Está en la página 1de 1

A Dimensão Pessoal e Social da Moral

O Dilema do Prisioneiro
“O leitor e outro prisioneiro jazem em celas separadas da Esquadra (...) Os agentes tentam
fazer-vos confessar ter conspirado contra o estado. Um interrogador vem até à sua cela (…) e
(…) propõe-lhe um acordo.
— Confesse o crime! — encoraja ele. — E se o seu amigo na outra cela…
O leitor protesta, alegando nunca ter visto antes o prisioneiro que se encontra na outra cela,
mas o interrogador ignora a objecção e prossegue:
— Ainda melhor, então, se ele não é seu amigo; pois, como eu estava a dizer, se o senhor
confessar, e ele não, usaremos a sua confissão para o engaiolar a ele dez anos. A sua
recompensa será a liberdade. Por outro lado, se for estúpido ao ponto de se recusar a confessar,
e o seu "amigo" na outra cela confessar, será o senhor a ir para a prisão dez anos, e ele será
libertado.
O leitor pensa nisto durante algum tempo, percebe que não tem informação suficiente para
decidir e pergunta:
— E se confessarmos ambos?
— Então, e uma vez que não precisamos realmente da sua confissão, não sairá em liberdade.
Mas, tendo em conta que estavam a tentar ajudar-nos, passarão os dois oito anos na cadeia.
— E se nenhum de nós confessar?
Uma expressão de desdém perpassa o rosto do interrogador e o leitor receia que ele esteja
prestes a golpeá-lo. Mas o homem controla-se e rosna que, então, uma vez que não terão provas
para a condenação, não poderão manter-vos lá dentro muito tempo. Mas acrescenta:
— Não desistimos facilmente. Ainda podemos manter-nos aqui seis meses, a interrogar-vos,
antes de os sacanas da Amnistia Internacional conseguirem pressionar o governo para vos tirar
daqui. Portanto, pense no assunto: quer o seu colega confesse, quer não, o senhor ficará melhor
se confessar do que se não o fizer. E o meu colega vai dizer a mesma coisa ao outro tipo.
O leitor reflecte no que ele disse e compreende que o guarda tem razão. Faça o que fizer o
estranho na outra cela, o leitor ficará melhor se confessar. Se ele confessar, a sua escolha é
entre confessar também, e apanhar oito anos de prisão, ou não confessar, e passar dez anos
atrás das grades. Por outro lado, se o outro prisioneiro não confessar, a sua escolha é entre
confessar, e sair livre, ou não confessar, e passar seis meses na cela. Portanto, parece que o
melhor a fazer é confessar. Mas, então, ocorre-lhe outro pensamento. O outro prisioneiro está
exactamente na mesma situação. Se, para si, é racional confessar, também será racional
para ele confessar. Assim, passarão ambos oito anos na cadeia. Por outro lado, se ninguém
confessar, ambos ficarão livres dentro de seis meses. Como pode ser que a escolha que
parece racional, para cada um dos dois, individualmente — ou seja, confessar — vos
prejudique mais a ambos do que se decidirem não confessar? O que deve fazer?
Não há solução para o Dilema do Prisioneiro. De um ponto de vista puramente do interesse
próprio (aquele que não toma em consideração os interesses do outro prisioneiro), é racional,
para cada prisioneiro, confessar — e se cada um fizer o que é racional do ponto de vista do
interesse próprio, ficarão ambos pior do que ficariam se tivessem escolhido de outro modo. O
dilema prova que quando cada um escolhe, individualmente, aquilo que é do seu interesse
próprio, pode ficar pior do que se tivesse sido feita uma escolha do interesse colectivo.”
Peter Singer
 (1993) Como Havemos de Viver? A Ética Numa Época de Individualismo.
Lisboa: Dinalivro, 2006, pp. 241-244. (Adaptado por Joana Inês Pontes

También podría gustarte