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Pergunta 11 pts
Texto para as questões 1 e 2.
Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987),
para responder à(s) questão(ões):
Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama: “Não saia casa 3
outubro abraços”.
O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da
hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a
nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com
uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o
pai nem tomara o mingau com broa, precipitara-se na agência para expedir a
mensagem.
Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava
cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone,
pediu linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava
naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita,
durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de
empregado da casa; insistira: “como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia
besouros na linha. Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que
talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas
de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal
emergência, e arrematou: “Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na
portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores
levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça
da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um
caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba
larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância. Foi saindo de
mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do
pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo
correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de
largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos
cantos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam
escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos
jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.
Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer.
Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava:
“Desculpe, é engano”, ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado,
jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se
fossem bichos. Deliberou deitar-se, embora a noite apenas começasse. Releu o
telegrama, apagou a luz.
Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a
ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe
está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje
e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A
cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a
verdade bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?”
“Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia?
E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu
dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não,
mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo
manja logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de
um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam
para vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma
infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?”
Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.”
“O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor
recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?”
“Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao
país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de
prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi
levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal,
exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma
ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me
aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo.
Juro!”
Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara:
realmente, não devia ter saído de casa.
(70 historinhas, 2016.)
arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da
1
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Pergunta 21 pts
De acordo com a crônica, o filho recebeu o telegrama do pai no dia
28 de setembro.
29 de setembro.
2 de outubro.
4 de outubro.
3 de outubro.
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Pergunta 31 pts
Uma esperança
Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica que tantas vezes verifica-se
ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem
concreta e verde: o inseto.
Houve o grito abafado de um de meus filhos:
– Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! – Emoção dele
também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes
surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em
mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno
rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não podia ser.
– Ela quase não tem corpo – queixei-me.
– Ela só tem alma – explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós,
descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.
Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros
da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes
teve que retroceder caminho.
Custava a aprender.
– Ela é burrinha – comentou o menino.
– Sei disso – respondi um pouco trágica.
– Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
– Sei, é assim mesmo.
– Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
– Sei – continuei mais infeliz ainda.
Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia
ou em Roma o começo de fogo do lar para que não apagasse.
– Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar
assim.
Andava mesmo devagar – estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo
ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo.
Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma
aranha. Não uma aranha, mas me parecia ‘a’ aranha. Andando pela sua teia
invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas
nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi
buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara
infelizmente a hora certa de perder a esperança:
– É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...
– Mas ela vai esmigalhar a esperança! – respondeu o menino com ferocidade.
– Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros – falei sentindo a
frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz. Depois
devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empregada: eu
lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança.
O menino, morta a aranha, fez um trocadilho com o inseto e a nossa esperança.
Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia
dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo.
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e
tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas
coisas, nunca tentei pegá-la. Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma
esperança bem menor que esta pousara no meu braço. Não senti nada, de tão
leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença.
Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: “e essa agora? que
devo fazer?” Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor
tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. É, acho
que não aconteceu nada.
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
(G1 - cftmg) Analise as seguintes afirmativas:
I. No título da crônica, o artigo indefinido indica, ao mesmo tempo, uma
singularidade e uma indefinição.
II. No trecho “Não uma aranha, mas me parecia ‘a’ aranha”, a mudança de artigo
tem função intensificadora.
III. No trecho “Encabulei com a delicadeza”, o artigo pode ser suprimido sem
alterar o sentido da frase.
Está correto o que se afirma em
I e II.
I e III.
II e III.
I, II e III.
II.
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Pergunta 41 pts
(Enem PPL) O exercício da crônica
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista;
não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas
personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador
cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se diante de sua máquina, acende um
cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato
qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que,
com duas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo.
MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
Nesse trecho, Vinicius de Moraes exercita a crônica para pensá-la como gênero
e prática. Do ponto de vista dele, cabe ao cronista
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Pergunta 51 pts
(Enem) Você pode não acreditar
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as
garrafinhas de leite do lado de fora das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.
A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhãzinha, passava pelas
casas e não ocorria que alguém pudesse roubar aquilo.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o
pão na soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via
aquilo como uma coisa normal.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para
namorar e voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente,
sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as
sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam
airosamente. Chegavam no meio da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam
café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às
suas casas.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro
ficava andando com a moça numa rua perto da casa dela, depois passava a
namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família. Era sinal de que já
estava praticamente noivo e seguro.
Houve um tempo em que havia tempo.
Houve um tempo.
SANTANNA, A. R. Estado de Minas, 5 maio 2013 (fragmento).
