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Jodo Valdir Alves de Souza - . s : K Introducdao a Sociologia da Educacao Biblioteca Universitaria auténtica ow Copyright © 2007 Jor Vaisin ay, MT ANRS ae 5, a PROIETO GRAFICO DA CAPA Guilherme Xavier EDNTORAG A ELETRONKCA Diogo Droschi Conrado Esteves REVISAO, Vera Lucia De Simoni Castro fl Revisado contorme © Novo Acordo Ortoar: Todos 0s direitos reservados pela Auténtica Editora, "Nenhuma parte desta puiblicagdo padera ser reproduzida, seja por melas mecanicos, eletranicas, seja via copia rerogratica, sem a autorizagdo previa da Editora. AUTENTICA EDITORA LTDA. ja Aimorés, 981, 8° andar, Funcionarios 10140-071. Belo Horizonte. MG el.: (55 31) 3222 6819 Teuevenoas: 0800 283 13 22 ‘www.autenticaeditora.com.br Souza, Joao Valdir Alves de $7291 Introducao a sociologia da educagao / Jodo Valdir Ales de Souza. ~ 2. ed. - Belo Horizonte : Auténtica , 2009. 192 p. ~ (Biblioteca Universitaria) ISBN: 978-85-7526-285-6 1.Sociologia educacional. |.Titulo. Il. Série. COU 37.0154 RB-1008 ha catalografica elaborada por Rinaldo de Moura Faria Introdugao Educagao ¢ escola como objetos de anilise sociolégica ‘Tornou-se senso comum apontar a educagao como fator de Teconstrugao social. Por extensdo, universalizou-se também a as- sociagao da educagao a escola, 4 modernidade, a cidadania e ao desenvolvimento social. Palavra magica no discurso cotidiano, a educagao passou a ser vista como elemento-chave no combate a todos os males que nos afligem, sejam os males do corpo e da alma, os transtornos da auséncia de sentido para a vida, as afligoes de um cotidiano atormentado por exclusao social, preconceito, violéncia, desemprego, crise dos valores, auséncia de limites, etc. Como outros elementos do senso comum, esse também pode até estar bem assentado em dados da realidade e ser uma forte expressio da verdade. Mas é necessério penetrar nesse discurso e tentar realizar pelo menos trés tarefas fundamentais: a primeira é compreender como ele se constituiu e adquiriu tamanha forga; a segunda é compreender por que a educacao passou a ser, cada vez mais, associada a escola; a terceira é ligd-lo a realidade dos fatos para tentar compreender o seu real alcance. Em outras palavras, a tarefa a ser levada a efeito ¢ tentar com- preender a relagdo entre o mundo das ideias de onde brotam as utopias pedagégicas ¢ o mundo da realidade concreta na qual essas ideias se assentam. Trata-se de perguntar pelas circunstancias que levaram a formacao de um ideario otimista acerca da educagao eda escola, sobretudo com o Iluminismo e o Positivismo, ao mesmo. tempo em que é necessério perguntar pelas condigdes concretas que conformam o trabalho dos educadores no mesmo mundo con- turbado que espera pelas respostas positivas da educagio. Courgko Banwoteca Unevrreararnn ate, apesar de p ideram por é uma tarefa bast ar, un Lissa a ver que todos aquestio, Apesar de ser legitimo respei coisa clement pass tadores de boas opine yes SOD TE an suas opinioes ‘cu acho” ou Jebate nas paginas que se a educagio ¢ a escola no Jos manifest algo mais do qu © que esti em ¢ articular de v4 belecem com a sociedade, a nte ideolé, porem, o fate det cu penso” a que esta em foge € respeito da edticaga seguem é um modo [ canjunto das relagaes que el cultura, o sistema ceondmico, OMe cular de ver essas rel F esse modo pa nicias SOCIAL, entre elas a Sociologia ¢, particu- da Educ: nifica que ofa) leitor(a) deva desqualificar go, muito menos desconsiderar 0 modo 0 politico,o goes & aquele gico, ete permitido pel Jarmente, a Sociolog! s cid Dizer isso nao si seu modo de ver a educag relaciona com a educs comum assenta-se geralmente em elementos parciais, precarios, inconsistentes ¢ frageis, justifican- do-se, portanto, 0 esforgo para se ter acesso ao que dizalinguagem entifica, ainda que essa também possa cometer equivocos. E esse ustifica a existencia da Universidade. Espera-se que ela produza um conhecimento que vai além daquilo que todos dominam. No caso em pauta, significa dizer, sobretudo, que € preciso avangar para além do discurso do senso