo é
as peculiaridades gerencias observadas. A sociedade estático, podendo não permitir a abrangência de to-
atribui a essas organizações virtudes gerencias, como das as variáveis levantadas durante o desenvolvimento
metodologias e práticas avançadas de intervenção dos trabalhos da pesquisa. Outra limitação que tam-
social, legitimidade social, independência diante do bém poderá ocorrer é o fato de existir uma grande di-
setor privado e público e abertura à participação po- versidade de organizações atuando em diversas áreas,
pular. Já entre as suas peculiaridades organizacionais, bem como as particularidades do próprio setor. Des-
destacam-se a proximidade do beneficiário, ações em te modo, utilizou-se como referência fundamental o
“rede”, estruturas desburocratizadas e enxutas, gestão conceito desenvolvido por Weber de “tipo ideal”, ou
participativa, imagem institucional consolidada e moti- seja, é um constructo teórico que fundamenta a aná-
vação da mão-de-obra (voluntária). Tais peculiaridades lise, sem a pretensão de reproduzir, representar ou li-
são enfatizadas como virtudes administrativas. mitar a realidade. No sentido weberiano o tipo ideal é
uma construção conceitual destinada a facilitar o en-
Percebe-se, então que, em muitos casos, as orga- tendimento da realidade empírica. É construído com
nizações do Terceiro Setor, mesmo com a carência de elementos selecionados da experiência concreta e ao
recursos financeiros e humanos, alcançam metas que mesmo tempo com os objetivos teóricos do estudioso
são centrais para a iniciativa privada. Esse resultado é (GUERREIRO RAMOS,1983, p.103-104).
possível por elas operarem com estruturas reduzidas,
terem uma imagem sólida junto à comunidade, por Síntese do modelo teórico x pesquisa
contarem com a solidariedade e ideais de seus colabo-
radores. Como forma de superar suas limitações ope- A partir do modelo apresentado, utilizou-se como
racionais, uma de suas estratégias é formar parcerias estratégia metodológica a visualização de cada compe-
com outras organizações que atuam no mesmo setor tência estabelecida teoricamente que é, imediatamen-
(ação em redes). Essa estratégia, no entanto, não im- te, confrontada com os dados da realidade pesquisada
plica necessariamente, interesses convergentes nem a (dados obtidos pela pesquisa de campo). Neste sentido,
eliminação da competição entre essas organizações. desdobram-se em três categorias como referenciado
no modelo: competências organizacionais, individuais
Assim, ao entrar no âmbito do Terceiro Setor é pos- e gerenciais.
sível descobrir novas perspectivas para a relação Esta-
do/sociedade civil. No entanto, seus mitos e dilemas Os quadros, a seguir, apresentam uma síntese entre
ainda devem ser pesquisados mais profundamente, a o “modelo teórico” e a pesquisa.
fim de clarear os impactos da ação voluntária, dos pro-
jetos sociais de empresa e das ONGs sobre o avanço da Considerações finais
cidadania e da justiça social.
O objetivo deste trabalho foi, face às especificida-
Em face das particularidades das organizações do des do Terceiro Setor, verificar as competências neces-
Terceiro Setor, como a baixa capacidade de investimen- sárias aos seus gestores e se os gestores das organiza-
to de capital, resultados não são pautados no lucro, ções sediadas em Itabira/MG apresentavam tais com-
mão-de-obra voluntária, entre outros, faz-se premente petências.
a identificação e a busca das competências necessárias
aos gestores das organizações deste setor. No caso específico do Terceiro Setor de Itabira, a
pesquisa mostra claramente os descompassos entre
Modelo teórico de competências do terceiro setor a teoria e a prática. Os gestores destas organizações
ainda estão em um estágio que Rifkin (1997) chama
Como já assinalado, a partir da análise dos concei- de neocolonial e pensam como setor subjugado, su-

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Gestores e Competências Organizacionais no Terceiro Setor em Itabira – MG

Quadro 1 – Modelo Teórico de Competências do Terceiro Setor

Competência organizacional Competências individuais Competências gerenciais


• Proximidade com o público • Capacidade de gerir pessoas • Compromisso com o processo de
• Capacidade de mobilização • Capacidade de mobilização de melhoria de qualidade de vida da
das potencialidades e energias recursos comunidade
populares • Habilidade para trabalhar em • Adoção de posturas
• Identificação de novos problemas equipe desburocratizadas e simplificadas
e emergências e maior agilidade • Visão de futuro de gestão
em trazê-los à discussão pública • Condução de ações e iniciativas
• Capacidade de sensibilizar, sob a prática da gestão
motivar e mobilizar recursos participativa
humanos e financeiros • Capacidade de motivar,
• Atuar como agentes na promoção sensibilizar e engajar mão-de-obra
de mudanças e transformações da voluntária
realidade • Possuir credibilidade a partir de
• Capacidade para formação de sua atuação e liderança, dando
novas lideranças visibilidade a todas as ações do
• Autoridade para contribuir na processo de que estiverem sob sua
legitimação e garantia de apoio liderança
popular às políticas exigidas • Capacidade de organizar e
integrar a entidade que dirige em
iniciativas visando à ação em redes
(atuação solidária)
• Capacidade de condução
da entidade a níveis de alta
competitividade, mediante a
eficiência, a eficácia e a efetividade
de sua atuação e de suas decisões
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir da referência teórica.

