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André Ramos Tavares Curso de pireito(ongtitueional 17% edigdo saraiva Digitalizada com CamScanner Capitulo LIII DO PODER JUDICIARIO 1 DEFINICOES PRELIMINARES 1.1. Funcées tipicas e atipicas Como todo Poder, também os érgios do Judiciério exercem fungées tipicas, inseridas no conceito de jurisdicdo, e funcdes atipicas, de ordem administrativa e normativa. A fungao tipica do Poder Judiciério é aquela para a qual foi conce- bido e estruturado. Nisso, mister se faz remontar 2 origem do préprio Direito. Como acentuava o Ministro MArio Guimares: “A funcdo de julgar ¢ tao antiga como a prépria sociedade. Em todo aglomerado huma- no, por primitivo que seja, 0 choque de paixdes e de interesses provoca desavengas que hao de ser dirimidas por alguém”'*®, A maxima segundo aqual é vedada a justiga privada tem como imperativo a destinacdo dos conflitos sociais ao Estado, que passa a contar com 0 monopdlio exclusi- vo de uso da forga (se necessaria for). No Estado, a tarefa incumbe, como se sabe, ao Poder Judicidrio. Assinala GERALDO DE ULHOA CinTRA que “Com 0 advento do Estado de direito e mesmo antes dele, no ado feu- dal e nas Reptiblicas grega ¢ romana, as inconveniéncias ¢ arbitrariedades da justiga privada mostraram que o poder constituido devia assumir, com total ou relativa exclusividade, a fungao de distribuir justiga, declarando € realizando o direito”'™*. Ainda com MArio Guimaraes, deve-se lembrar que “O poder de jul- &ar pertence & nagdo, que o exercita por meio de seus juizes. Chama-se a esse poder — jurisdicdio. A etimologia da palavra é expressiva: jurisdictio”™”, Assim, pode-se assinalar a existéncia de duas diretrizes bi iS nesta, seara, Em primeiro lugar, nao é dado a particular fazer justiga “com as eet stb) 1845.0 Juiz ¢ a Fungao Jurisdicional, p. 19. 1846. Da Jurisdigdo, p. 13-4. 1847. 0 Juiz'e a Fungo Jurisdicional, p. 53. 963 Digitalizada com CamScanner | Pr6prias maos”. Em segundo lugar, todo conflito pode ser levado ao Estado, que deverd soluciond-lo. Nesta tiltima diretriz, podem-se vislumbrar dya¢ ideias que so essenciais: A) o Estado ndo pode negar-se a apreciar e deg. dir 0 conflito social; e B) nenhum conflito social poder ser excluido (pre. viamente, por lei ou por qualquer outro ato) da apreciagio dos érgaos esta. tais competentes. Esta tiltima hipétese encontra-se expressa na Constituigo de 1988, em seu art. 5°, ao determinar: “XXXV — a lei nfo excluiré da aptéciacdo do Poder Judiciatio lesdo ou ameaga a direito”, 1.2. Jurisdiggo Do ponto de vista de sua fungiio tipica, 0 Poder Judiciério pode ser definido como o conjunto dos érgdos piiblicos que detém 0 exercicio da fungdo jurisdicional. A jurisdigdo é, exatamente, a atividade pela qual determinados érgios pronunciam-se, em cardter cogente, sobre a aplicagiio do Direito. Isso é rea- lizado, contudo, por meio da obediéncia a um procedimento previamente determinado, ao final e ao cabo do qual se alcanga uma decisao que € reves- tida do cardter da imutabilidade, vale dizer, faz coisa julgada entre as partes. A jurisdigao, pois, é uma atividade pela qual 0 Judicidrio substitui-se a vontade das partes, solucionando os conflitos de interesse que eventual- mente surjam no seio social. J4 a0 Supremo Tribunal cabe, precipuamente, a guarda da Constituicio, consoante 0 art. 102. 1.3. Conceito O Judiciario constitui um dos trés poderes reconhecidos expressamen- te pela Constituigao da Republica (art. 2°), sendo independente em relagao aos demais; a ele foi atribuida a tarefa de declarar 0 Direito e de julgar. No declarar o Direito deverd, preliminarmente, defender a Constitui- cdo, inclusive contra as leis editadas em desrespeito a ela. Ademais, tendo de promover sempre o respeito 4 Constituigdo, os Tribunais e juizes devem, quanto as leis, “adaptar 0 contetido de seus preceitos aos preceitos consti- tucionais”, como bem observa MariA LUISA BALAGUER CALLEION, ou Seja, admite-se “abrir o sistema de fontes & criagio judicial do Direito de tal modo que os enunciados legais nao serao apenas o que da literalidade de seus textos se possa deduzir mas também o que os Tribunais tenham interpreta- do que so como consequéncia de sua congruente inser¢do dentro do orde- 964 _ | Digitalizada com CamScanner yy ento constitucional”**, Declarar 9 Direito é medida a Constituicao, to € declaré-lo tendo como No julgar eet oferecer as solugdes para os conflitos de interesses ue Ihe Sao apresen 'ados e'para os quais é provocado i rs I nee eal a manifestar-se em Reconhece-se hoje, ademais, a0 Judiciatio a tarefa (poder) de controlar'*® os demais poderes do Estado, podendo-se falar, assim, de uma fungo de controle, inclusive a como pardmetro