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RCED N.º 0600738-08.2020.6.26.

0065 PJE
PROCEDÊNCIA: JUÍZO DA 65ª ZONA ELEITORAL DE JUNDIAÍ
RECORRENTES: ROGÉRIO CAVALIN E ELIVELTON ANTÔNIO WEIRICH
RECORRIDOS: MARCO ANTÔNIO MARCHI E ALEXANDRE RIBEIRO

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MUSTAFÁ
RELATOR: JUIZ MARCELO VIEIRA DE CAMPOS

ELEIÇÕES 2020. RCED. PREFEITO E VICE-


PREFEITO. INELEGIBILIDADE
SUPERVENIENTE. CONDENAÇÃO POR ABUSO
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL.
ARTIGO 1º, I, ‘D’, LC 64/90.

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1.PRELIMINARES.
A) SUSCITADAS PELOS RECORRIDOS:
NULIDADE DO PROCEDIMENTO E AUSÊNCIA
DE INTERESSE DE AGIR. AFASTADAS.
B)SUSCITADA PELA PRE:
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 4º DA
LEI Nº 13.877/2019, NA PARTE EM QUE INCLUIU
O PARÁGRAFO 2º NO ARTIGO 262 DO CÓDIGO
ELEITORAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
VEDAÇÃO DO RETROCESSO. VEDADA A
PROTEÇÃO DEFICIENTE.
2.MÉRITO.
INELEGIBILIDADE INFRACONSTITUCIONAL
SUPERVENIENTE É AQUELA QUE SURGE
APÓS O REGISTRO DE CANDIDATURA E
ANTES DA DIPLOMAÇÃO. PRECEDENTES DO
TSE. NO CASO CONCRETO, O TITULAR DA
CHAPA FOI CONDENADO EM SEGUNDO GRAU,
EM 07.10.2020, POR ABUSO DOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL, À PERDA DO
MANDATO E À INELEGIBILIDADE POTENCIADA.
CONFIGURADA A INELEGIBILIDADE PREVISTA
NO ARTIGO 1º, I, ‘D’, LC 64/90.
3. CONCLUSÃO: PELA PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO.

Eminente Relator, Colenda Corte,

(01.02) 0600738-08.2020.6.26.0065 - RCED -ineleg superveniente - condenacao em AIJE - antes data pleito -
procedencia - prelim - ause intere_nulidade_inconst - DYRO
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I. ANTECEDENTES

Trata-se de recurso contra expedição de diploma (ID


35099551) ajuizado em face de Marco Antônio Marchi e Alexandre Ribeiro
Mustafá, reeleitos para os cargos de prefeito e de vice-prefeito, em razão da

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superveniência de inelegibilidade, caracterizada pela condenação de ambos,
em ação de investigação judicial eleitoral por abuso de poder econômico, à
cassação dos diplomas e à inelegibilidade por oito anos, a atrair a inelegibilida-
de prevista no artigo 1º, inciso I, alínea ‘d’, da LC nº 64/90.

Rogério Cavalin e Elivelton Weirich alegam, em suma, que: (i)


“em decisão datada 08/10/2020, por unanimidade, confirmou a procedência da

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AIJE - Ação de Investigação Judicial Eleitoral, reconhecendo a prática do abu-
so de poder econômico (uso indevido dos meios de comunicação social), cas-
sando o diploma dos recorridos relativos aos mandatos obtidos nas eleições de
2016 e declarando-os inelegível pelo prazo de oito anos”; (ii) tal condenação
colegiada fez surgir a inelegibilidade (superveniente) prevista no artigo 1º, inci-
so I, alínea ‘d’, da LC nº 64/90; (iii) não se aplica ao caso o parágrafo 2º do arti-
go 262 do Código Eleitoral, pois não observado o princípio da anualidade.