comum e realizar uma sistematica reflexdo sobre educagao ¢ escola, Para que essa reflexao seja possivel, torna-se necessdrio analisar a educacdo ¢ a escola pelo prisma das relagdes que estabelecem com a culturaea sociedade nas quais estao inseridas, agao ¢ a escola. Dizer isso proprio como nso significa a ir que O ¢ esforgo que Apesar de nao se limitar as experiéncias particulares, a refle- xao sobre educago e escola pode comegar pelo modo como cada um viveu ou vive a experiéncia da escolarizagdo. Observe, antes de tudo, como vocé tem se relacionado com a escola, Comece por um exercicio de memoria, desde sua infancia, Tente se lembrar do ambiente em que vocé nasceu ¢ cresceu, Tente relembrar as primeiras imagens que guardou na memoria. Como eram a sua eer Iereonucho & Soares 8 Epo familia, as relagoes de vizinhanca, de parentesco, de vida religiosa, do mundo do trabalho? Que imagens vocé tem das primeiras ve- 7¢8 que foi a escola? Que imagens vocé tem do seu percurso esco- lar, do percurso escolar de pessoas do seu convivio? Mobilize 0 que voce conhece por experiéncia propria da sua relagao com a escola ¢ pelas leituras que ja fez sobre a escola como instituicao educativa, seja em obras de literatura, seja em obras de ciéncias sociats- Observe que a escola passou a fazer parte da sua vida desde tenra infancia ¢, provavelmente, da maior parte das pessoas do seu convivio. Essa presenga tao constante na sua vida, na vida das pes- soas com quem vocé convive ¢ nas discusses publicas sobre 5 projetos para o futuro fez com que a escola passasse a ser vista como coisa do mundo natural, e nao como uma criaca0 historica ; da vida em sociedade. Parece ser tdo natural o fato de alguém entrar na escola, estudar ¢ fazer provas, ser aprovado, reprovado, alguns seguirem adiante outros a abandonarem logo de inicio que nem nos propomos a tarefa de perguntar: por que é assim? Sempre foi assim? Continuara sendo assim? Observe também que, ultimamente, aescola tem sido toma- da por sinonimo de educagao ¢, de modo geral, as pessoas que apostam na educagdo como fator de reconstrucao social é na esco- Ja que apostam. Observe ainda que tem sido muito comum asso- ciar paises desenvolvidos ao investimento em educagao, do mes- mo modo que tem sido comum culpar 0 nosso atraso pela falta de educacao, isto é, de escola. Mas qual escola? Que tipo de educagao essa escola & capaz de garantir? O que devemos levar em conta quando entramos no cotidiano da escola? Que fatores extraesco- Jares devem ser considerados quando queremos conhecer a esco- la? Serd que todos os “educadores” educam? que deseducam? Mas o que é, afinal, educagao? 5 S40 perguntas que qualquer observador atento da rela- ao entre escola € sociedade deve fazer. A medida que sao feitas, vao deixando claro que uma coisa é a experi cia pessoal ¢o modo ponto de vista de cada um. Coisa dife- ducacdo como um dado da realidade, 0 existem escolas Essa’ particular que caracteriza 0 rente é tomar a escola ¢ a ¢ Couecko Bia uoTec UNIvERSITARIA que independe da experiéncia individual ou do modo como cad qual constréi sua propria imagem delas. Constituem, pois, objeto de estudo ¢ podem ser analisa das pelo método préprio das cién- sociais. Isso quer dizer que, para além das perguntas que to dos fazem e das respostas que todos imaginam ter, aos edu cabe a tarefa de aprofundar o debate ¢ elaborar um juiz consistente para clas. Se ¢ legitimo que o cidadao emita uma opi. nido sobre educagao e escola, € legitimo também que se exija dos educadores mais que opinides e, sim, argumentos consistentes que déem sustentacao a elas. Por isso, este é um livro destinado aqueles que desejam am- pliar sua visdo acerca de educagao ¢ escola. Mas é destinado, so- bretudo, a futuros educadores, pois parte-se aqui do pressuposto de que nao é suficiente conhecer os contetidos daquilo que se ensina. E preciso conhecer os motivos pelos quais se ensina, os fundamentos que dao sustentagao a exigéncias cada vez maiores em matéria de educagao e ensino e os sistemas nos quais os pro- cessos de ensino-aprendizagem se efetivam. E preciso