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RESUMO ABSTRACT
O cenário atual em que se encontram as orga- The current situation of Third Sector organiza-
nizações do Terceiro Setor exige de seus ges- tions demands from their managers the devel-
tores desenvolvimento de competências ade- opment of abilities suitable to the new reality
quadas à nova realidade dessas organizações. of these organizations. Aiming at analyzing
Com o objetivo de analisar as competências manager’s abilities from organizations in this
dos gestores das organizações deste setor em sector in Itabira-MG and comparing them to
Itabira-MG e compará-las com um modelo te- a theoretical model developed during the in-
órico construído durante a investigação, este vestigation, this study presents the comparison
estudo apresenta o contraponto entre teoria e between theory and practice, that is, what is
prática, isto é, o que se espera desses gestores expected from the managers and how they
e como eles se comportam, de fato, diante dos behave, in fact, when dealing with the chal-
desafios que se apresentam para as organiza- lenges their companies present. In a qualita-
ções que dirigem. Inserida em uma estratégia tive research methodology, data gathering was
de pesquisa qualitativa, a coleta de dados foi made in two stages, the first through question-
realizada em duas fases, sendo a primeira, fei- naires from 118 organizations and the second
ta mediante questionários respondidos por through semi-structured interviews made with
118 organizações e, a segunda, a partir de managers from 12 selected organizations. The
entrevistas semi-estruturadas, realizadas com main results showed how these managers are
gestores de 12 organizações selecionadas. Os unprepared and how their practices are be-
principais resultados revelaram o desprepa- low the line of the organizations’ purposes.
ro desses gestores, cujas práticas estão muito Those differences prevent the development
aquém dos propósitos das organizações. Estes of Third Sector organizations and make them
descompassos impedem o desenvolvimento move away from their objectives and purposes.
das organizações do Terceiro Setor e fazem Those divergences, however, allow this paper
com que elas se distanciem de seus objetivos to be an encouraging beginning to the devel-
e finalidades. Tais divergências, no entanto, opment of new studies and new proposals for
permitem que este trabalho seja um promissor this area.
ponto de partida para a realização de estudos
e de novas propostas para esta área.
Palavras-chave: Gestão no terceiro setor, ter- Keywords: Management in the third sector,
ceiro setor, ONGs. third sector, NGOs.
zes históricas profundas, geradas pelas tradições cris- nizações do Terceiro Setor é que elas se apresentam
tãs de religiões orientais, que incentivavam a carida- como um novo modelo de administração. Apesar de
de, as doações e o trabalho sem finalidades lucrativas sua composição e organização serem frutos de uma
(SALAMON, 1998). De acordo com Rifkin (1997), nos grande variedade de conceitos originários de mode-
Estados Unidos existem 1,2 milhão de organizações los administrativos dos dois outros setores, as organi-
sem fins lucrativos. Já no Brasil, segundo o Ministério zações do Terceiro Setor apresentam fortes traços ex-
do Trabalho, em 1991, existiam aproximadamente 200 clusivos que as diferenciam da organização pública ou
mil organizações sem fins lucrativos, empregando um privada. Elas fazem contraponto às ações do governo e
milhão de pessoas. Este número, quando comparado ao mercado, pois incluem a participação da sociedade
com outros países, parece pequeno, porém, esse setor como um todo sem diferenciação de níveis sociais; pro-
já aparece como a terceira maior categoria na geração movem experiência popular por meio da participação
de empregos no país. Em 1995, o número subiu para voluntária; projetam uma visão integradora da vida
1,4 milhão, o que inclui trabalhadores remunerados e pública; emprestam um sentido maior aos elementos
voluntários, mas representa quase o dobro dos 600 mil que as compõem; apresentam um novo modelo de
servidores federais em ativa (LARANJEIRA, 1997). Estes gestão baseado no exercício da cidadania, na transpa-
números são debatidos no Brasil, dada a fragilidade da rência, no caráter público de suas atividades.
base estatística do país para caracterizar este setor.