plicando ao governo, ao mercado e às instituições fi- vimento de redes que ultrapassem os limites da orga-
lantrópicas para obter verbas. Há uma unanimidade nização, para enfrentar decisões ousadas e para criar e
em suas declarações quando se trata de obtenção de introduzir a inovação.
verbas: todos buscam recursos no setor público, princi-
palmente municipal, nas empresas privadas e doações Nota-se que existe neles compromisso com o pro-
da comunidade. Há uma relação quase absoluta de de- cesso de melhoria de qualidade de vida da comunida-
pendência. de. Entretanto, a maioria se revela incapaz de adotar
posturas desburocratizadas e simplificadas de gestão,
Na avaliação das competências gerenciais desses compatíveis com o nível cultural e operacional da co-
gestores fica patente a ausência de capacidade para munidade; conduzem ações e iniciativas sob a prática
mobilizar, integrar e colocar em ação conhecimentos, da gestão participativa de forma intuitiva com limita-
habilidades e formas de atuar com o objetivo de supe- da capacidade de motivar e engajar a mão-de-obra vo-
rar desempenhos na missão da organização; a ausência luntária, embora possuam credibilidade a partir de sua
de habilidades para solucionar problemas e identificar atuação e liderança, dando visibilidade, ainda que de
oportunidades e ameaças e, também da capacidade forma precária, a todas as ações do processo sob sua
para lidar com a incerteza ou com a implementação liderança.
conjunta de decisões. Esses gestores mostram-se inca-
pazes de gerenciar conflitos provocados pelo processo Percebe-se, ainda, que os gestores pesquisados
de inovação, desconhecendo o processo de desenvol- não se preocupam em conduzir as organizações que

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Solange Maria Pimenta, Elvécio Ribeiro Brasil

Quadro 2 – Modelo teórico de competências organizacionais x pesquisa.


Modelo teórico Pesquisa
Na visão dos gestores, há proximidade, aceitação e
reconhecimento pela comunidade. Entretanto, percebe-
Proximidade com o público
se que isto ocorre mais efetivamente para beneficiários e
colaboradores do que para o restante da sociedade
Percebe-se uma falta de capacidade de mobilização.
Capacidade de mobilização das potencialidades Amadorismo, centralismo e irregularidades na
e energias populares disponibilidade de colaboradores, principalmente
voluntários.
Identificação de novos problemas e emergências Verifica-se limitação na identificação de problemas e,
e maior agilidade em trazê-los à discussão quando levantados, há uma dificuldade em promover uma
pública discussão pública acerca dos mesmos
Percebe-se uma predominância de cultura paternalista
Capacidade de sensibilizar, motivar e mobilizar e dependente, principalmente da Companhia Vale do
recursos humanos e financeiros Rio Doce e da Prefeitura, o que leva a uma perda de
capacidade de sensibilização e mobilização
Nota-se que os voluntários que lideram as organizações
pesquisadas são dotados de capacidade de envolvimento,
Atuar como agentes na promoção de mudanças
comprometimento e obrigação, mas a efetividade de suas
e transformações da realidade
ações fica limitada pela dependência e pela restrição do
“universo” com que lidam
Evidencia-se uma incapacidade para renovação e
formação de novas lideranças, seja por centralização,
Capacidade para formação de novas lideranças
indisponibilidade de tempo para o trabalho e/ou por
incapacidade técnica para desenvolver sucessores
Percebe-se que os gestores mostram-se com dificuldades de
Autoridade para contribuir na legitimação e
fazer uso de uma autoridade que, apesar de legitimada, se
garantia de apoio popular às políticas exigidas
limita a um círculo restrito
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir da referência teórica e da pesquisa.

Quadro 3 – Modelo teórico de competências individuais x pesquisa.

