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_ Metodologia daCiéncja Fabio Appolinario mttaer Oger bra o leitor encontraré uma z/ { a yem da metodotogia cientifica = B Z vilegia tanto os aspectos tedricos. ficos da ciéncia quanto seus ee 's praticos. 4, M t d [ be oma cara ecom ura seaténia eyone ogia Metodologia da Ciéncia é um guia ed, Pe jPasso para a producio de trabalhos ‘squisa. 0s, incluindo desde o planejamento e a elaboracao umentos de coleta de dados até a analise dos resultados e es. } de um texto didatico simples e conciso, fruto de anos de cia em sala de aula no ensino de metodologia cientifica para fe diversos cursos e areas do conhecimento. aL ADRES Ses: xto para disciplinas de metodologia cientifica, trabalhos de o de curso e métodos e técnicas de pesquisa e filosofia da em cursos de graduacao na: =} be} BIS} manas.e da jendo igualmente grande utilidade para alunos de programas jraduacao lato e stricto sensu. ENGAGE larnin Fimecotomcmnie ne i fi ‘ii! METODOLOGIA DA CIENCIA Filosofia e Pratica da Pesquisa Fabio Appolinario = CENGAGE S Learning” Ciéncia: Uma Visdo Geral Assim como casos 560 feitas de pedras, a ciéncia & feta de Fats. ‘Mas uma pilho de pedros néo é uma casa © uma colego de fatos ndo é, necessoriamente, ciéncia. Jules Henri Poincaré A ciéncia talvez seja o mais novo dos empreendimentos intelectuais buma nos, se considerarmas que, em seu formato atual, surgi apenas no século XVIL Todavia encontramo-nos hoje totalmente imersos em suas referencias € subprodutos (os artefatos tecnolégicos). Compreender a ciéncia significa compreender um pouco do nosso mundo contemporineo ~ incluindo af sua subjetividade inerente, Muito embora a maioria de aés no pretenda se transformar em um cien: te dito, consideramos fundamental compreender minimamente ‘como essa forma de conhecimento funciona ¢ como influencia nossa vida cotidiana, © objetivo deste capitulo € buscar uma primeira aproximacio cont © conceito € 0 universo da ciéncia, em suas diversas acepcdes. A Melhor Calga Jeans do Bra: Imagine a seguinte sitacio: voce deseja comprar un Mas voce decide util a calga jeans nova. um procedimento cientifico, if que pretende 4 wxopanecia ba cabin lcangar 0 resultado mais preciso € correto possivel. Hem, part que isso s€ concretize, primeiro precisiremos de dinheiro ~ algo em torno de RS 350 mil 86 para comecar (toda pesqui © primeiro passo sera descobrimos, por meio de um levantamento de mercado, 0s modelos ¢ fabricantes disponiveis, para que possamos efetuar comparagdes. Assim que soubermos quantos modelos vamos testar, pode- mos planejar as fases seguintes da nossa pesquisa, Digamos que con- cluimos, apés um levantamento que durou 30 dias, que ha 600 modelos diferentes de calgas, incluindo ai todas as variagdes de lavagens, tecidos, modelagens ¢ fabricantes. O proximo passo seri adquirirmos, prelerencial mente pelo menor preco possivel, um exemplar de cada modelo ~ ndo nos quecendo de anotar 0 prego € os dadlos biisicos dos fornecedores em uma planitha, para andlise futura cientifica deve ter um orgamento), ‘Teremos, entio, de submeter essas 600 calgas a uma série de testes, Por exemplo: 0 teste do “caimento”. Vamos convidar cinco especialistas em moda, = tés estilistas € dois jornalistas especializacos ~ para que possam avaliar esse quesito, atribuindo-The uma nota de 0a 10, enquanto voce desfila ele: gantemente em uma passarelt, com cada um dos 600 modelos, & claro. Com uma média de 40 modelos por dia, essa etapa levari cerca de 15 dias para ser compleiada. Depois, passamos ao segundo teste: montamos um laboratério com 60 mquinas de lavar € 60 secadoras de roupa. Lavamos e secamos continuamente cada pega pelo menos 20 vezes, Analisamos dois itens nessa etapa: a taxa de desbotamento da tintura (a cada lavagem) e a taxa de desagregagio progtes- siva do tecido, quando analisado por meio de microsc6pios, Considerando uum tempo (estimado) de 1 hora para lava, 40 minutos para secar € 1 hora © 20 minutos para analisar cada pega entre cada operacio de “lavagenvsecagem nilise’, eremos 300 horas «le trabalho por pega. Como so 60 miquin. zando 0 servigo simulianeamente, podemos considerar um total de 3 il que n sto dezenas de diligentes assistentes cle pesquisa, que trabalham 12 horas por dia, podemos estimar que essa fase levari uns 250 elas. Para encurtar © processo (ou ento gastaremos toda nossa verba), con- cluimos nossa pesquisa, comparando todas essas variaveis (preco, estilo, qu lidade do tecido), utilizando algumas técnicas especiais da estatistica e, 20 final de aproximadamente 10 meses, chegamos & conclusio perfeitamente cientifica de que a melhor calea jeans do Brasil é a... Bern, nao vamos reve- lar essa informagao confidencial de altissimo valor comercial, Muito ber. A essa alti . voc’ deve estar pensando: & inviivel tentar resolver todos os problemas por meio de procedimentos “cientificos". No caso da nossa calca, talvez 0 melhor mesmo seja consultar aquela nossa amiga que jé tem opiniao formada sobre o assunto e, entio, baseando-nos ‘em sua experiéncia, podemos concluir alguma coisa sobre o tema ~ $6 que de forma répida ¢ gratuita. A esse segundo procedimento damos 0 nome de senso comum. senso comum talvez. se} 4 primeira forma de conhecimento a ter sur: gido sobre a face da Terra, juntamente com o Homo sapiens, ha cerca de 40 mil anos. E essa form: de conhecer 0 mundo € extremamente importante: sem ela, no podiamos resolver os problemas mais hanais do nosso clia-2-dia = como o problema de descobrir a melhor calga jeans ene todas its que exis- tem no mercado brasileiro A todo instante precisa Os tomar decisdes: a de creme dental, « methor combinagie de cores para a roupa que vamos usar em uma entrevista de emprego, o aparelho celular que deve- mos comprar (¢ também qual operadora de telefonia celular e plano de assi- natura sto Os melhores para nds) etc melhor mare Baseando-se no exemplo da cal meter a tii vor? jf imaginou se Féssemos nos procedimentos cientificos para cada decisto dessis? £ sbvio ue mito podemos fazer 30, pois nao terfamos nem o tempo nem os recut sos necessirios part tanto. Fé precisimente por isso que 0 senso comum & Inuito valioso: ele nos perm que tenhamos de mover “cdus e ters". Por outro lado, acreditamos ter que 0 conhecimento bem m e tomado perfeitamente dbvio também Iquirido por meio de um *método cientifico” parece ser is preciso que o abtido por meio do senso comum, No caso do nosso exemplo, podia até ser que os dois processos conduzissem as mesmas con. clusoes (embora isso seja improvavel), porém o processo cientifica € muito mais digno de confianca, Assim, podemos estabelecer as bases part uma primeira comparacio entre os dois processos: 6 wrIonaLOGIA ta css ‘Quadro 1.1 Conhecimento centfico e senso comum ‘Conhecimento obtide a partir CConhecimento obtido a partir do senso comum ide processos cientiices ‘Assstemiico ¢ desorganiado Sstemitico © organaad ‘Amotidico:feqientemente depende do acto | Metco: &produrid a partir de uma série de procedimentor expecicos ebem-defnsdos Subjetve: depende de nostosjizes © disposigdes passoais ‘Dbjesvo e inpessalé simple, dato e face ‘onde 3 sor mais ent, dependendo menos dos nossos juzos ¢ dsposigbes pessoas E muito importante compreender que uma forma de conhecimento nao € superior a outta. De fato, sto complementares: muicas vezes, 0 conheci mento cientifico depende © se origina de indagagdes oriundas do senso ccomum, © que pode acabar resultando em alguma descoberta cientifica importante. Por exemplo: a estrutura para a cimera de bolhas utilizada para a deteceio de particulas subatémicas ocorreu 20 cientista Donald Glaser (Pre io Nobe! de Fisica em 1960) quando ele estava olhando distraidamente para tum copo de ceneja, ¢ a esirutura quitmica do benzeno surgi na mente de Friedrich Kekulé enquanto ele dormitava em frente a lareira Mas, afinal, o que & exatamente o conhecimento cientifico? Podemos pen- sim: € 6 conhecimento produzido pelos cientistas (i850 € urna tautologia! muito interessante). E © que seria um cientista? Se perguntarmos a uma erian a, provavelmente ela nos dirt que se tata de uma pessoa de culos, vesti- da com um jaleco branco, em meio a um laborat6rio repleto de tubos de ensaio com liquidos coloridos fumegantes e de diversos aparelhos interes tes com pequenas luzes piscando, Provavelmente um cientista social ficaria um tanto incomodado com essa imagem, de forma que teriamos de buscar umt conceituagao mais geral. Algo como: “individuo que busca gerar conhecimentos novos por meio de um método especifico, lenominado métado cientifico”. jo hé uma maneira efpida e Facil para delinir 0 que seja eatamente 0 método cientifico. Alias, 0 objetivo principal deste livro € de que o leitor, a0 final da obra, possa ter compreendido melhor esse conceito-chave. Mas, mesmo assim, vamos nos antecipar e adiantar algumas idéias. Vejamos a palavrt método, que vem do grego miéthodos, que, por sua vez, deriva da composiczo. das palavras meid (através de) ¢ hodds (caminho), ou seja, “através de um. awo AROUND emit | elt, tse visio GEKAL 7 caminho”, Portanto, um método é um procedimento ou um conjunto de passos que se deve realizar para atingir determinado objetivo. Nesse sentido, poclemos encontrar 0 método na cu ( método para produzir um delicioso pave de chocolate esti especificado em sua receita), na arte (os diversos métodos para produzir uma escultura ou uma pintura também sao bem-definidtos) e até ‘mesmo na religiao (hi métodos, por exemplo, para a realizagio de cerim6- nias religiosas, oragbes etc.) Como vemos, o método, como processo organizadio, légico e sistemitico, esti presente em todos os mbitos da experiéncia humana. O método cientifi- co seria, portanto, apenas um caso particular dos diversos tipos de métodos ¢ consistiria de algumas ctapas bem-definidas, como: identificagao de um fe ‘meno no universo 0 qual pede explicagio (obseruacdo); producao de uma cexplicagio provisoria que desvende esse fendmeno (goragao de hipdteses), execugao de um procedimento que possa testar essa explieacio, para verificar se ela verdadeira ou falsa (experimentacao), anélise ¢ conclusio, visando estabelecer se a hipdtese pode ser considerada verdadeira também em outros contextos, diferentes daquele do experimento original (generalizarao) Por exemplo: um pesquisador na area de educacio observa quie seus alu hos parecem obter melhor desempenho académico quando tm acesso ao material de estudo antes da aula (observagdo). Dessa forma, ele supGe que isso ocorra porque, 20 ler o material com antecedéncia, os alunos assistem as aulas mais relaxados © podem fazer perguntas de melhor qualidade (geracao de bipéteses). O pesquisador decide, entio, testar essa suiposigio da seguinte forma: distribui seus alunos em dois grupos. O primeito teri acesso 20 mate- tial antes da aula, ao passo que © segundo, nio. Ao longo de seis meses de aulas, 0 pesquisador aplica provas de conhecimentos para acompanhar 0 desenvolvimento da compreensto dos alunos sobre © tema ensinaclo e obser va 0 seu comportamento em sala de aula, © tipo dle pergunta que fazem ete. (expenmentagao). Ao final de todo 0 processo, ele compara as notas dos aly Ros dos dois grupos € verifica que sua suposiclo estava correta: “alunos que tém acesso ao material instructional com antecedéncia apresentam desempe- ho acackémico superior, pois assistem as aulas mais relaxados ¢ fazem per- guntas de melhor qualidade” (generalizacao). Hi temos mia nogio do que & 0 método cientifico, mas e a ciéncia, o que seria? Diversos-autores tém tentado defini-la-e; nos préximos-capitulos da 8 wrrono.edts Ha asa, primeira parte deste livro, vamos investigar em detalles sus historia € prin- ipais conceitos, Mas, por ora, vejamos a etimologia da palavra: cigncia vein do lism scfensia (ou episteme, em grego), que, por sua vez, tem su forigem no termo scire, cujo significado € “aprender, conhecer” (APPO- LINARIO, 2004), Vejamos o que dizem alguns autores imporantes sobre a cigncia: Quadra 1.2 Algumas definigSes de ciéncin Andeccze | Mamcarix | KatPopper | Nem “osm tenho | "Raid poh [Um ceinaoh | A tenn a iments radoals, | qual os homens adgut | tevico ou experimen: | essencibente em six fertat ou provive’s, | remum conhecimenta |r formula enuncades | tomas de conhocimen otros metodeamente, | ordenada dos fené- | ou stemas de enune | toe slangndos por fistematizados ¢ | menos natura, taba. | cados e veriia-os | carinho racional Sou ‘eriicves. que fazem | hando com uma |umavum.No eampo | proposta:© corhec!- Feferinca 3 objtos | metodologia particular | das citncis empirias, | mento cinco. sto ‘de uma mesma fobreriagie contro | ee form hipoterer | é,uma serie de eren~ rawren" (ANDER. [dae aise) eum |e submeteas a tastes. | cas verdad ejust- EGG, 1978.p.15). | conjunto deavudes | confrontando-s com | fads. dentro is {cocesmo,objevda- | experidnea.aeavés_|fronoias da racionab de cte)" (MARX; | de recursas de obser- | dade (.) poderse-a HILLIX, 1978,p.19). | vagdo e experimanea- | dace ques razio soz 0" (POPPER, 1974, | nha conduz. em pine | p2n. pio. clés for Imai: ea1d0 mais expe Flénca 3 eas” (COSTA 1999..41) Como se pode observar por meio des possuir algumas caracteristicas particulares especiais qu outras formas de conhecimento, como a arte, a rel claro, 0 senso comum. Sim, caro leitor, existem mesmo diversas formas de conhecimento, Vejamos cada uma delas com definigoes, a ciéncia parece a diferenciam de Filosofia e, & 0 Conhecimento Religioso (ou Teoldégico) Desde os priméedios da civilizagao, existe a crenga em uma forca superior, divina, que rege os destinos do universo. Essa crenga, produto da fé © da ranscendénci de muitas vezes ame: um ente querido, a cies permitiu ao set humano explicar e organizar uma realisla- «dora e perigosa. Por exemplo: quando perdemos ia mio pode nos consolar, mas as mattizes expli Fame ammonite euiuo | —ersens usw vio arial 9 perda. A maioria divina que, le nds jf se sentiu ligada, de alguma forma em cada religiio em particular, assume uma manife ifica, como Buda para os budistas, Jesus Cristo pa RA para os antigos egipcios, essa forca Ao € 08 cristios on 0 deus © conhecimento religioso, em seu sentido mais amplo, refere-se a qual- quer conhecimento que nai posst ser questionado ou testado, adquirindo, portanto, um carter dogmitico. © dogma é uma afirmacio que nto pode ser contestada e, por isso, acaba se constituindo na base da maioria das religides. Por exemplo: se vocé for catdlico apostélico romano, deve, necessariamente, acreditar no “dogma da infalibilidace pa al’, que afianca ser impossivel que (© papa se engane sobre qualquer assunto, uma vez que ele se mente, o legitimo representante de Deus na Terra Outta caracteristica interessante do conhecimento religioso refere-se a0 seu cariter pessoal: a fe de uma pessoa no pode ser comunicada totalmente 8 outras. Ou seja, a “experiéncia religiosa” & muito pessoal, ¢ essa “reconexa0” G palavra religido € derivada do termo latino religare ~ ligar novamente, o seja, reconectar algo que j foi ligado em eras passadas: Deus € © homem) pode se dar tanto em uma ceriménia religiosa como em outras situages in sitadas ~ na observacio de um lindo por-do-sol, por exemplo. Dessa forina, 0 “meu” Deus no & & nunca seri igual a0 “seu” Deus, O Conhecimento Artistico © conhecimento artistico & embasado centramos em contato com 4 emogao © na intuigio, Quando na obra de arte, seja ela unt pintura, uma escul ura, uma miisica ou uma poesia, por exemplo, muitas vezes no consegui- ‘mos “colocar em palavras” o que estamos experienciando, Isso ocorre porque 4 informagao veiculada pela manifestaclo anistica € preponderantemente de atureza emocional: observamos um quadro ¢ ele nos “suse aco, uma sens indef algo: uma ini 10 de paz, uma alegr vel exc E uma forma de conhecimento essencialmente nao-racional e dificil de Ser eapturada pela ldgica. Aliis, 0 conhecimento artistic pode ou ndo assu- nir una Logica similar a0. de, assumir qualquer forma, nso comum e 2 ciéncia. A arte pode ver que 0 que vale é a relagao especial que se estabelece entre 0 observador e © fendmeno observado. Por exciplo: Poder a oie 108 olhar para la matem: ma equacdo escrita em um quadro-negro e pensé-la sob ica (cienei ‘ou da estética Co equilibrio dos termos, a cor 10 surtopov0cin pa cxBNe1n ‘Outras duas caracteristicas importantes do conhecimento anistico sao: pri- meira, essa forma de conhecimento é inesgotivel, ou seja, 2 informagio estética contida em uma obra de arte ser encarada de forma diferente por varias pes- soas € também de vrios moclos por uma tinica pessoa, em momentos diferen- tes. Certamente voce ji teve a experiencia de ler virias vezes um livro ou assist diversas vezes a0 mesmo filme, sempre observando elementos novos ¢ tendo insights diferentes acerca da obra. Segunda, a informagao estética nto pode ser traduizida para outras linguagens sem perda de informagio relevante, Por exem- plo: tente descrever em palavras a obra Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, para uma pessoa que jamais a tenha visto € vocé entender 0 que estamos dizendo. O Conhecimento Filosdfico Pitigoras (século VI &.C.), por seus enormes conhecimentos, era freqiente mente chamado de “sihio" por seus discipulos. Quando isso acontecia, ele retrucava: "Minha nica sabedoria consiste em reconhecer minha propria ignorincia, Assim, nao devo ser chamado de sibio, mas antes de amante da sabedoria", E € exatamente