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MBA Gestão Ambiental Fortium

Disciplina: Educação Ambiental


Professora: Isabel Campos Salles Figueiredo

A TERRA ESTÁ DOENTE

A cada ano, desde 1984, o Worlwatch Institute dos EUA publica um relatório sobre o “estado da Terra”.
Este estado é cada vez mais assustador. A Terra está enferma e ameaçada. Das muitas constatações,
aduzamos apenas duas.
A primeira: o ser mais ameaçado da natureza hoje é o pobre. Setenta e nove por cento da
humanidade vivem no Grande Sul pobre; 1 bilhão de pessoas vivem em estado de pobreza absoluta; 60
milhões morrem anualmente de fome, e 14 milhões de jovens abaixo de 15 anos morrem anualmente em
conseqüência das doenças da fome. Em face deste drama a solidariedade entre os humanos é
praticamente inexistente.
A segunda: as espécies de vida correm semelhante ameaça. Estimativas apontam: entre 1500 e
1850 foi presumivelmente eliminada uma espécie a cada dez anos. Entre 1850 e 1950, uma espécie por
ano. A partir de 1990 está desaparecendo uma espécie por dia.
A consciência da crise ganhou expressão em 1972 com o relatório do famoso Clube de Roma,
articulação mundial de industriais, políticos, altos funcionários estatais e cientistas de várias áreas para
estudar, as interdependências das nações, a complexidade das sociedades contemporâneas a e natureza
com o objetivo de desenvolverem uma visão sistêmica dos problemas e novos meios de ação política para
a sua solução. O relatório tem por título: Os limites do crescimento.
A crise significa: a quebra de uma concepção de mundo. O que na consciência coletiva era
evidente, agora é posto e discussão. Qual era a concepção de mundo indiscutível? Que tudo deve girar ao
redor da idéia de progresso. E que este progresso se move entre dois infinitos: o infinito dos recursos da
Terra e o infinito do futuro. Pensava-se que a Terra era inesgotável em seus recursos e podíamos
progredir indefinidamente em direção do futuro. Os dois infinitos são ilusórios. A consciência da crise
reconhece: os recursos têm limites pois nem todos são renováveis; o crescimento indefinido para o futuro
é impossível, porque não podemos universalizar o modelo de crescimento para todos e para sempre. Se a
China quisesse propiciar a suas famílias o número de automóveis que os EUA propiciam às suas, ela se
transformaria em um imenso estacionamento. Nada se moveria.
O modelo de sociedade e o sentido de vida que os seres humanos projetaram para si, pelo menos
nos últimos 400 anos, estão em crise. E o modelo em termos da lógica do quotidiano era e continua
sendo: o importante é acumular grande número de meios de vida, de riqueza material, de bens e serviços
a fim de poder desfrutar a curta passagem por este planeta. Para realizar este propósito, nos ajudam a
ciência, que conhece os mecanismos da terra, e a técnica, que faz intervenções nela para o benefício
humano. E isso se fará com a máxima velocidade possível. Portanto, procura-se o máximo de benefício
com o mínimo de investimento e no mais curto prazo de tempo possível. O ser humano, nesta prática
cultural, se entende como um ser sobre as coisas, dispondo delas a seu bel-prazer, jamais como alguém
que está junto com as coisas, como membro de uma comunidade maior, planetária e cósmica. O efeito
final, somente agora visível de forma inegável, é este, expresso na frase atribuída a Gandhi: a terra é
suficiente para todos, mas não para a voracidade dos consumistas.
A consciência que vai crescendo mais e mais no mundo, mas não ainda de forma suficiente, se
emoldura assim: se levarmos avante este nosso sentido de ser e se dermos livre curso à lógica de nossa
máquina produtivista, poderemos chegar a efeitos irreversíveis para a natureza e para a vida humana:
desertificação, perda de florestas, aquecimento da Terra, chuvas ácidas, superpopulação. E apontam no
horizonte ainda outras conseqüências funestas para o sistema-Terra como eventuais conflitos
generalizados em conseqüência das desigualdades sociais no nível planetário.
Nesse contexto dramático, a ecologia está sendo evocada. Ela já possuía um século de existência
e sistematização. Mas os ecólogos pouco se faziam ouvir. Agora eles ocupam a cena ideológica, científica,
política, ética e espiritual.
A singularidade do saber ecológico consiste na transversalidade, quer dizer, no relacionar pelos
lados (comunidade ecológica), para a frente (futuro), para trás (passado) e a para dentro (complexidade)
todas as experiências e todas as formas de compreensão como complementares e úteis no nosso
conhecimento do universo, nossa funcionalidade dentro dele e na solidariedade cósmica que nos une a
todos.
A ecologia dá corpo a uma preocupação ética, também cobrada de todos os saberes, poderes e
instituições: em que medida cada um colabora na salvaguarda da natureza ameaçada? Em que medida
cada saber incorpora o ecológico, não como um tema a mais em sua disquisição, deixando inquestionada
sua metodologia específica, mas em que medida cada saber se redefine a partir da indagação ecológica e
aí se constitui num fator homeostático, vale dizer, fator de equilíbrio ecológico, dinâmico e criativo. Mais do
que dispor da realidade ao seu bel-prazer ou dominar dimensões da natureza, o ser humano deve
aprender o manejo ou o trato da natureza obedecendo a lógica da própria natureza ou, partindo do interior
dela.
A partir dessa preocupação ética de responsabilidade para a criação, a ecologia deixou seu
primeiro estágio na forma de movimento verde ou de proteção e conservação de espécies em extinção.
Transformou-se numa crítica radical do tipo de civilização que construímos. Ele é altamente energívoro e
desestruturador de todos os ecossistemas. É nesse sentido que o argumento ecológico é sempre evocado
em todas as questões que concernem à qualidade de vida, à vida humana no mundo e à salvaguarda ou
ameaça da totalidade planetária ou cosmológica.
Essa evocação da ecologia pretende ser uma via de redenção. Como sobreviver juntos, seres
humanos e o meio ambiente, pois temos uma mesma origem e um mesmo destino comum?

