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8 O Que os Estudantes de Economia Precisam Saber sobre Comércio? Poucos dos alunos de graduagio em economia Passarao para ap6s-graduagao nessa 4rea; alias, a maioria sequer fara quaisquer cursos de economia de nivel mais avangado. Assim, o que aprenderem sobre economia sera o que for ensinado neste curso, Tornou-se mais importante do que nunca que sua formagao basica inclua uma sélida base nos princfpios do comércio inter- nacional. Eu poderia justificar essa afirmagao observando que o comércio internacional é, agora, mais importante para a eco- nomia norte-americana do que costumava ser. Mas existe outra tazéo, que julgo ainda mais importante: a percepgao crescente entre o publico em geral de que o comércio internacional é um assunto vital. Vivemos em uma época em que os norte-america- Nos esto obcecados pela competigao internacional, em que Ca- bega a cabega, de Lester Thurow, encabega a lista de best-sellers de néo-ficgao e Sol nascente, de Michael Crichton, encabega a lista de ficgdo. Os noticidrios e a literatura de negécios estao saturados de discussées do papel dos Estados Unidos na eco- nomia mundial. : O problema é que a maior parte do que um estudante deveré ‘Tou ouvir sobre economia internacional é bobagem. Minha tese “este artigo 6 que o mais importante a ser ensinado aos alunos de graduacao que desejam aprender sobre comércio ¢ como Rei ' 23 ‘elmpresso com Permissao de American Economic Review (maio de 1993): 23-26. *. “EGe 3 ss 116 Capitulo g detectar tal bobagem. Ou seja, nossa primeira missao deveria ser vacinar as mentes de nossos estudantes contra as concepgées erréneas tao predominantes e que passam por abordagens inteli- gentes do comércio internacional. I A Reté6rica do Internacionalismo Pop Como ponto de partida, gostaria de citar uma afirmagao tipica sobre economia internacional. (Deixemos de lado os nimeros por um momento.) Ei-la: “Precisamos de um novo paradigma econémico, porque atualmente os Estados Unidos fazem parte de uma economia realmente global.’ Para manter seu padrao de vida, os Estados Unidos tém de aprender a competir em um mercado mundial cada vez mais acirrado.” E por isso que a alta produtividade e a qualidade dos produtos se tornaram essenciais.’ Precisamos trazer a economia norte-americana para os setores de alto valor* que geraréo empregos’ para o futuro. A tinica forma de sermos competitivos na nova economia global é forjarmos uma nova parceria entre governo e empresas.”° OK, eu confesso: essa nao é uma citagao real. Forjei-a como uma espécie de compéndio de erros consagrados sobre o comér- cio internacional. Mas ela certamente soa como 0 tipo de coisa que se 1é ou se ouve o tempo todo — aproxima-se bastante em contetido e estilo do ainda influente manifesto de Ira Magaziner e Robert Reich (1982) ou, a propésito, da apresentacao de John Sculley, da Apple Computer, na Conferéncia Econémica do presidente eleito Clinton, em dezembro de 1992. Pessoas que dizem coisas como essas se julgam inteligentes, sofisticadas e voltadas para o futuro. Elas nao sabem que estao repetindo um conjunto de clichés enganadores que chamarei de “internacio- nalismo pop”. F facil entender por que o internacionalismo pop exerce tamanha atragao sobre o publico. Com efeito, ele compara 0S Estados Unidos a uma empresa que costumava desfrutar de um imenso poder monopolista, o que lhe propiciava cémodos lucros apesar das prdticas empresariais desleixadas, mas que enfrenta agora um ataque de novos competidores. Muitas empresas O Que os Estudantes de Economia Precisam Saber... 117 acham-se atualmente nessa posigao (embora os novos competi- dores nao sejam necessariamente estrangeiros), o que faz a ima- gem parecer verdadeira. Infelizmente, essa 6 uma imagem totalmente enganadora, pois uma economia nacional guarda pouquissima semelhanca com uma empresa. Além disso, a visdo pratica do homem de negécios pouca luz langa sobre as questées referentes ao equilibrio geral da economia internacional. Assim, o que os alunos de graduagao precisam saber sobre o comércio internacional? Eles precisam saber que o internacio- nalismo pop é bobagem — e precisam saber por que é bobagem. II Erros Comuns Inseri ntimeros em minha citagao imagindria para marcar seis erros atualmente muito comuns que podem e devem ser refutados em um curso de graduagao de economia. 