isso © que significa a palavra flasofia, jung dos termos gregos philos (amon) sofia (abvedoria). ‘Tentar definir em termos absolutos essa grandiosa area do conhecimento humano seria, no minimo, um ato arrogante € destituido de propésito, Vamos fazer diferente: ao explorarmos um pouco © conceito, pelo menos caminha- remos na directo de uma compreensio aproximada acerca das diferencas fandamentais entre essa forma de conhecimento e as outras. Para isso, pedi- remos auxilio a um das maiores pensadores do século XX, 0 filésofo britini- co Bertrand Russell (1872-1970) A ‘Flosofia", no meu entender, & olgo inlermedidrio entre a religiSo & ‘a cléncia. Semeoniemenie 8 religiGo, a flosolia consiste de especulagser sobre assuntos, com respeito aos quais ndo foi inde possivel obter conhecimento definido. Mas semelhanlemente & ciéncio, © flosofia opelo & ra2d0 humane, e néo a uma avioridade, seja essa 0 autoridade da kadiedo ou da revelacéo. Todo conhecimonto definido, & @ fese que defendo, pertence & ciéncia; todo dogma a respeita daquilo {que ja2 alm do conhecimento definide pertence 6 rligiao. Mos ene a religido © @ ciéncia hd uma terra de ninguém que estd aberia a ctaques do ambos 0s lados: asso terra de ninguém & a filsofia. (RUSSELL, 1945) alto arrouNéMo eNHETULO 1 —cafsCiaunvise GNLT Podemos dizer, entao, que um dos mais fortes componentes presentes na filosofia é a rizio, Naturalmente isso também ocorre na ciGncia, mas a diferenga bisica entre elas parece residir no método para a produgio do conhecimento: a filosofia baseia-se fundamentalmente na raz30, tanto como 1 ciéneia, mas, ao buscar comprovagdes empiricas acerca clos fatos, a ciéncia produz, conhecimentos verificiveis. © fil6sofo norte-americano Richard Rosty disse algo muito clucidativo esse respeito: "A filosofia & a disciplina por meio da qual se busca 0 conhiecimento, porém s6 se obiém a opinii’ (RORTY, 1982, p. 57). Comparando as Formas de Conhecimento Podemos considerar, & guisa de conclusio, que no mundo contemporineo fodas essas formas de conhecimento coexistem. Quando entramos em con 410 com um fendmeno qualquer, por exemplo, podemos pensi-lo por meio dessas cinco matrizes de compreensio. Assim, dependendo do ponte de vista, construiemos signilic preensio escolhida Jos diferentes, dependendlo da matriz. de com- Digamos, por exemplo, que, enquanto voce est aguardando © semforo abrir, observa do seu automével a seguinte cena: uma pessoa, ao tentar atra- vessar distraidamente a rua, por pouco nao € atropelada por um consegue frear a tempo. Apesar do enorme susto, ro que 2 escapa lesa ¢ levanta 10s para cima, gesticulando € murmurando alguma coist que voce Ado. consegue ouvir, Ao refletir posteriormente sobre essa cena, voc® pode pensi-la sob diver sos fingulos: + Deus deve ter dado outra chance aquela pessoa. Parece que 0 *recado” foi bem compreendido, pois ela agradeceu, comovida, pela protegio concedida pelos designios divinos [conhi iniento religiosol; ¢ impressionante como as pessoas andam cada vez mais distraidas hoje ‘em dia: quem no sabe que se deve olhiar para os dois lados da via antes de atravessar? [conhecimento de 9 nso coum; de fato, se os pneus nado estivessem novos ¢ calibrados ¢ 0 automével nao contasse com freios ABS, pa velicida de de 60 km por hora a uma distdincia de 20 metros, como 0 motorista fez |conhecimento cienttficol 10 teria sido. possivel fref + a vida & realmente um fendmeno efémero. Se & verde que todos podemos morrer a qualquer hora, nao convém perder tempo com fut lidades [conhecimento filosoficol; = foi uma cena dantesca, O ruide do freio, © grito da mulher ~ aquels imagem produzit em mim uma emogio devastadora (conhecimento autistico) Esti certo, concordamos plenamente que nao € tao Facil assim isolar as for- mas de conhecimento umas das outras. Nas frases citadas, nota-se cla a dificuldade em estabelecer a diferenga entre 0 conhecimento filoséifico ¢ 0 ide senso comur, por exemplo, Mas observe com cuidado: no primeiro caso, existe um raciocinio légico (se a vida € efémera, todos vamos morrer um dia; portanto ado devemos gastar nosso tempo com bobagens”), enquanto, no segundo, ha uma afirmaclo de cariter empitico © pessoal ("as pessoas andam cada vez mais distraidas hoje em dia ramente No universo do scurso, simukaneamente produzimos © consumimos conhecimento em todas essas formas. De fato, dificilmente podemos isolar uma forma de conhecimento da outra, uma vez que todas estio amalgama- das em nossa atividacle lingtistica, Por exemplo: o cientista também tem sut dimensao religiosa, espiritual, Além disso, ele na vai utilizar 0 raciocinio cicntifico durante as 24 horas do dia pois, como qualquer ser humano comum, também lida com problemas e situagbes cotidianas que the exigem decisves baseadas no senso comum, na légica filossfica, na estética ete: De qualquer forma, como podemos observar no Quadro 1,3, 0 conhec to cientilico difere das outras formas de conhecimento em alguns aspectos, a introduce, vamos 2 porém assemelha-se em Outros. Mas, para efeitos di sua esséncla: trata-se de um conhecimento concreto, real (vem dos fatos), organizado e sistematizado, abtido por meio de um processo bem-lefinido {método cientifico) € que pode ser replicado (outros pesquisadores, em qual er parte: clo. mundo, se repetirem as mesmas experiencias ¢ observacdes, devem chegar as mesmas conclusdes do estudo original). Possui, ainda, clas caracteristicas fundamentais, que serio analisadas nos proximos capitulos: a verilicabilidade (para ser c comprovacio) € sempre pode vir a s inifico, © conhecimento deve ser passivel de seabilidade (nao se trata de um conhecimento definitive: + contestado no futuro, em funcao de novas pesquisas © descobett xo ARPOUESAI ATO # eafscan Uta visa ta 13 ‘Quadro 1.3. Comparagio entre as diversas formas de conhacimento Formas de conhecimento Coracteristeas - Senso conta | Attistico | Retigioso | Filossfico | Cientifco Viaculagio com | y, i. al Wincuaei> 2 | Valoatve | Valoraivo | Valoraivo | Valoravo | Factual ~ TTadiio oral | ‘Obrernacio © Ongem cobservacto e | Inspraio | Fainpiagio | Ranto | experimentagio ‘elle stories Ocorrincin | Assstemicco | Assstematio | Sstemivica | Sstemioco | Satendtco ‘Comproba- Nic. | Nio- ‘Nio- bisdace Neriictvel | venficivel | venicvel | veniicuel_ | Verieivel Efidncia Infavel | Infalivel ‘nfiiver | Fative! Precisio near | Nio se aplea | Bato Bar | Aproximadye Finalmente, para completarmos esta introducio, valeria a pena mencionar que as eéneias encontram-se divididas em ciéneias formats, naturais ¢ sociats Ha outras propostas classificat6rias diferentes, mas essa parece ser uma visio de razoivel consenso, Assim, as ciéncias formais seriam as que liam unica mente com abstracoes, idéias € esiraturas conceitnis non ligadas aos fatos, como @ matemitica © a l6gi & biologia AS ciencias naturais como fisiea © a quimica estudam os fendmenos naturais ( ambiente etc: E, por fim, as ciéncias sociais dedicam-se & investigngae dos Fenomenos humanos soc is, como a psicologia sociologia e a economia Estudamn as relagbesabstratas e simbalicas Exemplos bien e matemite, [ {[Fermais | — [Gis | icra) —_ [Em os eromeroremtms | Exemplosiica, biologi, quinn et, a Estudam os fendmenos humanos e socias. ies} SS ee Frcuna Int Proposta de classifcagSo geal das clncias (APPOUNARIO, 2004) Mo stetonenocia pa cise © objetivo deste capitulo foi apresentar ao leitor uma idéia geralintrodu- {6ria do campo cientifico. Nos proximos capitulas, veremos como se dew o desenvolvimento da concepeao cientifica acerca do mundo e do universo por que ela € tao importante nos dias atuais, Cons Chave do Capitulo ica Contecnanfondco laces me sroco Conciente Ceca soe HMicode cenltco CConhecinento arco ‘Senso comm Cito fora [ALVES Roof do cnc: rd 0 oo 10 es. So Pa Lol, 2000. erevende de forma expross, Rubem Ahes nos canduz pelo mundo doraiociocemicoe ds Noro {hcncn de una manera so meso tempo semana agradval Rept de exemplor@exager de 380 ov comgrados da citi di otf obra explora com propriedade eke as rons ene o cone cimento cence a utras formas de coahacinento, SAGAN.C.O mands ostamarade plo denis aac wt caro uma i exci, Sto Palo: Companhia dae Lota, 1997 [Nessa excelenee obra. o at-Saomo Car Sagan fs una defen apnsorada da edna. dewunciando 0 vies do amafabetame cinco que azole» abeqs de maorin dit pesnonse desfrenda mabentendidos comand cere do que sla ou no cic Evoluc¢Go das. > / idéias Cientificas: Dos Gregos ao Positivismo E dificil determinar com certeza, mas ha indicios de que © homem tenha sur- gido sobre a Terra ba aproximadamente 40 mil anos’. E, com esse evento, eve inicio o lento processo de constiwicao da linguagem © da cultura Sabemos também que, desde tempos imemoriais, o