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ANTONIO LANCETTI owe Aer GAS ADE -LNYERNO. NOTAS PARA . DESINSTITUCIONALIZACAO DA ASSISTENCIA SOCIAL ‘0 inverno de 1993 a Prefeitura de Santos realizou uma campanha emergencial para acolher a populacao de rua da cidade. Em par- ceria com o(Comité Santista Contra a Fome ¢ a Miséria ¢ cela da instituiu uma casa Dara abrive jens mulheres e criancas de “rua, Em menos de vinte dias trabalhadores da construcio civil nnicipalidade reformaram um velho casatdo, situado no centro da cida- de. © Comité contra a Fome e a Miséria forneceu alimentagia, obiida em campanhas de arrecadacéo de alimentos realizadas semanalmente; alguns empresirios da cidade também contribuiram. ~ & No comeco voluntérios, ‘dirigentes do Comité e profissionais da Prefeitura safram 2s-ruas da cidade durante as noites para conversar com as pessoas que dormiam nas marquises dos armazéns préximos a0 porto, na rodoviéria e em outros pontos da cidade”Num segundo momento, os téenicos e voluntérios ofereceram agasalhos e anunciaam & populacio de rua a abertura da Casa de Inverno. (Os técnicos e voluntérios que trabalharam na campanha foram f er . eo ACASA DE I 0 73 i iia ttn - a foram pautadas segundo ¢ principio de cidadania, as pessoas foram scolhides_e_ndo_recolhidas, havie também uma linha telefénica para Diferentemente dos abrigos convencionais, na Casa de lnverno néo Feceber avisos da populacio a respeito de pessoas em estado critico ou i ( ex dbegmiin toma pho, polo Fedor fu aleubies ~ para teceber diferentes tipes de colaboracio. idade\do hogsem de rua e uma forma de defesa, Tambést no havis A questio da poptlacto de run era € partcularmente tensa na $i teva is coneuns tains Gee eal ences Pee ‘p mesmo ano. cidade de Santos. A impzensa local publicava e publica constantes ma- ) (aura a portag is dezaito Novay'a fachava’ as dev da anna sepanie, tris a respeho das pessoas que metnm nas runt escolheu 9 adjetivo ee pen oie ieee} ame coe detente SERED) na Sssocupados para se referir 2 essas pessoas, lideres conservadores insis- grande maioria homens, as sessenta vagas destinadas para eles forain siam ¢ insistem na necessicade de expulsar essa populacio da cidade, preenchidas. Uma semana depois o espaco destinado & equipe técnica em 199, durante 0 periodo eleitoral, esse tema {oi objeto de debate. foi reduzido e aproveitados outros espacos da Casa de modo que pu- O candidate derrotado acusava a essas pessoas de vediagem e culpava Werselattler con 160 came 3 administracto petista! pelo crescimento dessa populagSo; 0 candidato = As deroite horas do dia 22 de julho jf havia ume pequena fla de vencedor propunha solidariedade, respeito a cidadania e enfrentamento do problema com uma concepcio cosmopolita. Enfim a acho se desen- voiveu no seio de um campp social polémico. ‘pessoas esperando no portdo da Casa. Convidados a entrar em grupos de aproximadamente vinte pessoes, nos apresentamos ¢ enunciames as, autas de funcionamento da casa. Explicamos aos futuros moradores Jp satlpe Se srebalk, coordanad pot iim Jol compesta por ta, jue no havia pessoal suficiente para cozinhar, impar mem paza efetuar batuliores de den sociale Prefer: side abastecment, aio co! «Seo fa pesto sulin pura corinas, inj nem par fete ais a Sg menial Guardas muncipals, voluntdiies¢ por alguns semos também que estavam convidados a utilizar os chuveiros de gua Geen Ta Doce cu rita win departamesi para’ seuss dee, quente (em muitos abrigos as pessoas s4o obrigados a tomar banho de dadania que dependia sdministraivaments da Secretaria de Goveno mangueira) e combinamos com eles que as pessoas deveriam circular da municipalidade. Ao lodo trabalharam na Casa de Inverno nove té- Fe-coe lee Seclstemnes: Cage bast ee gorsderctlons pore anes ricos, uma merendeira, seis guardas municipais, sete voluntérios e dez cus sn quardasss objeto estonia jes tunbam concordance coc estagiirios. - ne 5 wr i : 2 proibigSo de portar armas ¢ drogas dentro da Case 4 ioe ging obit tact pct 9 i ep eg ei eC) Pasuperar vitar que 2 Casa de inverno nio se tr seem 77h ic i Fie maforia se hizienizou anics do