Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
ECONOMIA
2007
Textos elaborados e de responsabilidade do Prof. Uranilson Carvalho.
Costuma-se dizer que todo brasileiro tem um pouco de técnico de futebol, médico e
economista. Este argumento é até certo ponto aceitável. O futebol, como esporte principal
no Brasil, leva os torcedores a dominar alguns fundamentos básicos dessa atividade, e
conseqüentemente, conhecer, ou pelo menos achar que conhece táticas que possam levar
seu time à vitória. Com a dificuldade de acesso de grande parte da população ao sistema de
saúde pública de qualidade, busca-se a medicina caseira, porquanto a automedicação
predomina nos lares das famílias brasileiras.
Porém, podemos perceber que apesar da maioria dos brasileiros conviverem com a
adversidade econômica e principalmente a social, isso não lhes dá condição suficiente para
permitir o entendimento das forças que movimentam a atividade produtiva e financeira do
país.
Para esclarecer alguns dos principais aspectos que dizem respeito à Economia,
elaboramos esse livro introdutório e o separamos em capítulos que irão permitir a
compreensão de temas econômicos ao longo da sua leitura. No primeiro capítulo, faremos
uma rápida abordagem ao surgimento da Economia, desde a fase que antecede o sistema
capitalista aos dias atuais. Dando seguimento, dissecaremos o problema da escassez dos
recursos e mostraremos como é feita a discussão sobre a forma de atingir o nível de bem-
estar desejado pela população, malgrado a escassez dos recursos. Na terceira etapa, será
feita uma explicação sobre o mercado e seu funcionamento e no quarto capítulo
mostraremos a dinâmica do sistema produtivo. Do quinto ao oitavo capítulos serão
abordados temas de ordem macroeconômica, como: inflação e suas causas; em seguida, as
discussões sobre o sistema financeiro e a política econômica; o subdesenvolvimento e
encerraremos com o estudo do comércio externo e uma breve análise da nova dinâmica
econômica mundial.
Introdução
Neste capítulo, faremos um breve passeio pela história da formação econômica, para
percebermos o surgimento da Economia como ciência. Constataremos que em nosso mundo
as metamorfoses devem-se, em sua grande maioria, às decisões econômicas, capazes de
operar transformações na estrutura de um país e nos hábitos de seu povo.
Do Imperialismo ao Feudalismo
A inflação persistente propiciou o acúmulo dos metais preciosos por parte dos
comerciantes, o que, por sua vez, deu ensejo a uma ampla revolução, donde emergiria um
novo modo de produção que transformaria os costumes do povo da época.
A Indústria e os Economistas
Nessa época pairavam muitas dúvidas e incertezas: Como explicar uma sociedade
cujos meios de produção não dependiam mais da mão-de-obra forçada nem dos costumes?
Uma sociedade com um Estado incapaz de tomar decisões quanto ao destino da economia
de uma Nação? As respostas às indagações supracitadas viriam da escola clássica, cujo
principal mentor foi o economista escocês Adam Smith. Em seu livro, A Riqueza das
Nações, publicado em 1776, expõe uma doutrina econômica que trata das transformações
que o velho mundo estava sofrendo, tornando-se o primeiro ideólogo a receber a confiança
da burguesia industrial.
Neste período, houve avanços técnicos expressivos, dentre outros, cabe destacar os
ocorridos na indústria de tecido com a máquina de fiar por Hargreaves em 1770; o filatório
tocado por água, criado por Arkwright em 1769; o filatório de Crompton de 1779 e o
filatório autônomo introduzido por Kelly em 1792; porém, nenhuma dessas invenções
existiria sem a máquina a vapor de Watt de 1767. Além do processo de pudlagem e o
laminador, ambos de Cort, em 1784. (Dobb, 1963)
Foi exatamente neste clima desesperador que apareceu um dos mais eminentes
economistas do século XX, John M. Keynes. A sua capacidade de avaliar o contexto
econômico levou-o a criar um modelo capaz de tirar o capitalismo da crise. A sua análise
iria de encontro às dos economistas clássicos. Criticava severamente a lei do laissez-faire e
defendia a presença de um Estado moderado na Economia, trabalhando em parceria com a
Certamente, já deu para perceber algo estranho nesta suposição. Nenhum país tem
condições de atender a todas as necessidades de sua população, sem limites de quantidade.
Os desejos dos homens nunca alcançarão plena e total satisfação, sempre serão
procuradas novas formas de consumo. Mesmo em sociedades de países com alto nível de
desenvolvimento não é possível atingir o limite, mesmo que se alcancem excelentes níveis
de bem estar. O ser humano sempre almeja formas que possam melhorar, cada vez mais,
seu padrão de vida.
Exemplos Hipotéticos
NAS FAMÍLIAS
ORÇAMENTO FAMILIAR
A família do Sr. João possui uma renda mensal líquida de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) distribuída da seguinte maneira:
INDÚSTRIAS
NOS GOVERNOS
GOVERNO MUNICIPAL
(Orçamento Público)
Vamos admitir que uma cidade de pequeno porte que possui uma receita de R$
2.000.000,00 (dois milhões de reais) provenientes do ISS, IPTU e das Transferências do
Governo Federal. Elaborou o seguinte orçamento, levando em conta sua limitação de
recursos:
Tabela 2 – Síntese de um Orçamento Municipal Hipotético
Pleno Emprego é uma situação hipotética caracterizada pela plena utilização dos
recursos disponíveis (mão-de-obra, capital e matéria-prima), ou melhor, a inexistência de
capacidade ociosa na utilização dos recursos.
