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PROJUDI - Recurso: 0062211-56.2020.8.16.0000 - Ref. mov. 27.

1 - Assinado digitalmente por Maria Jose de Toledo Marcondes Teixeira:1850


19/11/2020: NÃO CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR. Arq: Decisão

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
ÓRGÃO ESPECIAL

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Autos nº. 0062211-56.2020.8.16.0000

Recurso: 0062211-56.2020.8.16.0000
Classe Processual: Direta de Inconstitucionalidade
Assunto Principal: Inconstitucionalidade Material
Autor(s): JOSÉ RODRIGUES LEMOS
Polo Passivo(s): Município de Cascavel/PR
Câmara Municipal de Cascavel/PR

I.Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar inaudita


altera pars, proposta pelo Deputado Estadual José Rodrigues Lemos em face da Lei municipal nº
7.160/2020, de Cascavel, que instituiu as diretrizes da Educação Domiciliar (homeschooling) no âmbito
daquela municipalidade.

Assevera que o ato normativo impugnado está maculado por vício de


inconstitucionalidade, uma vez que compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional.

Defende que a legislação objurgada também viola o princípio da prioridade absoluta das
crianças e adolescentes, previsto no artigo 277 da Constituição Federal, de acordo com o qual é dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem o direito à educação.

Aponta, ainda, contrariedade aos artigos 206 da Constituição Federal, 1º, 2º e 14, da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/1996) e 12, V, 184 e 186 da Constituição do Estado do
Paraná.

Indica, outrossim, a existência de vício de iniciativa da norma, o que implica em sua


inconstitucionalidade por ofensa ao artigo 66, IV, da Constituição estadual.

Diante do exposto, pede a concessão de medida cautelar inaudita altera pars,


determinando-se a suspensão dos efeitos da norma. Ao final, requer a procedência da ação direta de
inconstitucionalidade.

Por meio da decisão de mov. 9.1, determinei a intimação do autor para emendar a inicial,
ao efeito de a) indicar especificamente as normas da Constituição do Estado do Paraná que teriam sido
violadas pelo ato normativo vergastado, assim como os fundamentos jurídicos em relação a cada uma das
impugnações; b) promover a juntada de cópia integral do processo legislativo que deu origem à norma ora
questionada.

O autor manifestou-se no mov. 12.1 e juntou os documentos de movs. 12.2 a 12.7.


PROJUDI - Recurso: 0062211-56.2020.8.16.0000 - Ref. mov. 27.1 - Assinado digitalmente por Maria Jose de Toledo Marcondes Teixeira:1850
19/11/2020: NÃO CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR. Arq: Decisão

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Ao mov. 14.1, concedi ao autor nova oportunidade de emendar a inicial, para expor os
fundamentos jurídicos de seu pedido de declaração de inconstitucionalidade da norma impugnada e trazer
aos autos cópia do processo legislativo que originou a lei vergastada.

A Associação Nacional de Educação Domiciliar requereu sua intervenção no feito na

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condição de amicus curiae (mov. 16.1).

O autor emendou a inicial (mov. 25.1), apontando que a Lei municipal nº 7.160/2020, de
Cascavel, violou o disposto nos artigos 66, IV, 12, V, 17, VI, 165, 177, 178, 179, 184 e 186 da
Constituição do Estado do Paraná. Juntou os documentos de movs. 25.2 a 25.21.

Retornaram-me conclusos.

É o relatório.

II. De início, acolho a emenda à proemial.

III. O Supremo Tribunal Federal[1]e este Órgão Especial[2] admitem, em regime de


excepcionalidade, o exame monocrático de cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, com
posterior chancela pelo órgão colegiado, quando as circunstâncias do caso concreto assim o exigem.

Não é, contudo, o caso dos autos.

Com efeito.