Não sendo nem empresa (segundo setor) nem
Oliveira (1997, p. 26) cita o sociólogo Herbert de governo (primeiro setor), as organizações do Tercei-
Souza, o Betinho, para falar do Terceiro Setor: ro Setor englobam, de modo espontâneo e voluntá-
rio, um sem-número de ações que visam ao interes-
...As ONGs se caracterizam por uma opção radi- se comum (FERNANDES, 1994). Segundo Salamon e
cal pela sociedade civil. Seu espaço é o da auto- Anheier (1996), elas mantêm algumas características
nomia e do questionamento permanente do Es- próprias: são formalmente constituídas; são priva-
tado. Numa postura em que as questões giram das; não buscam o lucro como finalidade; têm ges-
em torno, fundamentalmente, do quando, ou tão independente; possuem grande significância no
como vamos participar no seu interior, ou va- trabalho voluntário.
mos ocupar o Estado, estamos compartilhando
de um mito: fazer, é fazer a partir do Estado. Diferentes visões, originárias de olhares diferencia-
dos, estabelecem pesadas críticas sobre a relação entre
As referências de Betinho às ONGs como organiza- o Estado e o Terceiro Setor, ressaltando que a organi-
ções da sociedade civil e ao seu papel no fortalecimen- zação da sociedade civil deve questionar e incentivar
to da democracia e de uma cidadania participativa vão as ações governamentais e não “substituir o Estado”
influenciar fortemente o desenho de uma nova identi- em suas atuações primordiais. Acrescentam que o es-
dade e um novo protagonista na esfera pública: paço disputado deve ser direcionado para “regular”
o Estado, fazê-lo cumprir assim suas responsabilidades
...As ONGs são microorganismos do processo econômicas, sociais, políticas e culturais, não aceitando
democrático, são referências, lugares de inova- as limitações de um “Estado Mínimo”. Embora ciente
ção e criação de novos processos, mais rumos destas críticas este trabalho não pretende desenvolvê-
que caminhos, mais luz que iluminação. Com las ou se fundamentar nesta posição teórico-paradig-
a liberação da sociedade e do Estado, a partir mática. O Terceiro Setor é sim um espaço de partici-
principalmente da nova Constituição, as ONGs pação e descobertas de novas maneiras de agir e de
estão desafiadas a assumir o seu papel, ocupar pensar sobre a realidade social. Por isso é necessário
os espaços públicos e assumir o exercício de sua um diálogo permanente entre os vários setores, que
cidadania: o que são, por que lutam, o que pro- devem agir e pensar em conjunto. Isso pode acarretar
põem. Sair do micro para o macro, do privado uma confusão de papéis ou de abdicação da autono-
para o público, da resistência para a proposta, mia e responsabilidade inerentes a cada parceria (CAR-
do anti para o pró. Fazer tudo isso sem preten- DOSO, 2000), mas não pode permitir a transferência
der substituir a diversidade de atores sociais que de papéis – o que não significa que o Terceiro Setor
compõem a sociedade civil, mas também sem não possa agir como agente inovador, mobilizador,
abrir mão do papel próprio que têm a desempe- proativo e integrador, em áreas prioritárias que ainda
nhar (OLIVEIRA,1997, p. 26). não foram suficientemente atendidas pelo governo.
Ainda segundo Oliveira (1997), o que é mais inte- Segundo Rafael (1997, p. 54), o Terceiro Setor:
ressante no estudo e na análise da gestão das orga- apresenta questões básicas que pedem respos-
tas urgentes e que constituam uma possível pelas utilizações no setor privado ou setor público,
agenda de investigação e reflexão para: definir obedecendo-se, no entanto, as suas especificidades.
e compreender uma cidadania ativa que partin-
do do âmbito privado, incida sobre o âmbito pú- Como visto, existem diversas tentativas de defi-
blico; entender o papel complementar do setor nição do Terceiro Setor, motivo de intenso debate e
em relação ao Estado e à empresa; avaliar o im- polêmica, sobretudo nos anos 1990. O conceito mais
pacto do Terceiro Setor no desenvolvimento so- aceito atualmente é o de uma esfera de atuação pú-
cial, cultural e humano de nossas comunidades. blica, não-estatal, formada a partir de iniciativas priva-
Todo este esforço parte da avaliação positiva e das voluntárias, sem fins lucrativos, no sentido do bem
estimulante das potencialidades do setor para comum (BRASIL, 2001).
resultar em futuro melhor para o nosso povo.