1. “Precisamos de um novo paradigma...”: O internaciona- lismo pop proclama que tudo mudou agora que os Estados Unidos sdo uma economia aberta. Provavelmente o insight indi- vidual mais importante que um curso de graduagao pode trans- mitir sobre economia internacional é que ela ndo altera os fundamentos: o comércio internacional nao passa de mais uma atividade econémica, sujeita aos mesmos princfpios que qual- quer outra atividade. O livro de James Ingram (1983) sobre comércio interna- cional contém uma pardbola adorével. Ele imagina que um empresério cria uma nova empresa que emprega uma tecnologia secreta para converter trigo, madeira etc. norte-americanos em bens de consumo baratos e de alta qualidade, O empresario € saudado como um herdi da industria: embora alguns de seus concorrentes internos saiam prejudicados, todos aceitam que transtornos ocasionais sao o prego da economia de livre mercado. Até que um repérter mais investigative descobre que 0 que © empresério realmente fazia era enviar trigo e madeira pata a eae ®, com o dinheiro apurado, comprar bens manufaturados 5 assim, ele 6 denunciado como um impostor que esté solapando 118 Capitulo 8 mericanos. A idéia, é claro, é de que o comércio internacional é uma atividade econémica como outra qualquer e que pode inclusive ser considerada como uma espécie de processo de produgéo que transforma exportagdes em impor- os empregos norte-a tagdes. Alias, seria 6timo se os alunos de graduagao obtivessem uma nogao quantitativa mais realista do que a que 0 internaciona- lismo pop parece ter da extensdo limitada em que os Estados Unidos realmente passaram a integrar uma economia global. O fato é que as importagoes e exportagées ainda representam apenas um oitavo da produgio, e pelo menos dois tergos do valor agregado norte-americano consistem em bens e servigos nao passiveis de comércio exterior. Além disso, é preciso certa pers- pectiva historica com que contestar as tolas alegagdes de que a situagao norte-americana atual é totalmente sem precedentes: os Estados Unidos nao sao e talvez jamais venham a ser tao abertos ao comércio internacional como a Gra-Bretanha desde o reinado da rainha Vitéria. 2. “Competir no mercado mundial”: Um dos mais comuns e persistentes erros dos homens praticos é achar que os paises, & semelhanga das empresas do mesmo ramo, estado em competigao miutua. Ricardo jé sabia disso em 1817. Um curso de graduagéo em economia deveria inculcar nos estudantes a idéia de que 0 comércio internacional nao diz respeito 4 competigao, mas a troca mutuamente benéfica. E 0 que é mais basico, deveriamos poder ensinar aos alunos que as importagdes, e nao as expor- tagées, so o propésito do comércio internacional. Ou seja, o que um pais ganha com o comércio internacional é a capacidade de importar coisas que deseja. As exportagdes nao sao um objetivo em si: a necessidade de exportar é um 6nus que um pafs tem de suportar porque seus fornecedores de importagées sao bastante obtusos para exigir pagamento. Um dos aspectos desanimadores da tirania do internaciona- lismo pop é que hé em torno dele uma espécie de Lei de Gresham a rezar que conceitos ruins expulsam os bons. Lester Thurow é um economista formado que compreende a vantagem compara- tiva. Entretanto, seu ultimo livro foi um best-seller em grande O Que os Estudantes de Economia Precisam Saber... 