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CaPiTULO 1 No QUAL SE POEM ALGUMAS CARTAS NA MESA, ESCONDEM-SE OUTRAS NA MANGA, FUNDA-SE O CLUBE DOS LEITORES ANONIMOS, A CUJOS SOCIOS SE ENDEREGA A QUESTAO: O QUE E LITERATURA? CI) Cuidado, leitor! Ao dobrar esta pagina, Nada tema: 0 poeta E s6 um sonho do poema.' Bem-vindos todos, internautas leitoras ¢ leitores, a estas mal- tragadas linhas! Fico encantada de estarmos juntos nessa discussio, no mo- mento em que tanta gente jura que ninguém 1é, que a literatura morreu. Vocé, eu, seu amigo, minha colega e todos os outros s6cios do seletissimo Clube de Leitores Anénimos sabemos que émentira, que a literatura vai bem, obrigada, esta vivinha da silva, e até manda lembrangas... 1 Vogt, Adverténcia, Geragilo, p.9. {1} Scanned by CamScanner Mas ela mudou, Mudou muito. Mudou de cara, de enderego e até de familia. E tem quem nio a reconhega no novo enderego, tem quem desfaga da parentela que veio de longe, Tem uma voz ali atrds, res- mungando: entio misica popular é poes 1? E fanfiction? Telenovela tem tanto valor quanto romance? E 0 que vem em blogs? Folheto de cordel tem a mesma importincia estética que a epopeia...2 Sao vozes rabugentas, mas pacigncia, que nessa conversa volta e meia vamos ter de dialogar com esses ¢ outros resmungos semelhantes. Sao resmungos cinco estrelas: os donos dessas vozes dio aulas, escrevem livros imensos, dao entrevista aos jornais, aparecem na televi 0. Semana pas: ada, um jornal de grande tiragem — vamos imaginar que se trata de A Gazeta de Sarapalha — publicou um artigo que exprimia muito do que essas vozes dizem: [...] viciada na tclevisio e em histérias em quadrinho, ej4 agora tam- bém em videogames, blogs, sites ¢ games, a juventude de hoje é pouco amiga dos livros e da as costas 4 leitura. Dona de um vocabulétio muito parco, sua fala é ainda corrompida pela gitia das ruas e pelos estrangeirismos que ameagam a soberania da lingua nacional. Mesmo nos cursos de Letras, nao poucas vezes os classicos da literatura sio substituidos por autores menores, esteticamente inexpressivos, que nada cém em comum com a estirpe de um Machado de Assis ou de um Proust [...] Paulada, nao é mesmo? Mas que ninguém se assuste. Esse pessimismo todo nao tem nada de novo, Salvo raras excegoes, intelectuais e professores foram sempre do contra quando se trata de inovagées culturais, Scanned by CamScanner Ea literatura esta sempre inovando, ganhando cara nova. A literatura hoje nao é mais sempre e sé artesanal, nem é produzida por umas poucas industrias ou escrita por uns poucos escritores que tém o monopélio do mercado e da critica. Hoje a literatura é produzida por uma industria tao sofisticada quanto a industria de alimentos, que oferece molho de tomate para todos os gostos, com coentro ou sem cebolinha, com pedagos grandes de tomate ou como creme homogeneizado. Macarronada per tutti! Quando Castro Alves (1847-1871),? grande poeta brasileiro, descrevia — ha bem mais de um século — seu sonho de um mundo onde houvesse “livros, livros a mancheias’, estava profetizando nosso hoje. Pois os livros, a partir de meados do século XX, mul- tiplicaram-se vertiginosamente, inclusive no Brasil. Dados de pesquisa da Camara Brasileira do Livro (CBL), ano base 2016, re- gistram a produgao de 17.373 novos titulos que geraram 80.026.152 exemplares. No mesmo ano, do total de 427.188.093 exempla- res produzidos, 59.769.489 podem ser considerados literatura? Livros de todo feitio, para todo feitio de leitores. Livros im- pressos e livros digitais. Romances de amor para quem curte historias cheias de beijos intermindveis e quentes, e romances sem amor para quem se amarra em histérias de bandidagem e armamento pesado. Per- 2 Datas de nascimento/morte de escrirores, bem como data de publicagio de suas obras, sao indicadas a partir de pesquisa em diferentes sites. 