1. A vida era normal, vivíamos entre o trabalho, a família e os amigos. Crescemos em Sbeinah, um campo de refugiados palestinos nas proximidades de Damasco. 2.
Trabalhava com o que?
1. Fábrica de fármacos. 2. Com meu próprio salão, como cabeleireiro
Perdeu algum ente querido no conflito?
1. Sim. Três primos. 2. Também.
Ainda tem pesadelos com o que viveu lá?
Viveu em algum outro país também?
1. Sim, Líbano, por dois anos. 2. Líbano, por dois anos.
Se sim, como era a vida lá?
1. Bem difícil. Quando fomos, já estavam lá dois milhões de refugiados do conflito sírio. Em um país muito pequeno que não tem nenhuma estrutura para receber essas pessoas. Temos família no Líbano, vivendo em campos palestinos lá. O visto no Líbano durou dois anos. Mas decidimos sair porque não dava mais para viver lá, naquelas condições. 2.
Quando veio para o Brasil?
1. Em setembro de 2014, com meu primo. 2. Em março de 2015, depois do meu irmão vir pra cá.
Ainda tem família na Síria?
1. Sim, minha irmã, meus tios e tias. A maior parte ficou lá. Recentemente, voltaram para as casas no campo, que tinha sido esvaziado após bombardeios. 2. O mesmo.
Por que decidiu vir?
1. Porque não era possível voltar para a Síria com a guerra, nem permanecer no Líbano, por conta das condições do país para os refugiados. Também não posso voltar para a Palestina, que é o meu país, na verdade. Cresci num campo de refugiados por não poder voltar para o meu país, porque tem outro Estado ocupando as nossas terras. 2. Como foi a recepção no Brasil? 1. A gente não foi recebido, exatamente. Ficamos em Guarulhos, inicialmente, conhecemos alguns árabes, outros refugiados africanos. Demoramos para estabelecer relações com brasileiros. Foi só em 2015, quando fomos morar na ocupação Leila Khaled, na Liberdade, que isso mudou. Nossa impressão geral é que tem gente muito boa, e gente ruim, como em todo lugar. 2.
Por que montar um restaurante?
1. Trabalhamos com comida desde 2015. É uma comida muito apreciada por brasileiros. Entre a gente, dois palestinos só trabalharam com comida na Síria, o resto de nós, não. Então é um jeito mais rápido e melhor para trabalhar aqui no Brasil. A gente fica feliz de ver os brasileiros comendo falafel, kafta e shawarma, que é a comida que a gente come. O Majaz é um restaurante, um lugar para as pessoas conversarem, tomarem chá, café, pra comer e beber. Mas também um lugar para ver a cultura palestina, a história da Palestina, a história e a política dos refugiados palestinos.
Quando ele abriu?
1. Abrimos o Majaz em abril deste ano. A gente queria abrir um lugar que fizesse sentido pra gente, como palestinos, com a nossa comida e o nosso trabalho. Por isso dividimos o restaurante em espaços que representam um mapa da Palestina. Escrevemos os nomes dos campos nas paredes, e versos do poeta palestino, Kanafani. Escolhemos o personagem do Najir-al Ali, o Handala, que é uma representação dele quando criança, quando saiu da palestina. Fizemos ele retornando às regiões palestinas, Galileia, Jaffa e Al-Nakb, olhando para as paisagens das cidades. Vamos abrir essa semana o espaço Kanafani, que pretendemos transformar um café, no futuro, com eventos culturais e políticos sobre a Palestina.
Qual o prato que mais gostava de comer na Síria?
1. Knafa, que na verdade, é um prato palestino. Um doce. 2. A comida da minha mãe, qualquer uma que ela faça. Ela que faz o charuto de uva do Majaz.
Pode indicar um prato que acha muito bom do Majaz (e o valor)?
1. O nosso falafel, que pode ser no sanduíche (17) ou a porção (20). Um prato simples, bem palestino e muito gostoso.
Sente saudades da Síria?
1. Sinto saudade do campo palestino, da vida no campo, com os amigos e a família.
Como está sendo a aceitação do novo restaurante?
1. Está sendo boa. O bairro é bom, tem muitas famílias e amigos vivendo lá, gente de todas as idades. A gente quer servir uma boa comida, com um bom atendimento, para as pessoas se sentirem acolhidas.