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trabalho premiado

As armadilhas da tabela regressiva


do Imposto de Renda em planos cd e cv:
Sugestões para o aprimoramento da legislação
e incentivo à poupança previdenciária
Emerson Erik Schmitz
Analista de Investimentos da Previ. Economista formado pela UFRJ, possui MBA em Análise de Conjuntura também por esta instituição
e Mestrado em Economia pela UCAM. Recentemente, concluiu especialização em Direito Previdenciário, pela UERJ.

Resumo Introdução

O
governo federal, com o intuito de incentivar a poupança O baixo nível de poupança privada representa hoje um dos
privada no Brasil, criou a nova tabela de incidência do principais entraves ao desenvolvimento sustentado do país,
imposto de renda para os participantes de planos de uma vez que este cenário traduz-se no reduzido estoque de
contribuição definida (“CD”) e de contribuição variável (“CV”) recursos que se podem reverter em investimentos, sejam eles
de entidades de previdência complementar, convencionalmente públicos ou privados. Vários são os motivos que explicam a
chamada de tabela regressiva do imposto de renda. baixa disposição da população brasileira e mesmo do governo,
Apesar de sua aparente simplicidade, o novo regime de tributa- de poupar: expansão do crédito às camadas de renda mais
ção trouxe consigo algumas armadilhas. Em vez de representar baixas, cultura de toda a sociedade (cidadãos e governantes),
uma opção para o cidadão, a legislação mostrou-se de caráter baseada em benefícios de curto prazo, limitações econômicas
impositivo ao limitar a opção pelo regime de tributação até em função da baixa renda média do brasileiro, política fiscal
o último dia útil do mês subseqüente ao do ingresso no pla- expansionista etc.
no e também ao decidir pelo caráter irretratável da escolha,
Neste contexto, notícias que visam o incremento da poupan-
gerando prejuízos àqueles que não se informam de maneira
ça de longo prazo no Brasil são sempre alvissareiras, como
adequada, como demonstram os estudos de casos descritos
a criação do regime regressivo de tributação do imposto de
no trabalho.
renda da pessoa física em planos de benefícios administra-
Com algumas sugestões, no entanto, argumenta-se que poucos dos por entidades de previdência privada. Em uma primeira
ajustes podem reverter o atual quadro de descrédito, no sentido análise, sem grande aprofundamento, poderia supor-se que
da incipiente legislação impulsionar a poupança previdenciária os participantes de planos de previdência obteriam excelente
no país, com destaque para a possibilidade de escolha do regime benefício fiscal caso mantivessem seus planos por um longo
de tributação a qualquer tempo e a simplificação da legislação, período de tempo. No entanto, uma pesquisa um pouco mais
através da extinção do cálculo do Prazo Médio Ponderado detalhada logo demonstra que os supostos benefícios podem
(PMP) em planos CV. transformar-se em verdadeiras armadilhas.

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As armadilhas da tabela regressiva do Imposto de Renda em planos cd e cv...

O objetivo deste trabalho é identificar algumas situações não Tabela 1. Tabela Progressiva Mensal
previstas pelo participante comum, não especialista em previ- do Imposto de Renda
dência complementar, que representam risco de se pagar mais
imposto no regime regressivo de tributação do que se pagaria Parcela
com a tabela progressiva, em função da complexidade e do Base de Cálculo
Alíquota (%) a Deduzir em
do IR em R$/ano
caráter considerado impositivo da nova legislação. R$/ano
Até 15.764,28 - -
Demonstra-se que o regime regressivo, apesar de seu intuito
de ser um instrumento de incentivo e benefício fiscal aos in- De 15.764,29 até 31.501,44 15% 2.364,60
vestidores de longo prazo, não atendeu às expectativas iniciais. Acima de 31.501,44 27,5% 6.302,28
Com algumas sugestões, no entanto, pondera-se que alguns
poucos ajustes podem reverter este
quadro de descrédito, no sentido da Tabela 2. Valores vigentes para o ano-calendário de 2007
incipiente legislação impulsionar a
poupança previdenciária. Despesas Limites de Isenção ( R$/ano)

