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- +3394 | ‘REVISTA pO [STITUTO ARCHROLOGICO H GOGRAPHICD ~PERNAMBUCAND SESSAO ESPECIAL DE 9 DE MAIO DE 1886 » JUNHO DE 1886 RY i y Le a g o * RECIFE TYPOGRAPHIA INDUSTRIAL rador n. 14. Gosa de tanto bem. terra bemdita, “raz do Senhor teu nome seja, | © quanto a luz mais tarde te visi ‘nto mais abundante em ti se veja. | S Rita Durio Canam, © av, Est 49 REVISTA INSTITUTO ARCHBOLOGICO f GROGRAPHICO PERNANBUCANO Sessio especial de 9 de Maio de 1885 Acta approvada em sesso de 13 de Maio de 1886 Presidencia do Exm. Sr. Consetheiro Pinto Junior ‘As 11 horas da manha, reunido o Instituto em ssiio especial com assistencia dos consocios : Drs. icero Peregrino e Monsenhor Joaquim Arcoverde, .° @ 8.° Vice-Presidentes, Baptista Regueira e Ma- jor Codeceira 1.° e 2.° Secretarios, Drs. José Hy- ino e Lopes Machado oradores, Commendador. iranda Leal Thesoureiro, Augusto Costa, Drs. Thomaz Montenegro, Pessda da Costa, Jodo de Oli- veira, Praxedes Pitanga, Barros Barreto, Joaquim Loureiro, Miranda Curio, Oliveira Fonseca, Apo- ligorio Leal, Tavares Belfort; Amynthas de Moura, Raymundo Bandeira, Paulo de Oliveira, Manoel Peretti, Ayres Gama, Antonio Witravio, Rvd. Padre Estanislio, Major Miranda Castro, Desem- bargadoces Freitas e Manoel Clementino, presentes tambem os Exms. Srs. Vice-Presidente da pro- vincia, Commandante das armas, Chefe de policia, 4 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN. Commissdes da Assembléa, do Instituto dos Pro- fessores, e Propagadora da Instruccio Publica, Deputados provinciaes, Desembargadores, Juizes de Direito, Lentes da Faculdade, Chefes de repar- tiggo, advorados, jornalistas, Professorés,. Corpo academico, distinctas senhoras e muitas outras pes- soas grad o Exm. Sr. Presidente do Instituto abria a sess8o com uma breve allocucdo, na qual expoz o fim da reunido. fm segnida den a palavra ao Dr. José Hygino Duarte Pereira, e este, por cerca de tres horas oc- cupou nattengdo do auditorio, com a leitura do | minncioso ¢ interessante relatorio de seus traba- Ihos, em desempenho da commissio de que esteve incumbido na Tollanda, acompanhando a sta nar- ragio de judiciosas reflexdes eriticas, e da exhibi. s4o de grande numero de mappas, gravuras, livros ecopias de importantes documentos, extrahidas dos archivos de Haya. Coube depois a palavra ao orador do Instituto, Dr. Lopes Machado, o qual pronuncion um notavel discurso sobre a importancia da missdo de que es- feve encirregado na Europa o Dr. José. Hygino conciuindo por dirigir em nome do Instituto, um voto de agradecimento a todos aquelles que con- correram para o bom desempenho da referida com- * missio, Depois do que, o Exm. Sr. Presidente, agrade. cendo a todas as pessoas presentes o seu compare- cimento, declarou encerrada a sessio, - > Gams. Siuheres, Minhas Fenkoras O motivo que hoje nos congrega neste recinto éa leitura do relatorio do nosso illustrado consocio Dr, José Hygino Duarte Pereira, em -desempenho da commissio que, com autorisagado do Governo, The incumbio este Instituto de extrabir copias de documentos officiaes existentes nos archivos e bi- pliothecas da Hollanda, relativos 4 luta dos Hollan- Brazil. : ae son incumbencia Ihe foi dada em satisfagao aos fins deste Institute, que, segundo a lei de sua organisagiio, deve colligir, verificar e publicar os documentos que puder obter referentes a historia das Provincias correspondentes as antigas capita- jas de Pernambuco e Itamaraca. us Aede, pois, o Instituto, na parte que lhe per- mittem seus pequenos recursos, nie podia deixar de concorrer para saciar a side de saber e 0 desejo de tornar mais conhecida a serie de factos pelos quaes tanto se celebrisaram 08 denodados defen- sores da causa nacional nas epochas coloniaes. 5 No immenso campo da historia toda colheita é victoria de resultados vantajosos para a scien- cia ; e quando essa historia nos interessa de perto, como a da Iuta esforgada do‘amor da patria contra a ambicao do estrangeiro invasor, recresce 0 nosso, 6 REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR. PERN. empenho de investigar tudo quanto fizeram os va- lentes libertadores do solo pernambucano. Se nos pésa a causa que obrigon o incansavel Dr. José Hygino ainterromper téo depressa os tra- balhos de que estava encarregado, satisfaz.nos sum- mamente a certeza de que sens esforgos nfo foram baldados. Elle vos mostraré. o qnanto conseguio fazer, excedendo a expectativa de todos. E' por trabalhos semelhantes que podemos er- gner o plano das investigagSes_histovicas, e firmar na opinido publica a certeza de que nio estamos aqui por mera curiosidade. O que acabamos de dizer justifica plenamente o nosso jubilo, tanto mais quanto extremumente nos penhora este numeroso concurso de tio illus- tres personagens em aprego 4 trabalhos d'esta or- dem, que devem contribuir para o lustre e renome de nossa cara Provincia. Esta aberta as Lo. Meus Senhores, Minhas Senhoras O Exm. ex-presidente desta provincia, De- ‘sembargador José Manoel de Freitas, sob proposta do Instituto Archeologico e Geographico Pernam- Ducano e com approvagdo do governo imperial, se dignou encarregar-me de colher no real archivo de Haya documentos relativos 4 occupagéo do Bra- vil pelos Hollandezes, E’ com a mais viva satisfacgio que, de volta da minha excursio 4 Hollanda, venho dar-vos conta © do resultado das minhas investigagdes. Dirigindo-me.a um anditorio que no se. com- pde somente de membros do Instituto Archeologi- co, permitti-me que, antes de tudo, eu vos expli- que a raziio por que me foi commettide o encargo de que se trata. A conquista de Pernambuco e das czpitanias vizinhas effectuada pelos Hollandezes no seculo 17, nio foi mais do que um episodio da luta prolongada que se travéra na Europa entre os reis de Hespanha e os seus subditos rebellados das Pro- vincias Neerlandezas, Durante quarenta annos de martyrio, o despo, tismo e a intolerancia religiosa haviam precipitado na miseria essas provincia’ anteriormente ricas e florescentes. O duque d’Alba fez perecer no ca- dalfaso a 18:000 homens, mais de 100:000 emigra- t . a 8 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PRRN. ram. (1) Instigades pelo amor a liberdade de con- sciencia e pelo odio ao dominio estrangeiro, 0s Hol- landezes sahiram desse estado: de abjecta miseria para se elevarem ao fastigio da gloria e do poder. Pequeno pelo nimeroe pelo territorio, ‘* mas grace: de por suas virtudes, *? esse povo varonil péde, no lapso de 80 annos, repellir do seu solo as tropas hespanholas, conquistar um logar entre as nagodes independentes, devassar todos os mares com as suas frotas, levando a guerra ao orjente e ao occ dente, attrahira si o commercio do mundo, il-, lustrar-se no s pelas armas, como pelas lettras e pelas artes, reduzir a orgulhosa Hespanha — em cujos dominios o sol d’antes nfo se punha — a re- presentar um papel seeundario na politica euro- péa e por dltimo a implorar a paz. Todas as for- cas vitaes da naciose tinham desenvolvido ; a joven Republica haviaattingide a um desses periodos de plena florescencia que raras vezes se repetem na historia do mesmo povo. Impellidos para o nosso paiz pelo mesmo con. juncto de cansas que os levira ao oriente, os Hol- landezes submetteram ao seu dominio uma par- te consideravel do Brazil septentrional. Embalde porém tentaram fundar uma colonia prospera e duradoura entré os colonos portuguezes. Estes odiavam, tanto quanto os Hollandezes, o jogo do estrangeiro e especialmente do estrangeiro here- ge ;oppuzeram uma resistencia tenaz e consegui- ram rechassar os invasores. Entre o periodo da conquista e a guerra da ret “auracio houve um intervallo de paz com os mora~ dores, durante o qual um principe illustre da casa — (1) Wiynne, Geschiedenis can het Vudertaut, * * REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 9 dé Nassau organisou a colonia hollandeza, intro- duzindo os costumes e as instituigdes. nacionaes. As duas sociedades = a dos vencidos e a dos ven- cedores —embora sujeitas ao mesmo governo e regidas, em parte, pelas mesmas leis, néo se fun- diram, e parece que foi nulla a influencia que os” Hollandezes exerceram sobre o espirito e os cos= tumes des hubitantes portuguezes. Feitos de guerra, constituig&o e orgahisagao do Brazil Hollandez, seitas religiosas, elementos de que se comptinha a populagdo, relagdes entre os vencidos e os conquistadores, eiso interessantis- simo assumpto que faz objecto da historia daquelle _ periodo. A enorme cépia dos materiaes impressos e ma- nuscriptos que illustram essa historia e se encon- tram nos archivos e bibliothecas da Hollanda, néo podia deixar de attrahir a attencio do Institnto Archeologico de uma provincia, que foi a séde do governo colonial, o centro das operagdes do inimigo, e cujo solo tantas vezes ensopou osangne vertido pelos nossos antepassados nas lutas que travaram com os invasores. No intuito de colligir, pelo me- nos, uma parte desses dades e de vulgarisal-os pelas snas Revistas, esta associagio néo se poupon a esforgos para evar a effeito a eommissdo com que se dignen de honraro mais obscuro dos sens membros. i No meio da indifferenca, que se tem apoderado: da sociedade, onde vivemos, o emprehendimento deste Instituto, tio efficazmente auxiliado pelo ex- Presidente e pela Assembléa legislativa de Per- nambueco, Ihe faz honra: basta para demonstrar que, apezar da decadencia de nossa provincia e do abatimento do espirite publico, ainda nao se ex- 6 20) REVISTA DO INST. ARCH, © GEOGR, PERN. tinguio de todo 0 nosso amor ao passado, o zelo pelas nossas tradigdes, que é t tambem uma das for- mas do patriotismo. Nao faltou quem contestasse a utilidade da in- vestigagio que este Instituto pretendia_mandar ef- jectnar na Hollanda. Dizia-se que os docnmentos acérea do Brazil, existentes no archive real de Haya, j& eram conhecidos, e ja haviam sido apro- veitados em das excellentes monographias moder- namente escriptas sobre o periodo da oceupagiio holandeza. A primeira dessas monegraphias foi publicada em 1853 pelo distincto general P..M. Netscher; sob _ 72, Comquanto — otitulo de Les Iollantais au Bré: nao contenha mais do que wma succinta exposigio dos aconteciinentos, tem para nds o merecimento de nos haver revelado as noticias que se podia co- Ther — e o auctor exclusivamente colhen — nos do- cumentos do archivo de Haya. Antes do livro de Netscher, era necessario remontarmo-nos até os chronistas do seculo 17, os de ts, os Niewwhofs, para encontrarmos trabalhos baseados em docu- mentos de procedencia hollandeza. Asegunda monographia, aque s conde de Porto Seguro, e se intitula ~ As Ladas dos Hotlandezes no Brazil, de que ha duas edi- goes, 2 de 187) ea de 1872, ‘fendo exercido cargus diplomaticos em varias: capitaes da Europa, o auctor goes de poder cousultar os pr trangeiros ede colher os materiaes necessarios para achou-se em condi- os seus trabalhos histuricos, que tal foi a oceupa- — Gao constante de todd vida. Investigador pa- cliente e exacto -~ mas nem sempre historiador im: alludia, 6 _ devida & penna do historiador brazileiro, o Vis. cipaes archives es- REVISTA DO INST. ARCH. E GBOGR. PERN. 11 parcial —, elle nos dé nesta suk monographia no* ticias authenticas eas mais completas que se podia_ obter naqtella epocha sobre os assumptos de que traton, E’ verdade que o Visconde de Porto Seguro niio fez pesquisas no archivo de Haya. Mas conhe- cen é consuitou a colleccio das-cépias de docn- mentos hollaudezes que possue o Instituto’ Histo- rico da corte ; cépias estas que foram extrahidas de 1850-1854 sob as vistas do erndito Dr. Joa- quim Caetano da Silva, ent&o encarregado dos ne- gocios do Brazil na Hollanda, e que teve por au- xiliar nesse frabalhe o director do mesmo eee o finado J. C. Jonge. ; Affirmava-se, pois, que uma nova pesquiza no mesmo archivo e para o mesmo fim era escusada ou.gue, pelo menos, ndo daria em resultado ama nova luz para a historia. _ Nao pensava porém assim o Instituto de Per- nambuco. Em primeiro logar os livrosde Netscher e do Visconde de Porto Seguro nao encerram senio © a historia militar e politica da occupagao hollan: deza — todos os demuis assumptos, todos os de- . mais elementos; que a historia de um periodo — abrange, ahi ficaram no segundo plano, quando nao foram de todo olvidados. * Além disso, uma razio peremptoria houve que decidio este Instituto a levar a effeito o seu intento” de mandar visitar o archivo de Haya. E’ a se- gninte: — O illustrado Sr. Dr, Benjamin. Franklin Ramiz Galvao, tendo sido encarregado pelo govérno im- perial de visitar as principaes bibliothecas da En- ropa, apresentou o seu relatorié ao ministro do_ Imperio em 29 de Maio de 1874, ¢ ahi fez mengio 42. REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR. PERN. de algumas collecgdes de documentos do seculo 17 acerca do Brazil, as quaes, comquanto parecessem ter o mais alto valor historico, eram completa- mente desconhecidas: nem Netscher nem 0 Vis- conde de Porto Seguro a ellas se referiram. Foi especialmente para consnltar esses docn- mentos qne esta associagdo me incumbio de ir & Hollanda. Congratulo-me com o Instituto Pernambucano por ter sido confirmada a sua conjectura. A rea- lidade excedeu mesmo ds nossas esperangas : a8 col- lecdes assignaladas pelo Dr. Ramiz Galvaoe muitas outras, que elle ndo mencionon, pertenceram ao | archivo de uma das camaras da Companhia das In- dias Occidentaes, a da Zelandia, enja séde era em Middelburgo, e contem um avultadissime niimero de documentos concernentes ao Brazil, pela maior parte de origem official. Esses papeis nfo se achavam no archivo de Haya no tempo em que Netscher e Caetano da Silva ahi fizeram as suas investigagdes, e assim se explica no terem elles tido conhecimento de peqas de talimportancia. Snppunha-se entdo geralmente, como o proprio Netscher declara a pagina XII do seu livro, que os archivos da Companhia das In- dias Occidentaes se tinham perdido em 1821 por um erro deploracel. E’ verdade que, no mesmo logar, Netscher ac- crescenta que« em Amsterdam se achava uma gran- de parte do archivo da camara da Zelandia ; » mas elle nao péde aproveitar esses copiosos materiaes, j& porque o seu livre estava quasi de todo impresso, quando recebeu essa noticia, e jd porque lhe infor- maram, alidsinexactamente, que « o archivo exis- tente em Amsterdam era de maior interesse para &@ REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. B administracio interna da Companhia do que para a exposigao geral dos acontecimentos. » Querendo en deixar bem averignado este ponto, de modo que nenhama diivida pairasse sobre a pro- cedencia das collecgdes de documentos, 2 que me refiro, dirigi-me ao Sr. van den Bergh, director do archive de Haya, pedindo-lhe que se dignasse de informar-me quando e como o archivo a seu cargo ag adquirira. O meu pedido foi satisfeito, remettendo-me o Sr. van den Bergh, com a sua carta de 22 de Janei- ro deste anno, a informagio minnciosa que sera textualmente publicada no fim deste relatorio. Da exposicio on informagiio do Sr. van den Bergh consta o seguinte : . * Em 1821 existiam em Amsterdam, reunidos no mesmo edificio, os archivos dasduas Compa- nhias das Indias Orientaes e Occidentaes. Em vir- tude da resolugio tomada pelo ministro das colo- nias a 27 de Novembro du mesmo anno, foi vendi- da uma parte desses archivos, por se suppor que continha papeis sem valor, cuja guarda era incom- moda;e assim se perderam todos os documentos do seculo 17 referentes ao Brazil, com excepgio so- mente de alguns poucos registros. BE irreparavel seria essa perda, si por um feliz acaso n&o se houvesse conservado em Middelburgo | o archivo da camara da Zelandia, onde se achavam yolumosas collecgées, contendo os papeis remetti- dos'do Brazil aos directores da Companhia das In-» dias Occidentaes. oe As collecgdes dos documentés : procedentes de Middelburgo, bem como todos os archivos colo- niaes, foram removidas mais tarde para Amsterdam, 4 REVISTA DOIN P ARCH. E VEOGR, PERN, e em 1856 pare o realarchivo de Haya, onde actnal- mente se guardam. OSr, van den Bergh conclue dizendo que por esta causa «a rica colleccio da correspondencia do governador do Brazil e officines superiores, assim como as resolugdes do concelho colonial do Brazil ficaram completamente desconhecidas ao Sr, Net- scher.» Note se que, segundo a clansula 21 da outorga on carta patente da Companhia, a Assembléa dos Dezenove (que constituia asna direegio central) reunia-se ora em Amsterdam, ora em Middelburgo. O facto de haver sido esta filtima cidade uma das sédes daquella assembléa nos explica ter se encon-, trado ahi a correspondencia das autoridades civis e militares do Brazil com os directores, bem como os registros dos oflicios dirigidus por estes aos seus delegados da colonia, Eis ahio conjuncto de circumstancias, a que eu devo a boa fortuna de ter deparado um rico ma- nancial de noticias, que ainda nao havia sido apro- veitado anteriormente. Péde-se dizer que, com a acquisigéo dos volu- mosas collecgdes encontradas na eapital da Zelan- dia, 0 archivo real de Haya possue de presente dez vezes mais documentos acérea do Brazil do que possuia de 1850 a 1854, epocha das investigagdes de Netscher e Caetano da Silva. Estes meus deus i}lustres predecessores nao ‘consultaram alli seniio os papeis do seculo 17, que pertenceram ao archivo dos Estados-Geraes ; foram estes os documentos que exclusivamente ou quasi exclusivamente fizeram o objecto de suas pesquisas. O erro, na verdade, deplorancl de 1821 os privon das fontes de informacdo que teriam encontrado REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 18 noarchivo da Companhia, sem dévida, muito mais rico, muito mais importante para nés do que o do governo central da Republica Neerlandeza. Eram os directores da Companhia que consti- tniam o governo supremo da colonia ; eram elles que pelos seos delegados a administiayam, susten- tavam a luta, dirigiam as operagdes de guerra, e portanto a elles eram dirigidas as informagoes as mais completas e minuciosus sobre tudo quanto oc- corria nas capitanias conquistadas. E’ verdade que o governo colonial tambem se correspondia com os Estados-Geraes, mas de ordinario nao submet- tia 4 sna consideragdo nos officios que Ihe dirigia senfio uma exposigio mais on menos geral dos acon- tecimentos. A lacuna, qne deixou a venda dos papeis da Ca- mara de Amsterdam em 1821, foi felizmente preen- chida pelo archivo de Middelburgo, que se recom=— menda & nossa attengio justamente pela riquesa das minudencias' que nos ministra sobre todos os assumptos de guerra, governo e administragao. Es- sas particularidades vém langar muita luz sobre aquillo que nés menos conhecemos—os pormenores da. administragéo, os costumes, o modus vivendi da colonia ; nos habilitam néo somente a resolver va- rias questdes até o presene abertas, senéo tambem a estudar todas as relagdes socizes da colonia Neer- landeza do Bragil. 