Há um consenso para incentivar, o quanto an- No caso brasileiro, um corte importante para a
tes, processo de profissionalização das institui- análise e compreensão do Terceiro Setor deve ser fei-
ções do Terceiro Setor, que resulte em eficiência to com base na legislação que vigorou até março de
e eficácia operacional. 1999, pela qual faziam parte de sua composição todas
as instituições jurídicas, de direito privado, sem fins lu-
Juridicamente há, também, uma confusão de con- crativos. Por diversas razões históricas, abrigaram-se,
ceitos sobre os limites institucionais de uma Organi- sob esta denominação genérica, distintos agentes e
zação Não-Governamental (ONG), organização do organizações da sociedade civil (OSCs), formando um
Terceiro Setor e organização sem fins lucrativos. Nesse conjunto heterogêneo de atuação em causas específi-
campo, encontram-se as associações, fundações, coo- cas e gerais, nos campos político, social, econômico e
perativas, Organizações da Sociedade Civil de Interesse cultural.
Público (OSCIPS) e Organizações Sociais (OS). Do pon-
to de vista jurídico, quando as pessoas se reúnem com Desta forma, as entidades que compõem o Terceiro
uma idéia qualquer, caracteriza-se uma associação; Setor não possuíam qualificação específica, por finali-
porém, quando uma ou mais pessoas se reúnem, com dade ou causa, no direito brasileiro. Tal heterogenei-
um patrimônio que é designado para uma atividade dade, além da complexidade em se mapear, quantifi-
pública, caracteriza-se uma fundação. Mais recente- car, qualificar e analisar as organizações, dificultava o
mente, no Brasil, duas leis criaram figuras jurídicas iné- estabelecimento de normas, incentivos e políticas para
ditas. Trata-se das OS e das OSCIPs previstas pelas leis o setor, representando uma grande barreira para seu
no 9.637/98 e no 9.790/99, respectivamente. Essas enti- desenvolvimento e para a clara percepção da socie-
dades acrescentam elementos de qualificação entre as dade quanto aos diferentes propósitos aos quais ser-
relações e a forma de gerenciamento do Estado com a viam. Assim, sob o mesmo estatuto jurídico, estavam
sociedade. Esse marco legal vincula as organizações da as organizações efetivamente de interesse e utilidade
sociedade civil a normas que estabelecem um regime pública, que prestavam serviços gratuitos à popula-
de maiores restrições e maior vigilância do Estado, se ção, e outros tipos de organizações como clubes de
comparado ao regime jurídico aplicável às tradicionais serviços, de futebol, universidades e escolas privadas,
entidades privadas de utilidade pública. dentre outros. Deste modo, a idéia de um Terceiro Se-
tor aplica-se mais para delimitar um tipo de atuação
Cada vez mais surge a necessidade das organiza- diferenciada das instâncias de governo e de mercado,
ções do Terceiro Setor se incluírem no contexto com- mas que, embora com a mesma característica legal, é
petitivo no qual estão inseridas. Embora estas organi- composto por um conjunto de instituições bastante
zações não tenham fins lucrativos, em alguns segmen- diferentes quanto à filosofia de atuação, dimensões,
tos, como, por exemplo, educação e saúde, concorrem temáticas e formas de intervenção.
entre si, com o setor privado e até mesmo com o se-
tor público, pois suas receitas advêm da cobrança de Em decorrência, o setor carece de estudos e pesqui-
serviços prestados. Outra forma de competição é por sas e não há um levantamento preciso do número de
recursos de dotações orçamentárias do setor público, entidades que nele se enquadram, ainda que alguns
doações e patrocínios do setor privado e também de trabalhos mais recentes, como o de Landim e Ligneul
outras entidades sem fins lucrativos cujo objetivo é fi- (1999) apontem para a existência de mais de 240 mil.
