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17º Batalhão de Polícia Militar

APOSTILA DE DIREITOS HUMANOS


CURSO TÉCNICO DE SEGURAÇA PÚBLICA -
2009

Professores: Cap Tameirão


Ten Arturo
Ten Pescara
Ten Menezes
Sgt Richardson

Uberlândia/MG, fevereiro de 2009.


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17º Batalhão de Polícia Militar

Unidade 1- Introdução

Direitos Humanos – Considerações –


A Polícia Militar de Minas Gerais, através da Diretriz de Produção de
Serviços de Segurança Pública número 08, estabeleceu uma filosofia institucional no
sentido de direcionar a conduta do policial militar em função dos respeitos aos
direitos humanos. Assim, durante o Curso de Formação, o estudo da Diretriz é
fundamental. E a presente apostila, sem a pretensão de esgotar o assunto, é de fato
apenas um guia desta disciplina de dimensão tão importante e necessária ao policial
militar no exercício de suas funções.

O que são direitos humanos ?


“’Direitos humanos”, “direitos do homem”, ”liberdades públicas” ou “ direitos
fundamentais”, são todos aqueles direitos inerentes e universais destinados ao ser
humano. Constitucionalmente, podemos situá-los entre o art. 5º ao art. 17º. Os
direitos fundamentais do homem, podem ser classificados em direitos de PRIMEIRA
GERAÇÃO: direitos civis e de cidadania, SEGUNDA GERAÇÃO: direitos
econômicos, sociais e culturais, TERCEIRA GERAÇÃO: que materializam poderes
de titularidade coletiva e que consagra o principio da solidariedade e finalmente,
QUARTA GERAÇÃO: assim definidos por Celso Lafer, como sendo aqueles que
transcendem a esfera dos indivíduos considerados em sua expressão singular e
recaindo, exclusivamente, nos grupos primários e nas grandes formações sociais,
por serem todos históricos e nascidos de certas circunstâncias, caracterizados por
lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, visando assegurar a
manutenção do Estado Democrático de Direito.

Características dos Direitos Humanos


 Imprescritibilidade
 Inalienabilidade
 Irrenunciabilidade
 Inviolabilidade
 Inerência
 Transnacionalidade
 Indivisibilidade
 Historicidade
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O Triângulo dos Direitos Humanos (filosofia institucional da Polícia Militar)

A quem se destinam os direitos humanos ?


A todos os seres humanos, indistintamente, independentemente de sexo,
raça, cor, nacionalidade ou religião.

Quem deve protege-los?


O Estado e todos os seres humanos, pois os direitos são direitos e deveres
de todos. O policial é a figura emblemática do Estado, e portanto neste mister,
cumpre ao mesmo, proteger e garantir os direitos humanos.

Validade no mundo:
Os direitos humanos são notadamente dirigidos a todos os seres humanos,
mas nem todos, os tem assegurado, seja em razão dos interesses de grupos
hegemônicos (oligarquias), seja pelo não reconhecimento destes direitos, pela frontal
violação e outros fatores diversos.

A nova imagem do policial:


Os direitos humanos, durante muito tempo, esteve dissociado da figura do
Estado, o que por sua vez refletiu na imagem do policial, e evolutivamente passou
por varias transformações, atreladas sistematicamente ao perfil dos valores da
sociedade até então vigente. O policial ao longo da evolução, teve que passar por
várias mudanças, remodelando a sua função, junto a sociedade.

HISTÓRICO

Os Direitos Humanos têm sua origem naquilo que alguns pensadores da


antiguidade chamaram de Direitos Naturais, ou seja, garantias que todos os homens
possuem, independentemente de legislações ou convenções criadas na sociedade.
Sofrendo, inicialmente, forte influência da igreja, a qual considerava que todo direito
é inspiração divina, os direitos do homem passaram, posteriormente, a se
adequarem de acordo com as necessidades específicas de cada povo.
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Basicamente, a fundamentação dos Direitos Humanos repousa sobre dois
princípios: o reconhecimento e o respeito à dignidade humana e a limitação do poder
do Estado. Um rápido sobrevôo sobre três grandes movimentos bastante
comentados na história da humanidade, nos fará ver que não é recente a
escravização do homem pelo próprio homem em busca de poder, e amparado,
senão claramente executado, pelos representantes do próprio povo. Estes
movimentos foram: a Independência dos Estados Unidos da América, a Revolução
Francesa e a Revolução Industrial. Como sabemos, isso não foi o bastante para
provocar uma convivência mais harmônica e equilibrada nas sociedades. As duas
grandes guerras mundiais são referências mais recentes da luta pelo poder em
detrimento da proteção aos direitos e garantias individuais e coletivas.