3. Disponivel em: . {13} Scanned by CamScanner sonagens em que se clica e frases que se sublinham Hi . . : com as quais se gargalha ¢ histérias com A literarura de hoje fala de varios mund Storias aS quais se sorti de lado, los: alguns Parecidissimos tem gente que morre de fome nas ruas; mas também fala de mundos muito diferentes habit, s, habita- com 0 nosso, onde, por exemplo, dos por espiritos, anjos, vampiros, energias e deménios. A litera- tura traz para o nosso lado mundos prometidos pela ciéncia, com seres artificiais sofisticados e com seres naturais manipulados em laboratério, Ha histérias com palavras e imagens ¢ histérias 6 com imagens. Poemas que sao imagens e imagens que sao poe- mas, poemas curtinhos empilhando palavras, poemas compridos espacando palavras, poemas com rima, poemas sem rima... Ou seja, arrombou-se a festa, querido leitor! A literatura, hoje, parece estadio de futebol em dia de final de campeonato: sempre cabe mais um, e tem até cambista vendendo ingresso para quem chega tarde. Mas ha também, é claro, o setor das numeradas e das cadeiras cativas: pois a literatura de que falam professores e livros mais convencionais continua viva, vai bem, obrigada, e até — como ja se disse — manda lembrangas. Apenas nao esta mais sozinha em cena. Esta acompanhada, ¢ muito bem acompanhada! Ao lado dos romances esotéricos, da poesia de autoajuda, da fic¢ao cientifica e do romance policial, continuam a ser lidos e apreciados romances antigos (os chama 5 Grbe Netos, contos,., EO que mals: Cro m dessas dos classicos), a poesia do nicas, haicais, historias em quadrinho... Talvez venha cados que s da lireratura os resmungos mal-humorados 4 miiltiplas fe zumbem em nossos ouvidos. Scanned by CamScanner O que quer dizer que Homero (século IX a.C.), Dante Alighieri (1265-1321), Eca de Queirés (1845-1900) e Guimaraes Rosa (1908-1967) escreveram, mesmo, paginas inesqueciveis. Tao ines- queciveis que algumas hoje sao digitais, e-books excelentes e muito distintas do que escrevem hoje os Titas, Paulo Coelho, Rodolfo Cavalcanti, J. Grisham, Rafael Dracon e Patricia Rebougas. Mas diferente nao quer dizer pior. S6 quer dizer diferente. Em geral, as vozes donas da verdade, vozes que nao convivem bem com a diferenca, usam éculos que veem o diferente como pior e esto habituadas a ter sempre razio. Por mais divergentes econtraditérios que sejam seus pontos de vista sobre a literatura, tais vozes acabam circulando sempre pelo mesmo universo. Uni- verso imenso, mas com fronteiras: limitado por... por quem? Rs rs rs! Vamos dizer, por Marcel Proust (1871-1922) ao norte, por Jorge Luis Borges (1899-1986) ao sul, por Clarice Lispector (1926- 1977) a leste e... por quem, mesmo, a oeste? Edgard Allan Poe (1809-1849)? T.S. Eliot (1888-1965)? Poe e Eliot a oeste, certo! Além de terem cacife alto, as vozes donas da verdade nao resmungam por mal, coitadas. Elas tém razao ao considerarem Proust, Jorge Amado, Lispector, Poe e Eliot excelentes, maravi- lhosos. Mas nao sao esses os tinicos escritores que sto maravilho- sos ¢ excelentes. Quem acha que literatura é privilégio de uma ou duas dezenas de escritores se engana. Grande e ledo engano o deles! Ou seja, embora algumas vozes resmungonas prefiram Os- wald de Andrade (1890-1954) e outras Drummond de Andrade {15} Scanned by CamScanner (1902-1987), ha mais em comum entre elas do que a mera go: Coin. tidos, As vozes resmungonas assumem as POsicdes cidéncia de sobrenome de seus escritores prefer que assumem a Ne vem se cons. truindo ha séculos. A questao 0 que € literatura?, partir e em nome de uma tradicao cultural q Para qualquer Sse € quilate —, exige respostas que retomem e atualizem tudo 0 que 4 foi escrito até hoje sobre o assunto. delas — como para qualquer intelectual de sua cla Embora resmungonas, essas vozes sabem 0 que dizem e nao dizem o que dizem sozinhas. Fazem parte de uma longa e res- peitavel tradicio. Mas essa tradigao cultural que as apoia, se tem o respaldo de muitos séculos, tem também a civilizacao ocidental por horizonte. E a civilizagao ocidental foi (ou ainda é um pouco?) por longo tempo branca, masculina, bem alfabetizada e com conta no banco... Nao é mesmo, leitores proletarios e leitoras negras? Aquém e além dos que resmungam, uma multidao de gente, vocé, eu, todos nés, sécios entusiasmados do Clube dos Leitores Anénimos, eventualmente ja nos perguntamos e ja nos respon- demos 0 que é literatura? Perguntas permanentes, respostas pro- visérias. Tao permanentes umas e provisdrias outras quanto © sao as perguntas e respostas com que lidam os intelectuais do time dos que reclamam e resmungam. S6 que — no nosso caso — sem 0 reflexo do espelho, das citagdes, dos interlocutores. Entao, em igualdade de condicées, é arregagar as mangas € pagar pra ver. {16} Scanned by CamScanner CAPITULO 2 NO QUAL SE CONTEMPLAM, COM MALICIA E IRREVERENCIA, ALGUMAS DAS FACES DO QUE SE CHAMA DE LITERATURA CI Lembrou-se, antes de dormir, que precisava comegar a ler livros mais grossos: demoravam mais para acabar ¢ eram travesseiros mais confortdveis durante a noite.t Nao se pode dizer que literatura é aquilo que cada um con- sidera literatura? Por que nao incluir no conceito de literatura as linhas que cada um rabisca em momentos especiais, como 0 poema que seu amigo fez ¢ enviou para a namorada, e nao mos- trou para mais ninguém? Por que nao chamar de literatura a historia de bruxas e bichos que de noite, 4 hora de dormir, sua para vocé € seus irmaos? Ea fanfiction que da vida mae inventava mais longa a personagens de romances e de novelas mais antigas? Por que nao seriam literatura os poemas que a jovem poeta es- 4 Coelho, O alquimista, p13. 