A tabela abaixo mostra as combinações possíveis, dada a escassez dos recursos e seu
pleno emprego, na produção de dois bens: ARROZ e FEIJÃO.
QUANTIDADES
POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO
(t)
ARROZ FEIJÃO
A 35 0
B 30 15
C 20 30
D 10 40
E 0 45
GRÁFICO 1
(t)
45 E
* PLENO EMPREGO
40 D
30
C
∆Y
15 B
∆X
A
ARROZ (t)
0 10 20 30 35
Importante:
• Nenhuma nação alcança o Pleno Emprego, pois haverá sempre uma parcela da população
desempregada, mesmo que voluntariamente, e máquinas e equipamentos podem estar sendo
sub-utilizados. Na prática, o sistema produtivo dos países encontra-se aquém da “fronteira”
máxima de produção. Porém, não impede aos agentes econômicos (empresários, governos e
consumidores) desejarem uma aproximação do Pleno Emprego.
FÓRMULA:
CO = Custo de Oportunidade
CO = ∆Y ∆Y = Variação da quantidade Y
∆X ∆X = Variação da quantidade X
PERGUNTA 1:
CO = ∆Y ... CO = 15 = 1,5t
∆X 10
CONCLUSÃO: Para produzir 1 (uma) tonelada de arroz a mais, teremos que deixar de
produzir 1,5 toneladas de feijão.
PERGUNTA 2:
CO = ∆X ... CO = 10 = 0,66 t
∆Y 15
CONCLUSÃO: Para cada tonelada de feijão que se produz a mais, deixa-se de produzir
0,66 t de arroz.
EXERCÍCIO HIPOTÉTICO
Todos os recursos citados acima estão nas suas capacidades máximas de utilização,
não havendo ociosidade (Pleno Emprego). A Economia desse país está totalmente voltada
para o setor agrícola, com todos os recursos disponíveis empregados no cultivo do trigo, a
produção observada foi de 400 t. Mas, em 1994, os agricultores, decidiram dedicar-se à
produção de outro bem, o algodão. Mantendo-se os mesmos recursos, as produções foram
as seguintes: 300 t de trigo e 100 t de algodão. Em 1995, com o crescimento da indústria de
tecido do país vizinho, objetivando ganhos com o comércio externo, os agricultores
escolheram em aumentar a produção de algodão – que serve de matéria-prima à indústria de
tecido – com os recursos disponíveis constantes. Obteve-se as seguintes produções : o trigo
caiu para 160 t e o algodão aumentou para 200 t. No ano de 1996, persistindo na mesma
política de incentivo ao algodão, a produção foi para 300 t, impossibilitando a produção do
trigo.
QUESTÕES:
B. Supondo que a Economia esteja no ano de 1993, qual o custo de oportunidade para
conseguir o nível de produção do ano de 1994?
C. A Economia está no ano de 1995, qual o custo de oportunidade para produzir mais
trigo, ou seja, voltar ao nível de produção conseguido no ano de 1994?
SOLUÇÕES:
A.
PRODUÇÃO DE
TRIGO 1993
(t) 400
∆Y B
1994
300
∆XX
∆Y C
1995
160
∆XX
100
1996
CO = ∆Y ... CO = 100 = 1 t
∆X 100
Para cada tonelada de algodão que o país queira aumentar, terá que deixar de
produzir 1 t de trigo, dessa forma, para os agricultores produzirem 100 t de algodão,
deverão deixar de produzir 100 t de trigo.
C. Inverte-se a fórmula:
Para cada tonelada de trigo a mais, o país terá que renunciar a 0,72 t de algodão,
asim, para o país produzir 140 t de trigo, reduzirá, necessariamente, em 100 t a produção de
algodão.
A busca do bem-estar suscita dúvidas sobre quais os caminhos que devem ser
seguidos para atingi-lo. Em qualquer país, independente do grau de desenvolvimento, os
desejos desmedidos do homem tornam os bens sempre escassos e insuficientes. É essa
escassez, como já vimos, que leva os gestores a se deterem sobre esses delicados
problemas.
Essa simples atitude ⎯ trocar os excedentes dos bens e serviços que não se tinha
condição de produzir ⎯ deu origem aos mercados. Assim, podemos dizer que o mercado
atual, mantendo sua acepção tradicional, é o local onde se processam as compras e vendas
de mercadorias e serviços. Os vendedores representam a oferta de bens e serviços, e os
compradores a demanda por bens e serviços. Neste sentido, a interação entre a demanda e a
oferta gera os mercados que, por sua vez, serão orientados pelos preços.