3 é A’ vista do que acabo de dizer-vos, comprenhe- deis que essas colleccdes do archivo da Companhia tenham chamado particularmente a minha atteugdo. Com effeito, foram ellas o objectc especial dos meus estudos. Nao deixei porém de ocenpar-me tambem com os documentos que provieram de ou- tros archivos —como o do tribunal provincial da 16 REVISTA DO INST, ARCH. EG Hollanda, eo dos Estados Geraes —, os quaes todos se acham presentemente no real archivo de Haya. Para proceder com ordem na exposigio que you fazer. descriminarei esse archivos e enume- rarei seguidamente as collecgdes de cada um que examinei, e de que fiz extrahir cépias, comegando pelo ARCHIVO DA COMPANHIA DAS INDIAS OCCIDENTAES A mais volumosa collecgéo deste archivo éa que temo titulo de Brieven en Papieren uit Bra- zilie, 1630-1654, ,, Cartas e mais papeis proceden- tes do Brazil ‘* Compdée-se de 19 in-folios, conten- do cada um delles centenas de pegas. A’ principal cathegoria dos seus documentos pertencem os officios que o Supremo Concelho do Recife, o Concelho de Justia, o de Financas on Fa- zenda, os generaes ealmirantes a0 servigo da Com~ panhia no Brazil, dirigiram aos directores desta. As missivas ou officios do Supremo Concelho sfio extensos documentos, que podemos denominar relatorios : nelles o governo colonial refere os fa- ctos occorridos, dé conta da execugio das ordens da Assembléa dos Dezenove, e pede as providencias que jniga necessarias para o alargamento das con- quistas, A seguranga ou ao bent-estar da colonia. Minutava-os o secretario do concelho, eram lidos e discutidos neste, e, depois deapprovada a redacgia definitiva, copiados por amanuenses juramentados e langados em um registro que se guardava no ar- chivo do Recife. Alem das cartas do Supremo Concelho, as hit REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 17 tambem de alguns de seus membros, entre as quaes se distinguem, como summamente interessantes, as do conselheiro Paulo de Serooskercke. Numerosos documentos, uns originaes (1) eou- tros por cépia, acompanhavam a correspondencia official como pecas de instrucgav. Eutre esses an? nexos figuram muitos escriptos em portuguez, como representagdes dos moradores on das camaras de es- cabinos, cartas do governador da Bahia, Antonio Telles da Silva, de André Vidal de Negreiros, Mar- tim Soares Moreno, Joao Fernandes Vieira, dii das ao Supremo Goncelho; toda a correspondencia encontrada a bordo do navio, em que foi aprisio- nado Servic de Paiva na Bahia de ‘Tamandaré, in- clusive a compromettedora carta original de D. Jofio 4.° dirigida a Salvador Correia de Sa e Bene- vides ; numerosos extractos de cartas enviadas de Portugal on de suas ilhas para o Brazil e interce- ptadasem caminho pelos navios da Companhia. Merece especial menciio a serie de cartas em tupé divigidas por D. Antonio Felippe Camarao, D. Diogo Pinheiro Camariio e Diogo da Cgsta a Pedro Poty, Antonio Parapaba e outros indios da Para- hyba e Rio Grande do Norte, que se tinham. allia- do aos Hollandezes. S&ioem nimero de seis, 2 1.* ea5.* firmadas por Diogo Pinheiro, a 2.* por Dio- go da Costa ea 3,4, a 4.27 e a 6.* pelo capitaéo-mor Camario ; 0 contetido de todas é identico — os dous Camarées e Diogo da Costa tentim induzir os seus parentes, que tomaram voz por Hollanda, a se ban- dearem para os Portuguezes. Foram escriptas uma em Agosto e as outras em Outndro de 1645, € as {1) De erdinario os originacs. cram guardados no archivo do Recife, 1S REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN, acompanha uma tradnecdo em hollandez feita pelo ministro da egreja reformada Johannes Eduards, Copiei pessoalmentecinco desta ‘artas; ndo on- sando porém copiar a iiltima, enja lettra esta um pouco apagada, fila photographar, e da reproduc- gao photographica trago os dous emplares que neste momento apresento ao Instituto. Frei Manoel do Salvador affirma que D, Anto- nio Felippe Camarao nao sé sabia ler e escrever, como pogsuia osrudimentos do latim. (1) Nenhn. ma razao temos para duvidar do testemunho do an~ ctor do Valeroso Lucideno, De documentos hol- landezes consta que ew certas aldeas o mestre-es- cola era indio, taes mestres deviam pelo menos sa- ber ler e escrever em sua lingua materna Porgue n&oo saberiam tambem os doug Camarées, eduen- dos desde a sua mocidade pelos Portuguezes ¢ E porque nao haviam de escrever em fupi aos seus barentes, que abandonaram a causa dos moradores para se langarem com o inimiga ? A leitnra dessas cartas nos confirma no presup- posto de que foram escriptas on pelo menos dicta- das por aquelles a que sao attribuidas. Ellas tem um cunho que dealzum modo anthentica a sua pro- cedenci aquellas phrases infantis, desconnexas, a repetir monotonamente o mesnio pensamento, de- vem ter sido concebidos pelo espirito de um pe- liguar. Em uma ou ontra hy pothese, as eartas em ques- tao séio preciosos textos para o philologo que se de- dicar ao estudo do dupi da costa, de que, afora al- sumas oragées, vocabularios e¢ grammaticas e6m ~ Oj Fal, Lucid. pi REVISTA DO INST. ARCH, GEOGR. PERN, 19 postas pelos padres jesuitas, restam-nos mui pou- cos monumentos, . Chamam egualmente a nossa atteng&o os jor- haes ou noticias. das expedigées emprehendidas para o descobrimento de minas no interior do Bra- zil. Essas exploracdes tiveram logar em Sergipe, na Parahyba, no Rio Grande do Norte e principat- mente no Ceara. . «A Companhia, sentindc escassearem-lhe as ren. das, tentou, no ultimo periodo do Brazil hollandez, reparar as suas finangas, adquirir novos elementos de forca por meio do ouro ou da prata,extrahida das minas que firmemente acreditava existirem nos ser- tées das capitanias conquistadas. A mais séria e prolongada tentativa deste ge- nero foi a que se realisou no Ceara : comecou ent 1649 e s6 terminon com aruina da colonia hollan- deza. Foi chefe da expedicdo organisada para a oceupagio detinitiva do Ceard e exploragio das suas minas um habil aventureiro, Mathias Beck. Desembarcou na bahia de Mucuripe, fandouo forte Schoonenbureh, entrou em relagdes com os tribus indigenas e deu coméco aos trabalhos da explora- gio no monte Ztarema, ligado ao de Mamanguape, Suppondo ter encontrado ahi as minas de prata que, segundo a tradigao, ja haviam sido descobertas por Martim Soares Moreno. Esperando de dia em dis encontrar o filao do cubigado metal, perseveron no seu illusorio empenho até que o veio sorprender a noticia da rendicado da praga do Recife. Possuimos todos os dados relativos a esse em- prehendimento: 0 jornal de Mathias Beck, um dos melhores documentos para oestudo das relagdes dos Hollandezes com os selvagens, a corresponden- cia trocada entre elle eo supremo conselho do Re- 3 ARCH. E GEOGR. PE! 20 cife,eomappa do Ceara, que foi levantado por or- dem deste. : Nao sio de somenos importancia as cartas, em que o missionario calvinista Jodocus Astetten nos da noticia de suas excursdes ao centro da Parahyba e Rio Grande do Norte para o mesmo fim em 1645. Este energico e activo missionario se hos apresenta como um typo curioso: trouxe para cé mulher e filhos, e no curso de suas peregrinagdes pelas ca- pitanias do Brazil, tendo perdido, como elle diz, a sua querida Margarida, den-se pressaem casar-8e de novo para Jaborar corajosamente na vinha do Senhor pela cathechese e principalmente pelo des- cobrimento de minas. Barloeus nos informa que, durante o govérno do conde Manricio, teve logar uma expedigio con- tra os negros dos.chamados Palmares Maiores. (*) Na colleccdo de que trato encontrei o diario de uma outra jornada tambem emprehendida contra os Paimares, a qual se effectuuu em 1645 sob o com- mando do capitéo Jo&io Blaer. Nesse jornal se des- creve a regiao percorrida pela tropa hollandeza, bem como os Novos eos Velhos Palmaryes, que Blaer encontrou desertos e mandou abrasar. Acérca da egreja neerlandesa, estabelecida no Brazil, restam cartas e relatorios dos seus ministros, sobresahindo os de Jodocus Astetten, Francisco Plante, capelléo do conde Mauricio, e do calvinista francez Soler. Mas os documentos principaes sio as actas das assembléas synodaes, que funcciona- yam no Recife, compostas dos representantes do clero calvinista das quatro capitanias conquistadas, * e assistida por um delegado do supremo concelho. V9) Bark p 2a... oe Essas actas, denominadas Classicale Acla van Brasitie, divididas em sessbes e subdivididas em ntimeros, contém as deliberacdes synodaes sobre a: administragao ecelesiastica, pontos de disciplina e costumes, a instruegio primaria, a cathechese dos indiosete, Ellas fornecem materiaes para escrever-se uma interessante monographia sobre a egreja cal- vinista do Brazil Hollandez. As actas de 1636 a 1644 ja foram publicadas na Chronic do Instituto Historico de Utrecht no anno de 1673, e acabam de ser reimpressas na obra do professor Grote, intitulada Archief voor de Ges- chiedenis van oud hollandsche Zending (Archivo para a historia das antigas wissdes hollandezas.) Trouxe um exemplar de cada uma destas obras, mas comoa serie das actas das assembléas synodaes do Brazil nfo se acha ahi completa, fiz copiar as actas de data posterior a 1644 que encontrei nesta collegio. Na mesma colleccdo se acham numerosas pegas de processos judiciaes. E' um dos mais curiosos 0 processo instaurado contra Crayestien e o conse- theiro Balthazar vander Voorde, director politico de Porto Calvo, acensados de terem conferenciado com o capitéo Paulo da Cunha no engenho do Aforro pertencente a Rodrigo de Barros Pimentel. O jantar a que assistirdm o lettrado hollandez eo guapo capitéo portuguez, a entrevista que se seguio na camara de D, Jeronyma de Almeida, o collo- quio entre uma das filhas desta eB, vander Voor- de, a prisfio dos dous aecusndos, as allegagdes com que se defenderam, as declaragées feitas pela mu- Ther de Rodrigo de Barros, e muitas ontras circum. stancias accessorias, dao a este Processo uma eér REVISTA DO JINST. ARCH. E GEOGR. PE 2200 REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR. PERN, jocai tio vivamente accentuada que o tornam re: commendavel a nossa attengio. 7 Citarei tambem o pre oO omantes inquerito instaurado contra o conselheiro politico Schielt, ae- ensado de ter priticado no engenho Obi em Itama- raci atrozes tortnras para descebrir thesouros que suppunha existir alli ocenltos. O caso do engenho Obi & um exemplo entre muitos das violencias de que foram vietimas os moradores portnguezes, por parte das autoridades superiores. Com razio o yelho Duarte Gomes da Silveira, referindo-se 4 & persegnigio qne soffr¢ra de Ypo Eyssens, tambem conselheiro politico, eserevia ao conde Mauricio aS de Novembro de 1643: ‘ Si nos fal- tira a vinda de V. Exe., no houvera Portugnezes que tivessem vida nem fazenda. ”? Restam algumas pecas dos processos de Vaa Cabral e de Gongalo Cabral de Caldas, entre a3 quaes se notam as declaragées qne fizeram na sala das torturas ¢ as sentencas que os condemnarain & morte como traidores, Nesta collecgio encontva se tambem uma serie de cartas particulares dirigidas aos directores da Companhia, nas quaes séo acensades de corrupgéio varios funceionarios publicos, e especialmente Ha- mel, Bas e Bullestraten, membros do Supremo Concelho. Os factos ahi se acham referidos com todas as Suas Pcumstianeias, Os anetores dessas cartas, processados ¢ condemnados no Recife, n&éo 86 levaram as suas queixas aos Estados. nio tambem as reproduziram em opnse! Dressos, como o Bree. Byl eo Brasilsche Gell Sack, +. que traz a falsa declaragiio de haver sido impresso«— ho Recife. Com a revolta dos Portnguezes essas re- petidas acensagi=s toma um vulto: os directores REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN, B58 da Companhia mandaram que. os novos govertia- dores da colonia abrissem uma devassa sobre os actos dos gens antecessores. Conservaram-se’ al- gumas pegas désse curioso inquerito, ¢ por ellas si bemos que nilo se consegnio apurar a verdade, on porque muitas das victimas n&d puderam ser ov- vidas, ou porque os subornadores nio se quizeram denunciar a si proprios. Apezar da corrnpedo, das violencias praticadas para com os moradores, e dessa dissolucdo de cos- tumes que vulgarisou o dicto repetido por Barleus: ultra equimocialem non peceari, seria injusto suppor que a colonia hollandeza.nao se assignalou senfio pelos seus vicius. A’ sua frente se acharam funceionarios distinctos, enjo zelo e probidade nunca forain postos em dtivida — os Gysselings, os van Ceulens, os vander Dussens, e especialmente © muito nobre conde Mauricio de Nassau, dotado de qualidades verdadeiramente principeseas, e¢ tal- vez mais amado dos Porluguézes do que du ‘seus proprios conterraneos. R Além de que —e @ isto o que “sobretado importa notar — esses estrangeiros. que de tio “Jonge vieram fundar uma nova Hollanda nesta parte da America eram superiores em civilisacic aos Portuguezes. Formaram-se na escola dos ho- mens livres, eram regidos por uma legislacao j4 pe- netrada desse espirito liberal dos tempos _moder- nos, inteiramente estranho 4 ferrenha legislagao de Portugal ; intervinham nos.publicos hegocias, 0 vam largamente do direito de Yepresentacio, se biam defender com firmeza os seus direitos nos tii- bunaes, e resistir ds prepotencias das autoridades, recorrendo aos poderes supremos do Estado ou opini&o publica pela imprensa, do que no Brazil 240 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. temos o exemplo de Abraham de Vries, auctor de um dos pamphletos, a que ha pouco me referi. A colonia portugneza, pelo contririo, tinha vi- vido até entao no mais completo obse smo sob asuzerania dos donatarios, e nesse obscurantismo continuon depois do dominio hollandez, submissa ao jugo dos governadores, proconsules do cesaris- mo portugnez ; as queixas dos moradores, abafa- das no concelho ultramarino, rara vez chegavam até o throno. Basta um facto para por em relévo o atrazo de Portugal e o espirito progressivo da Hollanda, que pode reivindicar para sia honra de ter dado as pri- meiras ligdes de liberdade politica a todaa Enropa, ja pelos livros dos sens escriptores, ¢ J& pelas suas proprias instituigdes, . Sabemos que, durante o dominio hollandez, os judeos podiam livremente praticar o seu culto, commerciar e exercer qualquer industria no Bra- zil. (1) Essa tolerancia porém cessou, desde que foi restaurado o dominio portugaez, Com effeito, o Supremo Concelho hollandez, tendo-se dirigido a Francisco Barreto para pedir-lhe que permittisse aos judeos permanecerem no Brazil até que liqui- dassem os seus negocius, o mestre de camqo portu- guez respondeu negativamente, dizendo Ihe que, apenas expirasse 0 prazo de tres mezes concedido aos Hollandezes para embarearem paraa Hollanda, elle nfo poderia obstar gue 0 vigario geral lancasse tao dos judeéos portuguezes e os entregasse @ in- (1) Segundo o pacto da uniao de Uurecht “ cada um po- deri conservar liviemente # sua gio, e ninguem sera. per- seguido on sujeito a inquisigies por motivos religiosas. “ Ie" Justamente o preceito do art. 5°e 179 5.9 da Constituiciio do ISTA DO INST. ARCH. E°GEOGR, PERN. 25 quisigdo. (1) Uma nova era se achava inaugu- vada! . Seria abusar de vossa attengéo levar mais lon- ge aapreciagéo das pecas contidas nessa colleceiio que, como védes, sé por si 6um archivo. Direi para terminar que ahi se encontram tambem jor- naes de expedigées militares, relatorios das visi- tas que fizeram 4s capitanias conquistadas os mem- bros do Supremo Concelho on pessoas por elle de- Jegadas, interrogatorios dos transfugas ou prisio- neiros portuguezes, o inventario dos engenhos con- fiseados pela Companhia, listas dos arrematantes dos impostos com declaragdo dos precos das arre- matagdes, e muitos outros documentos de maior on menor importancia. Acham-se copiados os principaes documentos desta collecc&o relativos aos annos de 1630 a 1635, de 1643 a 1646, de 1648 a 1849, cuja lista darei_ no fim deste relatorio. Os documentos relativos aos annos que faltam serio copiados deaccdrdo com as instrucgées e lis- tas que deixei. R % ee Dagelyske Notulen van den hoogen en secre- . ten raad in Brazilie, ‘actas ou notulos diarios do Concelho Supremo e Secreto do Brazil, 1635.--1654,, — 60 titulo de uma ontra importantissima collec- gio, que se compée de 8 in folios. Sendo o govérno supremo do Brazil hollandez um collegio ou junta, todas as suas Tesolugies, es- (1) Notutos de 1654. A maior parte dos judeos, que se achavam no Brazil, cram portuguezes, tendo emigrado de Por- tugal para Hollanda, Veja-se no Val. Lucid. p. 2.44, a scena du conversio de dons judcos portugnezes condemnados & mor- te peles revoltoses. 26 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. pontaneas ou provocadas, tomadas sobre negocios Ce interesse publico ou particular, eram consigna- das diariamente, com declaragéo dos motives que as justificavam, em um livro de actason Wolulen, do qual se extrahiam cépias authenticas em cader- nos para serem remettidas periodicamente aos direc- tores da Companhia. Os Notules séo pois uma chronica diaria e mi- nuciosa de todas as deliberagdes e actos do governo. Basta esta simples expliecngio para dar-vos uma ideia do immenso repositorio de noticias que os Notulos contém. Como en disse em um artigo publicado no pe- riodico Brésit, nao sei que acérea de algum outro periodo da historia colonial deste paiz exista uma colleccio de noticias authenticas tio extensa e tio completa quanto os Wolulos. ‘Todos os porme- nores relativos ao govérno politico, civil ou militar, tudo o que concerne ds relagdes entre os Hollande- zes e os Portuguezes, entre os calvinistas, 03 ca- tholicos e os judeos, todos os dados sobre a situa- cdo economica e financeira da colonia ahi se acham mencionados, *° * A’ vista desta collecgio 6 permittido dizer que cessou todo o mysterio sobre a organisagéo admi- nistrativa ea administracio do Brazil Holandez, EB verdade que dos annos de 1635 2 1636 nao restam senfio alguns cadernos. Mas desde o comé: go do anno 1637, em que teve principio o govérno do conde Mauricio até Abril de 1654, mez em que acolonia hollandeza embarcou para a Hollanda, deixando para sempreosolo do Brazil, esta collecgao- é completa, havendo somente a Jamentar a lacuna de alguns cadernos relatives nos mezes de Margo a Novembro de 1640. REVISTA DO INST. ARCH GHOGR: PERN, 27 Farei mengio dealguns aasumptos sobre que os Notulos nos ministram ag suas mais interessantes informagdes, Abstrahindo da cépia de noticias consignadas nos Nolulos sobre expedigoes militares e feitos de guerra, chamarei ‘2 vossa_attenydo ‘para os dados que elles fornecem acércada egreja neerlandeza do Brazil, a qual, como guarda.e fiscal dos bons costu- mes, e por suaintervengao na administragao das es- colas, hospitaes, ete., seachava em frequented rel: ges com o govérno. Ora silo os deputados do synodo que comparecem perante o concelho supremo para submetter asua consideragdo as deliberagdes syno- daes; ora séio propostas do Kerkenraad ou concelho ecclesiastico para a nomeagiio de mestres-escholas, de enfermeiros ou de ministros que se dedicassem ao servigodivino nas diversas freguesias das capi- tanias conquistadas ; ora sao representacdes do mesmo collegio, pedindo providencias contra a prostituigdo, asunides. incestuosas, os casamentos - illegalmente celebrados pelo clero catholico, ou re- clamando contra as procissées dos catholicos nag rnas, ou a publica observancia des ritos jndaicos ; ora emfim sfio petigdes dos proprios ministros sobre s diversos assum ptos. : As camaras de eseabinos figuram frequente- mente nos Votuios. Eran eleitos annualmente por uma eleigdo de tres grios. O concelho de justice. elegia