A burguesia e sua importância na defesa dos Direitos Humanos.

A discussão sobre Direitos Humanos passa a ocorrer de forma mais aberta


através de São Thomas de Aquino, no final da idade média (Séc. XVIII), época em
que surge também a burguesia. A fundamentação de São Thomas é no sentido de
que os direitos do homem vêm de Deus, no entanto, esta afirmativa passa a ser
usada politicamente para justificar o poder dos reis e o absolutismo. Desta forma,
abre amplas possibilidades para todo tipo de violação dos direitos das pessoas,
culminando numa associação entre a burguesia e os pensadores da época, numa
tentativa de defender a liberdade como um valor humano a ser respeitado.

Iniciam-se, então, alguns movimentos sociais em defesa da dignidade


humana, e é neste cenário que se dá a criação dos Estados Unidos, através de uma
revolução organizada pelas treze colônias da Inglaterra, na América. Esta revolução
teve como causa os abusos que lhes eram impostos e como conseqüência a
“Declaração de Independência dos Estados Unidos”. As razões que fundamentavam
a independência já são um embrião da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
como vemos abaixo:

“Todos os homens foram criados iguais. Os direitos fundamentais foram


conferidos pelo Criador, e entre eles estão o da vida, liberdade e o da procura da
própria felicidade”.

Ainda no Séc. XVIII, surge a Revolução Francesa, um movimento também


idealizado pelos burgueses em oposição ao absolutismo dos reis contra eles. Este
movimento social foi responsável pelo surgimento da “Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão”. Em sua essência, esta declaração defende que, ao lado dos
direitos do homem e do cidadão existe a obrigação do Estado de respeitar e garantir
os direitos humanos. Entretanto, as desigualdades continuaram, paralelamente ao
progresso da civilização, fazendo com que ocorresse a Revolução Industrial,
trazendo fortes transformações sociais e econômicas. As péssimas condições de
trabalho a que foram submetidos os assalariados, as explorações que sofriam, nos
mostram que, novamente, os direitos humanos foram colocados à margem de
interesses econômicos e políticos. Desta vez, os conflitos atingiram proporções
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mundiais, culminando nas duas grandes guerras cujos efeitos todos nós
conhecemos.

A 2ª Guerra Mundial trouxe um impacto mais arrasador, posto que, até então,
muitos documentos já haviam sido produzidos em favor da humanidade. E o que
concluímos é que, com o passar do tempo, mais ofensivos se tornaram os meios
através dos quais a sociedade busca a liberdade, a igualdade e o respeito à
dignidade. Impressionados com os efeitos desta guerra, algumas nações se uniram e
elaboraram a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, documento
mais importante que temos, nos dias atuais, na luta pelos direitos humanos. Mesmo
assim, os fatos ocorridos em 11 de Setembro de 2001 nos fazem pensar que, na
essência, muito pouco se caminhou desde a Idade Média.

DOCUMENTOS INTERNACIONAIS EM DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS.

A 1ª Guerra Mundial terminou formalmente com o “Tratado de Versalles”, que


também criou a “Liga das Nações” e a “Organização Internacional do Trabalho”, um
de seus órgãos. O objetivo da Liga era “promover a cooperação internacional e obter
paz e segurança internacionais”. Contudo, a Liga das Nações nunca conseguiu
alcançar a aderência de todos os países, além de não ter sido eficaz para impedir
uma segunda guerra. Formalmente, a Liga foi dissolvida em 18/04/46, quando já
havia sido fundada a “Organização das Nações Unidas” - ONU. A Organização
Internacional do Trabalho conseguiu se manter e é hoje uma das agências
especializadas da ONU.