07} Scanned by CamScanner creve no computador, pée na internet e convida os internaut, as alerem? Esses textos nao tém a mesma cidadania literdria que um romance famoso de Gustave Flaubert (1821-1880) ou José de Alencar (1829-1877)? Uma resposta direta a Pergunta 0 que ¢ literatura? nem sempre é a melhor safda, leitora compulsiv Saiba, por exemplo, que um professor de literatura inglesa contemporaneo de Shakespeare (1564-1616) ficaria espantado se lhe dissessem que Shakespeare era literatura. — Impossible! Never! Aquele sujeitinho que escreve pecas cheias de bébados e desordeiros, e que é aplaudido por plateias fedidas e barulhentas? Alguém hoje duvida que Shakespeare seja literatura com L maitisculo e tudo? Aprenda entao o vivissimo leitor que ser ou nao ser literatura é assunto que se altera ao longo do tempo e desperta paixdes! No século XIX carioca, se alguém dissesse aos serifssimos mestres do Colégio Pedro II que aqueles padres, estadistas ¢ bispos que tinham escrito sermées, oragdes e poemas a Virgem nao eram literatura, cles nao acreditariam: dava tanto trabalho ensinar tudo aquilo aos alunos! Os alunos desses professores analisavam sermées, decoravam poemas, imitavam o estilo dos discursos. Os mais dedicados ¢ inheit ‘ i ‘i es ol endinheirados, quando cresciam e iam ser advogados, padre ar do jeitinho dos politicos, faziam o possivel para escrever ¢ F A 4 sraturaes textos que haviam estudado ¢ que hoje ndo sdo mats liter {18} Scanned by CamScanner Pois um texto literaério nao é como uma aranha? que éaranha desde que nasce ¢ para sempre, que foi aranha no Egito antigo, entre os indios do Arizona e continua a ser aranha nos cybereafés cariocas. Com um texto é diferente: pode vit a ser ou deixar de ser literatura ao longo do tempo. Por isso é muito mais divertido discutir literatura do que aranhas, leitora de fé! E discutir literatura é abrir os olhos e ouvidos, iniciar o tablet, olhar e ouvir em volta, ler livros, meditar sobre as frases pintadas a spray em muros e edificios da cidade, e fazer a eles a pergunta: o que é literatura? Ou ligar o computador, navegar e perguntar As letras, gratidas ou mitidas, de uma ou de varias cores, que escor- rem na tela, na horizontal ou na vertical: 0 que é literatura? As respostas vém devagarinho: alguns livros so muito conhe- cidos e estao em todas as livrarias, todos sabem o nome de quem os escreveu. ooops! O todos da frase anterior é sé um modo de dizer. Digamos, quase todos, ou, melhor ainda, quase todos de uma certa tribo. Pois nao hd magica capaz de transformar em leitores quem, por qualquer razo, nao pode ler ou nao esta a fim de... Parte dos mais de 200 milhées de brasileiros® que, por direito de idade e por escolaridade oficial, poderia ter acesso a bibliorecas por muita$ outra$ razde$, é como $e nao pude$$e. € congéneres, da quem nao esti a fim de discutir literatura. Fora e$$e$, tem ain levon (Teoria liceniria: urna histéria da aranha foi inspirada em Terry introdugac 6 O IBGE registrou 207.8 milhoes de habirantes em 2016. 19} Scanned by CamScanner Como € que fica quem nao esta a fim? Nao fica... Mas, poxa, se nao esta a fi m, nao va ser professor nem profes, sors : que nao da certo! Voltando, entao: quase todos de uma tribo dizem ter lido oy etender ler tal ou qual autor. Fagundes Varela (1841-1875), Jose Lins do Rego (1901-1957), Dalton Trevisan, Luiz Ruffato podem incluir-se nesse caso. Sao badalados, sao as vezes estudados nas escolas, sua obra é analisada em teses e congressos. Os vivos re- cebem convites para conferéncias, participam de noites de auté- grafos e feiras de livros. Ja outros — muitos e muitos outros — nao desfrutam dessa festa toda. Seus nomes sao desconhecidos, suas obras sao dificeis de set encontradas, nao constam das bibliotecas, ninguém fala delas, Eles imprimem as vezes seus préprios livros ¢ nao encontram leitores para além da familia e dos amigos mais préximos. Em pequenas comunidades, cantadores, repentistas, conta- dores de histérias — embora sé raramente projetem seus nomes nos circuitos eruditos das grandes cidades — sAo amados