iantar. No dia seguinte foi realized } instituicéo asilar e como nfo repetir o que a assisténcia social vem at a Grimeia tagablESpem que seGiseutTyprependerartementeo fat de | zendo bé séculos, ou seja, ans formar seus usuétios : Na equipe de trabalho, escolhida @m’péiicos dias, reinava um cli« ma de cooperacdo e de disposicéo para a tarefa. Quase todas as noites, quando a maioria dos moradores estava dormindo, 2 equipe se reunia "ars senar np ous hia scanssiine sloncny oo voor oe Fiados, ninguém era mesquinho com horérios, tinhamos redescoberto 0 eres lavorandi. “= A Casa de Inverno foi uma aventura antropolégica, nela cohvivi- cam homens, mulheres, mus ranges de in Conv oulooe neces cempo de permanénca nay rue, eane beoas tahors om convene soirim: 4m duplo processo de desiniegracao social or S30 30 mercado de trabalho ¢ de isolamento sécio-relacional, sem familia 32m shinas microssociais que oferecessem apoio. A populagdo de rua Sorme comumente em pequenos grupos para se proteger da policia, da hostilidade da populacio normal e de outros grupos rivais que também moram nas ruas da cidade®. A convivéncia baseadalexclusivamentelna izacio democratica e em dispositivos grupais foi, sem divida, ar- scada, * . O tnico jornal didrio da cidade(fao)divuigava a experiéncia mas ‘gsistia insidiosamente em denunciar a existéncia de um grupo de ado- jescentes que perturbava os Vizinhos de um dos bairros de Santos. Um ‘nal-eniendido’entre 05 varios Grgaos da Prefeituza fez com que esses. jovens e criancas fossem conduzidos sem muito didlogo prévio para a Casa de Inverno (muitos deles desconfiavam que estavam sendo leva- os para a Febem ou para o Juizado). . Apés a chegada desse grupo, que no passou pela recep, como todos as outras pessoas, e com os quais nfo se acordou nenhuma regra nem condigdes de permanéncia na casa, surgiram atritos com 0 resto 2 AAWV. Populogo de nu: quem é, como vive, como £ vite, Sio Paulo, Editora Huctee, ACASADEINVERNO 75 dos mozadores; os adolescentes. ndo resveitando recras minimas de convivéncia, acabaram. estab: er na casa a jo explosiva. A cola de sapateiro circulava em alta quantidade, a tenso era crescenté entre eriangas e jovens de rua organizados segundo suas hierarquias e liderados pelos pais de rua. Muitos se negavam a participar de assem- biéias, outras drogas foram encontradas e uma noite’ Armando Pinho, membro da equipe, s¢ interpés entre um dos pais de rua e uma senhora com evidentes sinais de desagreeacéo psiquica, a qual ameacava com uma faca. Em poucas horas a Casa de Invemno passaria a ocupar as Nz quatta feira 4 de agosto, depois de avaliar a situacdo com toda a equipe. decidimos fechar as portas da Casa para os meninos e adoles- centes de sua; sabfamos que poderiamos estar provocando uma explos8o Dinas era imprescindivel realizar um corte ej condicdes de convivén- cla, As dezoito e trinta postei-me na porta de entrada e disse que adoles- Gentes, meninos e meninas que mio estavam acompanhados pelos pais estavam desligados da casa, que somente poderiam entrar adultos e crianges com seus pais e que jovens e meninos que estivessem interessa- dos em retomar a Cass poderiam voltar 4s vinte e uma horas. “A casa de inverno fechou", ccmentavam entre eles; enquanto uns'poucos per- maneciam nas imediacSes outros comecaram a se dispersar. Acompa- nhado por uma psicélega comecei a coordenar a assembléia, tudo acon- tecia com trangiilidad: e ha muito tempo nio reinava tanto siléncio harmonia no grupo. Depois de meia hora de iniciada a essembléia come- amos 2 ouvir estrondos € ruido de vidros quebrados (a Casa tem duas portas no andar térreo, uma de madeira e outra metélica de enzolar, ¢ janelas de vidro no andar superior). Nunca esquecerei o olhar assustado que se desenhou no rosto de Rosingela quando solicitei que continuasse coordenando, sozinha, 9 grupo de aproximadamente setenta pessoas. Quando saf pare a rua jé estava instalada uma batalhe campal, uns trinta adolescentes e meninos apedrejavam a Casa, os técnicos ¢ voluntérios j4 Ado conseguiam conversa nem conter fisicamente a ga- rotada enfurecida, Apés 0 amincio do fechamento