Nessa crônica, a repetição do trecho “Você pode não acreditar: mas houve um
tempo em que...” configura-se como uma estratégia argumentativa que visa
Advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se faz do tempo nos dias
atuais.
Incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo sem deixar de ser nostálgico.
Convencer o leitor sobre a veracidade de fatos relativos à vida no passado.
Vídeo-aulas
https://www.youtube.com/watch?v=sh08qQko-50
https://www.youtube.com/watch?v=rjHJT2WwVtg
Pergunta 11 pts
É MENINA
É menina, que coisa mais fofa, parece com o pai, parece com a mãe, parece um
joelho, upa, upa, não chora, isso é choro de fome, isso é choro de sono, isso é
choro de chata, choro de menina, igualzinha à mãe, achou, sumiu, achou, não faz
pirraça, coitada, tem que deixar chorar, vocês fazem tudo o que ela quer, 2isso
vai crescer mimada, eu queria essa vida pra mim, dormir e mamar, aproveita
enquanto ela ainda não engatinha, 3isso daí quando começa a andar é um
inferno, daqui a pouco começa a falar, daí não para mais, ela precisa é de um
irmão, foi só falar, olha só quem vai ganhar um irmãozinho, tomara que seja
menino pra formar um casal, ela tá até mais quieta depois que ele nasceu, parece
que ela cuida dele, esses dois vão ser inseparáveis, ela deve morrer de ciúmes,
ele já nasceu falante, menino é outra coisa, desde que ele nasceu parece que ela
cresceu, já tá uma menina, quando é que vai pra creche, ela não larga dessa
boneca por nada, já podia ser mãe, já sabe escrever o nomezinho, quantos dedos
têm aqui, qual é a sua princesa da Disney preferida, quem você prefere, o papai
ou a mamãe, quem é o seu namoradinho, quem é o seu príncipe da Disney
preferido, já se maquia nessa idade, é apaixonada pelo pai, cadê o Ken, daqui a
pouco vira mocinha, eu te peguei no colo, só falta ficar mais alta que eu,
finalmente largou a boneca, já tava na hora, agora deve tá pensando besteira,
soube que virou mocinha, ganhou corpo, tenho uma dieta boa pra você, a dieta
do ovo, a dieta do tipo sanguíneo, a dieta da água gelada, essa barriga só resolve
com cinta, que corpão, essa menina é um perigo, 1vai ter que voltar antes de
meia-noite, o seu irmão é diferente, menino é outra coisa, vai pela sombra, não
sorri pro porteiro, não sorri pro pedreiro, quem é esse menino, se o seu pai
descobrir, ele te mata, esse menino é filho de quem, cuidado que homem não
presta, não pode dar confiança, não vai pra casa dele, homem gosta é de mulher
difícil, tem que se dar valor, homem é tudo igual, segura esse homem, não fuxica,
não mexe nas coisas dele, tem coisa que é melhor a gente não saber, não
pergunta demais que ele te abandona, o que os olhos não veem o coração não
sente, quando é que vão casar, ele tá te enrolando, morar junto é casar, quando
é que vão ter filho, ele tá te enrolando, barriga pontuda deve ser menina, é
menina.
DUVIVIER, Gregorio. Folha de São Paulo, 16/09/2013.
(Uerj) A crônica de Gregorio Duvivier é construída em um único parágrafo com
uma única frase. Essa frase começa e termina pela mesma expressão: é menina.
Em termos denotativos, a menina, referida no final do texto, pode ser
compreendida como:
Filha da primeira
Ideal de pureza
Mulher na infância
Sinal de transformação
Sinal de mudança
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Pergunta 21 pts
Meu ideal seria escrever...
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está
doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse
tanto que chegasse a chorar e dissesse — “ai meu Deus, que história mais
engraçada!”. E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três
amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e
ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história
fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de
moça reclusa, enlutada, doente.
Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para
si própria — “mas essa história é mesmo muito engraçada!”. [...] Que nas cadeias,
nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse — e tão
fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem
seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler
minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres
mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse — “por favor, se comportem, que
diabo! Eu não gosto de prender ninguém!”. E que assim todos tratassem melhor
seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea
homenagem à minha história. [...]
E quando todos me perguntassem — “mas de onde é que você tirou essa
história?” — eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua,
de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal
começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história...”.
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a
minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que
está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela
pequena casa cinzenta de meu bairro.
BRAGA, Rubem. In: A traição das elegantes Record: Rio de Janeiro, 1982, p. 93.
(G1 - cftmg) Ao abordar seu próprio processo de escrita, Rubem Braga, em sua
crônica, alude a uma importante função social da literatura.