os eleitores, estes organisavam as listas dos individuos aptos para serem membros das camaras, @ e,sobre essa lista o supremo concelho escolhia os escabinos. Nos Wotulos se encontram anno poranno as listas dos escabinos eleitos e empossados, As representagées das camaras de escabines silo veproduzidas in exlenso, tendo & margem odespn- # 4 28 REVISTA DO INST. ARCH. © GEOGR, PERNS * cho que o supremo concelho entendia dever dara _ cada uma das stipplicas daquellas corporacdes. “As mais notaveis sio as das camaras de Olinda’ e da cidade Mauri nio versavam somente subre ne- gocios de interesse local, mas tambem sobre medi- das de ordem geral. _ A politica dos Hollandezes para com os indios do Brazil foi sempre protectora e paternal, Elles os. consideravam como pessimos inimigos, que podiam comprometter a segur: da colonia, e, por outro lado, como utilissimos alliados pelo medo que es- sas hordas selvagens incntiam nos Portuguezes du- rante a guerra, Nao os escravisaram, ndo os con- strangeram ao trabalho, e libertaram og indios es- eravisados durante o dominio de Hespanhe (1). Desta habil politica se encontram abnndantes pro- vas nos Wotulos,que nos transmittem toda a sorte de particularidades acérea das tribus, com que os Hol- Jandezes se acharam em contacto. Assim todo o movimento dos indios em tempo de guerra, os no- mes dos seus chefes, o niimero de homens e mulhe- yes que os acompanhavam, os salarios e presentes com que eram recompensados, os seus aldeiamen- tos, as suas escolas, a cathechese encarregada nos ministros da egreja reformada, as ordens on instrue- goes dadas aos capities hollandezes postos para Barlaons, p. 49, ¢ 0 trecho final do 2. relato- auricio apresenton aos Estados Geraes em UAt. As Instruccbes de 23 de Agosto de 1636 positiva- mente recommendavam ; « De brazilianen ende naturalen vant’ sand, sullenin haere vryheit werden geluten, cnde in yeender wysen sal sla- ven worden gemacekt, maer su} nevens d'andere inwoon deren gegowverncert, soo int polity de selve wetten worden seoordeelt, » cq als int civil, ende naer ~ REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 29 dirigirem as aldeias, sio assumptos de que ahi se trata minuciosamente. Nilo tendo provado bem o systema a principio seguido de fazer administrar por conta da Compa- uhia on arrendar os engenhos confiscados aos Por- tuguezes que no se submetteram ao dominio hol- landez, o supremo concelho resolveu em 1637 ven- del-os com suas fabricas e pertences, Por occasiao dessas vendas se faz menc&o nos Wolulos da situa- gio dos engenhos, dos nomes dosseusanteriores pro- prietarios, dos compradores, pregos e prasos para 0 pagamento etc. Algumas vezes os engenhos e ter- ras confiscadas foram reclamados por herdeiros dos primitives proprietarios, e essas reivindicagdes de- ram logar a discussdes, em que se colhem noticias de interesse para a genealogia de algumas familias pernambucanas., . As arrematagées dos dizimos e meungas, dos impostos sobre o gadé, bebidas e outros, os contra- ctos para 6 térte do pao-brazil, o accérdowentre a Companhia e os senhores de engenhos para que estes lhe entregassem os seus assucares, obrigan- do-se a Companhia a pagar aos demais credores dos mesmos senhores dé engenho, as vendas piiblicas dos negros importados da costa @ Africa, os editaes | sobre a cultura da mandioca e as fintas de farinha, os regulamentos de diversos collegios ou para exe- cugio de certos. servigos, como o da balanga para pesar o assucar, e até posturas municipaes sobre a limpesa e varrimetito das ruas nos sabbados, segun- do 0 costume observado na Hollanda, tudo isto e muitss outras deliberagdes sobre negocios de admi- nistragdo que seria fastidioso enumprar tem o seu logar nos Wotulos. : : : Devo ainda observar que esta collegdo nos for. : GEOGR. PERN. 3000 REVISTA BOO IX rece copiosa Materia para o gie se pode chamar a Historia Ancdoctica, auxiliar indispensavel para 0 estudo dos costumes de uma epocha. Citarei os dous segnintes factos, como exemples frisantes. Lé se no Nolulo de 26 de Janeiro de 1635 a se- guinte petigio dirigida ao supremo concelho e por elle deferida : “Jofio Luyberts van Loos, que foi pastor (da egreja reformada) na Parahyba, pede para ser car- rasco, poisque, segundo elle diz, bem sabe e pode exercer tal officio ; Gaceito, e selhe dara por meza mesma qnantidade de vinho aque tem direito o + outro carraseo, quando deeapita, enforca on pra- tica actos que taes, a contar desta data.” (1) Deste padre demissionario ou demittido se po- de dizer que tinha mais vocacio para torturar os corpos de que para curar das almas ! A primeira mengio de Joao Fernandes Vieira, que encontrei nesta colleccao, 6 a que consta do se- guinte Notulo de 17 de Agosto de 1638 : “EP accordado com Joao Fernandes Vieira que elle poderd apanhar todos os negros pertencentes Aquellas pessoas que se tenham retirado, trazendo todos os que apanhar @ presenga dos membros des- te concelho, ¢ the serao vendidos por 130 reaes a pega, no estado em que se acharem, sejam mogos ou velhos, homens ou mulheres, (2) » (1) «Sun luyb hyba nu vei n loos geweesen domine in Para- zarkende Scherpreebter temazen wesen, alsoo by wel te weten, ende te connen daca, soo is by toe aengenomen cde sal pr. macnt genieton sol. den an deren schcrprechter sondanich wyn als den andoren over Von hoofden angen cule dierzel, wemeoten ingacnde date deses. » ieaccordcert met Jan Fernandes Vieira dat hy sal en alle neers uyt geweeckonen tochchorende op te vangen, en alle die hy sai honnen op te vangen sal hy. voor '. ARCH. E GEOGR. PERN. $1 REVISTA DO INS & singular que um dos factos mais notaveis do govérno do cohde Mauricio passasse quasi desaper- cebido aos eseriptores coevos. Barloeus (le Frei Ra- phael de Jesus nos transmitivam a noticia desse facto em algumas linhas ; € a frei Manoel do Sal- vador que devemos 0 ponco que a tal respeito sa- biames. Alludo 4 Assembléa Legislatica que foi conyocada pelo conde e se reunio no Recife em Agosto de 1640. . _ A perdados cadernos dos Notulos relatives aos mezes de Margo a Novembro de 1640 nos privaria de informagdes mais completas, si, por am acaso feliz, nao se conservasse entre os Notulos da- quelle anno nada menos do que as Atlas da mes- mo Assemblia, Este precioso documento nos revela todas as particnlaridades do que ahi se passon. O conde Mauricio, tendo triumphado da frota hespanhola ao mando do conde da Torre, e sup- pondo por isso sopitadas todas as velleidades de le- vahtamento da parte dos moradores portuguezes, de cnjo anxilio precisava para restabelecer a tran- quillidade pitblica perturbada pelos salteadores que infestavam ‘os campos, querendo tambem anga- tlar a-estima dos seus subditos portuguezes, (2) re- solveu, como politico habil e sagaz que era, reunil- os em tdrno de si e do Supremo Concelho para deli- berarem em commum sobre os negocios publices. Gonvocou pois uma assembléa on cértes das de heeren brengen en sullen hem vercocht syn voor een hondert dertig realen t'stuck, soo als die sullen op ge vangen werden, out, jenck, mannen end vrouwen. (1) Barloeus: p. 139 {2} O condo so tinha impopularisado entre os moradores por causa da roeento expulsiio dos trades, como se deprehen- ‘ GEOGR, PERN, cH. 32 REVISTA DOIN capitanias conquistadas, (1) a qual se comporia de escabinos portuguezes e moradores de todas as fre- guezias, e deliberaria sobre os negocios peculiares ao Brazil hollandez. « As proposigées approvadas por esse congresso, dizem as Actas, serfo havidas por leis ¢ inviolavelmente guardadas. » (2) E pois podemos dizer que a Assembléa que se reunio no palacio dos Torres da cidade Mauricia, e cujos trabalhos se prolongaram desde 27 de Agosto até 4 de Septembro de 1640, composta de 55 mem- bros, todos portuguezes, « dos mais nobres e graves, » segundo aflirma 0 Valeroso Lucideno, foi a primei- ra Assembléa Legislativa que fanccionou no Bra- ail. Eis 0 titulo do documento a que me refiro : « Generale vergaderinge, die sijn Extie Mau- rits Grave van Nassan ........ ende de Edele heeren hooge ende secrete raden, beroepen hebben tegen den 27 Augusto 1640 ende de volgende dagen, in dese stadt Manritia van alle de Cameras oft gericht baneken uyt schepen en de gemente, portugne- zen, van hare jurisi om aldaer te handelen van dingen die noodich syn tot het gemeen best, en- de directie van’ t governo van desen staet, geas- sisteert by den gemelten hoogen raed, te weten: President n Extie de das palavras de Darloeus ; « quae res leet primo commo- visset populus. . (1) Egnore porque razao nao fiuron nessa assemblea nenlum morador do {tio Grande do Norte. (2) Die propositien dic yeapprobcert svn, sullen by de lecden der vergaderinge setecekent werden.on sullen ilyeen gel- den roar wetten ene ougevioleert an ler houden worden in dese re- publicque. REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 33 * Johan Gyssvling, Hen- De heeren van den hoogen{ drick Hamel, Dirck ende secreten raed | Codde vander burch, Assessor, | Johan van Walbeeck, Secretarins, » Abraham Tapper, » — Assembléa geral que S. Ex. Joao Mauricio conde de Nassau........... ¢ 03 nobres membros do Concelhto Supremo e Seereto convocaram para re- unir-se it 27 de Agosto e dias seguintes de 1640 nes. ta cidade Mauricia, composta de Portuguezes de todas as camaras de escabinos ou tribunaes de jus- tiga (1) e das freguezias (2) de suas respectivas juri- dicgées, afim de tratarem de negocios que interes. sam ao bem publico e 4 direcgiio do governo deste Estado, assistida pelo mencionado Concelho, a sa- ber etc, —- AS actas se compdem das seguintes pecas : Regulamento da assembléa ; Falla com que o conde a abrio A Cinco propostas apresentadas 4 assembléa em nome do conde e do supremo coneelho 4 Approvadas estas, seguem-se as propostas a pre- sentadas pelos membros do congresso em nome das camaras e freguezias, com as resolucdes tomadas pelo conde e supremo concelha; Por iiltimoa falla de encerramento. (1) As camaras do eseabinos tinham tambem attribui judiciarias, (2) Gemente signitica propriamente communa, mas ahi se enprogow para designar as villas ¢ povoados conprehendidos no termo de cada eam: Usei da palavra frequesia por. fal- ta de outra mais apropriada. * ARCH, HB GEOGK. PERN, A DO UINST. 34 REY Ascamaras ¢ fregnesins representadas foram as seanintes : Yamara da cidade Mauricia, 8 escabinos ; fre~ guezia da Varzea, 4 moradores + do Cabo, 3 mora dores ; de Ipojuca, 1;de 8. Lourengo, 3; de Muri- beea, 4; deS. Amaro Jaboatio, 2; de Paratibe, 35 Camara da Parahyba, 2 escabinos ; fregnezia da Parahyba, 3 moradores ; Camara de Itamaracd. 2 eseabinos ; freguezia do mesmo nome, -£ moradores ; Camara de Igua i, 2 wbinos 5 a respectiva fregnezia, 4 moradores ; Camara de Serinhaem, 1 escabino ; vespectiva freguezia, 4 moradores. A leitura destas Actas me deixou a impr de que os nossos antepassados, convecados para formarem cérfes e cooperarem com a administer cio colonial no restabelecimento da ordem public souberam haver-se come homens de govérno, cor- respondendo assim lealmente 4 honra que Ihes fora feita : as suas rellexdes tanto qnantu as suas pro- postas sio em geral criteriosas. Si o governo hol- Jandez desejava sinceramente esclarecer-se, onvitt- do os moradores, estes nao illudiram a sua expe- etativa. Entretanto poucas foram as medidas pro. postas por elle que mereceram a approvagio do conde e do concelbo supremo; nio @ que conside- rassem as oulvas nocivas ow inconyevientes, mas por se julgarem incompetentes para as adaiiteir, promettendo submette las 4 consideragdo da assent- blea dos 19. Dizencdo que os moradores que figuraram na- quelle congresso se mostraram cordatos e desejo- sos de auxiliar o govérno colonial, nao quero com isto signilicar que tenham tomado em face deste uma attitude servil. Conservaram-se egualmente distantes dos dous extremos, eo prova o seguin- REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. © 35 ts facto. Os Portugnezes estavam privadas do uso das armas ; 0 conde @ v supremo concelho con. sultaram 4 assembléa, si esta convinha em que tal prohibigao fosse levantada, sendo as armas restitui - das aos moradores para que se defendessem contra os assaltos dus bandidos. A resposta foi que os moradores as aceitavam, mas coma condiecéo dé que néio haviam de ser obrigadosa servirem-se del- las contra os soldados do rei de Hespanha, cujas guerrilhas alids infestavam os campos tanto quanto os bandidous.« A sua intengdo, disseram elles. nio era empunhar as armas contra o rei de Hespanha e seus soldados, mas somente defenderem os seus bens e as suas casas contra aquelles que os quizes- sem tomar ou queimar sem direito e sem raziio algu- ma.» (1) E este protesto foi aceito pelo govérno hollandez. Este documento se recommenda ainda ao nos- so estudo, por ser talvez o que nos dé a ideia mais ajustada da sitnagdo dv Brazil hollandez em 1640. Ahi se acham indicados todos os males que pade- cia o corpo social e os remedios que, a juizo dos con- quistados e dos conquistadores, se lhes devia op- por. As propostas da assembléa versam sobre o culto, a administragio da justica, a policia, as- sumptos economicos, e especialmente sobre a ad- (1) Dat de wapenen die men ons toestaet tot geenen tyde ons en sullen dicnen tegens den coninck van Spagnien, want- onze intentie niet en i8 de wapenen tegens hem te aenvacr- den noch twegens syn soldaten, maer alleen om to defende- ren onze goederen en woonplaetsen tegens die geene dic on- serechtelyck cnde tegens alle redenen ons van de selve wil: ley berooven ofte die verbranden, tegen welcke wy ons wil len defenderen en dese defentie ons nimmermecr on sy geats twibucort tot cenig intentic tegens den gemelten co; van Spagnien. » _ ARCH, E GEOGR, PERN, 36 0 REVISTA DO INST. ministragio local. O terror dos moradores porta suezes eram as antoridades locaes denomina las escultelos. O proprio govérno colonial tomou : iniciativa das medidas as mais severas para repri mir os desmandos desses ty! rANTOS de aldeia. a A falla de encerramento é tambem digna. ie nota. Mauricio, que desejava ver o porto do Rett fe aberto ao commercio de todas as nagdes, 2 aceli- mar nas conqnistas do Brazil a canella, ocravo, @ nozmoscada e mais especiarias do Oriente, (1) pre: yaleceu-se do ensejo para inspirar acs moradores vistas mais largas sobrea agricultura do paiz. « Es- tas terras, disse elle, sido productivas de varios frnetos e drogas preciosas, qne muito se estimam na Europa, e de que entretanto os mo adores nao fazem caso, ow pela sua falta de curiosidade ou por causa da abundancia do assucar. Desses fructose novidades os ha que vém de si mesmos, sem que se tenhao trabalho de cultival-os, e muitos mora- dores que por sua penuria nado sio eapazes de fabri: car o assucar, e por isso vivem na miseria, bem pode. riam oceupar-se com a cultura do algodio, do anil, do gengibre, da pimenta, da malaguéta (que aqui se encontra de diversas especies) on explorar o salitre, que sabemos se pode haver tambem no Brazil. oe) como o set desejo era promover o engrandecimen- toe a riqueza da colonia, recommendou aos repre- sentantes das camaras alli reunidos em assembléa que cada uma dellas persuadisse os moradores dos seus respectivos termos a plantar e beneficiar aquel- les fructos, ¢ para que estes o fizessem com certezn de Jucro, declarou que o supremo concelho se obrigava a compral-os, devendo 08 cultivadores (1) Moreau, p. 205; Driesen, p. 118. REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN: 37 apresentar-se para ajustarem previamente o prego ; assim fazendo veriam quanto essa industria lhes seria proveitosa. Os membros da ‘assemblea res- ponderam, compromettendo-se a envidar esforgos nos seus respectivos districtos para correspondetem aos nobres intuitos de S. Exe. s Os Notulos nio terminam no dia em que se as- signon a capitulagdo da praca do Recife. Como o supremo concelho continnon a funeecionar para fa- zer os aprestos da viagem e liquidar os negocios da Companhia até o dia em que embarcou para Hollan- da, continuon tambem a consignarnos Wolulos to- das as suas deliberagées. Naoéa parte ménos inte- ressante desta collecgioa que se fefere aos filtimos dias da colonia hollandeza, tanto mais quanto a este respeito bem pouco sabiamos. Eis ahi o que tinha a dizer-vos sobre os Notu- Zos, @ 86 me esta ‘accrescentar que eu trouxe ex- tractos dos seus principaes trechos de 1635 até 1641. Infelizmente o govérno imperial nado me den.tempo para mais : 0 que falta sera eopiado de aecérdo com as minhas instruccdes. * Re Além. dos Wotulos diarios ou ordinarios, ha mais os Wotulos secretos (Seerele Notulen) em que se acham consignadas as deliberagéeés secre~ tas do govérno colonial. Est’outra collecgao comega em 1642 e vai tam- bem até 1654, mas faltam muitos cadernos, e forma apenas um in-folio, Apezar disso, os fragmentos que restam contém noticias da maior importancia acérea das operacdes de guerra projectadas. ou ef- fectuadas pelo supremo concelho, de accérdo com as autoridades militares superiores, para supplan- fara revolta dos Portuguezes. 38 REVISTA DO INST. ARCH. & GEOGR, PERN, Destes Nulilos Seerelos, tenho copias até o fim do anno de 1646, o resto ficou encommendado. + Us seguintes livros e volumes pertenceram tam: bem ao archivo da Companhia das Indias Oeci~ ~ dentaes. Registro das Resolugdes Secretas da Assem- blea das 19.—1629- 1645 (Seerele Notulen van de rergadering van de Negentienen.