nanciar e investir em programas e ações sociais. Se elas
realmente desejarem a perenização de suas atividades Gestão no terceiro setor
e também tiverem como objetivo atingir êxito naquilo
que se propõem fazer, deverão necessariamente bus- O campo da gestão é um dos espaços centrais para
car padrões de excelência próprios ou já consagrados o avanço das organizações do Terceiro Setor. A profis-
sionalização dos que atuam nesta área é defendida, conceito é um constructo sócio-político, as entidades
principalmente para aqueles que desempenham pa- sociais não poderão dispensar normas de assistência
péis gerenciais, pois gestores com sólida informação que possam oferecer aos excluídos condições primeiras
e domínio de técnicas administrativas permitiriam o e fundamentais de inclusão social, mas poderão identi-
cumprimento mais sistematizado e articulado dos ob- ficar formas para desenvolvêlas tendo como horizonte
jetivos das Instituições sociais. a perspectiva de emancipação. Para tanto, as próprias
Segundo Ckagnazaroff (2001), no que se refere à entidades podem avaliar, de modo mais radical, o im-
gestão, o Mercado ou Segundo Setor, é fonte de cria- pacto de sua atuação na superação da pobreza mate-
ção e inovação, tendo ainda uma grande capacidade rial dos excluídos.
de investimento de capital. As técnicas de gestão utili-
zadas no setor privado têm sido adaptadas ao Terceiro Para compreendermos o desafio do planejamen-
Setor; entretanto, essa ação é criticada já que a gestão to estratégico, faz-se necessário compreender esse
do setor privado está pautada no lucro, o que não se termo. Kotler (2000), um dos defensores da sua utili-
coaduna com a área específica do Terceiro Setor. As- zação, propõe conceito de planejamento estratégico
sim, o Terceiro Setor deve procurar suas próprias es- como uma metodologia gerencial que permite estabe-
tratégias de gestão, havendo então a necessidade de lecer a direção a ser seguida pela organização, visando
considerar as competências necessárias aos gestores maior grau de interação com o ambiente. O projeto de
das organizações desta área. trabalho das organizações do Terceiro Setor pode ser
potencializado se for pensado como um planejamento
Na mesma linha, Teodósio (2001) afirma que as estratégico de sua ação social. Isto significa projetá-las
organizações estatais e privadas gerariam tecnologias com uma visão de futuro, uma análise do lugar em que
gerenciais que seriam incorporadas ao Terceiro Setor, a organização se encontra e da posição que preten-
mediante a alocação de exexecutivos privados, a ação de alcançar, um entendimento das forças que podem
de consultores e a incorporação de modelos gerenciais restringir e impulsionar esse movimento. Esse enfoque
de órgãos e empresas controladores das organizações pode desencadear um processo de enriquecimento da
do Terceiro Setor. Segundo o autor, a transposição cultura e da própria identidade da organização.
de técnicas gerenciais da esfera privada, porém, não
é linear e absoluta, pois elas esbarram nas especifici- O desafio de gestão da qualidade dos serviços co-
dades da gestão social e carregam em si conceitos e meça pela incorporação da voz ativa de todos os inte-
pressupostos que podem, às vezes, provocar distorções ressados (diretos e indiretos) no trabalho das entidades
quanto a este tipo de gestão. Termos como cliente e sociais, nos indicadores de avaliação e no planejamen-
usuário, por exemplo, não se adequam às organiza- to das suas ações. É fundamental compreender que o
ções não-governamentais, pois não incorporam o con- fortalecimento das organizações do Terceiro Setor de-
ceito de cidadania. O autor considera mais apropriada pende, antes de tudo, da qualidade de suas ações que
a idéia cidadão-beneficiário. é também um fator crítico que potencializará, ou não,
a formação de parcerias e a captação de recursos para
Caberia, então ao gestor do Terceiro Setor, princi- as organizações.