O deferimento de medida cautelar em sede de ação direta de inconstitucionalidade reclama


a demonstração da plausibilidade jurídica dos fundamentos invocados pela parte autora (fumus boni iuris)
e a possibilidade de prejuízo decorrente da manutenção do dispositivo questionado (periculum in mora)
até ulterior julgamento de mérito. Sobre o tema, pertinente trazer a lição de Ives Gandra da Silva Martins
[3]:

“O provimento cautelar, em ação direta de inconstitucionalidade, não difere, em sua


natureza, dos exarados em processos cautelares preparatórios ou incidentais previstos
no Código de Processo Civil, nas medidas liminares em mandado de segurança, e até
nas tutelas antecipadas, verdadeiros julgamentos prévios do mérito de ações ainda em
curso. A diferença é que, no controle concentrado, o que se visa preservar é a própria
ordem jurídica, a Constituição, afastando, initio litis e com eficácia erga omnes, a lei
ou o ato normativo que se repute inconstitucional.

Tal provimento só pode ser concedido em face do fumus boni juris e do periculum in
mora, que devem exsurgir, com clareza, da petição inicial, a partir dos fundamentos
jurídicos e fáticos necessários para seu julgamento. Muito embora o controle seja
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abstrato, aspectos fáticos podem reforçar ou afastar a presença desses requisitos.

Por fumus boni juris entende-se a relevância ou a plausibilidade jurídica dos


fundamentos deduzidos pelo autor da ação direta de inconstitucionalidade.

Já o periculum in mora é representado pela possibilidade de prejuízo decorrente do

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retardamento da decisão postulada – quer pela irreparabilidade ou insuportabilidade
dos danos emergentes dos próprios atos impugnados, quer pela necessidade de
garantir ulterior eficácia da decisão a ser proferida na causa – ou, quando menos,
pelo requisito subjetivo da conveniência da medida postulada.” (grifamos)

Mais que o tradicional periculum in mora, o deferimento monocrático e imediato do pleito


cautelar exige a demonstração da excepcional e extraordinária urgência da providência reclamada ou,
ainda, de situação de urgência qualificada[4], que não permita aguardar o trâmite regular da ação direta
de inconstitucionalidade.

Após compulsar atentamente os autos e apreciar as razões lançadas na exordial, não


identifico, em um juízo cognitivo perfunctório, próprio desta fase processual, a presença dos requisitos
autorizadores à concessão da medida cautelar almejada.

Isso porque, guardadas as limitações próprias desta fase de cognição superficial, conquanto
relevantes os fundamentos lançados na inicial e nas petições de emenda, mormente em face da recente
decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos de Recurso Extraordinário nº 888.815/RS[5],
não vislumbro a presença do periculum in mora, o que impede a concessão imediata da pretendida
cautelar, mesmo porque o autor sequer fundamentou onde residiria o prejuízo decorrente de eventual
demora na concessão da providência por ele almejada.

IV. Por outro lado, considerando que a matéria arguida na presente ação direta de
inconstitucionalidade assume inegável relevância social, bem como, em prestígio à celeridade e economia
processuais, impõe-se adotar o rito abreviado para o processamento do feito, na forma dos artigos 12 da
Lei nº 9.868/99 e 260 do Regimento Interno desta Corte.

V. Nessas condições, intimem-se o Presidente da Câmara Municipal de Cascavel/PR e o


Prefeito Municipal de Cascavel/PR para que prestem informações definitivas sobre o mérito da presente
ação no prazo de 10 (dez) dias.

VI. Em seguida, notifiquem-se a Procuradoria-Geral do Estado e a Procuradoria-Geral de


Justiça para que se manifestem no prazo sucessivo de 05 (cinco) dias.
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VII. Finalmente, tendo-se em vista a relevância da matéria, a representatividade do
postulante e a pertinência temática, admito o ingresso da Associação Nacional de Educação Domiciliar
(mov. 16.1) como amicus curiae, em conformidade com o disposto no artigo 7º, §2º, da Lei nº 9.868/99.

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[1] Entre outros: ADI nº 5420/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, decidida em 03/12/2015; ADI nº 4.307/DF-MC,
Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de 8/10/09; ADI nº 4.598/DF-MC, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 1º/8/11; ADI
nº 4.638/DF-MC, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 1º/2/12; ADI nº 4.705/DF-MC, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, DJ de 1º/2/12; ADI nº 4.635-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 5/11/12; ADI nº 4.917-MC,
Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de 21/3/13; e ADI 5.184-MC, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 9/12/14.

