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Rodolfo Coutinho, o marxista que falava alemão (1901-1955): apontamentos biográficos

Ricardo Figueiredo de Castro ∗


RESUMO

Neste trabalho apresenta alguns apontamentos biográficos sobre o intelectual


pernambucano Rodolfo de Morais Coutinho. Filho de uma rica e tradicional família de
Nazaré da Mata, bacharel em Direito pela tradicional Faculdade de Direito do Recife e
um dos primeiros intelectuais marxistas a aderir ao Partido Comunista brasileiro
participou do mais qualificado grupo de intelectuais comunistas que nos primeiros anos
da década de 30 ainda militava no PCB, ou nele pretendia militar, mesmo depois do
processo de expulsão ou submissão dos intelectuais, chamado de “proletarização”.
Rodolfo Coutinho foi do céu ao inferno em menos de uma década na memória oficial do
PCB: de membro destacado do grupo dirigente dos anos 20 a um dos responsáveis pela
“cisão de 1928” e pelo surgimento do “trotskismo” no Brasil.

ABSTRACT

This paper presents some biographical notes on the intellectual Rodolfo de Morais
Coutinho. Son of a wealthy and traditional family from Nazareth da Mata (Pernambuco),
graduated in law from the traditional Law School of Recife and an early Marxist
intellectual to join the Communist Party of Brazil (PCB) participated in the most
qualified group of Communist intellectuals in the early years of the 30s. Rodolfo
Coutinho, as it is known, was from heaven to hell in less than a decade in the official
memory of PCB: from a prominent member of the ruling group of the '20s and the one
responsible for winning the recognition of the party by the Comintern, to the one
responsible for the "Division of 1928" and the emergence of "Trotskyism" in Brazil.

PALAVRAS-CHAVE
Intelectuais – marxismo - Rodolfo Coutinho
Intellectuals – marxism – Rodolfo Coutinho


Professor de História Contemporânea no Departamento de História da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutor em História Social pela Universidade Federal
Fluminense (UFF).
Neste trabalho, apresento alguns apontamentos da pesquisa que empreendo no momento
sobre um dos mais qualificados intelectuais brasileiros da geração nascida na primeira
década do século XX: Rodolpho de Morais Coutinho, mais conhecido como Rodolfo
Coutinho.

Esta pesquisa insere-se na perspectiva da história política, da história dos intelectuais e da


esquerda brasileira. O estudo da trajetória de Rodolfo Coutinho contribui para enriquecer
o quadro mais amplo do processo de construção do espaço político dos intelectuais de
esquerda.

No início dos anos 90 quando elaborei minha dissertação de mestrado sobre as origens do
movimento trotskista no Brasil fiquei impressionado com o grupo de jovens intelectuais
que dele participou. Diferentemente dos outros principais líderes, Mário Pedrosa e Lívio
Xavier, não existiam disponíveis maiores informações biográficas sobre Rodolfo e elas
não existiam para além dos primeiros anos da década de 30. Era como se Rodolfo tivesse
desaparecido.

Fiquei ainda mais curioso quando no final dos anos 90, durante minhas pesquisas de
doutorado, descobri seu prontuário no Fundo das Polícias Políticas do Arquivo Público
do Estado do Rio de Janeiro. Nele não havia muitas informações. Mas existiam dois
bilhetes que ele havia escrito a seus “carcereiros-chefe” durante a sua prisão arbitrária no
período imediatamente posterior ao Levante Comunista de 1935. Estes bilhetes
demonstram a sua contida revolta com a prisão injustificada e sua preocupação com o
sustento de sua família, que dependia dos seus parcos rendimentos de professor.

Essas poucas fontes me chamaram a atenção para as condições nas quais vivia e
trabalhava um intelectual marxista brasileiro em meados do século XX, que viveu num
conturbado período da história política brasileira no qual os intelectuais foram um ator
político relevante na sociedade brasileira.
Esse pernambucano participou do mais qualificado grupo de intelectuais comunistas que
nos primeiros anos da década de 30 ainda militava no PCB, ou nele pretendia atuar,
mesmo depois do processo de expulsão ou submissão dos intelectuais, chamado de

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“proletarização”. Rodolfo Coutinho foi do céu ao inferno em menos de uma década na
“memória oficial” do PCB: de membro destacado do grupo dirigente dos anos 20 e um
dos responsáveis pela conquista do reconhecimento do PCB pelo Comintern, a um dos
responsáveis pela “cisão de 1928” e pelo surgimento do “trotskismo” no Brasil. Sua
importância história só foi parcialmente resgatada pela historiografia acadêmica da
esquerda brasileira, especialmente pelos primeiros trabalhos sobre as origens do
movimento trotskista brasileiro.