O trabalho está dividido em três ca- Com dependentes 1.584,60

pítulos. O primeiro trata da legislação Médicas (sujeita à comprovação) Não há


do imposto de renda da pessoa física, Com instrução 2.480,66
suas normas gerais e a evolução dos
Com Previdência Social da União, dos Estados e dos Municípios Não há
regulamentos para os participantes
de planos de previdência comple- Com Entidades de Previdência Complementar Até 12% da Renda Bruta
mentar; o segundo apresenta quatro Isenção após os 65 anos de idade 15.764,28
estudos de casos que demonstram
como indivíduos mal informados po- despesas médicas e despesas com instrução, suas e de seus
dem ver-se em verdadeiras armadilhas na escolha do regime dependentes, contribuições para previdência social da União,
de tributação do IR; e, por fim, o terceiro e último capítulo dos Estados e dos Municípios, contribuições para as entidades de
apresenta algumas sugestões de aprimoramento da legislação, previdência complementar domiciliadas no país e ainda isenção
de forma que esta funcione realmente como uma ferramenta suplementar no caso do cidadão completar 65 anos, respeitando
para impulsionar a poupança de longo prazo no Brasil.
os limites impostos pela lei, dispostos na Tabela 2.
Capítulo I. Legislação do Imposto de Renda
Na declaração simplificada, por sua vez, o contribuinte opta
da Pessoa Física
por um desconto simples de 20% sobre os rendimentos tribu-
1.1. Breve Resumo da Norma Geral táveis, que substitui todas as deduções admitidas na legislação,
obedecendo-se o limite de R$ 11.669,72/ano (ano-calendário
O imposto de renda da pessoa física no Brasil (“IR”) é calculado
de 2007).
de forma proporcional à remuneração do contribuinte. A última
alteração em sua legislação foi definida pela Medida Provisória Em resumo, aqueles que auferirem rendimentos tributáveis
nº 340, de 29 de dezembro de 2006, convertida posteriormente acima de R$ 58.348,60 devem, obrigatoriamente, realizar a
na Lei nº 11.482, de 31 de maio de 2007, a qual também esta- declaração de ajuste anual completa, ao passo que aqueles que
belece reajustes de 4,5% a.a. na base de cálculo do IR até o ano perceberem renda tributável abaixo deste valor farão a opção
de 2010, tendo como base os dados apresentados na Tabela 1, pela declaração que lhes convier em função da soma de suas
que vigora para o ano-calendário de 2007: deduções ser maior ou menor do que o limite previsto em lei.
A Lei nº 11.482 faculta ao contribuinte a opção pela declaração
Há de se salientar, no entanto, uma diferença importante entre os
completa ou pela de declaração simplificada de seus rendimentos
conceitos de alíquotas de tributação e alíquota efetiva, qualquer
anuais, devendo ser apresentada uma delas até o último dia
que seja o tipo de declaração escolhido. Enquanto as primeiras
útil do mês de abril do ano-calendário subseqüente.
estabelecem o porcentual que incidirá sobre os rendimentos
A declaração completa permite ao contribuinte deduzir da base tributáveis de acordo com as faixas de renda estabelecidas
de cálculo do IR, dentre outras, despesas com dependentes, em lei, a segunda refere-se ao porcentual efetivamente pago

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Tabela 3. Opções para cálculo do IR

Declaração Simplificada (em R$/ano) Declaração Completa (em R$/ano)


Renda Bruta 50.400,00 Renda Bruta 50.400,00

Desconto simples de 20% (10.080,00) Previdência Oficial (3.818,00)

- - Dependente (1.584,60)

- - Contribuição Entidade de Previdência Complementar (1.200,00)

- - Instrução* (2.480,66)

- - Despesas Médicas (600,00)

- - Total das Deduções (9.683,26)

- - Deduções / Renda Bruta 19,21%

Base de Cálculo 40.320,00 Base de Cálculo 40.716,74

1ª Faixa (Isenção até R$ 15.764,28) 0,00 1ª Faixa (Isenção até R$ 15.764,28) 0,00

2ª Faixa (15% sobre R$ 15.737,16) 2.360,57 2ª Faixa (15% sobre R$ 15.737,16) 2.360,52

3ª Faixa (27,5% sobre R$ 8.818,56) 2.425,10 3ª Faixa (27,5% sobre R$ 9.215,30) 2.534,21

Imposto Devido 4.785,68 Imposto Devido 4.894,78

Alíquota Efetiva 9,50% Alíquota Efetiva 9,71%


* (máximo de R$ 2.480,66 por ano)

sobre a renda bruta após todas as deduções e isenções legais. efeito desejado, de forma que seria necessário que o indivíduo
Vejamos um exemplo. efetuasse contribuições ao plano de previdência complementar
de valor superior a R$ 1.200,00/ano, até o limite de 12% de
Um determinado contribuinte, ao realizar sua declaração de
sua renda anual bruta (R$ 6.120,00), elevando suas deduções
ajuste do ano-calendário de 2007, observa que recebeu renda
acima daquela calculada pela declaração simplificada.
bruta mensal de R$ 4.200,00 (R$ 50.400,00 por ano), estando
enquadrado na faixa de tributação de 27,5%. Suponha que este Nota-se ainda que, embora o cidadão faça parte do grupo
cidadão tenha contribuído regularmente para a previdência de contribuintes com tributação mais elevada, sua alíquota
oficial (R$ 3.818,00/ano) e para um plano de previdência privada efetiva de IR não passa de 10%, qualquer que seja o tipo
(R$ 1.200,00/ano), para complementar sua renda quando de de declaração escolhido. Considerando-se a possibilidade
sua aposentaria e para obter dedução na base de cálculo do de contribuições mais elevadas para planos de previdência
imposto de renda. Considere-se, ainda, que o indivíduo tenha complementar, permitidas quando da opção pela declaração
um dependente matriculado em um curso de pós-graduação completa, sua alíquota efetiva poderia ser ainda menor. Este
(R$ 6.000,00/ano) e que gaste, em média, R$ 600,00/ano com cálculo é particularmente importante quando tratarmos do
despesas médicas suas e de seu dependente. tópico seguinte: a tabela regressiva do imposto de renda em
planos de benefícios de contribuição definida e de contribuição
Assim, a partir dessas hipóteses, o contribuinte poderia optar pelo
variável, no qual a tributação é definitiva.
cálculo de seu IR devido ou a receber, dependendo da parcela
retida na fonte, segundo os valores expressos na Tabela 3. 1.2. Cálculo do Imposto de Renda
em planos de benefícios administrados
Como o contribuinte em nosso exemplo possui despesas que se
por Entidades de Previdência Complementar
traduzem em deduções da base de cálculo do IR pouco menores
do que a oferecida pelo desconto simples, seria recomendável Com o intuito de incentivar a poupança privada no Brasil, o
a opção pela declaração simplificada. Neste caso, sua intenção governo federal criou, por intermédio da Lei nº 11.053, de 29 de
de contribuir para um plano de previdência complementar no dezembro de 2004, alterada posteriormente pela Lei nº 11.196,
intuito de reduzir seu custo tributário não estaria surtindo o de 21 de novembro de 2005, a nova tabela de incidência do