Percebemos até agora, em nossa análise sobre o mercado, uma única variável capaz
de modificar os desejos dos produtores e consumidores em aumentar ou diminuir as suas
quantidades – o preço. As demais variáveis, no lado da Demanda: a preferência, a sua
necessidade, os preços de produtos similares etc.; e o lado da Oferta: o fator tecnológico, o
PREÇOS QUANTIDADES
(R$) DEMANDADAS (kg)
2,00 80
4,00 60
5,00 50
6,00 40
8,00 20
6
5
4
20 40 50 60 80
QUANTIDADES (kg)
PREÇOS QUANTIDADES
(R$) OFERTADAS (kg)
2,00 20
4,00 40
5,00 50
6,00 60
8,00 80
PREÇOS (R$)
6
5
4
20 40 50 60 80
QUANTIDADES (kg)
O preço mais baixo pode desestimular a produção, pois não será suficiente para
arcar com todos os custos inerentes à fabricação de um determinado bem. Muitos
empresários optarão em reduzir sua produção ou mesmo sair do mercado, deixando de
ofertar seu produto, numa perspectiva da elevação dos preços. Já os preços mais altos tende
a atrair os produtores devido à expectativa em obter maiores lucros.
GRÁFICO 5
PREÇOS (R$)
OFERTA
8
EXCESSO
6
5 PONTO DE
EQULÍBRIO
4
ESCASSEZ
2
DEMANDA
20 40 50 60 80
QUANTIDADES (kg)
SIMPLIFICANDO
Gráfico da Demanda
Preço ↑ Quantidade ↓
Inversamente proporcionais
(Inclinação negativa)
Preço ↓ Quantidade ↑
Gráfico da Oferta
Preço ↑ Quantidade ↑
Diretamente proporcionais
(Inclinação positiva)
Preço ↓ Quantidade ↓
Foramção do Mercado
Preço de equilíbrio
Quantidade ofertada = Quantidade demandada
Elasticidade-Preço da Demanda
GRÁFICO 6
PREÇOS
(R$) Ed = ∆Q%
∆P%
Ed = 200%
9,00 50%
Ed = 4
Ed > 1 → Elástico
A
6,00
∆P% B
3,00
Gráfico 7
PREÇOS
35,00 Ed = ∆Q%
(R$) ∆P%
30,00 Ed = 50%
66,6%
25,00
9,00 Ed ≈ 0,75
D Ed < 1 →Inelástico
20,00
6,00
∆P% 15,00 C
10,00
3,00
5,00
0,00
0 300
200 600
400 900
600 800 1000
∆Q% QUANTIDADES
(kg)
PREÇOS
35,00 Ed = ∆Q%
(R$) ∆P%
30,00 Ed = 50%
9,00
25,00 50%
E Ed = 1
6,00
20,00 Ed = 1 → Unitário
∆P% 15,00 F
3,00
10,00
5,00
0,00
0 300
200 600
400 900
600 800 1000
∆Q% QUANTIDADES
(kg)
Observação 2:
Demanda Elástica : A curva tende a ficar paralela com o eixo dos “x”.
Fórmula:
GRÁFICO 9
PREÇO
35,00
(R$)
Eo = ∆Q%
9,00
∆P%
25,00 Eo = 200%
100%
20,00
6,00 Eo = 2
Eo > 1 → Elástico
15,00
∆P%
10,00
3,00
5,00
∆Q%
0,00
0 400 300 600 900 800 1000
QUANTIDADES (kg)
GRÁFICO 10
35,00
PREÇO
(R$) Eo = ∆Q%
∆P%
Eo = 100%
25,00 200%
Eo = 0,5
9,00
20,00 Eo < 1 → Inelástico
∆P% 6,00
15,00
10,00
3,00
5,00
0,00
0 300
400 600
QUANTIDADES (kg)
∆Q%
GRÁFICO 11
PREÇO
35,00
(R$)
Eo = ∆Q%
9,00 ∆P%
25,00 Eo = 200%
200%
20,00 Eo = 1
6,00
∆P% Eo = 1 → Unitário
15,00
3,00
10,00
5,00
0,00
0 400 3600
1000 6 9
800
∆Q%
QUANTIDADES (kg)
Observação 3:
Durante nosso estudo, relatamos que o encontro entre a oferta e a demanda gera o
mercado e, conseqüentemente, o preço ideal, tanto para os vendedores como para os
compradores, fato que ocorrerá naturalmente, desde que não haja a interferência do Estado
na economia, sendo o mercado livre. Lembramos que a teoria supracitada só é possível
manifestar-se nos mercados de ampla concorrência.
Espera-se que a queda das vendas faça os preços despencarem. No entanto, nos
mercados formados por oligopólios ocorre geralmente o contrário: há uma tendência de
subida de preços, objetivando a manutenção das margens de lucro.
O monopólio é o domínio de todo o mercado por uma única empresa que oferta um
produto sem similares. O monopólio é o oposto de um mercado de ampla concorrência.
Não é de hoje que existe a polêmica entre essas duas facções ideológicas,
questionando qual das duas deve assumir o papel principal na condução das ações
necessárias a manter a solidez de uma nação.
• mão-de-obra;
• capital (máquinas e equipamentos);
• recursos naturais e matéria-prima;
• processo tecnológico;
• dinamismo empresarial.
O sistema produtivo torna-se mais eficiente com a utilização mais adequada dos
recursos de produção. Ressalvando que todos os recursos são fundamentais, cada um
desempenhando seu papel e tentando alcançar um denominador comum: a produção. Logo,
a má utilização de alguns dos fatores de produção comprometerá o sistema como um todo.