e res- peitados por um ptblico, que ¢ fiel a eles. Enquanto isso, em segmentos modernos e requintados da industria livreira, livros de grande sucesso — os best-sellers - Por dem ser escritos numa espécie de linha de montagem. A produgio peerativas do pi da obra comega por um levantamento das expectativas 40 P frequénci esperada de blico: tipo de histéria de que gosta mai feridos as ‘entes preferidos: cenas de sexo e de violéncia, cendrios ¢ ambientes pre font Scanned by CamScanner coisas assim, Com base nesses dados, pode-se escrever um ro- mance sob medida para um certo tipo de publico. Como investi- mento comercial, livros de figurino correm riscos minimos e olerecem boas perspectivas de retorno financeiro, Na area da li- reracura infancil e juvenil, muitos livros sio encomendados para iratarem de temas que, acredita-se, as criangas e jovens devem ler. Sencin o drama, leitor dramatico? Com formas tio diferentes de produgio e circulagao de obje- tos igualmence denominados literatura, sera que é possivel defi- nila? Vamos chamar de literatura tanto os romances de autores contemporaneos consagrados — como Ariano Suassuna e Lya Luft, poesias de Manoel de Barros ou de Adélia Prado - quanto as produgées quase anénimas de cantadores de feira e autores marginais? Vao para 0 mesmo saco (de gatos...) best-sellers e re- quintadas obras de vanguarda que apenas poucos leitores enten- dem? E cabe também a etiqueta literatura para aqueles autores como Rui Barbosa (1849-1923) e Coelho Neto (1864-1934), que parecem sobreviver apenas em manuais escolares mais antigos? E sera que o selo literatura também se aplica a romances espiritas ¢ livros de autoajuda que auxiliam e espiritualizam seus fiéis s, mas nao so adotados em nenhum curso? leitor Antes que meu esquivo leitor desista e feche este livro, fique sabendo que o problema nao aflige s6 gente como nés, os humil- des sécios do Clube dos Leitores Anénimos. A questao preocupa também gente mais gratida, escritores de grande renome. Miiio de Andrade (1893-1945), um escritor paulista, parece ter enfrentado a questio de maneira exemplar: irritado com as font Scanned by CamScanner incerminaveis discussdes sobre o que era e o que deiy conto, virou a mesa e puxou o tapete. Na historia “Vestida de preto’, escrita entre 1939 e 1943, proclamou; “7; andam agora preocupados em definit 0 conto que ee bee sei bem se 0 que vou contar é conto ou nao, sei que é verdade” va de sep intitulad, I Aenol « ; . Anuncioy ogo depois que “conto é tudo aquilo que o autor chama di ade conto’, Com essa fala desbocada, Mario de Andrade ganha aplausos e admissao em nosso andnimo porém seletissimo clube, onde também podemos receber e aplaudir Rubem Braga (1913-1990), autor de outro desabafo exemplar. Cronista de grande publico toda a sua vida, Rubem Braga nao encontrava seu nome em livros de histéria literaria e tampouco se via incluido em cursos de literatura. Considerou-se vingado no momento em que uma antologia de suas crénicas foi incluida numa colegio com um titulo explicitamente literario, a Literatura comentada, editada pela Abril Cultural, por volta de 1980 e pouco. Na companhia de Rubem Braga e de Mario de Andrade podemos temperar a voz € voltat a indagar de nossos botoes: 0 que é literatura? Sera que s4o literatura os poemas adormecidos em gavetas, pastas, fitas, disquetes, CDs, cadernos e arquivos pelo cue afora, os romances que a falta de oportunidade impediu que fossem publicados, pegas de teatro nunca lidas nem aan e que jamais encontrarao ouvidos de gente? Sera que cudo isso literatura? Pode ser, pode ser... Scanned by CamScanner LIrRRATURA , se nao ¢ literatura, por que nao &? Para uma coisa ser con- siderada literatura tem de ser escrita? Tem de ser editada? Tem de ser impressa em livro e vendida ao publico? Infelizmente parece que sim, leitor insistente, parece que sim. Ss rd entio que tudo o que foi publi ado em livro é literatura? Mesmo os romances pornéds que nenhum professor manda ler, de que crftico nenhum fala, mas que sio devorados por milha- res de leitores andnimos como nds? Haja paciéncia, leitora interrogativa! A resposta é simples. Tudo isso é, mio ¢ ¢ pode ser que seja literatura. Depende do ponto de vista, do significado que a pa- lavra tem para cada um, da situagio na qual se discute o que é literatura facil Pensando bem, era mesmo, com certeza, muito mai discutir aranhas, querida leitoral... Scanned by CamScanner CAPITULO 3 NO QUAL SE SURPREENDEM SEGREDOS INCONFESSAVEIS E MODOS DE SER ESPANTOSOS DE ALGUMAS DAS FACES DO QUE SE CHAMA DE LITERATURA Cd O Rei nao obra s6; pois, na linguagem, Obra mais do que o Rei a vassalagem.? Mas chega de rodeios, que paciéncia de leitor — mesmo a de leitores fidelissimos como os meus — é curta, nao é verdade? Vamos, pois, a um finalmente que dé a sensacdo de que nado perdemos tempo, e que, a essa altura, j4 estamos mais préximos de saber o que é literatura do que estavamos quando este livrinho nada mais era do que um bloco de folhas numa estante de biblio- teca ou livraria, ou séries de figuras e letras numa telinha de computador. Uma obra literdria é um objeto social muito especifico. 