A vida de Rodolfo Coutinho é, assim, exemplo dos meandros da construção da memória,


tanto a individual quanto a coletiva. Tão importante quanto o que e quem é lembrado,
também é relevante aquilo e aqueles que são esquecidos. Igualmente fundamental na
construção da memória é quem realiza o processo de recordar, quem cria os nexos
factuais e afetivos que ligam uma pessoa a um evento e estes a um processo histórico
qualquer. A memória do movimento comunista no Brasil é precária e fragmentada.
Muitos eventos e militantes praticamente desapareceram da memória política brasileira.
Parte importante da memória individual dos antigos militantes não chegou a se
transformar em memória coletiva. Muito dessa memória se perdeu e muito resta
preservada apenas nos livros de memórias, nos depoimentos, nas biografias e na
historiografia.
A conturbada história política brasileira é certamente uma das responsáveis por esse
processo de destruição de parte da memória das esquerdas, dos seus atores, sejam eles
organizações políticas, líderes sindicais, dirigentes partidários, intelectuais etc. A
ilegalidade do PCB, ao longo da maior parte de sua história, impedia sua atuação livre e
legal e, assim, diminuía sua visibilidade como organização no espaço público. Além
disso, a repressão política que confiscava documentos do partido, empastelava seus
jornais, prendia e condenava seus militantes e confiscava seus escritos, livros etc. tornava
praticamente impossível a manutenção dos arquivos partidários, tanto nacionais, quanto
locais. Finalmente, mas não menos importante, o anticomunismo que existia desde os
anos 20, amplifica-se depois do fracassado Levante Comunista de 1935, transforma-se
em verdadeira histeria coletiva das elites dirigentes durante a Guerra Fria, legitimando a

3
cassação do registro do PCB, após a breve legalidade de 1946 e pondo fim ao breve
período do “partido de massas” então formado. Ainda assim, o partido participou
ativamente da política brasileira no período do breve período de legalidade constitucional
de 1946 a 1964, através de seus jornais diários, da sua atuação nos sindicatos rurais e
urbanos e nas lutas políticas da época, como a Campanha do Petróleo.
A memória coletiva dos comunistas começou a ser resgatada e preservada apenas no
início da década de 60, quando Astrojildo Pereira (1962) e Agildo Barata (1978) lançam
seus respectivos relatos sobre a história do partido. Entretanto, o golpe militar de 1964 e
o período ditatorial que se seguiu aumentaram a perseguição aos comunistas e o
anticomunismo se radicalizou. Um dos poucos arquivos pessoais de comunistas, o de
Astrojildo, teve que ser secretamente retirado do Brasil e enviado à Itália, para não ser
destruído pela repressão instaurada pelos militares.
Apenas na segunda metade dos anos 70 e nos anos 80, com o fortalecimento da sociedade
civil brasileira frente à ditadura militar e o início do processo de redemocratização,
começa a ser retomada a edição dos livros de memórias de militantes que atuaram no
partido desde os anos 20, período em que Rodolfo Coutinho iniciou a militância no PCB.
Nos anos 90, começa a surgir também uma série de textos, memorialísticos e
historiográficos, que buscam recordar e estudar a história dos comunistas nos anos 30
tendo como foco principal os vencidos, os “oposicionistas de esquerdas”, isto é, “os
trotskistas”.
Assim, a memória coletiva sobre Rodolfo Coutinho é como que um vidro translúcido,
sujo em ambos os lados por grossa camada de fuligem. A primeira camada seria causada
pela violenta luta política e ideológica ensejada pelo anticomunismo contra os comunistas
brasileiros. A segunda camada seria consequência da violenta disputa em torno da disputa
entre “stalinistas” e “trotskistas” pela direção do partido nos anos 30, decidida em favor
dos primeiros. Esses elementos criaram as balizas a partir das quais a historiografia dos
intelectuais brasileiros e das esquerdas brasileiras definiu o relato da vida política e
intelectual de Rodolfo Coutinho.