ONU

Criada a partir da 2ª Guerra, seu instrumento fundador foi a “Carta das Nações
Unidas”. Esta carta é também um tratado multilateral que estabelece os direitos e
deveres legais dos Estados Membros da ONU. Esta, por sua vez, não possuía
competência legal em questões que envolviam jurisdição nacional de um Estado.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS - DUDH

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em 10 de


Dezembro de 1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Possuindo trinta
artigos nos quais faz uma súmula dos direitos e deveres fundamentais do homem, a
DUDH foi o documento mais amplo que já se produziu, até a atualidade, em defesa
dos direitos humanos.

OUTROS INSTRUMENTOS

Após a 2ª Guerra, a ONU vem se empenhando em criar padrões de Direitos


Humanos para os países do mundo, através de documentos jurídicos e de outros
instrumentos usados como recomendações aos Estados Membros da ONU, ou
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orientações em questões específicas relacionadas às liberdades e direitos do
homem.
Faremos uma breve citação dos instrumentos mais importantes.

1. Direito Consuetudinário:
Prática recorrente entre os Estados, que se origina de uma convicção da
obrigação legal por parte dos Estados atuantes. É uma das fontes do Direito
Internacional utilizadas pela Corte Internacional de Justiça para determinar os
direitos e obrigações dos Estados que são partes de uma disputa. Vincula todos os
Estados, incluindo aqueles que não reconheceram a norma, desde que não tenham
expressa e persistentemente feito objeção a seu desenvolvimento.
Ex.: proibição de genocídio, da escravidão, do comércio de escravos, da tortura, da
discriminação racial e da privação arbitrária da vida.

2. Carta da ONU:
É composta por artigos que estabelecem obrigações para com os direitos
humanos de todos os Estados membros da ONU.

3. Declaração Internacional dos Direitos Humanos:


É o termo utilizado para referir-se coletivamente aos seguintes documentos:
Declaração Universal dos Direitos Humanos, Pacto Internacional sobre os Direitos
Civis e Políticos - PIDCP, Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais - PIDESC, Primeiro Protocolo Facultativo referente ao PIDCP.

4. Tratados:
O significado deste termo é “um acordo internacional firmado entre Estados na
forma escrita e governado pelo Direito Internacional (...)”. Estão sujeitos a
interpretação de acordo com normas da “Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados”. Alguns exemplos:
- Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio;
- Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados;
- Protocolo relativo ao Estatuto dos Refugiados;
- Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial;
- Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a
mulher;
- Convenção contra a tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes;
- Convenção sobre os direitos da criança;
- Segundo protocolo adicional ao PIDCP com vista à abolição da pena de
morte.

DIREITOS HUMANOS NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA.

A história de violação dos direitos humanos no Brasil data de seu


descobrimento e colonização, iniciando-se pela escravização do índio e do próprio
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povo africano, os quais precisaram da assinatura de uma lei para que seu direito à
liberdade fosse garantido. Sabemos que muita coisa só ficou no papel e que, na
verdade, ainda hoje egros e silvícolas fazem parte do que classificamos como
“grupos vulneráveis”, justamente por não terem seus direitos respeitados.

O período da ditadura militar foi outro grande marco de violações de garantias


fundamentais, e mesmo após o restabelecimento da democracia, a sociedade ainda
tem resistência quanto ao significado de Direitos Humanos. Muitos ainda o vêem de
forma deturpada, recusando-se a entender que tratam-se de nossas garantias mais
básicas, as quais são diuturnamente marginalizadas pelo Estado. É importante,
então, iniciarmos pelo simples conhecimento de que a doutrina de Direitos Humanos
busca defender a dignidade de todo ser humano, independente de sua condição
sócio-econômico-cultural, limitando o poder do Estado.

Além do Brasil, outros países da América Latina têm sua história marcada por
episódios sangrentos de violações, desrespeito, abusos de autoridade. A violência e
a pobreza são dois grandes indicadores de como os direitos humanos são tratados
nestes países, conforme podemos observar nos exemplos que se seguem.

- na Colômbia, grupos militares, para-militares, guerrilheiros e traficantes se


enfrentam constantemente, atingindo a população civil;
- a Guatemala tem em sua história dezenas de milhares de torturados,
desaparecidos, assassinados, e 70% da população indígena eliminada;
- no Peru e na Venezuela a tortura ainda é empregada abertamente contra
criminosos.