conhecer os dilemas, os paradoxos, os fatores objetivos ¢ subjetivos que defi- nem professores e alunos como sujeitos socioculturais, as possi- bilidades e os limites da escola, o papel dos profissionais do ensino como mediadores da cultura na escola, a propria escola como local da disputa de hegemonia no campo da cultura. E preciso tomar, pois, a prépria escola como objeto de estudo. Em outras palavras, isso quer dizer que da mesma forma que vamos a escola para estudar os elementos do mundo natural, se- jam eles fendmenos fisicos, quimicos, sejam eles fendmenos bio- ldgicos, compostos organicos ou inorganicos (Ciéncias Naturais); da mesma forma que vamos a escol para estudar o modo como os seres humanos ocuparam 0 espaco ao longo do tempo (Histt Geografia); da mesma forma que vamos a escola para estudar 0 modo pelo qual a humanidade foi adquirindo a capacidade de decodificar os elementos da natureza ¢ os expressar pela lingua- gem (Matemitica, Linguas, Filosofia); enfim, da mesma forma ae nos acostumamos a associar a escola a um lugar onde se estu- dam os fatores que compéem o mundo natural, as sociedades 10 Inrrooucko A Socio.ocia DA Epucacko humanas ¢ a relagdo entre eles, assim também como veremos, é a propria instituicéo de ensino que serd tomada como objeto de estudo.. Essa investigagao pode ser feita por diversas éticas: pelo modo como a escola ¢ a educagao sdo organizadas ao longo do tempo (Hist6ria da Educa¢ao); pelo modo como autores engenhosos ima- ginaram novos modos de educar (Histéria das Ideias Pedagégi- cas); pelo modo como os processos de escolarizacao se relacionam com a produgao de bens materiais (Economia da Educagao); pelo modo como, ao longo do tempo, constréi-se uma imagem de ser humano e de sociedade e se pensam os meios para forma-los (Fi- losofia da Educagdo); pelo modo como se estabelecem relacdes especificas entre educagao ¢ estrutura social ou pelo modo como se constituem sistemas de ensino (Sociologia da Educagio); pelo modo como os sistemas de ensino se constituem como politica de Estado (Politica Educacional), entre diversas outras. Tudo isso mostra que o avanco das ciéncias sociais ampliou formidavelmente as possibilidades de entendimento das relagdes entre escola ¢ sociedade. Mas mostra também que o volume de informagdes a que estamos expostos pode confundir mais que ajudar a entender o mundo em que vivemos. Desde ja fica claro, Portanto, que, além do acesso as informagoes e da sua transforma- do em conhecimento, ¢ importante fazer desse conhecimento instrumento para bem orientar a conduta. Essa é uma importante ligao deixada pelo socidlogo norte-americano Charles Wright Mills. Escrevendo em meados do século XX, Wright Mills fez um diagnéstico avassalador da moderna sociedade norte-americana ©, por extensdo, de todas as sociedades que se organizavam em conformidade com aquele modelo, Mesmo considerando que ele escreveu no auge da Guerra Fria, seu diagnéstico continua ecoan- do nos nossos ouvidos como adverténcia sobre um futuro incerto, O ponto central da sua argumentagao é quea rapidez das transfor- mag6es € 0 modo como elas afetam inevitavelmente a vida das Pessoas nos submetem a um terrivel sentimento de ameaga e de en- | curralamento. “E quanto mais consciéncia tém, mesmo vagamente, any ae rrrrt—‘—— Cortgho Brwiortca Univeresiréran . Sob o dominio da terceira , os homens modernos sentiam-se atordoados nao pe a que havia justificada es. forgo heroico na luta de tantos pelo fim da escassez, mas pelo cesso que desorientava multidoes em relagao a um sentido para 1 A imaginagae sociolégica, publicado pela primeira vez tos, ma se da Revolugio Industri em 1959, ele di A hist mundi que atinge todo homem, hoje, é a histéria |. Dentro deste cenirio ¢ deste periodo, no curso de uma tini jo, um sexto da humanidade pas- sou de tudo o que era feudal e atra ‘a tudo o que émoderno, avangado, terrivel. As colénias politicas ¢s- tao liber instalaram-se novas formas de imperia- lismos, menos evidentes, Ocorrem revolugdes; 0s ho- mens sentem de perto a pre autoridade. Surgem sociedades to! gadas desfazendo-se