[2] Como exemplos, menciono a ADI nº 1748184-0, Rel. Des. Luís Carlos Xavier, DJe 22/01/2019; ADI
1.475.135-8, Rel. Des. Jorge Wagih Massad, DJe 21/01/2016 e a ADI nº 1.583.131-7, Rel. Des. Paulo
Cezar Bellio, DJe 02/02/2017.

[3] MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira de. Controle Concentrado de
Constitucionalidade. 3ª ed. Saraiva: São Paulo, 2009. p. 331-332.

[4] ADI nº 4.307/DF-MC, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de 8/10/09.

[5] “CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. DIREITO FUNDAMENTAL RELACIONADO À


DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E À EFETIVIDADE DA CIDADANIA. DEVER SOLIDÁRIO
DO ESTADO E DA FAMÍLIA NA PRESTAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL. NECESSIDADE
DE LEI FORMAL, EDITADA PELO CONGRESSO NACIONAL, PARA REGULAMENTAR O
ENSINO DOMICILIAR. RECURSO DESPROVIDO. 1. A educação é um direito fundamental
relacionado à dignidade da pessoa humana e à própria cidadania, pois exerce dupla função: de um lado,
qualifica a comunidade como um todo, tornando-a esclarecida, politizada, desenvolvida (CIDADANIA);
de outro, dignifica o indivíduo, verdadeiro titular desse direito subjetivo fundamental (DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA). No caso da educação básica obrigatória (CF, art. 208, I), os titulares desse direito
indisponível à educação são as crianças e adolescentes em idade escolar. 2. É dever da família, sociedade
e Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, a educação. A
Constituição Federal consagrou o dever de solidariedade entre a família e o Estado como núcleo principal
à formação educacional das crianças, jovens e adolescentes com a dupla finalidade de defesa integral dos
direitos das crianças e dos adolescentes e sua formação em cidadania, para que o Brasil possa vencer o
grande desafio de uma educação melhor para as novas gerações, imprescindível para os países que se
querem ver desenvolvidos. 3. A Constituição Federal não veda de forma absoluta o ensino domiciliar,
mas proíbe qualquer de suas espécies que não respeite o dever de solidariedade entre a família e o Estado
como núcleo principal à formação educacional das crianças, jovens e adolescentes. São inconstitucionais,
portanto, as espécies de unschooling radical (desescolarização radical), unschooling moderado
(desescolarização moderada) e homeschooling puro, em qualquer de suas variações. 4. O ensino
domiciliar não é um direito público subjetivo do aluno ou de sua família, porém não é vedada
constitucionalmente sua criação por meio de lei federal, editada pelo Congresso Nacional, na modalidade
“utilitarista” ou “por conveniência circunstancial”, desde que se cumpra a obrigatoriedade, de 4 a 17 anos,
e se respeite o dever solidário Família/Estado, o núcleo básico de matérias acadêmicas, a supervisão,
avaliação e fiscalização pelo Poder Público; bem como as demais previsões impostas diretamente pelo
texto constitucional, inclusive no tocante às finalidades e objetivos do ensino; em especial, evitar a evasão
escolar e garantir a socialização do indivíduo, por meio de ampla convivência familiar e comunitária (CF,
art. 227). 5. Recurso extraordinário desprovido, com a fixação da seguinte tese (TEMA 822): “Não existe
PROJUDI - Recurso: 0062211-56.2020.8.16.0000 - Ref. mov. 27.1 - Assinado digitalmente por Maria Jose de Toledo Marcondes Teixeira:1850
19/11/2020: NÃO CONCEDIDA A MEDIDA LIMINAR. Arq: Decisão

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direito público subjetivo do aluno ou de sua família ao ensino domiciliar, inexistente na legislação
brasileira”.”

(RE 888815, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES,

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Tribunal Pleno, julgado em 12/09/2018, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-055 DIVULG 20-03-2019 PUBLIC 21-03-2019)

Curitiba, 18 de novembro de 2020.

Desembargadora Maria José de Toledo Marcondes Teixeira

Magistrado

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