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SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Tratado de Metodologia Cientifica Projetos de Pesquisas, TGI, TCC, Monografias, Dissertacgées e Teses S&S EDITORA PIONEIRA Sao Paulo Editoragao Eletrénica Segmento & Co. Produgées Graficas Ltda. Capa Mariana Guazzelli Revisdo Maria Aparecida Bessana Nenhuma parte deste livro podera ser reproduzida sejam quais forem os meios empregados sem a permissao, por escrito, da Editora. Aos infratores se aplicam as sangées previstas nos artigos 122 e 130 da Lei n° 5.988 de 14 de dezembro de 1973. © Copyright 1997 ‘Todos 0s direitos reservados por ENIO MATHEUS GUAZZELLI & CIA. LTDA. 02515-050 — Praga Dirceu de Lima, 313 Telefone: (011) 858-3199 — Fax: (011) 858-0443 — Sao Paulo — SP e-mail: pioneira@ virtual-net.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil Agradecimentos m grande ntimero de pessoas me incentivou e ajudou a escrever este livro. Algumas contribuiram com material, outras, com pesquisas, outras, com opinides e observacées. Elas sao: editores, profissionais, pesquisadores, profes- sores e cientistas. Eu gostaria de tomar alguns minutos do seu tempo para agradecer a essas pessoas pelo nome e reconhecer a ajuda que elas nos deram. Roberto Guazzelli, Adriana Mauro, Laércio Bento e Maria Aparecida Bessana da Editora Pioneira. Fredric Michael Litto e Marisa Canton da Escola do Futuro da USP. Edmar José Kiehl, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP. Ubirata A. Moreira de Aratijo, Rita Amorim, Francisco Gentil e Antonio Andrade da Faculdade Anhembi Morumbi. José Antonio Daniello e Miguel de Abreu Rocha, do Instituto Metodista de Ensino Superior. Hermann Z. Jeller, da Nasa. Cido Erico Roesler, Osvaldo Elias Farah, Reinaldo C. Marcondes, Oacyt Pizzotti Minervino, Francisco Berchielli, Mauro Neves Garcia e Heloisa Maria K. N. Roesler, da P6és-Graduagao da Universidade Mackenzie. Maria Aparecida Pascal, Carlos Roberto Faccina, Ibsen Adao Ternani, Manoel Candido Tomé, Wilson Gorgatti e Ana Maria Tomé, da Graduagio da Universidade Mackenzie. Joseph A. Robustelli, Gordon]. Simpson, Beccky Reid, Jim Fortes, Fred Pragasam, da State University of New York. Ana Maria N. Oliveira, Ana Cristina da Conceigao, Maria do Nascimento, Dulcemara Gomes da Silva, Maria A. Monteiro, da Universidade Aberta do Brasil Francois Jacob, biélogo francés e Prémio Nobel de 1965. Marlene Oliveira Francelino e Umberto Elias Sertério, do Aristocrata. vil SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Dilsa Maria de Jesus, da FUNDAPE Paulo Domingues e Luiz Fernando Marques Maia da Faculdade de Direito de S.B. do Campo. Erhard Vollmann, Julia Vollmann, Traute Schéllmann e Walter Keslerr da Fach- hochschule Miinchen, Alemanha. Oswaldo Mutter, Paulo Mutter, Sergio Aluisio Torres, Luis Carlos Mattion, José Luiz Palumbo, Celso Benedito Sertério, Silvio S. Soares, e Antonio Gaspar Corréa, do Obsert6rio de Pesquisas Espaciais de Peruibe. Juichi Nagano do Forum ISO 9000 em Genebra. Gleen J. Doell, Prémio Nobel de Fisica e Diretor do Incubator Center Rensselaer Polytechnic Institute — USA. Sonia Maria Camargo dos Santos, Vera Lticia Pereira dos Santos e Luiz Carlos de Freitas da Universidade de Ribeirao Preto - UNAERP. Vera Lticia Benedito, da Michigan University. Osmar Ruiz e Mirtis Reis, da Méthodus. Luiz. Licco Netto e Aureliano Silvio Laurindo, das Faculdades Metropolitanas Unidas. Maria Aparecida Gaia de Oliveira, Marcelo Gaia de Oliveira, Janice Fatima Gaia de Oliveira, Mercedes Silva Mello, Alessandra Aparecida de Oliveira e Maria José de Oliveira, meus familiares. E vocé leitor, fruidor deste trabalho O “"Tratado de Metodologia Cientifica” é uma obra aberta e quer contar com a sua colaboracao na préxima edicao. Envie para a Editora Pioneira, em nome do editor, as suas anotagGes e sugestées. Obrigado. ‘azer ciéncia & fascinante porque trabalha-se com a pureza que é a verdade. Com ela, pode-se descobrir e construir coisas maravithosas, cujo beneficidrio é 0 proprio homem. As coisas da natureza, do universo e de outros mundos so grandiosas demais para a ciéncia encontrar respostas e explicagdes para tudo. E, entio, é tempo de se encontrar um novo método para se conversar com o seu Criador. Deus. Silvio Luiz de Oliveira Pensamento ete coisas distinguem 0 sdbio do ignorante: O sdbio nao fala em presenga de quem o ultrapasse em ciéncia ou em idade; Nunca interrompe quem fala; Nao responde nunca com precipitagiio; Interrompe com método e responde com precisio; Discute as questdes segundo a ordem por que foram postas; Quando nao compreende uma coisa confessa este fato com franqueza, e curva-se ante a verdade. O ignorante faz precisamente o contririo. Piquet Avot Sumario APRESENTAGAO PRIMEIRA PARTE I. GENERALIDADES 1. Tecnologia 1.1 COG, Quase um Humanéide 1.2. Tecnologia e Corporagao Virtual 1.3 Internet, um dos Maiores Desafios da Tecnologia 13.1 Hist6rico da Rede 1.3.2 Como Funciona 13.3 Servicos 13.4 Glossario 135 E-Mail de Bibliotecas Ptiblicas 13.6 Indices das Maiores Bibliotecas do Mundo 13.7 Os Templos do Saber Ficcdo: Realidade ou Utopia 2.1 Ficcdo Cientifica 2.1.1 Antecedentes e Precursores 2.1.2 Desenvolvimentos Ulteriores 2.1.3 Relago entre Ficgao Cientifica e Ciéncia Os Paradigmas da Ciéncia 3.1 Geofisica 3.2. O Encontro da Fisica e da Biologia 3.3. A Fisica Precisa de Experiéncias 3.4 Ameacas de Catéstrofe 3.5 Neurociéncia XIV SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA SEGUNDA PARTE II. METODOLOGIA CIENTIFICA 4. Estudando a Ciéncia 41 4.2 43 44 45 Componentes da Ciéncia Aspectos Légicos da Ciéncia Classificacao das Ciéncias e Ramos de Estudos A Teoria do Conhecimento 44.1 O Empirismo 44.2 A Razao 443 A Intuicio A Divisa#o da Teoria do Conhecimento 5. O Método 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 Método e Técnica Método Indutivo 5.2.1 Indugao Formal 5.2.2 Indugao Cientifica ou Amplificadora Método Dedutivo Método Cartesiano Outros Métodos e suas Aplicagées Método Dialético 5.6.1 Leis da Dialética 6. A Natureza do Conhecimento 6.1 Formas de Conhecimento Racional 6.1.1 Conceito 61.2 Juizo 6.1.3 Como Devem ser as Hipéteses e Varidveis 6.1.3.1 Argumento 6.13.2 Argumentos por Deducaéo 6.1.3.3 Argumentos Causais e Falacias Causais 6.1.3.4 Dilema 6.1.3.5 Deducao 6.13.6 — Varidveis 6.1.3.7 Relacdo Causal entre Varidveis Independentes e Dependentes 6.13.8 Problematica e Delimitagao 6.1.3.9 Elementos Causais que Ligam ou Conectam a Hipétese e Varidveis como Resposta ao Tema, Problema e Problematica 6.14 Raciocinio por Analogia, Hipoteses e Varidveis 7. Cronologia do Conhecimento 8. A Verdade 8.1 Verdade e Autoridade TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA TERCEIRA PARTE Il. METODOLOGIA DA PESQUISA 9. Fazendo a Ciéncia 91 9.2 9.3 95 9.6 9.7 9.9 9.10 O Tema O Problema 9.2.1 Procedimentos para Avaliar o Problema 9.2.2 Formulagao do Problema Hipétese Metodologia da Pesquisa 9.4.1 — Estudo Descritivo 9.4.2 Abordagem Quantitativa 94.3 Abordagem Qualitativa Técnicas de Pesquisa e Estudos de Casos 95.1 A Pesquisa 9.5.2 Finalidade da Pesquisa 95.3 Tipos de Pesquisas 95.4 Pesquisa Bibliografica 954.1 Resenha Bibliografica 955 O Roteiro 95.6 Fases da Pesquisa e Levantamento Bibliografico Objetivos da Pesquisa 9.6.1 Pesquisa Tedrica 9.6.2 Pesquisa Aplicada 9.6.3 Pesquisa de Campo 9.64 Pesquisa de Motivacao e Atitudes 9.6.5 Pesquisa de Opiniao 9.6.6 Pesquisa de Motivacao 9.6.7 Pesquisa Sobre Propaganda 9.6.8 Pesquisa de Produto 4 9.6.9 Pesquisa Sobre Vendas 9.6.10 Pesquisa de Mercado 9.6.11 Pesquisa Exploratéria 9.6.12 Pesquisa Operacional O Uso do Método Planejamento da Pesquisa 98.1 Formacao de Equipes Levantamento de Recursos e Cronograma de Atividades Fases da Pesquisa 9.10.1 Levantamento de Dados 9.10.2 Formulagao do Problema 9.10.3 Definicéo dos Conceitos XV 103 105 105 106 107 112 114 114 115 116 AL7, 117 118 118 119 120 122 122 123 123 123 124 124 125 125 127 128 128 128 134 135 144 145 147 149 153 153 155 XVI SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA 9.11 Hipétese 155 9.11.1 A Inexisténcia de Regras para a Formulacéo de Hipoteses 156 9.12 Coleta do Material 156 9.12.1 © Material da Pesquisa 157 9.122 Apontamentos e Fichamentos 157 9.12.3 Obtengao de Informagdes 158 9.124 Notas Bibliograficas 159 9.13 Amostra e Universo 159 9.13.1 Aspectos Conceituais de Universo e Amostra 160 9.14 Requisitos de um Entrevistador 161 9.14.1 A Entrevista — Como Perguntar/Como Obter Respostas 162 9.15 Execugio da Pesquisa 163 9.15.1 Selecdo dos Métodos e Técnicas 163 9.15.2 Organizacao do Instrumental da Pesquisa 163 9.15.3 © Critério ABIPEME 163 9.15.4 O Questionério (Pré-Teste e Teste) 165 9.155 A Organizacao do Material da Pesquisa 181 9.15.6 Testes de Instrumentos e Aplicacao 181 9.157 Coleta de Dados 182 9.15.8 Elaboragdo dos Dados 183 9.15.9 Anilise e Interpretagao dos Dados 184 9.15.10 Contagem Mecanica ou Leitura Optica 186 9.15.11 Contagem Eletrénica 187 9.15.12 Distribuicdo de Freqiiéncias 187 9.15.13 Classes de Valores 189 9.15.14 Redugao dos Dados 190 9.15.15 Medidas de Posicio 193 9.15.16 Comparagao de Freqiiéncias 216 9.15.17 Percentagem 219 9.15.18 Taxas 224 9.15.19 Apresentacio dos Dados 226 QUARTA PARTE IV. METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTIFICO 233 10. Escrevendo a Ciéncia 235 10.1 Monografias, Dissertagdes e Teses 235 10.1.1 Conceito 235 10.1.2 Caracteristicas 237 10.2 Planejamento de Monografias, Dissertacées e Teses 238 10.3 Estrutura das Monografias, Dissertacdes e Teses 239 103.1 Elementos do Pré-Texto 239 10.3.2 Elementos do Texto (Projetos) 242 10.3.3 10.3.4 10.3.5 10.3.6 10.3.7 10.3.8 10.3.9 10.3.10 10.3.11 TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA Elementos do Pés-Texto (Bibliografia e Referéncias Bibliograficas) Apresentacao de Dados Complementares Apresentacio Grafica 1035.1 Papel 10.3.5.2 Digitagao 10.3.5.3. Margem e Espacejamento 10.354 Paginacao 1035.5 Reprodugao e Encadernacio 10.3.5.6 Modelo para Apresentagéo dos Volumes de Monografias, Dissertagdes e Teses 10.3.5.7 Modelos de Capas 1035.8 Folha de Rosto de Tese 10.3.5.9 Folha de Rosto de Projeto de Tese de Doutoramento 10.3.5.10 Elementos Basicos para Apresentacao dos Projetos de Monografias, Dissertaces e Teses, para Exames de Qualificagao 10.35.11 Ficha Catalografica de Dissertagao de Mestrado 10.35.12 Ficha Catalografica de Tese de Doutoramento Fontes Documentais: Reviso da Literatura Indices e Sumario Referéncias Bibliograficas: Orientaco Basica Notas de Rodapé Normas Gerais para a Defesa de Dissertagdes e Teses Normas ISO para a Publicagao de Abstracts e Documentos no Exterior, Aprovados pelos Membros do Comité do qual o Brasil é Signatario Referéncia Bibliografica Indice Remissivo 244 246 251 252 252 252 254 254 255 256 259 264 264 264 266 271 280 285 286 313 317 Apresentacao A Metodologia estuda os meios ou métodos de investigacdo do pensamento cgrretg e do pensamento verdadeiro, e procura estabelecer a diferenca entre o que é verdadeiro e 0 que nao é, entre o que é real e 0 que é ficcao. Neste livro, abrimos quatro segdes para facilitar a exposicao da Metodologia como parte da Ciéncia. Na Parte I- GENERALIDADES, procuramos mostrar a Tecnologia como sendo a aplicacao pratica da Ciéncia, uma atividade milenar dos esforcos hu- manos para melhorar o seu desempenho no dia-a-dia. Procuramos estabelecer a diferenca entre Tecnologia e Ciéncia, para podermos compreender melhor os resultados de cada uma e seus avancos extraordinarios. Conheceremos as dificuldades das Missdes Espaciais para Marte. Conhe- ceremos 0 COG, O HUMANOIDE que esta sendo projetado nos laboratérios do MIT, nos Estados Unidos, para conviver conosco no séc. XXI. E um robé que pensara, terd sentimentos, esta sendo projetado para-sentir-se feliz, triste, ter dores e nos amar, a exemplo da dupla de robés R2-D2 e C-3PQ de Guerra nas estrelas. A parte de Ficgéo Cientifica também nao ficou de lado; cuidamos de mostrar até que ponto o imagindrio humano se confunde com a realidade e com a ficcéo nas suas fascinantes aventuras e obras criativas. Temos ainda nesta parte a INTERNET, o atual monstro sagrado da tec- nologia que iré globalizar a todos: pessoas, servicos, empresas, negécios. Con- versaremos com as pessoas sem sair de casa, por intermédio do nosso micro. Trocaremos informagdes e amaremos pessoas que jamais veremos por estarem em pontos longinquos da Terra. Além de dizermos 0 que é a INTERNET, fizemos uma intensa pesquisa separamos para vocé as maiores bibliotecas do mundo, para vocé fazer pes- quisas aqui no Brasil, por meio das bibliotecas integradas da USP e as do XX SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA exterior. Ali vocé poderd ler um texto original de uma pega de teatro ou uma obra literéria de renomados escritores, consultar avangos cientfficos e tecno- légicos, entrar na Biblioteca do Vaticano, navegar para o Japao, Alemanha, Franca, viajar e participar dos programas espaciais da NASA. Para isso, le- vantamos dezenas de enderecos eletrénicos e ainda um enderego especial para vocé se associar e fazer parte do clube internacional dos estudiosos do espaco. Na Parte II - ESTUDANDO A CIENCIA é a nossa maior preocupacio neste livro. Por mais que se fale em Ciéncia, 0 assunto as vezes assusta, tanto no seu aspecto de estudo quanto em aspecto de produzi-la, quer seja nos cursos de graduacdo, quer nos de pés-graduacao. Na realidade, a Ciéncia num determinado perfodo da histéria acabou sendo mitificada, principalmente a partir do séc. XVII, e hoje ela é entendida como sendo qualquer assunto que possa ser estudado pelo homem, pela utilizacao do Método Cientifico e de outras regras especiais de pensamento. Aqui procuramos apresentar o conhecimento em suas varias dimenses, como sendo o reflexo da nossa mente, onde o sentido, a razdo e a intuicdo sao as fontes primeiras do pensamento. Muitos outros assuntos sao debatidos pelas maiores autoridades de todos os tempos. Dos pré-socraticos a Descartes, Locke, Hume, Colombo, Galileu Gallilei e tantos outros mestres. Nao esquecemos de Baruch de Espinosa, excomungado pela comunidade judaica de Amsterda em 1656. Nao esquecemos também 0 cénegoe pensador Giordano Bruno, condenado pelo Santo Oficio e queimado vivo em 1600. Todos por defenderem a Verdade, ‘um assunto amplamente discutido neste trabalho. Foram entrevistadas também as maiores autoridades mundiais nos campos da fisica, genética, biomédica e outras 4reas, para mostrarem os paradigmas da Ciéncia. Na Parte III - FAZENDO A CIENCIA — preparamos todos os passos para que se possa realizar metodologicamente uma pesquisa quantitativa, da forma mais didatica possivel, para vocé atender as suas necessidades praticas na elaboracio de um TCC, Monografia, Dissertagao ou Tese. Para a pesquisa de campo, foi incluso o tratamento estatistico para a men- suracao dos resultados. Na Parte IV- ESCREVENDO A CIENCIA — Desenvolvida especialmente Para que vocé possa ter a oportunidade de conhecer metodologicamente as diretrizes para a apresentacao de trabalhos cientificos ou técnico-profissionais, abrangendo os elementos do Pré-Texto, elementos do Texto e elementos do Pés-Texto, apresentaco grafica e modelos, atendendo as normas e especifica- gées da ABNT - Associacao Brasileira de Normas Técnicas e da ISO - In- ternational Organization for Standardization, com sede em Genebra, Suica, para que vocé possa escrever artigos cientificos em publicacées internacionais. O Autor. Primeira Parte GENERALIDADES 1 Teenologia Abs mostra que a tecnologia é uma atividade milenar dos esforcos do ser humano em melhorar as suas atividades do dia-a-dia, tornando menos sofrido o seu trabalho e, com isso, superando as técnicas animais conhecidas. Trata-se de uma atividade em proveito préprio, a qual se utiliza de alguns recursos como é 0 caso dos instrumentos, mdquinas, motores, producao de metais e ligas, possibilitando com isso a evolucao da engenharia. E a aplicagéo da razio as propriedades da matéria e da energia. Por muitos séculos, 0 conhecimento e a evolugio tecnolégica se deram por meio das experiéncias empiricas, intuitivas e de erros. Somente a partir do séc. XVIII, quando a comunidade cientifica passou a conhecer varios trabalhos de grandeza cientifica, e com a evolucio da fisica, da matematica e da mecAnica no séc. XIX, época da Revolugao Industrial, é que a tecnologia tornou-se uma Ciéncia Aplicada. A organizagio social, politica, econdmica, religiosa, os aspectos geograficos e climaticos acabaram produzindo uma estreita inter-relagéio entre a forma da sociedade e o tipo de tecnologia que ela produz. A Tecnologia abrange 0 estudo sistematico do trabalho humano em seus mtiltiplos aspectos, como o estudo dos materiais sobre os quais incide a produgao dos utensilios domésticos, ferramentas, méquinas, instrumentos e da energia através da qual a transformacao dos materiais é submetida ao trabalho. A Tecnologia, diferentemente das Ciéncias convencionais, por ser a apli- cacao da ciéncia, envolve na sua parte pratica e objetiva o emprego de métodos especificos para o seu desenvolvimento. Ligada principalmente ao setores de produgao industrial, agricola, aero- espacial, armamentos, transportes, energia e a crescente demanda no setor de telecomunicagées, além de outras areas, tem, nos dias de hoje, uma especial atencao a questao dos custos e dos investimentos. 4 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Dentro desse quadro, a tecnologia é a disciplina cientifica que tem como objetivo a producio, o desenvolvimento de produtos de alta qualidade com precos baixos, em funcgao da competitividade e da globalizagao dos mercados, mas que depende de teorias e descobertas cientificas, de inventos, patentes, privilégios, politicas nacionais e internacionais e propriedades industriais. Por meio da tecnologia é possivel fazer com que a ciéncia dé passos mais elevados e mais longos, possibilitando fazer com que o homem tenha condigdes de explorar 0 espaco e outros mundos, combater as pragas e melhorar o setor agropecudrio, para produzir maiores quantidades e melhores qualidades de ali- mentos, além de apresentar novos desempenhos nas areas médica e farmacéutica, como a pilula da mulher que leva ao orgasmo. Oestagio atual da tecnologia, em termos de projecdo, aponta para caminhos de evolugao sem precedentes na histéria da humanidade: O desenvolvimento de micromotores, com rolamentos cujas esferas de ago serao substituidas por particulas atémicas, motores de ceramica para os automéveis, mais resistentes e mais eco- némicos, grandes avancos no campo das fibras épticas e no desenvolvimento de novos produtos no séc. XXI, que hoje somos incapazes de imaginar. Noplano social, a tecnologia provocard profundas transformagées politicas, sociais, econdmicas e educacionais. Mais da metade das atuais profissdes acabaré desaparecendo para ceder lugar a outras, os campos do conhecimento prati- camente acabarao sem fronteiras, a medicina evoluiré de tal forma, juntamente com a engenharia eletrénica, que abrira novos campos de especializacéo para médicos e engenheiros de maneira que as pessoas poderao atingir a idade de cem anos e viver como se tivessem cingiienta. A informatica e a robética apre- sentarao evolugdes surpreendentes. Entretanto, a tecnologia também seré responsdvel, juntamente com o setor politico, pelo aumento do indice de desemprego, do aumento dos excluidos, da fome, da violéncia urbana e de outras anomalias sociais. Por enquanto, os resultados dessas ambigiiidades sociais sio previsiveis, mas daqui a algum tempo nao mais 0 serao, embora as sociedades encontrem 0s seus processos naturais de acomodagao. 