A CRISE ECOLÓGICA: CRISE DO PARADIGMA CIVILIZACIONAL?

Na atitude de estar sobre as coisas e sobre tudo parece residir o mecanismo fundamental da nossa
atual crise civilizacional. Qual a suprema ironia atual? A vontade de tudo dominar nos está fazendo
dominados e assujeitados aos imperativos de uma Terra degradada. A utopia de melhorar a condição
humana piorou a qualidade de vida. O sonho do crescimento ilimitado produziu o subdesenvolvimento de
dois terços da humanidade, a volúpia de utilização optimal dos recursos da Terra levou à exaustão dos
sistemas vitais e à desintegração do equilíbrio ambiental. Hoje a Terra se encontra em fase avançada de
exaustão e o trabalho e a criatividade, por causa da revolução tecnológica, da informatização e da
robotização, são dispensados e os trabalhadores excluídos até do exercício de reserva do trabalho
explorado. Ambos, terra e trabalhador, estão feridos e sangram perigosamente.
Houve, pois, algo de reducionista e de profundamente equivocado neste processo que somente
hoje temos condições de perceber e questionar em sua devida gravidade.
A questão que se coloca então é essa: é possível manter a lógica de acumulação, de crescimento
ilimitado e linear e ao mesmo tempo evitar a quebra dos sistemas ecológicos, a frustração de seu futuro
pelo desaparecimento das espécies, a depredação dos recursos naturais, sobre os quais as futuras
gerações também têm direito? Não há um antagonismo entre nosso paradigma hegemônico de existência
e a preservação da integridade da comunidade terrestre e cósmica? Podemos responsavelmente levar
avante esta aventura como foi conduzida até hoje? Com a consciência que hoje temos destas questões
não seria irresponsável e antiético continuar na mesma direção? Ou urge mudar de rota?
Há os que dizem: a mudança de rota é melhor para nós, para o ambiente, para o conjunto das
relações do meio ambiente e do ser humano, para o destino comum de todos e para a garantia de vida
para as gerações futuras. Só que para isso devem ser feitas profundas correções e também
transformações culturais, sociais, espirituais e religiosas. Apostamos nesta resposta/proposta. E nossas
reflexões querem reforçar este caminho.
Em outros termos: temos que entrar num processo de mudança de paradigma. Essa mudança
precisa ser dialética, vale dizer, assumir, tudo o que é assimilável e benéfico do paradigma da
modernidade e inseri-lo em outro diferente mais globalizante e benfazejo.
Será novo? Em termos absolutos não. Sempre existiu nas culturas humanas mesmo dentro do
paradigma hegemônico da modernidade outro tipo de relação para com a natureza, mais benevolente e
integrador, embora não fosse preponderante. Em termos relativos sim. E relação ao paradigma vigente e
hegemônico, o paradigma emergente é de natureza diversa. Por isso apresenta-se como relativamente
novo e tem a vocação de ser universalmente dominante.