palmente, conciliar as perspectivas política, social e le-
gal com as suas próprias. As tradições de benemerência, voluntarismo tradi-
cional e carência de recursos ainda presentes no Ter-
Moura (1988), em estudo desenvolvido para a Se- ceiro Setor explicam a quase ausência de uma política
cretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária da adequada de gestão de pessoas em um segmento bas-
Presidência da Republica – SEHAC, apontou sete desa- tante amplo de entidades. Através da gestão poderá se
fios que as organizações do Terceiro Setor devem su- buscar formas para superar essa lacuna e, mais ainda,
perar para que possam atingir seus objetivos de forma preparar as organizações sociais para enfrentarem o
mais eficiente: desafios da concepção do projeto de amplo processo de reorganização das relações no tra-
trabalho, do planejamento estratégico, da gestão da balho e que está transformando o perfil das empresas e
qualidade dos serviços, da gestão de pessoas, da for- profissionais de todos os mercados. Num momento em
mação de alianças e parcerias, da ação em rede e o da que as organizações do Terceiro Setor emergem como
sustentabilidade. alternativa de ocupação numa sociedade em que há
cada vez menos empregos elas precisam ser pró-ativas.
O primeiro desafio da gestão de entidades sociais é Elas têm potencial para defender o valor do trabalho,
promover a revisão ou formulação do seu projeto de combater causas da desqualificação das pessoas e até
trabalho à luz de um conceito de cidadania como pro- mesmo rearticular o trabalho ao prazer de trabalhar.
cesso emancipatório. Mesmo considerando que este E isso precisa acontecer, antes de tudo em seu próprio
Alianças estratégicas são também conhecidas como Tendo em vista as mudanças no cenário mundial
acordos de cooperação, acordos de colaboração, as- e a necessidade constante de capacitação do quadro
sociações, parcerias e outros termos que definem a gerencial para acompanhar e gerar essas mudanças, a
existência de cooperação entre duas ou mais partes questão das competências vem despertando o interes-
intencionando atingir objetivos comuns e/ou comple- se tanto da área acadêmica como gerencial. Neste con-
mentares entre si. As parcerias podem ser pragmáticas texto, o desenvolvimento de competências possui um
ou instrumentais, voltadas aos interesses dos próprios papel significativo na medida em que contribui para
parceiros, que se aliam para obter benefícios privados a formação das pessoas e para a mudança de atitude
ou otimizar seus próprios recursos. Por outro lado, há em relação às práticas de trabalho, ou mesmo para a
também parcerias que se orientam pelo princípio de- percepção da realidade, buscando agregar valor à or-
mocrático regido pelo espírito cívico e voltado à obten- ganização.
ção de benefícios para a coletividade.
A noção de competência tem aparecido nos últimos
O desafio da ação em rede passa pelo fortaleci- anos como uma forma de repensar as organizações e
mento das entidades do Terceiro Setor e da própria o papel dos indivíduos que as compõem. De um modo
sociedade implicando na transição entre ações relati- geral, pode ser relacionada a duas dimensões estraté-
vamente isoladas e a formação de redes horizontais de gicas: uma dimensão corporativa e uma dimensão in-
ação voltada à efetivação de políticas públicas na área dividual, na qual estaria incluída a dimensão gerencial
social. E aqui se entendem que as políticas públicas não (RUAS, 2001).
