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REVISTA DE TEATRO, CRÍTICA E ESTÉTrCA • ANO Li· Nll12. 2003· rSSN OL04-7671
DEPJ\RTAMENTO DE TEORrA DO TEATRO· PROGRAMA DE PÓS-.GRADUAÇÃO EM TEATRO

UNIVERSrDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO· UNIRIO'

SUMÁRIo

APRESENTAÇÃO: PERSPECfIVAS CULTURAIS Dás ESTUDOS DA PERFORMANCE,ZECA LIGIÉRO 3

1: ENSAIOS
PERFORMANCE E HISTÓRIA, ANTÔN~O.HERCULANO LOPES 5
HACIA UNA DE~IJ'lICIÓN DE PERFORMANCE, DIA':'A TAl'LOR 17
O QUE É PERFORMANCE?, RICl-lARD SCHECI-fivER 25
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".
2. DOCUMENTOS - PERFORMANCE.AFRO-AMERÍNDIA
ARTES NEGRAS: UNA PERSPECTIVA AFROCÉNTRICA, ALEJANDRO FRIGERIO 51
PERFORt\'lANCES-oO TEMPO E DA!MEM6RIA: OS CONGADOS, LEDA MARTINS 68
PERFORMANCES PROCISSIONAIS AfRO-BRASILEIRAS , ZECA LIGIÉRO 84 .
A COREOGRAFIA DAS IABÁS, DENisE ZENICOLA 99
LfDERES AFRO-BRASILEIROS E AMERÍNDIOS FALAM' DE 'S UAS 'PERFO~MANCES 123
PERFORrv'IAN'cE: ComOS DE AMOR E 'EROT ISMO DA COMUNIDADE KAXINAWÁ,

ROSAfIA REÁTEGUI 127


PERFORMANCE: POVO DE RUA, MARISE NOGUEZRJ\ 131

3. ESTUDOS DE 'CASO
. FOLIAS DE REIS NO RIO DE JANEIRO: PERFORMANCE, MIGRAçõés E OUTROS ESPAÇOS,

AUSÔNIA BERNARDEs MONTEIRO 133


ONDE O BASTÃO PENETRA A TERRA: A PERFORMANCE DO MOÇAMBlQUE DE BELÉlvl,

CLÁUDIO ALBERTO DOS SANTOS 148


A PERFORJ'vIANCE DA MORTe NO BLOCO CARNAVALESCO OS CAVEIRAS, \
\

CL4UDIO GUIlARDUCI 162


PERFORMANCE E SEXUAUDADE EM MULHERES BRASÍUCAS, JOÃO GABRIEL TfIXEIRJ\ E

MARCUS \lIN[CruS GARCIA). 70


. YOKASTAS: ESTUDO ANTROPOLÓGICO DE UM P~OCESSO DE CRIAÇÃO E ENCENAÇÃO,

REGINA POLO !l'lOLLER 182


Ir-

E 'N 5 A I O

Lo , distinción como! as performance pertenece a Schechner, y revela la cornprensiõn de perfo rmance


o QUE É PERFORMANCE?
1

corno un hecho 'real' y también como 'constructo", como un fenômeno que dispara preguntas tanto
de· índole ontológica corno epistemológica.
•1 "Aquí la etimología de performance nos puede dar una pista útil ya que no tiene nada que ver con
forma, sino que deriva dei término dei francês antiguo parfournir, completar o llevar n cabo por
completo". TURNER, Victo r. From Ritual to Theatre. N. Y.: Perfo rming Arts Journal Publications, . RrCHARD SCHECHNER
1982, p.13. TRADUÇÃO DANDARA
4 "Nos conoceremos mejo r los unos a los otros aI acceder a las performances de . cada uno y aI
aprender sus gramáticas y vocabularios," Victor Turner, "Frorn a Planning Meeting for the World
Conference on Ritual and oPerformance," citado en la Introducción .al volumen editado por
SCHECHNER, Richard y APPEL, WilI. By Means of Performance, NY: Routiedge, 1980.
o ensaio disserta sobre as mu itas maneiras
S Ver MCKENZIE, Jon. Perform or Else: From Discipline to Performance, London: Routledge, 2001. de entender a performance: artística, ritual ou
6 Proveniendo dei campo lacaniano, Peggy Phelan delimita la "vida" de la performance ai presente: ···-,cQti9iana. Comportamento restaurad~ é o pro-
"Performance no puede se r salvada, grabada, documentada, o de ser as! participa en la circulación de
cessochave de todo tipo de performance, no -
re pres e ntaci o nes de la representací õn [ ••.] EI ser de la performance, como la ontologta de la
subjetividad que aqu í se propone,' deviene como tal a través de ladesaparición" (Unmarked: The dia-a-dia, nas curas'xamânicas, nas brincadei-
Politics ofPerformance. London and New York: Routledge, 1993, p. I 46).
ras e nas artes. O "Ser" performance é um
7 "Las genealogías de performance abrevan en la idea de que los movimlentos expresivos son reservas
mnemônicas, que incl uye n a los movimientos concertados que reali zan y recuerdan los cuerpos,
conceito que se refere a eventos definitos e
movimientos res iduales que se retienen implícitamente en imágenes o palabras (o en las pausas delimitados, marcados por contexto, conven-
entre ellas), y movimientos imaginarios sanados en las ' mentes, no pr évios aI lenguaje pera que lo
constituyen" (ROACH, Joseph. Cities of the Dead: Cir~um-Aflallfic· Performance. NY: Co)umbja
ção, uso ~ tradição. No entanto qualquer even-
U.P., 1996, p.26). Ver también CONNERTON'S, Paul. HolV Societies Remember:'Cambélclge. to, ação ou comportamento pode ser exami-
Cambridge UP, .1989. Y mi The Archive and lhe Repertoire de pró xim a aparición (2003). ~'.
nado "como se fosse" performance. Tratar o .
x J.L. Au stin, H ow To do Things With Words. 'S eg unda Edición. Carnbridge, MA.: ' Harvard University Um perforrner Katakali em Kerala,
Pressv ] 97 5 . "', objeto, obra ou produto como performance
Índia. Direitos de imagem:
Y Como Jacques Derrida lo establece ai escrib ir sobre el perforrnatí vo de Austin: "Podrfa una enunciación significa investigar o queesta coisa faz, como Performing Arts Library.
perforrnati va tener éxito s i su formulación no repite una enunciación 'codificada' o reiterable?"
(Slgnature Eve' !t Coniext in Margins of Philosophy) . interage com outros objetos e seres , e como
· 10 Jacques Derrida, "Signature Event Context," en Margins of Philosophy, p. 326, se relaciona com outros objetos e seres.
11 EI performance usualmente refiere a aquellos eventos que tienen ·q ue ver con el campo de lo
politico o de los negocies, rnientras que la acepción femenina de pe rformance- la- general mente
. Performance; vida cotidiana; restauração de comportamento; teatro; rituais
denota aquellas accioncs que pertenecen ai campo dei arte o deldeporte, Agradezco a Marcel a
Fuentes po r esta observaci6n. '. '
..
'
o que é o ato.da performance?
11 EI uso común de: performance en Latinoamérica deri va en la actualidad de la Antrapología y de la
Sociología (como en la publicación . Performance, Cultura & Esp etacularidade de Brasil ) o v,
No contexto dos negócios, do esporte ou do sexo, dizer que alguém fez uma boa
performance como arte de accíõn, (como se da en los "47882 minutos de performance" dei performance é afirm~r que tal pessoa reali~ou aquela coisa conforme um alto padrão,
qu~ foi bem sucedida, que superoua si mesma e aos demais. Na arte, o perfonner é
espacio de arte me xicano Ex-Teresa Arte Actu al) para destacar las diversas aplicacio nes productivas'
de los varies significados, . .Ó»

aq~~le
f .
que atua num show, num espetáculo de teatro, dança.rnúsica. Na vida cotidiana,
• I

J' performar é ser exibido ao extremo, sublinhando uma ação para aqueles que a assistem.
BIBLIOGRAFIA
No · século XXI, as pessoas têm vivido , como nunca antes, através da performance.
Fazer performance é um ato :que pode também ser entendido em relação a:
SCHECHNER, Richard. Between Theater and Anthropology, Phil: Pcnn, UP, 1985.
8LA~KMORE, Susan, The Power of Memes. Scientific -American , October2000, p.64-73.
RrCHARD SCHECHNER é professor da New York University, dire to r de teat ro e fundador c editor
da revista The Drama Review, publicada pela NYU. Entre os seus livros se destacam: Environmental
TIz~ater, Hawthorn Books, Inc. 1973; Performance Theory, Routledge, 1977; The Future of the
Ritual, Routledge, 1993; Between Theaier and Anthropology, University of Pennsylvania Press,1985;
Performance Studies, AIl lntroduction; Routledge, 2002.
'M T'\ n"'nrU1UVlr'\ .... ..... 1 1 ')/"''') - ..,0 1'1. "lC .. C:f\
·i