A gravidade deste quadro sombrio se agrava no momento em que


percebemos o quanto já não nos assustamos com certas situações de nosso dia-a-
dia, que configuram violação de direitos humanos. A violência a que estamos
expostos, até mesmo dentro de nossos lares, através da mídia ou de famílias
desajustadas, nos tornam insensíveis. Talvez esse seja o maior problema, uma vez
que um dos primeiros passos que devemos dar no sentido de reduzir esta situação é
nos conscientizarmos de sua gravidade. A partir daí, passaremos a atuar em
medidas preventivas e até mesmo curativas para melhorar este mundo que
habitamos.

ALGUNS OUTROS CONCEITOS E DEFINIÇÕES

 Direito
Quando falamos em direito, estamos preocupados com o relacionamento
entre as pessoas. Assim, direito é um conjunto de normas e regras impostas ou
convencionadas, com a finalidade de disciplinar a convivência das pessoas na
sociedade.

 Direitos Humanos:
Direitos humanos derivam da dignidade e do valor inerente à pessoa
humana, e esses são universais, inalienáveis e igualitários. Isto significa que são
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inerentes a cada ser humano, não podem ser tirados ou alienados por qualquer
pessoa; e todos têm os direitos humanos em igual medida – independente do critério
de raça, cor, sexo, idioma, religião, política ou outro tipo de opinião, nacionalidade ou
origem social, propriedades, nascimento ou outro status qualquer.

 Direito Internacional
O direito internacional consiste em normas que governam as relações
entre os Estados, mas compreende também normas relacionadas ao funcionamento
de instituições ou organizações internacionais, a relação entre elas e a relação delas
com o Estado e os indivíduos.
O direito internacional, entre outros atributos, estabelece normas relativas
aos direitos territoriais dos Estados (com respeito aos territórios terrestre, marítimo e
espacial), a proteção internacional do meio ambiente, o comércio internacional e as
relações comerciais, o uso da força pelos Estados, os direitos humanos e o direito
internacional humanitário.

 Direito Internacional Humanitário


O direito internacional humanitário (DIH) é uma ramificação do direito
internacional público - aplicável em conflito armado - é dividido em duas
categorias: o Direito de Genebra e o Direito de Haia.

O direito de Genebra trata da proteção das vítimas de guerra, sejam elas


militares ou civis, na água ou em terra. Protege todas as pessoas fora de combate:
os feridos, os doentes, os náufragos e os prisioneiros de guerra.

O direito de Haia preocupa-se mais com a regulamentação dos métodos e


meios de combate, e concentra-se na condução das operações militares.

 Instrumentos Internacionais
São todos os textos que englobam os padrões internacionais de direitos
humanos. Alguns desses textos são tratados que obrigam os Estados-Parte que
os ratificaram. Esses tratados são chamados de Pactos ou Convenções

 Cidadania
A cidadania além de ser um principio fundamental, sob o aspecto formal, é
um status ligado ao regime político, onde a pessoa adquire seus direitos mediante
o alistamento eleitoral, na forma da lei.
Nos Estados democráticos, como o brasileiro, a Cidadania vai além do
direito de escolha dos governantes ou do poder de ser escolhido governante. A
plenitude da Cidadania implica numa situação onde cada pessoa possa viver com
decência e dignidade, através de direitos e deveres estabelecidos pelas
necessidades e responsabilidade do Estado e das pessoas.

 Violação de Direitos Humanos


A violação de direitos humanos somente pode ser cometida por uma
pessoa com a autoridade e poder conferida pelo Estado e a exercê-la em seu nome.
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Nenhum criminoso ou terrorista tem essa dignidade ou esse poder. Quando
criminosos ou terroristas ferem ou matam pessoas eles cometem atos criminosos,
mas não cometem violações de direitos humanos. Isto não reduz o mal que fizeram e
devem ser punidos pela lei pelos crimes cometidos.

 Poder de Polícia
O poder de policia é um dos poderes conferidos pelo Direito Administrativo,
é a faculdade da qual dispõe a Administração Pública para buscar o bem comum.
Deve-se usar o poder de policia de forma discricionária, onde através de
critério técnicos, de oportunidade e de justiça, pode fazer cumprir sua ordem.
Como o poder conferido é discricionário, e jamais arbitrário, o policial
militar deve manter suas ações exatamente dentro dos limites legais.