são responsabilidade exclusiva do Estado, mas de toda
a sociedade. A noção da rede possibilita romper a rigi- Compreender e identificar as competências pode
dez implícita no conceito de “entidade social”. trazer inúmeros benefícios à empresa. Por isso, busca-se
agora o estudo das competências organizacionais. Para
O desafio da sustentabilidade está na transposição Drucker (1999, p. 99) as competências organizacionais
de uma situação de dependência para uma capacidade fazem parte da personalidade de cada organização, as
de se manter e tem a ver com a capacidade de articu- diferenciam das demais e geram vantagem competi-
lar alianças e parcerias geradoras de recursos, os quais tiva. Segundo Ruas (2001), competências organizacio-
são usados de modo eficaz para a solução de proble- nais são competências coletivas, que aparecem sob a
mas sociais que interessam a todos os parceiros. Nes- forma de processos de produção e/ou atendimento,
sa perspectiva, passa a ser fundamental a capacidade nos quais estão incorporados conhecimentos tácitos e
de comunicação da entidade social com todos os seus explícitos, sistemas e procedimentos de trabalho, entre
parceiros potenciais, bem como a capacidade de dar outros elementos menos visíveis como princípios, valo-
visibilidade às ações e aos resultados gerados com a res e culturas dominantes na organização.
utilização dos recursos mobilizados.
Decorrentes das competências organizacionais, te-
Assim, tem-se que a gestão das organizações do mos as competências individuais e gerenciais. Segundo
Terceiro Setor tem se tornado mais complexa, sendo Zarifian (2001), Parry (1996) e Ruas (2001), o conceito
que a absorção de tecnologias de gestão do setor de competências individuais procura ir além do con-
privado e/ou público deve ser adaptada à lógica es- ceito de qualificação. Para esses autores, competência
pecífica do setor. A concepção de projetos de tra- refere-se à capacidade da pessoa de assumir iniciativas,
balho com perspectivas de emancipação, planeja- ir além das atividades prescritas, ser capaz de compre-
mento estratégico focado nos seus objetivos, gestão ender e dominar novas situações de trabalho, ser res-
de qualidade dos serviços, gestão de pessoas com as ponsável e ser reconhecida por isso. A competência não
características próprias do setor com a introdução do estaria limitada pela tarefa ou ao conhecimento ou
colaborador voluntário, formação de alianças e par- qualificação do indivíduo, mas estaria apoiada nestes.
cerias que assegurem mecanismos capazes de ajudar
na sustentabilidade e otimização dos resultados de- Ruas (2001, p. 15) define competência gerencial
sejados, ação de rede que possibilite uma atuação como a “capacidade de mobilizar, integrar e colocar
mais abrangente com toda a sociedade são os desa- em ação conhecimentos, habilidades e formas de atu-
fios a serem enfrentados e vencidos pelas organiza- ar (recursos de competência) a fim de atingir/superar
ções que se acham inseridas no Terceiro Setor. Para desempenhos configurados na missão da empresa e
tanto, exige-se a presença de gestores que desenvol- da área”. Complementa ainda que a competência ge-
vam e efetivem as competências necessárias. rencial está fundamentada em conhecimentos (saber),
• Identificação de novos problemas e emergên- O gerente no Terceiro Setor tem um papel diferen-
cias e maior agilidade em trazê-los à discussão pública; ciado daquele observado nas organizações públicas
e privadas. A capacidade de captar mão-de-obra está
• Capacidade de sensibilizar, motivar e mobili- associada à habilidade de construção de uma gestão
zar recursos humanos e financeiros paralisados; de Recursos Humanos voltada também para o traba-
lho voluntário, no reforço do significado deste traba-
• Atuar como agentes na promoção de mudan- lho em sua elaboração produtiva. O gestor no Tercei-
ças e transformações da realidade; ro Setor, por sua exposição pública, deve, portanto,
ter sólida reputação a fim de trazer confiabilidade às
• Capacidade para formação de novas lideran- suas ações. Capacidade de pensamento estratégico e
ças; de implementação de ações assertivas para suprirem
as carências administrativas e laborais da mão-de-obra
• Autoridade para contribuir na legitimação e – carências comuns no setor – são condições de enfren-
garantia de apoio popular às políticas exigidas. tamento cotidiano nestas organizações.