Ser
Performances
Fazer
Performances afirmam identidades, curvam o tempo, remodelam e adornam cor-
Mostrar-se fazendo
pos, contam I~istórias. Performances artísticas, rituais ou cotidianas - são todas feitas
Explicar ações del1lonst~'adas
de comportamentos duplamente exercidos, comportamentos. restaurados, ações
performadas que as pessoas treinam para desempenhar, que têm que repetir e ensaiar.
Ser é a existência em si mesma. Fazer é a atividade de tudo que existe, dos
Está claro que fazer arte exige treino e esfo rço consciente. Mas a vida cotidiana também
quazares aos entes sencientes e formações super galáticas. Mostrar-se fazendo é
envolve anos de treinamento e aprendizado de parcelas específicas de comportamento
performar: apontar, sublinhar e demonstrar a ação. Explicar ações demonstradas é o
e requer a descob~rta de como ajustar e exercer as ações de uma vida em relação às
trabalho dos Estudos da Performance.
circunstâncias pessoais e comunitárias. O longo período da infância e da adolescência
. É muito importante que distingamos estas noçõe~ umas das outras. Ser pode ser
característi;o"da -espécie humana consiste em um extenso período de treinamento e
ati vo ou estático, linear ou circular, expandido ou contraído, material ou espiritual. Ser é
ensaio para favorecer uma boa performance da vida adulta. A formação do indivíduo \ .
uma categoria filosófica apontando para qualquer coisa que as pessoas teorizern como
jovem marca sua entrada na vida adulta, sendo consagrada por cerimônias e ritos
realidade última. Fazer e mostrar-se fazendo são ações . Fazer e mostrar estão sempre
iniciáticos em diversas culturas e religiões. Mas mesmo antes da vida adulta, algumas :\
num continuum, sempre mudando o universo pré-socrático de Heráclito (535-475 AC)
pessoas se adaptam de modo .mais confortável à vida que lhes é designada do que
que disse que "Ninguém pode pisar duas vezes o mesmo rio, nem tocar uma substância
outras, que resistem e se rebelam. A maioria das pessoas vive uma tensão entre aceita-
mortal duas vezes na mesma condição" (fragmento 41). O quarto termo, explicar..ações
ção e rebelião. Atos sociais e políticos, protestos, revoluções e coisas do gênero - são
demonstradas, é um esforço reflexivo para compreender o mundo da performance-e O·
ações coletivas em larga escala, seja para manter o status quo, seja para mudar o mundo.
mundo como performance. Esse tipo de compreerisão é o trabalho dos críticos e acadê-
. Toda'à'gama de experiências, compreendidas pelo desenvolvimento individual da pes-
micos. Todavia, no teatro Brechtianó, em que o ator se afasta do personagem para
soa humana, pode ser estudado corno performance. Isto inclui eventos de larga escala,
comentar suas ações , e nas performances construídas através de uma perspectiva
tais como, lutas sociais, revoluções e atos políticos. Toda ação, não importa quão pe-
crítica, como Couple in a Cage (1992), de GuiÍlermo de la Pena (1955), e Coco Fusco
quena ou açambarcadora, consisteem comportamentos duplamente exercidos.
(1960) - a performance se dá de forma reflexi va. '
O que ,d izer das ações que são, aparentemente, exercidas apenas uma única vez
- os happenings de Allan Kaprow (1927), por exemplo, ou uma ocorrência corriqueira
A patinadora do gelo Denise Biellmenn faz um loop de ponta-de-pé triplo.
, como cozinhar, vestir-se, caminhar, conversar com um amigo? Até mesmo estas são
(Fotografia de lapso de tempo). Direitos 'de imagem: Caem Press, Londres. .,
. . . :, : I
I •
construídas a partir de comportamentos previamente exercidos. De fato, a própria re-

I duridância das ações cotidianas é precisamente o que constitui a sua familiaridade, a


su~ qualidade de ação construída a partir de pedaços decomportamentos, rearranjados
II· e modelados de modo a produzir um efeito determinado. A arte cotidiana - como
!
I Kaprow d·enomina várias de suas obras - é próxima da vida diária. A arte de Kaprow
sublinha e destaca comportamentos ordinários com sutileza-e- conduzindo a atenção
para o modo como uma refeição é preparada, ou observando as pegadas deixadas por
alguém ao caminhar no des~rto. Prestar atenção em ações simples, perforrnadas no
momentopresente, é desenvolver uma consciência Zen em relação ao que é comum e
honrar o queé ordinário . Honrar o q~e é ordinário é observar quão ritualística é a vida
. diária, e o quanto esta é constituída de repetições. Não há nenhuma ação humana que
, possa ser classi ficada como um cornportamente exercido uma única vez.
Haverá, aqui, um paradoxo. Podem ambos, Heráclito e a teoria do cornportamen-
.26
27
1'1

l"oU UAve TO
to restaurado estar ce rtos ao mesmo tempo? Performances são feitas de pedaços de
como se relaci~na com outros objetos e seres. Performances PERFORM
comportamento restaurado, mas cada performance é diferente das demais. Primeiramen- t ....ItT"""' .." .. rl...a.,:.,~;Jt.J~~ ,l!k.I ..... U:\1l' ....t~.
existem apenas como ações, interações e relacionamentos. -r\ID.c1 'Jf"'I'. \~r"t pe1W"""'''~(' .d...-..!' ~f' I~:
....,..r.tWlO 4"" ~ ••",,«na. 11.. ( roropfu.. ).,;...n--,;
te, pedaços de comportamento podem ser recornbinados em varia9ões infinitas. Segun- 'l'f"'< .
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do, nenhum evento pode copiar, exatamente, um outro. Não a~.enas o comportamento .w ,•• .....l1n'tw~.I·.w" ...h ""-.( ........ l s<-.dull , ,,,...4 n~

Bill Parcells quer a sua performance to\Ic..:I"'.,..".".h'1·.,).i·I~":'l'1",k-.n'..oCn\J...~..,J \tttt

em si mesmo - nuances de humor, inflexão vocal , linguagem corporal e etc, mas também
Em 1999, um ,anúncio de página inteira no Neli' York
o contexto e a ocasião propriamente ditos, tornam cada i nstância diferente. O que dizer
Times vendia um Cadillac Seville. Bill Parcels (1941),
das réplicas e clones , mecânica, digital ou biologicamente produzidos? Mesmo que
legendário treinador de futebol am~ricano, olhava fixamen-
uma obra de arte perforrnática, quando filmada ou digitalizada, permaneça a mesma a " te para os leitores. Um de seus olhos estava imerso numa
cada exibição, o contexto de cada recepção diferencia as várias instâncias. Embora a
sombra-que ~~ mesclava ao fundo da imagem,. sobre o qual
coisa permaneça a mesma, os eventos de que esta coisa participa são diferentes entre
um texto se destacava, com letras brancas e luminosas:
si. Em outras palavras, a particularidade de um dado evento está não apenas em sua
materialidade, mas ern sua in'teratividade. Se é assim nos eventos filmados e digitalizados, Se você quer impressionar Bill Parcels
tanto mais em relação à performance ao vivo, onde não só a produção mas também a Você tem que mostrar a sua performance
recepção variam de instância para-instância. E mais ainda em relação à vida di ária, onde
Embaixo d~ foto do carro, o texto seguia em corpo
o contexto é, necessariamente, incontrolável.
menor: "Grandes' performers sempre impressionaram B i11
.~ Essas reflexões nos levam às seguintes questões: Onde ocorre a performance? E J
.... : Parcels . Isto explica seu grande interesse pelo Seville[.. .]." &.Jl. \. r\Jllllt-.. ,~o-r,,-<~.,,_~~)r~
N~r«~n"or~ftt' J-"(""lo;,<)~""'"
Uma pintura aCOITe num objeto físico, urna novela ocorre em palavras. -M as 'urna CA..I"lof'WU~.""".Y')(C~.oP'1
O anúncio alude à performance no esporte, nos ne-
performance (mesmo quando partindo de urna pintura ou de um romance) ocorre ape-
gócios.no sexo, nas artes e na tecnologia. Parcells é sinôni- Foto: cortesia da General
nas em ação, interação e relação. i\. performance não está em nada, ma s entre. Deixem-
mo de exelência corno terinador dé futebol americano. Exi- Motors Corporation.
me explicar: um performer do dia-a-dia, num ritual, numjogo ou nas artes performá ticas
gindo muito de seus jogadores, ele os motiva e eles respon-
propriamente ditas, faz/mostra algo - performa uma ação. Por exemplo: urna mãe leva a
' dem desempenhando performances vencedoras nos gra-
colher até sua própria boca e então à do 'bê be, para ensiná-lo a comer mingau. Aí, a
mados . Aexce!ência de Parcells deri va de sua capacidade de dirigir, sua habilidade de
performance-é o ato d~ levar a colher à própria boca, e depois à boca do bebê. O bebê é, organizar e sua insistência em permanecer atento a todos os detalhes do jogo. Seu olhar
de início, espectador da performance da mãe. Num dado momento ele se torna um co-
,fixo tem forte apelo sexual- seu olhar penetrante é o 'de um homem potente,.capaz de
performer, à medida em que pega acolher e,repe,te a ação, deinício errando a direção da
controlar atletas gigantes. Ele combina maestria, eficiência e ~eleza. Ao mesmo tempo,
bocae besuntando o rosto com o alimento . Papai filma todo o evento. Mais tarde, talvez
Parcells exibe um ar de sorriso; ele joga com a câmera e coa: o público. Tudo isso é
anos depois, o bebê seja uma mulher adulta, mostrando à sua filha um vídeo do dia em
que Sua mamãe aprendeu a usar a colher. Assistir a esse vídeo é uma outra performance, I veicLJado pelo anúncio, que tenta convencer o le itor que o Cadillac, como Parcells, é o
epoderoso, bem feito até o menor detalhe, confiável,
J
melhor entre seus pares, é sexy
existindo na complexa relação entre o evento or iginal-a memória,dos avós (velhos ou
marca de liderança, e alguma coisa que vai se destacar da multfdão.
até mortos), e a fruição do momento presente, em que a mãe aponta para a tela dizendo:
"Aquela é ~ mamãe quando tinha sua idade!" A primeira performance ocorre entre a
Oito tipos de performance
ação de mostrar à criança como usar a colhere a reação desta à ação da mãe. A segunda
Performances ocorrem ~em oito tipos de situações, algumas vezes distintas, ou-
'performance ocorre entre o vídeo da primeira e a recepção desta por ambas ,- a mãe
tras vezes 'so brepos tas :
(então bebê) e sua própria filha. O que é verdadeiro, para esta performance de ho.~ne­
video, valepara todas as outras performances.Tratar qualquer objeto, obra o~ produto 1. na vida diária, cozinhando, socializando-se, apenas vivendo

corno performance - uma pintura, um romance, um sapato, ou qualquer outra coisa-


2. nas artes
3. nos esportes e outros entretenimentos populares
significa investigar o que esta coisa faz, corno interage com outros objetos e seres, e
4. nos negócios
28
29
I"