Segundo o texto, o que motiva o autor a escrever é uma preocupação artística
de natureza
humorística.
transgressiva.
humanizadora.
histórico-social.
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Pergunta 31 pts
Texto para as questões 3, 4 e 5.
Esparadrapo
Aquele restaurante de bairro é do tipo simpatia/classe média. 1Fica em rua
sossegada, é pequeno, limpo, cores repousantes, comida razoável, preços idem,
não tem música de triturar os ouvidos. 11O dono senta-se à mesa da gente, para
bater um papo leve, sem intimidades.
Meu relógio parou. Pergunto-lhe quantas horas são.
3
muito desagradável.
— E afinal?
— Cansei de explicar a eles que não havia cofre, nunca houve, como é que eu
podia inventar cofre naquela hora?
— Ficaram decepcionados, imagino.
— Não senhor. Disseram que tinha de haver cofre. Eram cinco, inclusive a moça
de bota e revólver, querendo me convencer que tinha cofre escondido na
parede, no teto, embaixo do piso, sei lá.
— E o resultado?
— Este — e baixou a cabeça, onde, no cocuruto, alvejava a estrela de
esparadrapo.
— Oh! Sinto muito. Não tinha notado. Felizmente escapou, é o que vale. Dê
4
(G1 - ifsc) Como é comum no gênero crônica, este texto trata de uma situação
cotidiana. Neste caso, assinale a alternativa CORRETA em que a situação
constitui o tema central do texto.
A importância da segurança.
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Pergunta 41 pts
(G1 - ifsc) Percebe-se que a palavra assalto não é mencionada explicitamente no
texto. Nas referências 7 e 8, foram utilizados para fazer referência ao assalto os
pronomes tudo e isso, respectivamente. Já nas referências 9 e 10, foi omitido o
sujeito de foi e podia ser Assim a ideia do assalto fica nas entrelinhas da
narrativa. Considerando o texto e o contexto da história, qual a melhor
explicação para essa omissão do substantivo assalto?
Assinale a alternativa CORRETA.
O autor da crônica visa causar no leitor a impressão de que os assaltos são tão
corriqueiros que não é preciso sequer que o dono do restaurante e o cliente
usem diretamente a palavra assalto para mostrar que esse é o tópico da
conversa.
O autor da crônica evita usar a palavra assalto para não chocar o leitor, porque o
tema da violência deixa as pessoas ansiosas. Para manter o tom leve da crônica e
não desagradar ao leitor, é preciso apresentar a ideia do assalto com sutileza,
suavidade.
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Pergunta 51 pts
(G1 - ifsc) A crônica, como um gênero na fronteira entre o jornalismo e a
literatura, apresenta algumas características próprias de textos literários, como o
uso de linguagem conotativa, ou figurada.
Assinale a alternativa CORRETA onde o trecho retirado do texto ocorre esse
tipo de linguagem.
“Oh! Sinto muito. Não tinha notado. Felizmente escapou, é o que vale. Dê graças
a Deus por estar vivo.” (ref. 4)
“Bem, eu moro ali adiante, mas e outros, os que nem se sabe onde moram, ou
estão de passagem na cidade?” (ref. 5)
AVALIAÇÃO SEMANAL
Pergunta 11 pts
Texto para as questões 1 e 2.
Para responder às questões a seguir, leia o seguinte verbete do Dicionário de
comunicação de Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Barbosa:
Crônica
Texto jornalístico desenvolvido de forma livre e pessoal, a partir de fatos e
acontecimentos da atualidade, com teor literário, político, esportivo, artístico, de
amenidades etc. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, a crônica é um
meio-termo entre o jornalismo e a literatura: “do primeiro, aproveita o interesse
pela atualidade informativa, da segunda imita o projeto de ultrapassar os simples
fatos”. O ponto comum entre a crônica e a notícia ou a reportagem é que o
cronista, assim como o repórter, não prescinde do acontecimento. Mas, ao
contrário deste, ele “paira” sobre os fatos, “fazendo com que se destaque no
texto o enfoque pessoal (onde entram juízos implícitos e explícitos) do autor”.
Por outro lado, o editorial difere da crônica, pelo fato de que, nesta, o juízo de
valor se confunde com os próprios fatos expostos, sem o dogmatismo do
editorial, no qual a opinião do autor (representando a opinião da empresa
jornalística) constitui o eixo do texto.
(Dicionário de comunicação, 1978.)
(Unesp) De acordo com o verbete, o tema de uma crônica se baseia em
juízos de valor.
anedotário popular.
fatos pessoais.
eventos do cotidiano.
eventos científicos.