provisério da Casa os meninos se dispersaram em pequenos grupos, um adulto que ndo conseguimos identificar vendeu aos meninos pelo menos duas latas de cola 76 ANTONIO LANCETH ¥ teiro. Isto fez com que se reagrupassem, exaltassem-se os animes e le- vasse 0 grupo a esse estado epileptdide que provoca 0 uso da cola. Um desconhecido deu uma paulada na cabeca de um dos adolescentes ¢ fugiu. Uma voluntéria que se tinha aproximado do grupo de ténicos naquele dia e que néo tinha passado por treinamento proferia gritos de-~ compaisio interferindo na acéo dos dois guardas municipais que ten- tavam sem éxito conier as agressées. Quando pisei ne asfaito senti mew corpo relaxar, por alguné ins- tantes gozei da festa da ira, fazia pouco tempo que, no Rio de Janeiro, varias criancas de rua tinham sido assassinadas nas escadarias di da Candeléria, alguns desses meninos eram amigos ou conhe mortos, tinha chegado a nossa vez de transitar pelo seio da vis A assa altura dos aconiecimentos os moleques jé tinham quebredo os vidros de uma perua kombi da guarda municipal, a ambulancia tinha ‘egado para socorrer o jovem que estava com a cabeca sangrando, os vidros da casa estavam todés quebrados, os meninos ¢ meninas insul- favant os guardas, e a Casa agora rebatizada por eles como a Casa do Inferno. ~~ Nada do que era feito até esse momento poderia contomar a si- tuasio,e fui deixando me impregnar por essa orgia; naquele momento, me do “Pema Pedagégico” de Makarenko se apossou de mim. Os dois guardas mu- ais, corpulentos e conhecedores de artes marciais, tinham levado 4 forsa o pai de rua, principal lider da revolta, para dentro da kombi da guarda municipal. © rapaz, com quem jé tinha tido um enfrenta- mento verbal, dias atrés, apés ele ter desrespeitado Aurora Fernandes, diretora da Casa, era téo forte e estava tio enfurecido que os dois guar. » 425 néo estavam conseguindo colocar algemas nele. Aproximei-me da erua, chemeio.ranaz pelo nome, ordenei aos guardas que o A Preleitura de Santos colocou todos os seus servigos & disposico da Casa de Inverno, as creches deram prioridade as maes e familias com criangas pequenas que estavam morando pelas ruas de modo a i a procura de trabalho ou simplesmente para permitir que tra- casas de familia sem necessidade de morar nelas, a5 es ram matricula para os meninos que des servigos municipais de satide. Nos tltimos quarenta e cinco dias a equi- pe que trabalhava a noife na Casa e durznte o dia em diversos setores da administracio municipal, foi por esta liberada de suas obrigacbes para poder dedicar 0 dia inteiro de trabalho 4 Casa. Foi feito enorme esforgo para que quase todas as criancas que tinham familia em Santos e em outras cidades da Baixada Santista fossem entrevistades, e depois de a equipe estadelecer vinculos de confianca (a grande maioria dos meninos e meninas de rua no dizem seus nomes verdadeiros nem do sitou fodas as familias das criangas ¢ adolescentes. A proporcdo que o tecido microssoci \do-se, os meni- rds que no comeco nos roubavam (foi preciso colocar os mantimentos em lugar fechado com chave) deixaram praticamente de furtar, 0 uso de cola de sapateiro diminuiu muito, eles passaram a integrar as equipes de limpeza e de cozinha ¢ alguns voltaram espontaneamente para suas casas. ‘Um dos aspectos da mudanca experimentada foi a transformacéo ios. No comeco desconfiavam de nés, nao permitiam que nos aproximassemos fisicamente deles, ou se aproveitavam da atitude de alguns funciondrios que, ao tentarem seduzi-los, acabavam sendo por les manipulados. Num dos poucos fins de semana em que nfo pude estar presente, telefonei para ter noticias e a diretora da Casa me infor- mou que a criancada estava reunida chorando a morte de um deles. Uma das meninas chegara com a noticia de que um menino tina sido assas- sinado por um dos moradores que havi sido desligado por néo respeitar, as regras discutidas em assembléia; a jovem dissera ter lido a noticia no mal Noticias Populares. Apesar de nao acreditar na historia fui comprar jornal ¢ solicitei a Aurora Fernandes que verificasse o fato no Instituto Médico Legal. Quando a equipe