5. na tecnologia arte, embora produzam objetos e performances exibindo elevado senso estético.
6. no sexo
7. /lOS rituais - sagrados e seculares I A feitura e a avaliação da arte ocorrem em toda parte. Pessoas de todo o mundo, em
diferentes culturas, sabem como distinguir o bom do ruim, em dança, música, canto,
8. na brincadeira

Esta lista não esgota as possibilidades . Se examinadas rigorosamente como


I oratória, escultura, desigti de tecidos , cerâmica, pintura, etc. Mas o que faz alguma
coisa boa ou ruim varia enormemente de lugar para lugar e mesmo de ocasião para
categorias teóricas , essas oito situações não são comensuráveis. A vida diária pode ocasião. Os objetos ritualísticos de uma cultura numa determinada época são obras de
englobar qu ase todas as outras 7 situações. As artes retiram ~eus conteúdos de todas arte para outra cultura, no~tro tempo. Museus de artes plásticas são cheios de pinturas
as coisas e todos os lugares. Ritual e brincadeira estão presentes não só como gêneros \ e outros objetos antes vistos como sagrados. (Alguns desses museus sofrem até pilha-
de performance, mas em todas as outras situações como qualidades, inflexões ou gernpõr parte de comunidades que desejam re:aver seus objetos ritualísitcos e reminis-
arnbiências. Eu listo estas oito para indicar o largo territ ório coberto pela performance. cências sagradas). Além disso, mesmo quando a performance possui uma forte dimen-
Alguns desses itens - aqueles que ocorrem nos negócios , tecnologia e sexo - não são sãoestética, ela não é, necessariamente, arte. Os movimentos dos jogadores de basquete
. "
são tão belos quanto os de bailarinos, mas o basquete é esporte e o ballet - arte. Reflita \\
normalmente analisados
como os outros 5, que têm agora sobre patinação e patinação artística, que existem em ambos os universos. Decidir o \
.
~

sido objeto das teorias da que é arte dep endede contexto, ci rcunstância histórica, uso e convenções locais .
performance artística . E o Separar arte e ritual é' particularmente difícil. Tenho notado que ..objetos
-.. :
processo de criação\ie(ca- ritualísticos de outras culturas são exibidos freqüentemente em museus de arte. Mas,
tegorias de performance, considere também a liturgia de tantos cultos, com mú sica, canto, dança, oração, decla-
tais como as 8 supra-referi- mações'ern diferentes idiomas e sessões de cura. Numa igreja protestante", por exem-
das, resulta de um tipo par- plo, pessoas entram em transe e saem dançando pela nave central, dão testemunhos
ticular de pensamento, que - acalorados, recebem batismo e purificações. Nas igrejas afro-americanas , o gospel é
está longe de.ser universal. . muito próximo do blues,jazz e rock n' roll. Serão esses elementos próprios da arte ou
Até mesmo noções do ritual? Autoridades eclesiásticas na Europa medieval, tais como Amalarius (780-
de história e cultura são 850), Bispo de Metz, afirmou que a missa católica era semelhante à antiga tragédia
culturalmente específicas, grega. Com efeito, não são poucas as pessoas que freq üentam missas tanto pelo prazer
jamais universais . É im - estético e pela socialização quanto pela fé . Compositores, art istas visuais e performers
possível tomar um objeto têm,:desde há muito, produzido refinadas peças artísticas para o uso em práticas rituais.
Charles Chaplin virando e sendo virado pelas rodas da Indústria para estudo, sem partir da EIl: muitas culturas, a performance participativa é o âmago da liturgia. Na Grécia antiga,
numa cena de seu filme Tempos Modernos, 1936.
próp ria origem cultural do 'os grandes fest ivais de teatro eram ritual, arte, competições mais ou menos esportivas
observador. Mas desde e entretenimento popular, simultaneamente. Hoje, esportes são entretenimento ao vivo
que um projeto como este e evento midiático, combinando competição, ritual e grandes negócios.
texto, por exemplo, está em curso-o melhor que se pode fazer é estar atento e compar- Como observado, algumas formas de esporte são próximas das artes. Ginástica,
tilhar com os' leitores esta lim itação. Tendo observado isto, designar música, dança e assim como patinação artístic~ e mergulho acrobático - são esportes olímpicos'. Mas,
teatro corno artes performáticas é relativamente simples: Mas como categorias de estu- nestas modalidades não existe método quantitativo papável pa ra determinar vencedo-
do, at~ mesmo essas são ambíguas . O que é designado como arte, '~ e é alguma coisa res, tal .como 11á em corrida, lançamento de 'dardo ou levantamento de peso. Em vez
afinal, varia histórica e culturalmente. Objetos e pe rformances chamados de' .arte em disso , esses atletas estéticos são avaliados qualitativarnente. .a partir da forma e da
algumas partes do mundo, são como os que são feitos em outras partes, sem serem assim dificuldade. Suas performances se assemelham mais a shows de dança do que a compe-
designados. Muitas culturas não 'têm uma palavra para, ou uma categoria ~bamada- tições de velocidade ou força. Porém, com a disseminação dos recursos do vídeo, como
30
31
.~,

imagens em câmera lenta e replay, Mte 'tr.C9mO futebol americano, boxe, luta romana e esperado, para um espaço ou situação em que este seja inaceitável ou inesperado.
outros esportes brutos obtém uma dimensão estética, mais visível nas repetições do Assim, a .nudez, por exemplo, causou grande comoção quando passou a ser utilizada
que na tumultuada urgência do ato em si. Somam-se a isso as criativas comemorações pelas artes perforrnáticas de modo mais amplo, a partir dos anos 60. Mas, porque o
dos atletas, que saltam e dançam exibindo su a superioridade.'.' cho que, porquea nudez era surpreendente? Simplesmente porque nunca tinha sido
Por .t üdo isso , todo mundo sabe a di ferença entre ir à igreja, ao futebol, ou ao usada em espaços reservados às grandes companhias de artes perform.áticas ditas
teatro. A diferença se baseia na função, na circunstância do: evento inserido na socie- sé rias. Antes disso, na América do Norte, as pessoas viam corpos nus em casa ou nos
dade, no espaço que o abriga e no comportamento esperado de performers e especta- banheiros d'os clubes de ginástica. A justificativa para o uso pioneiro da nudez no
dores. Há ainda uma grande diferença entre os vários gêneros de artes performáticas. teatro s ério: era de que, ali, a nudez era artística e não erótica. É claro que em muitas
Ser jogado de um lado para outro, em meio à multidão que. assiste um concerto de rock . culturasa nudez é a regra. Em outras, como no Japão, ela é ·tradicionalmente aceita em
é muito di feren te de assitir a uma encenação de Giselle, pelo American B allet Tbeater 'no algumas si't~'àções e proibida em outras. P~ssado o ano 2000, ninguém, em nenhum
Metropolitan Opera House, em Nova York. O teatro enfatiza narraçãoe personificação, . teatro metropolitano do Ocidente, conseguirá evitar espectadores e críticos apenas
esporte en fatiza competição e ritual enfatizá participação e comunicação com seres ou tirando a roupa. Mas não vá tentar essa performance em Kabul. \
forças transcendentais. Os hábi tos, ri tuais e roti nas da vida são comportamentos res taurad os. Com por- :\
Nos negócios, a boa performance significa exercer sua função com eficiência e tamentos res tau ~·a d o s são compor-
máxima produtividade. No mundo corporativo, exige-se de pessoas, máquinas, siste- tamentos vivos tra tados como um .
mas, departamentos e organizações que desempenhem boa performance. P~lQ. ~en~s cineasta trata um pedaço de filme. :
"-
desde que surgiram as fábricas, no século XIX, tem ocorrido uma fusão crescente entre Esses pedaços de comportamento
os universos humano, técnico e organizacional. Isto tem levado a um crescimento das p o dêm ser rearranjados ou
riquezas materiais e também a uma percepção de que os i ndivíduos são apenas parte da recons truídos; eles são independen-
máquina. Mas essa união de homem e máquina tem também qualidades eróticas. Existe. tes do sistema causal (pessoal, soei-
um componente sexual nas grandes performances dos homens e mulheres de negócios, . al, político, tecnológico ...) que os
assim como há algo de profissional nas grandes performances sexuais. Estas, por sua levou a existir. Eles têm uma vida pró-
vez, também evocam significados oriundos das artes, dos esportes e dos rituais? . Con- pria. A verdade ou fonte que origi-
sidere o espectro de significados agregados às frases "fazendo sexo" ou "ele é bom de nou o com portarnen to pode ser des-
cama7" ou o que signi fica ser uma deusa do sexo ou um atleta sexual. A primeira frase conhecida, perdida, ignorada ou
se refere ao ato em si, a segunda especula o quão bem este ato pode ser desempenha- contradita-mesmo quando essa ver-
do, enquanto a terce ira implica num elemento tanto de ir a extrem?s quanto d~ fingimen- dade, ou fonte, está sendo honrada
to que pode haver por detrás de uma performance tão impactante que parece sobre- e reconhecida. O modo como os pe-
humana, ou tão exageradamente forte que pode ser meramente competitiva. daços de comportamento foram cri- .
ados , achados ou desenvolvidos, o deus leão Barong, à direita, trava batalha con tra
Restauração de Comportamentos pode ser desconhecido ou oculto, o demônio Rangda no -teatro de dança ritual
Balín ése, 1980. Foto: RichardSchecnner:
Vamos examinar a noção de ~omportamentos restaurados mais de perto. Todos elaborado, distorcido pelo mito ou
nós perforrnamos mais 'do que sabemos ·p~form ar. Como já foi notado antes, a vida pela tradição. Comportamentos res-
cotidiana, religiosa ou artística consiste em grande parte em rotinas, hábítos eritualizações taurados podem ser longevos e es-
e de recombinação de compor~amentos previamente exercidos. O que ~ 1l0V?, original: " , táveis como os rituais, ou efêmeros como um gesto de adeus.
chocante, ou avantgarde é, quase sempre, uma recombinação de comportamentos Comportamento restaurado é o processÇ) chave de todo tipo de performance, no
conhecidos, ou o deslocamento de um comportamento do lugar ondeele..é aceitável ou dia-a-dia, nas curas xamânicas, nas brincadeiras e nas artes. O comportamento restal,l-