4
No início de 2009 descobri ao acaso na Internet uma entrevista de Evaristo de Moraes
Filho que me forneceu novas informações sobre Rodolfo Coutinho, e redefiniu a forma
como procuraria mais informações sobre ele. Neste depoimento Evaristo recorda-se com
admiração do seu professor de alemão e menciona que Rodolfo morrera tragicamente em
meados dos anos 50. Encontrei então artigo de sua autoria (MORAES, p. 51) no qual ele
descreve Rodolfo como ”lobo da estepe”, devido ao seu temperamento “tímido”, pois
vivia “somente para sua família e a alguns poucos amigos”.
Esta descoberta me incentivou a me concentrar na Internet. Iniciei então uma busca geral.
Usando um buscador (Google) vasculhei toda e qualquer informação disponível na rede
mundial sobre Rodolfo. Não encontrei nenhuma foto, nenhum verbete biográfico na
Wikipedia, mas fiz duas importantes descobertas.
Em primeiro lugar, encontrei vários livros 1 que citavam Rodolfo. Além daqueles que eu
já conhecia, descobri livros de memória que o citava como um membro de uma ilustre
família de Nazaré da Mata ou como jovem estudante universitário ou ainda, citavam as
traduções que ele realizou no início dos anos 40.
Em segundo lugar, encontrei através da Internet um sobrinho-neto de Rodolfo, Hélio, que
me forneceu uma informação que há tempos eu perseguia: o endereço de sua única filha,
Vera, com o qual realizei uma proveitosa entrevista. E, finalmente, descobri um site da
Internet que disponibiliza o acesso a pesquisa on-line ao Diário Oficial da União (DOU).
Pesquisando neste site descobri relevantes informações sobre a vida profissional de
Rodolfo como professor. As informações biográficas que apresentarei a seguir foram
obtidas destas novas fontes e bibliografia.
Rodolpho de Morais Coutinho nasceu em 17 de agosto de 1901 no município de Nazaré
da Mata, mais precisamente no Engenho Lagoa D´Antas, um dos três engenhos de seu
pai, o “coronel” Alfredo de Morais Coutinho. Este era proprietário também de um
comércio de açúcar na cidade e exercia informalmente a medicina, ainda que não tenha

1 Utilizei o recurso “Google livros” que faz uma busca em todos os livros já
escaneados e disponibilizado nos seus servidores. Alguns destes livros estão listados na
bibliografia.

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concluído os estudos universitários na Bahia. Rodolfo e seus irmãos são exemplo cabal
de como a decadente oligarquia do açúcar, ainda conseguia fornecer educação
universitária aos seus filhos: Rodolfo e Nelson eram bacharéis em Direito e Alcedo e
Alfredo eram bacharéis em Medicina.
Com apenas dezenove anos Rodolfo bacharelou-se na tradicional Faculdade de Direito do
Recife. Sylvio Rabello (1979, p. 122) afirma que ele era um dos mais sérios e estudiosos
alunos de sua turma e Paulo Cavalcanti (1982, p. 140) opina que ele e seu primo José
Cordeiro, irmão de Cristiano Cordeiro, lideravam “as forças de esquerda no campo das
especulações filosóficas” (...) “expoentes de uma geração de pioneiros das ideias
maximalistas”. Em 1919, organizou junto ao seu outro primo, Cristiano Cordeiro, o
Grupo de Estudos Marxistas do Recife. Logo depois, participaram em 1922 do processo
de fundação do Partido Comunista no Rio de Janeiro e em Niterói. Cristiano tornou-e
então membro titular da Comissão Central Executiva (CCE), e Rodolfo membro suplente.
Astrojildo (1962, p. 74) afirma que o “então jovem estudante pernambucano, deve ser
lembrado entre os primeiros intelectuais que ingressaram no Partido.”
Ainda neste ano publica o artigo “O dever revolucionário” que trata da educação,
antecipando certamente seu futuro interesse profissional. Ghiraldelli Júnior (1987, p.
153), sobre este texto, afirma que “Rodolfo Coutinho, escrevendo na revista Movimento
Comunista, começava a delinear a concepção de educação que acabaria por nortear a
ação do Partido durante boa parte dos anos 20.
Logo depois ele é enviado à União Soviética para participar como delegado do V
Congresso do Comintern (17/06 a 08/07/1924) com o objetivo de conseguir a aceitação
do PCB nos quadros da organização. Foi colega de quarto de Ho Chi-min a quem teria
ensinado português. De lá viajou à Alemanha com o objetivo de estudar. Matricula-se na
2
Humboldt-Universität zu Berlin em 18 de novembro de 1924 e lá estuda por três
3
semestres . Em cartas endereçadas a Astrojildo (DEL ROIO, p. 125-146), demonstrava

2 À época chamava-se Friedrich-Wilhelms Universität.