Marco Antônio Marchi e Alexandre Ribeiro Mustafá suscitam as


preliminares de nulidade do procedimento, em razão da “determinação de
apresentação de defesa em meio ao recesso forense (aliás, concluída em ple-
no dia de Natal) resulta em nítido prejuízo à plenitude de defesa dos Requeri -
dos, pois há normas específicas que determinam a vedação da fruição dos pra-
zos processuais em pleno recesso, conforme acima transcrito”, e de falta de in-
teresse processual, supostamente caracterizada pela “existência de efeito sus-
pensivo pleno” aos recursos eleitorais, conforme decisão liminar do Min. Gilmar
Mendes, nos autos da ADPF 776. No mérito, aduzem, em síntese, que: (i) em
relação a Alexandre Ribeiro Mustafá, o recurso eleitoral apreciado por essa
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Corte (AIJE nº 316-24.2016), em 31.08.2018, afastou a sanção de inelegibili-


dade; (ii) em 07.10.2020, se deu o julgamento do recurso apenas de Marco An-
tônio Marchi, sendo que “ainda não houve a integralização do r. Acórdão da-
quele julgamento, pois sequer foram julgados os embargos de declaração con-
tra ele opostos. Isto é, considerado a norma processual vigente pelo Código de

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Processo Civil, o Acórdão que será objeto desta ação contra expedição de di-
ploma sequer existe!”; (iii) “o registro de candidatura de ambos foi deferido pos-
teriormente à sessão de julgamento da AIJE 316-24, isto é, no dia 9.10.2020,
sendo que não houve decisão de ofício para indeferir o registro, tendo em vista
o efeito suspensivo automático e pleno que decorre do § 2º do Art. 257 do
Código Eleitoral. Aliás, no mesmo dia do julgamento do recurso eleitoral do Re-
querido Marco Marchi, decorreu o prazo para a impugnação do MPE, que não

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tomou nenhuma iniciativa contra o Registro de Candidatura – RRC 0600063-
45.2020.6.26.0065 (documentos anexos)”; (iv) nos autos da AIJE nº 316-
24.2016, Marco Antônio Marchi foi condenado apenas por uso indevido dos
meios de comunicação social, hipótese não contemplada pelo artigo 1º, inciso
I, alínea ‘d’, da LC nº 64/90 (ID 35101101).

A liminar foi indeferida (ID 35118001).

Após, foi aberta vista dos autos à Procuradoria Regional Eleito-


ral.

II. PRELIMINARES

II.1. DA NULIDADE DO PROCEDIMENTO


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Marco Antônio Marchi e Alexandre Ribeiro Mustafá apontam ví-


cio no desenvolvimento regular do processo, em razão da “determinação de
apresentação de defesa em meio ao recesso forense”.

Em que pese as disposições dos artigos 262, parágrafo 3º, 1 do

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Código Eleitoral, 2202 do Código de Processo Civil e 5º 3 da Portaria TSE nº
908/2020, que estabelecem a suspensão dos prazos processuais entre os dias
20 de dezembro e 20 de janeiro, a citação de ambos, ordenada em 23.12.2020
(ID 35100901), foi aperfeiçoada, de modo que Marco Antônio Marchi e Alexan-
dre Ribeiro Mustafá puderam exercer efetivamente o contraditório e a ampla
defesa, nada havendo de prejuízo.

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II.2. DA AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL –
EFEITO SUSPENSIVO AOS RECURSOS ELEITORAIS – ADPF 776

Nesse tocante, alegam que o processo do qual originada a


inelegibilidade superveniente que serve de causa de pedir no presente RCED
“ainda não existe”, pois “resta pendente de julgamento os embargos de
declaração opostos contra a decisão do colegiado na AIJE 316-24”.

Razão não lhes assiste, contudo.

1 Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos casos de
inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e de falta de condição de
elegibilidade. § 3º O recurso de que trata este artigo deverá ser interposto no prazo de 3
(três) dias após o último dia limite fixado para a diplomação e será suspenso no período
compreendido entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro, a partir do qual retomará seu
cômputo.
2 Art. 220. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de
dezembro e 20 de janeiro, inclusive.
3 Art. 5º Os prazos processuais ficarão suspensos no período de 20 de dezembro de 2020
a 31 de janeiro de 2021, salvo os prazos dos processos de prestação de contas relativas
às Eleições de 2020, que voltam a fluir a partir de 7 de janeiro de 2021, nos termos do art.
7º da Resolução TSE nº 23.632, de 19 de novembro de 2020.
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A uma, porque a literalidade do invocado parágrafo 2º do artigo


257 do Código Eleitoral determina – apenas – que o recurso ordinário, se
interposto contra decisão de cassação do registro, afastamento do titular ou
perda do mandato eletivo, será dotado de efeito suspensivo.