7 Apud O polichinello, 21 maio 1876, n.6, ano I, (25 Scanned by CamScanner Para que ela exista, é preciso, em primeiro lugar, que algué ' 7 en a escreva € que outro alguém a leia, E, para ela passar das ma “5 Maos. do autor aos olhos do leitor, vi instancias se interpdem; edi- tor, diagramador, impressor, distribuidor e livreiros sao algumas delas. Qooosoops! Sia, no caso do livro impresso... Constituem uma espécie de corredor pelo qual passa a obra antes que se cum- pra sua natureza social, de criar um espaco de interacao entre dois sujeitos: 0 autor eo leitor, No caso do livro digital, desapa- recem algumas dessas Personagens e surgem outras: o progra- mador, por exemplo. Mas chega de rodeios! Para o finalmente acima prometido ser completo, podemos chamar de interagao estética esse encontro leitor/autor. Desde, é claro, que nao nos assustemos com a proparoxitona es-té-ti-ca! Com efeito, leitor trissilabo e oxitono! Saindo desse circuito, cujo reconhecimento é indispensavel para a caracteriza¢ao do sistema de producado literaria impressa, é preciso dizer que ele nao da todas as respostas e que hd mais coisas, entre o autor ¢ 0 leitor, do que o sistema de producio. Para que um texto seja considerado literatura (e aqui aqueles rabugentos talvez gostassem de uma inicial maitiscula: Litera- tura...) é preciso algo mais do que interagao entre seu autor e seus leitores. A literatura tem de ser proclamada e sé os canais compe- tentes podem proclamar um texto ou um livro como literatura. Quem sao esses canais? Boa pergunta: quem sao? — inscicuigdes, eventos, Canais competentes sao as instancias chan- publicagées, titulagées — As quais cumpre apontar, atest {26} Scanned by CamScanner celar a literalidade de certos textos em circulacao. Cabe aos canais competentes — espécie de cartério que reconhece e autentica firmas — estabelecer e afiangar o valor ou a natureza artistica e liceraria de uma obra. Para que uma obra seja considerada Parte integrante da tra- digao literaria de uma dada comunidade ou tradi¢ao cultural, é necessario que ela tenha o endosso dos canais competentes aos quais cabe a proclamagao de um texto como literatura ow néo li- teratura, isto é, a literarizagao de certos textos. Eos mesmos canais competentes avaliam a qualidade: obra-prima? Mais ou menos? Obra fraca? E quem sao esses setores especializados, esses canais competentes? Sao poucos, ou s4o muitos, mas s40 sempre os mesmos: como ensina a miisica de Caetano Veloso, “Narciso acha feio 0 que nao é espelho”. Setores especializados responsaveis pela literarizagao maior ou menor de um texto, pela valorizacdo menor ou maior de outro sao os intelectuais, os professores, a critica, o merchan- dising de editoras de prestigio, os cursos de letras, os juris de concursos literdrios, os organizadores de programas escolares e de leicuras para vestibular, as listas de obras mais vendidas.. Algumas das vozes responsaveis pela literarizacdo ou desli- terarizacao de um livro ou de um texto sao nitidamente institu- cionalizadas. Outras, nao. A Academia Brasileira de Letras, por exemplo, tem sede, regimento e estatutos. Sem sede nem carteiri- nha, outras vozes agem nas esferas do subentendido, do dito nas entrelinhas, do tacitamente consentido. A critica, por exemplo, 27} Scanned by CamScanner tem vari, S caras ¢ intimeras voze; ? inclui tanto as opinia aS Opinides Pes. amigo do autor quanto 9 study ‘a numa publicagio especializada em lite ratura, por exemplo, uma revista Universitaria ou um, soais de um desafeto ou de um minucioso de uma obr: a ASSOciacig que a editora apresenty o livro na quarta capa, na orelha ou mesmo em releases Parag de professor: Também a nota breve com imprensa faz parte do corpo de vozes que constroem, discutem avaliam perfil e valor literdtios de um dado texto. Entre as instancias tesponsaveis pelo endosso do carater lite- rario de obras que aspiram ao status de literatura, a escola é