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Pergunta 21 pts
(Unesp) Segundo o verbete, uma característica comum à crônica e à reportagem
é
a interpretação do acontecimento.
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Pergunta 31 pts
Despedida
Zélia Gattai
Sobre nossa casa, de Jorge e minha, na rua Alagoinhas, 33, no bairro do Rio
Vermelho, em Salvador da Bahia, muito já se disse, muito se cantou. Citada em
prosa e verso, sobra-me, no entanto, ainda o que dela falar.
Fico pensando se alcançarei escrever todas as histórias, tantas, de gente e de
bichos que nela passaram nesses quarenta anos lá vividos.
Neste momento, quando me despeço do lugar onde passei o melhor tempo de
minha vida, ao deixar Jorge repousando sob a mangueira por nós plantada no
jardim, mil lembranças afloram-me à cabeça. Lembro-me de coisas que para
muitos podem parecer tolas, mas que para mim não são.
Lembro-me, por exemplo, de duas mimosas lagartixas que viviam atrás de um
quadro de Di Cavalcanti, acima da televisão da sala, e que tanto nos divertiram.
Um belo dia elas apareceram, sem mais nem menos: uma toda rosada, quase
transparente; a outra com listras escuras em volta do corpo. Jorge foi logo
escolhendo: ‘A zebrinha é minha.’ A mais bonita, pois, ficou sendo a dele. A outra,
que jeito? De dona Zélia.
Recostados em nossas poltronas, após o jantar, para assistir aos noticiários de
TV, vimos, pela primeira vez, as duas saírem de seu esconderijo, uma atrás da
outra, direto para uma lâmpada acesa, no alto, reduto de mosquitos e de
bichinhos atraídos pela luz.
– Elas agora vão jantar – disse Jorge.
Dito e feito: as duas se aproximaram docemente da claridade, estancaram a uma
pequena distância da lâmpada e, imóveis, na moita, só observando. De repente,
o bote fatal foi desfechado e lá se foi um dos insetos para o bucho da lagartixa
de Jorge. Diante do perigo, quem era de voar voou, quem era de correr, correu,
lá se foram os bichinhos, não sobrou um pra remédio, o campo ficou limpo.
Estáticas, as duas sabidas aguardaram pacientes a volta das vítimas, que,
inocentes, aos poucos foram criando coragem e se chegando para, ainda uma
vez, cair na boca do lobo. Ainda uma vez o lobo foi a zebrinha, que, como num
passe de mágica, abocanhou um mosquito. Encantado, Jorge ria de se acabar,
provocando-me: ‘A tua não é de nada!’ Eu protestei e ele riu mais ainda.
Brincadeira boba, inocente, passou a ser nosso divertimento durante muitas e
muitas noites, muitas e muitas noites voltamos à nossa infância.
(Disponível em http://bsp.org.br/2012/05/17/relembre-zelia-gattai/. Acesso em 08 out. 2015.)
O texto pode ser considerado uma anedota, visto que se evidencia o aspecto
cômico da narrativa.
Pode-se denominar o texto como uma crônica, uma vez que se observa a
passagem do tempo e a reminiscência de um fato corriqueiro.
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Pergunta 41 pts
Crônica parafraseada de uma Síria em guerra
Ela abre os olhos. Não fosse o cheiro horrível de morte, o silêncio seria até
agradável, mas o olfato a lembra que não há paz 1– nem pessoas, vizinhos,
crianças. A trégua na manhãzinha não traz esperança. Tão somente lhe permite
descansar o corpo, mas não a mente. As lembranças da noite anterior ainda
produzem sobressaltos. Bombas, casas caindo e soldados gritando.
Levanta-se, bebe o pouco da água que restou do copo ao lado da cama. Já não é
tão limpa, nem farta como antes. Sempre um gosto amargo misturado
com
Abre a geladeira, e só encontra comida enlatada e congelada. E mesmo não tão
congelada assim, já que os cortes diários de eletricidade derretem as camadas de
gelo.
Os sobrinhos ainda dormem, e ela tenta orar. Não consegue. A mente
desconcentra-se facilmente. Em uma prece fragmentada, pede a Deus descanso
e trégua. E faz a oração sem pensar muito. Não precisa; é a mesma oração das
últimas semanas.
Ela não quer sair de casa. Não é teimosia, é falta de opção. 2“Para onde ir?”,
pergunta, com uma voz desesperançosa. Está tão confusa que não consegue
imaginar saídas.