maximo’a Constituigo. Observa Oro BACHOF que tal “aumento da fungiio de controle significa um incre- mento acentuado do poder do juiz e, necessariamente, uma diminuigdo pro- porcional do poder do Legislativo e do Executivo, Esse fato € indiscutivel”™. just? 2, ORGANIZACAO E ASPECTOS GERAIS No sistema judiciario patrio, existem basicamente duas ordens judi- cidrias distintas. Quanto a esse aspecto, a estrutura do Judicidrio encontra-se calcada na forma federativa classica, que admite duas ordens de organizacées: a federal e a estadual. Assim, no campo judicial, tem-se a organizagao da Justiga federal e, paralelamente, da Justica estadual. Coexistem, portanto, duas estruturas: a justiga local (estadual) e a justiga federal. Trata-se de critério que se arrima na maior ou menor extensio da jurisdicio. ‘As competéncias da Justica federal, de regra, encontram-se previstas express e taxativamente, cabendo & Justica estadual a competéncia residual. A Justiga federal, por sua vez, pode ser comum ou especializada. Neste caso, tém-se a Justica do Trabalho, a Justiga Militar e a Justiga Eleitoral. Na Justia estadual, prevé-se apenas a possibilidade de Jus- tiga militar especializada. Em termos classificatérios, pode-se dizer que, tomando como critério © aspecto federativo, o Judiciério estrutura-se em dois dmbitos: federal & estadual. Tomando como critério a competéncia constitucionalmente atri- buida, tem-se o Judicidrio estruturado igualmente em dois Ambitos: 0 espe- cializado e o comum. Todos, como visto, entrelagam-se para formar a complexa estrutura estatal de Justia. i Quando se fala em Justiga estadual, isso nao significa que a jurisdigao, nesses casos, derive das leis estaduais. Toda a diviséo da Justiga tem origem —_ 1848. La interpretacién de la Constitucién por la 1849.54 Karl Loewenstein reconhecia a existnci 1850. Jueces y Consttucidn, p.27. a Jurisdiccién Ordinaria, p. 50, ta. ia de uma fungio estatal de controle. 965 Digitalizada com CamScanner encia sera da Justiga estadual, na Constituigdo Federal. Como regt@, a competénciaser a , salvo os casos em que a Consttuiga0 especificow a compet ncn eal 7 especializada. Para MARIO GuIMARAES, disso “S® int ean le ‘ordem pritica: na diivida, em caso de conflito, inter! ‘or da regra, e nao da excecao"'. Nao existe, no Brasil, 0 d to difundido na Franga. Ao Poder Judi sociais litigiosas, com forga de defini a i “instancias” administrativas nunciamento ou questionamento perante a5 1 trativas 4 ‘onstitucional, a esse respeito, foi acaso existentes. A tinica concessio 6 eee quanto & equivocadamente designada “Justiga” desportiva, instituida no Ambito administrativo. 7 aod De outra parte, nio existe no Brasil uma Justiga municipal que pudesse corresponder ao Ambito federativo das cidades. A Justiga local, portanto, é apenas aquela de émbito estadual. Passivel de critica, nese. ponto, a Constitui- gGo!®, porque poderia ter implementado a descentralizagao também da orga- nizagio judicidria do Pais, aproximando mais a Justiga do cidadao (muntcipe). Por fim, cumpre acentuar que existem Tribunais denominados de su- perposigiio, como o Superior Tribunal de Justiga ¢ © Supremo Tribunal Federal, que, com mais propriedade, devem ser denominados Tribunais nacionais. O Superior Tribunal de Justiga é a tiltima instancia do Judiciério em matéria de leis. O Supremo Tribunal Federal é 0 drgdo de etipula do Poder Judicidrio, decidindo em tiltima instancia sobre os litfgios intersubje- tivos, sendo o defensor da Constituicao. ‘Ao lado do STI, contudo, existem Tribunais nacionais especializados. £0 caso do Tribunal Superior Eleitoral, do Superior Tribunal Militar e do Tribunal Superior do Trabalho. Nao hé, pois, hierarquia recursal entre esses Tribunais. Embora se verifique uma mudanga na estrutura do Poder Judiciério com a Constituicao de 1988 (embora, ainda, com severas criticas quanto 20 STF), pode-se afirmar que houve sensivel reformulacdo quanto a suas com- peténcias, especialmente para admiti-las quanto aos interesses difusos ¢ coletivos. Como bem analisa o tema RosaLina Corréa DE ARatso: “Nes- te sentido, a Constituigdo de 1988 criou e consolidou instrumentos que lhe permitiram superar os modelos processuais classicos, destinados exclusi- vamente & protegdo dos direitos individuais isoladamente, ou em conjunto, encioso administrativo, mui- Judiciério caberd a solugdo das situacdes itividade, independentemente de pro- lenominado cont 1851. O Juiz ea Fungdo Jurisdicional, p. 68 1852, Nesse sentido posicionam-se Ney Morcira da Fonseca e Marco Falcdo Critsinelti ler Judietdrio Minicipal ea Aplicagdo Social da Penap.160e), at wa 966 Digitalizada com CamScanner

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