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É dizer, o efeito suspensivo automático ou ope legis restringe-
se ao recurso ordinário, ao passo que a hipótese narrada por Marco Antônio
Marchi e Alexandre Ribeiro Mustafá refere-se à pendência de julgamento de
embargos de declaração, os quais, segundo clássica lição doutrinária 4 nem
sempre são considerados recurso, a depender se sua aptidão, no caso
concreto, de modificar o conteúdo da decisão embargada, na medida em que,
caso limite-se à integração, retificação ou complementação, sem modificação

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substancial, não terão natureza recursal. A decisão liminar, nos autos da ADPF
776, sequer toca nesse ponto, sendo possível concluir que se pautou pela
literalidade da norma em apreço, ademais, onde o legislador não distinguiu,
não cabe ao intérprete fazê-lo.

A duas, pois a referida decisão liminar não vincula os demais


órgãos do Poder Judiciário, podendo inclusive ser revogada.

II.3. DA INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL DO ARTIGO 4º DA LEI Nº


13.877/2019, NA PARTE EM QUE INCLUIU O PARÁGRAFO 2º NO ARTIGO
262 DO CÓDIGO ELEITORAL

O controle de constitucionalidade de leis, pelo sistema misto, é


feito por qualquer juiz ou Tribunal (controle difuso) ou via ação (controle con-
centrado).

4 DINAMARCO, Cândido Rangel. A nova era do processo civil – 2.ed. - São Paulo: Malheiros,
2007, p. 56.
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Assim, preliminarmente, suscita-se a inconstitucionalidade


incidental do artigo 4º da Lei nº 13.877/2019, na parte em que incluiu o
parágrafo 2º no artigo 262 da Lei nº 4.737/65, que dispõe:

Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos casos
de inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e de falta de

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condição de elegibilidade.
§ 2º A inelegibilidade superveniente apta a viabilizar o recurso contra a
expedição de diploma, decorrente de alterações fáticas ou jurídicas,
deverá ocorrer até a data fixada para que os partidos políticos e as
coligações apresentem os seus requerimentos de registros de
candidatos. (Incluído pela Lei nº 13.877, de 2019)

Resta caracterizada afronta à Constituição Federal pelo


parágrafo 2º, pois, ao determinar que a inelegibilidade superveniente apenas
pode ser reconhecida se “ocorrer até a data fixada para que os partidos

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políticos e as coligações apresentem os seus requerimentos de registros
de candidatos”, referida lei viola o princípio da proibição do retrocesso e
confere proteção deficiente ao bem jurídico tutelado, qual seja, a legitimidade e
higidez das eleições.

É que a tradição dogmática5 e jurisprudencial6 do Direito


Eleitoral brasileiro sempre classificou a inelegibilidade como antecedente ou
superveniente, tomando-se como referência a data do registro de candidatura.
Antecedente, portanto, é a inelegibilidade nascida antes do requerimento do
registro de candidatura; superveniente, é a que surge após esse momento.
Ademais, a harmonia até então presente no sistema, considerando referido
instituto, permitia o controle judicial das inelegibilidades: devendo ser arguidas

5 GOMES, José Jairo. Direito eleitoral – 16. ed. - São Paulo: Atlas, 2020, p. 346; COSTA,
Adriano Soares da. Instituições de direito eleitoral – 10. ed. - Belo Horizonte: Fórum, 2016 –
p. 186.
6 TSE: RCED 060391279, Acórdão de 17/09/2020, Relator Min. Sérgio Silveira Banhos,
Publicação: DJE, Data 05/10/2020; RESPE 060052529, Acórdão de 24/09/2019, Relator
Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, Publicação: Data 04/02/2020; RESPE nº 4314,
Acórdão de 15/05/2014, Relator Min. Dias Toffoli, Publicação: DJE, Data 18/06/2014; AI nº
11607, Acórdão de 20/05/2010, Relator Min. Aldir Passarinho Júnior, Publicação: DJE, Data
18/06/2020.
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em AIRC, se preexistentes, sob pena de preclusão, ou, em RCED, se


supervenientes ao registro, ressalvadas sempre as inelegibilidades
constitucionais.