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imposto de renda para os participantes de planos de contribuição ção do participante pelo regime da tabela regressiva,
definida (CD) e de contribuição variável (CV) de entidades de alíquota máxima de tributação de 25% quando o prazo
previdência complementar, sociedades seguradoras ou admi- de acumulação for inferior a seis anos, mantendo-se a
nistradoras de FAPI, convencionalmente chamada de tabela redução progressiva da alíquota com o decorrer do prazo
regressiva do imposto de renda(Tabela 4). do recebimento do benefício.
Tabela 4. Tabela Regressiva Os participantes dos planos de benefício definido (BD), por sua
do Imposto de Renda vez, continuaram sendo tributados pelo regime progressivo, não
sendo permitida a opção pela tabela regressiva em função do
Prazo de acumulação Alíquota caráter de mutualismo de suas contribuições previdenciárias.
Menor ou igual a 2 anos 35%
Para complementar a legislação pertinente ao regime de tri-
Maior do que 2 e menor ou igual a 4 anos 30% butação regressiva para os planos CD e CV, a SRF, a SPC e a
Maior do que 4 e menor ou igual a 6 anos 25% SUSEP, por meio da Instrução Normativa Conjunta nº 524, de
Maior do que 6 e menor ou igual a 8 anos 20% 11 de março de 2005, alterada pela IN Conjunta nº 589, de 21 de
dezembro de 2005, disciplinou o cálculo do prazo de acumulação,
Maior do que 8 e menor ou igual a 10 anos 15%
previsto na Lei nº 11.053, de 29 de dezembro de 2004.
Maior do que 10 anos 10%
Foram definidos os planos de benefícios estruturados em regime
atuarial – aqueles cuja manutenção dos benefícios concedidos
A nova legislação do IR facultou a opção pela tabela regressiva
tenham por premissa o mutualismo dos recursos garantidores –;
aos participantes de planos de benefícios CD ou CV ou àqueles
e o período de acumulação – aquele que antecede o pagamento
que neles ingressassem a partir de 1º de janeiro de 2005, com
do resgate ou o início do recebimento do benefício –, assuntos
as seguintes disposições a serem observadas, dentre outras:
que trataremos de forma detalhada nos tópicos seguintes.
• definição da base de cálculo como o valor de resgates e/
1.2.1. Planos estruturados em Regime Não Atuarial
ou benefícios auferidos;
O regime não atuarial é característico de planos de contri-
• tributação de forma definitiva na fonte;
buição definida “puros”, os quais não prevêem o pagamento
• definição de prazo de acumulação como aquele entre a de renda vitalícia ou qualquer tipo de mutualismo entre seus
contribuição ao plano e o respectivo pagamento relativo ao participantes. Enquadra-se, nesta categoria, também, para fins
resgate ou ao benefício, sendo o seu cálculo previsto para de tributação, os resgates efetuados em planos CV que, em
ser disciplinado em ato conjunto pela Secretaria da Receita síntese, são de contribuição definida em sua fase de acumulação
Federal (SRF), Secretaria da Previdência Complementar (SPC) de recursos e de benefício definido em sua fase madura, uma
e Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); vez que, constituída a reserva matemática do participante e,
estando ele elegível para o recebimento de benefícios, a res-
• exercício da opção até o último dia útil do mês subseqüente ponsabilidade de manutenção dos mesmos, incluindo toda a
ao do ingresso no plano; sorte de riscos atuariais e financeiros, passa a ser da entidade
gestora do plano.
• opção irretratável, mesmo nas hipóteses de portabilidade
de recursos e de transferência de participantes e respec- A legislação estabelece para os planos de regime não atuarial a
tivas reservas; associação dos valores recebidos (resgates em planos CD ou CV
ou benefícios em planos CD) às primeiras contribuições efetua-
• incidência de imposto de renda na fonte de 15% como
das durante o período de acumulação, atualizadas conforme o
antecipação do devido na declaração de ajuste anual
valor das quotas em que está referenciado o plano. Em síntese,
para os que não tenham optado pela tabela regressiva,
aplica-se a regra na qual a primeira contribuição a entrar é a
sendo estes enquadrados automaticamente no regime
primeira a sair. Veremos mais adiante, no entanto, que, apesar
progressivo;
da simplicidade, a referida norma dá margem a algumas “ar-
• no caso de pagamento de benefício não programado madilhas”, as quais o participante deve estar atento quando
(invalidez e pensão por morte, por exemplo), após a op- de sua opção pelo regime de tributação regressiva.