Treze Reflexões Sobre


Polícia e Direitos Humanos

Durante muitos anos o tema “Direitos Humanos” foi considerado antagônico


ao de Segurança Pública.
Produto do autoritarismo vigente no país entre 1964 e 1984 e da manipulação,
por ele, dos aparelhos policiais, esse velho paradigma maniqueísta cindiu sociedade
e polícia, como se a última não fizesse parte da primeira.
Polícia, então, foi uma atividade caracterizada pelos segmentos progressistas
da sociedade, de forma equivocadamente conceitual, como necessariamente afeta à
repressão antidemocrática, à truculência, ao conservadorismo. “Direitos Humanos”
como militância, na outra ponta, passaram a ser vistos como ideologicamente filiados
à esquerda, durante toda a vigência da Guerra Fria (estranhamente, nos países do
“socialismo real”, eram vistos como uma arma retórica e organizacional do
capitalismo).
No Brasil, em momento posterior da história, à partir da rearticulação
democrática, agregou-se a seus ativistas a pecha de “defensores de bandidos” e da
impunidade.
Evidentemente, ambas visões estão fortemente equivocadas e prejudicadas
pelo preconceito.
Estamos há mais de um década construindo uma nova democracia e essa
paralisia de paradigmas das “partes” (uma vez que assim ainda são vistas e assim se
consideram), representa um forte impedimento à parceria para a edificação de uma
sociedade mais civilizada.
Aproximar a policia das ONGs que atuam com Direitos Humanos, e vice-
versa, é tarefa impostergável para que possamos viver, a médio prazo, em uma
nação que respire “cultura de cidadania”. Para que isso ocorra, é necessário que
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nós, lideranças do campo dos Direitos Humanos, desarmemos as “minas
ideológicas” das quais nos cercamos, em um primeiro momento, justificável , para
nos defendermos da polícia, e que agora nos impedem de aproximar-nos. O mesmo
vale para a polícia.
Podemos aprender muito uns com os outros, ao atuarmos como agentes
defensores da mesma democracia.
Nesse contexto, à partir de quase uma década de parceria no campo da
educação para os direitos humanos junto à policiais e das coisas que vi e aprendi
com a polícia, é que gostaria de tecer as singelas treze considerações a seguir:

CIDADANIA, DIMENSÃO PRIMEIRA


1ª - O policial é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve nutrir sua
razão de ser. Irmana-se, assim, a todos os membros da comunidade em direitos e
deveres. Sua condição de cidadania é, portanto, condição primeira, tornando-se
bizarra qualquer reflexão fundada sobre suposta dualidade ou antagonismo entre
uma “sociedade civil” e outra “sociedade policial”. Essa afirmação é plenamente
válida mesmo quando se trata da Polícia Militar, que é um serviço público realizado
na perspectiva de uma sociedade única, da qual todos os segmentos estatais são
derivados. Portanto não há, igualmente, uma “sociedade civil” e outra “sociedade
militar”. A “lógica” da Guerra Fria, aliada aos “anos de chumbo”, no Brasil, é que se
encarregou de solidificar esses equívocos, tentando transformar a polícia, de um
serviço à cidadania, em ferramenta para enfrentamento do “inimigo interno”. Mesmo
após o encerramento desses anos de paranóia, seqüelas ideológicas persistem
indevidamente, obstaculizando, em algumas áreas, a elucidação da real função
policial.

POLICIAL: CIDADÃO QUALIFICADO


2ª - O agente de Segurança Pública é, contudo, um cidadão qualificado:
emblematiza o Estado, em seu contato mais imediato com a população. Sendo a
autoridade mais comumente encontrada tem, portanto, a missão de ser uma espécie
de “porta voz” popular do conjunto de autoridades das diversas áreas do poder. Além
disso, porta a singular permissão para o uso da força e das armas, no âmbito da lei,
o que lhe confere natural e destacada autoridade para a construção social ou para
sua devastação. O impacto sobre a vida de indivíduos e comunidades, exercido por
esse cidadão qualificado é, pois, sempre um impacto extremado e simbolicamente
referencial para o bem ou para o mal-estar da sociedade.