Tanto isso é verdade, que o parágrafo 10 do artigo 11 da Lei nº

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9.504/97, ainda em vigor, dispõe que as “condições de elegibilidade e as
causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do
pedido de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou
jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade”.

Nessa ordem de ideias, a “correta análise do novo dispositivo


introduzido no Código Eleitoral deve ser feita a partir de uma adequada

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correlação entre o §10 do art. 11 da LE e o §2º do art. 262 do CE. Irretorquível
apontar, in casu, a noção de dependência do §2º do art. 262 do CE em relação
ao §10 do art. 11 da LE, porquanto este último, atendendo à lógica do processo
eleitoral, estabelece as diretrizes de adequação do candidato ao estatuto
jurídico das elegibilidades (assinalando que a regra é a análise no momento do
registro e ressalvando a necessidade de avaliação das circunstâncias
posteriores), ao passo que o primeiro quer delimitar temporalmente a causa
superveniente que atrai a inelegibilidade. Dito de outro modo, o dispositivo que
agora pretende conceituar a causa superveniente que atrai a restrição ao
direito de candidatura não pode estabelecer regras que contrariem a essência
do próprio conceito do instituto jurídico da inelegibilidade superveniente. Admitir
essa hipótese equivaleria a tolerar que o acessório regulasse o principal.” 7

Na prática, a alteração legislativa impugnada blinda os


candidatos de todo e qualquer fato superveniente ao registro de candidatura do
qual derive o efeito ou a sanção de inelegibilidade, se inata ou cominada,
7 ZILIO, Rodrigo López; CASTRO, Edson Resende. A superveniência às avessas: uma nova
modalidade de inelegibilidade? - <https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/a-
superveniencia-as-avessas-uma-nova-modalidade-de-inelegibilidade-27012020>. Acessado
em 20.01.2021.
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respectivamente, o que viola o princípio da proibição da proteção deficiente, na


medida em que não cumpre o mandamento constitucional inscrito no parágrafo
9º do artigo 14, que impõe ao Estado o dever de estabelecer “outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida

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pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a
influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta”.

Outrossim, ao limitar o marco temporal para o conhecimento


judicial das inelegibilidades supervenientes ao registro até “a data fixada para
que os partidos políticos e as coligações apresentem os seus requerimentos de

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registros de candidatos” para além da manifesta inconsistência lógica – como
pode ser superveniente ao registro desde que apresentada até o registro? -
revela violação objetiva do princípio da vedação do retrocesso, porquanto,
como cediço, a jurisprudência eleitoral pátria 8, há tempos, sempre autorizou o
conhecimento de inelegibilidades supervenientes ao registro, cingindo-se o
debate apenas no que dizia à data limite para que tal reconhecimento fosse
juridicamente apto a produzir efeitos, isto é, se o termo final seria a data da
eleição ou da diplomação.

Dito de outro modo, a par da existência de discussão sobre a


data limite para o reconhecimento judicial de inelegibilidade superveniente,
doutrina e jurisprudência sempre admitiram a possibilidade da arguição de
fatos ensejadores de inelegibilidade após o registro de candidatura.

8 TSE: RESPE nº 4314, Acórdão de 15/05/2014, Relator Min. Dias Toffoli, Publicação: DJE,
Data 18/06/2014; RESPE 060052529, Acórdão de 24/09/2019, Relator Min. Tarcísio Vieira
de Carvalho Neto, Publicação: Data 04/02/2020; AI nº 11607, Acórdão de 20/05/2010,
Relator Min. Aldir Passarinho Júnior, Publicação: DJE, Data 18/06/2020; RCED 060391279,
Acórdão de 17/09/2020, Relator Min. Sérgio Silveira Banhos, Publicação: DJE, Data
05/10/2020
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O dispositivo legal em questão possui vício de


inconstitucionalidade material, na medida em que afastou do Poder Judiciário a
apreciação das hipóteses de inelegibilidades consumadas após as eleições e
antes da diplomação dos candidatos eleitos, criando um vácuo proibitivo
para atuação judicial.