32 33
rado existe no mundo real , como algo separado e independente de mim. Colocando isto Lutadores de Sumô
japoneses se
em termos pessoais, o comportamento re,st~urado é..-: eu me c.on~por~~Q~çU:9.~0 se
engalfinhando no
fosse outra pessoa, ou eu me comportando como me mandaram oweu me comportando ringue. O juiz com o
como aprendi. Mesmo quandorne sinto ser eu mesmo, completamente, e agindo de vestes ritunl ístlcas
está à esque rda, à
modo livre e independente, apenas um pouco mais de investigação revelará que as
frente ; Foto :
unidades de comportamento vividas por mim não foram i~ventadas por mim . Ou, Mtchael Macintyre.
opostamente, eu posso experimentar estar ao lado de mim 'mesmo, não sendo mim Direitos de imagem:
Hutcliison Picture
mesmo ou possuído, como se em transe. O fato de que há mais de um mim mesmo ~m' .
Lybrary.

~~~~e-.~-~Z;~~iS~~i~
cada pessoa não é sinal de loucura, mas o modo como as coisas são. Os modos pelos ... ----...._-
quais alguém performa a si mesmo são conectados aos modos por que pessoas
performam outras pessoas nos dramas, danças e rituais. Com efeito, se as pessoas não
estivessem ordinariamente em contato com seus múltiplos si-mesmos, a arte do ator e a l
experiência do transe de possessão tornar-se-iam impossíveis. A maioria das
\
a cerimônia de casamen to. Por que é marcado, emoldurado e separado, o cornportamcn- '\
performances, cotidianas ou não, têm mais de um autor. Rituais, jogos e performances to restaurado pode ser aprimorado, guardado e resgatado, usado por puro divertimen- '
da vida diária são escritas por um ente coletivo Anônimo ou pela Trad ição . Pessoas a to, transmutad'o em outro, transmitido e transformado.
quem se credita a criação de um jogo ou rito, geralmente, revelam ser sintetlzadcres, -, Comportamento restau rado é simbólico e reflexivo. Seus significados têm que
recombinadores, compiladores ou editores de ações já praticadas anteriormente. " ser decodificados por aqueles que possuem conhecimento para tanto . Não é uma ques-
Comportamento restaurado inclui uma vasta gama de ações. Todo comporta- tão"'de cultura superior ou inferior. Um fã dos esportes conhece as regras do jogo que
, mento é comportamento restaurado -'todo comportamento consiste em recombinacões admira, as estatísticas a respeito dos jogadores mais importantes, os resultados de
de pedaços de comportamento previamente ex~rcidos. Naturalmente, na maior parte do par tidas anteriores e muitos outros detalhes técnicos ou históricos. O mesmo vale para
tempo as pessoas não se dão conta de que agem assim . Pessoas podem, simplesmente, fãs de rock. Às vezes, o conhecimento sobre a fonte do comportamento restaurado é
viver, Performances são comportamentos marcados, emoldurados ou acentuados, se- esotérico, oculto, exclusivo para iniciados. Entre os povos austral ianos nativos, o meio
paradosdo simples viver- ou comportamentos restaurados restaurados", pode-se ser natural cheio de pedras, trilhas, caminhosde águae outras marcas que formam a memória
é

o preferir. Todavia, dado meu presente propósito, é desnecessário considerar essa das ações de seres míticos. Só os iniciados sabem qual é a relação entre ri geografia
duplicidade. Basta definir comportamento restaurado como 'sendo marcado, emoldura- ordinária e a geografia sagrada. Tornar-se consciente do conhecimento restaurado,é reco-
do ou acentuado. Um comportamento pode ser restaurado a partir de "mim mesmo" em nhece r o processo pelo qual processos sociais, em todas as suas formas, são transforma-
I .
outro tempo ou estado psicológico - por exemplo, contando uma história ou encenan- dos em teatro, fora do sentido limitado da encenação de dramas sobre um palco.'
do para amigos detalhes de um acontecimento traumático ou comemorativo. Um com- Performance, no sentido do comportamento restaurado, significa - nunca
portamento pode ser restaurado trazendo-se para a cena comportamentos não -ordiná- pela primeira, sempre pela segunda ou enésima vez: com põrtamen to duas vezes exercido.
rios -como na dança/transe balinesa, onde se representa a luta entre a diabólica Rangda Cuidado! Atenção para generalizações. ,
e Barong, o Deus -leão. O comportamento pode ser restaurado em ações marcadas por Eu preciso enfatizar um ponto. Pe~formances podem ser facilmente gene-
convenções estéticas, como em teatro, dança e música. Pode estar contido nas ações ralizadas ao nível do comportamento restaurado. Todavia, como prát icahnc6i-poradas,
codificadas como "regras do jogo", "etiquet_~", "protocolo" diplomãtico-c ou qualquer , toda e qualquer performance éespecffica e diferente de todas as outras. As diferenças
outra na' miríade de ações previamente conhecidas que executamosna vida. Isto Y;'l~ia ' incluem convenções formais e tradicionais dos gêneros de performance, escolhas pes-
, enormemente de uma cultura para outra . Comportamento restaurado pode ser ~m meni-" >. soais 'd os perforrners, padrões ~ulturais variados, circunstâncias históricas e particula-
no da Nova Ouiné conter suas lágrimas quando uma lâmina de folhas rasga o interior de ridades de cada recepção. Tomemos a luta como exemplo. No japão, os movimentos de
suas narinas durante um ritual Papua de iniciação; ou a formalidade dos noivos durante um lutador de Sumô são determinados por.urna antiga tradição. Esses movimentos
34
35
r-,

t
r
incluem o desfile do atleta 'ao redor do ringue, os ajustes no cinturão, o ato de atirar sal, e amanhã será esquecido. Alguns gêneros migram de uma categoria para outra.

I
II
"
o ato de encarar o oponente e o derradeiro, freqüentemente breve, confronto dos dois
enormes competidores. Os conhecedores desta luta vêem nessas demonstrações cui-
Tomemos o jazz como exemplo, durante os anos em que o gênero se formava,
pelos idos de 1920, ojazz não era considerado uma arte. Era definido corno um tipo de
dadosamente ritualizadas uma tradição centenária ligada ao Sbintd, antiga religião japo- arte folclórica ou de entretenimento popular. Mas à medida em que os perforrners se
nesa . Bem ao contrário, a luta norte-americana profissional é um esporte barulhento, mudaram dos prostíbulos para clubes noturnos mais respeitávieis e depois para casas
praticado por "foras-da-lei" onde cada lutador ostenta sua própria e histriônica identi- de concerto, os acadêmicos passaram a se interessar mais pelo jazz. Um repertório
dade. Durante as disputas, árbitros são atingidos, lutadores são ati rados para fora do substancial dessa música foi arquivado. Algumas composições desse gênero atingiram,
ringue e o fingimento é endêmico. Todo esse espetáculo é incitado por fãs enfurecidos, o status de cânone. Por volta de 1950, o jazzjá era visto como arte. Hoje, a música,
, . I
que lançam palavras e objetos sobre os lutadores. Entretanto, todos sabem que os , popular inclui rock, rap e raggae, mas não o jazz mais puro.' O que não quer dizer que o
resultados das lutas são pre- rock ~ o~t;:as formas de música.popularnão serão um dia ouvidas e observad~s da
viamente determinados e que ' mesm a forma que o jazz ou a música clássica são atualmente. Mas as categoriasfolk,
aquela encenação de uma pop e clássica têm mais a "ver com política, ideologia e poder econômico do que corr\
disputa aparentemente sem qualidades formais de música. ,\
lei é, na verdade, apenas par-
te do show. Fãs de sumô e de Ser performance
luta livre norte-americana co- Qual a diferença entre' ser performance e corno se fosse performance? Alguns
nhecem seus heróis e vilões , eventos são performance e outros , não exatamente isso . Há limites para que algo seja
podem contar a história do peiformance. Porém, virtua.lmente tudo pode ser estudado como se fosse performance.
seu esporte favorito e reagem Alguma coisa é performancequando o contexto histórico-social , as convenções e a
conforme tradições e conven- tradição dizem que tal coisa é performance. Rituais, brincadeiras.jogos e papéis do dia-a-
ções amplamente aceitas . dia são performances porque convenções, contexto, uso' e tradição dizem que são. Não
Ambos os esportes são lu- Os Guerreiros' da Estrada , lutadores americanos podemos determinar que alguma coisa s~ja performance a menos que nos .refiramos a .
tas, mas cada qual expre~sa profissionais de luta-livre posando com seu emp resário. circunstâncias culturais específicas. Não há nada inerente a urna ação em si mesma, que a
Direi/os de imagem Superstar Wrestlillg.
valores de suas respectivas caracterize ou a desqualifique como sendo performance. Pelo ângulo de observação do
culturas. tipo de teoria da performance que proponho, qualquer coisa é performance. Mas sob o
O que é verdadeiro para as lutas, é também para as artes performáticas, as ângulo da prática cultural, algumas coisas serão vividas como performances e outras não;
demonstrações políticas, os papéis desempenhados na vida diária (mãe, médico, polici- ~ isto irá variar de uma cultura ou de 'um período histórico para outro.
ai, etc .. .) e para todas as outras performances. Cada gênero se divide em vários sub- Dei xe-me usar uma tradição européia como exemplo para explicar mais
gêneros. O que é teatro norte-americano? É Broadway, off'Broadway, offoff Broadway, detalhadamente como as definições operam a partir de sua inserção em d.iferentes con-