1.1. COG, QUASE UM HUMANOIDE O MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts esté desenvolvendo, sob a direcéo dos computélogos Rodney Brooks e Lynn Andréa Stein, um Projeto para produzir um rob humanéide completo: 0 COG. Ele esta sendo projetado para simular nao s6 a forma, mas, sobretudo, o pensamento e os sentimentos humanos. Um dos maiores desafios da equipe esta sendo, por enquanto, o de criar © humanéide com capacidade para interagir com o mundo. O COG é um protétipo de robé humandide — andréide - 0 mais avangado da histéria da humanidade. Apesar de ter a forma de um ser humano, ele TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 5 consiste num conjunto de sensores e atuadores, os quais simulam a dinamica sens6rio-motora do corpo humano. O COG seré equipado para ter interagdes naturais com seres humanos e com o meio ambiente. Pessoas comuns, nao treinadas, serio designadas para ensinar ao COG as coisas mais simples do dia-a-dia, assim como ocorre com uma crianga. Ele j4 possui cérebro, cabeca, tronco, bracos e sistemas de visio e de controle motor. Ele nao sera desde 0 inicio um adulto, embora tenha o tamanho de um adulto. Esté sendo projetado para passar por um perfodo de infancia artificial, no qual terd de aprender com a experiéncia e se ambientar com 0 mundo. Serd protegido como uma crianga, embora tenha sistemas de seguranga. Em entrevista, o americano Daniel Dennet, um dos expoentes da nata de pesquisadores preocupados em fazer ciéncia do mais alto nivel, diretor do Centro de Estudos Cognitivos da Universidade Tufts, em Boston, criador de um novo ramo de estudos que € a inteligéncia artificial e autor do livro Kinds of Minds, afirma que o homem j4 perdeu para os computadores o primeiro lugar na lista dos mais inteligentes na Terra. O COG podera sentir-se feliz, triste ou sofrer de dor e serd capaz de desenvolver sentimentos, fazer parte de uma familia ou de uma nago. Alguns trabalhos mais interessantes em robética envolvem o desenvolvimento de fe- némenos sociais, como a cooperagao em tarefas e troca de informacées entre grupos de robés, afirma o especialista. Os sentidos humanos sao fornecidos por milhares de sensores biol6gicos, como as células fotossensiveis da retina, os receptores de tato nas pontas dos dedos, os sensores de calor por todo o corpo etc. Os robés possuem sensores similares para detectar a intensidade da luz, da temperatura, sentir 0 toque, microfone e muito mais, incluindo alguns que faltam nos seres humanos, como sensores infravermelhos e radar. O andréide poderd ser projetado para conhecer muitas caracteristicas de suas préprias atividades, e isso corresponderia & cons- ciéncia em nés. O COG sentira dor como nés, e amaré cgmo nés. O COG terd varias versdes, seré programado como inato e percorrer os milhdes de anos de evolucao do homem em poucos anos de laboratério.* Rodney Brooks, diretor do projeto COG, diz que os maiores obstaculos tec- nolégicos para um robé existir sao as suas baterias. Animais vivos so muitas vezes mais eficientes em armazenar e consumir energia do que qualquer artefato j4 pro- jetado. Um ser humano descansado usa a mesma energia que acende uma lampada de 100 watts. Os robés existentes, contudo, necessitam de grandes quantidades de eletricidade. Fazer muisculos e juntas artificiais que sejam silenciosos, robustos e eficientes é 0 principal obstdculo técnico que enfrentamos, e tio desafiador quanto fazer com que estas mAquinas percebam e controlem suas acoes. * FOLHA DE S. PAULO, 24/3/1996. Caderno Mais, p. 5. REVISTA ISTOE, n° 1411, 16/10/1996. p. 5. 6 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA oncia artifi Dennet, o especialista emintelig 1, afirma uma coisa importante ar em consideragto. E que as maquinas ja s4o mais inteligentes do que seus criadores. Deep Blue, um computador da [BM, no torneio de 1997 com ase lev © campeao mundial de xadrez Garry Kasparov, saiu na frente & ganhou a primeira parte. No final de confronto, no entanto, Kasparov. venceu quatro das seis partidas ¢ o que se viul foi um alivio geral. Indagou-se a respeite 0 escritor francés Albert C mus, que escreveu em seu livre O mito de Sisifo que o suicidio 6 a Unica questao filoséfiea relevant E se os robés inteligentes cometerem suicidio? no exercicio de cade a gastar todo o seu tempo em trabalhos Para Dennet, urh robé inteligente precisara sentir praze seus talentos, Se tal robo for fe desagradaveis e sem sentido, podera muito bem decidir se destigar para sempr A principal utilidade do robé sera fazer tarefas que as pessoas nao precisam, nao podem ou nao querem fazer, como inspecionar e limpar dutos de es numa grande goto dade, limpar janelas de edificios altos, controlar bilheterias, desmontar sitios racioatives, e assim por diante Muitas categorias da categoria trabalho, que se tornaram obsoletas em virtude da automagao, tém sido tarefas tediosas, repetitivas, inw correspondenc nanas ~ separar de um automével numa linha de montagem, anexar parte! ser telefonista. Outra utilidade @ quando um trabatho pode ser melhor feito por um sistema especializade do que por um ser humano — tipos de dados, como previsao do tempo." lise de varios Cabega @ mao da COG, © humandide do MIT: Feito a sentir-se feliz, triste ou ter dor REVISTA ISTOE, n° 1411, 16/10/1996. p. 8 TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 7 Fora disso, dificilmente existirao operérios mecanicos. Eles seriam muito caros para construir e operar. E iriam competir com pessoas que podem fazer © trabalho bem-feito. Se quisermos, poderemos planejar robés que sejam inclinados a “adorar seus criadores — nés!” Costuma-se dizer que os cachorros foram projetados por seus criadores para venerar seus mestres humanos. Podemos, sem diivida, fazer robés capazes de uma devocdo igual 4 dos cachorros, se desejarmos. Ento, se eles forem verdadeiramente inteligentes, irao eventualmente reco- nhecer © que fizemos e revisar suas perspectivas. Eu preferiria nao vé-los nos venerando. Respeito e afeigéo sao suficientes. 1.2 TECNOLOGIA E CORPORACAO VIRTUAL A tecnologia sera responsdvel, além dos avangos no campo da informatica eda robética, pelo surgimento das empresas virtuais, que aos poucos j4 comegam a surgir nos Estados Unidos, Japao, Alemanha e outros paises do Primeiro Mundo. As empresas virtuais possuem trés aspectos distintos: a) Visao Interna — Tradicionais escritérios, departamentos e divisées operacionais estarao sendo constantemente reformados de acordocom as necessidades. b) Visio Externa — Pareceré quase sem contornos, com a interface entre empresa, fornecedores e clientes permedvel e mudando continua- mente. ©) Produto Virtual — Serao diferenciados nao sé pela forma e funcao, mas também pelos servicos por eles fornecidos, inclusive a possibi- lidade de o cliente ser envolvido no projeto do proprio produto. Exi- gird que a empresa controle tipos cada vez mais sofisticados de in- formagdes e domine todas as novas praticas organizacionais e de producdo, mantenha arquivos integrados e atualizados sobre clientes, produtos e metodologias de projeto de producao. Envolveré também: Uma nova espécie de empresa. «Futuro Planejado (Problemas Seriados: engenharia seriada; engenharia simultanea, engenharia versus cliente, trabalho conjunto, tecnologia avancada). ¢ Pensar a Frente (Aperfeigoamento constante) « Tempo: Um Novo Componente (Tempo-Custo-Produtividade: Res- postas Rapidas, Respostas as Necessidades, Produgiio Enxuta: esforgo humano, hs de engenharia, espaco de fabricagao-defeitos-estoques, crescentes variedades de produtos, just-in-time, controle total de qua- lidade). 8 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA * Maquinaria da Mudanea: (alta producao, just-in-case, produgdo enxuta: empresa + fornecedor = seguranga - just-in-case versus produgao enxuta (GM, Toyota, BMW, flexibilidade estatica).* 1.3. INTERNET, UM DOS MAIORES DESAFIOS DA TECNOLOGIA A palavra esté por toda a parte. Internet, Internet, Internet. Nas tecnologias dos micreiros, nas manchetes e até nas conversas dos bébados de bar. Nao ha nada mais forte no universo da tecnologia, nada mais empolgante no horizonte empresarial. Criada nos Estados Unidos ha vinte e seis anos, a Internet é uma super-rede de computadores capaz de interligar numa teia digital as residéncias, empresas é 0 comércio do mundo inteiro. Misto de correio instantaneo, biblioteca universal e catdlogo eletrénico de compras, ela jd atinge 146 paises, vem sendo usada por um numero estimado em vinte milhdes de pessoas e cresce 30% ao ano. Nunca um sistema de comunicagdo expandiu-se de forma tio répida. Calcula-se que até o final do século a mae de todas as redes teré cem milhdes de usuarios. Sera gente de todos os continentes com idade por volta de trinta anos, diploma universitario, pertencente as classes média e alta. Trata-se da elite econdmica e cientifica mundial, que teré na Internet seu canal universal privado de comunicacao. DAVIDOW, William; MALONE, Michael. A corporagao virtual, So Paulo: Editora Pioneira, 1993 TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 9 1.3.1 Historico da Rede Ahistoria da rede comecouem 1969 quandoo DARPA (Defence Advanced Research Projects Agency), um departamento de defesa americano, desen- volveu um método para trocar informacées de pesquisas militares entre pes- quisadores situados em locais diferentes. Uma rede que consistia de quatro computadores foi estabelecida e conhecida pelo nome de DARPANET. Por volta de 1972 j4 eram 37 computadores, ou nodes, na rede a qual era conhecida agora por ARPANET, por causa de uma mudanga no nome da agéncia responsével pela rede. Contudo, com 0 crescimento da rede vieram as mudaneas, por exemplo, o modo como ela era usada. Nao era mais somente um veiculo para a troca de informagées entre pesquisadores; agora os seus usuarios estavam conversando uns com os outros através de caixas de correio eletrénico privadas. A ARPANET assistiu a um crescimento continuo, e seus usudrios continuavam a se diversificar. Uma rede independente, MILNET, foi criada em 1983 para permitir que as pesquisas militarese as trocas de informacées entre os pesquisadores continuassem, sem colocar em risco a seguranga nacional. Se a Internet foi concebida em 1969, entao podemos dizer que sé foi real- mente consolidada em 1984, quando a Fundacao Nacional para a Ciéncia (Na- tional Science Foundation) estabeleceu a NSFNET. A NSF estabeleceu cinco centros dotados de supercomputadores para facilitar 0 acesso a qualquer fa- cilidade educacional para quem quer que precisasse. Estes centros de acesso académico eram tao dispendiosos que somente cinco puderam ser construfdos! Em 1987 a NSF deu um salto incrivel, com linhas telefénicas especiais para alta velocidade de transmissio de dados e novos computadores, abran- gendo tanto a area de pesquisas quanto a governamental e organizages in- ternacionais, aliadas dos Estados Unidos da América. Em 1990, a rede, ou a Internet, como ficou agora oficialmente conhecida, era acessivel a qualquer um que tivesse condigdes de conecté-la. 1.3.2 Como Funciona O primeiro passo para se acessar a Internet é ter um computador equipado com um modem e uma linha telefénica. Depois, é necessério se cadastrar em um provedor de acesso (s6 em Sao Paulo existem mais de cingiienta), instalar na sua méquina os programas de acesso (falaremos mais adiante sobre eles) e boa viagem. A Internet, por meio de seus diferentes servicos, dispde de uma gama de opgées para o usudrio. Este tem a sua disposicéo acesso por e-mail (correio eletrénico) a milhdes de novos amigos, milhares de sistemas de distribuigées que funcionam como revistas, mais de dezesseis mil newsgroups para todos 0s assuntos imaginaveis, variando do rock aos semicondutores, arquivos com 10 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA programas de todos os tipos em computadores de praticamente todas as uni- versidades do mundo, conferéncias ao vivo, informagées governamentais e dezenas de outras coisas que podem ir desde previsao do tempo até fotografias capturadas pelo telescopio Hubble. Qualquer coisa que puder ser colocada sob a forma digital poder ser colocada na Internet. Fotografias, videoclips, miisicas, discursos, jogos, programas de computador, reproducées de arte sao apenas algumas coisas, além de textos que podem ser enviados por meio ele- trénico. A Internet é composta por diferentes redes ao redor do mundo - algumas delas cobrindo vastas regides geograficas como a China; outras co- nectando apenas um tinico campus universitério. De uma ou de outra forma, todos trabalham ent conjunto, e nds, no Brasil, podemos acessar informacées num computador da Universidade de Harvard, nos EUA, tao facilmente quanto um estudante americano acessa 0 mesmo computador da prépria universidade. 1.3.3 Servicos A Internet tem & disposigao dos usudrios diferentes servicos. Sao eles: E-mail - O e-mail, também conhecido por correio eletronico, é a coisa mais popular da Internet. As pessoas conectadas a rede possuem um endereco eletrénico para o qual podem ser postadas mensagens. Existem varios tipos de programas para o uso do mail, mas o mais famoso é 0 Eudora. Pelo e-mail vocé ainda pode assinar algum mailing list. Os mailing lists so listas de discussao onde todos os assinantes postam mensagens para um determinado endereco. Todas as mensagens postadas neste en- dereco serao recebidas por todos os assinantes da lista. Existem listas de discussao sobre os mais variados assuntos. Usenet News — A Usenet News é composta pelos newsgroups. Um news- group é uma espécie de arquivo que fica a disposicao do usuario que o assinou. Esse arquivo pode conter fotos ou mensagens sobre um deter- minado assunto. O newsgroup é mantido pelos préprios usudrios que vao disponibilizando informacées nesses arquivos. IRC ~ O Internet Relay Chat é um f6rum de discussao on-line (tempo real), no qual pessoas do mundo inteiro se encontram para bater papo. E possivel, via IRC, conversar com pessoas que estejam do outro lado do mundo sem pagar uma ligacao internacional. O IRC é usado para con- feréncias ou até simples conversas. Com certeza é 0 servico mais divertido da Net. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 11 WWW - A Internet esta se tornando cada vez mais facil de usar, até mesmo para as pessoas nao-técnicas. Esta se modificando das telas simples de texto em preto e branco para coloridas telas grdficas, com som e até mesmo video. Basta que vocé ligue seu computador, ponha o seu modem para discar e avalie por si mesmo. Com um programa chamado Netscape em seu computador, e um punhado de cliques com um mouse nos botées graficos, visiveis na sua tela, vocé poderé ver o futuro da Internet. Podera fazer uma viagem virtual por uma vizinhanga espetacular. Mais de trinta mil computadores trabalham juntos num servico de Internet conhecido como “World Wide Web (chamacio ainda de WWW. WS ou web). Estao espalhados por todo 0 mundo e contém todo o tipo imaginavel de infor- macdo. Mas gracas as conexées de alta velocidade da Internet, vocé pode pular de um computador Web para outro sem o menor esforco, criando a fantdstica ilusao de que se esta operando, a partir da propria maquina, um supercomputador repleto de informaces. Os estranhos cédigos e en- deregos de rede antes exigidos para quem buscava informagoes da Internet estaéo, hoje, escondidos debaixo de telas graficas coloridas e amistosas que interagem com o usudrio. Com o WWW e os programas que permitem navegé-lo, a Internet esté se tornando uma rede que vai muito além da descricao que dela se fazia até hA pouco tempo: apenas um clube fechado, um playground para engenheiros e hobbistas. E bom lembrar que a in- formagao na WWW esta diponivel na forma de sites e home-pages. 1.3.4 Glossario World Wide Web (ou Web ou WWW ou W3): Literalmente, teia de aleance mundial. Servigo que oferece acesso, por meio de hiperlinks, a um espaco multimidia da Internet. Respons4vel pela popularizaco da rede, que agora pode ser acessada por interfaces gréficas de uso intuitivo, como o Netscape ou o Mosaic, o Web possibilita uma navegacao mais facil pela Internet. A base da WWW € a hipermidia, isto 6, uma maneira de conectar midias com textos, sons, videos e imagens grdficas. Por estas co- nexées hipermidia, vocé pode navegar pelos assuntos de seu interesse. Home-Page: PAgina inicial de qualquer enderego eletrénico com conexao, ou hiperlinks, para outros servidores da Internet ou ainda para entradas de hipertexto. Site: O mundo virtual é um lugar cuja porta de entrada é sempre sua home-page. O site da MecklerMedia, por exemplo, fica no endereco: http:/www.mecklermedia.com. 2 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Hipertexto: Uma maneira de acessar dados relacionados em um banco de dados. As interfaces mais comuns sao as linhas de comando, os menus de opcées e os recursos de apontar e clicar. Em vez de uma estrutura clicar, 0 hipertexto é uma cadeia de informagées sem seqiiéncia, ligadas de maneira criativa. Logica parecida a uma pesquisa de sinénimos num diciondrio, em que significados remetem a outros significados indefinidamente. Hipermidia: Termo que descreve aplicagées de multimédia interativa e nao seqiienciais que possuem ligacées de hipertexto entre diversos elementos como texto, gré- ficos, ilustragées, sons, videos e animagdes. Somatéria das propriedades do hipertexto as da multimidia. Hiperlink: Nas paginas da Web, quando aparecem palavras em destaque, pode-se clicar nelas e navegar pelos servicos e servidores da rede. Ciberespaco: Mundo virtual onde transitam as mais diferentes formas de informacées. Servidor: Numa rede, é um computador que administra e fornece programas e informagées para outros computadores. No enderego eletrénico paulo @ meccklermedia.com, o login é 0 nome que 0 usuario usa para acessar a rede, neste caso, paulo. Quando vocé entra na rede, precisa digitar seu login, seguido de uma senha (password). Criptografar (encriptar): Criptografar um arquivo significa converté-1o num cédigo secreto, para que as informagées nele contidas nao possam ser utilizadas ou lidas até serem decodificadas. FTP (File Transfer Protocol): Protocolo de transferéncia de arquivos. Ferramenta que permite transferir arquivos e programas de uma maquina remota para a sua e vice-versa na Internet. Correio Eletrénico (E-mail): Correspondéncia que se pode enviar e receber diretamente pelo compu- tador. Telnet: Ferramenta utilizada para estabelecer comunicacao com outras maquinas em outros lugares. Quando é estabelecida a conexao via Telnet, vocé est4 no TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 13 computador remoto, ou seja, é como se vocé estivesse usando o computador no lugar onde ele esta instalado. Newsgroups (listas de discussao): Ferramenta que permite a troca ptiblica de mensagens sobre os mais va- riados assuntos.