POLICIAL: PEDAGOGO DA CIDADANIA


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3ª - Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, como em
outras profissões de suporte público, antecede as próprias especificidades de sua
especialidade.
Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos obrigam a repensar
o agente educacional de forma mais includente. No passado, esse papel estava
reservado unicamente aos pais, professores e especialistas em educação. Hoje é
preciso incluir com primazia no rol pedagógico também outras profissões
irrecusavelmente formadoras de opinião: médicos, advogados, jornalistas e policiais,
por exemplo.
O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais abrangentes, é
um pleno e legitimo educador. Essa dimensão é inabdicável e reveste de profunda
nobreza a função policial, quando conscientemente explicitada através de
comportamentos e atitudes.

A IMPORTÂNCIA DA AUTO - ESTIMA


PESSOAL E INSTITUCIONAL
4ª - O reconhecimento dessa “dimensão pedagógica” é, seguramente, o
caminho mais rápido e eficaz para a reconquista da abalada auto-estima policial.
Note-se que os vínculos de respeito e solidariedade só podem constituir-se sobre
uma boa base de auto-estima. A experiência primária do “querer-se bem” é
fundamental para possibilitar o conhecimento de como chegar a “querer bem o
outro”. Não podemos viver para fora o que não vivemos para dentro.
Em nível pessoal, é fundamental que o cidadão policial sinta-se motivado e
orgulhoso de sua profissão. Isso só é alcançável à partir de um patamar de “sentido
existencial”. Se a função policial for esvaziada desse sentido, transformando o
homem e a mulher que a exercem em meros cumpridores de ordens sem um
significado pessoalmente assumido como ideário, o resultado será uma auto-imagem
denegrida e uma baixa auto-estima.
Resgatar, pois, o pedagogo que há em cada policial, é permitir a
ressignificação da importância social da polícia, com a conseqüente consciência da
nobreza e da dignidade dessa missão.
A elevação dos padrões de auto-estima pode ser o caminho mais seguro para
uma boa prestação de serviços.
Só respeita o outro aquele que se dá respeito a si mesmo.

POLÍCIA E ‘SUPEREGO’ SOCIAL


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5ª - Essa “dimensão pedagógica”, evidentemente, não se confunde com
“dimensão demagógica” e, portanto, não exime a polícia de sua função técnica de
intervir preventivamente no cotidiano e repressivamente em momentos de crise, uma
vez que democracia nenhuma se sustenta sem a contenção do crime, sempre
fundado sobre uma moralidade mal constituída e hedonista, resultante de uma
complexidade causal que vai do social ao psicológico.
Assim como nas famílias é preciso, em “ocasiões extremas”, que o adulto
sustente, sem vacilar, limites que possam balizar moralmente a conduta de crianças
e jovens, também em nível macro é necessário que alguma instituição se encarregue
da contenção da sociopatia.
A polícia é, portanto, uma espécie de superego social indispensável em
culturas urbanas, complexas e de interesses conflitantes, contendedora do óbvio
caos a que estaríamos expostos na absurda hipótese de sua inexistência.
Possivelmente por isso não se conheça nenhuma sociedade contemporânea que
não tenha assentamento, entre outros, no poder da polícia. Zelar, pois,
diligentemente, pela segurança pública, pelo direito do cidadão de ir e vir, de não ser
molestado, de não ser saqueado, de ter respeitada sua integridade física e moral, é
dever da polícia, um compromisso com o rol mais básico dos direitos humanos que
devem ser garantidos à imensa maioria de cidadãos honestos e trabalhadores.
Para isso é que a polícia recebe desses mesmos cidadãos a unção para o uso
da força, quando necessário.

RIGOR versus VIOLÊNCIA


6ª - O uso legítimo da força não se confunde, contudo, com truculência.
A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal,
pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo
antagonismo que deve reger a metodologia de policiais e criminosos.