comunicou as criancas que néo tinha nenhuma matéria no jornal e que no havia registro de qualquer faleci- § g & cute . ACASA DE INVERNO 81 mento na cidade, a menina di demos, examinando as hi ¢ adolescentes, que elas t juntério pois achou perigosissima @ dutora destas pessoas), esiabelecer clima de acolhimento e compreensio pois nio se coloca ordem em alguém que néo tem condigées subjetivas de organizar-se em pouco tempo. Entendemos, também, que a convivéncia entre adultos, criancas ¢ adolescentes ativou a vida dos adultos ¢ serviu como permanente con traponto, pois os adultos chamavam sempre a atencio para a desordem dos adolescentes, constantemente se debatia o uso de drogas, adultos acusavam jovens e crianc2s por uso de cola e criangas criticavam: adul- tos por eles beberem cachaca., Nas assembléias, (nao obstante opiniso da equipe técnica) foi deci esperar na rua af que passasse a embriaguez. No primeiro més de experiéncia, Siqueira, o lider mais ativo da Casa, que comandava a cozinha, faleceu, e varias vezes foi lembrado. Este e outros acontecimentos antropolégicos foram facilitando a decli- nagio do estado intempestivo das primeiras épocas.Nos tiltimos quinze dias 0 coletivo se auto-incitava A saida e os que nada faziam por resol- ver a propria situagio de vida eram criticados publicamente.\, Alm das assembléias foram organizados grupos de mulheres e de cratizar as relagdes das préprias criangas e adolescentes. Quando sur- giam inconvenientes @eprganizavam grupos de discussio e em mas ovortunidades fomos chamados a parti . Isso transversalizout a sua organizacao; os lideres dos meninos e meni- nas de rua praticam, muitas vezes, autoritarismo para com criangas me- ores e nesses grupos eles decidiam suas auesté votacdo. Nos iiltimos dias a equipe de trabalho sofreu forte pressio para que a Casa de Inverno néo encerrasse suas atividades, varias matérias publicadas em jornal propugnavam a continuidade e mesmo alguns ve- 4 Idem. Bbidem, Observamos que a vivéncia grupal permitiu, também, demo-' jo que quem chegesse alcoolizado deveria “ ~~ esses dias e 0 emprego conseguido, alugaram quart rruclorpan L, ANTONIO LANCET ¥ seadores fizeram requerimentos con esse objetivo, mas na Casa jf se jfestavam sinais de desagregacac. Hé doze dias do término, cento € © Gezessete das 329 pessoas que tinhara passado pela Cass, haviam aban- donado a rua. Alguns se haviam associado para alugar uma moradia, outros foram morar com as familias, ou, aproveitando o (6lego dado por utros ainda vol taram para as suas cidades de origem; desse grupo vinte € dito érianigas Geixaram de morar pelas ruas. ‘A proporcéo que as pessoas mais agregadas salam, ficavam na Casa os que optariam posteriormente por retornar as rues © aqueles com menos possibilidade de reconstruséo existencial. Q prédio mani- festaxz inais de d “ho, era dificil substituir os integrantes das eauipes de limpeza, cozi- aBha ou concertos. ‘Uma frente fria fez com que as atividades se estendessem até o dia 30 de setembro (uma semana a mais do anunciado), mas mesmo assim foi realizada uma festa de encerramento com participacio do proprio préfeito municipal ‘A presséo coletiva, 0 esforgo dos diferentes profissionais do poder publico fizeram que, no encerramento, duzentas e nove das trezentas € frinta e nove pessoas que, moraram na Casa de Inverno conseguissem deixar as ruas, dentre elas trinta e sete criancas de rua voltaram a morar familias. hé duivida de oue o fundamento do resultado obtido foi a ‘bando, foi enfrentado por varios membros da equipe e por min mesmo; depois de duro diglogo contou que tinha saido de sua casa em Goids ¢ .do pelo nordeste e pelo sul do Pais e que tinha feito isso depois do ecimento do pai Filho de militar rigido e, segundo ele, bastante sidico, reagia a qualquer atitude de autoridade, Provavelmente desmontado afetivamente, escreveu & mae uma longa carta, nela havia varias referén- clas & Casa de Inverno, aos amigos que conheceu, aos funcionérios. No “Ao afirmar que a Casa de Inverno foi um laboraiério que deixa A CASA DE INVERNO "83 ensinamentos para a desinstitucionalizacao da