* 1.3.5 E-Mail de Bibliotecas Publicas As maiores bibliotecas do mundo ainda nao tém equivalente on line com- pleto de seus acervos. Mas elas jé oferecem catdlogos gerais, indices do acervo e exposicées (a maioria temporarias). As principais sao: ~ Biblioteca do Congresso Americano: (http:/ /leweb.loc.gov) ou (http:/ /loc.gov) ~ Biblioteca Nacional da Franca: (http://www. bnf.fr/) — Biblioteca do Vaticano: (http:/ /sunsite.unc.edu/expo/ vatican.exhibit/Main_Hall.html) - Biblioteca Nacional (Divisao de (http:/ /info/incc.br/dimas/) Mtisica e Acervo Sonoro, Rio) ~ Sistema Integrado de Bibliotecas da USP: (http://www.usp.br/sibi/ dedalus.html) ~ Banco de Teses da USP em CD Rom 1.3.6 indices das Maiores Bibliotecas do Mundo Equivalente as ferramentas de busca, os indices aqui reunidos sao os me- Ihores trampolins para mergulhar no mundo dos textos virtuais. Eles fornecem listas com links para as bibliotecas conforme a especialidade ou a lingua de origem. Como é comum nos sites da Internet, aqui se encontram parasites equivalentes, que funcionam como alternativas. Os mais completos sao: — Cybertown Reference Library (http://www.cybertown.com/library.html) - The Universal Library ( u.edu/) b - Virtiial Libraries (http: — DataSources/bySubject/Virtual — Libeat (http:/ /www.metronet.lib.mn.us/Ic/Icl-html) ~The English Server at Carnegie Mellon University: (http:/ /english-www.hss.cmu.edu/) http://www-southamerica.business.com 14 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA = Bibliomania: (http://www bibliomania.com/) ~ Prateleira Virtual (em portugués) (http: / /www.algarnet.net /pacodasartes/exlibrishomepage) Historia Uma reuniao de documentos histéricos organizados por regiao, pais ou tema esté disponivel no site Historical Text (http: / /www.msstate.edu/Archi- ves/History/), mantido pela Mississipi State University e no Humanities Text Initiative (http://www. htiunich.edu/) da Universidade de Michigan. Outra fonte de pesquisa historica e antropolégica é The Fourth World Documentation Project (http://www-halcyon.com/FWDP/) que retine documentos e estudos sobre formas de vida tribal em todo o planeta. Ciéncias Textos de ciéncias, matemitica e tecnologia podem ser encontrados em: - National Academy Press (http:/ /www.nap.edu/nap /online/) - History of Economic Thought Archives (http://socserv2.socsci.mcmaster.cal/~econ/ugem/3lI3/index.html) — Computer and Internet Related Online Books (http:/ /home.earthlink net /~jlutgen/cirob.html) - Literature and Medicine Database (http:/ /mchip00.med.nyu.edu/lit-med-db/topview-html) — Math Book Collection (http: / /moa.cit.cornell.edu/dienst-data /cdl-math-browse.html) - Que’s Digital Bookshelf (http:/ /www.mep.com/que/bookshelf/) Idade Média Interessados em fontes para estudos medievalistas encontram textos me- dievais em latim nos seguintes enderegos: ~ Internet Medieval Sourcebook (http:www.fordham.edu /halsall /sbook/html) - Online Medieval and Classical Library (http:/ /sunsite.berkeley.edu/OMACL/) TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 15 Portugués Ja existem sites com textos completos de autores de lingua portuguesa. A maioria, por enquanto, comporta apenas antologias, mas oferece uma ampla opcao de autores. O site Biblioteca Virtual de Lingua e Literatura, da Rede Nacional de Pesquisa, anuncia que est4 em fase inicial. Nele se encontram textos de autores vivos, como Joao Cabral de Melo Neto. Mas nao ha registro de nem sequer uma pequena histéria de Guimaraes Rosa. Obras em portugués podem ser acessadas em: ~ Biblioteca Virtual de Lingua e Literatura (http:/ /www.cr-sp.rnp br/literatura /index.html) — Crestomatia de Quarta-Feira (http:/ /virtual.inesc.pt/~jaj/crestomatia/au.html). Mantido por um estudante de lingua portuguesa da Universidade de Za- greb, na Croacia, este site traz textos de portugueses, desde Fernéo Lopes até José Saramago. De Camées, 0 site oferece 0 “Canto 3” de Os Lusiadas. ~ Versos de Segunda (http:www .isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/zlista.html) Contém edig6es especiais sobre Vinicius de Moraes e Miguel Torga, além de poemas de, entre outros, Augusto dos Anjos, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski e Florbela Espanca. Italiano Da Divina Comédia de Dante até poetas contemporaneos, além de textos inéditos em livro, as obras italianas podem ser encontradas em: — Antologia (frammentaria) della Letteratura Italiana (http: / /www.crs4.it/HTML/Literatura.html) — Caffé Poetel (http:/ /www.agora.stm.it/poetel /poetel /html) ~ VersiControVersi (http:/ /www.sunrise.it/dnb /poesia/versi.htm) ~ Circolo Letterario Telematico di Fabula (http:/ /www .infosquare it/~fabula/fabula/html) Outras Linguas — O site Eletronic Text Colletions in Western European Literatura (http://www.lib.virgina.edu/wess/etexts.html) traz textos das seguintes literaturas: catala, dinamarquesa, holandesa, finlandesa, fran- 16 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA cesa, alemé, italiana, norueguesa, portuguesa, provencal, espanhola e sueca Marxismo Um modelo de cybermarxismo € o site que reproduz todo o material textual, iconografico e bibliografico dos pais fundadores do marxismo — Marx e Engels -, além de trabalhos de Lenin, Stalin, Rosa Luxemburgo e Mao Tse-tung, entre outros: — Marx e Engels WWW Library (http: /esf Colorado.EDU/psn/marx/Archivel/) Francés Além do site Athena, outros comportam textos em francés de autores franc6fonos e também traducées. Pode-se ler todo Em busca do tempo perdido, de Proust, por meio de computador: - ARTEL Project (http:/ /humanities.uchicago,edu/ ARTFL/ARTFL/html) - L’Association des Bibliophiles Universels (http:/ /www.cnan.fr/ABU/); — Centre d’Edition de Textes Electroniques (http:/ /palissy.humana.univ-nantes.fr/cete.html); — Bibliothéque Etectronique (http: / /www.univ-paris8.fr/~hyperion/biblio.htm) - Florilége, Anthologie Hypertextuelle de la Poésie Francaise (http: / / ottawa.ambafrance.org /FLORILEGE); ~ The “Charrette” Project (http: / / www. princeton.edu/~lancelot/docs.html) Alemao O Fausto de Goethe, Novalis, Rilke, Kleist, Karl May e varios titulos de Kafka no original, além de traducées para o inglés, 0 russo e até o finlandés esto disponiveis em: — Institut fiir Deutsche Sprache, Mannheim (http: / /www.ids-mannheim.de/) TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 17 | — Projekt Gutenberg (http:/ /www.abe.de/gutenb/gutenb.htm) - The Kassandra Project (http://www .reed.edu/~ccampbel/tkp/) — Kafka Texts on the Web (http://info.pittedu/~kafka/texts.html) — Karl May (http: / / www.theophysik.uni-kiel.de/~starrost/kng/pub/ may_texte.html) — Novalis j (http:/ /www.algonet.se/artbin/Origo.html) ! Espanhol Textos de Calder6n, Sor Juana Inés de la Cruz, Tirso de Molina e Lope de Vega, além, é claro, de varias verses do Don Quixote estao em: ~ Textos de Comedias + (http: / /list.serv.arizona.edu/comedia.html) ~ Works of Miguel de Cervantes (http:cvax.ipfw.indiana.edu/~jehle/cervante.html) - Cervantes, “Don Quijote” (http:/ /www.intercom.es/intervista /quijote/) Traz fac-similes da primeira edicéo Curiosidades* Obras que sofreram algum tipo de censura e todo tipo de escritos anar- quistas podem ser acessados nos seguintes enderecos: ~ Banned Books On-line (http:/ /www.cs.cmu.edu/People/spok/banned-books.html) = Spunk Press (http:/ /www.cwi.nl/ewi/people/Jack Jansen/spunk/ Supunk_Home.html) * FOLHA DE S. PAULO, 17/11/1996. Caderno Mais, p. 5. 18 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Acrénimos de Aeronautica e Espaciais Uma lista de acrénimos titil para a tradugdo dos acrénimos comuns que aparecem em newgroups da Usenet relacionados com o espaso. Anonymous FTP: Address: ftp.spies.com Choose: — Wiretap Online Library | Articles | Aeronautics and Space | Astro/Space Frequently Seen Acronyms Agéncia Espacial Européia A Rede de Distribuigao de Dados da Agéncia Espacial Européia (European Space Agency — ESA) oferece servicos de recuperacao de informagées, catélogo internacional de protétipos e outras informagées e servigos. Listserv Mailing List: List Address: esapress@esoc.bitnet Subscription Address: listserv@esoc.bitnet Telnet: Address: esrin.esa.it World Wide Web: URL: http:/ /mesis.esrin.esa.it/html /esis.html URL: http://www esrin.esa.it/ Arquivo de Filmes Espaciais Quase duzentas animagoes espaciais em diferentes formatos, incluindo Anim5, Fli, Fic, mpeg e QuickTime. Oferece filmes sobre meteorologia, eclipses solares, fic¢ao cientifica, espago, missdes Apolo, projeto DCX-Y, sondas lunares e mais. World Wide Web: URL: http://www.univ-rennes1.fr/ ASTRO/anim-e-html TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 19 Arquivo de Aeronautica e Espaciais Artigos da NASA, a lista de langamentos espaciais, nomes de cédigo de aeronaves japonesas, artigo sobre o desastre com o énibus espacial, acrénimos espaciais, 0 melhor piloto de guerra, os fenémenos da superficie de Vénus e outros artigos interessantes. Anonymous FTP: ‘Address: ftp.spies.com Path: /Library / Article/Aero/ Gopher: Name: __ Internet Wiretap Address: wiretap.spies.com Choose: — Wiretap Online Library | Articles | Aeronautics and Space Banco de Dados Extragalaticos da NASA (NED) O NED contém extensas identificagdes cruzadas para mais de duzentos mil objetos: galaxias, quasares, emissores de ondas de rédio e infravermelhas e mais. ONED oferece posicdes, nomes e dados basicos (por exemplo, magnitudes, desvios para o vermelho), além de referéncias bibliograficas, resumos de trabalhos e notas. Telnet: Address: ned.ipac.caltechedu Login: ned Boletins sobre o Espago Selegao de boletins sobre a fronteira final, incluindo Space News, Satscan e Biosphere. Anonymous FTP: ‘Address: _nigel,msen.com Path: /pub /newsletters/Space/ 20 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA. Calendario Espacial Para acompanhar o que estd ocorrendo no cosmos, utilizar 0 endereco: Anonymous FTP: ‘Address: explorer.arc.nasa.gov Path: /pub/SPACE/FAQ/space.calendar World Wide Web: URL: file;/ /explorer.arc.nasa..gov/pub/SPACE/FAC /calendar.html Carga Util de Onibus Espaciais E de fato um problema quando seu 6nibus espacial jé esta com toda a sua capacidade de quarenta mil libras (dezoito mil kg) e vocé decide que quer levar consigo sua c6pia do Dominando a Internet para nao ficar tao entediado enquanto voa pelo espaco sideral. E dificil saber se os pinos giratérios dos rolamentos agiientarao o peso extra. Leia as informagées da NASA sobre a carga util de 6nibus espaciais e métodos alternativos de carga util com os sistemas de transporte The Get Away Special e Hitchhiker. Gopher: Name: National Aeronautic and Space Administration Address: sspp.gssfe.nasa.gov Centro da Terra e Estudos Planetarios Experimente a sensagao do espaco sideral. O Centro é a base do Recurso de Imagem Planetéria Regional, que abriga mais de trezentas mil fotografias e imagens dos planetas e de seus satélites. Também estao disponiveis neste servidor imagens e informacées sobre 0 dnibus espacial. World Wide Web: URL: http:/ /ceps.nasm.edu:2020/homepage.html Centro de Pesquisas Solares-Terrestres Hiraiso O Servico de Informagdes do Ambiente Espacial para a Internet apresenta um glossario de termos solares-terrestres, dados do ambiente espacial em tempo TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 21 real, imagens espectrogréficas de rédio, localizaces de dados ftp e dados sobre a ionosfera. Nota: Repare no par de dois-pontos no nome do login. Telnet: Address: hiraiso.crl.gojp Login: erlhir: World Wide Web: URL: http:/ /hiraiso.cel.go.jp/ Estudantes de Exploragado e Desenvolvimento Espacial O SEDS é um clube de estudantes devotado a discussao e ao estudo do espaco. Conheca pessoas de SEDS no mundo inteiro. Descubra todas as mais recentes noticias sobre 0 espaco e 0 que os membros do SEDS estao fazendo. Gopher: Name: University of Arizona Address: _seds.IpLarizona.edu Telnet: Address: seds.IpLarizona.edu World Wide Web: URL: hitp:/seds.Ip|arizona.edu/ . Fotografias Tiradas de Onibus Espaciais Fotos de excursaéo de um astronauta serao muito mais excitantes do que as fotos da tia Marta em sua viagem ao interior para visitar os netos. Veja imagens de lugares como Bangkok, Monte Santa Helena, Lagos Finger, Alasca e Grande Canyon tiradas por varias missdes de énibus espaciais. World Wide Web: URL: http:/ /zebu.uoregon.edu/earth.html Bas 22 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Galaxia O espaco é interessante porque ele é tao grande e esta sé esperando para ser preenchido com todo o tipo de coisas. Dé uma olhada mais atenta em nossa propria galdxia com todas as suas estrelas, nebulosas e planetas. Veja filmes de galaxias em interagao e imagens e curvas de luz de uma supernova recente. Se quiser impressionar aquela pessoa tao especial comseu conhecimento sobre estrelas, mas acontecer de o céu estar nublado, este local pode ser seu plano de apoio. World Wide Web: . URL: http: / /zebu.uoregon.edu/galaxy.html Imagens de Véos Espaciais Tripulados Norte-Americanos Imagens de todos os véos espaciais tripulados norte-americanos e as da- tas/ntimeros correspondentes na NASA. Anonymous FTP: ‘Address: images,jsc.nasa.gov Path: PAO Instituto Lunar e Planetario O Instituto fica perto do Centro Espacial Johnson da NASA e inclui um centro de computacao, extensas colecdes de dados lunares e planetarios, recursos de colecées de dados lunares e planetérios, recursos de processamento de ima- gens, uma grande biblioteca, recursos de editoracao e locais para workshops e conferéncias. Os topicos atuais incluem a origem e evolucio inicial do sistema solar; estudos da Lua, meteoritos e da Terra; o sistema solar exterior com énfase no estudo de satélites gelados. Telnet: Address: Ipi,jsc.nasa.gov Login: Ipi Laboratérios de Pesquisa da NASA E sua vez de planejar um encontro excitante com a pessoa que vocé ama. Que tal um passeio por um dos mais famosos laboratorios de pesquisa da TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA, 23 NASA? Depois de um roméantico jantar 4 luz de velas, vocés podem voltar para casa, ativar o visualizador web e fazer uma excursao pelos centros espaciais Goddard, Drydem, Ames, Langley e Kennedy. Correra de boca em boca a noticia de que vocé sabe programar uma safda com estilo. World Wide Web: URL: http:/ /akebono.stanford.edu/yahoo/ Government/ResearchoLabs/NASA/ Miss6es Espaciais Vocé planeja ir para onde ninguém foi ainda? Verifique as informacdes sobre missGes espaciais passadas e presentes para se assegurar de que ninguém tenha ido ao seu destino antes de vocé. Encontrara ligagdes para missdes Apolo, a missdo Cassini, Clementine, Magalhaes e outras. World Wide Web: URL: http:/ /akebono.stanford.edu/yahoo /Science /Space/ Missions / NASA Spacelink Histéria, eventos, projetos e planos da NASA* Telnet: Address: spacelink.msfcnasa.gov NASDA A Agéncia Nacional de Desenvolvimento Espacial do Japao (NASDA) é 0 equivalente japonés da NASA. Telnet: Address: nsaeoc.eoc.nasda.go jp Login: _ nasdadir + Biblioteca da NASA: http:/ /akebono.Stanford.tdu/Yahoo/ 24 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA 1.3.7 Os Templos do Saber Alexandria, também chamada de Al Iskandariya em arabe, esta assentada sobre uma faixa de terra entre o mar Mediterraneo e o lago Mariuts, antigo Mareotis, fica a 208 km a noroeste da capital do pais, Cairo, uma das mais populosas cidades do mundo. O apogeu de Alexandria coincidiu com a época dos Ptolomeus. No ano 280 a.C., Ptolomeu II mandou erguer o primeiro farol da histéria, que tinha 120 m de altura e as tochas que se acendiam em seu interior serviam como guia ao navegante da época. Um terremoto ocorrido no séc. XIV destruiu o farol. Alexandria conkeceu momentos de gloria e tornou-se o centro da cultura mundial. Ali viveram Euripedes, Teécrito, Aristarco e tantos outros pensadores. ‘A sua biblioteca reunia, segundo os especialistas, mais de quinhentos mil Ppapiros, nela concentrando-se todo o saber da época. Um local que possuia miuseui e academias, que eram freqiientadas pelos mais famosos sabios e poetas do mundo grego. Com a chegada dos romanos, comandados por Jiilio César, em 48 a.C., uma armada de quatro mil homens representou para Alexandria um durissimo golpe. Uma guerra sangrenta que durou um ano, 48-47 a.C, provocou perdas importantes, entre elas a biblioteca, que foi incendiada. Foi posteriormente reconstruida por Marco Anténio em outro local, tendo sido destinados para © acetvo cerca de duzentos mil manuscritos que fez vir de Pérgamo. Sob 0 dominio romano, Alexandria, com meio milhao de habitantes, tornou-se a se- gunda cidade do império, depois de Roma. Alexandria é uma cidade portuaria, possuindo 0 maior porto do pais. Em 642, quando o general 4rabe Amrou Ben-Al conquistou o Egito, uma de suas primeiras providéncias foi a de perguntar ao califa Omar o que fazer com a biblioteca de Alexandria? O califa foi implacavel: “Se todos estes livros so conformes ao Corao, entao sao intiteis, devem ser destruidos. Se nao séo conforme, entéo sao perigosos, devem ser destruidos”. A biblioteca foi sendo incendiada aos poucos e os preciosos pergaminhos foram utilizados para esquentar os banhos da cidade. No site www.alexandria.com/, 0 visitante poderd passear por sete salas de uma Alexandria virtual. Mesopotamia Da Mesopotamia atravessamos a Antiguidade classica, Idade Média oci- dental e os mundos arabe e judeu. O Renascimento — séc. XVI foi um retomar das artes, das letras e das ciéncias. Grandes projetos editoriais dos séc. XIX e XX até chegarmos a era digital proporcionam, nas bibliotecas, uma viagem do nascimento da escritura — pictogramas — em pequenas tabuinhas de argila na Suméria, ha cinco mil anos, manuscritos de Flaubert, iluminuras persas, softwares TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA, 25 de navegacdo, gravuras da fauna e da flora, manuscritos das origens do en- ciclopedismo chinés do séc. IH, papiros de Alexandria e as verdadeiras “Arcas de Noé”, aos textos digitais dos dias de hoje. De dentro de casa, com 0 nosso micro, podemos ter essas maravilhas do mundo e de todos os tempos. Da biblioteca do imaginativo rei assirio Assur- banipal, 661-629 a.C. as tabuletas de Ninive encontram-se no British Museum. Os templos do saber, que sao as bibliotecas, acolhem manuscritos da metafisica aristotélica a historia natural de Plinio. A biblioteca de Alexandria, com seus papiros e pergaminhos, poderd estar em nossa casa, cumprindo a idéia do Liceu de Aristételes. “Encuklios Paidéin” — educacao em circulo - educagao a distancia — foi a forma encontrada pelos escritores da época helenistica e do império romano, que juntamente com a figura do “kuklos”, também em grego, formam o termo enciclopédia que é a estreita relagao entre astronomia, geometria, gramitica, retérica, me- dicina, na qual os pensadores nos levam 4 filosofia, formando o itinerario intelectual que é a sabedoria, a plenitude do conhecimento. China Na China, quem controlava a totalidade do saber era 0 imperador. As enciclopédias eram assuntos de Estado. A antigiiidade confucionista foi uma idade de ouro e, portanto, sua memoria deveria ser preservada a qualquer custo. O enciclopedismo desenvolve-se com a missao de organizar, codificar e transmitir a heranga cultural do saber humano a uma elite que tem o privilégio de passar pela universidade. Os escribas chineses compilavam enciclopédias desde o ano 220 da nossa era. Chegaram ao paroxismo. No séc. XVIII, durante a dinastia Qing, um devoto do saber registrou oitocentas mil paginas em seis mil volumes que ocupavam um prédio inteiro na “Cidade Proibida” em Pequim. A “Grande Enciclopédia Imperial” era nao apenas uma enciclopédia, mas sim uma biblioteca. A biblioteca francesa possui um exemplar desse monumento. Paris Com 0 nascimento da Universidade de Paris no séc. XII, os estudiosos puderam estabelecer um confronto entre a razdo e a fé, ao assimilarem as obras de Aristételes. O pensador arabe Averroes conseguiu estabelecer a sintese entre o saber secreto e o saber profano. So manuscritos de caligrafia suntuosa, onde se tenta conciliar revelacées e filosofia racional classica. A Enciclopédia foi um conceito que iluminou os humanistas e os levou a invencao do préprio termo, através de Rabelais, em Gargantua e Pantagruel, 1532. O romance foi condenado pela Sorbonne como sendo obsceno. O segundo 26 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA volume de Gargdntua e Pantagruel, que foi lancado em plena crise religiosa francesa, e mereceu nova condenacao. Uma obra que ficou incompreendida até o séc. XIX, é uma epopéia heréico-cémica em prosa que enquanto diverte, faz uma critica & estagnacao medieval.* A enciclopédia foi definida como um circulo harmonioso. A roda das ciéncias que ordena o conhecimento através da qual o homem chega & sua plenitude. A plenitude do saber e as bibliotecas s4o os templos para esse de- senvolvimento. Hoje, a Bibliothéque de France jé se configura como uma biblioteca do séc. XXI, possuindo um acervo de mais de vinte milhdes de livros, trezentos e cingiienta mil titules de periédicos e um milhao de documentos audiovisuais na Rue Richelieu, onde podem ser encontrados mapas, manuscritos, estampas, mtisicas, medalhas e antigitidades. Um templo de conhecimentos que s6 perde para a Biblioteca do Congresso Americano que, através dos dois catalogos da biblioteca “BN — opale e BN —~ opaline, podem ser acessados pela Internet — www. bnf.fr. Na medida em que o leitor penetrar na biblioteca virtual da Franca, podera acessar um sistema de consulta que transforma o seu micro em uma verdadeira maquina de ler e escrever. Na opiniao de Rocher Chantier, presidente do Conselho Cientifico da Bibliothéque de France, a biblioteca eletrénica, que torna imagindvel a dispo- nibilidade universal do patriménio escrito é uma das figuras de sonho da biblioteca universal. Theodor Nelson, 0 criador do hipertexto, desde a década de 1960, quis reunir em um sistema eletrénico a totalidade da literatura mundial. Um sonho capaz de ser possivel por meio da INTERNET no inicio do séc. XXI. Bibliotecas nacionais dos paises industrializados j4 se lancam na corrida para construir uma biblioteca virtual. A biblioteca virtual universal da Franca é um projeto megalémano que 0 entao presidente francés Francois Miterrand comecou a desenvolver em Paris em 1983. Paris, a cidade luz, 6 a0 mesmo tempo a capital de um pais hiper- centalizado, um dos centros da vida internacional, sede de 22 universidades, além do Collége de France. A Bibliothéque de France comegou a ser construida em 1992. Sdo quatro enormes torres no bairro de Bercy, préximo ao rio Sena, que comandarao a Biblioteca Universal. Oxford A Biblioteca de Bodleian, em Oxford, 6 a maior entre as bibliotecas uni- versitdrias inglesas. A British Library com a sua round reading room, criada + STAPFER, Paul. Ratelais: Sa Personne, Son Génie, Son Oeuvre. Paris: Plattard, 3. éd. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 27 em 1857, ocupa uma nova sede no norte de Londres, préximo a estagao de St. Pancras. Vaticano A Biblioteca do Vaticano concentra em seu acervo toda a produgao cultural do cristianismo e do judaismo. Na Laurentina, em Florenga, podemos encontrar cépias do séc. V a XI de textos de Virgilio, Horacio, Cicero, Plinio e Tacito. Estados Unidos A Biblioteca do Congresso Americano é a maior do mundo. Possui trinta milhdes de obras, incluindo uma das trés bibliotecas de Gutemberg de 1455, oitenta milhées de artigos diversos e 800 km de prateleiras. Japao © Japao é um pais que possui 4.500 editoras, 27 mil livrarias, sendo a sua maioria desenvolvidas em cubiculos de 60 m’, e 2.207 bibliotecas. A cultura japonesa possui uma certa reveréncia ao pensamento francés, como sendo uma espécie de contrapeso a fortissima dominagao da cultura pop americana. Nas bibliotecas de Téquio podemos encontrar obras de Tanizaki, Mishima, Shusaku Endo e Kenji Nakami, que sio as maiores expressdes da literatura contemporanea do Japao. (PEPE ESCOBAR) 2 Ficcao: Realidade ou Utopia fico: realidade ou utopia? Certamente essa pergunta paira sobre muitas pessoas. Vivemos muito perto da ficgdo, mas, ao mesmo tempo, em um mundo totalmente distante, onde somente a ciéncia tem vez. Injusto? Talvez, afinal a ficg4o nos parece mais interessante do que a ciéncia em si. A ficcao foi criada para deslumbrar, impressionar aquela enorme parcela de pessoas que lotam as cadeiras dos cinemas todos os dias. Serve para provar que o irreal pode fazer parte de nossas vidas. Isso nao nos impede de continuar acreditando na ciéncia, que é algo concreto. A ciéncia est por toda parte. No decorrer deste trabalho, descobrimos muitas diferengas entre a ciéncia ea ficeao, e talvez a principal delas seja o fato de a ciéncia ser realidade. Nao podemos negar que a fico também faca parte da nossa rotina, pois ela invade nossas casas todos os dias quando ligamos a televisao. Serve para nos fazer esquecer do mundo louco em que vivemos e nos fazer acreditar no que estamos vendo, para nos convencer de que nem s6 de realidade vive 0 homem. 2.1 FICCAO CIENTIFICA No seu aspecto conceitual, 0 termo ficgao, utilizado em todas as sociedades ‘ modernas e nos diferentes idiomas, que atesta com evidéncia a sua propriedade e utilidade, tem a sua origem da forma substantiva do latim — fictio que 6 formada por sua vez a partir do supino (fistum) e do verbo fingere (= imaginar). ignificando, em geral, o que é imaginado ou produzido pelo espirito, nao tendo entretanto correspondéncia com a realidade; ficcéo so os produtos e formas da faculdade imaginativa do ser humano, sao as diferentes formas de invencao que 0 nosso imaginario reali: se GS a es ee TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 29 As diversas maneiras da ficcdo so os diferentes aspectos que envolvem uma visao da realidade sob a forma geral do como ser. Acontecem na fantasia e na nossa imaginacao, e especialmente em todas aquelas realidades das quais no se pode dizer que sao. As ficcées sao, pois, instrumentos da mente, cons- trugGes auxiliares, assungGes de algo com consciéncia da sua falsidade conceitual, mas também sua utilidade para a manipulacdo e compreensao do proposto; numa palavra sao falsidades conscientes e admitidas por nds. Ficcdo cientifica é, para 0 nosso entendimento, uma forma popular de literatura que envolve, como temas bésicos, viagens espaciais e pelo tempo, e descobertas ou invengées maravilhosas. Em sua maior parte, as histérias de ficgao cientifica acontecem no futuro, mas algumas ficgdes ocorrem no passado ou até mesmo no presente. Existem também as que se situam em outros universos ou outros mundos. Ao contrario da fantasia, que busca o imposstvel, a ficgao cientifica descreve acontecimentos que realmente poderiam ocorrer de acordo com teorias aceitas ou provaveis. Algumas destas histérias fantdsticas fornecem. detalhadas explicacées cientificas; outras simplesmente conduzem 0 leitor a um tempo ou lugar estranho, no qual fisicamente ele nao poderia estar, mas a sua mente sim.* Em princfpio, toda a literatura é obra do nosso imaginario, da intervencio, mais ou menos prolongada e intensa, da fantasia. Toda literatura traz sempre a mara da ficgdo que é, dessa forma, a arte de explorar ou de apresentar um tema fazendo-o passar através da consciéncia do imaginério para, num jogo de cumplicidades, torné-lo aceitavel pela consciéncia real. Trata-se, a ficcéo, de um género literario de indole um tanto quanto in- definida. Alguns estudiosos do assunto dizem que o seu nascimento vem das obras de Julio Verne e H.G. Wells, tal como Vinte mil léguas submarinas, sio historias de futuro que as vezes se concretizam pelo avanco da tecnologia e da propria ciéncia. A evolugao basica da ficgdo vem da Inglaterra. Conta com milhées de apreciadores e tem sido divulgada por intimeras revistas especializadas, na sua maioria norte-americanas, com os nomes mais ilustres do género, como Isaac Asimov, A.E. Von Vogt, Clifford Simak, Robert Heinhein e tantos outros. A ficgao possui um ptiblico limitado que sao os leitores das histérias em qua- drinhos. Na literatura de ficg4o, poucos conseguiram notoriedade como Ray Bradbury, simbolo das melhores virtudes deste género de audiéncia relativa- mente limitada. No campo da cinematografia, nado existe praticamente contro- vérsia acerca da data de origem: logo nos primeiros momentos (sétima arte), o francés Georg Méliés fez A viagem @ Lua, que se tornou realidade, dando inicio, na opiniao geral dos historiadores, ao longo campo dos chamados filmes de ficgao cientifica. Mas o género nao é menos dificil de definir do que na literatura. Como no campo da literatura, a expresso ficgéo cientifica envolve * WALTY, Ivete L.C. O que é ficga0. 3° ed. So Paulo: Brasiliense, 1985. p. 7. 30 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA uma vasta quantidade de obras heterogéneas. Abrange desde filmes expres- sionistas, como Metrépolis de Fritz Lang, até toda a série de melodramas nucleares no qual o cinema japonés se especializou. Inclui as adaptacées de O médico e 0 monstro ou as biografias de Frankenstein. As fronteiras entre o que é a ver- dadeira ficcao cientifica e a fantasia ou o terror ou a ciéncia sao imprecisas, mas, em termos de cinema, a ficcéo ganhou maior terreno nos EUA. A ficedo vai ao passado longinquo da humanidade, recua aos mitos pré- hist6ricos e aos contos de viagens e aventuras fantasticas. No séc. II d.C., 0 escritor grego Luciano de Samésata transformou tais aventuras em ficgao cientifica. Em seus Icaromenippus e Verdadeira historia, descreveu viagens A Lua. Outra viagem ficcional 4 Lua é desgrita em Orlando furioso (1532), de Ludovico Ariosto. O séc. XVII apreciava o nascimento tanto da ciéncia moderna quanto da fice cientifica. O proprio francés Bacon, pai da ciéncia moderna, escreveu A nova Atlantida (1627), um trabalho de ficgaéo que aborda uma viagem maravilhosa para descrever uma sociedade baseada na ciéncia experimental e as espantosas e curiosas realizag6es praticas que a ciéncia poderia criar. O astronomo alemao Johannes Kepler descreveu uma viagem A Lua em seu Somnium (publicado em 1634, depois de sua morte). Seu livro foi o primeiro trabalho de ficgéo cientifica que tentou narrar uma histéria com precisao cientifica. O séc. XVIL produziu igualmente as primeiras obras de fic¢ao cientifica passadas no futuro ~ Aulicus (1644), de Francis Cheynell, e Epigono, histéria do século futuro (1659), de Jacques Guttin. Historicamente, 4 medida que se desenvolvia durante o séc. XVII, a ficgao cientifica produzia sua primeira obra-prima literdria: As viagens de Gulliver (1726), do irlandés Jonathan Swift. A primeira histéria de visitantes de outro planeta a Terra foi o Micrémegas (1752), de Voltaire. A Revolucao Industrial provocou mudangas sociais e trouxe dificuldade para muitas pessoas. Tais elementos influenciaram 0 romance gético, que abordava temas de horror, violéncia e fatos sobrenaturais, como Frankenstein, de Mary Shelley, em 1818. Posteriormente, Edgard Allan Poe e Nathaniel Hawthorne desenvolveram 0 conto de ficco cientifica. Durante o séc. XIX, dois escritores abriram as portas para esse mundo. No final do séc. XIX, ainda no periodo da Revolugao Industrial, a ficgdo cientffica havia atingido sua mais caracteristica forma moderna nas obras de Jélio Verne (Da Terra a Lua, 1865; Vinte mil léguas submarinas, 1870) e H.G. Wells (A mdquina do tempo, 1865; A guerra dos mundos, 1898). Verne foi o primeiro escritor a especializar-se no género. Gracas a ele, o ptiblico tornou-se consciente da ficcdo cientifica como um género particular da literatura. Apresentam-se como ficcao cientifica as narrativas geralmente verbais ou filmicas, cujo enredo se baseia no desenvolvimento cientifico e nas situagdes decorrentes de tal desenvolvimento no tempo e no espaco. Assim, em 1883, quando Julio Verne escreveu Vinte mil léguas submarinas, ele concebeu 0 navio Nautilus com caracteristicas de submarino que s6 agora, cem anos depois, TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 31 quase em todo 0 seu aspecto, e principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, tornaranse realidade. Verne escreve, pois, sobre possiveis conquistas da técnica e da ciéncia, transformando o seu personagem, capitao Nemo, em um precursor dos navegadores modernos. A obra de Aldous Huxley, Admirivel mundo novo, nao poderia conceber a possibilidade de existéncia dos bebés de proveta. Hoje, como fato consumado, estao ai na nossa realidade social e cientifica. O livro de George Orwell, 1984 que foi, durante o ano de 1984 usado pela imprensa como modelo referencia para andlise sociopolitica de um tempo que ele quis anteceder, serviu como critica ao modelo politico econémico da entéo Unido Soviética. Umberto Eco afirma que, ao rever recentemente o filme 2001 — uma odisséia no espaco, de Stanley Kubrik, todo o seu grupo se decepcionou em relacao as emocées sentidas por ocasido da primeira exibicio; isto porque muitos dos artificios usados na construcgaéo do filme perderam seu efeito de seducdo e mistério porque agora j4 foram efetivamente realizados em viagens espaciais. Se formos rever agora 0 filme 2001, uma odisséia no espago, conforme afirma Umberto Eco, seria uma decepcao total, em relacéo as emocées sentidas na década de 1970, porque os artificios, efeitos especiais utilizados na producéo do filme transportando o ser humano para outros mundos, perderam seu efeito de seducao e mistério, isto porque 0 homem jé fez as suas viagens espaciais, agora ja se prepara para ir & Marte... Até mesmo 0 computador Hall, considerado na época além da imaginagao humana, tem hoje 0 seu papel visto como cémico diante da Internet. Dessa maneira, 0s limites entre os termos que compdem a expresso ficgio cientifica vao perdendo rigidez com o tempo e tornando-se mais versateis e menos nitidos entre realidade e ficcdo. A ficcao cientifica como género literario tem seus primeiros momentos na década de 1920-30 e se firma em definitivo a partir de 1937-40. Com o cinema e as hist6rias em quadrinhos, 0 cenério era muito propicio por causa da guerra. Durante esses vinte anos que marcaram a evolugao do género muitos foram os autores que se dedicaram a fico, entre os quais Stanley Graumann Weibaum, Murray Leinster, John Campbell, Edward Ernest Smith — autor do classico The Skylark of Space (1928) — e, sobretudo, Hugo Gernsback (1884-1967), um jornalista inglés que editou a primeira revista especializada em ficgao com 0 titulo Amazing Stories (1926); Gernsback escreveu também um conto classico, Ralph 124c 41 Plus e é a quem se atribuiu a invencao do termo science fiction. A ficcao cientifica caracteriza-se por um estilo em que episddio e personagens, quase sempre imagindrios, guardam estreita relagdo com as mais recentes ou futuras conquistas da prépria ciéncia. Cultivando a principio temas repetitivos, invengdes ou descobertas secretas (monstros laboratoriais ou procedentes do espaco extraterrestre, robés dotados de inteligéncia e sensibilidade humana, invasores planetérios, guerras intergaldcticas) inseridos em contextos ficcionais ingénuos, ainda que muito imaginosos, os primeiros autores do género nao 32 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA apresentavam grandes ambigdes quanto a originalidade formal de seus textos, escrevendo-os para um ptiblico de nivel apenas médio. Com o passar do tempo, entretanto, a ficgao viria a seduzir um publico mais culto e exigente, passando a interessar a uma elite intelectual. 2.1.1 Antecedentes e Precursores Alguns estudiosos, com indisfarcavel exagero, costumam citar Luciano de Samésata (séc. II), como 0 mais antigo representante de uma ficcao cientifica* avant la lettre. Seriam-no também Ariosto, Kepler, Voltaire e Swift como autores de utopias ou de viagens fantasticas, pois esses géneros jé conteriam, poten- cialmente, muitas das matrizes em que se iria estruturar a atual ficcao cientifica. Da mesma forma, seria também science fiction a produgao ut6pico-fantastica do séc. XIX e de princfpios do séc. XX, que inclui autores como La Martine, Balzac, Edgard Allan Poe, Samuel Butler, Mark Twain, Karel Capek, Evgueni I. Zamiatin e George Orwell. A verdade, porém, é que todo esse acervo constitui antes uma floracao alegérica, filos6fica ou satirica que apenas tangencia a li- teratura de ficc&o cientifica. Foge a regra o novelista e erudito inglés Clive Staples Lewis que, embora pertenga a umcontextointeiramente distinto, praticou conscientemente 0 género, no qual deixou um admiravel classico: Alt of the Slent Planet (1938; Além do planeta silencioso). Os que verdadeiramente preludiam a science fiction nao se incluem, por- tanto, nessa ilustre genealogia. Auténticos precursores so, no mesmo perfodo, Julio Verne, Olaf Stapledon e, sobretudo, H.G. Wells, a quem cabe, mais do que a qualquer outro, o titulo de pai da ficgao cientifica. Verne destaca-se por sua visdo profética e suas incriveis antecipagées tecnolégicas. Stapledon vai mais longe, particularmente no seu ambicioso Star Maker (1937; O criador de estrelas), espécie de hist6ria do universo. Mas 6 Wells — em obras como The ‘war of the worlds (1898; A guerra dos mundos); The Time Machine (1895; A maquina do tempo) e The Invisible Man (1897; O homem invisfvel) - quem de fato lanca os fundamentos do género. Ainda que suas profecias hajam perecido, nenhum dos livros que escreveu teve o mesmo destino, permanecendo vivos e atuais. Nao se pode esquecer, afinal, outro notavel precursor, Howard Philips Lovecraft, que, contanto pertenga a literatura fantastica e de horror, exerceu forte influéncia sobre autores da ficcao cientifica. Sua novela The Colour out of Space (1927; A cor que caiu do céui), € uma pequena obra-prima do género.** * ENCICLOPEDIA DELTA UNIVERSAL. vol. 6. “ COLISON, Willian R.. ROGERS, Carl. O homent e a ciéncia do homem. Belo Horizonte: Interlivros, 1973. p. 25. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 33 entos Ulteriores 2.1.2 Desenvol Com o aparecimento, entre 1937 e 1940, de autores como Eric Frank Russel, Lyon Sprague de Camp, Lester del Rey, Arthur C. Clarke, Ray Brade Bury, Alfred Elton Van Vogt, Robert Anson Reinlein, Theodore Sturgeon, Fritz Leiber e Isaac Asimov, 0 género estratificou-se definitivamente, abrindo um verdadeiro leque de novos temas e conjecturas. 2.1.3 Relagaéo entre Ficgdo Cientifica e Ciéncia Apesar de a ficgio cientifica ser utilizada desde a Antiguidade classica e, principalmente pelo nominalismo* medieval, mostrava com plena clareza o seu significado e a sua diferenca em relacéo ao pensamento cientifico. Foram sobretudo alguns modernos pensadores de tendéncia positivista que analisaram a ficcao, chegandoa fazer dela 0 objeto de uma corrente filoséfica—o ficcionismo. O ficcionismo é uma corrente filosdfica elaborada no ambiente positivista do século XIX, que procurou justificar o cardter meramente ficticio dos valores ideais, diretivos da experiéncia cognéstica e pratica, apresentando grande afi- nidade com certas formas de pragmatismo e de empirismo-criticismo. Esta corrente, que aparece em muito ramos da filosofia moderna e poderia ser também chamada de Teoria Ficcionista do Conhecimento, parece com uma espécie de mecnica do pensamento ou tecnologia da funcdo légica, permitindo definir 0 valor das idéias, principios, categorias e esquemas universais, com relagéo a pontualidade da experiéncia perceptiva. Dois sao os campos da ciéncia em que 0 termo 6 hoje mais usado. Em psicologia, na qual a ficgao indica a meta ficticia e 0 plano da vida elaborada sobre fatores determinantes tais como: constelagao familiar, inferioridade or- ganica, educacao distorcida, em que o individuo neurético, afetado por um complexo de inferioridade, se propée a superar suas fragilidades. E em epis- temologia, onde a ficgao se torna um elemento introduzido no mecanismo da nossa faculdade cognitiva para explicar principalmente os predicados mera- mente l6gicos atribuidos as coisas. A ficcao significaré sempre, neste campo do conhecimento, algo distinto da verdade teérica ou pratica. Os autores chegam a distinguir ficcdo consciente ~ como as dos artistas e literatos, cujas criacées fantdsticas se acham fora da realidade ~ e fic¢ao inconsciente, no campo do conhecimento conceitual e ju- dicativo. O termo ficco ganha importancia no processo de revisao critica do * Nominalismo: doutrina segundo a qual as idéias gerais nao existem, e os nomes que pretendem designé-las so meros sinais que se aplicam indistintamente a diversos-indi- viduos; termismo. 34 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA positivismo, principalmente com H. Vaihinger, segundo a qual, o conhecimento nao passa de uma funcao organica dirigida apenas a aspectos de utilidade vital. Isso por si 6 contraria o empirismo eo racionalismo, como fontes primeiras do conhecimento e do pensamento. Para isso, 0 pensamento cria certos meios entre os quais destacam, por sua importancia, a hipétese e a ficgdo, que sao dois modos de apreenséo muito diversos. Enquanto a hipétese procura apre- sentar solugdes, mesmo que provisérias, para os problemas da realidade, po- dendo converter-se em tese a ser verificada, dirigindo-se ao real para ser provada e confirmada, a ficgdo nunca pretende manifestar-se numa realidade, justifi- cando-se apenas pela sua utilidade e finalidade, pelas quais unicamente se rege. , Dividem-se, ainda, de acordo com Vaihinger, em semificgées e ficgao propriamente dita. As semificgées compreendem as ficcdes simbdlicas ou ana- logicas, que incluem todas as categorias sem as quais nao podemos pensar. Fazem parte dos conceitos universais. As ficgées pertencem os conceitos ma- tematicos fundamentais (ponto, linha, superficie, espaco, ntimeros, diferenciais), os principios da fisica (matéria, atomo), da ética (liberdade, derivados), os metafisicos (coisa em si, substancia, causa) e até mesmo religiosos (Deus, imor- talidade, providéncia etc.). Todasas ficgdes sao erros manifestados, mas fecundos etiteis, tanto paraa ciéncia como para a vida. Dai a necessidade de se desenvolver como se tivessem correlatos objetivos, como se fossem livres, como se a alma fosse imortal, como se houvesse uma moral, como se Deus existisse. Embora tal maneira de conceber a ficgdo possa ser manifestamente exa- gerada, leva muitas vezes a conseqiiéncias desastrosas e inaceitaveis, quando aplicadas por lunaticos ou visiondrios a seus seguidores. E a aplicagaéo do niilismo teérico e pratico*, ou seja, o nada. * ENCICLOPEDIA LUSO-BRASILEIRA da Cultura. vol. 8. 3 Os Paradigmas da Ciéncia ma série de entrevistas de varios cientistas das melhores universidades do mundo mostrou algumas tendéncias de como o conhecimento esta caminhando em varias ciéncias. Para alguns, reina o pessimismo de que a ciéncia chegou ao fim e quase mais nada resta para inventar ou pesquisar, e que génios como Albert Einstein, Copérnico, Galileu Galilei, Newton e outros no existirdio mais porque quase tudo o que se tinha de ter criado ou descoberto ja aconteceu. Para outros, pequenos saltos nos campos cientificos vio aumentar © conhecimento de modo assustador; para outros, ainda, coisas impensdveis pelo ser humano estao por acontecer. 3.1 GEOFISICA Xiadong Song, pesquisador do Departamento de Ciéncias da Terra do Observatério Lamont-Doherty da Universidade Columbia + USA, analisa que no seu campo de pesquisa, o da geofisica da Terra, muitas descobertas de primeira ordem, como a estrutura basica das camadas da Terra, crosta, manto, camada fluida externa e o nticleo interno sélido, foram feitas na primeira metade deste século, 0 comeco da era sismolégica. Posteriormente, em 1960, comegou-se a entender melhor a dindmica do nosso planeta: sobre a tectnica das placas, ou seja, 0 estudo das deformacées da crosta terrestre causada por forgas internas, os terremotos, a convec¢ao do manto ~ correntes de calor no interior da Terra ~ e a estrutura tridimensional do interior terrestre. A partir daf é que mais e melhores dados sobre terremotos tornaram-se disponiveis. A rotag&o da camada interna, s6 recentemente revelada por sua equipe de pesquisa, é a dramatizacéo de tal sistema dinamico. Os campos magnéticos 36 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA gerados pelos movimentos da camada externa agem sobre 0 nticleo sélido como um motor gigante, levando-a a girar com uma velocidade observavel numa escala humana — um quarto de volta por século. Depois de tal surpresa, diria que nada é impossivel. 