} : Nas primeiras paginas se encontram as in- straccdes dadas ao almirante H. Lonck para a con- quista de Pernambuco, nas quaes tudo se acha pre- visto e regulado com a maior minuciosidade, des- de as preces que deviam ser dirigidas ao Altis- simo antes de desembarcarem as tropas em Pio Amarello até a installacio do govérno civil e mili- tay na praga a cenquistar. * Mostra-nos este documento quanto eram vas- tos os designios da Companhia: recommendou se ao almirante néo sé que conqt sse Olinda eo Recife, como tambem a praca da Bahia, em caso de insuceesso, e a do Rio de Janeiro e ainda ade Buenos-Ayres em todo o caso. " Segue-se uma serie de officios secretos dirigi- dos pela Assembléa los 19 aos seus delegados do Brazil, as instrnegies dadas a J. Gysselingh, M. van Ceulen e a0 conde Mauricio em 1636, e final- mente um grande mimero de resolucdes tomadas- pelos directores acérea do Brazilon de negocios administrativos da Companhia. Devo dizer que Netscher teve conhecimentoa deste registro a0 tempo em que eserevia as notas, do set livro, e o ita na nota 71. Fiz copiar os documentos mais importantes, como as instruegdes, as cartas secretas, ete. — * ue REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR., PERN. 39 Um outro registro em 3 volumes contem, por ordem chronologica, a serie’ completa dos officios que os directores da Companhia dirigiram ao go- vérno colonial do Brazil, e fs autoridades civis e militares da costa @ Africa, 1639 — 1653. Importante collecgaéo que nao me consta tenha sido conhecida por nenhum dos meus predeces- sores : serve de complemento 4 correspondencia dirigida pelo concelho supremo do Brazil ‘aos @i- reetores da Companhia. Nao tive porém tempo de fazer copiar um sé documento desses tres volumes. Nas instruccdes que deixei pedi cépia de todas as cartas dirigidas ao govérno do Brazil. — Em um volume especial se acham reunidos varios relatorios ou memorias acérea do Brazil. Fiz copiar as seguintes : — Korte deductie ofte beschryvinge overgegeven aen de Erw. Heeren Be- winthebberen der Geotr. West-Indische Com p. ter vergaderinge van de Negentienen, nopende de ge- Jegentheid der plaetsen in Noort Brasil genaemt Marian ofte Maranhon, Cameta, Gram Para en° andere revieren liggende int begrip der faem- ryck veviere van d’ Amazones..... met alle de gele- gentheid ende omstandicheden, gelyck ick de selve gelaten hebbe den lest November 1636. Door Gedeoy Morris de Jonge. Tot middelbourg den 22 October overgelevert. « P (Breve discurso ou deseripeio apresentada aos honrados srs. directores da Previlegiada Comp. das Ind. Occ. em assembléa dos 19, -acérea da si- tuagdo dos logares do Brazil septentrional denomis nados Maranhdo, Ceara, Cametd, Grao Para e rios comprehendidos na bacia do famoso rio das Ama- zonas,com toda a sua disposigioe particnlaridades, AO REVISTA DO ENST. ARCH. E GEOGR. PERN. é como as consas se acha giio no ultimo de Novembro de 1636: por G@. Morris de Jonge. Entregue em Middelburyzo a 28 de Outubro. } 7 O auctor mostra qne a Companhia pedia apo- derar-se facilmente dessas regides e quio uteis ellas Ihe seriam. — Verhael van de Maranhon ende de reviere Amazones overgelevert door du Jardin, aldaer ge- resideert ende gevangen geweest 13 a 14 jaeren den.... November 1638, vande voors. quartieren gecomen int jaer 1637. ( Noticia do Maranhao e ‘lo rio das Amazonas apresentada em Novembro de 1638 por du Jardin que alli residio e esteve préso durante o tempo de 13 a 14 annos, tendo voltado dessa regifo no anno de 1687. ) Foi escripta a pedido dos directores da Ca- mara da Zelandia, aos quaes é dirigida. — Corte relaes ende sommerlycke descriptie van de landen, steden, en fortressen.... met de wa- penen van myne heeren de Bewinthebbeeren der Gen. Geoctr. West-Indische Comp. in de gewesten van Brasil geconquesteert..., - ( Breve e summiria descripgio das terra’, ci- dades e fortalezas conquistadas nas regides ao Brazil pelas armas dos Srs. Directores da Geral Previlegiada Comp. das Ind. Oce. ) Por W. Schult. Entrezue em Haya a 24 de Setembro de 1639 a dous delegados da Camara da Zelaniia. E uma descripgao succinta, mas completa, do _ Cearé, Rio Grande, Parahyba, Itamaracd o Per- nambuco até o rio de S. Franciseo. ~- Rapport van den staet van de geconqnes- am quando deixei essa re- REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 41 teerde landen in Brasilien door den heer van der Dussen, * (Relatorio acérea do estado das terras con-- quistadas no Brazil 3 pelo Sr. van der Dussen.) Este extenso relatorio 6 um dos mais comple- tos e instructivos que bossuimos acérca do Brazil hollandez. Van der Dussen, membro do concelho supremo, 0 escreveu durante a sna viagem de re- gresso do Brazil para a Hollanda, como se.Jé na wtima pagina : Actum int Schip Overyssel den 10 Decemb. 1639 op noorder breet van 49 graden. 54 minuten. (Escripto a bordo do navio Overyssel a 10 de De- zembro de 1639 na lat, Sept. de 49° 54 ), ~— Corte verhael wegen de Maranhan overge- levert den 3 Febrero 1640 door Gedeon Morris ende Jean Maxwel . : (Breve noticia do Maranhao apresentada az de Fevereiro de 1640 por G. Morris e J. Maxwel.) B continuagao do relatorio anterior do mesmo Morris. O que ha de especial neste segundo tra_ balho 6 a narracao da viagem de oito. Hespanhoes, a saber, dons padres, um_mineiro e cinco solda- dos, que em 1637 desceram do Pera 20 Maranhao. os Esses Hespanhoes, diz a Noticia, vieram mira- culosamente de Quito pelo rio dos Amazonas até o Maranhao,.e foram os primeiros _descobridores desse caminho do Pert, para ef, pelo que nao me parece escusado, antes julgo necessario fazer uma narragéo historica do facto, esperando que aleitura este meu trabalho nao serdpendsa aos olhos nem 08 ouvidos dos srs. directoreg, . O que Morris:sabia a respeito de tio notavel acontecimento the f6ra referido por Maxwell, “ho- mem perito em medicina, que residia no Mara- bO INST. ARCH. 420 REVE nhao e hospedow em sua casa o mineiro hes. panhol. * : Em seguida narra a viagem dos ditos Hespa- nhoes, e di noticia da flotilha de quarenta e tantas exnoas que o governador do M: anhio expedio com um habil piloto pertugnuez para remontar o ‘Amazonas e descobrir o eaminho percorrido pelos aventureiros do Perf. Como se vé, trata-se da viagem de exploragio que fez 0 capitéo Pedro Tei- xeira do Parad a Quito, 1637 — 1638, deseripta pelo padre Christoval de Acuna Gedeon Morris e Maxwel concluem insistindo sobre as vantagens que a Companhia obteria, sise apoderasse daquellas vastas e ferteis regi E’ provavel queestes eseriptos de Morris, Max- wel e du Jardin tenham exercido muita influencia no dnimo dos directores, decidindo-os a mandarem effectuar ajornada do Maranhdo, que teve logar menos de dous annos depois da data desta ultima memoria. Além dos relatorios reunidos neste volume, te- nho cépias tambem dos seguintes = — Rapport van den staet van de geconquesteer- de landen in brasil gedaen ter vergaderinge van hare doorluchtige hooge Mogentheden de heeren Staeten Generale der Verenigde Nederlanden door Servaes Carpentier, Politiqne raet aldaer, ten dien eynde vit den raet van Brasil gecommitteert. (Relatorio acérea do estado das terras conquistadas no Brazil apresentado 4 assembléa das Mlustres e Altas Potencias os Srs. Estados Geraes das Provin- ciag Unidas Neerlandezas por Servaes Carpentier, conselheiro politico do Brazil, para este fim dele- gado pelos seus collegas). Foi entregue a 2de Julho de 1636, REVISTA DO INST. ARCH. EF GEOGR, PERN. 43 = = Copie van t'geschrifte dat colonel Artichofs- y in Parnambuco aen syn Extie Graef Maurits van Nassauwenovergesonden, cock aen den hoogen Secreten Raet overgeven heeft, in syn vertreck naert Vaderlandt, inteynde van Martio a.° 1637. . (Copia do escripto que o coronel Artichosky envion em Pernambuco ao conde Mauricio de Nassau, ¢ tambem entregou ao Concelho Supremo e Secreto, uo partir para a Hollanda no fim de Margo de 1637.) oO auctor nos diz qne recebéra ordem do conde x nricio do Supremo Concelho para, antes de partir, manifestar o seu juizo acérea do estado das cousas nas conquistas do Brazil. Para desempe nhar-se cabalmente desta incumbencia, dividio o seu trabalho em tres partes, tratou largamente de cada uma dellas, e no desenvolvimento do plano que seguio vae transmittindo noticias e fazendo apreciagdes as mais curiosas sobre as eousas eas pessoas do Brazil Hollandez. Defende aideia de tanferir-se a séde do govérno colonial para a ilha de Ttamaracg, faz um historico das suas excursdes militares nos annos de 1635 e 1636, e termina dando noticia das minas de queelle tinha conhecimento. —Missive van den-colonel Artichofsky aan graaf Manrits en den Hoogen Raad in Brasilie 24 July 1637 (Carta do coronel Artichosky ao conde Mauricio eao Supremo Concelho do Brazil). Foi eseripta na Hollanda, logo que Artichosky allichegou. Versa subre a questdo da liberdade do commercio do Brazile o melhor modo de promover-se = ea colonisagao dessa possessiio da Compa- ia, _ ~- Apologia van Artichosky tegen de beschul- ding van den raad van Brasilie ingeleverd aan de Staten Generaal in Augustus 1649(Defesa npreset- 6 44 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN, tada por Artichosky aos Estados-Geraes, refutando naceusagéo que Ihe fez o Conselho Supremo do Brazil). De volta 4 Hollanda em 1639, Aretichosky apre- sentou-se no pago da assembléa dos Estados-Geraes, pedindoandiencia para queixar-se do procedimento . que para com elle tivera o govérno colonial. Os Es- tados-Geraes, j4 informados de tudo o que se pas- sdra no Recife por carta de Mauricio, negou a pe- dida audiencia, easperamente declaron que nio queria tomar conhecimento desse negocio, podende Artichosky ir queixar-se onde e do modo que bem quizesse. (1) Manifestamente as queixas que Artichosky tinha de externar perante os Estados-Geraes sao as que constam desta memoria, ondeelle impugna todas asrazdes que o supremo concelho adduzira para justificar a sua resolugio de expellil-o do Brazil. Depois de uma longa apreciagio dos factos, conclue encarecendo os bons servicos que prestéra no Brazil, e pedindo reparacio da offensa que sof- fréraem sua honra. Artichosky foi um bravo e intelligente cabo de guerra, x0 meu ver a primeira espada que a Compa- nhia teve ao seu servigo no Brazil. Além do seu ta- Jento militar, superior aos de Mauricio e Segis- mundo van Schop, este official polaco se nos re- commenda ainda pela sna educacio litteraria: era um bom Jatinista, segundo affirma frei Manoel do Salvador, e os sens escriptos que acabo de meneio- (ly relaort sich niet te willen inlaten, ofte ken- nisse te nemen van de voors. doleantion, macr dat de voors. Archisserosky sich dics aengrende elders sal moeten adrese- yen sulcx en dacr hy te racd sal werden Resolugio de 21 de Agosto de 1639. » * REVISTA DO INST. ARCH, B GEOGR. PERN. 45 nar nos mostram que elle sabia manejar a penna com muita habilidade em uma lingua estranha. - Estas tres memorias de Artichesky foram pu- Dlicadas tambem na Chronica do Instituto Histc- rico de Utrecht em 1869. —Sommier discours over den staet yan de vier geconquesteerde capitanias Pernambuco, Itama- raci, Parahyba ende Rio Grande in de noorder deleen van Brazil, 1638 (Breve discurso acérea do estado das quatro capitanias conquistadas......na parte septentriopal do Brazil). : B’ um relatorio do Supreme Concelho do Brazil, e tumbem foi publicado na Chronica daquelle In- stitute, Na mesma chronica foi publicada ainda a ‘“Ge- neraele Beschryving van de capitania Parahyba, Recife de Pernambuco den lesten Jul ly 1639, door Elias Herckman ” (Descripgio geral da capitania da Parahyba). E’ uma instructiva monographia, onde se encontram todos os dados acérea da Para hyba, . — Mencionarei emfim o relatorio que 0 conse- Iheiro van Goch apresentou aos Estados Geraes no 1° de Agosto de 1653, e osdous relatorios apresen> tados a mesma Assembléa pelo conde Mauricio em 1644. —De um outro volume contendo diversas pecas (Band met stukken meerendeel betreffende Brazilie) fiz copiar as duas seguintes: Uma extensa memoria dirigida ao rei de Portu- gal a 20 de Julho de 1645 por Gaspar Dias Ferreira. O auctor, depois de fazer largas consideragdes avérea da situagio financeira da Companhia das Indias Occidentaes, submette & consideragado do rei o plano quelhe parecia mais adequado para obter-se STA DO INST, ARCH, E GEOGR. PERN. a restaur as negociacgdes deviam ser entaboladas primeira: mente, nao com os Estados-Geraes, mas com as diversas Camaras da Companh Entendia que, corrompendo-se os directores, nio seria difficil con. seguir que elles propusessem aos Estados-Geraes a. venda daquel colonias por tres milhdes de ern zados, Essa proposta, procedendo da Companhia, néo deixaria de ser aceita pelos Estados.Geraes, e, si necessario fosse, devia se corromper tambem os seus membros. Quanto ao dinheiro de qne S. M. rrecisava para effectnar a compra e occorrer a todas as despesas, o poderia haver das mesmas colonias, sem gravame para os povas, segundo o plano finan- ceiro tambem explicado na mesma memoria. O pro- prio Gaspar Dias Ferreira se offerecia a contribuir com 18000 crnsados em tres annos, entregando G060 annnalmente. Termina recommendando asua pessoa pelos bons servigos que na Hollandn havia prestado a S. M.e no Brazilaos Portugnezes. Esta memoria, originariamente eseripta em portnguez, foivertida para o hollandez em Dezem- bro de 1645 por ordem dos eseabinos de Amsterdam, que a encontraram entre outros papeis, nio menos compromettedores, pertencentes a Dias Ferreira. Boi uma das bases do processo que contra elle se instaurou por crime de traiga&o. O outro doenmento 6 um jornal da_viagem ao Brazil do vice-almirante Wit Cornelisz. de Wit, por elle mesmo eseripto para justificar o sen modo de proceder. — Donsregistros, um da Camara de Amsterdam eoutra da da Zelandia, sio de ponea importancia : contém resolng sobre negocios de mera admi- fio do Brazil, de Angola e 8. Thomé. © ISTA DO AT INST. ARCH, E GEOGR. P nistragdo. Todavia no registro da primeira destas duas Camaras encontrei, além de algnmas noticias sobre emigragio dos judeus para o Brazil, o se- guinte acérea do padre Manoel de Moraes. Notulo de 10de Novembro de 1636. “ Is by den heer Conradus en van Geel gerefereert dat Ma- nnel Morais den Brasilschen Diecionarium metle historie_gemaeckt hebbende, eyst 1500 gud. tot syn brnlof hem mocht worden toegevoucht, ende 800 guld, s’ jaers, en daervoor genegen is de Comp. daer hy can, alle dienst te doen. Wher op geresol- veert is hem boven de 100 guld. hem by Jeroni- mus uytgereyckt noch 300 guld. te geven, ende hem te seggem, dat dese vergaderinge als syn vor- Stel niet vremt vindende inde aenstaende verga- deringe van XIX favorabel sal voordragen. ”* (Os Srs. Conrado e van Geel referem que Ma- noel de Moraes, tendo composto o seu Diccionario Brasiliense com historia, pede que se Ihe conceda a quantia de 1500 florins para as suas nupeias, e 800 florins por anno, compromettendo.se por isso a prestar 4 Comp. todos os servigos onde puder. Re- solve se que, além dos 100, florins que Ihe foram abonados por Jeronimc, se lhe deem mais 300, e se Ihe diga que esta assembléa, nao achando es- tranha a sua proposta, a recommendara & pro- xima assembléa dos 19.) : Como se vé, este notnlo nos informa que o padre Manoel de Moraes compuzera um Dieciona- vioe uma Listoria. O diccionario n&o 6 outro se- nko 0 Diccionariolum nominum et verborum-lin- gua brasiliensis maxime communis, (1) que acom- (1) Pelo menos assim pensa Candido Mendes, Memories para a Historia do Mavanhéa, AS REVISTA DO INST. ARCIL EB GEOGR. PE panha, como annexe, a /istoria Naturalis de Piso e Maregraf. Quanto ao outro trabalho, deve ser a Historia do Brazil ou da America, que nunca sé imprimio, e cuja existencia mesmo era . problematica. Ter-se hia perdido esse manuseripto por occasifo da venda dus papeis da Companhia em 1821? — O registro sob 0 titulo de — Aenvang en be- ginsel can de West-Indische Compagnie — 6 uma eolleccio das resolugdes dos Estados Geraes ac érea. da Companhia, 1623--1624, e de algnmas ontras pecas qne mais interessam di historia da mesma Companhia de que 4 da sua colonia do Brazil. ARCHIVO DOS TRIBUNAES DA IIOLLANDA A provincia da Tlollanda tinha dons tribu- naes superiores, o mais antigo denominado Hof van Holland, e 0 Hoog Raad, instituido por Gui- Therme Taciturno, para conhecer das appellagdes in- terpostas das decisdes do primeiro ; ambos esten- tendiam a sna jurisdiccio sobre as provincias da Hollanda, Zelandia e Frisa (1). Os seus archivos foram tambem recolhidos ao real archivo de Haya. Entre os papeis procedentes do tribunal pro- vinefal da Hollanda, encontrei a collecgio denomi- nada Crimincle Papieren, contendo as pecas do processo instaurado contra Hendrik Haecks e Wal- ter van Schoonenburch, membros do supremo con- 1) Mever, Esprit, origine ot progres des Lustitutions judi. ciuires, REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 49 celho do Brazil, que assignaram a capitulagio da praga do Recife a 26 de Janeiro de 1854, O tenente coronel Sigismundo van Schop e os dous membros do govérno colonial, ao chegarem & Hollanda, foram alvo de acerbas recriminagdes por parte do piiblico eda Companhia, exprobrando- se-Ihes haverem entregue tantas pragas fortes que com mais valor poderiam ter conservado. Os Es- tados.Geraes prestaram ouvidos a essas queixas in- Jnstas, e resolveram que o Concelho de Estado pro- cedesse a um inqnerito sobre o facto. Reclamaram contra este acto do govérno os Estados-Geraes da provincia da Hollanda, que se suppunham offendidos em suas franqnezas, e, nio se pagando de simples protestos, mandaram prender a Haecks e Schoonenburch em suas proprias casas, e res- ponsabilisal-os pelo respective tribunal provincial. Siio as pecas desse processo que a mencionada colleegio encerra: consta de in terrogatorios dos réos, depoimentos de testemunhas e de varias me. © morias escriptas pelos princi: paes funceicnarios da colonia que se achavam no Recife ao tempo da ca- pitulacao. 7 O tenente coronel van Schop comparecen,-ndo perante o tribunal da Hollanda, mas perante o con- celho de guerra instituido pelos Estados-Geraes da Republica, e foi condemnado em 20 de Marco de 1655 a perder todos os vencimentos e mais vanta- sens pecuniarias que podesse pretender da Repu- blica ov da Companhia. Quanto a Haecks e Schoonenbureh, no consta que o tribunal da Hollanda proferisse sentenga condemnando.os on absolvendo- os, e tudo quanto sabemos a respeito do resultado do processo é o ISTA DO INST, ARCH. E GEOGR, PERN, 50 RE} qne consta do seguinte trecho da Vaderlandsche i. i Vagenaar : | Historie oe Nacho fundamento bastante, diz o dor hollandez, para declat alos culpados de covardia e ainda menos de traigdo. Foram, por- tanto, soltos depois de alguns mezes = prisio. Nao tardon muito que se attribuisse seralmente a perda do Brazil a falta de viveres e de municdes, de que nio se pdde prover CoN aeenadis aquella longingua parte dos dominios do ed ado por causa da gnerra con: 0s Inglezes. ** (1. 12, pag. eh Nom por isso esses documentos so aU de importancia. Fil os copiar, como se vere da lista que publicarei no fim deste relatorio, historia No mesmo archivo existem algumas pegas de um outro processo que Hos interessa — o que foi instaurado contra Gaspar Dias Ferreira, accusado do crime de traicio ; porquanto, tendo-se naturali- sado cidadio da Hollanda a 4 de Fevereiro de 1645 (1), nesse mesmo anno entretivera Correspoo- dencia com o inimigo para o fim de prejudicar a Republica e as duas Companhias das Indias.Ocei- dentaes e Orientaes. : Desse processo resta somente o seguinte 2 Uma lista das cartas ¢ outros eseriptos constan- tes de um registro on livro de minutas, por onde se vé que o réo em 1645 escrevia ao rei de Portugal, ao seu embaixador na Hollanda D. Francisco de Souza Coutinho, ao secretario da embaixada Feliciano (1) dete Bock, 143-1 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 51 Dourado, a Mathias. de Albuquerque, ac Marquez de Montalvio, ete. : Relacdo das pegas entregues pelos Senhores (escabinos) de Amsterdam ao tribunal provincial da Hollanda. Oacto da appellagio interposta da sentenga deste tribunal pelo procurador geral. Resolugio tomada pelos Estados-Geraes a 198 de Junho de 1648, isto 6,” que, sem prejuizo do di- reito e autoridade dos dous tribunaes, o processo de Gaspar Dias Ferreira seguisse o seu curso em grio de appellagao no.Tribunal Supremo. » Esta decisiio dos Estados-Geraes na questiio de competencia entre os dous tribunaes constituia um precedente notavel nos annaes judiciarios da Hol- landa. Ocaso de Gaspar Dias Ferreira foi objecto dos commentarios dos velhos criminalistas hollan- dezes (1), e mais tarde foi lembrado em uma causa analoga, ade Isaac Coymans, tambem aceusado de traigéio para coma mesma Companhia das Indias Occidentaes. Finalmente restam as sentengas tanto do tri. bunal provincial como do supremo concelho. A pri- meira, datada de 16 de Maio de 1646, condemnou Gaspar Dias Ferreira a baninento perpetuo e na mul- ta de 12000 florins ; a segunda sentenga, proferida no ultimo de Julho de 1647, reformou a anterior para condemnal-oa 7 annos de prisdo, e, depois de cum prida esta pena, a banimento perpetuo do terri- rio neerlandez e das possessGes das duas Compa- nhias, e na multa de 30000 florins. Depois de mais de tres annos de prisio, Dias 1) Borst, ean Criminete Suchen : Leenius, Dicks, p. 77. 