SALÁRIO
LUCRO
DEMANDA OFERTA
POR BENS E MERCADO DE BENS E
SERVIÇOS SERVIÇOS
SETOR
UNIDADES PRIMÁRIO
DE SETOR TERCIÁRIO
PRODUÇÃO
SETOR
SECUNDÁRIO
PRODUÇÃO
DURÁVEIS
NÃO DURÁVEIS
O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de tudo que se produziu durante um ano em
um determinado país. No Brasil seu cálculo é de responsabilidade do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), que leva em consideração os preços dos bens e serviços
vendidos aos consumidores finais – preços correntes. É um levantamento de informações
extremamente complexo, que tenta expressar em números o total das diversas atividades
econômicas como a produção: de automóveis, de casas, de alimentos, de cortes de cabelos,
de serviços médicos entre outros. Portanto, quanto maior o volume de bens e serviços
novos produzidos, maior será o tamanho de uma economia. É importante destacar que só
são considerados para efeito de cálculo do PIB, aqueles bens e serviços produzidos no
território nacional, durante o ano em análise, independente da nacionalidade da empresa.
Assim, se um automóvel foi produzido, por exemplo, em 2004 e vendido em 2005, será
considerado o valor do veículo no ano da sua fabricação, portanto 2004. Assim, esse bem
contribuiu para o PIB de 2004.
O PIB também serve para analisar e comparar o tamanho das economias entre
países e, principalmente, para verificar seu desempenho em relação aos anos anteriores.
Quando falamos que um país está em crescimento, estamos na verdade comparando o
quanto o PIB cresceu, percentualmente, em relação ao ano anterior, extraindo daí
obviamente o reajuste dos preços provocado pela inflação. Esperasse que o crescimento do
PIB permaneça constante e, se possível, crescente. A queda do PIB em comparação ao ano
anterior ou mesmo o baixo crescimento deste, representa uma grande preocupação, pois,
significa que o país em análise teve uma redução na produção de bens e serviços ou o
crescimento está sendo insatisfatório. Em última estância, essa diminuição ou fraco
desempenho podem representar uma redução nas oportunidades de empregos e queda da
renda da população.
O PIB Per Capita (por cabeça) representa o valor do PIB dividido pela população,
possibilita uma dimensão mais adequada da participação de cada indivíduo no PIB do país.
TAXA DE
CRESCIMENTO
ANO PIB Variação PIB PER CAPITA
real anual
(%)
2000 1.179.482 4,3 6.886,3
2001 1.302.136 1,3 7.491,2
2002 1.477.822 2,7 8.378,1
2003 1.699.948 1,1 9.497,7
2004 1.941.498 5,7 10.691,9
2005 2.147.944 2,9 11.661,9
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas e Coordenação de Contas Nacionais.
John M. Keynes, na década de 30, declarava nos seus escritos que seria imposto um
grande empecilho à sociedade, em conseqüência do aumento da robotização dos meios de
produção: “o desemprego tecnológico”.
Todos desejamos a moeda, uns com mais intensidade outros com menos. Sua
importância leva os indivíduos a lutarem, objetivando sua acumulação. Quem a detém em
grande quantidade ganha “status”, o que lhe possibilita um padrão de vida melhor, com
mais conforto. Por outro lado, quem a ela não tem acesso empobrece, mantendo um baixo
padrão de vida. O fator capaz de distinguir socialmente os indivíduos, entre a riqueza e a
pobreza, é a moeda.
Quando ainda não existia a moeda, o mercado baseava-se nas trocas, ou seja,
permutava-se bens por bens, bens por serviços e serviços por serviços. Dessa forma, quem
desejasse obter algum produto teria que dispor de um objeto que pudesse utilizar na troca e
encontrar um indivíduo ad hoc. Por exemplo, o produtor de batatas que desejasse um par de
ferraduras teria que encontrar um ferreiro desejoso de adquirir batatas. Além disso, era
preciso determinar os valores: Quantas batatas eram necessárias para obter o par de
ferraduras? Esse período de trocas ficou conhecido como Economia de Escambo.
Os donos das Casas de Custódia perceberam que poderiam emitir uma quantidade
maior desses papéis, mesmo sem o lastro (garantia) do ouro, sob forma de empréstimos, no
intuito de receber uma quantia em ouro superior à quantia oferecida no início. Com essa
prática aumentou a quantidade de papel-moeda em circulação.
Qual o mecanismo que será utilizado no futuro para dinamizar ainda mais o
comércio? Já estamos utilizando uma nova moeda à qual se dá o nome de moeda plástica
ou cartões magnéticos. Ao que tudo indica, num futuro próximo, a moeda que hoje
conhecemos tornar-se-á uma peça para numismatas ou museus. Inegavelmente, a moeda
plástica dá mais segurança, dinamismo e praticidade às relações comerciais.