3.2. O ENCONTRO DA FISICA E DA BIOLOGIA “Estamos perto de alcangar uma visao coerente da natureza bdsica do Universo”, afirma Erik Ahlberg, diretor de Pesquisa do Departamento de Pa- leontologia do Museu de Histéria Natural de Londres. Alhberg acha que ainda temes muito o que descobrir. Como os sistemas complexos, como organismos vivos se relacionam com as microrrealidades da matéria descritas pelos ffsicos? Sabemos, em principio, que 0 corpo humano é produzido por processos regulados por genes, os quais operam quimicamente — essas reacdes quimicas estao enraizadas na fisica quantica. Mas hd enorme ignorancia nesse campo, e acho que ainda podemos esperar grandes avancos. 3.3. A FISICA PRECISA DE EXPERIENCIAS A area nao corre o risco de morrer 4 mingua por falta de problemas. Henrique Flenming (Vice-diretor do Instituto de Fisica da Universidade de Sa0 Paulo) A fisica das particulas elementares procura as leis fundamentais da na- tureza, as tltimas, as “verdadeiras”, e acredita que elas sejam poucas e simples. No estdgio em que se encontra, produziu um quadro do Universo razoa- velmente bem-sucedido. Tudo o que existe no Universo é descrito em termos de um pequeno ntimero de particulas, entre as quais os quarks, os elétrons e os neutrinos. O comportamento dessa fauna é descrito por interacdes bastante simples, chamadas “teorias de calibre” (gauge). Ha um pouco de exagero nisso: nao hé ainda uma teoria quantica para gravitons, embora haja uma candidata muito sedutora, a teoria das supercordas. Costuma-se dizer que esta quase tudo pronto. Ha alguns anos, Stephen Hawking escreveu um planfleto intitulado “O fim da fisica te6rica esta a vista?”, no qual propunha idéias semelhantes as de Horgan. Foi muito criticado. Deixem-me acrescentar algumas criticas. To- memos 0 elétron, que conhecemos desde o inicio do século. Sabemos 0 valor de sua massa (quanto pesa), eo valor de sua carga elétrica. Mas nado temos a menor idéia de por que sua massa tem esse valor ¢ nao outro. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 37 O mesmo para a carga. Os elétrons so todos iguais: nao temos a menor idéia de como a natureza realiza esse “controle de qualidade” para que nao aparecam elétrons defeituosos. E esses problemas existem para cada uma das particulas. O Universo é neutro, ou seja, a carga total positiva é exatamente compensada pela carga total negativa. Por qual motivo? Também nao sabemos. Na realidade, a quan- tidade de coisas que sabemos ¢ infima diante do que nao sabemos. Continuamos como Isaac Newton, que disse, ao final de sua carreira luminosa, que se sentia como alguém numa praia que tinha conseguido recolher, aqui e ali, algumas conchas, enquanto tinha, diante de si, 0 oceano desconhecido. A fisica das particulas elementares nao corre o menor perigo de morrer & mingua por falta de problemas. Corre, sim, 0 risco de morrer por falta de dinheiro. Dito de outra forma, por falta de suficiente interesse por parte dos financiadores, que sao nacées, pelo que ela possa produzir de novo. A fisica 6 uma ciéncia. Por isso, precisa de experiéncias para testar suas teorias. Essas experiéncias se tornaram t&o caras que ja se duvida que possa haver retorno proporcional em termos de inovagées tecnolégicas. Acredito, contudo, que esse seja um problema restrito 4 minha area de pesquisas, e talvez a algumas outras. Mas achar que a grande era das descobertas cientificas acabou é subestimar um dos aspectos basicos da maneira pela qual a ciéncia basica progride. Em muitas dreas, na medicina, por exemplo, os pro- blemas nao sio impostos: hé que se descobrir a cura do cancer, da esclerose muiltipla. Na ciéncia bdsica nao é bem assim. Faz parte do talento do pesquisador localizar problemas que nao sejam dificeis demais e ainda sejam relevantes. Pode-se, até certo ponto, selecionar os problemas. Por isso estou firmemente convencido de que, quando uma ciéncia comega a perder o seu impeto, a inovar s6 em detalhes, o que se deve esperar nao é 0 fimdela, mas sua substituigao por uma ciéncia inteiramente diferente. “Nas épocas de crise nascem os fil6- sofos”, sintetizou Nietzsche. 3.4 AMEAGAS DE CATASTROFE Pragas agricolas e virus se tomam mais resistentes e exigem muita pesquisa. Crodowaldo Pavan (Geneticista, professor emérito da USP e da Universidade de Campinas e membro fundador da Academia de Ciéncias do Terceiro Mundo) A frase de Horgan ~ “a grande era das descobertas cientificas acabow” — soa como a maneira pela qual os aristotélicos mal usaram as contribuicdes cientificas de Aristételes. Esse grande pensador grego foi extraordinario em suasinterpretacoes filoséficas, mas errouem muitas dedugdes do que se conhecia de ciéncia na época. 38 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Osaristotélicos desenvolveram seus pensamentos e agdes na pressuposicao de que Aristételes estava certo em tudo o que dissera. Associando-se aos re- ligiosos, numa campanha de como deveria ser a orientagéo do pensamento universal, foram os principais responsdveis pelo quase nulo desenvolvimento cientifico do Ocidente por quase dois mil anos. Nao € esse 0 caso de Horgan, mas mesmo assim, se aceito, pode ter influéncia negativa no desenvolvimento cientifico. O desenvolvimento das idéias e a ponderavel expansao do conhecimento cientifico ainda so pequenos para irmos tao longe. Aceitar as idéias de Horgan seria menosprezar a criatividade humana e emperrar o processo cientifico que ainda esta no inicio’ de seu desenvolvimento, além de endossar uma proposta dogmiatica que, por enquanto, ainda tem muitas bases hipotéticas. Achar que ja temos bases suficientes, paradigmaticas ou nao, para inter- pretar de modo satisfatério 0 mundo em que vivemos pode ser vélido para 0s individuos crentes. Como doutrina, seria anticientifica e acomodativa. £ uma provocagao. Na 4rea biolégica, estar totalmente satisfeito apenas com as atuais con- cepcdes basicas sobre a evolucao das espécies, a formacao dos sistemas ecolégicos eas leis que regem os varios tipos de equilibrio bioldgico é ser muito acomodado e sem divida fora da realidade. Na atual condigao do desenvolvimento do sistema bioldgico na crosta da Terra e 0 futuro do homem nesse sistema, temos problemas prementes. Um exemplo: principalmente devido ao desenvolvimento cientifico e tec- nolégico, o Homo sapiens, uma dentre as mais de vinte milhdes de outras espécies que existem na Terra, consome sozinho cerca de 40% de todaa energia consumida pelos seres vivos. Como esté demonstrado, o homem é um parasita do meio ambiente e, se quiser sobreviver nele, precisard se comportar como os parasitas de sucesso na natureza — aqueles que debilitam, mas nao matam 0 hospedeiro. Por enquanto nao estamos sendo “bons parasitas”. Os grandes males causados ao meio ambiente, decorrentes de muitas ati- vidades humanas que em futuro proximo devem ser modificadas, precisarao de muita ciéncia para sané-los. Ha o fenémeno da resisténcia dos microrganismos patogénicos aos anti- bidticos, alguns resistentes a todos os existentes. Uma condigao biolégica con- firmada mostra que as bactérias resistentes a varios antibisticos adquirem mais facilmente resisténcia a uma nova droga do que as bactérias sensiveis ou re- sistentes a poucos antibisticos. Essa situac4o ocorre também com relagdo as pragas agricolas e aos pes- ticidas. Hoje existem pragas agricolas graves que sao resistentes a todos os pes- ticidas. Para contornar o problema, os agricultores de alguns paises desenvol- vidos da zona temperada tém de estabelecer um rodizio de culturas. ee TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 39 Outro problema muito grave, que preocupa muito a Organizagao Mundial da Satide e os varios 6rgaos agricolas nacionais e internacionais, é 0 fato de © custo para que as industrias quimicas e/ou farmacéuticas consigam desen- volver um novo antibidtico ou um novo pesticida é relativamente alto, e o tempo de eficdcia da droga vem se tornando cada vez menor devido a maior capacidade dos agentes perniciosos se tornarem resistentes. Hoje nenhum antibiético ou pesticida permanece mais do que trés anos em uso antes de aparecerem agentes especificos que se tornaram resistentes (ao antibistico ou ao pesticida). Muitas novas drogas nao duram mais do que um ou dois anos antes de aparecerem formas resistentes. O curto tempo de eficiéncia da droga ¢ insuficiente para que o produtor recupere de forma normal o capital gasto nas atividades de descoberta e producao da droga, além do lucro que deve obter. Essas complicagdes tém desestimulado as indtistrias quimicas e farmacéuticas a desenvolver atividades de descobertas de novas drogas nessas 4reas. Precisamos, portanto, criar alternativas se qui- sermos manter a producio agricola dentro dos padrées desejveis. Para finalizar, sem querer ser apocaliptico, é importante lembrar 0 que vem se passando com pelo menos duas infecgdes virais, conhecidas recente- mente: 0 virus HIV e o Ebola, que acreditamos serem acontecimentos que deveriam ser tomados como aviso prévio de outros acontecimentos muito mais graves que poderdo ocorrer. Se no nos prevenirmos com urgéncia, poderemos enfrentar no futuro situacdes semelhantes as das grandes pragas do passado, em que muitas populagdes humanas, nao estando cientificamente preparadas, sofreram graves danos, hoje hist6ricos. Conhecemos bastante a genética e biologia dos virus, mas para podermos enfrenté-los deveremos ainda fazer “grandes descobertas” que, sem duvida, mudarao muitos dos conceitos hoje estabelecidos. O estudo dos virus deveria ser prioritario. Para esse e outros estudos semelhantes precisamos de muita ciéncia e trabalho. Para manter cerca de seis bilh6es de pessoas ~ que serao mais no futuro ~ é preciso rhuito planejamento, vontade politica, trabalho e discussées. Concluindo, poderfamos dizer que, para a solugao do problema ecolégico € biolégico que aqui mencionei, o pesquisador pode, e em parte deve, usar apenas as bases dos conhecimentos estabelecidos. Mas os que assim agem esto sendo somente técnicos. Para ter comportamento cientifico devem, mesmo na solucéo dos problemas mais simples e com bases totalmente estabelecidas pelos “establishment”, sempre que puderem, fugindo das sugestoes de Horgan* tentar testar se as bases estabelecidas sao realmente validas e se realmente funcionam. HORGAN € autor do livro A era das grandes ciéncias acabou, publicado nos Estados Unidos em 1996, 40 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Essa € uma das férmulas para se conseguir descobrir coisas importantes em ciéncias, criar novas idéias e, assim, colocar alguns tijolos no edi ciéncia. Dolly: a Ovelha Expiatoria da Ciéncia Na medida em que a ciéncia produz descobertas e invencdes que causam impactos, deixa os leigos assustados, o restrito clube cientifico surpreso e ma- ravilhado, e os demais, numa ampla polémica de ordem sociolégica, juridica, religiosa, politica e ética, como aconteceu em 1799, quando ocorreu a primeira gravidez por inseminacao artificial, ou em 1866, quando Alfred Nobel inventou a dinamite, ou em 1928, quando ocorreram os primeiros testes genéticos com insetos, ou ainda em 1944, quando houve a tentativa com éxito da fertilizacao in vitro. Em 1945 as experiéncias vividas por Hiroshima e Nagasaki, coma explosao da bomba; em 1952 a clonagem de ras a partir das células de girinos; em 1953 © congelamento de esperma humano para inseminago artificial, e em 1954 a eficacia das pilulas contraceptivas. : Em 1967 a Africa do Sul realiza o primeiro transpiante de coragao, feito por Christian Barnard; em 1978 o nascimento de Louise Brown a partir de uma proveta; em 1982 os franceses anunciam a pilula do aborto; em 1983 0 nascimento do primeiro bebé de mae de aluguel; em 1993 os americanos realizam a primeira clonagem de embrides humanos; em 1995 os cientista fazem o im- plante de orelha humana em um rato; em 1997 nasce Dolly, uma c6pia de um mamifero adulto, clonada a partir de uma célula. O clone é a c6pia idéntica de outro ser vivo, tem a sua origem no grego e significa broto. O clone é produzido artificial e assexuadamente, nao tendo, portanto, de forma natural pai e mae. Para o bidlogo francés Frangois Jacob, Prémio Nobel de 1965, a clonagem. nao se estenderd aos seres humanos em larga escala. Com relagao aos animais, Jacob avalia que a clonagem permitird progressos espetaculares no campo da embriologia, da engenharia genética, proporcio- nando descoberta com relaco as causas da origem da esterilidade. Os cientistas descobrirao um método para a multiplicacao de animais que servird de fabricas de horm6nios. Os métodos e as técnicas para produzir um mamifero sao muito simples, afirmam os especialistas. Ian Wilmut e sua equipe fundiram um 6vulo nao fecundado, de onde haviam retirado o miolo genético, com uma célula doada pela ovelha que queriam copiar. Posteriormente, fizeram 0 implante do resultado da fusdo no titero de uma terceira ovelha, na qual Dolly, a expiatéria, foi gestada cientificamente. Na década de 1970, grupos de cientistas do campo da embriologia clonaram sapos adultos a partir de uma tinica célula. Contudo, ninguém se interessou TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 41 pelo proceso porque na natureza a maioria dos anfibios possui uma regeneragao completa das suas células. £ 0 caso da lagartixa, da salamandra, que quando se corta o rabo ele volta a crescer. Com a Dolly, Wilmut mostrou 0 que era considerado impossivel fazer com um mamffero quando todas as células do corpo contém as mesmas informagées para produzir um organismo inteiro. Eles apanharam uma célula especializada, no caso uma célula retirada da glandula mamaria de uma ovelha de seis anos de idade, e transformaram-na num broto biolégico, a partir do qual se pode construir um animal completo. Wilmut fundiu a célula maméria com uma célula reprodutiva cujo miolo ge- nético, o DNA, fora extraido. Dessa forma a célula reprodutiva passou a se desenvolver naturalmente, com a diferenca que o DNA da célula da ovelha doadora comandou o processo. Entretanto, a mae genética de Dolly morreu horas depois da cirurgia e Wilmut nao péde demonstrar a comparacio dos c6digos genéticos para provar que eram absolutamente idénticas. Se a ovelha mie estivesse viva, Wilmut teria como exibir a prova definitiva de dois seres geneticamente idénticos. Um com sete meses ¢ outro com sete anos. De qualquer maneira, se a mae de Dolly estivesse viva, os cientistas tentariam reproduzir novamente o experimento com suas proprias ovelhas. Caso ninguém consiga repetir o feito de Wilmut cientificamente, ele ficara sob suspeita. Dessa forma, funciona a Ciéncia.* Depois da Dolly virdo, sem sombra de dtividas, outros clones de animais como vaca, pato, galinha, cdes, e animais ameacados de extincao, até que um dia ocorra com o ser humano, cujo assunto est gerando grande polémica nos circulos cientificos, religiosos, politicos, juridicos, jornalisticos etc. O professor Bruce Hilton, pesquisador do Centro Nacional de Bioética dos Estados Unidos, nao duvida de que a clonagem de um ser humano ja esteja sendo tentada em algum centro obscuro de algum laboratério de alguma universidade desco- nhecida. Na realidade, a histéria tem demonstrado que a consciéncia da Ciéncia 6 nao ter consciéncia, indo da destruicéo maciga provocada pela explosio de uma bomba atémica & fecundagao de um ser perfeito ou monstro in vitro. Na Renascenca, 0 papa amaldicoou Copérnico por causa das suas teorias heliocéntricas e Galileu s6 nao foi a fogueira porque abjurou. Darwin foi colocado no inferno por causa da sua Teoria da Evolugao das Espécies, na qual o homem teria como ancestrais os antropéides. O mundo cientifico esté dividido com relagao as opinides. Para alguns, o clone humano seria um ato terrivel, para outros seria penetrar numa nova era que até agora ficou nos delirios da ficgao cientifica. A realidade 6 que a ciéncia vai além do bem e do mal. * NATURE MAGAZINE, 27/3/1997. Londres. 42 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA 3.5 NEUROCIENCIA Um dos principais problemas que Tomaso Poggio tenta resolver com suas pesquisas é responder como o cérebro humano funciona. Um outro é tentar fazer maquinas inteligentes. O professor e pesquisador do Departamento de Ciéncias do Cérebro do Laboratorio de Inteligéncia Artificial do MIT - Massachusetts Institute of Technology — USA, opina que nessas duas areas da ciéncia e da engenharia — em que, atualmente, o limite entre ciéncia e engenharia est4 se tornando mais nublado- vemos um progresso explosivo. Entretanto,emambasas 4reas estamos somente no comego. O maior problema da ciéncia hoje, afirma o especialista - maior do que o da origem do Universo ou o da origem da vida ~ é a natureza da mente e da inteligéncia. Esse problema e seus subproblemas nos deixarao ocupados por muitas décadas. E nés os resolveremos? Sem diivida isso depende do que entendemos como solucao. Mas é possivel que solucionemos varios deles. Um exemplo: nao sabemos ainda como o cérebro de uma mosca funciona - embora saibamos muito mais do que ha vinte anos. Nao sabemos também por que dormimos. Estou profundamente envolvido no estudo do aprendizado, seu papel no funcionamento do cérebro e como fazer maquinas que aprendam. : Demos muitos passos importantes. Com outros grupos, obtivemos sucesso ao ensinar computadores a reconhecer faces. Encontramos neurénios no cértex que aprendem a reconhecer objetos es- pectficos e desenvolvemos modelos para explicar como eles o fazem. Estamos num estaégio onde tudo o que descobrimos revela maiores e mais profundos problemas. A fisica pode estar estacionada — embora nao acredite nisto —, mas cer- tamente a neurociéncia, a matematica e a computagao nao est4o estacionadas. 43 (ADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA TRAT/ Cae ae Ee STS RIA BNL oe oT TTL h cMel (oY el (oto) OS Segunda Parte METODOLOGIA CIENTIFICA a) | x N 4 Estudando a Ciéncia 0 muitos os autores e pensadores que apresentam conceitos do que é ciéncia. Aciéncia abrange praticamente todos os campos do conhecimento humano, relacionados com fatos ou acontecimentos ¢ agrupados por principios que sao as regras. Trata-se do estudo, com(Eritérios metodoldgicos) das relagées existentes entre causa e efeitos de um fendmeno qualquer, no qual o estudioso se propoe a demonstrar a verdade dos fatos e suas aplicacées praticas. E uma forma de conhecimento sistemdtico, dos fendmenos da natureza, dos fendmenos sociais, dos fenémenos biolégicos, matematicos, fisicos e qui- micos, para se chegar a um conjunto de conclusées verdadeiras, légicas, exatas, por meio da pesquisa e dos testese De acordo com os cientistas, qualquer assunt pelo homem pela utilizagao do método cientific: de pensamento pode ser chamado de cié No mundo académico, fazer ciéncia é importante para todos porque é por meio dela que se descobre e se inventa. Por intermédio da ciéncia e da tecnologia é que temos os aparelhos de comunicagéo, 0 computador, fibras 6pticas, meios de transportes complexos, instrumentos cirtirgicos de alta pre- cisdo, equipamentos na drea de engenharia, energia nuclear, complexos sistemas de producao, avides, foguetes, materiais bélicos, controle das pragas e aumento da produtividade no setor agropecudrio, dentre outros. A ciéncia provocou no séc. XIX a Revolugao Industrial, principalmente pela fisica e a matematica, além de outros avangos no campo da psicanilise, das ciéncias sociais, da biologia, da quimica. Por meio das observacées e do experimento, nds interferimos e alteramos a propria natureza e o fenémeno observado. jue possa ser estudado de outras regras especiais 48 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Nos dias de hoje, muitas areas da ciéncia se sobrepdem de tal forma que estudiosos de areas diferentes podem se dedicar a um mesmo tipo de problema, com pontos de vista distintos. Por exemplo, um psicanalista e um fisiologista podem perfeitamente bem estudar as reagdes de um astronauta dentro de um 6nibus espacial. Um poderé estudar as formas relacionadas com alucinagdes, en- ganos de viso, depressao e outras reacdes mentais, enquanto o outro estard in- teressado nos processos respiratérios, fluxo sangiiineo, perda de massa dssea. Em virtude da sobreposicdo de algumas areas, tem sido muito dificil se estabelecer delimitagdes de onde comega uma ciéncia e onde termina a outra. + Opréprio Popper analisa essas dificuldades em seu trabalho sobre a questo da inducio* Do ponto de vista do conhecimento -—(gnosiologia)- 0 conhecimento é 0 reflexo e a reprodugao do objeto na nossa oslo fe. Dessa forma, no processo do conhecimento participam os sentidos, a razao e a intuigao. A grande dtivida € saber qual delas é a origem, a nossa base principal de conhecimentos. Com relacao ao lugar e a importancia dos sentidos, da razao e da intuicio, ha divergéncias de opinides entre os maiores pensadores sobre o assunto e, na histéria da filosofia, aparecem diferentes doutrinas a respeito. Vem do grego o termo ciéncia — scixe ~ que designa conhecer. Significava, de uma forma geral, para os gregos, todo o saber criticamente fundamentado. Dessa forma, todo o resultado da indagagao racional fazia parte integrante de um tnico saber e a ciéncia nao se distinguiria da filosofia. Nos dias de hoje, a ciéncia distingue-se das outras formas de conhecimento, representando um nivel intermediario entre o conhecimento vulgar — 0 infimo indicado —e o mais elevado, que é a propria filosofia, excecao feita aos aspectos especiais qualificativos como é 0 caso das ciéncias juridicas, filosGficas e outras. E discutivel, mas a ciéncia jé nao tem o seu perfil ideal na filosofia, e sim na fisica, na quimica, na biologia. Quanto mais um ramo de estudo se aproxima desta, tanto mais merece a consideracao da ciéncia. 