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1.2.2. Planos estruturados em Regime Atuarial O fator de permanência (FP), por sua vez, será expresso por:

Para os fins de tributação do imposto de renda da pessoa , em que d1=1 e q1=Q1; (1.2)
física, os planos de contribuição variável são os que melhor se
encaixam no conceito de regime atuarial, tendo em vista que as (1.3)
contribuições vertidas no período de acumulação têm o fim de
constituir Reserva Garantidora, conforme a IN Conjunta nº 589, (1.4)
e no fato destes recursos, nesta fase, serem administrados com
base na premissa do mutualismo, de acordo com a definição E, como regra geral:
de regime atuarial disposta na IN Conjunta nº 524. Ademais,
os participantes de planos de beneficio definido (representan- (1.5)
tes clássicos de planos desenhados sob a ótica atuarial), não
podem decidir pelo regime regressivo de tributação, como já Aprofundaremos, no próximo capítulo, o estudo sobre o cálculo
citado neste trabalho. do prazo de acumulação em planos de benefícios de regime
atuarial descrito nesta seção, quando trataremos de alguns
Em planos de regime atuarial, a tributação prevista na tabela
estudos de casos para detalhar situações que podem mostrar-
regressiva incide sobre o prazo de acumulação calculado com
se adversas para os participantes em termos de tributação do
base no Prazo Médio Ponderado (PMP). Após o primeiro pa-
imposto de renda.
gamento do benefício, o prazo de acumulação continua sendo
calculado, reduzindo progressivamente a alíquota aplicável em Capítulo II. As armadilhas da Tabela Regressiva
razão do decurso do tempo, de onde se pode inferir que o PMP
não é recalculado com o decorrer dos anos. Apesar do intuito de incrementar a poupança de longo prazo
no Brasil e de sua aparente simplicidade, a tabela de tributação
A mesma regra é também válida para os benefícios não pro- regressiva do IR trouxe consigo algumas armadilhas que podem
gramados (pecúlio ou pensão por morte, invalidez), casos em representar muito mais uma punição do que um benefício
que se considera o prazo de acumulação das contribuições do para o contribuinte. Em vez de representar uma opção para
participante no momento da ocorrência do fato que gerou o o cidadão, o legislador mostrou-se impositivo ao limitar a
benefício. Especificamente no caso de pecúlio por morte recebido opção pelo regime de tributação até o último dia útil do mês
em prestação única, o beneficiário é isento de tributação. subseqüente ao do ingresso e também ao decidir pelo caráter
irretratável da escolha, gerando prejuízos àqueles que não se
Vejamos, então, o cálculo do PMP, disposto em anexo único à informam de maneira adequada, o que certamente não era
IN Conjunta nº 524. Presume-se na norma, inicialmente, que os a intenção quando da elaboração das leis e instruções que
valores de cada aporte estejam expressos ou sejam conversíveis disciplinam a questão.
em quotas ideais atribuíveis ao participante. Cria-se também a
figura do ‘fator de permanência’, para facilitar os cálculos, sendo Vejamos alguns pontos que o participante de previdência privada
o prazo de acumulação definido pela seguinte fórmula: deve considerar ao ingressar em um plano. Primeiro, uma pecu-
liaridade importante: o participante pode não atentar, quando
de sua escolha pela tabela de tributação do IR, sobre o quê, de
, onde: (1.1)
  fato, está decidindo. Quando se opta pelo regime regressivo, de
tributação definitiva, na verdade, opta-se conjuntamente pela
PAt – prazo de acumulação calculado na data t, expresso em
tabela progressiva para a renda de aposentadoria do INSS e
unidade de fração de ano;
outras rendas, e pela tabela regressiva apenas para os benefícios
Qt – quantidade total de cotas; da previdência complementar. Portanto, a opção que se faz é
entre as tabelas progressiva e regressiva (regime regressivo)
FPt – fator de permanência calculado na data t; ou a tabela progressiva unicamente.

qt – quantidade de cotas referente ao evento ocorrido na Esclarecido este ponto, devem-se considerar ainda os seguintes
data t; aspectos para que se tome uma decisão “segura”: trajetória
profissional, outras rendas, vida pessoal (número de depen-
dt – prazo em dias corridos, até o evento na data t contando dentes, sejam filhos, netos ou cônjuge), eventuais mudanças
desde o evento anterior. na legislação, tempo de permanência no plano, rentabilidade

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dos recursos vertidos ao plano, expectativa de vida e, enfim, Suponhamos que um indivíduo tenha ingressado em 02 de
discernimento suficiente para pensar a respeito de todas estas julho de 2007 em um plano CV (CD em sua fase de acumulação),
variáveis e projetá-las para o momento de sua aposentadoria. contribuindo inicialmente com R$ 200. Adotemos as premissas
de que o valor da contribuição será reajustado anualmente
Vamos analisar, neste capítulo, quatro estudos de caso em por uma inflação linear de 3,5% a.a., bem como o retorno real
que a opção pelo regime regressivo de tributação do imposto do investimento dos recursos aplicados no plano seja de 6%
de renda mostra-se uma verdadeira armadilha, para a qual o a.a., também linear, capitalizado mensalmente. Assumamos
participante de planos de benefícios deve estar devidamente também que o cidadão tenha renda bruta e, após deduções,
informado e preparado, tendo em vista a variedade de situações base de cálculo do IR, superior à faixa de tributação de 27,5%
possíveis e a complexidade da legislação pertinente. prevista no regime progressivo.