em pedagos ~ ou obtém éxito fa- buloso. Depois de dois séculos de ascendéncia, 0 capita- lismo ¢ visto apenas como um processo de transformar asociedade num aparato industrial. Depois de dois sé- culos dle esperangas, até mesmo a democracia formal estd limitada a uma pequena parcela da humanidade. :m todo o mundo subdesenvolvido, os velhos modos de vida se rompem ¢ esperangas antes vaga transfor- mam em exigéncias prementes. Em. todo o mundo su- perdesenvolvido, os meios de autoridade e violencia tor- ’im-se totais no alcance ¢ burocraticos na forma. A propria humanidade de desdobra hoje 4 nossa frente, concentrando cada supernagao, em seu respectivo polos seus esforgos coordenados e macicos na preparagao da Terceira Guerra Mundial. (Mus, 1982, p. 10) __ Wright Mills continua desfiando um rol de fatores que carac- teria ¢sse mundo em transformagao e que submetem as pessoas eee a um terrivel sentimento de panico, afli¢ao canis: intelectuais ce, entre o esgotamento de suas capacidades fisicas © éxtase de viver em uma sociedade inteiram® jo den nte 12 IntpopuGhO & SocioLoMa 04 Eoucnho ida moderna, as pessoas que ainda sentem que hé alguma pos de de controle de sua vida se agarram a tentativa de acessar mais e mais informagées, Mas, quanto mais informagao elas conseguem, diz. autor, mais possuidas esto pela sensagdo de encurralamen to. Diferentemente de outros autores que haver saida possivel para essa prisao, Wright Mills con! 10 um exercicio de imaginagio criadora. Nao por acaso, ele intitula 0 primeiro capitulo do seu livro de “A Promessa”. E a promessa € que as ciéncias sociais po- deriam ajudar no desenvolvimento dessa imaginagao, uma ima- ginacao socioldgica, Diz ele: possibilida de de fazer do bom uso d Nao é de informagao que precisam — nesta Idade do Fato, a informagao lhes domina com frequéncia a aten- doe esmaga a capacidade de assimili-la, Nao é apenas da habilidade da razdo que precisam — embora sua luta para conquist4-la com freqiiéncia |hes esgote a limitada energia moral. O que precisam, ¢ 0 que sentem precisar, uma qualidade de espirito que Ihes ajude a usar a in- formagao e a desenvolver a razao, a fim de perceber, com lucidez, o que esta ocorrendo no mundo ¢ 0 que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. f essa qualidade, afirmo, que jornalistas ¢ professores, artis- tas ¢ publicos, cientistas ¢ editores esto comecando a esperar daquilo que poderemos chamar de imaginagao 1982, p. 11) Wright Mills destaca varias possibilidades para a imaginagao sociolégica. Ela possibilita ao seu possuidor compreender a rela- gdo entre a sua vida particular e a histéria — 0 cenario historico mais amplo no qual se desenrola o processo civilizatorio. Permite se situar como um individuo singular na relagdo com outras sin- gularidades dentro de determinado periodo historico e perceber as possibilidades que podem ser compart entre eles, Possuir imaginacao sociolégica é ser capaz de transitar de um lado a outro da relagao entre individuo ¢ sociedade e ser capaz de compreender tanto o lugar dos individuos como agentes na estrutura social quan- to o que essa estrutura faz dos individuos. 13 Coregdo Binviortca Unievenerrains w A imaginagie soc jolégica deve permitir a sey capacidade de divtinguir entre ws “perturbacoes pe das no meio mais proximo” eas “questoc POS6Uidor 4 © PESOS OFiging Puiblicas da estrut . social”, As perturbagoes ocorren dentro do universe Parti ‘i dos individuos, isto é das suas relagoes imediatas com os oun " jaamente vivido, dos utros, aSsUMtOs privaden aque mobilizam seus interes, F. algo como reconhecer os 5. as achar que eles se resolverao quando o os lo expago social do imedi blemas da educagao, na levar “coisas interessantes” para seus hy io, rela professores passat nos, As questoes, pelo contr: im esses ambientes loca m-se com fa n atores que transcend is dos individuos ¢ a esfera de seus interesses privados, Os problemas da educagio deixam de ser mente em termos de “coisa: pensados simple devem let teressantes” que far para scus alunos ¢ assumem o lugar de os professore: assunto publico