119 parte por propor vigorosamente mente (espera-se) se entregam aos pop: “A competic¢ao setorializada 6 um jogo em que todos saem ganhando. Todos tém um lugar onde conseguem se destacar; ninguém sera forgado a encerrar as atividades. Jé a competigéo de igual para igual é um jogo em que a vitéria de um 6 a derrota de outro.” (Thurow, 1992, p. 30) Devemos tentar instilar nos alunos de graduagao uma critica radical a afirmagoes como essa. 3. “Produtividade”: Os estudantes deveriam aprender que a alta produtividade é benéfica nao por ajudar um pais a competir com outros paises, mas por permitir a um pais produzir e, portanto, consumir mais. Isso seria verdadeiro em uma economia fechada; néo é nem mais nem menos verdadeiro em uma economia aberta; mas nao é nisso que os internacionalistas pop acreditam. Tenho achado util fornecer aos meus alunos o seguinte experimento de raciocinio. Em primeiro lugar, imagine um mundo onde a produtividade aumenta 1% ao ano em todos os paises. Qual sera a tendéncia no padrao de vida norte-americano? Os alunos concordam sem dificuldade que ele aumentaré 1% ao ano. Agora, suponha que, enquanto a produtividade norte-ameri- cana continua aumentando apenas 1% ao ano, o resto do mundo consegue um aumento de produtividade de 3%. Qual a tendéncia no padrao de vida dos Estados Unidos? A resposta certa 6 que a tendéncia continua sendo de 1%, a nao ser possivelmente alguns efeitos sutis nos termos de troca; s6 que, em termos empiricos, mudangas nos termos de troca norte-americanos praticamente nao tiveram impacto sobre ° Padrdo de vida do pafs nas tltimas décadas. Mas pouquissimos alunos chegam a essa conclusio — o que nao é de surpreender, Pois praticamente tudo que léem ou ouvem fora da classe trans- mite a imagem do comércio internacional como um esporte competitivo. Um episédio: ao publicar um artigo em uma coluna no New York Times em 1992, enfatizei a importancia do aumento ia Produtividade. O assistente editorial insistiu que eu an “explicar” que devemos ser produtivos “para competirna econo! Conceitos que involuntaria- clichés do internacionalismo 120 Capitulo 8 global”. Ele s6 queria publicar 0 artigo se eu acrescentasse esta explicagao — disse ser necessario para os leitores poderem entender por que a produtividade é importante. Precisamos tentar produzir uma geracao de estudantes que, além de nao precisar desse tipo de explicagao, entenda por que esta errada. 4, “Setores de alto valor”: Os internacionalistas pop acredi- tam que a competigao internacional é uma luta pela conquista dos “setores de alto valor”. “A renda real de nosso pais sé poderé subir se (1) seu trabalho e capital flufrem cada vez mais para atividades que agreguem mais valor por empregado e (2) man- tivermos uma posigéo nessas atividades superior a de nossos competidores internacionais” (Magaziner e Reich, 1982, p. 4). Creio que deve ser possivel ensinar aos estudantes por que esse 6 um conceito tolo. Tomemos, por exemplo, um modelo Ricardiano de dois produtos simples em que um pais é mais produtivo do que outro em dois setores. (Tenho em mente aquele usado em Krugman e Maurice Obstfeld [1991 pp. 20-1]). O pais mais produtivo tera, é claro, um salério maior, de modo que, qualquer que seja o setor em que se especialize, sera de “alto valor”, ou seja, teré mais valor agregado por empregado. Isso significa que o alto padrao de vida do pais resulta de estar no setor correto ou que o pais mais pobre ficaria mais rico se tentasse copiar o padrao de especializagao do outro? Claro que nao. 5. “Empregos”: Um ponto sobre o qual amigos e inimigos do livre comércio parecem concordar 6 que a quest4o mais impor- tante é o emprego. George Bush declarou que 0 objetivo de sua malfadada viagem ao Japao era “empregos, empregos, empregos’; ambos os lados no debate sobre o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) tentam justificar sua posigéo em termos da criagéo de empregos. Além disso, para um namero espantoso de partidérios do livre comércio, a razao pela qual 0 protecionismo é ruim é que causa depressées. Deveria ser possivel enfatizar a estudantes que 0 nivel de emprego 6 uma questéo macroeconémica, dependendo, a curto prazo, da demanda agregada e, a longo prazo, da taxa natural de desemprego, com politicas microeconémicas como tarifas tendo pouco efeito liquido. A politica comercial deveria ser debatida O Que os Estudantes de Economia Precisam Saber. em termos de seu impacto