fundamental. Ela éa insticui¢ao que ha mais tempo e com maior eficiéncia vem cumprindo o papel de avalista e de fiadora do que é literatura. A escola é uma das maiores responsaveis pela sagracio ou pela desqualificagao de obras e de autores. Ela desfruta de grande poder de censura estética — exercida em nome do bom gosto — sobre a producio literdria. Pagando para ver, desconfiado leitor? Faz bem. Faz muito bem. A importancia da escola no sistema literario manifesta-se, por exemplo, na expressio cldssico e seus derivados, de transito tao frequente em livros e aulas de literatura. Originalmente, cldssico era um conceito que abrangia apenas obras latinas e gregas. S6 posteriormente passou a incluir _ bém obras escritas nas varias linguas europeias ao longo dos séculos XIV, XV e XVI. A esse significado cronolégico — de indicar obr no rempo um ras produzidas i foam _acrescl eatou-ge com em determinadas épocas — acrescentou-se Co {28} Scanned by CamScanner outro significado: classico Passou a indi, valor. O que é classico é sempre-bor M, quer se trate de u; i ma partida de futebol, de livros, de Pratos da culindria chinesa ou da moda! as Ou seja, um jogo Fla-Flu é tio classico quanto 0 Fausto (1831) de Goethe (1749-1 832), como o fran, | 1B xadrez ou o vestido pre- tinho que quebra todos og galhos. Tudo isso & classico! Com esse significado de algo excelente, de boa qualidade, um autor ou texto nao precisam ser contemporaneos nem da Grécia de Eurfpides (485-406 a.C,) nem da Franga de Racine (1639- 1699) para serem considerados classicos, nhecidos como excelentes, Basta que sejam reco- acima de qualquer suspeita... € nesse sentido de exceléncia que se pode dizer que Fernando Sabino é um classico da crénica; Noel Rosa (1910-1937), um classico da MPB; e Ziraldo, um classico do cartum. E sabe por que a palavra cldssico desenvolveu um significado segundo (de exceléncia) sobre um significado primeiro (de algo produzido numa determinada época)? Saber isso ajuda a enten- der a importancia di escola no estabelecimento do que é do que néo é literatura. A palavra classico é derivada de classis, palavra latina que sig- nifica classe de escola. No tempo em quea escola mandava seus alunos lerem apenas autores latinos e gregos, esses autores comecaram a ser eed de classicos por ser sua leitura recomendada as classes, isto & por serem adotados nas escolas. ' As marcas da escola como instituigao avalista do que se con- > Ges correntes nos es- sidera literatura persiste em outras expressoes cl 2 ms Scanned by CamScanner tudos literdrios, onde se fala, por exemplo, em escola romént, ica, ou escola realista. Essa escolarizagao da liter: acura, NO entanto, ds vezes fica tao monétona ¢ torna a literatura tio Sem graca qu Mario de Andrade formula 0 que poderia ser o lema de i Clube dos Leitores Anénimos: “Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum 36".8 Mas para que tanto rodeio?, talvez se pergunte o leitor apurado... O caso é que conhecer o lugar social de onde vém as respostas mais correntes 4 pergunta o que ¢ literatura?, apurada leitora, nao diminui o prestigio social de que desfrutam tais respostas nem é garantia de virar 0 jogo. Mas, sem diwida, conhecer a estratégia do adversario e as regras do jogo aumenta as chances no campeo- nato! Ou seja: se saber como se formam os ciclones nio dé a ninguém poder sobre eles, saber identificd-los mais cedo da tempo de procurar abrigo mais seguro, 0 que nao é pouco, leitor afoito! Saber de onde vém e como se formulam certas nogées de li- teratura torna nossa opiniao mais rigorosa ¢ nossos argumentos mais fortes. Permite-nos identificar os recursos retoricos ¢ ideo légicos em que se fundam os conceitos oficiais de literatura ¢ aumenta nossa garra para bater o pé quando nos dizem que cal ou qual conceito é uma verdade maior e absoluta. + ; A hye Lele Ora, senhores e senhoras! Conosco, sécios do Clube dos | imas! tores Anonimos, verdades 56 menores e relativis 32 p interessantissimo, In: 4 Pogsias complet’ 8 Andrade, Pr {30} Scanned by CamScanner Certos grupos sociais vem ha séculos definindo e avaliando os textos considerados lit eu ‘a, comegando pela selecao, dentre o conjunto deles, daqueles aos quais vio dedicar sua reflexao. Ni prolongam-se definigdes anteriores, Comegam com Aristételes (344 a.C.