que deve ser visto como questao a ser enfrentada, porque o que é interessante para alguns pode nao ter a menor importancia para outros Pensemos, a exemplo do autor, na relagao entre escolarida- dee emprego. Quando alguns poucos individuos com diploma de nivel superior néio conseguem emprego na drea para a qual se formaram, pode-se imaginar que foram afctados por perturbagdes de ordem pessoal: fizeram a escolha errada, desiludiram-se coma carreira, optaram por outro emprego, etc. Mas, quando, numa determinada sociedade, um alto percentual de diplomados nao consegue cmprego em determinada Area, “isso é uma questio publica, ¢ nao podemos esperar sua solugao dentro da escala de oportunidades abertas as pessoas individualmente. A estrutura mesma das oportunidades entrou em colapso” (Mutts, 1982, Pp. 15), O mesmo acontece na relacao entre “o problema pessoal da guerra” ¢ as “questoes estruturais da guerra”; entre as perturba- $6€s pessoas no casamento ¢ 0 aumento da taxa de divércio; entre as solugoes particulares encontradas no ambiente das cidades - cereus clétricas, muros ¢ seguranga privada —e as grandes questOes Puiblicas que caracterizam a violéncia urbana. Mes oss Brandes questoespiblicasidentificadas por Wright ills estao a inquietagao e a indiferenga. A primeira se express 14 Iwrrooucto A Sociaoaia ba Epucagho como crise, decorrente da ameaga que significa viver em um mun- do no qual, como disse Marx, “tudo que é sdlido desmancha no ar”, expresso recuperada por Marshall Berman para intitular bri- Ihante ensaio sobre a aventura da modernidade. A segunda se ex- pressa como apatia, decorrente do distanciamento das pessoas em relagdo aos valores ameacados. A principal tarefa intelectual e po- litica do cientista social, diz Wright Mills, é explicitar os elemen- tos constitutivos da indiferenca e da inquietagao contemporane- as. Essa é uma tarefa para as ciéncias sociais, que estado se “transformando no denominador comum de nosso periodo cul- tural”, do mesmo modo que a imaginagdo sociolégica esta se transformando “na qualidade intelectual que mais necessitamos” (Mints, 1982, p. 20). A imaginagao sociolégica ¢, pois, uma qualidade intelectual que precisa ser construida, desenvolvida, lapidada. Do mesmo modo que 0 artesao constréi sua obra de arte a partir da matéria bruta, assim também o trabalhador-pensador dos nossos dias de- vera modelar seu artesanato intelectual. Wright Mills termina seu s sobre como organizar o trabalho inte- livro com sugestoes prat lectual de modoa que ele seja, de fato, proveitoso para aqueles que se ocupam dele. Nao antes de passar em revista a contribuigéo dos clissicos do pensamento social, a matriz fundamental sobre a qual se assentam todos os esforcos daqueles que, no século XX, aexem- plo de Wright Mills, tentaram trazer a luz esse entendimento en- trea historia ¢ a biografia e as relagdes entre ambas. Este é um livro de Introdugao 4 Sociologia da Educacao.Como todo livro introdutério, seu propésito é apontar caminhos, sugerir possibilidades de leitura. Ele é destinado especialmente aos alu- nos dos cursos de licenciatura. Sera bastante gratificante, porém, se ele puder ser itil também a alunos dos cursos de pos-graduagao em Educacao, sobretudo, aqueles que vém de cursos de graduagao nos quais nao tiveram a oportunidade de tomar a educagao como objeto de andlise. Se, como afirma Wright Mills a imaginagao sociol6- gica é essa qualidade intelectual que jornalistas e professores, 15 CouteAo Binuoreca UnivensitAma artistas e publicos, cien ceditor tamente valerd 0 esforgo de se investir to intel Precisam desenvoly modelagem ¢ doa tual. artesang RT cop, Claro esta que uma coisa ¢ compreender os me ‘AnisMos de ® Muito difere te, éatuar nela com o intuito de transformé-la, come 1 a , eM sido funcionamento de determinada realidade ¢ outr sistematicamente reivindicado da Pedagogia moderna. Com i a. Coma ve. remos, a educ 10 € um campo em conflito porque sua conf 4 confor. Fducagio ndo belecer normas com validade universal, mas nic furta em apontar po: magao expressa os conffitos sociais. A Sociologia