sobre a eficié; pretensos niimeros sobre empregos cri. 6. “Uma nova parceria”: ncia, e néo em termos de iados ou perdidos. um ponto basi i internacionalistas Pop éque, comoas empresas norte amevieanne estao concorrendo com as estrangeiras, e nado entre si, o governo norte-americano deveria Passar de sua posigao supostamente antagonica para uma de apoio as empresas nacionais contra suas rivais estrangeiras. Um internacionalista Pop mais sofisticado como Robert Reich (1991) percebe que os interesses das empresas norte-americanas nao equivalem aos dos trabalhadores norte- americanos (vocé pode achar inacreditdvel que alguém preci- sasse fazer esta observacgéo, mas os internacionalistas pop a interpretaram como um profundo e controvertido insight), mas mesmo assim aceita a premissa bdsica de que o governo norte- americano deveria ajudar as indistrias nacionais a competir. O que deveriamos ser capazes de ensinar aos nossos alunos é que a concorréncia principal envolve os setores norte-ameri- canos uns contra os outros e diz respeito a que setor obteré os Tecursos escassos de capital, qualificagdo e, sim, mao-de-obra. O apoio governamental a um setor pode ajuda-lo a competir contra os estrangeiros, mas também desvia recursos de outros setores internos. Ou seja, a importancia crescente do comércio interna- cional ndo altera o fato de que o governo sé pode favorecer um setor interno a custa dos outros. Existem raz6es, tais como economias externas, pelas quais uma preferéncia por alguns setores em detrimento de outros pode se justificar. Mas isso seria valido em uma economia fechada também. Os estudantes precisam entender que 0 crescimento do comércio mundial nao fornece nenhum apoio adicional a PIO; Posta de que nosso governo deveria se tornar um aliado ativo da industria nacional. TI O Que Deverfamos Ensinar minha discussao deveria tudantes de economia, esponder inteligente- A essa altura, o tema principal de estar claro. Para o grosso de nossos es' Nosso objetivo deveria ser equip4-los paral 122 Capitulo 8 mente a discuss4o publica de questées econémicas. Grande parte desta discuss4o sera sobre comércio internacional, de modo que esse deve constituir uma parte importante do curriculo. O crucial, porém, é entender que o nivel de discussao publica é extremamente primitivo. De fato, ele caiu tanto que pessoas que repetem clichés tolos costumam se imaginar sofisti- cadas. Isso significa que nossos cursos precisam ensinar o mais claramente possivel os fundamentos. Curvas de oferta e efeitos Rybczinski sao 6timas idéias. Entretanto, nossos estudantes tém que estar preparados para um mundo onde “experts” da TV, autores de best-sellers e consultores de US$ 30 mil por dia nao compreendem restrig6es orgamentarias, isso para nao falar em vantagem comparativa. Os Ultimos quinze anos tém sido os anos dourados da inovagio na economia internacional. Entretanto, tenho de con- cluir, com certo desgosto, que esse material inovador nao é uma prioridade para os atuais alunos de graduagao. Na ultima década do século XX, o essencial para se ensinar aos estudantes ainda sao os insights de Hume e Ricardo. Ou seja, temos de lhes ensinar que os déficits comerciais se autocorrigem e que os beneficios do comércio nao dependem de um pais deter uma vantagem abso- luta sobre seus rivais. Se conseguirmos fazer com que alunos de graduagao estremegam ao ouvir alguém falar de “competitivi- dade”, teremos prestado a nossa nagao um grande servigo. Referéncias 1. Crichton, Michael, Sol nascente, Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1992. 2. Ingram, James, International economics, Nova York: Wiley, 1983. 3. Krugman, Paul e Obstfeld, Maurice, International economics: Theory and policy, Nova York: Harper Collins, 1991. 4, Magaziner, Ira e Reich, Robert, Minding America’s business, Nova York: Random House, 1982. 5. Reich, Robert, The work of nations, Nova York: Knopf, 1991. 6. Thurow, Lester, Cabega a cabega, Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1993.

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