→ meio de troca
As funções da Moeda → unidade de conta
→ reserva de valor
Mas, com a introdução das atividades bancárias que se restringiam à proteção dos
metais preciosos e de imprimir dinheiro, desencadearam-se crises cíclicas, tornando os
bancos instáveis, sujeitos a falências repentinas. Segundo John K. Galbraith os primeiros
bancos eram entidades frágeis: “. . . o milagre da criação da moeda por um banco, como
John Law demonstrou em 1719, podia estimular a indústria e o comércio e dar a quase
todos um sentido agradável de bem-estar. Os parisienses nunca sentiram-se tão prósperos
como naquele ano maravilhoso. E, como também foi demonstrado por Law, o resultado
poderia ser um dia terrível de juízo final . . .” (Galbraith, 1977: 31). Essa insegurança,
retratada por Galbraith, caracterizou o banco do escocês John Law, que, no ano de 1719,
prosperou e faliu. Essa fragilidade é condicionada por uma simples reação psicológica.
Caso todos os depositantes de um mesmo banco, por um motivo ou outro, solicitassem a
troca dos recibos pelo ouro ou prata ⎯ o que de fato ocorreu com o banco de Law ⎯
obviamente não haveria condição de atender a todos, porque a maioria dos papéis em
Sendo assim, caso se queira diminuir o grau de liquidez da Economia, ter-se-á que
aumentar a porcentagem dos depósitos compulsórios, ou seja, determinar que um volume
maior dos depósitos recebidos pelos bancos retornem ao Banco Central, reduzindo,
destarte, a quantidade de moeda escritural, que é o papel-moeda em poder dos bancos
pertencentes à população. Por outro lado, se a Economia estiver com escassez de liquidez, a
porcentagem dos depósitos compulsórios será diminuída, dando aos bancos a possibilidade
de colocar uma quantidade maior de papel-moeda na Economia.
Taxa SELIC
Com a queda da taxa SELIC haverá uma tendência em reduzir a atração dos
aplicadores aos Títulos da Dívida Pública do Governo Federal, com uma maior
disponibilidade de recursos financeiros esses tendem a ser investidos em atividades
produtivas que geram empregos e renda. Por isso, agora podemos ter uma compreensão
melhor o porquê dos empresários do setor produtivo pressionarem o COPOM para reduzir
mais expressivamente a taxa SELIC no Brasil. Por sua vez, o Governo Federal e o Banco
Central tomam uma postura mais conservadora, pois temem que tal atitude possa provocar
um surto inflacionário em decorrência de uma maior oferta de crédito, emprego e renda.
Os c) Títulos Públicos são papéis emitidos pelo governo, com objetivo de financiar
o déficit público e ⎯ como instrumento de política monetária ⎯ controlar o volume de
dinheiro. Neste caso, quando a política monetária é contracionista, o Banco Central vende
títulos com ampliação da sua remuneração, principalmente através da Bolsa de Valores,
reduzindo os recursos monetários disponíveis na economia. Na política monetária
expansionista, pratica-se o oposto, seguindo a determinação da Política Econômica do
governo, o Banco Central, compra títulos tornando-os menos atraentes pela redução dos
juros, aumentando com isso o grau de liquidez da economia.
Tal fato amplia-se num constante ciclo de subida exagerada dos juros. A dívida do
setor público sobe desmedidamente em relação ao PIB, deteriorando a relação dívida/PIB.
A Tabela 5 apresenta o alto grau de endividamento do setor público brasileiro ao longo da
década de 90.
1
O risco de se investir no país estão sendo avaliados pelas Credit Rating Agencies cuja função é montar
parâmetros para classificação dos riscos.
ANO RAZÃO
1990 36,7
1991 39,9
1992 38,2
1993 32,8
1994 28,5
1995 31,6
1996 33,3
1997 34,5
1998 42,4
1999 46,9
2000 49,5
Fonte: Banco Central do Brasil
2
Utilizaremos as terminologias: capital volátil, capital especulativo, capital de curto prazo e hot money como
sinônimos.
Caso as despesas superem as receitas, diremos que houve um déficit público, neste
caso, o governo terá algumas opções para financiá-lo: a) impressão de moeda, que
implicará numa Inflação de Demanda; b) ampliação da arrecadação, via aumento das
Para alcançar um Superávit Primário, por exemplo, o gestor público deve promover
cortes em qualquer despesa (exceto os juros) e/ou ampliar as receitas. As metas de
superávits primários vêm sendo estabelecidas como objetivo principal da Política Fiscal do
Brasil, para honrar em especial as dívidas financeiras.
A Política Fiscal pode influir sobre a atividade produtiva e sobre os níveis de preços
de um país. Quando o Governo amplia as obras públicas e/ou reduz o imposto de renda
(Imposto Direto, pois incide diretamente sobre a renda), pode permitir que ocorram efeitos
positivos na atividade econômica. Através de maiores investimentos em ferrovias, geração
e transmissão de energia e centros de pesquisas o Governo pode proporcionar uma maior
oferta de empregos diretos e, principalmente, indiretos pela capacidade desses
investimentos em promover desdobramentos importantes que tendem a estimular os
empresários a investirem cada vez mais. Se também reduzir o imposto de renda poderá
estimular o consumo devido a uma maior disponibilidade da renda. É importante ressaltar
que a perda de receita causada pela redução da alíquota do imposto de renda será
compensada por uma maior arrecadação dos impostos atrelados ao consumo e a produção
(ICMS, IPI, ISS entre outros) – chamados de Impostos Indiretos.