3 Um semestre de inverno (1924-1925), um semestre de verão (1925) e um
semestre de inverno (1925-1926). Sua matrícula encerra-se em 12 de julho de 1926. Ou
seja, permanece matriculado nesta universidade por aproximadamente 19 meses.
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sua insatisfação com o curso: “Estou matriculado na Universidade, que na minha
especialidade nada oferece de interesse”. Ao longo das cartas ele sugere que esse
interesse seja a “questão agrária”. Escolhe então estudar um tema mais geral que pode
servir de base teórica para seus estudos posteriores: “Este contato a que sou obrigado com
as sumidades [“os professores burgueses”] da Nationalökonomie de Berlim terá as
melhores consequências”. O curso que ele efetivamente frequentava na Faculdade de
Filosofia era Economia Política (Nationalökonomie) que, no entanto, aparentemente não
tinha o enfoque que ele desejava. Ainda na Alemanha pensava na possibilidade de
conseguir uma vaga em alguma faculdade de Direito, pois solicita a Astrojildo que “se
abrir concurso em Rio ou em São Paulo para catedrático de direito constitucional, peço
avisar-me telegraficamente mesmo antes da publicação do edital”.
Em 1927 retorna ao Brasil, casado com uma jovem alemã, Wilhelmine Graske, e retoma
sua participação na direção nacional do Partido. Ainda este ano, inicia o processo que
redundará em seu rompimento com o partido. Em reunião da CCE em que se discutiu a
possibilidade de contatar o jovem líder tenentista Luís Carlos Prestes, Coutinho votou
contra a decisão, seguido pelo voto de abstenção de João da Costa Pimenta. É
interessante que ambos participariam, no ano seguinte, da primeira importante cisão
coletiva no partido, a “Cisão de 1928”.
A conjuntura de 1928-1934 abarca no âmbito do movimento comunista brasileiro um
período de importantes mudanças: o fim do grupo dirigente dos anos 20, articulado em
torno de Astrojildo Pereira e Octávio Brandão; o surgimento de um grupo dirigente
alternativo liderado por Mário Pedrosa, Lívio Xavier e Rodolfo; a intensa instabilidade na
direção nacional; a derrota política e organizacional deste grupo e sua saída do partido
devido ao obreirismo vigente no partido e à sua filiação política “a “Oposição de
Esquerda” internacional, isto é, ao nascente “trotskismo”. O vácuo político e organizativo
no PCB daí decorrente foi ocupado posteriormente por uma nova direção articulada em
torno de Prestes e com o apoio do Comintern.
Na primeira metade dos anos 30 Coutinho participa da organização da seção carioca da
Oposição de Esquerda, embora não existam informações claras de sua atuação quando da

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fundação da Liga Comunista Internacionalista, quando os autodenominados
“bolcheviques-leninistas” desistem de reformar o PCB e partem para o desafio de criar
uma organização comunista independente.
O que já está claro sobre a atuação pública de Coutinho é que ele participou ativamente
da organização sindical dos professores cariocas, pois se tornou membro fundador do
Sindicato dos Professores 4 e seu primeiro presidente em 1931. Esta participação na vida
sindical perdurou pelo menos até 1935 quando foi preso em finais de novembro, durante
o processo de repressão ao Levante Comunista. Nesta ocasião trabalhava em três escolas
privadas.
Miceli (2001, p. 76) ao estudar “as relações entre os intelectuais e a classe dirigente no
Brasil e das estratégias de que lançaram mão para se alçarem às posições criadas nos
setores público e privado do mercado de postos entre 1920 e 1945”, apresenta três setores
como os principais em que concorriam os intelectuais. Rodolfo disputou posições em
dois destes setores: o mercado editorial e o serviço público. Ele possivelmente
considerava que a sua militância partidária e sindical e a prisão em 1935 poderia
prejudicar estas disputas, pois em todas as referências que encontrei sobre ele após 1935
ele assinava apenas Rodolfo Coutinho, e não seu nome completo.
Em abril de 1938 ele inscreveu-se no concurso público para professor no Colégio
Universitário da Universidade do Brasil. (DOU, 23/04/38) No mês seguinte é publicada
as notas dos candidatos, e Rodolfo obtêm o 9o lugar em “Economia e Estatística” (DOU,
16/05/38) Aparentemente ele não obteve sucesso nesse concurso. Ainda não entendi
exatamente a natureza deste concurso, pois não há maiores detalhes no DOU sobre ele.
Em 22 de abril de 1939 o DOU publica o contrato anual de professor horista de Francês
do Colégio Pedro II (Internato). Esse contrato foi renovado em 1940, mas apenas para o
período entre abril e dezembro. Ou seja, esses contratos eram precários e não garantiam
nenhuma estabilidade profissional.