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Deve ser acolhido o incidente de inconstitucionalidade
suscitado, afastando, no caso concreto, a aplicação do parágrafo 2º do
artigo 262 da Lei nº 4.737/65.

III. MÉRITO

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No mérito, o pedido é procedente.

O recurso contra expedição de diploma é espécie de ação


eleitoral destinada à desconstituição da relação jurídica derivada da vitória das
urnas (mandato eletivo), e não do diploma em si, por incidência de
inelegibilidades ou ausência das condições de elegibilidade, que podem derivar
da prática de fraude (em sentido amplo) à lei (ex: condenação por conduta
vedada) ou fato que, embora lícito, faz surgir a inelegibilidade não como
sanção, mas como instrumento de prevenção do desequilíbrio na disputa (ex:
inelegibilidades por parentesco).

Trata-se de ação cujas hipóteses de cabimento são previstas


taxativamente pelo Código Eleitoral, a saber: inelegibilidade superveniente,
inelegibilidade constitucional e falta de condição de elegibilidade.

Elegibilidade, a par da ausência de definição legal, pode ser


conceituada como o direito subjetivo público, a qual, preenchidas as condições
impostas pelo ordenamento jurídico, faz nascer o direito de ser votado.
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Conforme já assentado pelo Tribunal Superior Eleitoral, a


“elegibilidade é a adequação do indivíduo ao regime jurídico - constitucional e
legal complementar - do processo eleitoral, razão pela qual a aplicação da Lei
Complementar nº 135/2010 com a consideração de fatos anteriores não pode
ser capitulada na retroatividade vedada pelo art. 5º, XXXVI, da Constituição,

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mercê de incabível a invocação de direito adquirido ou de autoridade da coisa
julgada (que opera sob o pálio da cláusula rebus sic stantibus) anteriormente
ao pleito em oposição ao diploma legal retromencionado; subjaz a mera
adequação ao sistema normativo pretérito (expectativa de direito)”9.

Já a inelegibilidade pode ser conceituada como o estado


jurídico daquele que não possui elegibilidade e, na prática, o próprio direito

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subjetivo de ser votado.

Impende, ainda que brevemente, analisar as espécies de


inelegibilidade.

Consoante a análise sistêmica do microssistema eleitoral,


extrai-se que a inelegibilidade pode ser sanção, porque derivada da prática de
ato ilícito, ou apenas efeito jurídico. No primeiro caso, a lei comina sanção de
inelegibilidade em razão da prática de certas condutas ilícitas, e.g., a captação
ilícita de sufrágio, condutas vedadas, abuso de poder econômico etc. Já na
segunda hipótese, a inelegibilidade não surge pela prática de qualquer ato
ilícito, e sim de um fato jurídico lícito, a exemplo de uma relação de parentesco
numa determinada área geográfica ou por ser o cidadão servidor público.

Dito isso, a doutrina, acertadamente, afirma que a


“inelegibilidade há de ser vista como um impedimento a que o nacional possa
concorrer validamente a um mandato eletivo, independentemente de advir de

9 TSE, RESPE nº 13860, Acórdão de 29/09/2017, Relator Min. Luiz Fux, Publicação: Data 16/08/2017.
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um fato jurídico lícito ou ilícito”10, sendo cominada ou inata, respectivamente.

Além de dispor sobre as condições de elegibilidade e sobre as


inelegibilidades inatas, a Constituição Federal, no artigo 14, parágrafo 9º,
visando a proteger “a probidade administrativa, a moralidade para exercício de

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mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e
legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso
do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”,
impôs ao legislador complementar o dever de estabelecer outros casos de
inelegibilidade, situação de todo parecida com a dos mandados constitucionais
de criminalização, que cobram do Estado comportamento legiferante positivo a
fim de se proteger determinado bem jurídico

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Tal mister foi realizado por meio da edição da LC nº 64/90, com
as substanciosas alterações promovidas pela LC nº 135/2010, a qual elenca rol
de inelegibilidades inatas e cominadas.