Além do PAI foi criado em 1995, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o
Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal dos Estados, seu objetivo principal
era estimular que os estados realizassem um planejamento orçamentário mais eficiente, em
troca os estados conquistavam o direito de refinanciar suas dívidas com a união. Nesse
caso, cabia aos estados a redução das despesas com pessoal, as privatizações, a elevação
das receitas, compromisso com o superávit primário e o controle do endividamento. Os dois
programas estabeleceram maior austeridade na administração pública, concretizando-se no
dia 04 de maio de 2000 na complexa Lei da de Responsabilidade Fiscal (LRF) que
introduziu regras na gestão pública, não permitindo, por exemplo, que os governos das três
esferas (municipal, estadual e federal) gastassem acima da receita prevista.
Os trabalhos mais recentes partem da hipótese de que os mercados não são perfeitos
e, portanto, as informações são assimétricas. As abruptas saídas e, assim, os ataques
especulativos ocorrem, principalmente, pelas crises na conta financeira. A aversão ao risco
coloca os investidores totalmente sensíveis aos rumores, reais ou não, sobre a economia de
determinado país. As mudanças de humor podem induzir o comportamento de “manada” ou
“contágio”.
Em suma, no caso dos países emergentes a lei de mercado não se aplica, por dois
motivos básicos: as informações são assimétricas e os investidores optam por informações
advindas dos rumores. Assim, países como o Brasil deve escolher ações que limitem a livre
mobilidade do capital financeiro, para reduzir a vulnerabilidade do país aos ataques
especulativos, pois mesmo com uma gestão política crível condizente com a disciplina
fiscal a nação continuará sofrendo com as abruptas saídas de capital de curto prazo.
Podemos notar que a atenção dispensada às Bolsas de Valores, não ocorre por
acaso, mas pelo fato inusitado da sua importância para a conjuntura econômica de um país.
Sua principal função é canalizar poupanças para os investimentos, ou melhor, é um tipo de
mercado onde encontram-se os que possuem dinheiro extra e desejam aplica-lo e os
possuidores de empresas que necessitam do dinheiro para investir. Dessa forma, quanto
maior o montante negociado, maior será o nível de investimentos.
Além das ações, também são negociados outros ativos financeiros, como os títulos
públicos, que o Banco Central vende ou compra, seguindo a determinação da política
monetária do governo.
O Estado, na busca do financiamento dos seus déficits ⎯ não optando pelo aumento
da carga tributária e nem por empréstimos externos ⎯ emite papel moeda; caso a produção
de bens e serviços não acompanhe o montante de dinheiro em circulação, a conseqüência
inevitável será a alta dos preços. Esse excesso de moeda sem lastro acarretará uma pressão
sob os preços. A inflação provocada pelo excesso de dinheiro é denominada inflação de
demanda.
É plausível detectar outras causas nos aumentos dos preços dos bens e serviços,
principalmente, se analisarmos a economia brasileira. Uma delas concerne ao
desenvolvimento econômico desequilibrado. Determinados setores cresceram, desprovidos
de estrutura que os viabilizasse. Essa má formação estrutural dá origem aos “pontos de
estrangulamento”. Vale lembrar, como exemplo, que no período do “milagre brasileiro”
Como já verificamos, o dólar serviu de âncora (lastro) para nossa moeda, ou seja, a
estabilidade do Real era garantida pela equiparação ao dólar. Portanto, qualquer variação na
moeda americana surtiria efeitos imediatos na moeda brasileira. Se os agentes econômicos,
por algum motivo, voltassem a comprar dólares, antevendo uma possível inflação, ocorreria
a desvalorização da moeda brasileira e, conseqüentemente, a elevação dos preços,
restabelecendo o processo inflacionário. A arma que o governo utiliza, para que isto não
ocorra, é manter um estoque de dólares em poder do Banco Central. Este, sempre que
necessário, promove leilões da moeda americana para evitar sua valorização. Para constituir
este estoque de dólares, o Governo Federal adotou a política de juros altos, visando atrair
o capital financeiro estrangeiro, puramente especulativo, para nossa Economia. Os juros
pagos aos especuladores internacionais, para manter seus dólares aplicados no Brasil, vêm
criando sérias dificuldades à nação. A dívida interna aumenta assustadoramente, para evitar
o colapso do real, foi necessário vender as empresas estatais (privatizações) para sanear o
déficit com os especuladores. Assim, descumpriu-se uma das promessas que era aplicar as
verbas advindas das privatizações em obras estruturais e sociais, utilizadas agora, apenas
para amenizar os efeitos negativos do plano.
América Latina, América Central, Ásia e África, além do “A” inicial, possuem
outros fatores em comum: os problemas econômicos, os alarmantes índices sociais e o
pouco interesse de grande parte dos políticos locais em questões de desenvolvimento.
Algumas pessoas, por interesse escuso ou, simplesmente, por desconhecimento dos
problemas, atribuem as causas desses desequilíbrios ao fator climático, ou seja, ao calor,
que predomina na maioria dos países pobres, impossibilitando o desenvolvimento dessas
regiões. Certamente, identificaremos outras causas plausíveis do nosso desequilíbrio
econômico e da conseqüente desagregação social, mediante uma rápida análise histórica e o
estudo das atuais políticas nacionais atreladas aos interesses de políticas internacionais.
Teremos, assim, uma visão mais completa, senão adequada, que facilitará sobremaneira
nossa compreensão do subdesenvolvimento.