assisténcia sociel, nos desinstituclonalizasso da assisténcia social, n baseamos nas seguintes formulagdes: lugar ela foi pensada c Gio de um grande miimero de pessoas da SOc 10 uma intervencio na cida-, e foram questionadas as nocées existentes « , amaioria era profissionali, zada, havendo mesmo entre eles dois moradores wi itarios). : 2+ Em segundo, 0 fato de a atuacdo da Casa se: impulsionou 3 - Em terceiro lugar é importante s que atue no campo da assisténcia puiblica deve escolher entre seguranga, e liberdade, mas que de maneira nenhume deixard de atuer em campo, Tenge e seré imposstvel ndo lidar com a violéncia. i ‘4. Em quarto lugar, que uma intervencio desse tipo problematiza as, nogées de assisténcia social, tanto as assumidamente assistencialistas noses de assisténcia seciel Zomo as que trabalham com a nogao de seré sempre um que a idéia de mi por mais trabalhe com a nogdo de direito, nunca estard 8 transformadores se no criar disposi- —_——s em condigdes de produzir efei Sy SA quinta questéo € 2 que se coloca para os exiticos de esquerda que nio vem possibilidade em empreitadas que enfrentam o problema, da fome antes que haja reformas ou revolugées sociais; a tais preciso lembrar que os partidos de esquerda hoje, no Bresil ¢ em outras partes do mundo, exercem poder local ¢ que esse tipo de critica é im~ — procedente para quem governa uma cidade. A outra questo importante. G- Por tiltimo, que o fundamento de qualquer experiéncia social pro- dutiva esta baseado na[solidariedade) questio essa altamente complexa: € que sempre sotre risco dé cair no solidarismo ou na simplificacio"~7 massificante. No caso da populacac infantil de rua ouvimos muitos = Yidirios da solidariedade propor o retorno dessa populacéo & escola’e i oO 3€ ANTONIO LANCET ” a aplicagio de regras estritas a esses meninos. As histérias € a subj vidade dessas crianas imp ram a aplicagio simplista do da Crianga e do Adolescente. Por que seré que essas criancas escolhem sacos de leite para cheirar cola? Por que sera que nas suas brincadeiras, esses meninos e meninas falam to compulsivamente da morte e pas- ~sam.as agredir-se,com tanta facilidade2___.. A Casa de Inverno lidou exemplarmente com as al ‘dramatista Pedro Mascarenhas e su: cujo titulo era Despediia da Casa de fg amoroso e com muita participacéo de témicos e usuérios; os minutos 0 diretor pediu aos participantes que se colocassem no papel da Casa-e falassem aos presentes. A Casa de Inverno, interpretada por Carlos Segala, morador,tdisse aos presentes: “/ Sou timida mas aqueci muita gente Sou magra mas alimentei Sou feia mas deixei m FRANCOIS TOSQUELLES A ESCOLA DE LIBERDADE ol embora tenhamos formulado muitas perguntas a Tosquelles. As O texto apresentado 2 seguir ndo é exatamente uma entrevista, las a0 ouvinte, ndo 20 palavres, antes de tudo, foram dis tor. Na tanscricfo, tradusso e edigao do texto, procuramos o maximo: ssivel ndo purificar e dissipar a “semente da voz", no ritual da “ves- timenta do morto” dé palavra dita a palavra escrita que — como diz '/ Barthes — sacrifica as tdticas, as exposicdes, a inocéncia,e os perigos inerentes ao discurso. Apesar dos cortes, da diviséo dos tépicos da dis-. \ cussdo ¢ da censura as refertncias pessoais, o texto preserva ¢ transmite — assim pensamos e graces & extraordindria poténcia de Tosquelles — todas as posisdes (ndo separadas, mas circulares) assumiu ao falar e escutar nesse encontro. Portanto, podemos dizer que-~ se trata de uma longa histérie contada em voz alta: é a autoridade de uma experiéncia amalgameda a uma histéria que fomos & procura. Em agosto de 1987, um grupo heterogéneo de pessoas — psiquia- logos, pesquisadores, funciondrios responsaveis pela .Direc-~+ Affaires Sanitaires et Sociales, provenientes da Baixa Norman~ diz, da area de Lido, de Genebra e de Trieste — reuniu-se no pequeno. Flednoir. O texto completo da entrevista, que durou cerca de doze horas, é de 121 pai ‘om transcrisio de M. N. Plednoir. A'tadusio do francés ¢ a montagem ds partes: reduzides aqui apresentadas sho de M. Constantino e G. Gallo.

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