Conforme dito acima, em preliminar, o parágrafo 10 do artigo 11


da LE apresenta a regra sobre o momento de aferição das causas de
elegibilidade e de inelegibilidade, que é o “momento da formalização do pedido
de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas,
supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade”. É em relação a esse
momento do calendário eleitoral que se realiza o controle judicial das
inelegibilidades – se preexistentes, devem ser arguidas em AIRC; se
posteriores, podem ser analisadas em RCED.

Na hipótese vertente, o RCED foi ajuizado em razão da


superveniência de inelegibilidade imputada a Marco Antônio Marchi e a
Alexandre Ribeiro Mustafá, que, na qualidade de prefeito e vice-prefeito, teriam
10 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de direito eleitoral – 10. ed. - Belo Horizonte: Fórum, 2016 –
p. 186.
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sido condenados por abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de
comunicação, atraindo a inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso I, alínea ‘d’,
da LC nº 64/90.

De início, assente-se que, nos autos da AIJE nº 316-24.2016,

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Alexandre Ribeiro Mustafá, vice-prefeito reeleito, teve a sanção de
inelegibilidade afastada por esse Tribunal, conforme se constata da ementa do
acórdão abaixo, in verbis:

EMENTA: RECURSOS ELEITORAIS. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL. USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL.
ELEIÇÕES 2016. CANDIDATOS A PREFEITO E VICE-PREFEITO
ELEITOS. JORNAL "GAZETA DE ITUPEVA". SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. ACÓRDÃO DESTE TRIBUNAL QUE NÃO CONHECEU
DOS RECURSOS INTERPOSTOS POR HERICKSON ALMEIDA DOS

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SANTOS E MARCO ANTONIO MARCHI; DEU PARCIAL PROVIMENTO
AO RECURSO DE ALEXANDRE RIBEIRO MUSTAFÁ, PARA AFASTAR A
SANÇÃO DE INELEGIBILIDADE A ELE APLICADA; E CORRIGIU, DE
OFÍCIO, O DISPOSITIVO DA SENTENÇA, PARA DETERMINAR, NOS
TERMOS DO ARTIGO 224, § 3º, DO CÓDIGO ELEITORAL, A
REALIZAÇÃO DE NOVAS ELEIÇÕES. DETERMINAÇÃO, PELO TSE, DE
RETORNO DOS AUTOS A ESTA CORTE, PARA AFASTAR A
IRREGULARIDADE NA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL DO RECURSO
DE MARCO ANTONIO MARCHI E APRECIAR O RECURSO POR ELE
INTERPOSTO. 1. Mérito. a) Caracterizado o uso indevido dos meios de
comunicação social. O periódico "Gazeta de Itupeva" foi fundado, em 24
de setembro de 2015, por Herickson Almeida dos Santos, que, à época, era
Chefe do Gabinete do vereador Ângelo Dante Lorenção, filiado ao PSDB,
partido que compôs a coligação majoritária vencedora do pleito de 2016. Há
prova do vínculo entre o jornal e o candidato a prefeito Marco Antonio
Marchi. Resta evidente que o jornal "Gazeta de Itupeva", de distribuição
gratuita, trouxe destaques que não possuíam viés informativo. Inequívoco
desequilíbrio de forças entre os candidatos. As edições gratuitas se
intensificaram em agosto e setembro de 2016. b) Verifica-se a gravidade da
conduta de Marco Antonio Marchi: i) no seu vínculo direto com o proprietário
do periódico, Herickson; ii) no numeroso e repetitivo ataque pessoal a
Ricardo Bocalon; iii) na gratuidade do periódico "Gazeta de Itupeva"; iv) na
significativa tiragem de 15.000 exemplares por edição, em comparação com
o eleitorado de Itupeva, no pleito de 2016: 38.339 e v) na intensificação
ocorrida em setembro, com a confecção de 4 edições, totalizando 60.000
exemplares. RECURSO DE MARCO ANTONIO MARCHI DESPROVIDO.
MANTIDA A CORREÇÃO, DE OFÍCIO, DO DISPOSITIVO DA SENTENÇA
QUE DETERMINOU, NOS TERMOS DO ARTIGO 224, § 3º, DO CÓDIGO
ELEITORAL, A REALIZAÇÃO DE NOVAS ELEIÇÕES. Vistos, relatados e
discutidos os autos do processo acima identificado, ACORDAM, os Juízes
do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo, por votação
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unânime, em negar provimento ao recurso interposto por Marco Antonio


Marchi e manter a correção, de ofício, do dispositivo da sentença, para
determinar, nos termos do artigo 224, § 3º, do Código Eleitoral, a realização
de novas eleições.