Moura (1988) destaca como competências individu- Esses os gestores ocupem o alto escalão da organi-
ais dos colaboradores do Terceiro Setor: zação, conciliam preocupações de nível operacional e
estratégico, visto que instituições do Terceiro Setor es-
• Capacidade de gerir pessoas; tão muito centradas na figura destes gestores e não na
estrutura organizacional. Eles devem ter conhecimen-
• Habilidade para formar alianças e parcerias; tos financeiros e de marketing, habilidades interpes-
soais e capacidade de articulação política. Eles traba-
• Capacidade de mobilização de recursos; lham com diferentes atores sociais: de voluntários até
órgãos financiadores, passando pela mídia, Governo e
• Habilidade para trabalhar em equipe; beneficiários.
plicando ao governo, ao mercado e às instituições fi- vimento de redes que ultrapassem os limites da orga-
lantrópicas para obter verbas. Há uma unanimidade nização, para enfrentar decisões ousadas e para criar e
em suas declarações quando se trata de obtenção de introduzir a inovação.
verbas: todos buscam recursos no setor público, princi-
palmente municipal, nas empresas privadas e doações Nota-se que existe neles compromisso com o pro-
da comunidade. Há uma relação quase absoluta de de- cesso de melhoria de qualidade de vida da comunida-
pendência. de. Entretanto, a maioria se revela incapaz de adotar
posturas desburocratizadas e simplificadas de gestão,
Na avaliação das competências gerenciais desses compatíveis com o nível cultural e operacional da co-
gestores fica patente a ausência de capacidade para munidade; conduzem ações e iniciativas sob a prática
mobilizar, integrar e colocar em ação conhecimentos, da gestão participativa de forma intuitiva com limita-
habilidades e formas de atuar com o objetivo de supe- da capacidade de motivar e engajar a mão-de-obra vo-
rar desempenhos na missão da organização; a ausência luntária, embora possuam credibilidade a partir de sua
de habilidades para solucionar problemas e identificar atuação e liderança, dando visibilidade, ainda que de
oportunidades e ameaças e, também da capacidade forma precária, a todas as ações do processo sob sua
para lidar com a incerteza ou com a implementação liderança.
conjunta de decisões. Esses gestores mostram-se inca-
pazes de gerenciar conflitos provocados pelo processo Percebe-se, ainda, que os gestores pesquisados
de inovação, desconhecendo o processo de desenvol- não se preocupam em conduzir as organizações que
dirigem a níveis de alta competitividade, consideran- des decisões de que esta região necessita.
do itens como eficiência, eficácia e efetividade na sua
atuação e de suas decisões, como também se mostram Percebe-se, a partir da pesquisa, uma certa in-
incapazes de organizar e integrar a entidade em inicia- quietação e um descontentamento dentro destas
tivas que visam a atuação em rede (atuação solidária). organizações acerca das limitações citadas ante-
riormente e uma disposição para buscar novos
O que se conclui é que os gestores do Terceiro Setor caminhos. Há relatos da busca de informações,
de Itabira apresentam-se despreparados para gerenciar participação em congressos e seminários. Como
suas organizações. Comparando-se o “modelo teóri- buscar e identificar esses caminhos está sendo
co” proposto nesse trabalho com as suas competências um grande desafio para estas organizações.
e habilidades pode-se afirmar que eles não apresentam
tais competências. O trabalho, acredita-se, abre perspectivas para
novos estudos e pesquisas, para o aprofundamento
Assim, o que se pode afirmar é que os gestores do das questões que envolvem as atividades do Terceiro
Terceiro Setor de Itabira necessitam de um programa Setor, para um conhecimento mais efetivo do mes-
de capacitação adequado que os torne verdadeiros mo, que possam desencadear ações que contribuam
agentes da cidadania, capazes de fortalecer o setor para o seu crescimento e desenvolvimento. Espe-
civil, transformando-o em setor politicamente ativo ra-se, ainda, que a sistematização das informações
e motivado, preparado para enfrentar os desafios do obtidas possa servir como instrumento de análise e
século XXI e para ser de fato um poder participativo motivação para aqueles que se dedicam a conhecer
que influencie de maneira positiva e efetiva as gran- os problemas que envolvem estas organizações.
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