Nem a piedade de enterrar os mortos o governo permite. Cadáveres estão
espalhados pelas ruas. As forças de Assad 3impediram de sepultar ou mesmo
remover os restos mortais. Ou seja, mesmo viva, ela não tem como fugir da
morte escancarada diante de seus olhos. Não é fácil acreditar na vida, quando a
realidade grita o contrário.
Se não podem sepultar os mortos, os sobreviventes tentam ao menos ajudar a
curar as feridas dos machucados. Não podem levá-los aos hospitais da cidade, já
que há um medo generalizado de que o governo prenda os feridos como se
fossem prisioneiros de guerra. Resta improvisar atendimento nos campos. Não
bastasse a precariedade do atendimento, não há medicamentos suficientes.
Rebeca, de 32 anos, é trabalhadora autônoma. Ou melhor, 4era. Agora já não
sabe mais o que é e o que faz em sua cidade Damasco, capital da Síria.
Crônica parafraseada do depoimento de uma moradora da capital da Síria
(identificada apenas pela letra “R”) ao jornal Folha de São Paulo, de quarta-feira,
dia 25. A Síria está em revolta há 16 meses contra a ditadura de Bashar al-Assad.
Nos últimos dias, o confronto contra os rebeldes se acirrou e as mortes
aumentaram.
Disponível em: <http://ultimato.com.br/sites/fatosecorrelatos/2012/07/26/cronica-
parafraseada-de-uma-siria-em-guerra/> Acesso em: 14 set. 2015.
I e IV apenas.
III apenas.
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Pergunta 51 pts
Texto para as questões 5, 6, 7 e 8.
O Desaparecido
Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que
sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade
muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com
um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te
embalando dentro de mim.
Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo
me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando
uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e,
entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso
de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me ao
espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses
cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se
apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre
feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a
família procura em vão.
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de
uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável
desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma
distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo,
pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.
(BRAGA, R. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2013. p. 465.)
(Uel) Sobre a linguagem e seus recursos empregados na crônica, considere as
afirmativas a seguir.
I. A adjetivação é intensa nessa crônica.
II. A seleção lexical da crônica revela a subjetividade do autor.
III. A linguagem é denotativa, para transmitir as informações desejadas,
conforme requer esse gênero textual.
IV. Trata-se de linguagem concisa, clara e adequada à situação de comunicação.
Assinale a alternativa correta.
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Pergunta 71 pts
(Uel) No início da crônica, há uma associação com um “daqueles velhos poetas
de antigamente”. Quanto à natureza dessa correlação, assinale a alternativa
correta.
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Pergunta 81 pts
(Uel) Leia, a seguir, o trecho presente no início do segundo parágrafo da crônica.
Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo
me achar ridículo [...]
A respeito desse trecho, considere as afirmativas a seguir.
I. O trecho representa a ruptura entre a crônica e o mundo através do
aprofundamento na vida interior.
II. O trecho contesta a viabilidade de uma crônica com marcas líricas
consideradas como tolices.
III. O trecho ressalta a crônica como veículo da expressão do sentimento de
desajuste entre o indivíduo e o mundo ao seu redor.
IV. A iniciativa metalinguística aponta a liberdade e a variedade de vertentes da
crônica que pode se valer de recursos narrativos e líricos.
Assinale a alternativa correta.
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Pergunta 91 pts
Texto para as questões 9 e 10.
Medo e vergonha
O medo é um evento poderoso que toma o nosso corpo, nos põe em xeque,
paralisa alguns e atiça a criatividade de outros. Uma pessoa em estado de pavor
é dona de uma energia extra capaz de feitos incríveis.
Um amigo nosso, quando era adolescente, aproveitou a viagem dos pais da
namorada para ficar na casa dela. Os pais voltaram mais cedo e, pego em
flagrante, nosso Romeu teve a brilhante ideia de pular, pelado, do segundo
andar. Está vivo. Tem hoje essa incrível história pra contar, mas deve se lembrar
muito bem da vergonha.
Me lembrei dessa história por conta de outra completamente diferente, mas na
4
folha.uol.com.br, 08/01/2013
guia − meio-fio da calçada
1
(Uerj) A crônica é um gênero textual que frequentemente usa uma linguagem
mais informal e próxima da oralidade, pouco preocupada com a rigidez da
chamada norma culta.
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Pergunta 101 pts
(Uerj) Na última frase da crônica, a autora correlaciona dois episódios. Em
ambos, aparece o atributo “pelado(a)”. No entanto, esse atributo tem significado
diferente em cada um dos episódios.
No texto, o significado de cada termo se caracteriza por ser, respectivamente:
literal e figurado
geral e particular
descritivo e irônico
ambíguo e polissêmico
irônico e amargo