7 INST. ARCH, EB GEOGR. PERN. REVISTA DO Ferreira conseguio fugira 17 de Agosto de 1649 (i) deixando uma carta em latim dirigida aos Estados Geraes, a qual foi impressa sob o titulo de? Hpis- tola Gasparis Dias Ferreira in carcere, unde erupit, scripta’* (Asher, n°, 239.) Dous dias depois publicon-se um edital em nome dos dous tribunaes da Hollanda, concedendo o premio de 600 florins a quem aprehendesse © fu- gitivo, assignalado deste modo :"? homem de 50 an: nos de edade, baixo, gordo e de cor morena, » (2) Baldado esféreo | O ardiloso portugues con- seguio transpor a fronteira da Republica ¢ refu~ giar-se em Portugal, como annunci:ira na carta dis rigida aos Estados-Geravs. Nos filtimos mezes de 1652 sei queelle se achava em Lisboa, porquanto entre as cartas remettidas naquelle anno de Por- tugal parao Brazil e interceptadas pelos Hollande- zes, encontrei diversas cartas dirigidas por elle ao mestre de campo Francisco Barreto, a Phelipe Ban- deira de Mello, a Jodo Fernandes Vieira, ete. pedin- do para ser nomeado procurador de Pernambuco perante o rei de Portugal. Deveria Jangar muita Inz sobre a administragéo de Bas, Hamel e Bullestraten o processo que os Es- tados-Geraes mandaram intentar contra os tres ex-governadores do Brasil, quando voltaram & Hol- Janda soba péso das accusagoes dos moradores por- tuguezes, dos Hollandezes e da propria Companhia. il) Aitvema diz que G. D. ire serrou os varaes da prisiio com as cordas de uma gu ( citer 7,emnis provavel que clic tenha conseguito abrir as portas do carcere com ehave de auro, g \ q 540 (2) Encontrei este edital no Placact-Boeck de 1640 — 165 REVISTA DO INST, ARCH. E GEOGR, PERN, 53 O govérno da Republica nao se poupou a es- forgos para colher as provas dos sens crimes e en- tregal-as a justiga. Kis o que consta do registro das resolugdes dos Estados-Geraes : Hamel, Bas e Bullestraten compareceram a 20 de Agosto de 1647 perante a assemblea dos Estados Geraes afim de apresentarem o seu relatorio sobre os negocios da colonia. Dez dias depois, a mes- ma assemblea mandou recommendar 4 dos 19 que se informasse acuradamante acérea dos actos dos tres ex-governadores, e Ihe communicasse o re- sultado de snas investigagoes. A 15 de Setembro mandou chamar a sna presenga o conde Mauricio afim de ouvil-o « acérea de diversas cousas de im- portancia que occorreram no Brazil. » (1) O conde compareceu no dia seguinte, e tendo discorride so- bre, ‘‘o qnese passira allia respeito dos moradores portuguezes e dos subditos do Estado neerlandez, (2), pediram-lhe os Estados-Geraes que reduzisse a escripto as suas declaragdes. Mauricio prometten fazel-o, mas no dia seguinte mandou pedir escusa de tio ingrata tarefa, dizendo que “ diversos indi- viduos, vindos do Brazil, sendo interrogados so- bre esse assumpto, dariam testemunho dos graves excessos ¢ abusos praticados na colonia. (8) » Os Es- tados: Geraes resolveram entéo commetter a alguns dos seus membros 0 encargo de inquirir dos’ factos, {1)« Van verscheidene grove saecken in Brasyl gepasscer! (2) « oponinge gedaen vant gene in Brasyl cn andere plactsen daer ontrent is gepassert ten regard van de portu- gesche ingesetenen en subjecten van desen stact... » (8) Dat Syn Extie meyné datter vele en vereheidene per- soonen uyt Brasil alhier te lande syn weder gekeert, die, des gevraecht wesendo, grondetiche getuigenisse soud connen ge- ven vande grove excessen en abuysen in Brasyl gepasseert en geperpetreert..., Z0GR, PERN, $4 REVISTA DO INST. ARCH. E interrogando especialmente Abraham de Vries, Gre- vingh e Pieter van der Hagen, apresentarem o sen relatorio com pleno conhecimento de cansa, A Bde Outubro, tendo sido chamados a Haya os tres ex-governadores, mandou-se-Jhes dar copia das aceusacdes formuladas contra elles. A 11 res- ponderam por escripto, apresentando documentos comprobatorios das $ allegagdes ; o que tudo se mandon entregar aos accusadores para replicarem tambem por escripto. A 31 do mesmo mez, & pe- “dido de Abraham de Vries, ordenaram os Estados Geraes que o tribunal da THollanda interrogasse 0 préso Gaspar Dias Ferreira e 0 seu sobrinho Fran- cisco Ferreira Rabello sobre os pontos indieados por de Vries. A 14 de Janeiro de 1618, 0 tribunal remetten aos Estados-Geraes os interrogatorios dos dons Ferreiras. A 18 Grevingh e P. van der Ha- gen apresentaram as suas réplicas, que foram te- mettidas aos aceusadu: 4de Marco os Estados- Geraes concederam ainda 0 prazo de um meza A. de Vries para formular a sua resposta, permittin- do the, a seu pedido, examinar no archivo da Com- panhia as pecas de que precisava. A 18 de Maio os grandes accionistas da Camara de Asterdam ac- eusaram tambem os tres ex-governadores, imputan- dothes, ‘que com a sua administragao fizeram decahir consideravelmente a Companhia. » (1) A 25 a commissio dos Estados Geraes apresentow final- mente o set relarorio, ¢ dous dias depois a assem- lea dos mesmos Estados resolveu que se remet- tesse « 0 saco com os documentos @ mais papeis » a0 tribunal provincial da Hollanda para serem proces- (1) Dat de gencrael Compagnie door deser hooge raden administratic in Brasil mereklick is verachtert .... REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 65 sados os tres ex-delegades da Companhia, devendo cessar desde entao a gratificaciio de 4 florins diarios que percebiam os accusadores. A 14 de Maio de 1650 porém, depois de varios incidentes, os men- cionados papeis ainda nao haviam sido levados ao conhecimento do tribunal, e de novo resolveram os Estados-Geraes que fossem remettidos com o res- pectivo inventario 20 fiscal ou promotor piiblico para agitar a competente acgio eriminal. Assim vé-se desta exposicio que os Estados Geraes, a Camara de Amsterdam eo conde Mauri- cio imputavam a Hamel, Bas e Bullestraten gra- ves abusos ¢ exeessos de poder praticados durante a sua administragio, causando com isto geral: des- contamento entre os Portuguezes e provocando a revolta de 1645. Entretanto creio que o processo nao chegou a ser instaurado: nada mais encontrei a tal respeito no registro das resolugdes dos Estados-Geraes ; no archivo do tribunal da Hollanda nao existem as pegas que lhe foram remetttidas ou pelo menos se mandon remetter para servirem de base ao processo, nem consta da,collecgio das sentengas daquelle tri- bunal que alguma tenha sido proferida pré ou contra os tres membros do Supremo Concelho do Brazil. 7 Outro tanto devo dizer do processo do ex-as- sessor Johannes van Walbeeck, tambem accasado- de se haver locnpletado Acusta dos moradores e com prejuizo da Companhia. Apenas encontrei neste archivo do tribunal da Hollanda a carta de Marcus de Vogelaer, director da Camara de Ams- terdam, dirigida aos Estados-Geraes, accusando a Walbeeck, um outro escripto do mesmo director em que sio formulados com precisiio os artigos de 56 REVISTA DO. INST. ARCH. E GEOGR, PERN. accusagio; e finalmente uma carta do proprio Wal- beeck datada de Amesterdam a 29 de Maio de 1649, na qual elle sedefende. Pedi cdpia destes tres do- cnmentos. ‘% ARCHIVO DOS ESTADOS-GERAES - Ja vos disse que o archivo dos Estados-Geraes foi o objecto especial das investigagdes do general Netscher edo Dr. J. C. da Silva, Por isso, ¢ por ser mui limitado o tempo de que eu dispunha, entendi que nédo devia submetter os mesmos docn- mentos a um novo exame. Aprovetei somente aquelles que por sua extrema importancia no po- diam deixar de fazer parte do meu peculio de cé- pias. Neste caso se achavam as cartas que o conde Mauricio dirigio aos Estados.Geraes durante os seus oito annos de govérno no Brazil. Comquanto ellas jitivessem sido copiadas para o Instituto Historico da Corte, fil as copiar tambem para oIn- stituto de Pernambuco, tendo em attengio a impor- tancia das informagdes e apreciagées que encerram, procedentes do personagem o mais illustre, quer pelo seu nascimento e posig&o social, quer pelos dotes do seu espirito, que governon a colonia hol- landeza do Brazil. Além disso, a collecgiio das cartas de Mauricio que encontrei neste archivo e fiz copiar é mais completa do que a collecgiio que possue 0 Instituto da Corte, a julgar pela lista que de li me foi remettida. Porexemplo: nao consta dessa lista uma Gas cartas mais importantes do conde Mauricio—a que elle dirigio de Wesel aos Estados-Geraes em 29 de Janeiro de 1646, O Brazil hollandez se achava ent&io REVISTA DO INST. ARCH. EB GEOGR. PERN. 57 ameagado de imminente ruina em consequencia da revolta dos moradores portuguezes ; os Estados- Geraes e a Companhia tratavam de abafal-a no sangue, e de reconstituir a colonia jé pela extirpa~ giao de abusos inveterados @ ja pela introducgio de sreformas salutares. Nestas condigdes, e justamente quando se aprestavam os soccorres parao Brazil, . os Estados-Geraes se dirigiram ao conde Manricio para pedir-lhe que auxiliasse o govérno com as suas luzes e a sua experiencia, expondo as suas ideias sobre o modo de effectuar as operacées de guerra easreformas de que necessitava a colonia. Mauricio respondeu por esta carta, dando oseu pa- recer com amaior franqueza, e por ella sabemos que o plano adoptado, isto 6, o perdao geral eonce- dido aos moradores pelos Estados-Geraes, a occn- pagao do rio de 8, Francisco para interceptarem-se as communicagées entre a Bahia e Pernambuco, 0 commettimento contraa mesma Bahia ete., foi in- spirado por elle. Mas nao é esta parte da carta, por muito im- portante que seja, que me levou acital-a. Trata-se de um outro facto, para o qual pego’a vossa atten- cio. Duarte de Albuquerque asseverou pas suas Memorias Diarias que, depois da conquista do Arrayal em Junho de 1635, os conquistadores usa: ram para com os moradores rendidos de feresa barbara, “violentando-os a se resgatarem com di- nheiros, cujas quantias foram taxadas arbitraria- mente endo conforme is circumstancias de cada um ”’, @ accrescenta—‘“‘chegaram a dar erueis tor. mentos a Antonio de Freitas e Silva, e outro mais, para que dessem mais dinheiro,cousa nunea vista, "* Southey reproduzio indignado a noticia do facto, estygmatisando%o como merecia, tanto mais SS REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. quanto fora praticado para com os bravos que du- rante tanto tempo haviam resistido dentro das mu- ralhas daquelle forte. Netscher porém rebateu a accusagaio, contestando o mesmo facto, sem ter para isso outro fundamento sendo 0 silencio guardado por de Laet. A autoridade de Netscher, de onja,. boa f6e imparcialidade nao ¢ licito duvidar, influ- enciou de talmodo oespirito dos proprios escri- ptores brazileiros, comoo conego Fernandes Pinhei- ro, que chegou-se a duvidar da palavra do auctor das Memorias Diarias:aferesa barbarausada para com os indefesos moradores tornou-se problematica, Eis que surge agora das sombras do passado a voz amais insuspeita e autorisada para 1 stabelecer a verdade historica, dando plena confirmacio & asse- yeracio de Duarte de Albuquerque. E’ o proprio conde Manricio quem nol.o affirma no seguinte to- pico desta carta : “Als ick in Brasil aengelant was soo hebbe het aldaer gevonden vol verwaringen in alle staten. De Portugnesen meest van haere landeryen ende engenhos gevlucht, de landen woest en onbebout, de luiden vol wantrouwens d'eene van de andere. De principaelste gebleven Portugueseen ten hoog- sten gemiscontenteert door de exactien haer ge- maeckt, daer of de minste niet en was dat men Areal verovert en de portuguesen in protectie aengeno- men hebbende, daernaer echter de principaelste met pinigen ende by de armen op te haelen haere mid- delen af perste, oock mede door dien de regierders aldaer om:dat eenige inwoonderenhaer hadden be- geven tegen haeren cedt by de macht van Spangien s'jaer te voren daer aengecomen, deselve door de Tapuias voor soo-veel sy die conden becomen, had- den doen massacreren, soo wel onschuldigen als REVISTA DO INST. ARCH. E GEOCR. PERN. 59 schuldigen sonder onderscheyt, nochte oock vron- en ofte kinderen te verschoonen. ”” “ Quando eu desembarquei no Brazil,encontrei alli a confusiio em todosas classes. A maior parte dos Portuguezes tinha fugido de suas proprieda- des eengenhos, as terras estavam desertas e incul- tas, as pessoas cheias de desconfianga umas para com as outras. Os principaes Portuguezes daquel - les que haviam ficado summamente descontentes pelas extorgdes que com ellesse praticaram, em con- traério 20 accérdo solemnemente pactuado, e dessas extorgdes nao foi 2 menor aque passo a referir. Cun- quistado o Arrayal, eapesar de haverem sido os Portuguezes tomados debaixo de nossa proteccao, depois se extorguio a fazenda aos prineipaes, tor. turando-os e igando-os pelos bragos ; outro sim, como alguns nioradores contra o seu juramento se tinham juntado com as férgas hespanholas que alli foram no anno anterior, os governadores da colonia (regierders aldaer) mandaram trucidal os pelos Tapuias, tanto quanto estes podessem haver ds miaos, assim culpados como innocentes sem distine- go, e sem se poupar mesmo a mulheres ow 2 cri angas !) . E com o niais profundo respeito que devemos yeceber este testemunho do principe magnanimo em prol das victimas de tao batbarafereza! « Abstendo-me de fazer referencia a outras cartas do conde, darei no fim deste relatorio a lista das que mandei copiar. . *% 4 Os registros das Resolugdes dos Estados-Gu- raes da Republica Neerlandeza contém numerosas noticias e utilissimas informagées sobre os negocios do Brazil, visto como todas as deliberagdes sobre 8 GO REVISTA DO INST. ARCH. BE GROGR. PERN. i Companhia e suas posses- sdes foram consignadas naquella enorme colleccao de in.folios. Tentei fazer um extracto, por ordem chronologica, das resoluedes que sio de interesse para nds, comecgando dé 1623, anno em que a Com: panhia encetou as suas operagdes de guerra. Nao pade porém le assumptos referentes y acabo este meu trabalho por ter sido interrompido pelo govérno imperial. Nao e conclnissem na s resolucdes textual- sendo possivel que tes extract: minha ausencia, limitei-me ami mais importantes para serem copis mente. Entregoos meus extractos de se acharem incompletos. year P lacact Boeck & 0 nome de ima volumesa col- leegio impressa das leis, ordenancas, regimentos e outros actos officiaes emanados dos Estados Geraes. Ahi encontrei todos os regulamentos relativos ao Brazli,os quaes foram organisados pela Companhia #approvados polos Estados Geraes. QO primeiro delles tem a data de 13 de Outu- bro de 1629, Eo regimento do governo das con- quistas da Companhia, e comquanto na epocha em que foi expedide nenhuma parte do Brazil se achasse conquistada pelas armas da Companhia es, lodaviaesse revimento fez-se rN, @ qui foi ob: ido até que veio sub- stituil-o o regulamento definitive de 23 de Agosto de 1636, Estontro G0 que se pode chamar a Zed orga- niea do Brazil Hollandez. Contem 99 artigos, em que seacham definidas as attribuigdes do govérno supremo colonial, ¢ dos mais collegios eautoridade’ ivis e militares, assim como tudo quanto dizia res”. ao Institnto, apesar + REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR. PERN. 61 peito ds relag6es entre o govérno e 4 egreja refor- mada, ds antoridades locaes, 4 instrucgdo primaria, iis terras vagas, ds minas e pedras preciosas, ao modo por que deviam ser tratados os indigenas e os moradores portuguezes ete. O regimento de 23 de Agosto de 1636 soffren posteriormente algumas modificagoes, principal- mente pelas Instrugdes de 6 de Novembro de 1645 baixadas para os novos governadores do Brazil que foram nomeados naquelle anno. Segue-se uma serie de regulamentog sobre o commercio entre a metropole e a colonia do Brazil, € outros assumptos. : Sis os titulos e as datas desses actos legisla- tivos : — Edital pelo qual sio chamados os moradores portuguezes a voltar 4 posse dos seus bens, 10 de Agosto de 1630. — Regulamentos de 14 de Maio de 1632 e 15 de Julho de 1633, segundo os quaes podem ser equi- pados navios hollandezes para navegarem dentro de uma parte dos limites mareados no privilegio da Companhia. * — Editaes de 25 de Maio de 1624e14de Ju- nho de 1632, prohibindo que, sem consentimento da Companhia, alguem se engajasse on se obrigasse a servir nas Indias Occidentaes. - ' — Regulamento sobre a liberdade do commer- cio de Pernambuco, 9 de Janeire de 1634, * — Regulamento pelo qual os naturaes das Pro- ~ vineias Unidas podeviam navegar e tomar mereado- rias em certa parte comprehendida nos limites da Companhia, 6 de Janeiro de 1635. . + Regulamento provisorio sobre a liberdade do commercio do Brazil, 29 de Abril de 1638 ; G2 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR.. PERN. Regulamento sobre a colonisagio e cultura das terras do Brazil conquistadas pela Companhia das Indias Occidentaes, 26 de Abril de 1639. Artigos, segundo os quaes qualquer pessoa podia ser aceita pela Companhia para navegar em seus navios para as Indias Occidentaes, 0 Brazil ete, 24 de Novembro de 1647. — Regulamento sobre a liberdade do commer- cio, 10 de Agosto de 1647. — Edital concedendo o direito de livre impor- tagao de viveres no Brazil, 11 de Dezembro de 1649. — Edital permittindo a livre exploragio das mi- nas de prata tias Indias Occidentaes, 31 de Agosto de 165: Acham-se todos copiados. ARCHIVO PARTICULAR DO REI Alem doarchivo real de Haya (Rijksarchief), de que até o presente me tenho ocenpado, visited tambem o archivo particular de S. M, 0 rei da Hol- landa (Het Huisarchief), e 4 obsequiosidade do archivista, 0 snr. general Mansveld, devo ter podi- do consnltar os papeis concernentes ao Brazil que pertenceram ao conde Mauricio de Nassau. Esses papeis formam duas collecgies, A primeira dellas tem o titulo de Stukken be- treffende hel gouverno van J. Maurits in Brazilie. 