4.1. COMPONENTES DA CIENCIA As ciéncias possuem: a) Objetivo ou finalidade - A ciéncia visa estabelecer a distingdo das caracteristicas comuns ou das leis que regem as relacdes de causa e efeito dos fendmenos. : POPPER, Karl. A Idgica da pesquisa cientifica. $40 Paulo: Cultrix, 1975. p. 27. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 49 b) Fungo — A principal € o aperfeigoamento do conhecimento em todas as dreas para tornar a existéncia humana mais significativa. Objeto — Subdividido em: + formais - Os objetos das ciéncias formais ou pura sio os ideais. Seu métodoéa dedugao, eseu critério de verdade é a consisténcia ou nao contradigao de seus enunciados. Todos os seus enunciados sao analiticos, isto é, deduzidos de postulados ou teoremas. ~ factuais - Os objetos das ciéncias factuais ou aplicadas, sao materiais, seu método é a observacao e a experimentacao e, em segundo lugar, Mtambém a inducao e seu critério de verdade é a verificagéo. Os enunciados das ciéncias factuais sao predominantemente de sintese, embora haja também enunciados analiticos. 4.2 ASPECTOS LOGICOS DA CIENCIA A logicidade da ciéncia manifesta-se por meio de procedimentos e ope- rag6es intelectuais que: a) Possibilitam a observagao racional e controlam os fatos; b) Permitem a interpretagao e a explicagéo adequada dos fenémenos; c) Contribuem para a verificagao dos fendémenos, positivados pela expe- rimentagdo ou pela observa¢ao; d) Fundamentam os princfpios da generalizacao ou o estabelecimento dos prineipios e das leis.* Muitos estudiosos da Metodologia Cientifica procuram entender a ciéncia por Angulos diferentes, mas todos caminham para um tinico objetivo que é a demonstragao da verdade por | meio da observacao e da experimentagao. A ciéncia é, portanto, “Acumulacaéo de conhecimentos sistematicos”; “Atividade que se propde a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicagoes praticas”; “Caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistematico, exato, verificdvel ¢, por conseguinte, falivel’; “Conhecimento certo do real pelas suas causas”; * ANDER-EGG, Ezequiel. Introduccién a las técnicas de investigacién social: para trabajadores sociales. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. p. 15. 50 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA “Conhecimento sistematico dos fendmenos da natureza e das leis que os regem, obttdo pela investigacao, pelo raciocinio e pela experimentagao inten- siva”; “Conjunto de enunciados légicos e dedutivamente justificados por outros enunciados”; “Conjunto organico de conclusées certas e gerais, metodicamente demons- tradas e relacionadas com 0 objeto determinado”; “Corpo de conhecimentos consistindo em percepgoes, experiéncias e fatos certos e seguros”; “Estudo de problemas soltiveis, mediante método cientifico”; “Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo”. Ander-Egg, no seu trabalho Introduccién a las técnicas de investigacién social, afirma que a ciéncia é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou provaveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificveis, que fazem referéncia a objetos de uma mesma natureza, subdividindo-o em: - conhecimento racional, isto é, que tem exigéncias de método e esta constituido por uma série de elementos basicos, tais como sistema conceitual, hipéteses, definigdes; diferencia-se das sensagdes ou imagens que se refletem em um estado de animo, como o conhecimento poético, e da compreensao imediata, sem que se busquem os fundamentos, como é 0 caso do conhecimento intuitivo popular. - certo ou provavel, j4 que nao se pode atribuir a ciéncia a certeza in- discutivel de todo saber que a compée. Ao lado dos conhecimentos certos, € grandea quantidade dos provaveis. Antes de tudo, todaleiindutiva émeramente provavel, por mais elevada que seja sua probabilidade. = obtidos metodicamente, pois ndo se os adquire ao acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras logicas e procedimentos técnicos. (C@sistemattzatorespisto é, nao se trata de conhecimentos dispersos e des- conexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de idéias ou teorias. - verificaveis, pelo fato de que as afirmacées que nado podem ser com- provadas ou que nao passam pelo exame da experiéncia nao fazem parte do Ambito da ciéncia, que necessita, para incorporé-las, de afirmagdes comprovadas pela observacio. = relativas a objetos de uma mesma natureza, ou seja, objetos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certas caracteristicas de homo- geneidade.* * TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da cigncia, 3. ed., Rio de Janeiro: Kennedy, 1974. po ee a TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 51 4.3. CLASSIFICAGAO DAS CIENCIAS E RAMOS DE ESTUDOS Nao existe uma linguagem tinica para a classificagao das ciéncias. A sua classificagao foi feita por diferentes pensadores e estudiosos do assunto. As propostas vém dos gregos, passa por Comte com 0 positivismo, Carnap, Wundt, Bunge e outros. Baseando-nos em Bunge, apresentamos a seguinte classificaciio das ciéncias e ramos de estudo.* FILOSOFIA (LOGICA) FORMAIS (Puras) sintetiza e explica os MATEMATICA fatos e principios descobertos sobre 0 universo e seus habitantes FISICA FISICA NUCLEAR, MINERALOGIA, LOGISTICA MILITAR, PETROGRAFIA, GEOLOGIA, COMPUTAGAO, ENGENHARIA, ASTRONOMIA NATURAIS QUIMICA = QUIMICA ORGANICA, QUIMICA INORGANICA, FISICO-QUIMICA, FARMACIA E BIOQUIMICA BIOLOGIA BOTANICA, MEDICINA, ZOOLOGIA, VETERINARIA, AGRICULTURA, TEC. ALIMENTOS, ENFERMAGEM ‘(Aplicadas) utiliza os fatos e principios cientificos para fazer coisas liteis aos homens ECOLOGIA SOCIAIS 5 SOCIOLOGIA, PSICOLOGIA SOCIAL, ' Car Jo~ ANTROPOLOGIA CULTURAL, ahem | 5 GEOGRAFIA, DIREITO, Jon Ce oe! ADMINISTRAGAO, COMUNICAGAO ‘ mo forme SOCIAL, ECONOMIA, HISTORIA 2 Div. come fe pray sen fac en * BUNGE, Mério. La Ciencia, Su Metodo y Su Filosofia, Buenos Aires: Sigioveinte, 1974. cap. 1 52 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA A geologia, meteorologia, oceanografia e astronomia também sao agru- padas como geociéncias. “As Ciéncias Formais ou Puras e as Ciéncias Factuais ou Aplicadas sao necessdrias para levar os beneficios da- pesquisa cientifica. A maioria dos es- tudiosos conhece mais a respeito das Ciéncias Factuais do que das Ciéncias Puras, em virtude de manterem mais contato com as conquistas das Ciéncias Aplicadas. 4.4 A TEORIA DO CONHECIMENTO A teoria do conhecimento tem o seu inicio com a seguinte pergunta: Po- demos ter um conhecimento exato do mundo que nos cerca? Ou seja, trata-se dé saber se 0 mundo é conhecido tal qual 6, ou de forma diferente do que aparenta ser? . Do ponto de vista cientifico — gnosiologia — 0 conhecimento é 0 reflexo € a reprodugao do objeto na nossa mente. Dessa forma, no processo do co- nhecimento participam os sentidos, a razao e a intuigao. A grande dtivida 6 saber qual delas é a origem, a nossa base principal de conhecimentos. Com relagdo ao lugar e a importancia dos sentidos, da razio c da intuigdo no conhecimento da verdade ha divergéncias de opinides e na historia da filosofia aparecem diferentes doutrinas a respeito: 4.4.1 O Empirismo Sua origem vem do grego empeiria, que significa experiéncia. E uma doutrina que afirma que a tinica fonte de nossos conhecimentos é a experiéncia recebida e experimentada pelos nossos sentidos. Seu principal axioma em latim é: NIHIL EST IN INTELLECTU QUOD PRIUS NON FUERIT IN SENSU - Nada existe no intelecto que antes nao tenha estado nos sentidos. De uma forma geral os empiristas como Locke, Hume, Condillac, Stuart Mill e outros consideram que o conhecimento empirico, obtido através dos Stgdios dos senticlos, é suficiente para conhecer a verdade. Por ocasiao do nosso nascimento, a nossa mente esté totalmente vazia, assemelhando-se a um buraco negro ou a uma folha em branco na qual, com o passar do tempo, a experiéncia escreve. De acordo com os pensadores, principalmente Locke, todos os nossos conhecimentos, incluindo os mais gerais e abstratos, 0 sujeito cognoscente tira da experiéncia a sua forma de ser. A razao nao agrega nada de novo, porque se limita simplesmente a unir | e ordenar os diferentes dados da experiéncia. E suficiente a razdo se afastar dos dados da experiéncia para cair no erro, desligar-se da realidade. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 53 O principal mérito do método empirico é 0 de assinalar com vigor a importancia da experiéncia na origem dos nossos conhecimentos. Os empiristas de um modo geral tém razdo ao afirmar que nao existem idéias inatas, e de que antes da experiéncia nao ha ¢ nem pode haver conhecimento algum sobre o mundo exterior Entretanto, o ponto fraco dos empiristas é, sem dtivida, a subestimagdo do papel da razio, do pensamento abstrato e a sua diferenca qualitativa em relagao ao conhecimento empirico. Os nossos sentidos nos dio somente o conhecimento dos fendmenos. A esséncia das coisas, ¢ ntimero, s6 podem ser alcangados pela razao, pelo pen- samento abstrato. Tanto isso é verdadeiro que muita gente, muitos estudantes, possuem grande dificuldade para atingir 0 raciocinio abstrato € nao sé desen- volvem. O mundo de hoje, sée. XXI, esta a exigir o raciocinio abstrato, muito mais do que nas épocas anteriores. A ciéncia e a tecnologia se desenvolvem praticamente no mesmo ritmo e, as vezes, com vantagens para a tecnologia. Esstnda Jon corsa Nowsro 4.4.2 A Razao Doutrina que afirma que a razio humana, o pensamento abstrato, é a tinica fonte do conhecimento. O termo vem do latim ratio = razao. Aocontrario dos empiristas, os racionalistas afirmam que os nossos sentidos nos enganam e nunca podém conduzir a ur conhecimento verdadeiro, uma vez que o mundo da experiéncia encontra-se em continua mudanga e trans- formagéo. E como o universo, em constante mutagao. Para os racionalistas, um conhécimento € verdadeiro somente quando é logicamente necessario e universalmente valido. Esse conhecimento s6 pode ser alcangado pela razao. Oracionalismo comega com Plato e se estende por Descartes, Espinosa, Leibniz, Kant e outros. ( De acordo com a Teoria das Idéias Inatas de Descartes ou das formas a riori de Kant, os conceitos fundamentais do conhecimento so os inatos, ou seja, nascem conosco e, nesse sentido, ndo procedem da experiéncia, sio a priori, conforme Kant, anteriores 4 experiéncia.* O principal mérito do racionalismo, ao contrario do empirismo, consiste no fato de reforcar a idéia do importante papel ativo e criador da razao, do pensamento abstrato, no conhecimento da verdade e da esséncia das coisas. * CAIARD, Edward. The Critical Philosophy of Immanuel Kant. Glasgow, 1889. KULPE, Oswald. Immanuel Kant. Leipzig, 1908. 54 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA O erro dos racionalistas esta no fato de separarem a razao da experiéncia, de desprezarem o papel dos sentidos, considerando apenas que a razio nao depende de nada, nao depende da experiéncia, e pode por si propria conhecer a verdade Os racionalistas partem da consciéncia do homem adulto e culto, que adquiriu e formou muitas idéias, axiomas e princfpios da razao. Contudo, nao observaram que essas idéias, principios e axiomas possuem a sua origem no empirismo. Apés serem repetidas milhares de vezes pelo pensamento, essas verdades objetivas se tornaram evidentes e axiomaticas e criaram a impressdo de serem, a priori, inatas, congéhitas ¢ inerentes & razao humana.* 4.4.3 A Intuigao A intuicao, ao contrario do que se pensa, desempenha um papel muito importante no campo da ciéncia, no conhecimento da verdade, embora Bergson. e outros pensadores tenham afirmado que é possivel conhecer diretamente a verdade, o absoluto, sem auxilio dos sentidos e da razo, por meio da faculdade irracional_ou_sobrenatural que é a intuigio, com a qual estariam dotadas, segundo ele, apenas as elites privilegiadas, eleitas por uma forca sobrenatural (Deus etc.). ' Na histéria da filosofia, a intuigio tem sido estudada ha longo tempo, igualmente desde Platao até os nossos dias, e a maioria das correntes do nosso século é intuicionista e considera a intuig&do como érgao ou faculdade superior de conhecimento, que nos fornece direta e imediatamente a verdade absoluta. Entre essas escolas, podemos incluir: a ~ Neotomismo, doutrina filosdfica oficial da Igreja; b - Intuicionismo, do fildsofo francés Henry Bergson — 1859-1941; ¢ — Fenomenologia, do filésofo alemao Edmund Husserl - 1859-1938; d-Existencialismo, do também filésofo alemao Martin Heidegger — 1889- 1977. Atualmente, poucas correntes filos6ficas nao sao intuicionistas como é 0 caso do marxismo, pragmatismo e neopositivismo; entretanto, nenhuma delas nega a intuicéo como espécie natural de conhecimento. Axioma: do grego axiologos, do latim axioma. Premissa imediatamente evidente que se admite co ersalmente verdadeira sem exigéncia de demonstracao. Maxima Sentenca. Priori. yy, TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 55 © Marxismo - Doutrina dos fildsofos Karl Marx — 1818-1883 - e Friedrich Engels - 1820-1895 - fundamentada no materialismo dialético, e que se desenvolveu por meio das teorias de luta de classes e da elaboracao do relacionamento entre 0 capital e o trabalho, do qual resultou a criagéo da Teoria da Tatica da Revolugio Proletaria. * Pragmatismo - do inglés pragmatism - Doutrina de Charles Sanders Peirce, fildsofo americano — 1839-1914 -, cuja tese fundamental é de que a idéia que temos de um objeto qualquer nada mais é senao a soma das idéias de todos os efeitos imagindveis e atribuidos a nés a esse objeto, que possa ter efeito pratico. Para Peirce a verdade de uma pro- posigao é uma relacdo totalmente interior 4 experiéncia humana, e 0 conhecimento é um instrumentoa servico da acao, tendo o pensamento cardter puramente finalistico. A. \ werdacle de uma, proposicso consists ofatodequeclaseia itl tenha alguma espécie de éxito ou de satisfacdo. jirce é 0 precursor da légica e criador da semiética - teoria dos signos. Com Peirce, prossegue-se 0 campo de estudo da ciéncia da jane =o comunicagao. * Neopositivismo — do francés positivisme — neopositivisme — Positivismo légico — movimento doutrindrio do chamado “Circulo de Viena”, fun- dado por Moritz Schlick, filésofo alemao — 1882-1945 -, que reuniu os filsofos germanicos Phillip Franck, Otto Neurath, Rudolf Carnap, Hans Reichen Bach e Ludwig, Wittgenstein, cujas teses sao assinaladas pelo carater cientificista e expressamente antimetafisico, que associa a tra- dicg&o_empirista_ ao formalismo légico mateméatico. A intuigdo é um modo de conhecimento que completa as demais espécies e modos de conhecimentos ~ sensivel e racional. A intuigdo é uma funcéo especial da mente humana, que age pelo pensamento, independentemente da pessoa ser ou néo letrada. E um fenémeno psiquico natural que todos os seres humanos possuem, alguns em maior grau e outros em menor grau, conforme certas condigées — a pajelanga, o misticismo e 0 esoterismo atuam muito nessa Area como forma de conduzir as pessoas. = £ uma forma de conhecimento obtida de maneira muito clara e de forma direta, sem a intervencao do raciocinio, de uma s6 vez e nao por meio de atos sucessivos. E um conceito cartesiano, para o qual a intuigao é proporcionada pelas idéias claras e distintas que tornam o critério da verdade inteligivel. Vem do latim — in tuire = ver em, contemplar; intuitus = visdo, contemplacao; intuitio = ato de ver, contemplar e corresponde a uma forma de conhecimento direto, uma forma de visao imediata dos objetos e de suas relacdes com outros objetos, sem o_uso de raciocinio discursivo ou de base cientifica. ~Para Kant—a Anschauung — visio é uma forma que os seres humanos possuem de estabelecer relagdes com 0 mundo que os cerca. Kant admite na Critica do juizo estético e teleolégico que a intuigao estética possibilitaria a sintese 56 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA entre o particular e o universal, a apreensao do absoluto, na forma de intuicéo sensivel e intelectual.” 4.5 A DIVISAO DA TEORIA DO CONHECIMENTO A Teoria do Conhecimento preocupa-se em estudar os problemas fun- areas distint damentais do conhecimento e pode ser dividida em tr 1- GNOSIOLOGIA}- do grego gnosis = conhecimento e logos do latim = ciéncia, estudo, tratado. A gnosiologia preocupa-se em estudar a esséncia do conherimento, uma forma de conhecer a realidade, as qrigens ou fontes do conhe- cimento, as formas ou espécies da qual se reveste 0 conhecimento, a validade do conhecimento em geral, ou seja, a verdade, e qual o seu critério. = _EPISTEMOLOGIA}- do grego episteme = ciéncia. Estuda a validade do conhecimento cientifico, das ciéncias_particu- lares. 3 = METODOLOGIA}- do grego método, meta = ao longo de: hodés: via, caminho, organizacéo do pensamento. Estuda os meios ou métodos de investigacio do pensamento correto e do pensamento verdadeiro que visa delimitar um determinado pro- blema, analisar e desenvolver observacées, criticé-los e interpreta-los a partir das relagées de causa e efeito. Encontrar os fendmenos que sao objetos de estudo, dando-lhes suporte cientifico para uma mo- nografia, dissertagao de mestrado ou tese de doutorado. A Metodologia divide-se em: a) Légica Formal — que estuda os prinefpios formais do pensamento. Estuda 0 pensamento correto, ou seja, a coeréncia do pensamento consigo mesmo b) Légica Dialética — que estuda as condices subjetivas-objetivas do conhecimento da realidade com o fim de alcangar a verdade objetiva. Analisa 0 pensamento verdadeiro, isto é, a correspondéncia entre ensamento e objeto — a realidade objetiva. § §—- —————_ * KANT, |. Critica da razio pura. Sio Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 17. 5 O Método Método deriva da Metodologia e trata do conjunto de processos pelos quais se torna possivel conhecer uma determinada realidade, produzir determinado objeto ou desenvolver certos procedimentos ou comportamentos. Dessa forma, o método nos leva a identificar a forma pela qual alcangamos determinado fim ou objetivo. Para ensinar mtisica a alguém, existe um método, da mesma maneira que para ensinar um idioma as escolas de linguas possuem o seu proprio método de ensino, que leva o aluno a aprender de uma maneira mais facil ou nao. Para aprender a tocar violdo, existem muitos métocos nas bancas de jornais. Para investigar um fenémeno qualquer, também existe um método que nos possibilita estabelecer uma relacao de causa e efeito. O Método ¢, portanto ma de pensar para se a res deum determinado problema, quer seja para estuda-lo, quer seja para explicé-! ne (O Método, que sao regras, foi elaborado nos seus mais diferentes aspectos por muitos pensadores, cientistas e estudiosos da metodologia cientifica ao longo dos séculos. E muito provavel que a sabedoria humana no resolva realmente todos os problemas de modo sistematico. MaS depois que o problema é resolvido, © método cientifico é utilizado para explica-lo e expor a sua solugéo de um. modo ordenado para poder ser compreendido por todos aqueles que estio no processo da produgao cientffica nas universidades, e precisam compreender que a ciéncia possui um plano formal de desenvolvimento. Dessa forma, 0 método nos leva a: a) Apresentar 0 tema; ( b) Enunciar 0 problema; 58 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA c) Rever a bibliografia existente; d) Formular hipéteses e variaveis; e) Observar e fazer os experimentos; f) _Interpretar as informacées; g) Tirar conclusées. 