homem, por meio da linguagem e do pensamento, desenvolve representagoes (na forma de ideias, crengas e conceitos) sobre o ambiente € sobre si mesmo, sem 0 que mio seria possivel desenvolver a chamada ‘cultura’. [sso ocorre porque O homem 120 foi dotado de mecanismos biol6gicos ordenadores, que permi- dram aos animais uma adaptacao rapida e eficlente ao mieiv que os cexcava, Em vez disso, ele desenvolveu a capacidade de construir modelos mentais sobre a realidade, a parur dos quais (ornou possivel a suua interacio cot ‘essa mesma realidade, sse_procesio de constnicao. social dla realidade (BERGER; LUCKMANN, 2002) foi adquirindo caracteristicas modeladoras diferentes ao longo do tempo, Assim, na chamada Antigiidade, 0 homem organizava suas referéncias em torno dos mitos transmitidos pela tradigao oral. A partir da Idade Média, no entanto, cessas referéncias passaram «tomar como base © conhecimento teologico que, ‘Os primesos hominleos sugiom na Tewa provavelneate hi cern de 4 mulhoes de anos Cs ‘Aintratpubecs). O Hone erecie suig i ceca de 16 mala deans, 0 Homo sprens mn ‘erivatenss it 200 nanos ile, Homo sapiens spouses (CHOTTSCHALL 16 srrapoiKia bs cues negando 0 mito, tomou-se a matriz dominante de explicagio da realidade, Por volta do século XIV, no mundo ocidental, comepou a surgir um movimento novo, em deconéncia de grande dificuldade apresentada pelos modelos teols- _gicos em explicar uma realidade mais complexa, fruto do contato do homem europeu com as outras culturas do planeta, Esse movimento, chamado de Renascimento", ensejou 0 uso privilegiado da consciencia eri dacle de desenvolver maior controle humano sobre a natureza (FERREIRA, 1996), © Renascimento permitiu finalmente que, a partir do século XVI, um novo empreendimento humano tomasse uma forma mais definida: a ciéncia Com a derrocada da religito como principal instincia onganizadora da reali de social, © pensamento cientifico tomou o seu lugar © passa a ser a mais importante referéncia legitimadora da realidad vigente. Voce, entio, pode se perguntar: mas a religito nao & uma parte essencial da vida e da subjetivida- de do homem contemporineo? A resposta para essa pergunta seria sim € no, Explicando melhor: quando dizemos que, durante a Idade Média, a religtio constituia-se na principal matriz.onganizadora da realicace, queremos dizer que, se um individuo qualquer necessitasse cle uma referéncia de verdhide a partir a qual pudesse se comportar, ele se voltaria para a religiio e seus represen- tes: Os sacerdotes, Por exemplo: se um aldedo desejasse casar sua filha, primeiro pediria a opiniao do sacerdote da aldeia. Alvis, naquela época, o sacerdote (represene tante legitimo do pensamento religioso) ditava as regras € normas acerca de Virtualmente todos os assuntos: satide, alimentagao, vida, morte e qualquer aspecto da vida pratica do di mento € convivéncia social dia, incluindo-se ai os padrées de comporta- Por outro lado, nos dias de hoje, quando ficamos doentes, consultamos lum médico; se precisaracs construir uma casa, procuramos um aequiteto O8 Um engenheiro; se temos dificuldades emocionais, podemos recorrer a um psi- célogo: se nossa empresa precisa melhorar seus processos de gestio, con. por profissionais que detenham, entre outras coisas, conhecimentos cientficos ©, por isso, podemos dizer que, desde 0 Renascimento até os dias de hoje, 4 principal instancia legitimadora da verdade € a ciéncia © nao a religido. Se ainda nao estiver convencido disso, considere que 6 livro qu itos foi produzido pela tecnologia (uma das filhas dil © forno de microondas, © ca voce tem t0-cientffico, nto terfamos-o-automévely-a-luz Wo de crédito ete Isso significa dizer que © conhecimento religioso no existe mais De forma alguma. O senso comum, a arte, a filosofia, 0 mito € a cigneia — todas as formas de conhecimento — convivem (nem sempre de forma pacifica) na mente do homem contemporineo. A tese aqui apenas assevera 0 fato de que € em torno \cipalmente da ciéncia que organiza- mos nossas vidas © a sociedade — embora a subjetividade humana seja constituida de representantes de todas as formas de conhecimento vistas no capitulo anterior Quadro 2.1 Alguns autores e aspstor de suas obras “Anigidode Cosco (oreo de 600 .C.— 300 dC) @ESEAC | Tales de Mileto | Considerado um dos prineivs ilasolos do Ocidence, ‘nerodutis a matemsten na Gréca Partido dh abservacse or fndmenor da raters. ehborou conesitor que ppodam ser generazados, HOS AE_| Pidgore “redler que 0 unkrsa 6 todor or rvs forbmonoe ppodam ser represenendos matemascamente, Considerea © ppensamanto uma fonts mas poderoa de conhecimanto do ue 08 seridos Tdeslzador do" acomemo"re unverso sora comporto por corpinculs indvishes ~ os Stomos. Advogua a favor da valdade dos senudos (percepcie) ‘Sherates Sia fsofa esta voleda no paras naturezs, mas para 0 homem 6 3 sociedade, Acrediava na supremacia dh argumentazio e do dilogo Woe. | Dembeino RTS | Pawo Desenvolveu a logica, defendendo o intelecto € a reflexio | como a5 fontes principe do conhecmento WER aC | Aras aconou 6 atomsme da Damcria © dafendeu 9 ila | ae que 0 contvecmenco era futo da sensagto,oblda por | imcio do contato dos sentidos com os fenrnenos HEA. | Epicuro ode Me (corea de 300 ~ 1350) “3540 Sano Agesinho | Usios 0 mionalamo de Paio eArsiles para dearer 3 dover ent: Door cond tide 0 418 | scontecs no universe fondo tmbim 6 dominic do onhecimento, que 39 pada ocrter els hameaeso TaTACIRSE | Roger Bacon | Revemou aha de Arete eantecpou a inportnca dh obenagia anda exprimenscio. 18 wrrOpoLOGIN Ha cafNIN ints 2 ei acai ape cna eas cqesiuil Alre mie «wii i a et a fas son — Se "1225-1274 | So Tomés de | Admitis ser possivel chegar a certas verdades por meio Wii76 | David Pha Expoonte do empirismo e forte eritice do racionalismo, Rene" | fortes rmraiet ten neon Poe Saeencse Sone eae aca eee ery Seruhe Ce en ereee merrmngnae eure ie ae - oo we Se ee arene TFET | BeBe | ear eer ea pis proenchide a partir dos santos ~ de onde ver todo 0 onhecimento, Renascenga (cerca de 135 1450) | Flumanisa,pregava a necessidade de inegrara ratio ea ropes a indugia come prinepal motor pars a produgio de novos conhecmentos Baborou uma terls do erro (ce "idoos” inpediam 0 avango da eine), CConsiderado por muitos como o primelro cesta, unio ‘acionalisma e emparimo em seu método cientco. [Alemava que ro Se pada cochecer 3 exrénca die cole fe que clenca deva se ocipar apenat com 08 tor obtervives. Mareou 0 rompmente define one a ‘Erabsloceu 2 Ma do duliono mance-corpo © 0 rmétodo de divide no quesvonamenco de todas a cies, Darucularmente do que ors proveniente doe sertidos ‘Adotou 0 racicenio matemitice coma modelo para Emprista¢ racionalsta Acreditava que © conhecimento € posse devdo 3 sonsagio a magnacio es ratio. | Proponente dal da graviacio universal criou un ‘modelo de cine pau ra vlzagio da alse © da sintese. por meio da inducto, para exper os eventos nara: Uiizow a observagio dos Renmin pars Construir as hipéteses que seram vstadas Enime pride, relatvzando or dogmas. 1561-1628 | France Bacon 1564162 | Gali Gates céne ¢3Hlosofa. 7596-1650 | René Devearees cheyar a novos conhecimenos, 588.1679 | Thomas Hotber eR Tse Newson | Ituminime (coca de 1650 ~ 1800) Teas. 175 George Boraley sor & ser pore" Taina redial argasentou quero ora postal press Pores ot ap i prep Fa Tangou uma eancepgao de cnhecimonto © aprendzgem baseads na cnc que wea se cornar pia rmodermide “Maderidade (orca de 1800 ~ 1945) 1798-1887 ‘Aoguste Comte ‘Criador do Poskvsms”, doutrina segundo a qual somente ‘Sconhacimentacentiico € vido e genuno.Asiatou ‘quatro acepgber para 3 palsva"postva":real (em Spon 2 fntsioeo) ot (em aposicio a dos), certo (em oporcio a indecao}e precio (em oposiio 3 ago). iaa5-1957 T9719 Grado deViews earl Popper ‘Gripe de flzaios © Gewisas que cow a doutina do empiri fgio” ¢ do principe da vercabhdade, segunda o qual # 6 consderado verdadero 0 que [pdesse ser emprcamente verieado, ou st onfrontdo com a prop reahdade, Contemporoncidode “Graicou 9 principio da varfeaildade propos pelo Circo de Vena props novo cro de ‘demareagio anere 3 ena © a no-one: 6 peinclio ( eabidade, Wik iiss “Tomas § Kaba ‘Dessnvaheu conceit de paradigms cain propondo a dis de que a cxincs angen em grandes sos quater ‘quando ocorram mmudanas nesses paradgrs, Props 8 tose da ncomensurabiidde dos paradigmas “Rprimarau o conceio de paradgma de Kuhn, propondo His de hardcore, conjnt de rengasacoas « no- ‘questionivee,compartiadas por um conjunto de tors Rrednea sangaia por meio da ea 20% aspectos | externas 20 hardcore dor programas de pesqusa.o qual | munca & reftivel@ somente € abandonado quando se [ns de pais 20, sastonrocia to cbse Quadro 2.1. Alguns autores e