Modelo teórico Pesquisa


Percebe-se uma incapacidade para gestão de pessoas. Falta
Capacidade de gerir pessoas valorização dos colaboradores, formação e treinamento, bem
como adoção de técnicas gerenciais
Nota-se pouca habilidade para formação de alianças e
parcerias estratégicas. Dependência do poder público e das
Habilidade para formar alianças e parcerias
empresas privadas, principalmente da CVRD. Há um certo
comodismo
A maioria dos gestores mostrou pouca ou nenhuma
capacidade de mobilização de recursos financeiros. Evidencia-
Capacidade de mobilização de recursos se, mais uma vez, a dependência da Prefeitura e da CVRD.
Demonstra desconhecer mecanismos que levem a uma
congregação maior de forças e oportunidades
Percebe-se que a habilidade para trabalhar em equipe é
Habilidade para trabalhar em equipe
inexistente e/ou apenas incipiente
Observa-se que é uma visão imediatista. Trabalha-se o
Visão de futuro presente, não existe planejamento de médio e longo prazo.
Existem intenções. Ex: construção de sede
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir da referência teórica e da pesquisa.

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Gestores e Competências Organizacionais no Terceiro Setor em Itabira – MG

Quadro 4 – Modelo teórico de competências gerenciais x pesquisa.


Modelo teórico Pesquisa
Observa-se que isto ocorre na perspectiva pessoal de
Compromisso com o processo de melhoria de
cada gestor. Demonstra a inexistência de uma visão
qualidade de vida da comunidade
organizacional e mais universalista
Percebe-se que alguns gestores adotam posturas
desburocratizadas e simplificadas, enquanto que outros
Adoção de posturas desburocratizadas e já estão mais alinhados com os aspectos burocráticos,
simplificadas de gestão principalmente em função de estatutos, legislação e
convênios. Entretanto, tais ações são mais intuitivas e
legalistas
Nota-se uma diferenciação entre gestores. Alguns são
Condução de ações e iniciativas sob a prática da
centralizadores assumindo todas as ações, enquanto
gestão participativa
outros buscam dividir tarefas e responsabilidades
Percebe-se certa incapacidade de pensar
Capacidade de motivar, sensibilizar e engajar a
estrategicamente e de implementar ações que visem a
mão-de-obra voluntária
busca e a retenção de novos voluntários
Observa-se que os gestores possuem credibilidade,
Possuir credibilidade a partir de sua atuação e
entretanto revelam-se carentes de conhecimento que
liderança, dando visibilidade a todas as ações do
possibilite uma comunicação mais eficiente com a
processo que estiverem sob sua liderança
sociedade
Nenhum dos gestores mencionou trabalhar na prestação
Capacidade de organizar e integrar a entidade
de serviços em conjunto com outras organizações
que dirige em iniciativas visando a ação de redes
(ações em rede solidária) a não ser com aquelas que as
(atuação solidária)
financiam, o que denota a ausência dessa prática
Observa-se que a maioria dos gestores demonstra
Capacidade de condução da entidade a níveis de
desconhecer que pode atuar em um ambiente de
alta competitividade, mediante a eficiência, a
competitividade. Não consegue realizar uma adequada
eficácia e a efetividade de sua atuação e de suas
análise do ambiente, nem projetar cenários. Não houve
decisões
menção a ações estratégicas para o seu posicionamento
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir da referência teórica e da pesquisa.

dirigem a níveis de alta competitividade, consideran- des decisões de que esta região necessita.
do itens como eficiência, eficácia e efetividade na sua
atuação e de suas decisões, como também se mostram Percebe-se, a partir da pesquisa, uma certa in-
incapazes de organizar e integrar a entidade em inicia- quietação e um descontentamento dentro destas
tivas que visam a atuação em rede (atuação solidária). organizações acerca das limitações citadas ante-
riormente e uma disposição para buscar novos
O que se conclui é que os gestores do Terceiro Setor caminhos. Há relatos da busca de informações,
de Itabira apresentam-se despreparados para gerenciar participação em congressos e seminários. Como
suas organizações. Comparando-se o “modelo teóri- buscar e identificar esses caminhos está sendo
co” proposto nesse trabalho com as suas competências um grande desafio para estas organizações.
e habilidades pode-se afirmar que eles não apresentam
tais competências. O trabalho, acredita-se, abre perspectivas para
novos estudos e pesquisas, para o aprofundamento
Assim, o que se pode afirmar é que os gestores do das questões que envolvem as atividades do Terceiro
Terceiro Setor de Itabira necessitam de um programa Setor, para um conhecimento mais efetivo do mes-
de capacitação adequado que os torne verdadeiros mo, que possam desencadear ações que contribuam
agentes da cidadania, capazes de fortalecer o setor para o seu crescimento e desenvolvimento. Espe-
civil, transformando-o em setor politicamente ativo ra-se, ainda, que a sistematização das informações
e motivado, preparado para enfrentar os desafios do obtidas possa servir como instrumento de análise e
século XXI e para ser de fato um poder participativo motivação para aqueles que se dedicam a conhecer
que influencie de maneira positiva e efetiva as gran- os problemas que envolvem estas organizações.

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Solange Maria Pimenta, Elvécio Ribeiro Brasil

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