teatro regional, teatro comunitário, teatro de escola... e mais. Cada sub-gênero tem suas textos. Ser ou não ser performance independe do evento em si mesmo, mas do modo
particularidades, -?e algum modo si~ilares a outras formas próximas, mas ao mesmo como este é recebido e localizado num determinado universo. Hoje, a encenação de
tempo únicas . E o mesmo sistema pode serobservado através de outras perspectivas, dramas por atores é uma,pcrforrnance teatral. Mas não foi sempre assim. -O que hoje
como por-exemplo dividira teatro em termos d~: tragédia, comédia, drama, musical ... ou chamamos,teatro não o foi por pessoas de outras eras. Os gregos antigos empregavam
classificar de acordo corn .o profissionalismo ou amadorismo da companhiateatral, _~~_ termos similares aos nossos para descrever o teatro (nossas palavras derivam das
di ferenc"iar os sub-gêneros do teatro a partir do conteúdo cultural ou orientação política suas), mas o que queriam dizer na prática era muito diferente do significado que dizemos
de cada espetáculo. Não há categorias fixas OLI estáticas. Novos gêneros emergem, en- hoje. À época dos trágicos É sq ui lo (525-456 AC), Sófoc1es (496-406 AC) e Eurípedes
quanto outros desaparecem para sempre. O que ontem foi contracultura, hoje é hegernônico (485-405 AC), a encenação de dramas trágicos era mais um ritual onde performers e

36 37'
espetáculos competiam por prêmios - do que propriamente teatro na corrente acepção arte da performance... e mais. Às vezes, obras feitas em alguns desses estilos' são
do termo. As tragédias eram encenadas por ocasião dos festivais religiosos. Prêmios consideradas como teatro, às vezes dança, música, artes visuais, multi-mídia. Não raro,
altamente cobiçados eram distribuídos. Essas premiações eram feitas a partir decritéri- eventos foram atacados como não sendo nenhuma forma de arte - como ocorreu com
os de excelência estética, mas OSi eventos nos quais "essa excelência era demonstrada '1
os Happenings, antecessores da arte da perfonnance. Allan Kaprow, criador do primei-
não eram de natureza artística, mas ritual. Foi Aristóteles quem, escrevendo um século ro Happening; viu aí a oportunidade de se criar um lugar para o que ele chamava de
depois do apogeu da tragédia grega como performance incorporada, codificou o enten- "arte-como-vida". "Arte da performance" foi um termo cunhado nos anos 1970 como
dimento estético do teatro na sua totalidade- incluindo todas as suas seis partes como um guarda-chuva para obras que, de outro modo, resistiriam.à categorização.
vistas pelo filósofo. Depois de Aristóteles, nos períodos Helênico e Romano, a estética O resultado disso' éque hoje, muitos eventos que não s~nam formalmente pen-
do entretenimento torna-se um aspecto mais dominante do teatro, à medida em que os . sados ·COJT!0 arte ou performance - agora ~ão assim designados. Esses tipos de ação
elementos de "eficácia do ritual se enfraquecem. são performadas diariamente, não apenas no Ocidente. Essas referências retroativas
Vamos pular um milênio ou mais. Durante boa parte da Idade Média, encenar são bem complicadas. O trabalho de um japonês dançarino éeButõ pode influenciar a .
dramas escritos sobre um palco era, na Europa, uma prática esquecida ou pelo menos obra de um coreógrafo alemão, cujas danças são, por sua vez, ealaboradas por um \
não exercida. Mas isso não signi fica que havia uma falta generalizada de performances. performer Mexicano ... e assim por diante, "sem limites definidos entre culturas e nacio- ;\
Nas ruas, nas praças, nos castelos e mansões, uma ampla variedade de entretenimentos nalidades. Por trás de uma obra de arte composta, há um mundo confuso, feito de
populares atraía a atenção das pessoas. Havia uma multiplicidade de mímicos, mágicos, performances acidentais e incidentais. Webcams exibem na internet o que as pessoas
adestradores de animais, acrobatas, manipuladores de bonecos e aquilo que seria-mais fazem dentro de casa. TVs formatam notícias como entretenimento. Teóricos da
''-.
tarde conhecido como Com media dell 'Arte. Desde o princípio da idade média, a igreja performance argumentam que a vida diária é performance, e cursos são ministrados
oferecia uma verdadeira panóplia de festas, serviços e rituais. Por volta do século XIV, sobre a estética do cotidiano. Hoje, dificilmente existe atividade humana que não seja
tudo isso culminou na formação de uma base para os grandes autos, celebrando e uma performance para alguém, em algum lugar. De um modo geral, a tendência do século
encenando a história do mundo desdea Criaçãoe através da Crucificação, Ressurrei- passado foi dissolver as fronteiras entre a performance e a não-performance, a arte e a
ção e Juízo Final. Tudo isso que nós hoje chamaríamos de teatro, não era visto como tal. não-arte. De um lado, desse espectro está muito claro o que é uma performance, o que
O preconceito anti-teatral do clero impedia essa denominação. Então, nos séculos XV e é uma obra de arte; do outro lado, essa clareza não existe.
XVI, sobreveio uma revolução nos pensamentos e nas práticas vividas, a qual se c ha..:
mou de Renascença. Renascença significa renascimento e o que os humanistas da Como sefosse performance
época pensaram que estavam trazendo de volta à vida-era a cultura da-Grécia e Roma Em seu estudo sobre a culinária como performance, Barbara Kirshenblatt-Gimblett
'Clássicas. Quando textos foram encenados no Teatro Olímpicode Vicenza, seus criado- propõe uma teoria muito próxima da minha própria. Ela diz que performar é agir, exercer
res sentiram que estavam reinventando o teatro (não o ritual) da Grécia antiga. Um urn comportamento e mostrar-se. Eu "quero ir mais longe. Qualquer comportamento,
evento ser ou não teatro ou performance é algo que depende do pensamento dominan- evento, ação, ou coisa pode ser estudado como se fosse p.erformance e analisado em
te de uma época. termos de ação, comportamento, exibição. Tomemos mapas, por exemplo.
Façamos um novo salto no tempo para a terça parte do século XIX. A noção-de . Todos sabemos que a Terra é redonda, mas os mapas planos são bastante úteis.
teatro como arte estava, então, bem estabelecida. De fato, tão bem enraizada que movi- Você não pode ver o mundo, ou mesmo uma parte significante dele, ao mesmo tempo,
mentos contestadores chamados de avant-guarde emergiam com frequência como num globo. Globos não podem ser dobrados e carregados facilmente. Mapas-achatam
esforços dos artistas mais radicais para abalar a cultura hegernônica.. Cada nova onda o mundo para melhor derramar os territórios sobre uma mesa, pendurá-los numa parede
tentava deslocar a anterior. Parte dos movimentos de contracultura 'tornou-se, hoj.~". ou escondê-los numa pasta. Mapas desenham qualquer coisa, desde nações inteiras
cultura hegemônica. A listade movimentos avant garde é extensa, incluindo realismo, até a topografia e a demografia de cada região. Nos mapas mundiais mais comuns,
naturalismo, simbolismo, futurismo, surrealismo, construtivismo, dadaísmo, países são separados por linhas e cores, cidades são círculos," rios aparecem como
expressionismo, cubismo, teatro do absurdo, happenings, Fluxus, teatro ambiental, pequenos riscos sobre a terra, oceanos são vastas áreas azuis. Tudo está nomeado -

38 39
estar no mapa é ter um certo status. Mas a terra real não se parece nada com suas os pode res c~loniais queriam vê-lo . Embora, os tempos tenham mudado várias vezes
representações mapeadas, nem mesmo com um globo. As pessoas ficaram perplexas desde o século XVI, o poderio econômico e militar do mundo continua nas mãos dos
quando foram tiradas as primei ras fotos daquela bola azul salpicada de branco. Não europeus e do seu herdeiro norte -americano - os EUA. Talvez as coisas não se mante-
havia qualquer sinal da presença humana. nham 'ass im pÓI: mais que um século, ou dois. Se assim for, uma outra projeção será de
Estados nacionais nos parecem tão naturais que quando ~ maioria das pessoas uso maiscomum. Com efeito, após a detalhada topografia dos satélites, um considerá-o
imaginam o mundo como um mapa, elas o vêem dividido em país es. Mas mapas não são vel remapeamento do mundo está ocorrendo. Há também mapas mostrando o mundo de-
neutros. Eles performam uma interpretação muito particular de como o mundo deveria cabeça para baixo, com o sul no topo; outros, desenhados de acordo com dados
ser. O mapa é uma projeção, um jeito particular de representar a esfera numa superfície populacionais, mostram à China e a Índia quatro vezes maiores que os EUA. A projeção
plana. No mapa as nações não se sobrepõe nem dividem espaço. Fronteiras são defini- desenvolvida por Amo Peters (1916), em 19?4, é um mapa de área acurada, mostrando
das .. Se mais de uma nação reclama para si o mesmo espaço, há guerra, como tem as partes do"mundo corretamente dimensionadas uma em relação às outras. A
ocorrido 'entre Índia e Paquistão, pela Cache~ira, e entre Palestina e Israel , por Jerusa- Groenlândia não é mais do tamanho da África quando, de fato, a África é 14 vezes maior