aspectos de suas obras (continuagio) Contempareneisode "il Foyerabond | Controverido fdrofo da cincia que auger que andes inovagSes teorcas #30 muito mas fruto do caso do que d3 ordem e que. portanta todos os méto- dos convencionassioflaciosos « o poder universal da rao davia ser reatvizda,Propas um anarquisme setodolopco. i940. (Gry Laudin | Delende a are de qua a raconaidade e a progreshidade das eons cenficas esto Intimarnente ligase 3 ‘iin ma slugio de problemas. A eine para ee. bascamente uma atwdade de soluconar problemas € incengo desta obra desenvolver uma cronologia completa acerca cin ~ se € que tal intento seria possivel, de um forma ou de outra, De quer maneira, 0 Quacka 2.1 procura mostrar uma visio geral de alguns qua autores selecionados que contribuiram para o surgimento do pensamento cien- lifico moderno, da Antigiidade Clissica até os dias atuais, em virtude da cons- tinticto de seus dois pilares fundamentais: 0 racionalismo e o empirismo, que issamos a ver. O Primeiro Pilar Fundamental: Racionalismo Atribui-se a Tales de Mileto (cerca de 625-548 a.C) a introdugio da mate- hha Grécia, possivelmente a parr de conhecimentos que obteve em suas viagens 10 Tgito, Tales © seus seguidures ~ enire os quals Anaximandro sto considerados 0s fundadores da Escola de Mileto, res. ponsivel pelos grandes desenvolvimentos iniciais da astronomia e da geo- metria gregas. Esses pensadores inauguraram uma manei estabelecendo uma ruptur ladle, Mas, 0 significative sams, tuna ila com a concepgao mitolégica d de filo, apenas na geracio seguinte ocorreu o primeiro tO fluxo histérico que estamos explora préxima a Mileto, nascis o fildsofo Pitégoras (cerca de 570-500 a.C.), que ndo aqui: em procurou explicar o mundo € o universo por meio de um clemento muito especial: 6 nimero, _ Para Pitigoras, 0 universo € todos os seus fendmenos eram formados por Hndimetos: na muisica, ele estuclou os intervalos harménicos € as escalas musi ais; na matemiitica, desenvolv ica do famoso teorema que acahou levan- a de que nem toda q Finalmente, na astronomia, chegou a desenvolver os primeiros estudos acerca antidadke podia ser expressa por nimerns inteitos; e: do movimento orbital dos planetas. De fato, com Pitigoras, 0 pensimeno racional alcangou umat dimensio que jamais havia atingido. Seguindo nessa rota, encontramos nossos préximos twés personagens ~ tale vve2 05 fil6sofos gregos mais famosos de todos os tempos: Sécrates (cerca de 469-399 aC), Plato (cerca de 427-47 aC) © Aristteles (384-322 aC), Devemos ao primeiro o desenvolvimento da fina arte da argumentacio e do dialogo e, acima de tudo, © reconhecimento da nossa ignorincia como o pri meio passo necessirio para a obtencio do ver método ~ a ixonia ~ consistia basicamente em uma busca pela verdade por meio de um processo de perguntas e respostas que, em um primeiro momen to, levavam o interlocutor a acimitir a propria ignordncia (momento da “refute wdeito conhecimento, Seu do") para, posteriormente, fazer com que ele buseasse dentro de si préprio os conhecimentos que preexistiiam em sua alma (momento ca “‘naieutica”). Assim, para Sécrates, as idéias encontravam-se em um plano mus elevado que a experiencia, ¢, portanto, o pensamento podlia ser considerado uma vieuide superior aos sentidos. Seu discipulo, Platio, tendo softide forte influéncia do mestre, propunha a existéncia de dois mundos: 0 mundo das idéias e © mundo das coisas sen- siveis ~ constituido pela realidade percebidda pelos drgios dos sentidos: 0 mundo em que vivemos, com toclos as seus seres e objetos. O mundo das idéias, por outro lado, est o mundo das verdades exeras, invisiveis € incor pore: nao obstante reais. Assim, por exemplo, os conceitos de beleza ¢ coragem seriam eternos indesirutivels ~ porque concementes ao perfeito mundo das idéias, do qual © nosso mundo sensivel seria apenas uma mera copia imperfeita Aristételes de Estagira, discfpulo cle Platio, completa nosso trlunviesto Fildsofo de obra extremamente vasta, AristOteles foi responsivel por uma das pedis fumdamentais do) rincipais obras, © Organum (que, em grego, mos em contato com a sistematizacao maxima da linha de pensamento que estamos explorando, denominads sacionalismmo, Com AristOteles, io apenas vemos reforgada a idéia da primazia da razio sobre as temos acesso a0 primeiro grande empreendimento histérico, levado a cabo por lun nico indivichio, que logrou assentar as bases da eiéncia do. discuso -mentos. a pocited, a retdrica, dialetca € fitica (que hoje denominamos ligica). Em suma, Arist6teles nao $6 apontou a Jgnifica “instrumento”), ent idos, como também didas por ele em quatro el inalmente, dando um salto de 1.500 anos e mergulhando diretamente no Renascimento, encontramos nosso tiltimo personagem: o filésofo-simbolo do Huminismo, René Descartes (1596-1650). Pensador francés versado em mate- miatica, fisiologia, mtisica, astronomia € filosofia, Descartes defendia a chivida na existéncia de todas as coisas, particularmente do que fosse proveniente dos sentidos, Ele enunciou, em sua obra Discurso sobre o método, quatro pre ceitos metodolégicos para chegar & verdade: {..] 0 primeira era o de jamais acolher algume coisa como verdadeira que ev néo conhecesse evidenlemente como tol; isto é, de cevitar cuidadosomente a precipitacdo e o prevengéo, ¢ de nada incluir ‘em meus jeizos que néo se opresentasse 1do clara e tGo distnlameate a meu espirte, que ev nao tivesse nenhuma ocasiéo de pé-a em dévida. O segundo, 0 de dividir cada uma des difculdades que ev examinasse em Janlas parcelas quanias possiveis ¢ quantas necessérias fossem para ielhor resolvalas. O terceiro, 0 de conduzir por ordem meus ‘pensamentos, comecando pelos abjetos mais simples @ mais féceis de conhecer, para subir, pouco @ pouco, como por degraus, of6 0 conhecimento dos mais composts, esuponde mesmo uma ordem entre 15 que ndo se precedem naturaimenie uns 003 ovis. E 9 dhimo, 0 de fazer em toda parte enumeragdes to complelas e revises tio gerais, que eu livessa a certezo de nade omit (DESCARTES, 1996 [1637], p. 45.46) Descartes fez a apologia da matemitica como a forma mais rigorosa de raciocinio a ser empregada em qualquer tipo de sinvestigacao cientifica, rele gando a experimentagao empirica a um plano secundario, Dessa Forma, para ele, 0 conhiecimento devia se estabelecer sobre 0 sdlido alicerce da rz, ins Trumento mais seguro que a experiéneia e a observagao, para que possamos, alingir as verdades tltimas. © Segundo Pilar Fundamental: Empirismo Retornemas, entio, sora da civilizagio grega para percorrer outra trilha importante de pensadores: a do empirismo. Nessa nova senda, encontramos © pensador grego Deméerito (cere de 460-370 -a.C.), precursor de um movi mento chamado “utomismo” Naseido em Abdera, uma colonia grega na costa da Tricia, Demécrito considerava © universo como sendo composte por um néimero infinite de particulas eternas, indivisiveis e indestautiveis ~ ox atomos raise amountnin Carino 2 — Neues pas mes cHENTNEAS. 23 “nada existe, a nao ser atomos e espago vario, todo 0 resto € opiniao” (DEMOCRITO apd MARTINS, 2002). Criicando a nogio anterior de que 0 uni- verso Sera composto pelos quato elementos (era, af, fogo e gua), Deméerto inauigurou a doutrina do atomismo, defencendo a ideia de que o eterno movi- mento entre os dtomos ¢ suas diferentes combinacdes explicariam a formagio dos diversos corpos do univers. Ap6s um periodo de quase dois séculos de relativo esquecimento, a te0- rin atomista foi retomada por Epicuro (342-270 a.C.). Esse fildsofo consti um grande marco para « nossa tila, visto que considerava a sensacdo como a ‘maior fonte para a producao do conhecimento. Para Epicuro, as sensacOes ori- ginadas pelts perusbacdes atSanicas € obtidas pelo contato direto do homem com 6s fendmenos do mundo eram a base para © conhecimento das coisas Embora 0 empirismo possa ter suas origens ainda incipientes taigadas desde © inicio da hist6ria grega, inegavelmente foi apenas no século XVIL que essa outrina adquisiu a importincia devida. De fem grande parte, is idéias do pensador inglés Francis Bacon (1561-1626) 10, esse reconhecimento devese, Embora nao tenha sido propriamente um cientista, Bacon tragou as linhas fundamentais da ciéncis modema (JAPIASSU, 1995). Sua impordincia reside em intimeras contribuigdes, inclusive no que se refere a finalidade da propria ciéncia, uma vez que, para ele, ela devia contribuir para « melhoria das con- digdes de vida do ser humano. De fato, Bacon considerava que 0 conhe mento em si no possufa nenhum valor, mas apenas os resultados priticos que dele adviessem. Mac vamos nos centrar em dois aspectos funcamentais das icias de Bacon: 0 desenvolvimento de stki feorta das fotos e do metodo