Todas as simulações propostas neste trabalho antecipam cená- Com este cenário de inflação e retorno em mente, o participante
rios plenamente factíveis de se realizarem. Em função do caráter deve optar pelo regime de tributação do IR até o dia 31 de
incipiente da nova legislação, algumas hipóteses aqui tratadas agosto de 2007, último dia útil do mês subseqüente, sabendo
não estão ainda plenamente disseminadas entre os atuais e os que, em caso de resgate total na opção pela tabela progressiva,
futuros participantes de planos de benefícios, devendo ser esta terá que pagar 27,5% sobre os recursos, qualquer que seja o
uma preocupação tanto das entidades de previdência abertas prazo de acumulação, uma vez que possui renda bruta que o
e fechadas e demais instituições que oferecem este tipo de remete a uma base de cálculo superior ao limite mínimo para
produto, quanto do governo, interessado em elevar o nível de a referida alíquota. No caso da opção pela tabela regressiva,
poupança privada de longo prazo no país. entretanto, o indivíduo – que supomos aqui também não ser
muito bem informado das regras de tributação de planos de
2.1. Resgate único em planos CD e CV benefícios de entidades de previdência privada – espera obter
vantagem tributária após apenas quatro anos de contribuição,
Embora os planos de benefícios tenham como fim último a
quando a tabela regressiva prevê alíquota de 25%. E mais, nosso
percepção de uma renda complementar quando da redução da
participante recém-ingressado em um plano CV, vislumbra
capacidade laborativa do indivíduo, os planos administrados
a possibilidade de, em dez anos, caso necessite do dinheiro,
por entidades abertas de previdência privada permitem o res-
poder resgatá-lo integralmente com uma alíquota de imposto
gate total ou parcial da reserva pessoal a qualquer tempo, ao
de renda incidente de apenas 10%.
passo que, nas entidades fechadas, é facultada ao participante
a opção pelo resgate da reserva constituída por suas contribui- Antes do prazo estipulado para a opção, o indivíduo em ques-
ções quando do rompimento do vínculo empregatício com a tão encontra um amigo entendedor das regras de tributação
patrocinadora, respeitadas as regras previstas no regulamento de planos de previdência privada que o alerta para o cálculo
do respectivo plano. realizado pelo método PEPS (primeira contribuição que entra,
primeira que sai) quando do pagamento de benefícios e resgates
O instituto do resgate é também permitido em planos de bene- em planos de contribuição definida e resgates em planos de
fício definido, sendo o regime de tributação necessariamente contribuição variável. No caso em questão, de resgate total, na
o progressivo. O detalhe está na retenção de 15% do imposto opção pelo regime regressivo, todas as contribuições devem
devido na fonte, e o restante, se necessário for, pago na ocasião ser consideradas, para efeito do cálculo, sendo as mais antigas
da declaração de ajuste anual do ano-calendário subseqüente. – mais de dez anos – tributadas a uma taxa menor – 10% –,
Este estudo de caso, no entanto, trata especificamente de planos e as mais recentes – até dez anos – às alíquotas definidas por
de contribuição definida e de contribuição variável. seus prazos de acumulação.

Em tempos de alta rotatividade no mercado de trabalho, espe- O participante descobre, então, que ao optar pela tabela regres-
cialmente para os planos de entidades fechadas, e levando-se siva, se efetuar resgate total após dez anos de contribuições
em consideração a possibilidade do participante necessitar dos ininterruptas, de acordo com as premissas de rentabilidade
recursos vertidos para o plano de benefícios para outros fins, no dos investimentos, inflação e renda bruta definidas, incidirá
caso de planos de entidades abertas, a alíquota do imposto de uma alíquota de 23% sobre sua reserva, bem maior do que os
renda na hipótese de resgate total passa a ser variável relevante 10% anteriormente aguardados, mas inferior àquela do regime
no momento da adesão ao plano e conseqüente opção pelo progressivo, de 27,5%. Na verdade, ele deverá esperar cerca
regime de tributação. de oito anos para que o regime regressivo torne-se melhor

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Gráfico 1. Evolução da alíquota média de tributação


em caso de resgate total dos recursos em planos CD e CV

do que o progressivo, como podemos observar no Gráfico 1, mais de dez anos e, por isso, sofrerá incidência de alíquota de
que demonstra a alíquota média nos casos de resgate total 10%, e assim por diante.
de reserva em planos CD e CV em função do prazo médio das
Por fim, uma regra geral para os planos CD e/ou CV é a contri-
contribuições vertidas ao plano.
buição de valores os mais elevados possíveis no início do plano,
Em síntese, caso um indivíduo não tenha certeza de sua ca- no intuito de ajudar a compor uma alíquota de tributação do
pacidade financeira para manter um plano de previdência por IR menor tanto em caso de resgate quanto no caso de recebi-
mais de oito anos, é imperativo considerar os cálculo aqui mento dos benefícios.
apresentados em sua opção pelo regime de tributação. Espera-
2.2. Benefício de renda vitalícia em planos CV
se, por certo, que as entidades mantenedoras de planos CD e
CV esclareçam estas possibilidades no momento da adesão ao No capítulo anterior descrevemos rapidamente a complexa
plano. Caso contrário, o participante corre o risco de ser punido metodologia de cálculo do Prazo Médio Ponderado (PMP)
por uma eventual indisciplina financeira ou mesmo falta de utilizado para mensurar o prazo de acumulação e, por conse-
recursos em vez de ser beneficiado com uma tributação menor; guinte, a alíquota de tributação do IR, em caso de recebimento
e o mercado de previdência privada, por sua vez, corre o risco de benefícios em planos de regime atuarial, dentre os quais os
de perder um cliente (nas previdências abertas) ou participante de contribuição variável.
(nas previdências fechadas).
A alíquota do imposto de renda em benefícios de renda vitalícia
Devemos considerar, entretanto, que o caso aqui estudado é de planos de regime atuarial (CV) será função de variáveis,
específico para resgates totais de reservas e não para resgates como o tempo de contribuição, a correção da contribuição
parciais, benefício proporcional diferido e demais benefícios pela inflação anualmente, o crescimento salarial médio anual
previstos por planos CD e CV. Nestes casos, a alíquota será projetado e a rentabilidade dos ativos que compõem a reserva
necessariamente menor do que na hipótese de resgate, já que matemática. O valor da cota acumulada (Qt, conforme equações
o prazo de acumulação de cada contribuição funcionará de de 1.1 a 1.5, descritas no Capítulo II) e, por conseguinte, o
forma “móvel”. Por exemplo, o primeiro benefício ou resgate prazo de acumulação, reagirão à variação de cada uma destas
parcial será fruto da primeira contribuição vertida ao plano a variáveis e à variável tempo da seguinte maneira:

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• tempo: quanto maior o número de contribuições, mais cotas tabela regressiva no momento da concessão do benefício, resul-
são compradas, elevando o prazo médio de acumulação; tado que surpreenderia muitos participantes desavisados.

• inflação: impacta sobre o valor da contribuição anualmente Entretanto, caso o participante torne-se elegível para receber
e a rentabilidade nominal dos ativos mês a mês, contribuindo o complemento de aposentadoria em prazo inferior, 12 anos,
positivamente para o aumento do prazo de acumulação, por exemplo, a alíquota inicial de IR seria a correspondente ao
uma vez que as cotas mais antigas sofrerão uma correção prazo de acumulação entre seis a oito anos (20%). Como o PMP
monetária maior do que as mais recentes; não é recalculado e sim reduzido progressivamente em razão
do decurso do tempo, em no máximo quatro anos (16 anos no
• rentabilidade, em termos reais: também impacta positi-
total) o participante atingiria a alíquota de 10%.
vamente sobre o prazo de acumulação, pois as cotas mais
antigas serão capitalizadas por mais tempo; 2.3. Simulações da alíquota efetiva
• crescimento salarial médio: será um impacto negativo, do Imposto de Renda em função da renda bruta
pois as contribuições realizadas no início do plano serão Vimos, no início deste capítulo, a diversidade de variáveis que
feitas com referência em um salário menor. o participante de planos de previdência privada deve observar
No longo prazo, no entanto, nenhuma destas variáveis repre- no momento de sua opção pelo regime de tributação. Nesta
senta um impacto relevante no cálculo do PMP, o que não é seção, trataremos mais detalhadamente deste tema, numa
objeto deste trabalho comprovar. Partindo das mesmas premis- abordagem quantitativa, em que tentaremos estabelecer parâ-
sas de rentabilidade real e inflação do estudo de caso do item metros gerais para a escolha de um ou outro regime de cálculo
2.1, adicionando a hipótese de crescimento salarial médio de do imposto de renda.
3,5% a.a., foi calculado o tempo aproximado que o participante
Partiremos da hipótese básica que a composição da renda
de um plano CV alcançaria a alíquota de 10%.
bruta do participante no momento de sua aposentadoria é
O Gráfico 2 demonstra a relação entre os anos de contribuição de 40% de aposentadoria da previdência oficial (INSS) e 60%
e o PMP e, por conseguinte, a alíquota de tributação, e leva-nos de benefícios advindos da previdência complementar. Para
a concluir que, em média, o indivíduo que aderir a um plano de facilitar os cálculos, suponhamos também que a alíquota do
previdência de regime atuarial deverá permanecer nele cerca de IR da tabela regressiva já tenha alcançado o patamar de 10%
19 anos para alcançar a alíquota de 10% do imposto de renda na e que as despesas passíveis de dedução na tabela progressiva

Gráfico 2. Prazo de acumulação em planos de regime atuarial

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As armadilhas da tabela regressiva do Imposto de Renda em planos cd e cv...

Gráfico 3. Alíquota efetiva do IR em função da renda bruta anual

sejam exatamente de 20% da renda bruta, tornando indiferente Considerando que até R$ 15.764,28 não há incidência de IR
a opção pela declaração completa ou simplificada. no regime progressivo, e que a renda adicional da previdência
complementar sofre tributação definitiva de 10%, é mais fa-
A partir destas premissas, qual seria, então, a renda mínima vorável optar pela tabela progressiva unicamente até a renda
para optar pela tabela regressiva? E no caso daqueles que têm bruta de R$ 39.410,70 – 40% referentes a INSS (R$ 15.764,28)
despesas dedutíveis do IR maiores do que 20% da renda bruta? – e 60% advidos da previdência privada (R$ 23.646,42) – em
Qual a influência da isenção suplementar do imposto de renda nosso exemplo, pois tem-se uma alíquota efetiva até aquele
após os 65 anos na escolha do regime de tributação? São estas rendimento, na opção pela tabela progressiva, inferior aos 6%
perguntas que tentaremos responder neste estudo de caso. (10% de 60% da previdência complementar) que incidiriam no
caso do regime regressivo.
Consideremos a faixa de renda bruta de R$ 35 mil até R$ 75
mil. O Gráfico 3, a seguir, mostra as alíquotas efetivas do IR, No caso de indivíduos que possuam despesas dedutíveis do IR
com base nas hipóteses descritas para este estudo, para cada maiores do que 20% da renda bruta, esta regra é válida como
patamar de rendimento, calculadas para os casos de opção parâmetro básico, mas a renda mínima para fins de definição do
pelas tabelas progressiva e regressiva ou somente pela tabela regime de tributação dependerá do quão maior for a dedução,
progressiva, bem como fazendo distinção entre e a tributação sendo mais apropriada uma análise caso a caso.
antes e depois de completados 65 anos de idade.
Entretanto, há de se considerar o impacto da isenção com-
Podemos inferir que, como regra básica e partindo das premis- plementar aos 65 anos, de mais R$ 15.764,28 por ano. Neste
sas aqui estabelecidas, o participante de plano de previdência caso, o participante deve também, ao ingressar em um plano
de previdência, vislumbrar sua própria expectativa de vida e
privada deve, inicialmente, projetar uma renda bruta em sua
ponderar sobre a renda que terá nesta fase de sua “jornada”.
aposentadoria superior a R$ 39.410,70 (ponto A no Gráfico 3)
para optar com segurança pelas tabelas regressiva e progressiva. O regime regressivo para os participantes acima de 65 anos
Vejamos o porquê. só se tornará interessante, de acordo com nossas hipóteses, a