1636—1643. (Pecas relativas ao gorérno de Joao Mauricio no Brazil), Contem todaa sorte de do- cumentos : relatorios, roteiros, descripcdes de di- * versos piizes (Chile, Pert, Rio da Prata, Vera Cruz,) editaes, petigdes, cartas do marquez de Mon- talviio ¢ outvas em portugney Chamarei a vossa atter Oo pire as cartas e * REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 63 dous pareceres de Gaspar Dias Ferreira que ahi encontrei. Sete dessas cartas, sendo duas em por- tuguez, eas mais em Jatim, sao divigidas ao conde. Gaspar Dias Ferreira era natural de Lisboa, donde veio para o Brazil em 1618. (1) O dominio hollandez Ihe proporcionou o ensejo-de fazer for- tuna rapidamente. Era intelligente e diligente, astuto e ponco eserupuloso, o gne importa dizer que tinha as qualidades necessarias para medrar no meio em que se achou collocado. Assim vemo- lo galgar posicgdes na colonia hollandeza — for pre- sidente da camara de Olinda e depois escabino na cidade Manricia, — arrematar impostos, com- prar engenhos (Novo e Santo André), e anga- riar as boas gracas do conde, “sobre enjo espirito parece ter exercido influencia. Abusando porém da proteegio que o conde Ihe dispensava, servio se della e do nome do seu illustre patrono para ex- torquir dinheiro aos Portuguezes e aos Hollande- 2es, pelo que se tornou odioso a uns e a outros. A mais antiga de suas cartas 6 de 1643 : ella nos mostra que o conde ouvia conselhos de Dias Ferreira e obrava de accérdo com elles, que lhe li- beralisava as snas mercés, tinha conhecimento .e favorecia negocios —particulares do seu trefego sub- dito portugnez, Bis o final desta carta : “ «+++. favor sou de parecer no conceda V. Exe. senfio mni poucos; porque entendo que con- vem 4 reputagiio de V. Exe. que assi seja; 0 men_ negocio se vai fazendo de vagar porque pretendo proveito, em poucas pessoas tenho feito consa de_ verry 28, 6e eonsta da carta do naturalisagdo do G, D. Ferreira, dete — Boek, 64 REVISTA DO INST. ARCH. Ef GROGR. PERN. 409 florins, porém muito fiado nas beas pessoas (promessas 4. Doua V. Exe. as gragas pela (mere?) da (attestacdo) que quer dar-me para desobrigar a fianga (dada)a Homem Pinto, V. Exe. sabe mui- to bem quanto isto é( util?) a este seu criado, fico tratando da venda deste engenho a Fernio do Valle, querendo Deus se effectue para que mais li- vre delle possa melhor occupar-me no servigo de V. Ex. ete. » Em uma ourra carta em Jatim, sem data—tal- vera primeira que dirigio ao conde depois de se achar na Hollanda—nota-se um tom de profundo desinimo : quei: e de sua triste sorte naquelle paiz, néo lhe tendo sido possivel avistar-se com 8. Exc. em Haya, men em Amsterdam, e receia que S. Exc. se vi para Allemanha sem vel-o. Esperava que S. Exc. Ihe desse occasiio de beijar as mios do Principe de Orange, que tal f6raa causa de sua via- gem @ Hollanda etc. » A essa tristeza porém succedem a alegria ea esperanga em uma outra carta tambem em latim e sem data na-qual communica ao conde que, depois da partida de $. Exe. (de Haya), 0 secretario Hu- gens o apresentira ao principe e 4 princeza de Oran- ge, de quem foi recebido mui amistosamente. An- nnneia a sua intengio de se naturalisar cidaddo da Hollanda, ¢ de pedir av principe cartas de recom- mendagio para os noves governadores do Brazi Permitti que tambem transcveva o final desta carta : « Depois da partida de V. Exe., diz elle, fui a Amsterdam para fallara Barlosus, como V. Exe. me ordenira, e Barleus me respondeu que ainda estava meditando, e ordenando o assumpto eo pla- no desua obra, e quando Ihe fosse necessaria algu- ma informagio me mandaria chamar por um pro- REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 65 prio para me entender com elle, 0 que prometti fa- zer, como V. Exc. me recommendon ete, » im uma Jonga carta em lati, escripta em Amsterdama 17 de Agosto de 1645, desculpa-se de niio enviar ao conde 0 dinheiro que este Ihe pedira, allegando niio haver recebido o fructo de seus en— genhos (que alids esperava para pagar dividas), porque os seus assucares ficaram retidos no Reci- fe por falta de embareagdes que os levassem a Hol- Janda. «No Brazil, diz elle, en seria rico de bens, aqui me acho baldado de tndo » A seguinte carta, dirigida de Amsterdam ao conde a 2de Outubro de 1645, 6 uma das mais in- teressantes da serie : ‘Tratando do Brazil, diz elle que S. Exe. ji ha- via de ter recebido 2 noticia do crime e traigio do. mulato Vieira (noti de scelere et per- fidia iNins mulati Vieiri). « Non potest arbor mala, accrescenta reproduzindy a phrase do Evangelho, bonos fructus facere. » Lamenta a sorte dos mo- radores, e di gragas ao conde de o haver levado do Brazil para aquelle asylo da Hollanda, onde con- templa como do eume de nm alto monte a tempes- tade que passa. Na bolsa os negociantes censuravam como ab- surda e estulta a resolucido tomada pela Compa- nhia de retirar S$. Exe. do B |, aereditando elles que bastava a presenga de 8. Exe. alli para Serenar os animos. Defende em seguida o rei de Portugal, referindo-se is cartas regias que lhe fo. ram mostradas pelo embaixador Souza Coutinho ; este receiava que castigo capital recahisse sobre o Sovernador da Bahia, si fosse verdade, como se di- “a, ter elle enviado tropas para auxiliar os revol- GEOGR, PERN. + ARCH. 5G REVISTA BO ES togos. Conclue communicando que constava ter Schoonenburek aceito a presidencia do Supremo Concelho do Brazil. « Depois de V. Exe. nao conhe- co nenhum homem mais apto para o cargo. » Certo, estas cartas niio desmentem o apoucado conceito que frei Manoel do Salvador nos deixou do caracter de quem as escreveu. Mas apresso-me. a dizer que 0s dons pareceres de Gaspar Dias Fer- reira, aque jialludi, nol-o apresentam sob um novo e muito mais favoravel aspecto. Esses pareceres sem data e sent assignatura siio incontestavelmente de Gaspar Dias Ferreira. A lettra, oestylo, as allusdes que o auétor faz asua pessoa, tiram toda a dfivida a tal respeito. O anetor discute os meios de que a Companhia poderia langar mado para reduzir & obediencia os revoltosos de Pernambuco, e demonstra no so- mente que qualquer delles seria improfiquo, sendo tambem que nenhuma rasio de Estado aconse- Thava a Companhia ou o govérno da Republica a conservar aquellas provincias, povoadas por Por- tuguezes, hostis ao elemento hollandez, e cuja pre~ senga, entretanto, era alli necessaria, porque so elles conheciam o meneio dos engenhos, podendo os moradores por sua obstinagao na resistencia extin- guir a planta da canna, abrasar as fdbricas, assolar, a terrae tornal a infructifera por largos annos, re- sultando @ahi enormes gastos para a Hollanda sem compensacio possivel. . “Si razio Estado éa conveniencia de cada um emt seu proprio Estado", a razéo a’ Estado exi- gia quea Companhia, longe de continuara despen- der os seus capitaes e os da Republica para conser- var o Brazil, tratasse de o vender a Portugal que sem gastos o poderia conservar ¢ defender, ‘‘ Com REVISTA DO INST. ARCH, E GEOCR, PERN, 67 essa venda, observa elle, ficaria logo préspera e pu- jante a Companhia para com muitas utilidades continuar a gterra contra o inimigo commum, o qual por esta falta esta colhendo sem risco das In- dias as riquezas com que se sustenta contra toda a Europa. Nao sei como isto se no considera ; parece quer Deus queassim seja, e nao aleango outra raziio. ”? Estes dous pareceres, um dos qtiaes pelo menos édirigido ao conde Mauricio, fazem honra 4 luei- dez do espirito de Gaspar Dias Ferreira. A lingua gem @ incorrecta, masa argumentagiio 6 vigorosa; as conclusGes irrecusaveis. Com muita habilidade elle poe em toda a evidencia o lado fraco da ¢olo- nia hollandeza estabelecida nesta parte da America. A conquista das capitanias do Brazil septentrio- nal pelas armas de uma Companhia de mercadores se explica, como empresa militar e emquanto per- durasse a guerra, podendo @ahi advir lucros tio consideraveis para os accionistas quanto perdas avultadas para o inimigo. Mas como empresa colo- nial, destinada a florescer na paz e pela paz, o sen mallogro devia ter sido previsto: era vo o intento de fundar ama colonia em provincias cuitivadas por Portuguezes, distanciados dos conquistadores por lingua, crengas, costumes e instituigdes, e de enjo concurso dependia, aligs, a prosperidade da mesma colonia. Concluida # paz nao yvestaria & Companhia outra fonte de renda sendo o trabalho agricola dos Portuguezes ; estes, apesar de vencidos, nio cessariam de ser os dominadores, e desde que se levantassem em som de guerra, como acontecen em 1645, feito era da colonia—a sua ruina seria inevitavel, Ferreira deu pois ¢ concelho 0 muis salutary 9 68 REVISTA DO INST. ARCH. EF GEOGR, PERN, recommendando & Companhia que quanto antes desfizesse por venda dessas provincias, que de entiéio em diante niio seriam para ella senilo occasiaio de 7 rines pe aS. ec se os dous incorrectos pareceres do obsenro portugnez com o afamado Papet Forte do padre Antonio Vieira, obra prima de estyloe de argucias. A superioridade dos conceitos e da ar- gumentagio do primeiro sobre os sophismas do se- gundo salta aos olhos. E sob um outro _ponto de vista se péde assignalar uma differenca ainda mais notavel. Ao passo que o padre jesu’ teve a fra- quesa de dar um conselho anti-patriotico, porque sabia que assim favorecia as vistas d’el-rei, Dias Ferreira, fallando como Hollandez a Hollandezes, em cujo poder se achava, externa corajosameete o seu pensamento, annuncia um verdade dolorosa, de que sé a experiencia pdde convencer os directo- res da Companhia. Sialgum acto deste homem pudesse, por assim dizer, resgatar acs olhos da posteridade os seus erros, os defeitos do seu caracter, seriam certa- mente esses dous toscos pareceres ! (1) (1° Para dar ideia do estylo cpistolar de uma dama pernambucana daquella epocha, transereverei_ a seguinte carta dirigida pela bella, rien e festejada D, Anna Pacs ao conde Mau i “Ill. Snr,---Comd@nos devemos toda a obediencya a nosos supriores tanto mais a vosa eccleneya de quem temos resebydo tautas onras © merees, asim que ‘este animo me fax. tomar atrevymento de pedyr a vosa cecleneya queyra aseitat seys caixas de asuguere branco, perdoandome vosa ecelen- no que ajudandome o Srn. Ds, servyrei a vosa acelencya pedindo a Ds, aunente a vida.c estado a suas cativas, amuito obediente cativa Dona Anna vos ecelencya per De vosw eceleney Paes, " REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 69 * es A segunda collecgio dos papeis do conde Mau- xicio 6 propriamente um registro, no @nal se contem A correspondencia em francez acérea dos quadros ou pinturas do Brazil que elle presenteon a Luiz 14, Faz-se aqui necessaria uma pequena digressic para intelligencia do que tenho a dize? vos sobre essa curiosa correspondencia, 6 tambem porque trata-se de um assumpto mui pouco ccnhecido: o destino que tiveram as pinturas que o conde levon do Brazil para a Hollanda. * A paixdo predominante do conde Joao Mauri= cio, durante toda a sua longa existencia, foi o amor ds bellezas da natureza e 4s bellas-artes, Elle 0 nna. nifesta desde 1633, guando, sendo umsimples coro- nél de regimento, sem largas rendas, quasi sem bens _patrimoniaes, (1) comegou a construir o seu maguitico palacio e os sens Jardins de Haya, Qe (1) O pao de Mauricio, o conde Joio de Nassau, teve nada menos de vinte filhos : ¢ por isso os bens herdados por Mauricio na Allemanha nio podem ter sido de muita impor- tancia. Veegens, Historische Studien. (2) Quando Mauricio partio para o Brazil, este seu pala- cio (convertidopresentemente em musen) ainda niio se achava ™ concluido; os cuidados do govérno nko fizeram com que elle se desceuidasso de promover deci andamento das obras, enviando de quando em quando as madeiras as mais preciosas do paiz, e grande quantidade de agsucar, cujo producto devia ser applicado as despesas da conifeuceko. Os directores da Compauhia queixavam-se dos desperdicios de Mauricio, ea construcciio desse Iuxnoso edificio era para elles uma prova de que oconde gastava mais do que lhe permittiam as suas ren- das, Em uma carta dirigida da ilha de Antonio Vaes ao-sen secretario Huygens a9 de maio de 1642, dizia Maaricio : “ Messicurs les Directeurs, & ceque onjn'a dit, le nom. mont (0 palacio de Haya)la maison do sucre, & laquelle neant- moins ils ont fort peu contribué; ausije noes ay pas prie an compérage, Dieu soit loué qu'il ost vonu Jusques 1a... Quant 70 REVISTA DO INST, ARCH, E GEOGR, PERN, culto ao bello nté os ultimos dias de sua vida notranquillo retiro de Bergendal, onde, para encher suas horas de vagar, continuava a Plantar e aconstrair, como si obedecesse a um in- * stinto irresistivel. Em Haya, em Cleve, em Wesel, no Brazil, Mauricio plantou on transplanton, se- gundo oseu proprio testemunho, mais de um milhao de drvores ! Em parte algama porém elle deu mais expan- siio no seu espirito creador do que no Brazil. E’ que achou se entio em uma situagio excepional ea mais propicia aoseu genio. Uma colonia nova em um mundo novo de opulencia tropical eva, na ver- dade, o theatro digno de ua principe amigo das artes edas sciencias natnraes. Cercon-se de sabios ede artistas, deu-lhes o impulse, proporcionah- ihes todos os meios de acyio, e por tal modo assi- gnalou osen govérnu, como um periody fecunde para a architectura, a pintura, a geographia, a astronomia, a botanica e a zoologia, que os oito annos da administragio do conde Mauricio nada encontram que lhes possa ser comparado em todo o decurso da historia colonial deste paiz. Foi no observatorio desta cidade construido por Mauricio—o primeiro da America~ que Jorge Mare- graf pdde entregar-se ds suas observagdes astro- uomicas ; foi 4 custa do conde we sob os seus auspicios que o mesmo sabio p@tcorren a colonia para tomar aaltura dos logares, observar o littoral e levantar os Mappas topographicos das quatre capitanias con- qvistadas ; foi ainda devido a mesma protecciio que Je ne manquerny point d'enveyer de beaus bois ct Veegens, ibid, REVISTA DO INSTS ARCH. E GEOGR. PERN. 71 Guilherme Piso e Maregraf poderam penetrar no interior do paiz para estudar-Ihe a flora ea fau- na, e obter os especimens vivos que, transpor- tados para Mauriciopolis e os jardins “do conde, foram cbservados, descriptos e desenhados para se-™ rem Jevados a0 conhecimento do nove mundo. (ly A populagiio do Recife se achava encerrada no estreito ambito do burgo do mesmo nome. Elle projectou edificar uma cidade nessa ilha, tao van- tajosamente situada, que se interpunha entre o bairro do Recife e o continente, Os membros do supremo concelho, como mereadores queeram, op- puzeram-se, allegando razdes de economia. Mauri. cto, para quem a falta de recursos nunea foi umob- stacnlo 4 realizagdo dos seus planos principescos, comproua ilhaa seu dono, mandon abrir canaes, cir- eumvallala, lancgar pontes, levantar casas com os « materiaes da arruinada Olinda, e construir para si dous Palacios, um dos quaes—Friburg—foi o ob: jecto especial dos seus desvelos: ornou-o com os moveis do mais fino lavor, cobrio-Ihe as paredes de grandes quadros pintados por Frans Post, cercou-o de jardins e de um extenso parque, para onde fez transplantar centenas de drvores do interior do Brazile da costa d’ Africa. (2) : ‘A capital do Brazil, diz Driesén, esteve a ponto de vir a sera Rainha do Occidente, assim como sob a administrac&o de Koen e dds seus successores Ba- tavia foi a Rainha do Oriente.” : A guerra e o tempo fizeram desaparecer as canstrucgdes materiaes do conde Mauricio—os sens . (1) Barleeus, pag. 380; Driesen, Leben des Fiisten J. Mo rits van Nassau. (1) Barleous, pag. 146; Drieson. « ABO INST. ARCH. E GEOGR, PERN. palacios, as suas piscinas, os seus Jardins, ag suas pontes. Nada obstante, um monumento immorre- douro resta entre nés, que nos permitte repetir a phrase de Barleus: “ Fulget... Nassovio magnitu- *dinis in alio orbe perenne monumentum. ” EP esta Mauriciopolis, que elle edificou e onde quiz fundar uma imprensa e uma universidade para toda a America, e cujo nome, por nossa ingratiddo, dei- xamos cahir no esquecimento ! Quanto aos objectos Varte, como as pinturas, que destino tiveram? O conde os levou consigo, quando partio do Brazil, para collocal-os no seu pa- lacio de Haya, onde residio durante tres annos (1) masem 1652 vendeu uma grande parte delles ao eleitor de Brandeburgo por 50,000 taleres. Possu- imos a eseriptura de venda, bem come o inventario, que aacompanha, das pecas vendidas. Eis o que deste diltimo documento consta com relagio aos de- senhos e pinturas : On.” 14 do inventario faz mengiéo de dous vo- lumes, um grande én,folio e outro menor, contendo desenhos de tudo o que (com relagio aos homens, aos quadrupedes, passaros, reptis, peixes, drvores, plantas, fructos e flores) se pode encontrar no (1) Alem das pinturas ¢ dos moveis, como cadeivas+ mesas¢ consolos feitos de marfim da costa d’Afries ¢ de ma- deira do Brazil, Mauricio: levon_tambem tadios vires, “Due rante a sua administracio o bondoso principe, diz Veegens, iez-se tambem amado dosselvagens, Uns 11 tapuias quizeram a todo o eustoacompanhal-o, ¢ effectivamente vieram com elle para Haya. Em uma festa que teve logar no sen palacio em Agosto de 1644, 4 qual compareceram entre outras pessoas diversos embaixadores com suas mulheres, Mauricio fez os indios dansarem as suas daneas nacionaes porante toda a as- semblea, ” REVISTA DO TD ST. ARCH. E GEOGR. PERN. 73 Brazil, e que se suppée terem sido executados por Maregrat. On? menciona mais de cem pinturas do Brazil (elevam-sea 1640) a oleo sobre papel grosso eem folhas avulsas, Aquelles dous albuns e estas pintaras, segundo nos informa Driesen, existem actualmente no real musen de Berlin. Emfim o n.° 18 do iuventario faz mencio de 7 grandes quadros a oleo tendo sete covados bra- bantinos de altura, com 08 quaes se podia cobrir as paredes de uma sala, como si fossem tapegarias, representando em tamanho natural os homens e os mais notaveis individuos da fauna eda flora do Brazil ; e mais § quadros menores para serem collo. cados nos intervallos entre as janellas, com figuras proporcionalmente reduzidas. Driesen diz que esses quadros nio existem no museu de Berlin, mas suppde serem os mesmos qneseacham no castello de Frederiksborg na Di- namarca, de que falla Humbold em seu Cosmos. (1) Afora esses desenhos, pinturas e quadros, 0 que acaso restava das ewriosidades do Brazil que o conde levdra para a Hollanda, suppunha-se ter ficado no palacio de Haya, e perecido nas chammas que em 1704 devoraram todo ointerior desse edi- ficio. (2) * «\ correspondencia porém que encontrei entre os papeis do conde e de que agora vou tratar, vem NOS mostrar que esta supposigéd 6 erronea, pelo ~ menos quanto aos quadros. Os que Mauricio ni&o vendeu em 1652, ¢ talvez os mais preciosos, por isso (1) Driesen, pag. 107. (2) Veegens, ibid. A pO INST. ARCH, E GEOGR. PERN. T+ REN mesmo que ervon em seu poder, foram por m poder, smo que ox conser f se enviados para Paris em 9, como presente a elle enviad P. 167! ee ia, repi é cnriosa por a Essa correspondencia. repito, ¢ cv Pp ai um titulo. ; : a ae militara’como feld-marechal na guerra a * ‘ora stes oO: s a ea Franca. Foram e: entre a Hollanda ea ‘an a es os seus ; ieee servicos. Em 1676, sentindo se oe oe a pared) que no estava longe ° termo de sia oa ones pedio e obteve eee para re — . é ra gov : ay do qual era g! d ‘a ueado de Cleves, os ator. Peo oital do ducado passou-se para o eee ° alle de Bergendal, onde foi aguardar a comt A i plantdra. s radas drvores que a . ; ee de assignar-se o tratado eer taando pazes entre a Hollanda e ene ° ae de 1678), e muito antes de conc ee : er entre Luiz 14 0 eleitor de Brandeburgo, is aa Mauricio se dirigia ao ee Pe : do rei, para pedir-lhe que se - istre grande rei, para pet 2 See oe ofertar aS. M. a collecgio de quadros bisse d ar aS. icio levirs Brazil. Mauricio levara do -_ ue e de Dezembro do mesmo anno de pe “ we no mesmo sentido a um outro ceed Tinie 14,0 marquezde Pomponne. ‘* As ditas var dades diz Mauricio referindo-se aos ae fp resentam i sio de figuras, 2 Brazil por meio de figuras, resentam todo o Br 2 ae ee a naghio eos habitantes do paiz, os ee peiles, “og passaros, os peixes, frnctos, plantas, _ pedes, ASS , como a situagic do a atural, bem como asi G tudo de tamanho na d ° ito paiz, cidades e fortalezas, com os eee } ri ue seria s ade formar uma galeria, oq tratos se pode form: = seria nim i rar: le se no encontra cousa muni rara, qu } ‘ bi ois eu tive ao men servico durante o tempo ie Vii no Brazil seis pintores, cada um dos qua REVISTA DO INST. ARCH. 1 GEOCR. PERN. 75 pintava aquillo para que era mais apto;e si uni curioso vir essa tapegari: ndo terd necessidade de atravessar os mares para contemplar o bello paiz do Brazil, que nao tem igual debaixo do e605 ha corea de guarenta quadros entre grandes e peque- nes, todos originaes (de que nado guardo cépia), og qnaes serviriio de modélo (para uma tapegaria), como a minha edade e os mens ineomniodos meim- pedem de apresental-os FessoalmenteaS. M., roge a V. Exe. muito humildemente se digne de me communicar, si eu posso ter a ousadia de remetter ditos modélos...... certo de que aS. M. serd agra- davel ver a grande differenca entre a Europa ea America...... ete. P. S. Seria pena que, por minha morte, esses quadros_ passassem a outras mos qne no as do rei, ”* Escreveu na mesma data Xo proprio rei, depois por diversas vezes_ao conde Desprence e ao mare- chal @'Estrades. Emfim este filtimo Ihe communi. cou, por carta datada de Paris no 1.