indutivo. Em sua obra Nowuune organtum (Novo inst original de Aristoicles) defendendo a ideia de que o principio de todo o conhecimento era a obser vagao da nature Preconceitos, os qu mento", em releréncia obra acon expos sua critica aos acad@micos da Ep: E essa observacao devia se encontrar livre de certos cle denominou dolos (do termo grego etdolon, que significa simulacro, imagem, fantasia). Bacon enumerou quatro tipos prin: cipais de idolos: 4) 08 flola tribus (idolos da tibo), ou seja, a tendéncia de o ser humma- no julgar-as-coisas nao como elas sio, mas como the parecem: 0 excess de confanca nos sentidos, b) 0s idola specus (idols da caverna), ou seja, 0s eros de julgamen: 10 ocasionados pelas nossas disposicdes pessoas (como a persona lidade, os estados de humor ete.): a influéncia da subjetividade sobre © intelecto: ©) 08 idola fori (dolos do foro), ow seja, 08 etros provenientes das rela des sociais e, sobretudo, do uso ambiguo det linguagem, incluindo aqui a opiniio piblica e o senso comuny 0s hbitos seniinticos arrai- gados que distorcem «1 interpretagio correta dos fatos;, 4) 08 fdlola theatri ((dolos do teatro), ou seja, 08 enganos proporcio- nados pela tradiglo © autoridade conferidas aos autores e tworias clissicas, incluindo ai a religi ftica das falsas teorias e dos falsos sistemas filoséticos. Para Bacon, portanto, essas eram as fontes fundamentais dos erros hun nos, daa necessidade premente de evitarmas incorrer nesses fdolos. A impor- CGncia capital da critica que ele fez dos preconceitos de sua época sinaliza nos um Filo muito importante: Bacon, de Fito, elaborou uma primeira teoria do erro, ou seja, legou-nos a idéia de que 0 metodo (cientifico) devia ser lesenvolvido a panir de uma preocupacio pesmanente com :t sua integrate Dizendo de outra forma, Bacon mosirou que a subjetividade pod a coleta e 2 anzilise metédica cos dados que distoreer A outa contribuigao vital desse pensador reside em sua proposta part uum novo processo indutive — diferente do desenvolvido por Aristételes, 0 qual consistia praticamente em uma simples enumeragao de fatos. 0 méto- do indutivo baconiano basela-se, em primeiro lugar, em uma observagao rigorosa dos fatos individuais, seguida de sua classificacao e, por fim, da decerm ‘ago de suas causas, por meio de experimentos, Trata-se, portanto, da extiagao de uma conclusao geral, a partir da observacio de uma série de fatos particukares (votaremas ao tema da indlucao no Capitulo 3). Galileu Galilei: Fundindo os Dois Pilares Finalmente, chegames ao “inicio" de nossa historia. ae fundir sacionatisono (a razdo & a mais importante fonte de conhecimento) ¢ empirismo (a experién- cia € 4 mais importante fonte de conhecimento), Galilew Galilei (1564-1642) tomou-se 0 primeito cientista mocemo, Proctinsindo o principio da indepen- déncia do pensamento cientifico das interferéncias religiosas € filosofica Devemos « Galileu 0 estabelecimento do métode cientifico modemo, composto pelas etapas de observagio, gerigho de hipdteses, experimentacio, mensuraca0, andlise © conclusio. Dentre suas obras, destaca-se Discons # demonstrazion! matematiche intorno a due nuove scienze (conhecida como (08 Discorsd, publi alilew tinha 7. quando anos €, completaniente cego, peemanecia confinado pela Inquisi¢lo por sua delesa da tese de que 0 Sol, & mo a Terra, ocupava © centro do sistema planetirio ~ dentre outras idéias ‘perigosas’. Os Discorsi foram eseritos em forma de dijlogos (como também imuitas de suas outras obras), seguindo uma tradiglo que era forte na Grécia clissica e se tornara novamente comum no Renascimento. Os t1és persona- gens e interlocutores dos Discorsi sto: Salviati (que representa 0 proprio Galilew), Simplicio (que defende a filosofia c a fisica de Arist6teles) ¢ Sagredo Gindividuo pritico € de mentalidade que atua como uma espécie de nbitro entre as duas posigdes em conflito) Galilew pode ser considerado o vesponsivel pela revolugio cientifica moderna, por defender a matematica ¢ a geometria como as linguagens da ciencia, estabelecer o teste experimental como principal forma de avaliar a veracidade das hipoteses € definir 0 experimento como 0 “didlogo da razio coma realidade” (KOCHE, 2000, p. 52). De fato, seu método inclui trés prin- cipios bnisicos: 0 primeiro refere-se A observacie dos fendmenos, tais como cles acorrem, sem que o cientista se deixe pesturbar por idéias nao-cientificas Cdetas religiosas ou filos6ficas, por exemplo). © segundo é o de que toda aft- agio deve set verificad por meio cle experimentos cienuificos controlados, ou sea, 0 ciemtista ceve produzir uma situacao em que o fendmeno observado possa ser manipulado, E, finalmente, 0 terceiro principio estabelece que tock Conclusio 36 pode advir da matematizacao dos resultados observados. nos expetinentos:“O livro da natureza esti esctito em caractetes matemsiticas (..) €, sem o conhecimento dos mestnos, 0s homens nto poderio compreend-lo (GALILEU, 1996 (1623), p. 9. Auguste Comte e o Positivismo Nosso iltimo personagem nesse segment € o pensaclor Auguste Comte (1798-1857), Vivendo no periodo pés-revolucioniro francés, Conte desenvol eu unt sistema de idias cuja amplitude abarcava nao 86 2 ei@acia, como ttn bém a religito € a filosoia. Sew idesrio, chamado de positivism; pct ser Sintetizado 1 nm busea por uma orem definitiva e et 26 wmvonotacia i cafncan mite, a natureza seria composta por fendmenos ordenados de form imutivel e inexorivel, cabendo 3 ciéncia apenas observi-la e descrevé-ta, Dessa forma, os processos da natureza deviam ser descritos, € nao explicacos ~ por isso, cle pretendia eliminar a atividade de formulacio de hipsteses dos proce- dimentos cientificos. A propria evolucio da humanichide seguiria uma ordem historica predeterminada, que ele denominou lei dos trés estados: 0 teol6gico, afisico € © positive: 'No estado teoligico, 0 expirte humano, diigindo essencialmente suas investigagSes pora a natureza intima dos sere |.] opresoata os fendmenos preduzides pela ogo dita e continua de agentes sobrenaturais mois ou menos numerosos,cvja infervengso erbilréria explica fodas as anomalias aparentes no universo. No estado metafisico bu] 08 agentes sobrenaturais sGo substivdos por foreos absiratos, verdodeiras eniidades (abstrarées personlicados) inerentes aos diversos sores do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas préprias todos os fendmenos observados, cuja explicacdo consiste, entio, 19m determinar para cada um uma entidade correspondente. Enfim, no estado postvo, 0 espirito humano, reconhecendo a impossibilidade de ‘obter noses absolutas, renuncia a procurer @ erigem @ o destino do universo, a conhecer as causos intimas des fenémenos, para preacuparse Unicamente em descobrir, raas ao uso bem combinado do raciocinio © da observasdo, suas leis efetivas, « saber, suas relocées invaridvels de sucessio @ similitude. (COMTE, 1996 [1830], p. 22] © estado que Comte cenominou positive referia-se, entio, a primazia do conhecimento cientifico que, todavia, para ser considerado positivo, devia atender & certos preceltos. Assim, © conhecimento positive devia ser real (et oposi¢io a quimético, ou seja, fantasioso, especulativo), siti! (em oposicao a ocioso, estéri), certo (em oposicao a indeciso, confiso).c 4 vitgo, indeterminado). © positivismo consicerava, porta cientifico como um conhecimento real, ou nio, © conhecimento embasado nos fatos: "Todos os bons espititos repetem, desde Bacon, que somente sto reais os conhecimentos que repousam sobre os fatos observados’ (COMTE, 1996 [1830], p. 20. © tema da ordem também aparecia, quase de forma obsessiva, em sua ‘obra: “A ordem constitui-sem. cessar-a-condicio fundamental-do-progressa-¢ reciprocamente, 0 progresso vem a ser a meta necessiria da ordem {..] 