lém . A mais comum das projeções atualmente em uso deriva da projeção que o geógrafo, que a Groenlândia. Mas o mapa de Peter tem suas imperfeições. É incorreto em termos .,\
\

cartógrafo Flamengo Gerardus Mercator (1512-94) desenvolveu no século XVI. de forma-o hemisfério sul é alongado enquanto o norte parece urna moranga. Fazer um \

A projeção de Mercator distorce o mundo escancaradamente em favor do he- mapa plano de un;a terra redonda significa sacrificar um dos dois: a forma ou o tamanho
misfério norte. Quanto mais ao norte, maior parece ser o 'território. A Espanha éJdo mais acurado. S6 o mapa de Peter lhe parece pouco natu ral então você sabe o quanto a
tamanho do atual Zimbabue, a América do Norte engole a do Sul e a Europa o'cup~ 114- projeção de Mercator, ou qualquer outro mapa, é uma performance.
, . ' ~

do tamanho da Africa. Em outra s palavras, o mapa de Mercator encena o mundo como Um dos s ignificados de performar é fazer as coisas de acordo com um , tipo
específico de cenário ou plano. Os mapas de Mercator provaram ser muito úteis para a
navegação, por que as linhas retas em sua projeção observavam as linhas de orientação
da bússola. Mercator desenhou seu mapa para aludir aos cenários de marinheiros,
mercadores e militares de umaEuropa Ocidental expansionistae colonizadora. Sim:i~ar­
mente, os autores dos novos mapas têm seus próprios cenários, os quais são encena-
dos por seus mapas. In terp retar mapas desse modo é exami nar a fei tura de mapas "como
. .
sendo" performance. Mas os mapas não apenas representam a terra de um modo espe-
cífico, eles também encenam relações de poder.'
I E não ,é só com os mapas . Toda e qualquer coisa pode ser estudada como
qualquer disciplina de estudo- física, economia, lei, etc. O queeste como informa é que
. este objeto será observado soba perspectiva de, em termos de ou interrogado por uma
disciplina particular de estudo. Por exemplo, eu es tou compondo este texto em um
computador Del! Dimension 4001. Se eu o observo como sendo física, eu examino seu
tamanho, peso e outras qualidades físicas, talvez até atômica ou sub-atômicas . Se eu o
observasse como matemática; eu mergulharia nos códigos binários de seus programas.
Observar isto como se fosse lei significaria interpretar networks de patentes, contratos
e direitos autorais. Se eu fosse examiná-lo como performance eu avaliaria a velocidade

Guillermo Gõmez-Peãa do seu processador, a nitidez.da sua tela, a utilidade do seu pacote de software, sua
como El Mad Mex. portabil idade e assim sucessivamente. Posso até imaginar Bill Parcels olhando fixamen-
Foto: Eugênio Castro. te,para mim e me falando da boa performance do meu computador.
40 41
Fazer crer tas por redator~s profissionais de discursos, as bandeiras e objetos cênicos, cuidado-
x samente confeccionados para obter o máximo efeito, o Chefe do Executivo deve estar
. fazer crenças sempre bem ensaiado." O teleprompter irá garantir que o Presidente pareç-aestar falan-
'O que dizer das mui- do de improviso quando, na verdade, está lendo cada palavra. Cada detalhe é
tas performances da vida di- coreografado,' desde o modo como o Presidente olha para a câmera ou para a sua
ár~a? Desempenhar papéis audiência VIP num evento ao ar livre, at.éseu modo de gesticular com as mãos, vestir-se
profissionais, papéis relaci- e a própria maquiagem. O objetivo disso é fazer crenças - primeiro, construindo as
onados ao gênero ou raça "bases para a fé pública no Presidente e, segundo, sustentando a fé do Presidente em si
que modelam a identidade de mesrno-Suas performances convencem a ele próprio na medida em ,que ele luta para
cada um de nós não são convencer -a outros:
ações de faz-de-conta, pelo É possível argume~tarque o Presidente é um homem importante em virtude de
menos não do modo .corno sua: posição e autoridade. Mas dado ocrescirnento exponencial da mídia, hordas de
's eria a repesentação de pa- cidadãos comuns têm entrado no negócio de fazer crenças. Alguns são verdadeiros
péis num filme ou palco. As camelôs midi áticos, vendendo de utensílios culinários e ginástica do bumburn durinho,
performances do cotidiano até a salvação eterna pelo poder inquestionável do sangue de Jesus. Outros são os
A Lanterna Verme/lia , um dos cinco "modelos de óperas", , . i
apresentado na China durante a Revolução Cultural, 1966-76. fazem crenças - criando a famosos âncoras de telejornais, cujos rostos e vozes familiares seguram a audiência
Direitos de Imagem: David King Collection. própria realidade soci~'l~ue é através das notícias que se sucedem. Outros ainda são experts - economistas.juristas, .
encenada. N as performances generais-da reserva - cuja autoridade se deve somente à freqüência de suas aparições.
que fazem crer, a distinção en tre o que é real e o que é faz-de-conta é sempre clara. Há tam bém os mestres do marketing, contratados por políticos e corporações para
Crianças brincando de médico sabem muito bem que estão apenas fazendo-de-conta. ' transformar más notícias em boas. Como produtores agindo nos bastidores, seu traba-
'N o palco, várias convenções, incluindo o próprio espaço cienico como um domínio -lhoé garantir que,o que quer qu y aconteça, seja dramatizado o bastante para atrair
di ferenciado, o abrir e fechar de cortinas, as três chamadas antes do início do espetáculo ... espectadores. Quanto maior a audiência, mais alto o investimento dos anunciantes.
demarcam os limites entre a vida e a arte. Quando as pessoas ~ão ao cinema, sabem que os Algumas notícias são dramáticas por si sós - como desastres, guerras, crimes e julgá-
'universos sociais e pessoais apresentados não são aqueles dos atores, mas dos persona- mentes. Mas, os mestres da mídia aprenderam a dramatizar até mesmo o mercado de
gens. Naturalmente, este é o primeiro limite que a vanguarda e depois a mídia e a internet ações e a meterorologia. 'Como construir um angulo de interesse humano em cada
têm sabotado com grande sucesso. história? Os produtores sabem que as mesmas notícias estão disponíveis em vários
Personalidades públicas costumam fazer crenças com relativa freqüênc ia - en- veícJlos,
.
então seu trabalho é desenvolver atraçõ~s paralelas instigantes. Paradoxal-
1
cenando efeitos que desejam que o público de suas performances ace item como reais. mente, o resultado disso é um público cada vez mais difícil de -enganarCom tantas
Quando o Presidente Americano assina um documento importante, seus assessores performances à vista, o espectador vira um astucioso e sofIstic~do desconstrutor das
encenam o ato no Salão Oval da Casa Branca, onde o Presidente pode performar sua técnicas teatrais que são empregadas para seduzi-lo.
autoridade. Atrás dele uma platéia seleta de VIPs, incluindo o Vice-Presidente. Um
escudo presidencial de grandes proporções imprime no ambiente o necessário patrio- Fronteiras-rarefeitas \ ,
tismo . Noutros momentos porém , o chefe da nação pode desejar ser visto como um Voltemos ao Mapa de Mercator. O mundo. lá representado é formado por nações
amigo, ou um vizinho camarada, conversando informalmente com às seus concidadãos. . soberanas claramente demarcadas . Esse mundo não existe mais , se é que um dia existiu
Hoje em dia, tordo mundo sabe que esses tipos de situações são pl~n~jad;;'~in' " - na época em que Mercator o desenhou, as nações européias viviam em guerra umas
seus mínimos detalhes. À presidência norte-americana hoje é- pelo mel~os na sua face com as outras, disputando o controle de diversos territórios. Hojs as [tonteiras nacio-
pública, urna performance totalmente roteirizada. As palavras do Presidente são escri- nais são extremamente porcsas, filão apenas para as pessoas, mas sobretudo para infor-
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mações e idéias. Os novos mapas não podem ser desenhados porque o que precisa ser suas roupas? Observe as etiquetas daquilo que você está vestindo agora. Será que seu
representado não são territórios, mas networks de relacionamentos. Mapeã-las requer vestido; camisa, jeans e sapatos vêm do mesmo país? Você sabe onde eles foram costura-
cOl1lplex.~redesdeafluentes de números que estão sempre alterando sua forma e valor. dos, por quem, a que preço e sob que condições de trabalho?
A noção de referencias fixos para o mundo tem estado sob ataque desde 1927, quando Mas, muito mais do que CaITOS e roupas são transnacionais. Culturas também
Werner Heisenberg (1901-1976) propôs o seu "princípio da incerteza". Poucas pessoas estão rarefeitas. A globalização está acelerada. Aeroportos parecem os mesmos em
fora do círculo de físicos quânticos puderam de fato entender essa teoria. Mas a incer- todo lugar; lanchonetes de fast food padronizadas estão disponíveis em praticamente
teza ou a indeterminabilidade fez soar um sinal de alerta. Er~ uma metáfora poderosa e todas as grandes cidades do mundo. O cinema e a TV americanos são vistos em todo o
apropriada para a época. Afetou o pensamento em várias disciplinas. Estimulou o planetaMas, os Estados Unidos são, por sua vez, cada vez mais interculturais tanto
surgimento de um certo tipo de arte. John Cage (19~2-1992) usou a indeterminabilidade em termos de população quanto em termos de estilos de vida. A profusão de festivais