No caso das colônias de exploração, as terras já eram utilizadas por parte de grupos
sociais bem definidos, o que dificultou a radicação. Distinguem-se nesse tipo de
colonização duas fases: a primeira como fornecedora de matéria-prima e mão-de-obra, e a
segunda como mercado para absorver produtos manufaturados do país matriz. As colônias
se limitariam a fornecer produtos primários e metais preciosos, como o ouro.
Posteriormente, os países exploradores passariam a escoar parte de sua produção
manufatureira nas colônias, consideradas extensão de seus mercados. Impedia-se, assim, o
crescimento industrial das colônias, reprimindo qualquer iniciativa de industrialização,
incentivando apenas o setor agrícola ou as atividades que eram do interesse dos
colonizadores. O Brasil é um exemplo típico de colônia de exploração, utilizada, a
princípio, pelos portugueses e, depois, através de um acordo, entregue ao domínio dos
ingleses. O modelo de exploração econômico, iniciado nas grandes navegações, refletiu nas
culturas dessas colônias, tornando-as nações subdesenvolvidas, com forte dependência dos
países ricos e na formação de uma classe política sem interesse de promover o
desenvolvimento autônomo de seu país.
O Estado de Pernambuco vive uma grande expectativa e, até um certo ponto, passa
por um clima de euforia, justificada em grande parte pelas seguintes constatações: as
conhecidas vantagens competitivas, como: a privilegiada localização geográfica, uma
razoável infra-estrutura, alguns centros de pesquisa de referência nacional e uma grande
diversidade produtiva; somadas ainda ao crescimento do terciário moderno e,
principalmente, ao conjunto de investimentos estruturadores que apontam para nosso
Estado, como a Refinaria de Petróleo e o desenvolvimento do Pólo Petroquímico, o
Estaleiro Atlântico Sul, que contribuirá com o soerguimento da Indústria Naval e a
expansão da Indústria Metal-Mecânica no entorno da Grande Recife, a Nova
Transnordestina, a duplicação da BR 101 entre outros.
Para que seja eficaz, uma política de desenvolvimento deve estar centrada na
questão da redução das desigualdades socioeconômicas, valorizando as potencialidades
locais sem perder a dimensão global, extraindo de cada território os produtos e serviços
capazes de proporcionar o acesso à renda das camadas mais pobres da população.
Esse processo para ser interrompido e até mesmo revertido torna imprescindível a
participação do Estado com a assistência técnica e a ampliação das linhas de financiamento
dos bancos de fomento, para induzir o processo centrífugo de expansão das atividades
produtivas que leve em consideração o formato de empreendimentos de pequeno porte,
capazes de empregar a mão-de-obra local ligadas à agricultura familiar, às cooperativas e às
associações entre outras organizações.
Todos esses fenômenos supracitados, induzem a uma falsa assertiva: que o final do
século XX, representa a supremacia da concepção ortodoxa do funcionamento do mercado,
inclusive, à gestão das políticas sociais. Entretanto, o presente texto pretende contribuir
para uma reflexão acerca de tal afirmativa. Explicitaremos que por detrás da cortina da
concepção neoliberal, existe uma complexa cadeia de Entidades sem Fins Lucrativos
mobilizadas, principalmente, pela sociedade civil, prestando serviços de bem-estar social
sobre a égide do Estado, tanto no que tange o financiamento e controle como na própria
execução dos projetos. Redirecionando o welfare state (Estado do Bem-Estar Social) para
um novo conceito, representado pela diminuição de gerência direta do estado na economia
e nos programas sociais – se comparado, principalmente, ao new deal adotado a partir de
1. Para adquirir bens e serviços que não podem ser produzidos internamente;
2. Para adquirir bens, serviços e matérias-primas cujos custos de produção são
menores, tornando seu preço final mais baixo;
3. E, finalmente, para exportar os excedentes de produção.
8.2. A Evolução
O estudo realizado até agora sobre o comércio externo nos proporcionou uma visão
geral da necessidade que os países têm de realizar transações comerciais e financeiras com
outros países. Entretanto, dessa comercialização poderão advir resultados positivos ou
negativos, dependendo da administração dos componentes que constituem o Balanço de
Pagamento.
Neste caso, quando ainda assim a conta de Capital e Financeira não consegue
superar o saldo da conta de Serviços e Rendas, fechando negativo o Balanço de
Pagamentos, apela-se para as reservas cambiais do país e à ajuda externa, principalmente,
do Fundo Monetário Internacional – FMI, cuja missão é socorrer as nações com dificuldade
em fechar o Balanço, sabe-se porém que essa ajuda amplia o endividamento externo do
país.