-322 a.C,), Ou com Nicolas Boileau (1636-1711), na Ou com Alexander Pope (1688-1744), na Inglaterra. Ou com... com quem na tradigao vernacula? Em Portugal, com Luis Antonio Verney (1713-1792)? No Brasil, com Janudrio da Cunha Barbosa (1780-1846) ou com Silvio Romero (1851-1914)? Nao se assuste, solerte leitora, mas, nessa trilha conceitual, a esforgo continuo de definigio retomam-se, rebatem-se e Pran discussio exige, de quem quer participar dela, familiaridade com a linguagem da Filosofia, da Histéria, da Sociologia, da Antro- pologia e de muitas outras logias. Para entrar nessa discussao, é preciso ter ingresso. Para dizer a verdade, é preciso comprar ingresso. E os ingressos — livros, cursos, escolas — nem estao sempre por af nem sao oferta gratis. Além de dinheiro, custam também © que custa ter acesso ~ e de preferéncia, aderir — a certas for- mulagées culturais. Em geral formulagées brancas, quase sempre originadas no Primeiro Mundo, muitas vezes com barba e bi- gode.., Nao, néo é 4 toa que essas vozes podem ser consideradas dominantes, Faz parte do cardapio de dominagio que elas exer- cem 0 est abelecimento do que é literatura, a fixagao dos padroes de bom gosto, a caracteri do da sensibilidade estética e alguns outros etcéte (31) Scanned by CamScanner MARISA LAJOLO. ‘Tempo houve em que a viagem pelos conceitos de literatura, arte, filosofia era da competéncia de apenas umas pou cabegas, endo esas poucas cabegas as que mais discutiam conceitos, bavam impondo tais conceitos e formy- os estudos literd lagdes, Era como se conceitos literdrios s6 pudessem ser expressos na lingua dos que usavam dculos... ui certo tipo de dculos. Hoje, entretanto, com o desenvolvimento de outros modelos de éculos, parece que olhos ¢ ouvidos ficaram mais agudos ¢ comegou-se a ouvir e ver que sempre houve gente discutindo o que é¢ literatura. Discutindo e definindo. Hoje temos... Definitivamente, intrépido leitor, quem escreve e quem Ié um livro como este aqui, j4 esta a meio caminho do oculista! As situagées nas quais precisamos de uma resposta para a pergunta o que é literatura? sao muito marcadas. Se nao tém far- dao e beca no horizonte, tém quase sempre lousas, exames ¢ livros como cenario, Mas também podem e precisam ter uma fungdo na vida de cada um. Pois, seo script é 0 que nos deram, ha sempre um jeito de desobedecer a ele, improvisar e provocar rupruras maiores ou menores, Ha, portanto, que escolher o tom de voz certo. O que, no entanto, nao impede ninguém de mostrar a lingua quando todos estao de costas, Ou, os mais afoitos, em plene palco, ¢ de frente para a plateia, Que o ma 6 € guardar-se pra quando o Carnaval chegat! (32) Scanned by CamScanner Capitulo 4 NO QUAL SE DEVASSAM TRUQUES, MASCARAS E MAQUIAGEM DOS BASTIDORES DO QUE SE CHAMA DE LITERATURA Um dia apareceremos leitor Nas estatisticas Catalogados em ocorréncia policial® Com o bloco nas ruas, vamos estabelecer que literatura nao tem apenas uma definigao. Ela nao pode ser definida como po- dem ser definidos — com certa unanimidade — um composto quimico, um acidente geografico, um érgao do corpo humano. Pode-se definir, sem muito sangue na arena, dgua, cordilheira, aparelho respiratorio, Mas a poeira é muita quando se tenta definir literatura ou liberdade... ¢ nao é 86 porque ambas comegam pela letra L! Arte e cultura nao tém a mesma inicial, comegam por Ae por C, respectivamente, e também é complicadissimo defini-las! 10, Retrato, In: 25 azuilejas, p35. {33} Scanned by CamScanner > campo, as perguntas s4o muitas e as Tespostas, m, ” Mais aligs, Cridas ; todas Dar, até que da. Mas s6 para os ingénuos e os simples ainda. Ha tanta gente pensando no assunto ( ecantas e tao diferentes sao as respostas sug 30 da para dizer que uma delas é correta e descartar ¢ leem um livrinho ou outro e saem por ai achando que lite. ‘0 ou aquilo, que arte é aquilo ou isso. ros, nem simples nem ingénuos, mas galhardos séciog do Clube dos Leitores Anénimos, achamos que literatura €isso, lo e mais aquiloutro, nao é mesmo? O gue é literatura? A pergunta é complicada justamente porque tem tas respostas. E ndo se trata de respostas que vao se apro- ando cada vez mais de uma grande verdade, da verdade-ver dadeira, da Verdade, ou da VERDADE. Cada época e, em cada época, cada grupo social tem sua resposta, sua definigao. Res- postas e definigdes — vé-se logo — para uso interno. Ao longo dos 2 mil e muitos anos que nos separam de ~ diga- mos — Platao (~428-~348 a.C)), varios tém sido os critérios pelos quais se tenta identificar 0 que torna um texto literdrio ou nio tipo de linguagem empregada, as intengées do escrito, Os temas e assuntos de que trata, o efeito produzido por sua leitura... tudo isso j4 esteve ou ainda est4 em pauta quando se quer definir literarura. Cada um desses