° de Junho de 1679, que o rai acceitava o presente (1); 2 4 do mes- momez Colbert, que se achava em Nimegue, tambem The communicon ter recebido ordem para levar os ditos quadros com asua bagagem. Mauricio, trans. portado de jubilo, a julgar pelas suas cartas, apres- Sou-sea remettel os para Nimegue, fazendo-os acom- panhar do seu pintor Panto de Milly, do sen criado particular de With, edo sen Jardineiro ineumbido de explicar 0 uso de certos instrumentos de jardi- nagem. Os quadros foram fansportados pelo Rheno e — (1) Note-se que a acceitagio do presente Fesolucio tomady deburgo, coincide com a velo rei de coneeder # paz ao cleitor de Bran. to E GEOGR, PE FG REVISTA PO INST. ARCHE nezue a Rotterdam, e@ahi por ate Paris, onde chegaram a 13 de am collocados na Sala pelo Mosa de Nir mar e pelo § Agosto ; no din seguiute for da Comedia do Lourre. ‘A. 22do mesmo mez o rei fol ver os quadros, )sedeteve, promettendo voltar para apre- cial-os com mais vagar, Este seganda visita teve logar tres dias depois, sendo o rei acompanhado de sua corte. Eis comy Paulo de Milly refere o que se passou: . Germano 28 de A253 para veros quadros eas ontras cousas que Vo A. The offerts nempanhado da Rainha, do Snr, Delphim, do Sur. Duque ¢ da Snr.2 Duquezat de Luxemburge ede muitos entros senhores da imanimemente admiraram omimo de to uma conse mas poucc gosto de 1679, O rei volton carte, e todc VL A., dizendo que nunca tinham tamhem orei niodeixou de mostrar a tdo rara: sua alecria e contentamento, quando vio os quadros easoutras cousas, esobretude admirou o eavallo marinho, o papagaio, e esse animalzinho, enjo filho entra e sae do ventre materne. © enhor houve que parecia duvidar do facto, e pediam para ver o men }ivro (memoria explicativa dos quadros), e Monse- nhor tomon-o, leu oart. 3. e outros, dizendo que nio Quyidava, visto como o principe Maurici affirmava, Cada qual mostrava-se enrioso de ouvir explicar os quadros, V. A. pole erer que muito sy a todos, o que todavia fiz sem prejuizo do Rei, a enjo lade sempre me conservel ; mas Monsenhor me paxava ora para um lado, ora Snv. Delphim e Madame que niio era menos curiosa do que a outra de ver € ouvir a explicacio dos ditos quadros. de sorte que toflos tiveram prazer e contentamento, e disseram me custon s: para outro, a Rainha, o ADO INST. ARCH. E GEOGR. quasi todos qne era bonito para um, mas o Rei nao resolveu ainda mandar sabe -+. Paulo de Milly. Mauricio remetteu tambem, alé _Manvic e' ambem, além de u ae sobre o modo der plantar as oe to = 0° : 4 a asia ve we aos peoend de jardinagem inventados » uma deseripedio das pi ee eu : ¢ as pinturas, o ee sio designados por lettras desde a te Jf,e depois desde A A até Sr que “até 27,0 que faz = erceoes ; az crer essa deseripgao Nao esta completa, por fal nae mengo dos quadros da serie A” ate Z, a vor Saas no Louere dos quadros offertados Pel Mauricio foi definitiva ou provisoria ? Ona Emballe rene seacham presentemente ? Nao a Ema ereorri as galerias do Li bee i ae aleria ouvre, e examine Ost ata a ees fi a 7 on entalogo, e especialmente o das pintaras aa Scola flamenga e hollandeza ; i : ' eseal: a “a; embalde intery i avarlas pe: co } a i ae a competentes para esclareeer: oe o destino das raridades i naan : 8 do Brazil : nad trel, nada pude des i mronaeeaaias + hada edescobrir. Estou poré de que m,n : re porém persuadido a pesquisa feita com mais y: conduzir a melh Soete are mduzie a melhor resultado, por é a : at , 7p quanto niio é ee uma collecgio tio curiosa de quarenta ¢ ue tenha desaparecido sem deixar vestigios. m outro ponto resta a esclarecer. ~ . ane niotivo levou o conde Mauricio a offertar Thong Waadros a Luiz 14? Porgue ao glorioso Gui. anaes, * oe aoeleitor de Brandeburgo preferio eae ‘i acs da Franca, que caprichosamente . ae ie ee e tel.a-hia desmembrado e su- ie Te ae as mais humilhantes para obter a Sat, ora o genio do joven heroe que, como Neunen@er, se collocira a frente da Republica da Halles ha ! Como se explica que o feld-marechal ‘nda eo loco-tenente do eleitor de Bran- a tapegaria, azer que eu MISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. RE deburgo nio duvida xy um tal presente ao red-so?, antes mesmo do tratado de Nimegue eainda qnando as tropas francesas eccupavam © ducado de Cléves ! A principio me pareceu achar a palavra do enigma na iiltima carta que o conde Mauricio es- vera conde Desprence a5 de Dezembro de er 4679 (quinze dias antes de morrer.) « Avisam-me, dig elle, e V. Exc. tera sem dit- vida ouvido dizer gue o rei quer fazer 2 mercé de me obsequiar por occasiao de algumas pequenas raridades das Indias, que en tomei a liberdade de offerecer & 8. M... Ouso confiar a V. Exc. qne en desejira muito que esse presente (que de ordinario se faz em joias) passasse a ser feito em dinheire de contado ; sien tivesse a honra de poder fallar pes- scalmente a V. Exc., acredito que V. Exe, appro- varia ag razdes que para isso tenhe. E poisque de erdinario as joias se estimam em grande prego, sem que se possa tirar dellas tode o proveito, eo rei nao tem interesse no modo por que o presente se fa- 14, persuado-me de que pnderei obtera substituigéo de uma cousa por outra, caso V. Exe. se digne de interessar-se por esse negocio +0 que aprouver a8. M. conceder-me seja_assignado sobre as contribuicdes destes paizes de Cléves, don- de en o poderei tirar 2 meu commode ete. » fulgar por esta carta, tratava-se de uma ten- da disfarcada : 0 conde Mauricio nio presenteou, venden as suas raridades, assim como ja havia vendido uma outra parte dellas em 1652. Entretanto seria temerario aflirmar que tal foi asuaintencio desde o comico, podendo bem ser que Mauricio tive do induzido a offertar 08 REVISTA DO INST, ARCH. E GEOGR. P de seus quadros a Luiz 14 por outros motives que haje é impossivel penetrar. (1) MAPPAS Volto ainda ao real archive de Haya para dar- vos noticia dos mappas ¢ plantas referentes ao Brazil que alli existem. Esses mappas foram em geral levantados pelos engenheiros on empregados da Companhia, com excepgio apenas de alguns de origem portugueza. Sao os proprios originaes manuscriptos e nunca fc- ram gravados. Acham se descriptos no catdlogo do archivo (Znventaris der verzameling kaadrten berustende in het Rijksarchief, S Gravenhage, I8G7 ), cujo director se dignou de entregar-me um exemplar para vos offertar em sen nome. . As copias que vos trago sio dos mappas mais importantes ; foram feitas sob a direcgAo do dis- tineto Snr. J. Hingman, Charler-meester do real archivo, @ vos posso assegurar que esse trabalho nada deixa a desejar com relagao 4 fidelidade. 41) Quer parecer-me que isto mestno se deprehende do seguinte topico da carta de Mauricio 2 Desprence em data de 6 de Outubro de 1679, na qual o principe, relerindo-se as carla que Luiz 11 the esereveu para agradecer opresente, diz: « Jolavoue que cette lettre (du roi) ne marque pas moins la grandeur de I’ ame de ee Roy, que toutes ses autres ae- tions, ct qu elle m'a servi d* un grand soulagement dans ma maladie qui me tient encore attaché au lit. J’ en con- serverai la memoire pour moi tant que je serai dans ce monde ct recommanderay aux micns de la garder parmy les papiers les plus consideiables de ma maison » Porque razito o facto de tor Luiz 14 eseripte uma simples carta do agradecimento pelo mimo acecito e veeebido revela a sua grandesa Calma, tanto quanto todas as suas ontras acgies 2 Tudo isto nao passa de meras formulas cortesies ? RO REVISTA PO INST. ARCH, E GEGGR. PERN, Kis a lista dos mappas, cujas cOpias neste mo- Mento vos entrego : iippa da itha de Antonio Vaes, do Recife e cidade de Pernambuco antes da conquista. Outro mappa dos mesmos logares depois da conguista. Esbogo da cidade de Pernambuco por D. Ruy- ters. . Planta da ilha de Antonio Vaes, do Recife e Terra Firme com seus fortes e reductos por Andrew Drewisch Bongesaltenis, engenheiro, 1631. Outra plania dos mesmos Jogares pelo mesmo engenheiro. Planta do forte real ;Arrayal Velho.) Planta do forte real que manda fazer Mathias de Albuquerque para seguranca do porto de Per- nambueo, 1622, por Christ. Alvares. Perfil do forte real pelo mesmo. Mappa da cidade de Pernambuco por Pieter yan Baren, 1630. Planta do novo fortee algumas trincheiras do Recife, por P. van Buren. Esboco da regio a oeste do Recife de?Pernam- buco, feito de acedrdo com as informagées havidas dos prisioneiros portuguezes, 1632, por Johannes. van Walbeeck. Pequeno mappa do Pontale do Cabo deS. Agostinho depois da conquista em 1634, por Tour- lon, com uma legenda em ypel separado, Ontro mappa dos mesmos logares por Teunis, 1634, com uma declaragio dos navios que tomaram parte na conquista. Outro mappa do mesmo Cabo. Planta, feita a olho, do Cabedello na Parahyba GEOGR, PERN. 81 REVISTA DO INST. ARCH. E durante o céreo posto por Stein Callenfels, levan- tada por Drewisch, 1631. Desenho da cidadé de N. S. da Conceipgio, com a indicagiio dos quarteis das tropas hollandezas. Cidade do Salvador ,¢ Bahia de todos os San- tos, 1638. . Desenho das fortificagdes e trincheiras que se fizeram em defesa do inimigo, bateria do inimigo hollandez. Perfil da cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos que mostra a altura do mara ella, 1638. Desenho da cidade e forte do Grio-Para. Mappa da capitauia do Cearé como desenho do forte Schoonenbureh, 1649. A uma outra colleccao de plantas e vistas colo- ridas, nio mencionadas no catalogo impresgo, per- tencem as seguintes aquarellas que tambem fiz copiar : : Pm Recife e cidade Mauricia. Itamaraca. Planta de Olinda. Cabo de 8, Agostinho e Rio Ipojuea. Porto de Pernambuco, Recife, Mauricia e Olinda. Vista de Olinda. Chamo a attengie do Instituto para a acquisi- cio que fiz deum precioso Adlas, contendo 57 map- pas manuseriptos de varias capitanias do Brazile de todo o littoral desde o rio da Prata até o Cabo Nassau. Comprei-o ao successor de Frederico Mul- Jher, livreiro de Amsterdam. Este AdZas encerra tudo quanto os Hollande- zes conheciam avérca da geographia do nosso paiz no seculo 17; 6 um auxiliar mais valioso para o estudo topographico do que os mappas do livro de % & A DO INST. ARCH, E GHOGR. PERN. Barlous, que até o presente tém sido a nossa uni.” ca fonte de informagio. Estes ultimos, tendo sido gravados, nao sio thy perfeitos nem tao exactos quanto os mappas da colleccd&o que vos trago, Nao pude saber a quem esse importante Adlas pertencen primitivamente’; 6 bem provavel que te- nha pertencido a alguns dos directores ou a alguma das camaras da Companhia. Somente dous mappas trazem os nomes dos seus auctores: n°, 1, mappa geral do Brazil por Jean Vingboon, n.° 44, mappa da costa desde o rio Ilheos atéo Ceara pelo almirante Lichthart. (Pas-Caerte der custe van Brazil beginnende van rio Itheos en eyndigente acnrio Sicra met alle de revieren, capen, bayen, clippen en droochten der selven met de dicpten der principactste vevieren wverloont in dry stukhen, door nacrstich onder sock gedurende de lyf van seven Jacren, gedaen door den EB. heer admiract J. ©. Lichthart). Os mappas topographicos das quatro capita- nias de Pernambuco (inclusive Sergipe @ Ala- gous), Ttamaraca, Parahyba e Rio G rande do Nor- te sob os numeros 38, 39 40, 42, 49 e 51, néo tém o nome de seu auctor, mas nao é difficil verificar quem elle seja e em que epocha foram Ievantados, Sm o segundo relatorio que o conde Mauricio apresentou aos Estudus-Geraes em 3644, elle. diz que mandara levantar mappas de toda a regiao desde o rio Real até o Rio Grand nos quaes se achavam notadas e representada: uacdo, altu- MM, extensio e divisio das capitanias conqguis- tadas, bem como as cidades, castellos, povoagées, aldeas, curraes de gado, salinas, fontes, paues, ¢2- hos, montes, rios, parceis, engenhos, egrejas, con- ventos ete. Barloons nos transmitte a mesma no- REVISTA DO INST. ARCH. E GEOOR. PERN. 83 ticia : « Tabulas Seographicas magna cura et sum- tibus suis exarari fecit (Muritius) in quibus op- pida, pagi, arces, armentorum septa, aliaque mira accuratione representantur, » Eaccrescenta... « an- ctore Georgio Markgratio, Seogrtpho et astronomo eximio, » Ora, a estas indicagées correspondem os mappas de que se trata, sendo que o primeiro del- les traz esta legenda : : « Correcte Zee Iaerte der enste van vier Capi- tanien in Brazilien, als Phernambocque, Itama- rica, Parayba en Rio Grande met alle Reeiffen en- de droocheen der selver, meede alle steden, dorpen ende aldeas der selver capitanien, allesdoor order van sjn Extie Graeff Joan Mouritius van Nassauw » (Mappa exacto da costa das quatros capitanias do Brazil, — Pernambuco, Itamaracd, Parahyba e Rio Grande— com todos os seus arrecifes e baixos; bem como todas as cidades, povoagées ¢ aldeias de di- tas capitanias, levantado por ordem de S. Exe. o conde Jo&io Mauricio de Nassau.) Portanto concluo que esses mappas manu- scriptos foram confeccionados por Joige Maregraf. Os seguintes tambem foram levantados de or- dem ou durante a administragio do conde, como consta de suas respectivas legendas: N.° 25, Ba- hia de todos os Santos e cidade do Salvador du- vante 0 cérco posto pelo conde ; 37, rio de S. Fran. ciseo com o forte Mauricio 3 41, porto de Pernam- . buco, Recife e cidade Mauricia 3 47, ilha de Itama.- raed coma cidade Schop eo forte Orange, 1639 ; 48, mappa de Porto Calvo durante 0 eérea posto pelo conde, bellissima aquarella onde se acham yepresentadas a povoagio, as snas fortifieagdes e © acampamento dos ILollandezes 3 53, mappa do Ceara. It 84 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOCR. PERN, Finalmente siio tambem dignos de nota os se- guintes : N.° 36, mappa desde os Hhéos até a capitania de Pernambuco com as fortificagGes «como presen- temente existem sdb o governodo Sr. conde de Banholo »; n.° 33, Bahia de todos os Santos com o nome dos engenhos do rio Perasu (Paraguagii); 27, capitania de S. Vicente, serra do Cubatéo e po- voagées do interior ; 38, porto de S. Vicente ; 29, porto do Rio de Janeiro ; 31, porto do Espirito Santo ; 34, Bahia de todos os Santos. Estes qua- tros ultimos sdo aquarellas. LIVROS E OPUSCULOS * Além de cem volumes sobre assumptos de his- toriae geographia, especialmente da America — comprehendidos nio sé os que agora vos apresen- to, senio tambem os que remetti de Londres em Dezembro de 1884—fiz acqu isig&io de uma colleccio de opusculos hollandezes do seculo 17 relatives 20 Brazil. Dos opuseulos publicados na Hollanda acérea da Companhia das Indias Occidentaes e suas pos- sessdes coloniaes se pide dizer que, pelo seu grande niunero, formam uma Jilleratura. Eva o jorna- fismo da epocha: habituados a discutir os nego- cios publicos nas suas assembleas municipaes, nos seus Estados provinciaes e geraes, os Hollande- zes serviam-se dos opusculos para discutil-os tam- bem pela imprensa. : Asher (1) nos informa qua a real bibliotheca de Haya, pa sessio denominada Bibliotheca Dunca- (1) Bibliographical Essay. REVISTA DO INST. ARCII. E GEOGR, PERN. 85 niand, encerra 20,000 brochuras publicadas desde o reinado de Fhilipe 2°. até o fim do seculo 18, das quaes elle consulton 7,000 para formar o seu bem conhecido catalogo dos materiaes impressos que dizem respeito 4 historia daguella Companhia, e 4 historia e geographia da Nova-Neerlandia, : Os opusculos que se referem ao Brazil, quero dizer, ds latas entre os Hollandezes ¢ os Portugue- zes, i debatida questio de saber si o commercio en- tre a metropole @ a colonia devia ser livre ou nao, e as questées diplomaticas a que deu logar a oceupagao do nosso paiz pelos Hollandezes no se- culo 17, attingem o ntimero de 200 pouco mais on menos, Infelizmente eu nao dispuz do tempo necessa- rio para formar uma colleceio mais completa dos pamphletos e opusculos que nos interessam. Elles sio muito raros e s6 occasionalmente se encon- tram. Tudo quanto eu pude obter 6 0 que consta da seguinte lista : _ ° Redenen waerom de West Indische Comp. dient te trachten het Lande van Brasilie den Coninck van Spangien te ontmachtigen, 1634 (Razées por quea Comp. @as Ind. Oce. deve esforgar-se por tomar a terra do Brazil ao rei de Hespanha.) a Ordves and articles granted by the High and M ightie Lords The States General of United Pro- ¥inces concerning of a West India Compagnie, 1621." (Ba traducgiio ingleza da carta patente da Companhia.) ” Claer veertooch van de verradsche en vyant- lycke Acten en Proceduren van Portugael. in Brasyl, 1647 (Clara demonstragio. dos actos ¢ procedimento hostis e traigoeiros de Portu Brazil.) . ani no ARCH. E GROGR. PERN, 860 REVISTA DO INS) * Reden van dat die West-Indisehe Compa- gnie oft handelinge niet alleen profytelyck, maer oock noodtzaekelyck is tot behondenisse van on- sen stnet’? (Demonstragio de que a Companhia das Ind. Oee. on 0 sen commercio & nfo somente proveitoso, como necessario 4 conservagéo do nosso Estado.) * Consideratie over de tegenwoordige gele- gentheyt van Brasil, 1646 ** (Consideragdes sobre a situacéo actual do Brazil.) >? Examen over het vertooch tegen het onghe- fondeerde ende schadelyek sluyten der yryen han- del in Brasil, 1637. "’ (Exame da demonstraciio de que é infundada e prejudicial a prohibicg&o do com- mercio livre no Brazil.) * Consideratie als dat de negotie op Brasil hehoort open gestelt te woorden, 1638. ** (Conside- ragdes com que se mostra que o commercio do Bra- sil deve ser declarado livre.) * Journalier verhael ofte copye van seckeren brief geschreven uyt Brasil, nopende de victorye : tegen de machtige vloot des konings van Spangyen...... voorgevallen in de maent van Januario 16407 (Diario ou copia de certa carta en- viada do Brazil acérea da_ victoria aleangada sobre a poderosa armada do rei de Hespanha em Janeiro de 1640 ) —” Trou-hertige onderrichtinge aen alle hooft- Participanten......0. 0.000002. nopende het open stellen van den handel op de cust van Africa... mitsgaders Marignian, Nien Nederland en West- Indien, 1643.” (Leaes informagées a todos os gran- des aecionistas acérea da liberdade do commereio na costa @ Africa, bem como no Maranhaio, Nova « Neerlandia ¢ Indias Occidentaes.) REVISTA DO. INST, ARCH. E GEOGR. PERN, » Aenwysinghe dat men van de Oost en West Indische Compagnien een Compagnie dient te maee- ken, 1644.