4 Este sindicato existe até hoje com o nome de SinproRio (Sindicato dos
Professores do Município do Rio de Janeiro e Região) e localiza-se na Rua Pedro Lessa,
35, Centro.
8
Aparentemente a situação profissional de Rodolfo no Pedro II melhora, pois em 26 de
fevereiro de 1941 o DOU publica contrato de professor para o período de 1o de janeiro a
31 de dezembro. No ano seguinte, em 2 de junho de 1942 o DOU informa que ele era
Professor Auxiliar XV de Francês e ministrava 7 horas aulas semanais.
Não encontramos, por enquanto, nenhuma referência no DOU entre os anos de 1943 e
1948. Mas em 1949 consegue registro definitivo de Professor de “História Geral e
História do Brasil do 2o ciclo” junto ao Ministério da Educação (DOU, 22/08/49). E em 7
de novembro de 1950 o DOU o apresenta como Professor Adjunto do Pedro II que, como
“extra-numerário”, era então enquadrado nos termos do artigo 23 da Constituição como
categoria “XVIII” 5. Ou seja, ele trabalhava ininterruptamente como há mais de cinco
anos, isto é, pelo menos desde 1945 e, o principal, passou neste momento a ter direito
estabilidade, entre outros direitos.
Apesar de não termos nenhum DOU para o período entre 1943 e 1944 é provável que ele
também trabalhasse então no Colégio Pedro II. Não temos ainda maiores informações
também sobre o período entre 1951 e 1955, ano de sua morte. Sabemos apenas que ele
estava de licença médica desde o ano anterior. Não há nenhuma indicação sobre a partir
de quando ele tornou-se professor de História Geral no Pedro II, mas é certo que
lecionava esta disciplina quando se licenciou em 1954. Era assim também como ele é
citado no jornal O Globo (03/08/55: 6) quando do seu enterro e como é lembrado por
Segismundo (1991, p. 189).
Além da atividade profissional no serviço público, como professor do prestigiado Colégio
Pedro II, ele também se aventurou no mercado editorial.

5 Constituição de 1946, Art 23 - “[...] e os atuais [funcionários] extra-numerários que


exerçam função de caráter permanente há mais de cinco anos ou em virtude de
concurso ou prova de habilitação serão equiparados aos funcionários, para efeito de
estabilidade, aposentadoria, licença, disponibilidade e férias.” Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui%C3%A7ao46.htm
Acessado em 14 de junho de 2010.

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Desde os anos 20, ainda na Alemanha ele se dedicava ao ofício de tradutor. Não temos
informações sobre outros trabalhos até o início dos anos 40, quando realizou importante
trabalho de tradução de obras de conteúdo histórico.
Entre 1941 e 1942 publicou em dois tomos pela Editora Leuzinger, em edição
patrocinada pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), a obra enciclopédia do alemão
Edmund Oskar von Lippmann “História do açúcar: desde a época mais remota até o
começo da fabricação do açúcar de beterraba”. Esse trabalho demonstra que Rodolfo
tinha prestígio intelectual para levar a cabo tão complexa e trabalhosa empreitada, posto
que a obra além de ser extensa, tinha centenas de notas de rodapé em várias línguas.
Neste trabalho Rodolfo demonstra a sua capacidade de disputar posições
simultaneamente no mercado editorial e no serviço público.
Neste período traduz ainda três outras obras: Bizâncio: apogeu e declínio do historiador
francês Charles Diehl, pela EPASA (Editora Pan-Americana S.A.), o livro de Manuel T. A
Nogueira sobre Villegagnon também pela EPASA (em 1944) e o artigo “Geografia
cultural do Brasil” de B. Brandt publicado no Boletim Geográfico (nos 16-23) do
Conselho Nacional de Geografia. Rio de Janeiro em 1945. Na EPASA, neste período,
dirigiu também a coleção “Biblioteca Brasileira de Cultura”.
A sua morte precoce ocorrida em 1º de agosto de 1955 na cidade do Rio de Janeiro
impediu que ele levasse a cabo seu projeto de escrever uma “história da Indústria no
Brasil” e de ter sua vida intelectual e política devidamente enquadrada na memória
coletiva da esquerda brasileira.

BIBLIOGRAFIA

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