A par disso, remanesce a legitimidade passiva ad causam de


Alexandre Ribeiro Mustafá, em razão do litisconsórcio necessário e unitário. É

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que por se tratar de chapa formada para o pleito majoritário, e sem negar o
caráter pessoal da sanção de inelegibilidade, a ausência de condição de
elegibilidade ou a presença de inelegibilidade, na data da eleição, efetivamente
maculou a chapa por inteiro, viciou a vontade livre dos eleitores – que votaram
não apenas em um candidato, mas em ambos -, de tal modo que a
desconstituição do mandato eletivo de um de seus integrantes irradia efeitos
jurídicos ao outro.

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Conforme a inconstitucionalidade incidental do parágrafo 2º
artigo 262 do CE suscitada em preliminar, na medida que a alteração
promovida pela Lei nº 13.877/2019 viola o princípio da proibição do retrocesso
e confere proteção deficiente ao bem jurídico tutelado pela norma eleitoral,
deve a inelegibilidade superveniente ser reconhecida, porquanto derivada de
condenação colegiada por abuso dos meios de comunicação social ocorrida
após o registro de candidatura e antes da data da diplomação.

Ao contrário do que alegam Marco Antônio Marchi e Alexandre


Ribeiro Mustafá, a condenação imposta por essa Corte Regional, por abuso
dos meios de comunicação social, atrai a inelegibilidade prevista no artigo 1º,
inciso I, alínea ‘d’, da LC nº 64/90. A própria lei das inelegibilidades equipara as
hipóteses de abuso de poder econômico, político e dos meio de comunicação
social, para efeito de causa de pedir da AIJE. O abuso referido pela lei, em
sentido amplo, significa o mau uso, o excesso, o uso inadequado de
determinada posição jurídica ou econômica, amoldando-se perfeitamente o uso
indevido dos meios de comunicação social ao abuso previsto na lei. Além
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disso, para extirpar qualquer dúvida, o inciso XIV do artigo 22 da LC nº 64/90


expressamente diz que “julgada procedente a representação, ainda que após a
proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado
e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção
de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos

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subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou
diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder
econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos
meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério
Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de
ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie
comportar”.

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Por fim, não prospera a afirmação de que a inelegibilidade ora
discutida seria preexistente ao registro de candidatura, por ter sido a
condenação colegiada, da qual derivada a inelegibilidade, proferida em
07.10.2020, antes do deferimento do registro de candidatura, que ocorreu em
09.10.2020.

Na forma do artigo 3º da LC nº 64/90, a impugnação do registro


de candidatura deve ser feita no prazo de cinco dias, contados da publicação
do requerimento do registro. Ocorre que, no caso específico, o RRC foi
protocolado em 8.9.2020, muito antes do julgamento da AIJE nº 316-24.2016,
de modo que era objetivamente impossível arguir a referida inelegibilidade nos
autos do RRC.

Desta forma, conclui-se que, a partir da condenação em


segundo grau de Marco Antônio Marchi, por abuso dos meios de comunicação
social, em 7.10.2020, restou configurada a inelegibilidade superveniente
prevista no artigo 262, caput, do CE.
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IV. CONCLUSÃO

Diante do exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral


manifesta-se pelo afastamento das preliminares suscitadas por Marco

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Antônio Marchi e Alexandre Ribeiro Mustafá e suscita a preliminar de
inconstitucionalidade incidental do parágrafo 2º do artigo 262 do Código
Eleitoral. No mérito, por que seja julgado procedente o pedido.

São Paulo, data da assinatura eletrônica.

(assinatura digital)

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SÉRGIO MONTEIRO MEDEIROS
Procurador Regional Eleitoral

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