°? (De como se deve fazer uma sé Com- panhia das duas Companhias das Indias Orientaes ¢ Occidentaes, ) . ”” Aenspraeck aen den Getrouwen Hollander, nopende de proceduren der Portugnesen in Brasil, 1645. ” (Pratica com o fiel Hollandez acérea do procedimento dos Portugnezes no Brazil.) * Journael ofte korte Discours, nopende de rebellye ....... der Portuguesen alhier in Brazil voorghenomen, Arnhem. ’* [Jornal ou breve dis- curso acérea da rebelliio dos Portugnezes no Bra- el . * Brasilsche Bree-byl, 1647.” (Machadao do Brazil.) : ” Brasilsche Gelt-sack, gedrncht in Brasilien op’ t Recif inde Bree-byl, 1647” (A bolsado Bra- sil. Impresso no Recife, no Bree- byl) * Vertooch aen de Hoog ende Mogende Hee- ren Staten General der Vereenichde Nederlanden, nopende de voorgaende ende tegenwoordighe pro- ceduren van Brasil, 1647? (Representagiio As suas alltas Potencias os Snrs Estados Geraes das Pro- vincias Unidas Neerlandezas acérea do procedimen- to anterior eactual dos Portuguezes no Brazil.) ” Pointen van consideratie rakende de vre- de met Portugael, 1648 (Pontos que siio dignes de consideragio a respeito da paz com Portugal.) ” Copye van de resolutie vande heeren Burghe- meesters ende raden tot Amsterdam op’t stuck van de West-Indische Compagnie, genomen in August 1649 ” (Cépia da resolugiio tomada pelos srns. bur- Sosmestres e conselheiros de Amsterdam sobre a materia da Comp das Ind. Occidentaes) SR REVISTA DO INST. ARCH, E GEOGR. PERN, * Amsterdams Dam-praetje van wat outs en wat nieuws em wat vreemts, 1649 (O que se diz nas rnas de Amsterdam sobre o que ha de novo, de ve- tho e de estranho.) . * Zeeusche Verre-Kyker, *’ 1649. (0 oculo da Zelandia.) *» Examen van de valsche resolutie van de hee- ran burgemeeters en raden tot Amsterdam, 1649. ” (Exame da falsa resolugdo tomada pelos Sras bur- sgos-mestres de Amsterdam) » Amsterdams Tafel-praetye van wat goets, en wat quaets en wat noodichs.’’ (O que so diz & mesa em Amsterdam sobre o que ha de bom, e de mio e 0 que 6 necessario) : ** Amsterdams vuur-praetye, 1649" (O que se diz em Amsterdam junto @ lareira.) * Manifest ofte reden van den oorlogh tusschen Portugal ende de vereenigde Pravintien van de Ne- derlanden. mitsgaders manifestatie van de Jeugenen en valsheden waer mede het is vervult, 1659’ (Manifesto ou razdes da guerra entre Portu- gal eas Provincias Unidas Neerlandesas, bem como manifestagiio das mentiras e falsidades, de que o manifesto esta cheio.) ” Journal ofte Historiaelse Beschryvinge van Matheus van den Broeck, 1651"? (Jornal ou Narra- gio historica de Matheus van den Broeck.) ” Vertooch over den toestant der West-In-. dische Compagnie in haer begin, middelen ende eynde, 1651.” (Exposigdo da situegio da Comp. das Ind, Oce. em seu comégo, meios e fim.) ” Copia van t'Octroy door de Hoogh Moog. Heeren Staten Generael der Vereenigde Nederlan- den gegeven aen Jan Reeps en syne mede partici- panten, om een colonie op te rechten aen de West- REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN, 89 zyde van Rio de las Amazonas tot aen Cabo @ Orange, 1689, ” (Cépia do privilegio concedido por Suas Altas Potencias os Surs. Estados-Geraes das Provincias Unidas Neerlandezas a Joio Reeps € seus socios para fundarem uma colonia desde a margem occidental do rio das Amazonas até o ca- bo de Orange.) ” Eerste vervolgh ‘van hetecht relaes en Dag- verhael wegen het afloopen van? oost-indische Compagnie Schip Nyenburg, 1764. (Primeira conti- nuagio da verdadeira relacdo ou diario da revolta acontecida a bordo do navio Nyenburg da Comp. das Indias :Orientaes, Uma parte da tripolagio tefugiou-se no Rio Grande do Norte.) _Uma serie de cartas impressas acérea dos ne- gocios do Brazil, dirigidas por H. Doedensa Ant, van Hilten, secretario dos Estados-Geraes da pro- vincia de Utrecht, 1641—1648, " ; Ni do encontrei na Hollanda a” Epistola Gaspa. ris Dias Ferreira, in carcere, unde erupit, scri- ple, ” de que ja vos fallei, Constando-me que exis- tia um exemplar impresso na biblioteca de Gand, dirigi-me ao Tespectivo secretario, e delle obtive uma bellissima cépia mannscripta. _ Na nota 502 da obra de Dermout sobré a egre- dt veformada das Provineias Unidas (Geschiedenis der Nederlandesche Hervormde Kerk) o auctor faz mengaéo de um Cathecismo Brasitiense (Brasili- ansche Katechismus) composto para os indios e publicado em Enkuisen. Foram baldados todos os meus esforgos para encontrar esse cathecismo, quer nas bibliothecas da Hollanda, quer nas livrarias de livros antigos. ° O govérno imperial nfo me den tempo para procural-o. tambem nos archivos sy- nodaes, como eu pretendia, on@e talvez encon- vO REVISTA DO INST, ARCH. E GEOGR, PERN. trasse ndo sé este, como outros Uabalhos dos mi- nistros calvinistas que ne Brazil se empregaram tia © cathechese dos indios. RETRATOS ] Fui tambem incumbide de formar uma galeria de retratos de Hollandezes, que militaram com dis- tinecdo no Brazil on que se tornaram notaveis por haverem escripto chronicas, memorias ou quaes- quer outros trabalhos sobre a historia ou geogra- phia deste pai: : Digo dus retratos o que ha pouco vos disse dos opusculos do seculo 17 : silo raros, eso com muito vagar se pode obter uma collecgio que merega o nome de completa. Obtive os seguintes retratos que, com exce- pgie dos ultimos, siv gravuras contemporaneas. Almirante Hf. ©. Lonek. C. Coronel Th. van Waerdenburch, por Rec- — - Kleben. Almirante P. P. Ueyn, por C. de Passe. ‘Tenente-General C. Artichosky Arsizeusky. Coronel H.C. van den Brande, por A. Persyn. O vicealmirante da Hollanda Wit Cornelisz. de Wit, por 8. Lorch. O Conde J. Mauricio de Nassau, por Dalen. O mesmo em sua velhice, por Houbraken. Gaspar Barloeus, por ‘Th. Matham. Franciscus Plante, por Suyderhvel. Dr. Guilherme Piso, J. Nieuhof, por Lingelbach. Matheus van den Broeck. Johannes de Lact. REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 91 De Lichthart, S. van Schop, Stein Calenfelsete., nio me consta que existam retratos, Nao encontrei 4 venda os retratos de Matheus van den Broeck e J. de Laet. O Sr. van der Kellen, director do musen de gravuras de Amsterdam (Pre- tenkabinet) me fez presente do retrato do primeiro, e se dignou de confiar-me o retratodo segundo para que eu o mandasse reproduzir, 0 que fiz. Esta pequena galeria 6 ainda enreqnicida com o retrato do general Netscher, que, 2 meu pedido, elle me feza honra de entregar para vol-o offertar em seu nome, dirigindo-me nessa occasiio a carta que adiante publicarei. GRAVURAS DA OBRA DE DE LAEY Tencionando este Instituto publicar uma tr: ducgio dos “Annaes da Com panhia das Indias Occi- dentaes”. ( Yaerlyck Verhael der West-Indische Compagnic) de de Laet, encommendou.me que fizesse reproduzir, além do retrato do auctor, as vito gravuras relativas 20 Brazil que ornam essa obra. Mandei fazer areproducgiio pela casa Husnik de Praga, um dos melhores estabelecimentos da Furopa para trabalhos deste genero, tirando.se qui uhentos exemplares de cada gravura, 0 que me pa- teceu sufficiente para uma obra que se destina a um ptblico muito limitado. Trouxe porém os eli- chés para o caso eventual de wma segunda reim- pressiio. A reproduegio fezse pelo processo da zinco~ sraphia, everd o Instituto, eonfrontando com os originaes os exemplares que agora a presento, quanto f2 92 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOCR. PBRN. esse trabalho se recommenda pela nitidez e fideli- dade. ee. De Laet Gum geographo mui conhecido do_ seculo 17. Nos seus Annaes elle nos deixon uma chronica noticiosa, baseada em documentos offici- aes, acérea dos treze primeiros annos das operagdes da Companhia na America, 1623-1636, e este sew livro tem servido de guia a todos os que esereveram posteriormente na Hollanda sobre o mesmo assum- pto, desde Arnaldus Montanus até van Kampen e Netscher. O proprio Southey aproveitou larga- mente os moteriaes que ahi encontrou tio bem coordenados. Ouso dizer quea chronica hollandeza de de Laet tem tanta importancia para a historia quanto’ as Memorias Diarias de Duarte de Albuquerque ; sfo duas obras que, por assim dizer, se completam, podendo cada uma dellas servir para corrigir os erros ou supprir as lacunas da outra, por isso que procedem respectivamente das duas nagées belli- gerantes. Entretanto o Visconde de Porto Seguro parece nao ter conhecido o livro: de de Laet: nunca o citou, nem fez delle mencio na relagiio das obras que consultira para escrever a sua Historia das Lutas dos Hollandezes no Brazil. Tal 6 anossa ignorancia acérca de tudo o que provem de origem hollandeza ! Um outro exemplo. Um dos homens mais eru- ditos deste paiz, o senador Candido Mendes @ Al- meida de saudosissima memoria tambem nao co- nheceu, ou pelo menos nao pide aproveitar a copia de noticias que esse livro encerra. KE’ assini que, tendo Southey mencionado o ntimero das aldeias de Indios das quatro eapitanias oceupadas pelos Hollandezes, dizendo que essa informagio provinha REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. 93 do padre Manoel de Moraes, o auctor das Memorias pera @ Historia do extincto Estado do Maranhéo (v. 2.°, p. XXXYV) tirou @ahi argumento para sup- por que Southey encontréra ¢ consultéra a His- toria @ America escripta pelo mesmo padre, En- tretanto o escriptor inglez houve a noticia, que re- produzio, nos Awnaes de de Laet, e referio-se ao padre Manoel de Moraes, porque o chronista hol- landez disse que, quando esse jesuita se entregon ao major Picard na Parahyba em 1635, fez relagao das aldeias dos indios, sendo asua informagio re- duzida a eseripto por Artichosky ! (1) Nao se supponha qne os Annaes perderam o seu valor pelo facto de haverem sido encontradas novas collecgses de documentos. De Laet dispoz de outras fontes de informagio que nio chegaram até nés, visto como foi director da Companhia, e um dos qne mais activamente collaboraram nas suas deliberagdes, como elle proprio o diz 4 pag. 3 do seu livro, e eu o verifiquei encontrando frequen- temente o seu nome no registro da correspondencia ¢ nos Wotulos seoretos da Assembléa dos 19. Assim me parece que a publicagao da tradue- cio dos Annaes de de Laet, apreciados e commen- tados i luz dos docttmentos que possnimos, sera um relevante servigo que o Instituto Archeolo- gico de Pernambuco prestara a historia do domi- nio hollandez no Brazil." (G) “ Alzoo wy nu dickwyls van dese Brasilianen sullen moeten ghewagh maeckon, sal het noodich wesen dat wy - van hare woonsteden eon weynich sen-roeren : geliyek doen't selve by den yoornoemden Hmanuel de Moraes wierdt ver- hacit, endo by den colonel Artichau eurieuselyck aengetee- kent.....” Yaerlyck Verhael (p. 452), + M40 REVISTA DO INST. ARCH, E GHOGR. PERN. MUSEU BRITANICO Achando-me de passagem em Londres, visiteio Museu Britanico, como communiquei a este Insti: tuto por carta de Dezembro de 1884. A bibliotheca desseMuseu contem um avulta- dissimo nfimero de manuscriptos de origem hespa- nhola e portugneza. A colleccio dos manuseriptos hespanhoes se acha descripta no Catalogo official * of the Manuscripts in the spanish language in the British Museum, by Don Pascual de Gayangos, London, 1875, 2 vol.’ ;os manuscriptos portuguezes constam do eatalogo organisado pelo Sr. Frederico Francisco de la Figaui¢re, Lisboa, 1853, e do cata- jogo addicional, que dez annos depois pubticou em flavana o Visconde de Porto Seguro. De acedrdo com as minhas instruccdes, fiz co- piar alguns manuscriptos relativos ao Brazil, que siio desconhecidos ou pouco cenhecidos. Além de varios pareceres do Concelho de Es- tado de Madrid, do Concelho de Portugal e outras juntas, de cartas ejornaes acérea do Brazil durante © periodo da occupagio da Bahia pelos Hollande- zes, omen peculio de copias consta do seguinte : — Registro da correspondencia entre el-rei D. Pedro 2. e o Governador de Pernambaco, D. An- tonto Felix Machado da Silva e Castro, 1689-1602 (Add., 21,000). Varias cartas tratam do palacio das Torres; que pertencen ao conde Mauricio de Nassau, € nosinformam que os moradores do Recife concer: taram esse edificio a sua custa afim de que os go- vernadores m nelle e ndo em Olinda, Gas- faram com o concérto 500 erusados, mas poupavan annualmente de7 a 8:000 crusados, que dantes des * REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN, 95 pendiam em fretes de canda para irem & Olinda tratar com o governador, O documento n.° 57 6 uma carta régia man- dando dar posse 20 Marquez de Cascaes da capita- nia de Itamaracé, datada de3 de Marco de 1692. O governador responde, dando noticia da sublevaciio de Goyanna, por no quererem os povos que se desse posse ao procurador do Marquez de uma ca- pitania que elles haviam restanrado com o seu san- gue e fazenda. Esta carta é acompanhada de papeis referentes ao facto, nm longo parecer escripto com muita parciali. dade a respeito das emorias Diarias de Duarte de Albuquerque, sob este titulo: ‘ Razones qne no se dieve imprimir Ja Historia que trata de Jas guer- ras de Pernambuco compuesta por Duarte de Albu- quergne en su nombre o ajeno, por los incoveni- entes que resultan de esto contra el servicio de la Magestad, de qne se haze mencion en compendio en este papel, mientras no se ofrece otro mas dilatado.”” Sem data e sem assignatura (Add., 24,461). — Copia em lettra ingleza do fragmento de um roteiro portuguez de 1570 (Harlem, 167). : Nesse roteiro o nome de Pernambuco 6 ainda aplicado dilha de Itamaraci: “A yiha de ferndo buquo que se chama na lingua dos indios famana- qua, e chama se fernio buquo o velho, porque es- tevealy primeyro hia fortalesa del rey.” — Um vocabulario portugnez- tapi (Jorge, 222). Este curioso codice (em 8.° peqtieno) que cem- prehende 134 folhas, diz Figaniére, 6 um vocabula- rio das linguas_brazilica e portugueza até f, 106; seguem se algumas folhas na primeira lingua com © seguinte titulo em portuguez: ‘ Doutrina e per- guntas dos Mysterios principaes de Nossa Santa Fé 960 REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN, na lingua brazilic: Todos os titulos soem portu- guez. A f. 115 outro dialogo sobre doutrina christé em lingua brazilica somente; af. 122 1é-se 0 se- guinte titulo: “Caderno da doutrina christa pela lingua le se ompendio da doutrina Christ® que se manda ensinar com preceito, anno de 1740.” Esta parte 6 s6 na lingua dos Manios. A 1.* parte diz-se ser composta pelo R. D. Marcos Antonio. Na 1,* folha branca, no principio, acha se o seguinte! M.° R.° Padre Manoel Domingues (com outro nome que néo podemos decifrar) e mais abaixo Domingues Antonio Gole Boreto; e na imedi- ata folha em branco: ‘‘Pertence 4 Fazenda de Gelboé, Anno de 1757.” —Relag&o do que ha no grande rio das Ama- zonas novamente descuberto. Pelo capitio André Pereira (Add., 28,461). E’ a narragio da expedigio de Francisco Cas- tello Branco ao Amazonas effectuada por ordem de Alexandre de Moura. — Relagiio noticiosa e exacta do que se passon nas fronteiras de Matto-Grosso e S. Cruz de Ia Si- erra desde o anno de 1759 até o principio do anno de 1764. E uma cépia, e esta incompleta, masa parte que falta se acha resumida em uma nota em inglez escripta talvez por Southey, a quem pertenceu esse manuseripto. - — Memoria de observacies physico-economicas acérea da extragio do ouro das minas do Brazil por Manoel Ferreira da Camara. Com uma nota em inglez. —Noticia dolago Xarayes por Pontes, tambem com observagées em ingles. Manoa ou dos Manos; finalmente a f. 129 ~ REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR. PERN. oF Estas tres memorias formam um codiceem 8.°, que foi comprado no leilao dos livros de Southey (Add., 15,191.) — Extractos dos officios de Cominges, embaixa- dor da Franga em Portugal, dirigidos ao seu go- vérno, na parte relativa 4 questo hollandeza (Har- Jem, 4,549.) — Instrucgées para servir de govérno na com- pra dos diamantes brutos nas minas do Brazil. Sem data. (Landow., 820), —Papel sobre o commereio do Brazil, 1791" (Add., 18,985.) . —Cépia de uma interessante carta em inglez, datada de Lisboa a 7 de Dezembro de 1594, relativa ~ ~ a0 commercio do Brazil. (Cott., Galba D. x.) —Duas cartas sobre o Brazil, uma de Manoel de Sousa @’Ega, nomeado governador do Gram- Pard, sem data, e outra de Gaspar de Sousa, datada de Madrid a 22 de Janeiro de 1622. . -~ “ El Maranon del capitan Diego de Aguilar y de Cordova’’: historia da expedigdo de Pedro de Ursua pelo rio Amazonas, sua morte e subsequente carreira de Lope de Aguirre que o substituio. (Add., 17,616.) — Ytinerario de un viage por tierra desde el rio Janeyro hasta Lima por D. Fernando Cacho, teniente coronel al servicio de Espana. Ano de 1818 (Ad@., 17,617.) 7 —Relacion que acompana el Plano Geral y los particulares de la isla de St.* Catalina ete. B’ uma extensa memoria official datada de St.* Catharina em o 1.° de Maio de 1678 (Aad., 17,619). — El gran Parand nuevamente delineado se- segun su mayor extension sobre las noticias que dieron ‘unos Portugueses del Brazil, Seguido da. YS REVISTA DO INST. ARCH. E GEOGR, PERN, do seculo 17 (Add., 17,620). —Derrotero de Ja ciudad de 8. Pablo....ala villa de Cuyaba, 1764 (Add., 17,619.) —Caita de Juan de Zuniga, embajador de Carlos 5em Portugal al mismo emperador. Em Evora a 29 de dulho de 1524 (Add., 17,620). ‘frata-se de um individuo que se offerecia para descobrir certas minas do Brazil. . : —Peticion presentada en el consejo de Indias gl dno de 1543 por el capitan Francisco de Orella- na subre el descubrimento del Maranon y pareceres sobre ello, (Add, 17,620.) —Duas relagdes sobre a restauragio da Bahia e varias memorias sobre o Brazil. PRESTACAO DE CONTAS O Instituto me entregou as seguintes quantias para serem applicadas do modo que me foi recom- mendady nas minhas in vdes, isto &, para effe- etuar todas as despesas nio somente com a extrac: cio de cépias, sendo tambem com a acquisig&e de livros, mappas e gravuras. Dinheiro concedido pela provincia em virtude da lei provincial n° 1810 de 27 de Junho de 188+. Dinheiro do Instituto. . Rs.-— 7;000:000 + 154832000 $;480;:000 A1. destas quantias foi remettida pelo Insti- tuto av Sr. Pinto Leite Brother de Londres por intermedio do Sr. Francisco Gurgel do Amaral, sa- ARCH, EF GHOGR. PERN, 99 £ 243,15,0 © 321,17,6 cando este dnas letras uma de CoutitVder Ondo que prefazem o totalde . A 22 foi aqui conve: bras e produzio..... Gcconee 119,6,6 Posteriormente recebi- uma or- dem de trinta libras para as despesas da reproducgio das gvavuras de de Ct : £ 165,12,6 tida em li- £ 30;0,0 Total £714,18,6 Setecentos quatorse libras e alguns seltillings, vis todo o capital de que dispuz. Dos documentos que neste momento deposito sobre a mesa para serem examinados pelo Instituto, se vé que despendi somente 714 libras, compre- hendidas todas as despesase nada ficando a dever até a epocha em que regressei da Europa. Tlouve por eonsequencia um saldo de 400 libras afavor do Instituto, o qual seri applicado ac pa- gamento das cépias que deixei encommendadas 20 archivo de Haya. fssas 400 libras ficaram depositadas em maos do Sr. Pinto Leite Brother, como prova o recibo que tambem deixo sobre a mesa, e me habilitam a sacar sobre aquella firma para fazer pagar as cépias encommendadas & proporgéc ques ticarem prom - ptas e me forem remettidas. Releva declarar que, excepouada a importan- cia das minhas passagens, nao distrahi um ceitil do dinheiro, qne me foi confiado, para despesas com a minha pessoa. tS

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