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partir de uma renda bruta de R$ 66.484,37 – 40% referentes Capítulo III. Sugestões
a INSS (R$ 26.593,75) e 60% advindos da previdência privada para o aprimoramento da Legislação
(R$ 39.890,62) – em diante, quando sua alíquota efetiva na
tabela progressiva torna-se superior àquela das tabelas re- Como observarmos no decorrer deste trabalho, há várias si-
gressiva e progressiva. tuações que levam o participante de planos de previdência
privada a incorrer no risco de sofrer tributação desnecessária
Logo, se nosso participante espera ter uma vida longa, a ren-
do IR, em caso de uma opção “equivocada” do regime de cál-
da de R$ 39.410,70 pode não ser suficiente para a escolha
culo do referido imposto. Não se pode admitir, no entanto, que
pelos regimes regressivo e progressivo, uma vez que o mesmo
pagará mais imposto de renda após os 65 anos nesta opção. normas que visem impulsionar a poupança de longo prazo no
Portanto, para aqueles que esperam receber entre R$ 39.410,70 país se transformem em armadilhas para contribuintes sem o
e R$ 66.484,37 em sua aposentadoria, a opção pelo regime de conhecimento adequado das regras.
tributação é uma tarefa ainda mais desafiadora, pois a escolha
Apesar da maioria, os planos de contribuição definida e con-
é uma até os 65 anos e outra após esta idade, sem contar as
tribuição variável possuem uma “cultura” pouco disseminada,
inúmeras artimanhas que a vida pode lhe proporcionar, as quais
o que se reflete em sua legislação ainda não plenamente de-
se devem considerar no momento de ingresso em um plano de
benefícios e, ainda assim, supondo a tributação pela alíquota senvolvida. Neste sentido, a proposta deste trabalho é sugerir
mínima da tabela regressiva. algumas alterações na legislação de forma a contribuir para a
simplificação das regras e evitar que os participantes de planos
2.4. Benefícios não programados de previdência complementar sejam prejudicados por uma
em planos CD e CV norma ainda incipiente, que provavelmente será alterada em
A tributação do imposto de renda em casos de benefício não um futuro próximo, de forma a atender os anseios do governo
programados (aposentadoria por invalidez ou pensão por morte, de promover a poupança previdenciária no país.
excetuando-se o pecúlio por morte recebido em prestação única,
isento de IR) abriga uma “armadilha cruel” para participantes de 3.1. Opção pelo regime de tributação
planos de previdência privada. Apesar do avanço da legislação do Imposto de Renda a qualquer tempo
(Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005) ao limitar em 25%
A irretratabilidade e a obrigatoriedade da opção em pouco mais
o IR, nestes casos, quando o prazo de acumulação das con-
de um mês pelo regime de tributação do imposto de renda
tribuições for inferior a seis anos, na hipótese de opção pelo
em planos de previdência privada são, sem dúvida, as regras
regime regressivo. Entretanto, dependendo da renda auferida,
mais criticadas da nova legislação. Exige-se do participante
o indivíduo poderia até mesmo ser isento do imposto de renda
caso fosse tributado pelo regime progressivo. capacidade de projeção da vida pessoal e profissional em cerca
de 30 anos, ponderação de eventuais mudanças nas regras
Vejamos um exemplo. Suponhamos que a renda auferida por um durante todo este período, bem como um entendimento de
participante que recebe benefício por invalidez é de R$ 1,6 mil uma legislação complexa e sujeita a armadilhas que tornam um
sendo R$ 1 mil do INSS e R$ 640 de um plano de previdência verdadeiro desafio a tarefa de escolha da tabela de tributação
privada. Na tabela progressiva, unicamente, não haveria qual-
mais apropriada.
quer tributação do IR, uma vez que a base de cálculo do IR, na
declaração simplificada, seria de R$ 1,28 mil, enquadrando-se Criado para ser um instrumento de incentivo e benefício fiscal
dentro do limite de R$ 1.313,69 de isenção. Contudo, na opção aos investidores de longo prazo, o regime regressivo não atendeu
pelo regime regressivo, haveria tributação definitiva de, pelo às expectativas iniciais, sendo a escolha de apenas 10% dos
menos, 10% do benefício complementar (R$ 64). O caso pode participantes de planos de benefícios. Seu caráter impositivo
ser ainda pior, uma vez que, se o fato gerador do benefício talvez tenha funcionado mais no sentido de afastar os indiví-
ocorrer em menos de dez anos de prazo médio de acumulação
duos do que de aproximá-los da previdência privada. A matéria,
de contribuições, a alíquota pode chegar até os 25% limitados
todavia, não pode ser abandonada, à medida que alguns poucos
por lei (R$ 160).
ajustes podem reverter este quadro de descrédito.
Este, portanto, é mais um exemplo do caráter muitas das vezes
punitivo da legislação do regime regressivo de tributação do Uma das primeiras soluções que se pode apontar para apri-
imposto de renda. Na próxima seção, tentaremos estudar algu- morar a legislação do IR em planos de previdência privada
mas possibilidades de aprimoramento da norma, no sentido de é a possibilidade de opção pela tabela que mais convém ao
evitar situações como as descritas neste estudo de caso. participante a qualquer tempo. Elimina-se, desta forma, todas