A EMERGÊNCIA DO NOVO PARADIGMA: A COMUNIDADE PLANETÁRIA

Hoje estamos entrando num novo paradigma. Quer dizer, está emergindo uma nova forma de
dialogação com a totalidade dos seres e de suas relações. Evidentemente continua o paradigma clássico
das ciências, com seus famosos dualismos como a divisão do mundo entre material e espiritual, a
separação entre natureza e cultura, entre ser humano e mundo, razão e emoção, feminino e masculino,
Deus e o mundo e a atomização dos saberes científicos.
Mas, apesar disso tudo, em razão da crise atual, está se desenvolvendo uma nova sensibilização
para com o planeta como um todo. Daqui surgem novos valores, novos sonhos, novos comportamentos,
assumidos por um número cada vez mais crescente de pessoas e de comunidades. É dessa
sensibilização que nasce o novo paradigma. Ele ainda está sendo gestado. Não nasceu totalmente. Mas
está dando os primeiros sinais de existência.
O que está ocorrendo? Estamos regressando à nossa pátria natal. Estávamos perdidos entre
máquinas, fascinados por estruturas individuais, enclausurados em escritórios de ar refrigerado e flores
ressequidas, aparelhos eletrodomésticos e de comunicação e absortos por mil imagens falantes. Agora
estamos regressando à grande comunidade planetária e cósmica. Fascina-nos a floresta verde, paramos
diante da majestade das montanhas, enlevamo-nos com o céu estralado e admiramos a vitalidade dos
animais. Enchemo-nos de admiração pela diversidade das culturas, dos hábitos humanos, das formas de
significar o mundo. Começamos a colher e valorizar as diferenças. E surge aqui e acolá uma nova
compaixão para com todos os seres, particularmente por Aquiles que mais sofrem, na natureza e na
sociedade. Sempre houve na humanidade tal sentimento e sempre irrompeu semelhante emoção, pois
elas são humanas, profundamente humanas. Agora, entretanto, no transfundo da crise, elas ganham novo
vigor e tendem a disseminar e a criar um novo modo de ser, de sentir, de pensar, de valorar, de agir, de
rezar.
Recusamo-nos a rebaixar a Terra a um conjunto de recursos naturais ou a u reservatório físico-
químico de matérias-primas. Ela possui sua identidade e autonomia como um organismo extremamente
dinâmico e complexo. Ela, fundamentalmente, se apresenta como a grande mãe que nos nutre e carrega.
É a grande generosa Pacha Mama (Grande Mãe) das culturas andinas ou um superorganismo vivo, a
Gaia, da mitologia grega e da moderna cosmologia.
Queremos sentir a Terra em primeira mão. Sentir o vento em nossa pele, mergulhar nas águas da
montanha, penetrar na floresta virgem e captar as expressões da biodiversidade. Ressurge uma atitude de
encantamento, reponta uma nova sacralidade e desponta um sentimento de intimidade e de gratidão.
Queremos saborear produtos naturais em sua inocência, não trabalhados pela indústria dos interesses
humanos. O universo dos seres e dos viventes nos enche de respeito, de veneração e de dignidade.
Na base dessa nova percepção sente-se a necessidade de uma utilização nova da ciência e da
técnica com a natureza, em favor da natureza e jamais contra a natureza. Impõe-se, pois, a tarefa de
ecologizar tudo o que fazemos e pensamos, rejeitar os conceitos fechados, desconfiar das causalidades
inidirecionadas, propôs-se ser inclusivo contra todas as exclusões, conjuntivo contra todas as disjunções,
holístico contra todos os reducionismos, complexo contra todas as simplificações. Assim, o novo
paradigma começa a fazer a sua história.

Trechos selecionados do capítulo “A era ecológica: a volta à Terra como pátria/mátria comum” do
livro “Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres” de Leornardo Boff. Rio de Janeiro: Sextante. 2004.

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