0 pro Bresso constitu, como a ordemt, uma das condigées fandumentais da ewilizacao moderna" (COMTE, 1983 {18441, p. 47). Nunca é inconveniente lembrar, dessa Forma, a considerivel influéncia que o ideario positivista exerceu sobre 0 esta belecimento da Republica no Brasil, consubstanciada no proprio lema da bans deira brasileira: “Ordem ¢ Progresso", Adquirindo as feigdes de verdadeira rei- 1 © postivismo subsiste até os dias de hoje, em um templo positivista no estado do Rio Grande do Sul, com seus ritos e reunides regulares (GOTTS- CHALL, 2003). Para 0 positivismo, entio, © universo natural (¢ social) era regido por um conjunto de -las por meio de um método Gnico: 6 uso de procedimentos (por exemplo, experimenta ‘clo, comparagao e classificagio) que levassem 4 descoberta e a descrigao des- sas leis, @ partir dos fatos ¢ do uso do raciocinio. Aveis e eternas, cabendo 3 ciéncia desv Como pudemos observar até aqui, duas grandes tradigdes filossfieas podem ser consideradas como os pilates fandamentais da ciéncia: © raciona- lismo e 0 empirismo, cada qual com seus defensores e eticos, a a fusio definitiva desses dois pilates ~ fruto da genialidade de Galiteu Empirisme Demserito,picuro, Preigoras, Plato, Aristteles, Descartes Jétodo Cientifico Galew século XVI Positivismo ‘Comte, século XIX Ficuna 2.1 Os dois paras du léncia Nao podemos deixar de mencionar, no entanto, que 4 histéria do pens. mento cientiico € muito mais rica do que este texto pode stigerir a. um leitor ais desatento, De fato, 0 periodo de tempo compreendide entre os séculos XVIPe XECoF entre muitos dos quais conviveram © até colabora como foram os casos de Francis Bacon, Galileu Galilei, René Descartes © mente proficuo emt {deus € personagens importantes, mow mesmo se rivalizaram, Epoca, Nessa fase inicial da ciencia, que podemos designar como fase formatted, muitos autores importantes fora omiticlos, como Istac Newton (1642-1727), George Berkeley (1685-1753) © David Hume (1711-1776), apenas para citar alguns (ver Quadro 2.1). Em vista disso, para uma visio mais completa, sugerimos ao leitor observar as indica- ‘ses bibliogriticas complementares mencionadas ao final do capitulo ANDERY. MM. ea Pro compreender dna ume perspec Wie 12.04 Sio Paulo: Ed, 2003, Exe ro. escrko gor dersos autores prope 0 emendimento da deca 3 parc da andi do concent his ‘eric € social das vers ép0cas em que 3s ida cies foram surging, bora alguns expels pre sant corto vis ideolicoextemporine.a obra & mute tl pinpalmerte no perode hesrco que va dos pe-soersticas a6 0 nl do cl XVI GOTTSCHALL,€. A.M.D0 mito oo pensarenta cent bce do reaode de Tso Eisen, to Palo ‘Athena, 2005 ‘Obra rigorosa © complet perfar mirucoramente © percurtoapreentade neste capi apenss deforma uo resumidsA ekura io 6 dis mas Muences ea eeeoragSo do ro Mauda tomas odes vale fara quom quer estudar esse ta em decaes JAPIASSUL Hi. Fone Buca profes ae nse adeno, Sto Paul: Letras © Letras IM, ‘Conta hist hs das do fosofo Francs Bacon precursor do peneamonto cena maderna.de forma cessive aradivel Em sa sgundh pare junta extorsloionador dis propre obras do flosofo RUSSELL, 8 Histrie do pensar cdl Rio de nce: Eioure, 201 (Obra esc «franc ara quem des compere ahr ae in qe malar de pensar € ross vio de mundo, ropardonando ura marta série cana do mundo ocienta dos egos antiga a8 3 er contempories, Os Grandes Debates da Ciéncia Contempordnea Seguindo pela uilha que percorremios até aqui, exploramos, neste capitulo, um pouco da hist6ria, dos personagens ¢ das idéias que tantas pol@micas caussaim a0 longo do s importante ressaktar que a grande questio proposta nesse periodo é a referente a cemarcagio entre 0 que seria € 0 que nio podia ser considerado conhecimento cientifico. Na segunda metade do século XIX (periodo imediatamente anterior ao que ana. lisamos a seguir), importantes pensadores, como Jules Henri Poincaré (18: 1912), Emst Mach (1838-1916) e Pierre Duhem (1861-1916), procuearam por A prova as afirmagdes filoséficas emha @ envio. O temo metafisica se popubsrizou entre os intelectuais, pasando a significar qualquer tipo de forma de conhecimento que nio o cientifico. No inicio do século XX, surgiram os primeitos pensadores que centaram estabe- lecer uma diferenga clara entre a metafisica a loras do pensamenta cientiice O Positivismo Légico do Circulo de Viena Essa pastura doutrindria, predominante na filosofia da ciéneia até pelo menos a metade do século XX, surgiu quando, a partir de 1922, um grupo de filsofos € cientistas Comecou a se reunir em. Viena (Austria) ea debater as grindes questoes cientificas da época. © grupo, fundado pelo fisico alemio Moritz Schlick e do qual participaram diversos pensadores da época — como 30. werONELCGIA 1 CHENIN Rudolf Carnap, Quo Neurath, Kurt Gadel, Herbert Peigl, entre muitos outros -, acabou sendo batizado de Circulo de Viena, Em 1929, 0 grapo publicou um manifesto intitulado Uma visao ciemtijica do mundo = Circulo de Viena, no qual tornava publica sua posigo filoséfica, convencionalmente denominada positivismo légico. Segundo essa doutrina, a base da ciéncia devia se assentar sobre a matemtica ea légica, uma vez que elas seriam as tinicas ferramentas geraclas pelo pensamento humano capazes de estabelecer as regrs da linguagem — fundamentais para a formulagio das afirmagées cientificas. Assim, para o positivismo logico, as afirmagdes metafisicas careciam de significado e, portanto, deviam ser separadas das afiemagoes genuinamente cientficas — denominadas, por eles, enunciados sintéticos, (Qs emunciacios sintéticos seri evidéncias emy i105 que podiam ser confrontados com as as disponiveis, além de também serem passiveis de tradugio, para a légica simbdlica, em uma seqéneia de proposigoes simples, clan rnito ambigtias. Por exemplo, tomemos 0 seguinte enunciado; “Todos 08 metal quando submetidas ao aquecimento, apresentam dilatacio; sendo a prata ui metal, logicamente, quando aquecida, deve também se dilatar” Loge.a pra, quando aquecds. ine © positivismo l6gico propunha, entio, a explicitagko das afinmagoes por meio da analise logica, objetivando superar as dificuldades geradas pelo uso improprio da linguagem. Quando um enunciado exprimisse, de fato, uma realidade, entio podia ser considerado verdadeiro, caso contra ‘enunciado metalisico. Alem disso, © posttivismo logico ressaltava o papel Principal processo por meio do qual se posliam gerar ce inducdo como o \elusies cientificas ‘lidas. Podemos entender a indugao como um metodo de rciocinio no qual artimos de uma série de observagdes paniculares para chegar a uta ‘slusio generalizante, Assim, vejamos: con tno arose exnt1ow9 s—oseaunnos peas pa cabean cose NEA 3 Exemplo 1: Proposigao T © Ferro conduz elevicidade Proposicio 2 A prata conduz eletricidade Propasigio 3 © cobre conduz eletricidade Conclusto Todos os meta's conduzem eletricidade Exemplo 2: Propasigio 1 A Tera € um plancia © no possui brilbo préprio Proposic2o 2 Saturno & um planeta € no passui brilho proprio Proposigio 3 Venus & um planeta e no possui brilho préprio Proposicio 4 Netuno € um planeta e nao possui brlho proprio Conelusio Nenhum planeta possui brilho préprio © processo indutivo, entio, produzitia suas conclusdes com base em for- tes evidencias emy sendo, por exceléncia, © processo pelo qual pod :mos obter e confirmar hipdteses € enunciados gerais a partir de observagdes Pontuais da realidade, \ idéia do “proceso indutivo como motor da ciéncia” acabou tedundando no chamado principio da verificabilitade, postulado segundo © qual s6 seria considerado cientifico 0 enunciado que pudesse ser verificado, isto é, posto A prova, por meio de uma validagio empirica ~ por exemplo, um experimento, -gunde o prin pio da verificabilidade, se uma afirmago nao pudesse ser verificada, entio pertenceria a0 reino da metafisica, e no da Ciencia: “Se mio houver meio possivel de cleterminar se um enunciado é verdadeiro, esse enunciado nao tera significado algum, pois o significado de um enunciado Confunde-se_com-o-métoda de sin. verilicagio” QVAISSMANN, 1930. apudl POPPER, 1974 (19341, p. 41), Essa pasiglo inicial do Cireulo de Viena acabou se mostrando controver St ¢ altamente questionivel, em razio do fato de que muitas «as leis natursis ‘em voga, a €poca, no pocliam ser verificadas de forma definitiva. Por isso, lum dos mais proeminentes membros do Cireulo, 0 fildsofo Rudolf Carmap (41891-1970), procurow-abrank ia-eriando-navo-critério paras deter ‘minagio dos enunciados cientificos: © confirmacionismo 32 ROnoOKA DA CSO Segundo esse nove principio, os emune certo grat probabilistieo de confirm Jos cientificos estariam sujeitos a 40, depenclendo ds quantidade de vezes que fossem submetidos 2 prova empitica, ou seja, quanto maior o atimero de eventos singulares aferidos no proc da conclusio obtida 80 indutivo, maior o grau de confirmagio wdicando que © geau de confirmagio de uma teoria ia ido com © tempo. Dessa forma, segundo esse novo critério, as teoria seriam cada vez mais confirmadas por meio do actimulo cle testes, embor nunca pudessem ser declaradas como definitivamente verdadeiras ~ pois Carnap nao deixou clara se, a partir de determinado nimero critico de experimentos confirmatorios, a teoria podia ser considerada totalmente comprovaca. Kari Popper e 0 Principio da Falseabilidade Muito embors j4 no século XVIII o fil6sofo britdnico David Hume (1711-1776) tivesse questionado a utilidade da induce como mecanismo vihdo part a descoberta. foi somente em 1934, com a publicacio da obra A Idgica da pes- quisa cientifica (ver Leituras Complementares Recomendadas), que Katt R Popper (1902-1994) formulou sua famosa crit Ora, ests lange de ser dbvio, de um ponto de vista