como base para sua música, influenciando toda uma geração de artistas e teóricos em internacionais'dê"artes e as trupes de artistas em turnê pelos quatro cantos do mundo
diversos campos do conhecimento. são um meio essencial para a circulação de-diversos estilos de performance. Estilos
As fronteiras estão rarefeitas de várias maneiras. Na internet, as pessoas parti-
cipam sem esforço de um sistema que transgride as fronteiras nacionais. Até mesmo os
idiomas representam uma barreira menor hoje do
musicais híbridos como o world bem combinam sonoridades africanas, asiática, latino-
.americana e européia na sua composição. Novos híbridos emergem a cada momento.
As pessoas discutem se toda essa mistura éboa ou má. Será que globalização equivale
\
que antes. Você já pode se conectar e escrever na a americanização?'Questões sobre globalização e performances interculturais têm sus- .
sua própria língua sabendo que sua mensagem será citado importantes discussões.
traduzida na linguagem daquele a quem foi
endereçada, qualquer que seja ela. No presente, esse A~ funções da performance
recurso está disponível para um número reduzido Nós abordamos o que é performance e o que pode ser estudado como
de idiomas, mas o repertório de tradutibilidade au- performance. Mas, o que a performance consegue realizar? É difícil estipular as
mentará. Logo, será um hábito a comunicação entre funções da performance. Através do tempo, e em diferentes culturas, têm havido
chinês e mandarirn, ou entre uma pessoa numa pe- várias propostas. Uma das mais inclusivas é aquela do' sábio indiano Baharata
quena cidade para "n" outras pessoas a nível glo- Muni (século li AC), que sentiu quea performance é um importante repositório de
bal. Além disso, para o melhor ou para o pior, o conhecimentos e um veículo poderoso para a expressão de emoções (ver Baharata
inglês passou a ser mais um idioma global do que box). O poeta e intelectual romano Horácio (6~-08 AC) argumentou, em sua obra
nacional. Na ONU, 120 países, representando mais i,ntituiadaArte Poética, que o teatro tem que entreter e educar- idéia essa adotada
de 97% das populações do mundo, escolhem o in- por muitos na Renascença e mais tarde ~elo dramaturgo e diretor alemão- Bcrtolt
glês como meio de comunicação internacional. Dançarino de veado Yaqui, Nova Brecht(1898-1956).
A dissolução das fronteiras nacionais Páscoa, Arizona, década de 1980. Juntando idéias obtidas de diversas fontes, encontrei 7 funções para a
; '.
Foto: Richard Schechnet:
ocorre em relação aos objetos manufaturados tan- performance:
to quanto em relação à política e informação. Por entreter;
exemplo: se você dirige um carro norte-americano, fazer alguma coisa que k- bela; \
japonês, alemão ou coreano, você pode. acreditar que ele vem do país cujo selo ele marcar ou mudar a identidade;
exibe. Mas onde foram manufaturadas suas partes componentes? Ondeo carro foi monta-o fazer ou estimular uma comunidade;
do, onde foi desenhado? A marca do carro refere-se a si própria, não a um local .de oL~i~~m: 0,\ curar;
Carros japoneses são montados no Tenesse, e a Ford possui linhas de montagem no ensinar; persuadir ou convencer;
Canadá, Europa e outros lugares. O México abriga várias montadoras. Mas o que dizer das . lidar com o sagrado e com o denioniaco.,
44 45
I ,,,,
II
i ~~.-"'
I
Estas funções não estão listadas em ordem de importância. Para algumas pesso- Performcr de máscara
. . makishi, Zâmbia.

'I as, uma ou algumas dessas funções serão mais importantes que as outras ..Mas essa
hierarquia mudará de acordo com quem você é e com o que qu.er fazer, Nenhuma
Foto: cortesia de
Richard Schechner:
performance exerce todas.esss~~. funções.rnas muitas enfatizam m~.~ de uma.
I Muito raramente uma performance f ocaliza uma única função, ou mesmo duas .
Uma demonstração derua ou uma peça propagandística pode se r prioritariamente voltada
para ensinar-persuadir-convencer, mas também tem que entreter e pode, igualmente,
estimular a comunidade. Xamãs curam, mas também entretém, estimúlam a comunidade
e lidam com a esfera do sagrado/demoníaco. A postura de um médico ao lado da cama
do paciente é uma performance de encorajamento, ensino e cura. As missas de uma
. igreja Cristã Carismática-curam, entretêm, mantêm a comunidade solidária, invocam a
ambos, Deus e o demônio e, se o sermão for tolerável, às vezes ensinam também. Se
alguém durante a missa declara terse encontrado com Jesus e renascido, sua identida-
\;\
de é, então, ma rcad a e modificada. O presidente falando à nação, quer convencer ~
estimul ar a comunidade- mas é melhor que entretenha o público se quiser que c: ouça.
Rituais tendem a ter o máximo número de funções, enquanto as produções'comerciais
têm o mínimo. Um musical da Broadway vai entretê-lo , e pouco mais do que is;~ Essas
sete funções são melhor representadas como esferas que interagem ese 'sobrepõem
como numa network.
Obras inteiras, e até gêneros de obras perfo rmáticas, podem ser moldados para
funções bem específicas. Há exemplos de performances políticas ou propagandísticas'
em todo o mundo. O Teatro Campesino da Califórnia, criado nos anos 1960 para apoiar
imigrantes mexicanos que trabalhavam em fazendas no calor de uma greve- bastante lar o crescimento de um tipo de comunidade baseada nos valores do comunismo chi-
conflituada, estimulou a solidariedade entre os grevistas, educou-os a respeito das nês , do modo como Jiang os interp retava. Essas peças de teatro e ballet, empregavam.
questões implicadas no movimento, atacou seus patrões e também os entreteve. Gru- . tanto elementos tradicionais da performancechinesa (adaptados às propostas da Re-
pos como o Greenpeace.e o Actup usam a performance como parte de sua militância por volução Cultural), quanto elementos da música e encenação ocidentais. A visão utópi-
uma ecologia humana mais saudável ou para angariarfundos para pesquisa e tratamen- ca' das óperas modelo·contrastava com o terrível fato de ·q ue milhões foram mortos,
to da AIDS. "Teatro para o desenvolvimento" , como praticado' na África, Ásia e Amé- torturados e exilados pela Revolução Cultural. Mas na virada do século XXI, esses
rica Latina, educam pessoas sobre uma vasta gama de temas, do planejamento familiar espetáculos foram novamente performados , estudados e apreciados por sua capacida-
e prevenção de doenças, até a irrigação de plantios e a proteção de espécies ameaçadas. de de entreter, sua excelência técnica e inovações artísticas .
O Teatro do Oprimido de Augusto Boal (1931), fortalece os espectadores, estimulan- Entretenimento significa alguma-coisa produzida para agradar o público. Mas o.'
do-os a encenar, analizar.e mudar suas situações de vida. que agrada a uma audiência, pode não agradar a outra. Portanto, ninguém pode-especi-
O Teatro do Oprimido de Baal li, de certo modo, baseado na obra .de Brecht, fi~ar o que, exatamente, constitui .o entretenimento-exceto para dizer que quase todas
especialmente na sua Lehrstucke (Espetá~ulosãeAprendizado) que ele.produ~~u nos as .perforrn ances lutam, de uma maneira ou de outra, para entreter. Eu incluo nesta
anos 1930, tais como Asmedidas tomadas ou A exceção e a regra. Durante a.Revolução . observação, tanto as performances popul.ares, quanto as mais sofisticadas, além dos
Cultural Chinesa, que ela mesma ajudou a orquestrar, Jiang Qing (1914-1991) produziu rituais edas performances do dia-a-dia. O que dizer das performances de vanguarda ou
uma série de "óperas modelo", cuidadosamente forjadas para educar, entreter e estimu- das performances políticas, criadas para ofender? Eventos de Teatro de Guerrilha pro -
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. vocarn rupturas e até destruição. Esses efeitos não são entretenimento. Porém, a arte
de todos os tipos de fronteiras. Internet, globalização, e a sempre crescente pres~nça da
ofensiva é dirigida a dois públicos simultaneamente - aqueles que não acham a mídia afetam o comportamento humano em todos os níveis. Mais e mais pessoas expe-
obra agradável e aqueles que se sentem entretidos pelo desconforto que a obra rimentam suas vidas como seq üências de performances conectadas: vestir-se para uma
causou aos primeiros. festa, ser entrevistado para um emprego, brincar com papéis masculinos e femininos e
O belo é difícil de definir. O sentido do belo não é ser bonito. Os eventos medo-
com a própria orientação sexual; viver papéis da vida pessoal como os de mãe e filho, ou
nhos e aterradores do teatro kabuki, da tragédia grega, d.o teatro elizabetano e de da vida profissional, como os de médico ou professor. Este senso de que a performance
algumas formas de arte performática não são- bonitos. Tampouco poderíamos dizê-lo
está em todo lugar é enfatizado pelo ambiente cada vez mais midiatizado em que vive-
dos demônios evocados pelos xamãs. Mas a habilidosa encenação de horrores pode
mos: onde nos comunicamos por fax, telefone e internet; onde uma quantidade ilimitada
ser bela e proporcionar prazer estéti~o. Seria isto verdadeiro para flagelos humanos , de·i·;formaçÕ_~s e entretenimento vem pelo ar.
como a escravidão negra ou o extermínio dos povos nativos da América? Francisco de
Uma ma;1eira de ordenar esta situação tão complexa é o:ganizar os gêneros de