critérios produziu defi ni¢Ges consideradas corretas, aceitas durante certo tempo- Eun cionam para uso interno daquele Tespostas correspondem eas grupo ou daquele rempo © a _ . ear de litt’ a0 que foi (ou é) possivel pensar del ratura num determinado contexto, {34} Scanned by CamScanner A arguta leitora ja observou como as definisdes sempre fun- cionam para quem as produz? E por que nao funcionariam, leitor arguto? Afinal, pensadores, escritores, artistas e demais envolvidos em reorias e praticas de literacura discutem o tema. Discutem e es- crevem, polemizam (antigamente as vezes até duelavam!), formu- lam e reformulam conceitos de literatura que correspondem ao contexto de producao de seu tempo, aos horizontes dos leitores, as praticas de leitura em vigor naquela época. Por isso parecem explicar de forma convincente o que ¢ literatura. Mas a explicacao sé funciona temporariamente. Quando surgem novos tipos de poemas, romances e contos e outras multidées de leitores entram em cena, livros passam a ser lidos de forma diferente. Os novos leitores piscam os olhos e limpam os éculos, engatam novas discussées, formulam novas teorias, propdem novos conceitos até que a poeira assenta para, de novo, levantar-se em nuvem tempos depois. Ou seja, ha relagdo profunda entre as obras escritas num periodo — e que, portanto, s4o a literatura desse perfodo — ea resposta que esse perfodo da 4 questao 0 que é literatura? Ha uma espécie de solidariedade entre praticas e teorias da literatura, Em outras palavras, e com perdao da obviedade: os conceitos de literatura (isto é, certos conceitos, por exemplo, os de tradi¢ao filoséfica) sio inspirados pela leitura das obras literarias. Isto é, de certas obras, de livre transito em certos meios... Recipro- camente, as obra lite: formulagées, validando olhos de jas de certo tempo incorporam tais as e validando-se como literatura aos us formuladores, {35} Scanned by CamScanner corias ¢ priticas licerarias, entio, Parecem cond, : . lena repetir umas as outras. Se fossem mero eco recipro, das ase ace i B 62, 0 t rio’ s s chegariam ao impasse do siléncig M. a MSS nj io € 0 que ocorre, Praticas e teorias literdrias sao... Ba —_ ‘aaaaaaang! Salyas Pelo O gongo, na criagao, é a ruptura, o momento da vanguard, ae campo tedrico, o gongo é 0 momento do novo paradigms Vanguarda e novos paradigmas teéricos, assim, patrocinam a subversio do que se dizia e se fazia em nome da literatura, Engendram-se ai novas respostas 4 velha indagacac 0 que é literature E recomega 0 dialogo, nao sé do texto literario com sua teo- ria, mas da produgao literaria de um dado perfodo com 0 con- junto de obras que a precedeu. Para nomear esse ininterrupto didlogo de uma obra com as muitas outras que a precederam ou lhe sao contempordneas, os estudos literdrios cunharam a ex- pressdo intertextualidade. Que o leitor palavroso me perdoe esse palavrao de oito silabas, que vai retornar com forga (¢ mais expli- cacées) 14 na frente. Também pela intertextualidade rompe-se 0 circulo de teorias e praticas que constituem um espelho no qual mutuamente s¢ contemplam ambas. Na releitura do passado, mantel onstituem a §} s no Album dem m-se a ideia rande de uma linhagem de autores e de textos que ¢ . 4 0! familia da literatura, como num Album. Mas as fot as, algumas se Pe" osi¢ao, ganham novas legend ; mudam de posi¢ao, g: mee er i rso: (como os oradores estudados em antigos < {36} Scanned by CamScanner s se acrescentam (como foi o caso de Shake- ). vida que continua, vej ileira), ourras bra na Inglacerr speare, 86, leitora desconfiada. Coma imagem de um album de retratos fica a ideia de que as definigdes propostas para literatura importam menos do que o caminho percorrido para chegar a elas. Ou, dizendo com Fer- nando Pessoa (1888-1935), aquele poetinha danado de bom, o que importa mesmo é esperar dom Sebastiao, quer venha ou nao. Acompanhar, ent&o, como a literatura foi concebida, prati- cada, interpretada e avaliada em diferentes momentos é um ca- minho. Pode multiplicar nossos finalmentes ou, pelo menos, fragilizar os finalmentes alheios. No tempo devido I4 iremos, leitores, 14 iremos! E nessa vereda teremos multidées de compa- nheiros e companheiras, que essa trilha é a mais batida dos estu- dos literdrios. Mas, antes de acompanharmos as multidées, mais um minuto (na verdade, um capitulo) de sua atengao, atento leitor, para uns toques sobre a intima e delicada relagao da literatura com a linguagem. 137) Scanned by CamScanner

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