Em seu livro A Riqueza das Nações: Investigação Sobre Sua Natureza e Suas Causas,
Smith traça o seguinte quadro do comércio internacional: “Outorgar o monopólio do
mercado interno ao produto da atividade nacional, em qualquer arte ou ofício, equivale, de
certo modo, a orientar pessoas particulares sobre como devem empregar seus capitais – o
que, em quase todos os casos, representa uma norma inútil, ou danosa. Se os produtos
fabricados no país podem ser nele comprados tão barato quanto os importados, a medida é
evidentemente inútil. Se, porém, o preço do produto nacional for mais elevado que o
importado, a norma é necessariamente prejudicial . . . O alfaiate não tenta fazer seus
próprios sapatos, mas compra-os do sapateiro. O sapateiro não tenta fazer suas próprias
roupas, e sim utiliza os serviços de um alfaiate . . . Se um país estrangeiro estiver em
condições de nos fornecer uma mercadoria a preço mais baixo do que a mercadoria
fabricada por nós mesmos, é melhor compra-lo com uma parcela da produção de nossa
própria atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem” (Smith,
1776, pp. 438/439)
O mercantilismo no século XVI à XVIII, Adam Smith no século XVIII e Karl Marx e
Engels no século XIX, representam alguns dos períodos em que se manifestaram as idéias
sobre a globalização da economia, indícios empíricos importantes que nos levam a defender
a hipótese e a refletir sobre a questão da interdependência entre as nações como um
processo histórico, sendo o final do século XX e o início do XXI, mais uma fase do
desenvolvimento do capitalismo, representando avanços consideráveis na tecnologia da
comunicação, do sistema financeiro internacional, da oligopolização dos mercados e das
diversas formas de intercâmbio entre firmas multinacionais.
As novas regras firmadas na “Rodada Uruguai” ficaram sob o controle da OMC, que
desde a sua criação em janeiro de 1995 tem a responsabilidade de administrar o sistema
multilateral de comércio estabelecidas nesta Rodada. O trabalho da OMC deve permitir que
as relações comerciais internacionais possibilitem ganhos multilaterais, favorecendo
práticas comerciais que permitam uma disputa mais justa entre os países.
Destaca Chesnais (1996) que nos países centrais predominam os intercâmbios entre
as filiais, através da integração produtiva entre a tríade, por isso não se confirma a
formação de uma relação de dependência tecnológica e financeira. Já nas nações periféricas
predomina o intercâmbio matriz-filial, ocasionando uma monopolização comercial à
aquisição do capital e da tecnologia no país do qual a empresa originou-se, cujas
conseqüências são o déficit comercial desses países e a redução dos suprimentos locais, o
que acarretará o aumento do desemprego onde tais filiais estão instaladas.
Dessa forma, o lucro anual dessas empresas chega a ser superior ao PIB (Produto
Interno Bruto) de alguns países da América Latina. Assim, com a globalização, a tendência
desses grupos é tornarem-se cada vez mais fortes, podendo barganhar com governos,
inclusive os do primeiro mundo. Os autores Hans-Peter e Harald Schumann, destacam a
fragilidade das nações diante das multinacionais: “Lucros somente são declarados naqueles
países em que a alíquota de impostos seja realmente mínima. No mundo todo, cai
drasticamente a porcentagem que capitalistas e detentores de patrimônio concedem ao
financiamento das metas sociais dos governos. De outro lado, os manipuladores dos fluxos
globais de capital vivem achatando o nível de remuneração dos cidadãos, contribuintes de
impostos. Também a cota de salários, a participação dos assalariados na riqueza
social,diminui em proporções mundiais. Nenhuma nação, sozinha, tem condições de opor-
se a tal pressão.” (Martin, 1996, p.16)
O oligopólio mundial adquire sua vantagem competitiva não só pela sua capacidade
técnica, como também, através de um conjunto sofisticado de medidas protecionistas –
como os subsídios – que elevam nações (empresas), antes incapazes de escoar sua produção
no mercado externo, a poderosas concorrentes das nações com natural vantagem
comparativa.
Certamente, o que não mudará nessa nova etapa do capitalismo, mesmo com a
formação dos Blocos, são os centros decisórios, que permanecerão nas regiões
desenvolvidas. As pesquisas e os conhecimentos científicos e tecnológicos concentram-se
nos países ricos, agravando, ainda mais, as disparidades econômicas e sociais.
Porém, outra faceta da globalização transcende os limites das fronteiras dos blocos,
trata-se da dinâmica do capitalismo financeiro cujo dinheiro, graças à velocidade de
informações, estimuladas pelos avanços tecnológicos, está circulando por todos os
continentes, através de um mercado financeiro interligado, sendo o objetivo dos aplicadores
internacionais obter ganhos em curto prazo, não havendo a preocupação de transformá-los
em investimentos produtivos e muito menos de se ater com as conseqüências que a evasão
desses recursos poderão acarretar para alguns países.
Essa mudança no perfil da dívida impôs aos países periféricos, inclusive ao Brasil, a
crescente necessidade da desregulamentação do mercado financeiro nacional para
possibilitar o ingresso capital financeiro, que à luz do pragmatismo representaram uma
alternativa de curto prazo para viabilizar os programas de controle da inflação implantados
em grande parte desses países.
GALBRAITH, J. K. (1977). Moeda : de onde veio para onde foi. São Paulo; Pioneira.
SICSÚ, J.; OLIVEIRA, S.C. (2003). Taxa de juros e controle da inflação no Brasil. In:
SICSÚ, J.; OREIRO, J.; FERNANDO DE PAULA,L.(orgs.). Agenda Brasil: Políticas
econômicas para o crescimento com estabilidade de preços. São Paulo: Fundação Konrad
Adenauer.
SMITH, A. (1996). A riqueza das nações – investigação sobre sua natureza e suas causas.
São Paulo: Nova Cultural.