gico, haverjustficativa em infer enunciados universais de envnciados singulares, independentemente de qué0 numerozos sejam estes; com feito, qualquer conclusdo escolhida desse modo sempre pode revelarse falsa: independentemente de quantos casos de cisnes brancos possamos cobservor, isso ndo justfea a conclséio de que todos os cisnes sejam brancos. (POPPER, 1974 [193d], p. 28) Popper denominoti ess questio de “o problema da induco" ao contririo da dedugto, nao havia nenhuma garantia de que ir do racio- sonclusio obtida apa f0-fosse-definitivamente-verdadeira-—pois- sempre pode” Surgir- unr ‘cisne negro" para acabar com «historia, Ao formular essa indugao, Popper procurava desenvolver um novo critério de demarcagio entre a metafisica (pseu docigneia) ea verdadeira ciéncia, & qual cle denominava “ciéncia empiri Para Popper, as pseudociéncias de sua época (por exemplo, a psicansl se de Freud, 0 marxismo, a asirologia etc ) deviam ser efetivamente separadas sda-ciéncia-emptrica=Mas; paraiso, 0-¢ritério uitilizado pel = © venificacionisino — nie servia: para ele, ut a teoria nu ria comprovada ratte amanasinuo [caML10 4 ~-08 GRANDES DEHATES DA CHINA CONTENOISIA 33 ao havia como saber se essis observagdes setiam en miimero sufieente do fato Sbvio de que a obseivago seguinte podia contuadizer tuch que a cedeu (por causa do problemit da indugio). essa forma, Popper concluiu que as observagdes testes pre- npiticos sucessivos nao teriam a capacidade dle provar que uma teorit em verdadeira — apenas que eta falsa, Com isso, ele determinou um novo principio de demaecagao entre a ciéncia ¢ a metalisics, chamado principio da faleabilidade. [1 56 reconhecerei um sistema como empirico ou cienttico so ele for ppassivel de comprovaro pela experiéncia, Essas considerocdes sugerem que deve ser omado como crilério de demareagéo néo a verificabilidade, mas a falseabilidode de wm sistema. Em outs palavras, ‘Go exigirei que um sisiema cientifco soja suscetivel de ser dado como vlido, de uma ver por todas, em sentido positive; exigiei, porém, que sua forma légica seja tal que se lorne possivel validéo atcavés de recurso a provas empiricas, em sentido negatvo: ceve ser possivel refutr, pela experiéncia, um sistema cientfco empitica. Assim, 0 enunciads “Choverd ou néo choverd aqui, amanha néo serd considerado empitico, simplesmente porque ndo admite efutocdo, a0 asso que serd considerade empirico 0 enunciado “Choverd oqui, amanha” (POPPER, 1974 [1934], p. 42) Yemos, entio, que, pars um hhaver a possibili nunciado ser considerado ciemtfico, deve pelo menos em tese, de que possa ser refutado (Falseado) Tomando o Exemplo 1 utiizado ha pouco, para que metas conduzem eletricidace” sep falseada, bastaria que descobrissemos a exis tencia de um tinico tipo de metal que: nao conduzisse eletricidade. Esse evento leva o nome de falseawtor potencial da lei ou teoria. evento falseador & uma proibicio: « teoria diz que nao podem existir metais nao-condutores de cletrci dade. Para Popper. quanto inais falseadlores potenciais uma teorka tiver, ou Sea smacao “Todos os Quanto maior © namero de proibigGes da teoria, maior o seu comtetido empit: £0 &, conseqiientemente, sua qualidade cienttica Paradigmas Cientificos e Programas de Pesquisa 10 dis Weorlas Ele por meio do acdinnilo grasuul de evidenc ‘Como-pademas observa Karl Popper iScomO modelos que, is, seguian 34 serOnoLoa os Cesc de lado, Bssa visio acerca de como as idéias cleniificas evel conte: riam comiegou a ser a no inicio dos anos de 1960 por outro filésofo da eigncia, o norte-ame- icano Thomas Kun (1922-1996), Em sua obra mais conhecida, 4 estrutra das revolucces cientficas (ver Leituras Complementares Recomendadas), Kuh desen- volveu uma andlise histérica na qual nas apresentou © conceito de paradigm, De modo simplificado, podemos entender 0 termo paradigma como um conjunto de crengas, valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos mem- bros de uma comunidade cientfica especifica e que, durante algum tempo, for necem os modelos de analise para os problemas cientificos em determinada rea do conhecimento. Segundo Kubn, a historia da ciéneia nos mos que, periodicamente, um paradigma era substituide por outro ~ embora isso nao ocorresse em virtude de uma simples observacaa incompativel com a teo- Fla, conforme atestava o principio da falseabilidade popperiano, De fato, um experimento, uma observacio ou um feste nunca eram totalmente incompa- Liveis com uma teoria, sendo que um modelo “falseado” nao precisar sariamente ser cleseartado pelo cientista Para explicar melhor como se daria a passagem de um paradigma para outro, Kubin criow 0s termos ciéncia normal e revolugeio ciemifica. Durante © periodo de ciéncia normal, os cientistas trabalhariam aperfeigoando um deter minado paradigma, resolvendo os problemas nele circuascritos, elaborando novas leis © modelos, de acordo com os parimetros estabelecidos por ele Quando as observagdes e experimentos cumulativamente comecassem a apre. sentar anomalias inexplicaveis, surgiria a crescente suspeita, por parte de alguns membros da comunidade cientifica, de que o paradigma n3 mais para explicar a classe de fendmenos em questio. Quando isso ocorresse se instauratia uma crise — ¢ a ciénc seu periodo revolucionario, no qual alguns pesquisadores (notadamente os ais jovens, ainda ndo totalmente comprometides com o conhecimento tradi ional) proporiam um nove paradigm, o que provocaria uma ruptura na ‘comiunitiade, cont os defensores dos dors paridigmas — o vigente & o propos to — defendendo sua posigio, Segundo Kuhn, nao faltariam ex Ticos ilustrativos desse tipo de ocorréncia, come quando Copérnico postulot © paradigma heliocéntrico em oposicio 4 teoria anterior, 0 geocentrismo de Ptolomeu, ou mesmo quando 6 paradigms relativistico de Einstein abalou radi calmente as crengats universalistas da fisica newtoniana, adentraria 0 nplos ists Em razio das ciflicas recebidas por ocastao da publicagao de seu livre Cop. cit), Kubn reconhecew algumas falhas, ligadas principalmente 0 uso do fermo “paradioma” em diversns centides ag lonen cde suit obra. Em faneao, so swocnino aire 10 sox caenanes netntss M9 cEscan GOHAMONANIA 35 disso, propds :1 sua substituigdo pelo termo “matriz disciplinar", que represen: taria methor a idéia de um “mapa” a ser utilizado pela comunidade cientitiea, no Ambito de determinada disciplina (nea de conhecimento), € que forneceria, entao, a5 inter-relagdes entre os diversos conceitos € pressupestos comparti- Ihados entre 05 cientistas clefensores de determinada matriz. disciplinar Bntretanto esse termo nio vingou, ¢ a palavia pavadigma continua imperando no vocabulirio comum sobre esse em, Outra dizia respeito 2 impossibili- dade de compararmos paradigmas: quando ocorresse o surgimento de um nportante idéia desenvolvida por el novo paradigma, seria muito dificil encontrar termos de comparacao entre cle € 0 anterior, pois cada um partiria de pressupostos radicalmente diferentes e, portant, a prépria visao de mundo proposta por eles em particular, seria totalmente singular, nao cabendo comparagio, Est idéia acabou levanda 0 nome de tese da incomensurabitidade ~ ou seja, os paradigmas seriam inco- mensuriveis (incompariveis, ndo-mensuriveis). Como exemplo, podemos pensar na comparagao entre a fisica clissica de Newton e a fi de Einstein: 0s pressupostos e a visio de universo de uma © de outra sho inco- mensuriveis; 05 proprios conceitos, embora lever os mesmas Nomes, também possuem significados diferentes nos dois adligmas ~ como € © caso dos conceitos de tempo € espaco, que na fisica elissica representam referencias absolutos para a determinacia do mavimento dos objetos, enquanto na fisict relativistica representam entidades sujeitas & deformagiia (contracio do espaco € dilatagao do tempo) ~ €, portanto, nao servem mais como referenciais abso- lutos, mas apenas relativos Finalmente, vale a pena mencionar também a posicio instrumentalista e Prigmatica de Kuhn em telaglo 4s teorias cientificas: pars ele, as teorias 12 seriam nem verdadeiras nem falsas ~ tratava-se apenas de avaliar se elas funcionavam ou nao em suas previsoes acerca dos fenémenos que se prop sham « explicar. Assim, uma teoria constituia-se apenas em mera fermamenta ara-farer pr isoes. Quando deixasse de Ser Ul part seria substiuida por outra melhor (um novo paradigma), esse Runcao, a Teor Outro auror que muito colaborou foi 0 matemitico e filésofo Iningiro Imre Lakatos (19 ‘seguidor das ideas de Popper, Lakatos concordava com o prine‘pio da fal lice, 20 qual agnegou contibuigdes importantes. a principal contribieno de Lakatos constituiuesena-amenizagio desse principior a histGrir- de

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