Goya Luciente (1746- 1828), em Os Desastres da Guerra, mostra que nessas ocasiões,
performa~ce, os comportamentos perforrnativos e as atividades perforrnáticas em um \
nada é visto sob o espectro purificador do tratamento artístico. A filósofa Suzane K. ~\
continuum. Esses gêneros , comportamentos e atividades não se sustenram cada um \
Langer (1895 - 1985) argumentou que na vida as pessoas podem passar por terr íveis
por si. Como no. espectro da luz visível, eles se mesclam uns d~ntro dos outros; suas :1.
experiências, mas que na arte essas experiências são transformadas em "forma ex~res­ fronteiras são indistintas. Eles interagem uns com os outros. Esse continuum fo i dese-
siva". Uma das diferenças entre a vida e a arte é que na art~ nós não experimentamos os nhado numa li~ha reta para acomodar os limites da folha de papel. Se eu pudesse
eventos em si mesmos, mas as suas representações. Esta noção estética ·'ol...~4ica é
. " trabalhar em três dimensões, eu desenharia esses r~laci<?namentos mai~ como urna
desafiada nessa época de dissimulação, virtualizaç ão, artistas performáticos e atores de
netvx?rk de esferas interligadas que:se sobrepõem. Por exemplo, apesar de apare~erem na
webcani, que exercem comportamentos da vida real diante dos nossos olhos. Uma linha 'reta como dois pólos opos~os, ritual e brincadeira são gêneros intimamente inter-
consid~rável quantidade de obras de arte pós-moderna não oferece aos observadores relacionados. De certo modo, eles sustentam todos os demais como uma fundação.
objetos ou ato para a contemplação. Portanto, jogos, esportes, entretenimentos populares e artes performáticas in-
cluem muitos gêneros, cada qual com suas convenções} regras, história e tradições.
Conclusão Uma enorme variedade de atividades atendem a essas especificações. Uma mesma
Há muitas maneiras de entender a performance. Qualquer evento, ação ou com-
atividade pode ser amplamente variada, como o cricket por exemplo. O cricket das
portamento pode ser examinado como se fosse performance. O uso deste conceito é
competições oficiais não é o mesmo que se joga nurncarnpinho comunitário . E o cricket
vantajoso . Podemos considerar as coisas interinamente, em processo, conforme elas
jogado nas ilhas Trobriand - onde este se tornou um encontro ritualizadoentre cida-
mudam através do tempo. Em cada atividade humana há, normalmente, muitosjogado- des, com o time anfitrião sempre vencendo' e com exibições de dança tanto quanto do
res cujos pontos de vista, objetivos e sentimentos são diferent~s e, às vezes, opostos
es~orte em si ., também é uma outra coisa. E, no entanto algumas generalizações embora
entre si . Utilizando a ferramenta conceitual do como se fosse performance, podemos
os gêneros sejam distintos (quem confundiria o Quebra Nozes e o campeonato brasílei-
examinar coisas que, de outro modo, estariam fechadas à investigação. Formulamos
ro?) : 'bailet e futebol envolvem movimento, contato, lançar, carregar, cair e correr de um
questões da performance em relação a eventos: Como um evento dispôs do espaço e se
lado para o outro; em algumas culturas, teatro, dança e música são tão completamente
revelou ao longo do tempo? Que roupas e objetos especiais foram utilizados? Que papéis
integrados que é impossível classificar um dado evento em qualquer das trê~.cat~~orias; o
foram interpretados e como estes diferem (se é que diferem) daquilo que os performers
Katakali indiano.a performance conhecida na Zâmbia como Makishi e a Dança do Veado,
realmente são? Como os eventos são controlados, distribuidos, recebidos e avaliados?
dos Yaqui~ são apenas alguns dos muitos exemplos que integram música, teatro e dança.
Ser performance é um conceito que se .refere a eventos mais·definitos e delimita-
Performances da vida diária e da construção de identidade são relativamente
dos, marcados por contexto, convenção, uso e tradição. Todavia, nestecomeço do.
fluidas quando comparadas arigida diferenciação entre as demais. Mas não significa
século XXI, distinções clássicas entre como se fosse performance e ser performance
que não haja regras também nesta área. Até mesmo a interação social mais aparente-
estão desaparecendo. Isto é parte de uma tendência geral direcionada para a dissolução
mente casual é guiada por regras culturalmente específicas. Educação, boas maneiras,
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u O C ,U M E NT O

linguagem corporal e outras atividades, todas operam de acordo com cenários conheci- ARTES NEGRAS:
dos. A especificidade das regras difere conforme cada sociedade e cada circunstância.
UNA PERSPECTIVA AFROCÉNTRICA
Mas não há interação social humana que seja fora da lei, ou queseja independente de,
. I
quaisquer regras.
ALEJANDRO FRICERIO

TERMOS E DEFINIÇÕES

La unidad y a la vez diversidad de características que se pueden encontrar';


Reflexivo - que se refere a si mesmo.
-"---"'en. l~~ culturas afroamericanas ha sido notada desde los pioneros estudios
Comportamento Restaurado - ações físicas ou verbais que são preparadas, ensaiadas
de Herskovits hasta los más recientes trabajos de Robert Farris Thompson -
ou que não estão sendo exercidas pela primeira vez. Uma pessoa pode não estar cons-
entre otros especialistas. En este trabajo se proponen seis cualidades que
ciente de que está exercendo um pedaço de comportamento restaurado. Também men-
caracterizan a la performance artística afroarnericana, en base sobre todo a las\
cionado como Comportamento Duplamente Exercido.
reglassociales que parecen regir su producción y el desempeno de los partici- :\
Performances de Fazer Crer - de faz-de-conta, onde se mantem uma fronteira clara-
pantes en la misma. Esta sería multi dimensional, participativa, ubicue en la vida!
mente marcada entre o mundo da performance e a realidade diária.
cotidiana, básicamenteconversacional, resalta el estilo individual de cada parti-
Performances de Fazer Crenças - dissolvem esta barreiraintencionalmente;- ",-;! '
cipante y cumple nítidas funciones sociales.
, Princípio da Incerteza de Heisenberg - princípio da mecânica quântica que estabelece
'que a medida acurada de urna entre duas quantidades observáveis que se inter-relacio- " Performance afro-ameríndia; culturas afro-americanas; diversidade.cultura
nam provocará incerteza na medida da outra, de modo que, enquanto cada quantidade 'popular; vida cotidiana.
isolada pode ser medida com acuidade, as duas juntas não podem ser medidas além de
umcerto nível de acuidade. La unidad y a la vez la diversidad de característicasque se pueden encontrar' en
las culturas afroarnericanas han preocupado a muchosestudiosos del tema, desde
Herskovits (194~) y su escala de retención de «africanismos», hasta los más ~ecientes
'Os eventos mencionados pelo autor ocorrem sobretudo nas igrejas protestantes afro-americanas, esfuerzos de Thompson (1983) por identificar las influencias africanasen el arte y la
marcadas P?r emocionantes interpretações de Gospel, além de transes em que fiéis dançam possuí-
dos, conforme a crença, pelo próprio Espírito Santo. (N.T.) filosofía de los pueblos negros de las Américas. Para entender este fenórneno, los
lA comparação com o ritual foi inserida na tradução, para que o exemplo do autor fosse mais estudios más recientes parecen coincidiren I~ necesidad de una perspectiva afrocéntrica
compreensível a partir de uma perspectiva cultural brasileira, onde o misticismo é mais presente nas
idiossincrasias sexuais de um modo geral, enquanto 'o mundo dos negócios é uma comparação mais
(Uya 1989,1990); a lacua1, en este trabajo, entenderé corno la importancia de reconocer
restrita ao sexo no contexto específico da prostituição. (N.T.) característicascomunes de las culturas africanas para explicar las similitudes en deter-
3Grifo da tradução. n:inados aspectos delas manifestaciones cuiturales afroamericanas. Postularé, ai igual
4Grifo nosso.
que Mint~ y Price, que
Spr~tica que, na verdade, antes de ser difundida como parte do colonialismo, pertencia a relativamen-
te poucas culturas. (Nota do Autor) ,
ALEJf.\NDRO FRlGERfO é Ph.p em antropologia pela University of California, Los Angeles (1989)
6Bom exemplo disso foi a "gafe': da BBC de Londres aoexibir ern cadeia mundial as imagens de George
W. Bush memorizando o texto de um pronunciamento sobre a guerra ao Iraque enquanto uma e pesquisador independente do CONfCEC (Consejo Nacional de lnvestigaciones Ci~'ntíffcas y Técni-
cabelereira terminava de ajeitar-lhe o penteado. (N.T.) cas, Argentina). É autor do livro Cultura Negra en e! Cano Sur (Buenos Aires, 200, co-editor, com
Gustavo Lins Ribeiro, Do livro Argentinos e Brasileiros: Encontros, imagens e esteriâtipos (Brasil,
..............
2002); co-autor (com Carlos Hasenbalg) de imigrantes brasileiros na Argentina (Rio de Janeiro,
1999). Publicou mais de cinquenta trabalhos sobre religiões afro-brasileiras, migrantes brasileiros,
cultura negra e novos movimentos religiosos em revistas científicas e livros de Argentina, Brasil,
Estados Unidos, Itália, França, Bélgica, Uruguai e México. '

O PERCEVEJO ANO fi, 2003, NU 12: 51 A 67


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