5.1. METODO E TECNICA O método se faz acompanhar da técnica, que é 0 suporte fisico, so os instrumentos que o auxiliam para que se possa chegar a um determinado resultado: ensino, descoberta, aprendizado, invencao, investigacao. A técnica & a parte material, 6 a parte pratica pela qual se desenvolve a habilidade de ensinar, aprender, produzir, descobrir e inventar. Existem varias formas de ensinar a lingua portuguesa: por meio da ver- balizacao, exercicios, leituras, escrita — so métodos. Mas quando o professor utiliza-se do giz, do quadro-negro, de transparéncias no retroprojetor, de en- cenagoes e de outras formas para didatizar a sua aula, ele estar utilizando-se de técnicas. Quanto melhor forem os recursos técnicos, metodologicamente os resultados serao outros, melhores. O método é de certa forma 0 encaminhamento, a busca, contrapondo-se a obtengéo de um resultado qualquer ao acaso. Este conceito traz implicito 0 fato de que antes de se desenvolver 0 métod0 é preciso estabelecer os objetivos visados de forma muito clara; por exemplo, descobrir, analisar, estudar, pes- quisar se o telefone celular produz nos usuarios dores de cabeca, calor e coceira no rosto, enjéo e sonoléncia. Qual o método mais adequado que deveré ser utilizado nesta investigagao? Quais so os meios técnicos que servirio como apoio ao método. Nao se trata de um termo absoluto, um cardter uno, porque em muitos casos existe apenas uma intuicdo, uma pré-ciéncia do objeto que estimula a ctiagao do método. Descartes foi um dos maiores estudiosos do assunto em sua obra Discurso sobre 0 método — Discours sur La Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vérité Dans:es Sciences ~ 1637 — Discurso sobre 0 método para bem conduzir sua razito e procurar a verdade nas ciéncias. O assunto 6 complexo porque pluraliza e se diversifica de acordo com 0 dominio de cada area do conhecimento das ciéncias formais e dedutivas as ciéncias empirico-formaise ciéncias naturais, e, dentro de cada dominio, segundo os problemas. Por exemplo Método de Resolugao da Trigonometria, Método de Resoluc’o da Geometria Espacial. ‘TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 59 A formulagao de enunciados precisos tem sido visto desde Newton 1642- 1727 — Os principios matematicos da filosofia natural (1687), como sendo uma das tarefas mais importantes da ciéncia. Entretanto, somente com Francis Bacon (1561-1626) — Novum Organum — Novo método, que a descrigao sistematica do procedimento a ser adotado, que é 0 Método, na busca das leis que regem as relacGes de causa e efeito dos fendmenos, foi aceita pela comunidade cientifica do séc. XVII ao nosso século. O papel do Método na pesquisa cientifica, cujo termo vem do latim e significa caminho, passos para se chegar a um objetivo, possibilita assentar enunciados - tema — gerais ou especificos sobre observages acumuladas de casos gerais e especificos. Bacon mostra na esséncia do seu trabalho - Novo método - a questao da observacio e da experimentacao aos quais devem se submeter os fendnemos, podendo-se dessa forma confirmar a verdade. A demonstragao do que é ver- dadeiro ou falso s6 pode ser feita por meio do experimento, e da fase da pesquisa é que se pode observar e registrar metodologicamente a forma ade- quada e sistematica das informagées que se possa coletar a respeito das causas de um determinado fendmeno, que, conseqiientemente, 6 0 problema. O método nos leva a examinar de uma maneira mais ordenada as questdes do Por que ocorre? Como ocorre? Onde ocorre? Quando ocorre? e O que ocorre? Na realidade, 0 problema é uma indagagdo, conforme o exposto, cujas respostas ou explicagdes s6 serao possiveis por meio da pesquisa e da expe- rimentacéo. O bom andamento da pesquisa e da experimentacio dependera exclusivamente da adequacao do método e das técnicas a serem utilizadas. 5.2. METODO INDUTIVO 4 A Inducao separa os enunciados cientificos dos outyds tipos de enunciados que se baseiam na_emocdo, na autoridade, na tradicao, na conjectura, no preconceito, no habito, nas manchetes de jornais, nos titulos de filmes e novelas. A questo da inducao, chamado de Problema de Hume, tem perturbado os pensadores desde o tempo de Hume - 1711-1776 - autor de An Enquire Concerning Human Understanding (1748), dentre outras, até os dias de hoje. As correntes de pensamento a favor de Hume demonstram que a indugo se converte em principio légico independente, incapaz de ser inferido da ex- periéncia ou de outros principios légicos, e que a ciéncia se torna imposstvel sem ele. 60 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA O tema, além de polémico, é também extremamente embaracoso porque 6 exatamente a ciéncia que deve apoiar-se em pilares cuja validade nao tem como ser demonstrada. Este fato levou os empiristas a partir de Locke (1632-1704) — An Essay Concerning Human Understanding (1690) - ao_ceticismo, ao irracionalismo, ao misticismo. & partir disso, basicamente, os empiristas se viram na condicao de afirmar que é preciso admitir que as leis cientificas nao podem tradas, @. que nao sao certas, embora certas, as leis cientificas sao provaveis, e, na pratica, sendo em teoria, isso nao sé distingue dé certeza. Em vez de continuarem a lutar com um problema légico aparentemente insoltivel, preferem prosseguir com a atividade cientifica e alcangar maiores resultados. Por outro lado, Popper sustenta que nao se deve abandonar de forma leviana as teorias, porque Isso representaria a adogao de atitudes excessivamente frdgeis para o desenvolvimento da ciéncia e da pesquisa. O método indutivo possibilita o desenvolvimento de enunciados gerais sobre as observagdes acumuladas de casos especificos ou proposicgées que pos- sam ter validades universais. Exemplos: O Homem 6 animal; O Homem 6 racional; Logo, 0 homem é animal racional (validade universal). O método indutivo é considerado como 0 elemento distintivo da ciéncia. O seu emprego é considerado com@fgrma ou critério de aquilo que € cientifico ¢ aquilo que nao é cientilico. Enunciados cientificos - Tema — sao os tinicos que nos levam ao conhe- cimento seguro, preciso e certo, porque possuem fundamentos de certeza, ver- dade, razao e evidéncia observacional e experimental => Chara Popper, a indugio é um conceito dispensavel. Nao existe. } ‘Nao ha indugao. A observagao é sempre seletiva. A teoria popperiana é sem diivida uma explanagao da Tégica e da historia da ciéncia e néo uma visio da psicologia que cultiva a ciéncia. A teoria de Popper é o fundamento racional da aco dos cientistas, é uma ia que explica e orienta de que forma se desenvolve o conhecimento humano. O conhecimento é de carater provisdrio. Absolutamente nada da ciéncia esté permanentemente estabelecido, coisa alguma nela é absolutamente inalterdvel.* * POPPER, K. Op. cit., p. 303. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA, 61 Indiscutivelmente a ciéncia esté em constante modificagao e esta modifi- cacao nao ocorre por simples acréscimo de novas certezas. Nao se deve perder de vista 0 aspecto de que a experiéncia pode endossar a qualquer momento ee : ere que aqueles conhecimentos sao erréneos e precisam de revisao. Q ponto de partida da indugdo nao sao os principios, como na dedugao, mas a observagao dos fatos e dos fenémenos, da realidade objetiva. Seu ponto de chegada é 0 estabelecimento de leis ou regularidades que regem os fatos ou fendmenos. Apesar das grandes discussées levantadas no século passado sobre o as- sunto, a indugao é 0 método cientifico por exceléncia e, por isso mesmo, é 0 método fundamental das ciéncias naturais e sociais. Na realidade, a indugao nao é um raciocinio tinico: ela compreende um conjunto de procedimentos, uns empiricos, outros légicos e outros intuitivos. Forcerina ee icp 5.2.1 Indugao Formal A lei que rege 0 ponto de chegada expressa realmente a totalidade dos fenémenos observados. Exemplo: A Terra, Marte, Vénus e Jupiter sao desprovidos de luz prépria. Ora, a Terra, Marte, Vénus e Juipiter sao todos planetas. Logo, todas os planetas sio desprovidos de luz prépria. Essa lei refere-se a todos os planetas do nosso sistema solar. ua A indugao formal pode até(Maoyaumentar 0 CONREGMENT) mas substitui or um termo geral uma série de termos singulare: 5.2.2 Indugao Cientifica ou Amplificadora Conseqiientemente, a Lei nao exprime a totalidade, entretanto expressa uma parte dos fenémenos. Conclui de um ou mais fatos particulares para todos os fatos semelhantes, presentes e futuros. Exemplo: Este ima atrai o ferro. Ora, aquele ima atrai o ferro. Logo, em toda parte e sempre, o ima atraird o ferro. Outro exemplo Premissa: Descartes morreu, Rui Barbosa morreu, Carlos Gomes morreu. Ora, Descartes, Rui Barbosa e Carlos Gomes e os demais eram homens. Logo, todos os homens sao mortais. 62 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Nesta linha de raciocinio fica claro que nao foram observados todos os casos ou fatos dos homens terem morrido, mas um certo ntimero deles, con- siderados suficientes por estabelecerem a relacao constante e necessdria repre- sentada pela lei. Certamente a indugao cientifica é imperfeita e portanto passivel de erro, mas é a linha de raciocinio mais empregada nas ciéncias, pois na pratica nem sempre é possivel observar todos os fatos ou fendmenos. (PTrch al cl ose [er de un principle ole : eTido come yarhadeive. 5.3. METODO DEDUTIVO 5 above aclu. Ao contrario da indugao, o método dedutivo procura transformar enun: ciados complexos, universais, em particulars, A concluséo sempre resultaré ém uma ou varias premissas, fundamentando-se no raciocinio dedutivo. O método dedutivo também pode se realizar nas operacées légicas, nas quais os raciocinios simples podem chegar a enunciados complexos. Fazem parte das ciéncias dedutivas a Jégica e a matematica. A dedugio como forma de raciocinio légico tem como ponto de partida um principio tide como verdadeiro a priori. Q seu objetivo 6a tese ou conclusio, eS ue Se pr rovar, A dedugao apresenta duas formas: analitica, formal ou silogistica. E uti- lizada na l6gica formal. Trata-se de um raciocinio puramente formal, no qual a conclusao nao fornece um conhecimento novo, ao contrario da indugao; isto porque a deducao ja esta implicita nos principios. Sua forma mais importante € 0 silogismo,* raciocinio composto de trés juizos ou _proposigdes: duas pre- missas - maior e menor — e uma conclusao. Exemplos de silogismo ou dedugao formal: * Todos os homens séo mortais — premissa maior; * Platao é homem - premissa menor; * Logo;Platio é mortal - conclusio. No campo da matemitica, a conclusao 6 uma proposicao nova que se constréi com a ajuda de principios. Silogismo: deducao formal tal que, postas duas proposicdes, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicadas, chamadas conclusao. Novo Dicionério Aurélio, 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 Premissa: a que é mandada primeiramente. Cada uma das duas primeiras proposiqées de um silogismo que serve de base a conclusao. Fato ou principio que serve de base a um raciocinio. Novo Dicionério Aurélio, 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 63 Exemplo: Num teorema de geometria a conclusao nao esta contida nos princfpios (na hipdtese), mas na sua demonstraca. Consiste em construi-la com a hipétese. SS ....,, Exemplo: Constréi-se a soma dos angulos de um poligono com as dos triangulos, nas quais se pode decompor o poligono e cujo numero é 6 de seus lados, menos dois. Na Algebra constréi-se a nova forma de expressao algébrica, partindo da primeira e assim por diante. A dedugao e a indugao, tal como sintese e andlise, generalizacGes e abs- tracées, nao sA0 métodos isolados de raciocinio e pesquisa. Eles se completam na realidade e s6 séo separados para efeito de estudo e facilidades didaticas. conclusao estabelecida pela inducdo pode servir de princfpio — premissa maior — para a deduggo, mas a conclusao da deducao pode também servir de principio da indugao seguinte — premissa menor -, e assim sucessivamentte. Exemplo: | O cobre conduz eletricidade, o ferro e 0 zinco também. O cobre, o ferro, 0 zinco etc. sao metais. Logo, todos os metais conduzem eletricidade. A conclusao deste raciocinio indutivo serve de premissa maior para o raciocinio dedutivo. Todos os metais conduzem eletricidade. Ora, a prata é metal. Logo, a prata conduz eletricidade. Deve-se observar que quando uma das premissas nao for verdadeira, a concluséo também nao o sera. Exemplo: Todos os homens sao honestos. Ora, os ladrées sao homens. Logo, os ladrées sio honestos. 5.4 METODO CARTESIANO: 7 ,cariéy Tomando como ponto de partida a universalidade da razo, da qual todos os homens participam, Descartes identifica no intelecto, em sua pureza, duas faculdades essenciais: a intuigdo, pela qual podemos ter imediatamente pre- sentes no espirito idéias claras, perfeitamente determinadas e distintas, simples \ 64 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA e irredutiveis; e a deducao, pela qual podemos descobrir conjuntos de verdades ordenados racionalmente. © método constitui-se de quatro regras de utilizagao da intuigdo e da deducao, para que possamos estender a certeza matematica ao conjunto do saber. T. Pela regra da evidéncia, devemos evitar todas as prevencées ~ conjuntos de preconceitos - e precipitagées, para acolher apenas idéias claras e distintas. 2. Pela regra da andlise, devemos dividir nossos problemas no maior ntimero possivel de partes, para melhor resolvé-los. 3. Pela regra da sintese, devemos distinguir entre as verdades mais simples, independentes e absolutas, das ver- dades mais complexas, condicionadas e relativas. Essa regra pressupde a or- denagao das partes segundo o critério da relacao constanite entre elas, de modo que possam ser comparadas com base na mesma unidade de medida. 4. Pela regra de enumeracio, devemos selecionar exclusivamente o que for necessario e suficiente para a solucao de um problema, evitando as omissdes.* Descobrir, medir, analisar, otimizar, decidir, observar os resultados e os fenémenos e comecar o ciclo novamente sao maneiras pelas quais a tomada de decisao nas pesquisas deveriam ser executadas através de métodos cientificos. Certamente que a intuigao desempenha papel importantissimo nas ages humanas e nos pensamentos, como Descartes enfatiza no seu Regulae ad direc- tionem ingenii. Nesse trabalho, ele cria regras para auxiliar a reflexdo inventiva; ela apareceria entre as primeiras pesquisas de Descartes. Muito rica em dados, sua obra lida com légica e metodologia possibilita a introducio da heuristica, que 6 um conjunto de regras na reflexao inventiva. a Pela observacao, nossa atitude na agao nao pode ser meramente légica, pois deve ser fambém reconhecido que a emogao é uma influéncia positiva e de grande importancia para o pesquisador, porque nos tira do automatismo e da rotina. Descartes disse, e depois dele Leibniz € Bolzano, que a atitude heuris ica é um encontro da intuigao inventiva e da légica. ‘As normas da heuristica, de acordo com Déscartes, sao também as que parecem ser importantes na conduta da pesquisa e na criatividade. Mesmo assim, talento e experiéncia nao séo tudo; nés necessitamos de um desejo intenso, de uma vontade extraordindria e de uma perseveranca muito grande para chegar a verdade. O pesquisador no nivel de pés-graduacao e o cientista encontram isso no método cientifico. Acima de tudo, existe a necessidade de, na nossa constituigao mental, haver um espirito comprometido coma verdade, para que as discusses possam ser baseadas em modelos cada vez mais proximos da realidade; talvez até incompletos porque sio modelos e nao objetos, mas solidamente construidos em bases l6gicas e cientificas. * DESCARTES, René. Discours sur Ia méthode. 2. ed, Paris: Guéroult, 1925. Método TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA, Breve Descrigio 65 5.5 OUTROS METODOS E SUAS APLICAGOES Exemplo e Aplicagao Aplicagio direta de uma teo: Método de sever hipéteses. —— Partindo do fato de que a teoria matematica ou racional abstrata, totalmente enuncidvel, existe, ela & aplicada aos problemas reais Da critica de hipéteses basicas ou seus desenvolvimentos, construgdo de um novo sistema de hipoteses mais aceitaveis. se 6 0 método dos modelos matematicos usados por fisicos ‘ou economistas. E uma mecanizacao verdadeira que nos possibilita passar da teoria ao ma Dos efeitos de uma organizacao ou de uma maquina montada de acordo com certos principios, construgio de um sistema mais Ficient — — ou ‘Método da tenovacao. Método da transferéncia dos conceitos. Método da transferéncia por analogia. Montar um novo sistema de hipsteses partindo da destruigio do sistema anterior, SEE Supde-se que exista uma antiga teoria ou organizagao. A renovagio consiste em modificé-las, levando em a1 Jo novos fatos ou vas métodos, mas sem altérar © objetivo da acao. Conceitos so tirados de um campo especifico, ¢ uma Tentative feita para transferi-Jos aum, DAUOCAPS VW) st yaeng. Um fenémeno ¢ examinado com as consideragées e do ponto de vista de um fenémeno diferente Intervengao num trabalho de pesquisa ou classificacao de um dissidente efetivo que obtém sucesso na modificagao da tendéncia da pesquisa, ou a escolha de uma classificagao diferente, Um dos métodos praticos m: usados em pesquisa e organizagao. Na fisica, rever a teoria da condutividade & luz da ciéncia atémica. Introduzir cartées perfurados numa firma sem mudar seus principios da contabilidade. Tirar 0 conedito de um estado transiente da fisica e tentar usd-lo no estudo de certos problemas de administragao de empresas. Analogia entre certos problemas de fusio na fisica e fluxo num problema de tréfego. Analogia entre a mortalidade de células vivas eo desgaste do Método da prolongasao. Certas limitacSes sio impostas s ara que el ‘excedidas, levando a novas limitagées, e assim por diante. Isso representa o estabelecimento de indugao na razdo, como é freqiientemente feito em 66 Método SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA Breve Descrigéo Exemplo e Aplicagio Métgdo fenomenolégi Método teratoldgico. Defendido pelo filésofo Hu consiste em isolar num fendmeno influéncias para estudé-lo e usé-lo, embora suas ligagies abandonadas possam, mais tarde, ser levadas em consideragao. Consiste em formular hipsteses ém_dos limites normais da Tacionalidade, e entao imaginar seu efeito num modelo dado. \Analise de um filme, quai Gado. Certos métodos de Simulagdo. Estudo visual do fluxo de um liquido pelo uso de corantes. Considerar sium problema de administragio valores extremos de certos parametros, para encontrar um objetivo razoavel. Método da Defrontando determinado Esse é 0 procedimento classico na dicotomia. problema, nos perguntamos uma —_ matemética para muitas série de questées que podem ser demonstragdes. Um elemento no respondidas com um sim ou nao. problema é definir como = processar, ou nao, certas caracteristicas — escolha entre varios tipos de investimento através de sucessivas dicotomias. Método de Método universal que permite 0 Tabela Mendeleev. matrizes de estudo racionalizado do campo _InteragBes econémicas ou descoberta. das possibilidades. Um quadro _socioldgicas. Problemas de ou matriz 6 feito dando as informacao em empresas. reagées das caracteristicas Anélise fatorial estudadas em relagdo umas com as outras. Pode ser generalizado em hipercubos ao se procurar as reacdes das caracteristicas quando n é maior do que 3. Método Determinagto de grupos de Pesquisa de inovacao tecnolégica. morfolégico. elementos que podem ser parte Grande sucesso na pesquisa de um conceito morfoldgico, ou _ espacial. Astronomia. de uma maquina Método Ha uma correlagdo negativa entre Pesquisa de novos processos de : “brainstorming”. a criatividade e a mente critica. __venda e publicidade. Estética Em trabalho de equipe, qualquer critica 6 proibida, e sugestes aos mais diferentes possiveis so encorajadas. industrial. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA, 67 5.6 METODO DIALETICO Do grego dialektos, que significa debate, forma de discutir e debater. A dialética possui duas bases: a pré-socratica, que apareceu na Grécia, como sendo um método de pesquisa e busca da verdade por meio da formulagao adequada de perguntas e respostas, até atingir 0 ponto critico do que é falso e@ do que é verdadeiro. Sécrates foi o primeiro articulador dessa arte. Uma arte que recebeu an- teriormente © titulo de mariéutica, que em grego significa parto de idéias. Uma homenagem & sta mae que era parteira. Sdcrates com 0 método dedutivo conseguiu extrair de um escravo anal- fabeto a demonstragao nao matematica, mas dialética, do teorema de Pitagoras. Q quadrado da hipotenusa é igual 4 soma do quadrado dos catetos. A dialética é um debate de astuicia, onde se procura detrubar os argumentos dos adversarios, muito empregado na Grécia antiga. E um processo de comu- nicagéo que prende muito a atengdo das pessoas em virtude da habilidade dos protagonistas. O repente utilizado pelos poetas de literatura de cordel do Nordeste e pelos repentistas no interior do estado de Sao Paulo, por ocasiao da Festa do Divino, se assemelha na forma e na graciosidade 4 dialética, embora os repentistas utilizem uma viola para apresentar os seus trabalhos, coisa que ,ndo acontecia com os gregos. + Era um método de pesquisa em busca da verdade, que consistia na for- mulagao de perguntas e respostas para trazer a tona todas as incongruéncias das concepgdes vulgares ou falsas. A primeira pergunta a ser desenvolvida, por meio desse método, é a definigio do tema do debate — Tese — obtida pela resposta. Fazia-se nova per- gunta a base do contetido e da anilise desta - Antitese -, e assim por diante, até se chegar a verdade. : Sécrates utilizava a forca do seu argumento e, por ser um grande co- municador, tinha facilidade para usar este método para ‘confundir os seus adversérios. Apés algumas perguntas coerentemente formuladas, ele obtinha a confissao de ignorancia do interlocutor ou o confundia, mostrando a con- tradic&éo em que tinha caido. E um método que funciona bastante na magistratura e nas investigacdes policiais. Nos escritos de Aristételes, encontra-se Zeno de Eléia como sendo o iniciador da dialética, que, por sua vez, abriu campo para a légica. A dialética contemporanea, que_tem_o seu desenvolvimento com He- _gel,— 1770-1831, acabou proporcionando a segunda fase dessa linha de raciocinio. . Enquanto o empirismo considera os nossos sentidos — a experiéncia ~ como a base, a fonte do conhecimento, o racionalismo considera a razio como sendo a fonte do conhecimento e 0 intuicionismo como sendo a fonte do 68 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA conhecimento a intuigao(para qqNaiETialismo dialeticga verdade est na sintese das trés doutrinas: Os sentidos, a razao ¢ a intuicdo sio os elementos que tomam parte na formacao do conhecimento. Na nossa atividade pratica ‘do dia-a-dia, obtemos, por meio dos nossos sentidos, imagens sensiveis dos objetos concretos. Nesses mesmos objetos en- contram-se implicitas as informacées acerca deles ~ ocultas ou nao ~, sobre suas qualidades. As informaces e as qualidades sao extraidas por obra da nossa razdo e da intuicao, pelo entendimento ativo ou pelo intelecto. Offmaterialismo dialético}stabeleceu que o conhecimento nao é um reflexo simples, passivo, inerte da realidade, mas um processo dialético complexo, regido por leis. Hegel recoloca a idéia do pensador grego Herdclito, que demonstrou que no universo tudo é movimento e transformagao e nada permanece como é. O quimico francés Lavoisier também afirmou quase isso: Na natureza nada se cria, tudo se transforma. sformacdes no espiti allt oO universo éa idéia materializada antes de qualquer coisa,ou situagao. Teve-se 0 espi nsgu o universo, dando-lhe frealidada Tanto 9 espirito como o universo encontram-se em movimento _ embora nag sejam as transformacées do espirito que determinam a transfor- magao da mateéria. Uma pessoa qualquer tem uma idéia, concretiza-a e é essa idéia materia- lizada ou coneretizada que cria transformagées na matéria. Entretanto, para Marx as coisas é que se transformam e refletem as suas modificagdes em nossa mente, criando as idéias. Marx concorda com a idéia de movimento do universo no qual se acham as coisas, os fatos.e os pensamentos e de que nao sao as transformacGes das idéias que determinam as transformacées nas coisas. Marx critica os fildsofos por se preocuparem em interpretar 0 mundo de formas diferentes em vez de se preocuparem em transformé-lo."* : HEGEL, G. Friedrich. Fenomenologia do espirito. Prof. da Universidade de Heidelberg e Berlim, Alemanha, de grande talento pedagégico. Influenciou todos os seus discipulos das universidades alemas. Na Fenpmenologia, vamos encontrar uma das obras mais im- portantes da literatura filos6fica “Uma influéncia da alma que se eleva ao espirito por intermédio da consciéncia”, 1770-1831. MARX, Kail. Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie. Artigo publicado em 1844 sobre a critica da filosofia do direito de Hegel, prime co de ii ‘i jalist da dialética hegeliang. Economista, fildsofo e socialista alemAo, estudou na Universidade ‘de Berlim, principalmente a filosofia hegeliana, 1818-1883. Heep) 19% -yp3i(tinba atom g Mare ® Jorgen), TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 69 5.6.1 Leis da Dialética a) Cada coisa é um processo, isto é, uma marcha, um tornar-se. Se se examina uma péra, vé-se que é uma sintese momentanea deste pro- cesso. Antes de ser péra foi flor e, posteriormente, poder ser uma arvore. Conclui-se que est4, no momento, submetida a uma lei interna de movimento. Dessa forma, as coisas nao so consideradas como realizadas, mas, isto sim, em processo de realizagao. As coisas se modificam e se transformam em virtude das leis internas, do seu . autodinamismo € das contradigoes que encerramy—> Jrart 2daver carla b) _Existe um encadeamento dos processos. A flor se modifica em péra, esta em Arvore e a arvore em htimus, este em novos processos vitais, quimicos ou fisicos, meio ambiente etc. O mundo € o conjunto de todos os processos, onde tudo sofre uma transformacio concentrada’ # _¢ progressiva. Este encadeamento dos processos nao é circular mast espiral, Basta ver que uma péra gera uma drvore, mas uma arvore ‘gera milhares de péras que nao sao integralmente idénticas a ancestral. c) Nomovimento dialético, as coisas trazem em si as suas contradigbes. Sao levadas a transformar-se no seu contrério. O vivo»por exemplo, caminha para'a morte. Conclui-se, de acordo com Hegel;-que uma coisa é ao mesmo tempo ela prépria — Tese,- e uma contraria — Antitese. A coisa no momento é simplesmente uma Sintese. No mé- todo dialético temos duas divisdes opostas: a que leva 0 ser para a sua propria construgdo e outra que o leva para a destruigéo desta mesma construcao, para ser precisamente 0 que nao é. d) Em varias oportunidades, um proceso que se orienta em ritmo #uantitativa de repente muda qualitativamente. Considera-se qua- litativo quando ocorre a_mudanca na natureza. Se quisermos uma certa quantidade de agua, sua temperatura vai,subindo quantitati- vamente 10, 15, 20... 90 graus centigrados; aos 100 graus, entretanto, ocorre uma mudanga brusca de estado fisico. Ela entra em ponto de ebulicdo. Trata-se de uma mudanca qualitativa. Ela deixa o estado liquido e passa para 0 gasoso, evaporagao. : Por isso se vé que no encadeamento dos processos dialéticos as transfor- magGes acontecem quantitativa e qualitativamente. Sa Re a ~~ morke ea morte rex avida. St e capi, voltarerre> Ja rel’ POTKE rorttinu. dan F ca. Come wan pes pl ate efalo, peas acinnn, on Direg@ corsideral~. 6 A Natureza do Conhecimento a: se trata de conhecer, tem-se em mente o conhecimento da verdade, do pensamento verdadeiro. Um conhecimento falso nao 6 propriamente conhecimento, e sim erro, iluséo. Mas como na realidade nem todos os nossos conhecimentos sao verdadeiros, utilizamos esse termo de modo geral para o verdadeiro e o falso conhecimento. Dessa forma, entendemos como sendo co- nhecimento, independentemente de ser falso ou verdadeiro, todo conhecimento que representa uma relacao entre o sujeito cognoscente — nossa mente, nossa consciéncia — e 0 objeto conhecido — os fatos, acontecimentos, objetos e fend- menos da realidade exterior. O conhecimento pode significar tanto 0 processo de conhecer como o produto desse processo. Como processoy podemos conceituar 0 conhecimento como sendo o re- flexo e a reprodugao do objeto na nossa mente, de forma objetiva ou subjetiva. Como produto desse processo temos os conhecimentos sensiveis e ra- cionais: os nossos conhecimentos de fisica, quimica, biologia, matematica, co- municagao social, direito, administracao, economia, contabilidade, engenharia, sociologia, filosofia, psicologia, anatomia, astronomia, religiao, e assim por diante, : De acordo com sua profundidade e sua aproximacio da verdade, podemos distinguir, de uma forma geral, cinco graus de conhecimento: a) Conhecimento Empirico - Fundamentado apenas na experiéncia. Doutrina ou atitude que admite, quanto a origem do conhecimento, que este provenha unicamente da experiéncia. Opde-se ao raciona- lismo de Descartes, cujo método é 0 de observar as coisas baseado exclusivamente na razdo, considerada como tinica autoridade quanto & maneira de pensar e ou agir. Espirito especulativo. ae... TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 71 b) Conhecimento Cientifico — Exige demonstragdes, submete-se 4 com- Provagao, ao teste. Consiste no conhecimento causal e metédico dos fatos, dos acontecimentos e dos fenémenos. Estabelece a relagéo su- jeito-conhecimento, colocando uns em relagado aos outros de modo que é possivel descobrir a uniformidade das suas causas e de seus efeitos. O conhecimento cientifico vem de scientia - latim — e significa saber, conhecimento. Saber uma coisa de modo absoluto que é saber a causa que o produziu e que a causa nao poderia ser outra. Trata-se da ret6rica aristotélica.* A ciéncia é 0 conhecimento pelas causas reais e naturais comprovadas. Oconhecimento cientifico é um sistema de conhecimentos metédicos sobre a natureza Objetivo — Seu principal objetivo consiste em estudar as causas reais dos fenémenos e descobrir as leis pelas quais eles se regem. S6 é cientifico 0 conhecimento que for provado, ou seja, verificado e demonstrado. c) Conhecimento Filos6fico — A filosofia é a ciéncia das primeiras causas e dos primeiros principios. O conhecimento filos6fico procura conhecer as causas reais dos fe- n6menos, nao as causas proximas, como as ciéncias particulars, mas, isto sim, as causas profundas e remotas de todas as coisas, a origem. das coisas, e para elas as respostas. O conhecimento filoséfico possui maior profundidade nos seus ar- gumentos, universalidade e maior radicalidade que o conhecimento cientifico. A filosofia envolve o complemento ou a integragao das ciéncias par- ticulares, quer sejam elas a fisica, a quimica, a matematica, a biologia. Enquanto as ciéncias estudam as leis pelas quais se regem determi- nados fenémenos, fatos ou acontecimentos particulares, 0 conheci- mento filos6fico unifica todo 0 conjunto das leis cientificas em leis supremas. “A Ciéncia é 0 saber parcialmente unificado; a Filosofia é 0 conhecimento totalmente unificado”** Entre a ciéncia e a filosofia nao ocorre diversidade do proceso cog- noscitivo, mas somente diferencas de grau e de generalizacoes. O conhecimento filos6fico abrange e supera em grau e contetido 0 co- nhecimento cientifico. Para os pensadores gregos e contemporaneos, é 0 conhecimento mais profundo e geral que existe. * — ARISTOTELES, 384-322 aC. A Retorica. * KANT, Immanuel. Op. cit., p. 30. 72 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA. Kant, por exemplo, disse que as ciéncias estudam a realidade e a filosofia o faz também. Toda vez que uma ciéncia estuda determinado problema, a filosofia poderia ser considerada supérflua. Ocorre, porém, um fato que a ciéncia nao estuda, nem pode estudar, que é ela prépria posta como objeto. Dessa forma, enfatiza Kant: “A Filosofia apresenta-se, pois, como 0 exame critico das condigdes de certeza das préprias ciéncias. Ela é a mae das Ciéncias”.* As ciéncias elaboram-se e desenvolvem-se a partir de determinados pressupostos que os cientistas, enquanto tais, nao procuram explicar. Da mesma maneira ocorre com 0 jurista. O meritissimo juiz ou 0 advogado podem nos dizer se uma relagao juridica esté ou nao de acordo com a lei, isto é, sobre o que seja de direito ~ quid sit juris - e qual é 0 critério universal mediante o qual se pode reconhecer em geral 0 justo e 0 injusto.** O conhecimento filos6fico estuda as leis mais gerais do ser - uni- verso, vida, homem, sociedade — e do pensamento, isto 6, do co- nhecimento e da aco ~ 0 que é a Lei, o que é a Justica, o que é a Verdade, o que é a Liberdade, 0 que é 0 Belo, o que é a Moral, 0 que é a Etica. Trata-se de uma concepgao geral do universo como um todo, da qual se podem deduzir certas regras de conduta para facilitar a nossa existéncia no dia-a-dia. Para atingir esses objetivos com eficiéncia, é preciso que ela seja cien- tifica, isto é, que o conhecimento esteja fundamentado em métodos e técnicas que levem ao conhecimento cientifico e a embasamentos para poder progredir e avancar. O conhecimento filoséfico tem, portanto, dupla finalidade: a -—O Problema teérico do conhecimento ~ juizos de realidade; b - O Problema pratico da agao — juizos de valor. O conhecimento cientifico, ao contrario do preceito religioso, poe em di- vida a verdade dos princfpios e é baseado em prinefpios estabelecidos pelas ciéncias, isto é, comprovados. Trata-se de uma reflexao critica acerca de tudo. Oconhecimento filoséfico critica os principios das ciéncias particularese também os da propria filosofia. KANT, Immanuel, ibidem, p. 35. REALE, Miguel. Filosofia do dirvito. Si0 Paulo, EDUSP, p. 30. TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA 73 d) Conhecimento Vulgar - O conhecimento vulgar, comum a todos os seres humanos, nao procura as causas reais dos fendmenos, dos fatos ou dos acontecimentos; 6 um conhecimento superficial a respeito das coisas, sem nenhuma base cientifica e, por ignorar estas, procura as vezes dar explicagdes aos fendmenos baseado em palpites ou expe- riéncias de vida, por coisas muitas vezes falsas ou ficticias que por isso mesmo n&o podem ser provados. Age-se muitas vezes pela intuigdo. No conhecimento vulgar perce- be-se o fenémeno pelo seu aspecto externo, que raramente coincide com a esséncia ou a coisa como realmente ela 6. e) Conhecimento Teolégico-Religioso — A religido existiu e existe em todos os povos. Para as grandes massas do passado e do presente da histéria da humanidade, a religiaio tem seus fundamentos em dogmas e ritos, que sao aceitos pela fé e nao podem ser provados e nem se admite a critica, porque ela é a tinica fonte de verdade. Baseia-se na trilogia Fé-Medo-Esperanga. Para Comte ~ 1798-1857 — pai da Filosofia Positivista e da Sociologia como Ciéncia, mostra na Lei dos Trés Estados - Teolégico, Metafisico e Positivo -, que 0 Estado Teolégico ou Ficticio é o estégio mais atrasado. Porque o ser humano, devido a sua ignorancia, ainda nao conhece as coisas reais e naturais dos fenémenos e de suas explicaces.* Pela aco direta e continua de forcas ficticias e agentes sobrenaturais — magias, misticismos, fetiches, duendes, deménios, espiritos, deu- ses, Deus ete. - cuja intervengo arbitraria explica todas as anomalias aparentes do universo. Baseia-se em textos sagrados — Veda para os hindus, Alcoréo para os muculmanos, Talmud para os judeus e a Biblia para os cristaos. Sao textos sagrados que ultrapassam os séculos e sao interpretados por milhares de seitas religiosas, por profundos estudiosos e também por ignorantes. . O Estado Teolégico abrange 3 fases: 1- Fetichismo: E a fase mais primitiva do ser humano, que nao difere do estado mental que atingem os animais inferiores. Consiste em atribuir aos corpos exteriores uma vida basicamente igual a nossa. E a fase em que os homens atribuem poderes as forcas magicas imanentes que existiriam dentro dos objetos ~ coisas, animais ou pessoas. Povos da Antiguidade adoravam o Sol, a Lua; os hindus, a vaca; outros, os totens como é 0 caso dos maias, dos incas e dos astecas; e outros, tipos de amuletos, por acreditarem que possuiam forgas e poderes * GOUHIER, H. La Vie d’Auguste Comte et La Formation du Positivisme. 3 Tome, J. Vrin, Paris: 1933-1964. 74 SILVIO LUIZ DE OLIVEIRA para fazer o bem e o mal, havendo, dessa forma, intérpretes ou interlocutores como os bruxos, feiticeiras, sacerdotes, pagés, cujo es- paco é ficar entre as divindades e os seres humanos comuns. E como intérpretes, estabelecem as boas ou més relagdes dos seres humanos com as divindades. 2- Politeismo: Nessa fase a forca magica é retirada dos objetos materiais para ser misteriosamente transportada a seres ficticios com formas humanas; é a fase da mitologia. Esses seres eram habitualmente invisiveis, representados por estatuas, para os quais, principalmente os gregos, romanos e-egipcios, rendiam os seus cultos. As intervengées ativas e continuas desses seres chamados deuses seriam a origem direta de todos os fenémenos naturais e humanos. E quando os homens atribuem a causa de um grupo de fenémenos & vontade de um deus correspondente que dirigia esse setor. Alguns exemplares tirados da religido politefsta predominantes na Grécia, Roma antiga, ilustram a situaco: Diana, deusa da caga, Eolo, deus do vento, Netuno, deus do mar. Pensavam eles que 0 mar estava bravo porque Netuno estava zangado. Quando Vulcano estava tra- balhando, a terra tremia e soltava fogo. E quando a colheita era boa, era porque Ceres assim o queria. Eram as suas verdades. 3- Monoteismo: ' Epoca atual, quando os homens atribuem a causa de todos os fend- menos a um tinico Deus. Na religiao judaico-cristé Deus é 0 tinico criador de tudo que exis- te e se atribui a ele a responsabilidade de tudo que acontece no 1 mundo: a criagdo do homem e dos animais, sua existéncia, transfor- magio e fim; a criacdo do universo e dos fenémenos naturais, tanto as coisas boas como as coisas ruins que acontecem com os seres humanos. Oconhecimento religioso busca, dessa forma, encontrar explicagées para tudo 0 que aconteceu com o ser humano e procura estudar as questdes referentes ao conhecimento das divindades, de seus atributos e re- lagSes com o mundo e com os homens. Sacerdotes, rabinos, pastores e outros intérpretes sao os interlocutores entre os seres comuns e Deus. A verdade religiosa fundamenta-se nos textos sagrados. ESTUDO DE CASO 1-0 INICIO DO TERCEIRO MILENIO Dionisio, o Pequeno, errou o inicio da era crista, elaborada no séc. VI, com 0 engano da data de nascimento de Jesus. Dionisio produziu o calendario ‘TRATADO DE METODOLOGIA CIENTIFICA. 75 no séc. VI e atualmente os novos estudos dos historiadores agnésticos, ateus e crentes interpretam que 0 ano de 1997 pode significar 0 ano 2003 ou 2004. Nao existe nos Evangelhos uma data precisa para o nascimento de Jesus e os estudiosos da Biblia tomam como referéncia mais concreta e histérica 0 Tempo de Herodes ou o Tempo do Recenseamento ordenado por Augusto. Herodes -74 a.C.-4 d.C. - no calendario convencional era o rei da Provincia da Judéia, dominada pelos romanos, quando Jesus nasceu. Augusto era o titulo de Otavio — 63 a.C.-14 d.C. ~ sendo o primeiro im- perador romano. Antes de Dionisio, 0 Pequeno, ter estabelecido a data do nascimento de Jesus como o inicio da contagem da era crista, a cronologia se baseava em outros marcos iniciais para contar os anos. Os romanos usavam a fundagao de Roma, os gregos, as Olimpiadas e os judeus adotaram como ano zero o da criagéo do mundo. Na realidade, comenta Ronaldo Freitas Mourao,* pesquisador do Museu de Astronomia e Ciéncias Afins, autor do livro Anudrio de astronomia, de que Jesus nasceu no ano 1 de nossa era. O seu nascimento é 0 evento que marcou o inicio da Era Crista. Entretanto, a verdade é outra. Em 525 d.C, quando Dionjsio, o Pequeno, fixou o nascimento de Jesus em 25 de dezembro do ano 754 — ab urbe condita — depois da fundagao de Roma - cometeu um erro de célculo de pelo menos cinco anos. Dionisio nao considerou nem o zero em sua contagem nem os quatro anos em que o imperador Augusto reinou com o seu proprio nome de batismo, Otavio. Mourao aponta que com 0 auxilio de acontecimentos histéricos citados na Biblia, pode-se determinar com maior preciso os provaveis anos nos quais teria nascido Jesus. Inicialmente, sabe-se, segundo o evangelista Mateus, que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, que faleceu no aho astronémico -3 ou 4 a.C., no calendario convencional cristéo, muito provavelmente nos meses de abril ou maio. Esta ultima hipdtese prende-se ao fato de a morte de Herodes ter ocorrido antes da Péscoa judaica e ter sido precedida por um eclipse lunar visivel em Jericé. Foi na noite de 12 para 13 de margo do ano -3 ou 4 a.C., mencionado pelo historiador judeu, depois cidadao romano Flavius Josephus 37 d.C., -100 d.C., que supde-se ter ocorrido a morte de Herodes, provavelmente no més que se seguiu ao eclipse. Tudo indica ainda que Herodes tenha morrido entre 13 de marco e 11 de abril. Foi exatamente nesse ultimo dia que se iniciou a Pscoa dos judeus. 7 MOURAO, Ronaldo Rogério de Freitas. Anudrio de Astronomia - Museu de Astronomia e Ciéncias Afins. S40 Paulo, 1997.

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