da arvoraem ¢: ibilidades de agao, mesmo reconhecendo iamente leva aos resultados desejados, Em imaginagao sociolégica reivindicada por Wright Mills talvez seja possivel pensar também numa “imaginagao pedagégi- ca” que, além de nos permitir um olhar mais apurado sobre as relagdes entre escola ¢ sociedade, também nos permita melhor orientagao da conduta, distinguindo o terreno cultivivel que pos- 0 ndo neces: sa render melhores frutos no campo da educagao. Ao leitor nte devo advertir que nao se trata de tarefa facil. Vivemos num mundo de muitos apelos & simplificagao e a0 descartavel. Com o advento e popularizagao da televisio ¢ da in- ternet, as informag6es nos chegam até mesmo quando nao deseja- mos ter acesso a muitas delas. Em meados do século XX, numa época em que a televisdo era apenas uma promessa ¢ 0 computa- dor tal qual conhecemos sequer existia, ‘Theodor Adorno ¢ Max Horkheimer foram precisos na critica aos meios de comunicagao de massa. Para eles, “a enxurrada de informagoes precist e diver: sdes assépticas desperta e idiotiza as pessoas ao mesmo tempo (AporNo; HorkHEIMER, 1985, p. 15). Por isso mesmo, torma-se ne cessério um criterioso exercicio de julgamento no necessaria- mente daquilo que é interessante aos olhos de cada um, Mas da- quilo que é relevante do ponto de vista sociolégico, come questo publica que merece investigagdo. E essa é um izagem que somente o tempo é capaz de nos permitir. A modelagem nato intelectual supde necessariamente amadurecimento- 16 InTRODUCKO A Socintoaia ps Eoucacho Claro esté que nao basta dar tempo ao tempo, Isso nossa av6s ja faziam independentemente da escola. A aprendizagem red vindicada nos nossos dias exige exercicio disciplinade do pensa jas ¢ rigorosos procedimen mento, organizagdo meta tos de estudo, Pensar a relagao entre escola e sociedade hoje exige “uma, olhar para um fendmeno que se expande cm duas direy no sentido de aba como a celebrada universali da no Brasil ao se encerrar 0 século XX. Outra, no sentido de captar a expansao da escola tanto nos nivei ¢ao, mestrado, doutorado — quanto em dire criangas da primeira infancia, isto ¢, de até s« rum ntimero cada ver maior de pessoas, sao do ensino fundamental realiza superiores ~ gradua jo ao atendimento as anos. Outro elemento relevante desse exerci mento da historia eas exigéncias de educagao escolar. Foi no sécu- lo XIX que ela saiu do arbitrio individual ¢ se tornou obrigagao publica. Mas, até meados do século XX, bastavam quatro anos de escolarizacdo para alguém ser considerado “formado” basico. Os anos 60 e 70 marcaram a popul expansio do ensino fundamental para oito anos. A partir da LDBEN. 9,394/96, a “educacao bisica” passou a ser definida como aque! ser garantida até a idade de 17 anos, portanto um continuo entre ensino infantil, primario, fundamental e médio, As transtorr des cada vez mais vertiginosas no sistema produtivo passaram a exigir uma elevagao geral no nivel de escolarizagao e, presumivel- mente, de formagao humana, de qualificagdo para o trabalho exercicio da cidadania. io é pensar o movi- m nivel izagao do gindsio, ou Isso passou a exigir mais escola para todos ¢ mais estudo sistematico para aqueles que se ocupam de explicar esses proce: sos sociais. André Petitat, em texto memorialistico intitulado [ti- nerdrio de leituras de um socidlogo da educagao deixa 0 seu lei desorientado diante da relagao de autores lidos para tratar de assunto com que se ocupou. A certa altura do seu itineririo, cle suspira ¢ faz uma afirmagao confortadora: aumentava a sensagdo de vertigem diante da minha ignordn (Perrrat, 1991, p. 135). Parece ser possivel dizer que essa ¢ uma “Mais cu lia ¢ mais WwW Cotecdo Bipuiotres Unirsersertgng, maneira clegante de expressar 0 famoso dite Popular - Ce que “quanto mais a gente aprende mais se dA ce ta we af . dey sabe nada”. O conforto disso é perceber que 6 tr We py MARE oe ' les que pret ey continuamente ao conhecimento ¢ Que reconhece, norancia é um gesto fundamental daque vamente conhecé-lo, ‘thee 4 Ptptia iy etidern etn

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