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as possibilidades de distorções descritas neste trabalho, que regime atuarial e, por conseguinte, na regra do PMP para fins
muitas vezes funcionam como punições, sendo beneficiado o de cálculo do imposto de renda devido. Entretanto, o fato de
indivíduo que permanecer no plano por mais tempo, de acordo as reservas garantidoras atenderem ao princípio do mutua-
com as regras do regime regressivo. lismo na fase BD do plano não implica necessariamente que
não se saiba o quanto cada contribuição foi responsável por
Argumenta-se, entretanto, que a Receita Federal poderia perder
cada benefício, uma vez que a reserva de poupança na fase de
receita tributária permitindo a opção do regime de tributação
acumulação é calculada por cotas individuais. Neste sentido,
a qualquer tempo, hipótese que pode ser refutada. Uma vez
é possível calcular a alíquota do imposto de renda em planos
que existe uma regra básica para todos os cidadãos, é de bom
de contribuição variável pelo método PEPS, nos moldes dos
senso que a possibilidade de uma tributação menor seja vista
planos CD puros.
como um prêmio e, caso o contribuinte não consiga atingir os
parâmetros para tal, que recaia sobre ele o ônus imposto a toda É mister salientar que, aos olhos de um participante de planos
a sociedade, e não uma regra que o puna com uma alíquota CV que não seja especialista em planos de previdência e regras
de IR mais elevada durante o recebimento de seu benefício no de tributação, pressupõe-se que em dez anos pode-se atingir
caso de uma escolha “mal feita” ou das circunstâncias de sua a alíquota de 10% do IR, o que é plenamente possível nos
vida o terem levado a um caminho distinto daquele que havia planos CD puros e simplesmente inviável em planos CV. Logo, a
programado quando da opção pelo regime regressivo. manutenção de regras díspares em planos com características
relativamente similares, na visão dos participantes, pode suscitar
Portanto, se havia uma intenção de abrir mão de receita tributária
demandas judiciais no futuro que poderiam ser evitadas com
para impulsionar a poupança privada e de obter a contrapartida
a extinção do cálculo do PMP em planos CV. Ademais, exigir
com os investimentos gerados por estes recursos, não se pode
o conhecimento e as conseqüências em termos de tributação
dizer que houve sucesso. Primeiro, pelo baixo índice de optantes
desta complexa metodologia em um país como o Brasil é, no
pelo novo regime de tributação, função direta da complexidade
mínimo, um equívoco.
da legislação pertinente; segundo, porque não ficou clara a
disposição do governo em gerar benefício fiscal, uma vez que Conclusão
a opção é irretratável e impositiva, podendo gerar situações
de prejuízo para o contribuinte. Apesar do intuito de incentivar a poupança privada de longo
prazo no Brasil, comprovamos que, da forma como está, a
3.2. Extinção do cálculo opção pelo regime de tributação regressiva do imposto de
do prazo médio ponderado em planos CV renda da pessoa física em planos de benefícios de entidades de
Vimos, no decorrer deste trabalho, a complexidade das regras previdência complementar pode transformar-se numa grande
da tabela regressiva do imposto de renda em planos de pre- armadilha, levando o participante destes planos a incorrer no
vidência privada, tendo como exemplo mais proeminente o pagamento de um tributo maior do que aquele que se observaria
cálculo do Prazo Médio Ponderado (PMP) descrito no Capítulo 1 com a tabela progressiva.
e estudado mais detalhadamente no Capítulo 2. Observamos
Neste sentido, foram estudadas situações que mostram a im-
que um participante que aderir a um plano de benefícios hoje,
portância de informar corretamente aos participantes sobre os
deverá contribuir por quase 19 anos para alcançar a alíquota
riscos que incorrem ao ingressar em planos de aposentadoria
mínima de 10% no momento da concessão inicial de benefício
complementar no tocante à tributação, bem como sobre o
de renda vitalícia.
caráter imperativo de a legislação do imposto de renda inci-
O cálculo do PMP é usado em planos de benefícios de regime dente sobre estes produtos ser alterada, de forma a evitar os
atuarial, que pressupõem o mutualismo dos recursos garanti- prejuízos aos participantes descritos neste trabalho e incentivar
dores ou a solidariedade entre os participantes, inviabilizando a poupança privada no país.
a definição da alíquota pelo método PEPS, pois, em tese, não
Foram apontadas algumas sugestões simples que, implementa-
há como saber qual ou quais contribuições deram origem ao
das, podem contribuir sobremaneira para o setor de previdência
pagamento do benefício.
privada, como permitir a escolha do regime a qualquer tempo,
Os planos de contribuição variável são de contribuição definida inclusive sua alteração, e a simplificação das regras de cálculo
em sua fase de acumulação de recursos e de benefício definido das alíquotas incidentes na tabela regressiva, em particular, o
em sua fase de concessão de benefícios, enquadrando-se no cálculo do Prazo Médio Ponderado (PMP).

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