POLICIAL versus CRIMINOSO:


METODOLOGIAS ANTAGÔNICAS
7ª - Dessa forma, mesmo ao reprimir, o policial oferece uma visualização
pedagógica, ao antagonizar-se aos procedimentos do crime.
Em termos de inconsciente coletivo, o policial exerce função educativa
arquetípica: deve ser “o mocinho”, com procedimentos e atitudes coerentes com a
“firmeza moralmente reta”, oposta radicalmente aos desvios perversos do outro
arquétipo que se lhe contrapõe: o bandido.
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Ao olhar para uns e outros, é preciso que a sociedade perceba claramente as
diferenças metodológicas ou a “confusão arquetípica” intensificará sua crise de
moralidade, incrementando a ciranda da violência. Isso significa que a violência
policial é geradora de mais violência da qual, mui comumente, o próprio policial
torna-se a vítima.
Ao policial, portanto, não cabe ser cruel com os cruéis, vingativo contra os
anti-sociais, hediondo com os hediondos. Apenas estaria com isso, liberando,
licenciando a sociedade para fazer o mesmo, à partir de seu patamar de visibilidade
moral. Não se ensina a respeitar desrespeitando, não se pode educar para preservar
a vida matando, não importa quem seja. O policial jamais pode esquecer que
também o observa o inconsciente coletivo.

A ‘VISIBILIDADE MORAL’ DA POLÍCIA: IMPORTÂNCIA DO EXEMPLO


8ª - Essa dimensão “testemunhal”, exemplar, pedagógica, que o policial
carrega irrecusavelmente é, possivelmente, mais marcante na vida da população do
que a própria intervenção do educador por ofício, o professor.
Esse fenômeno ocorre devido à gravidade do momento em que normalmente
o policial encontra o cidadão. À polícia recorre-se, como regra, em horas de
fragilidade emocional, que deixam os indivíduos ou a comunidade fortemente
“abertos” ao impacto psicológico e moral da ação realizada.
Por essa razão é que uma intervenção incorreta funda marcas traumáticas por
anos ou até pela vida inteira, assim como a ação do “bom policial” será sempre
lembrada com satisfação e conforto.
Curiosamente, um significativo número de policiais não consegue perceber
com clareza a enorme importância que têm para a sociedade, talvez por não
haverem refletido suficientemente a respeito dessa peculiaridade do impacto
emocional do seu agir sobre a clientela. Justamente aí reside a maior força
pedagógica da polícia, a grande chave para a redescoberta de seu valor e o resgate
de sua auto-estima.
É essa mesma “visibilidade moral” da polícia o mais forte argumento para
convencê-la de sua “responsabilidade paternal” (ainda que não paternalista) sobre a
comunidade. Zelar pela ordem pública é, assim, acima de tudo, dar exemplo de
conduta fortemente baseada em princípios. Não há exceção quando tratamos de
princípios, mesmo quando está em questão a prisão, guarda e condução de
malfeitores. Se o policial é capaz de transigir nos seus princípios de civilidade,
quando no contato com os sociopatas, abona a violência, contamina-se com o que
nega, conspurca a normalidade, confunde o imaginário popular e rebaixa-se à
igualdade de procedimentos com aqueles que combate.
Note-se que a perspectiva, aqui, não é refletir do ponto de vista da “defesa do
bandido”, mas da defesa da dignidade do policial.
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A violência desequilibra e desumaniza o sujeito, não importa com que fins seja
cometida, e não restringe-se a áreas isoladas, mas, fatalmente, acaba por dominar-
lhe toda a conduta. O violento se dá uma perigosa permissão de exercício de
pulsões negativas, que vazam gravemente sua censura moral e que,
inevitavelmente, vão alastrando-se em todas as direções de sua vida, de maneira
incontrolável.

“ÉTICA” CORPORATIVA versus ÉTICA CIDADÃ


9ª - Essa consciência da auto-importância obriga o policial a abdicar de
qualquer lógica corporativista.
Ter identidade com a polícia, amar a corporação da qual participa, coisas
essas desejáveis, não se podem confundir, em momento algum, com acobertar
práticas abomináveis. Ao contrário, a verdadeira identidade policial exige do sujeito
um permanente zelo pela “limpeza” da instituição da qual participa.
Um verdadeiro policial, ciente de seu valor social, será o primeiro interessado
no “expurgo” dos maus profissionais, dos corruptos, dos torturadores, dos
psicopatas. Sabe que o lugar deles não é polícia, pois, além do dano social que
causam, prejudicam o equilíbrio psicológico de todo o conjunto da corporação e
inundam os meios de comunicação social com um marketing que denigre o esforço
heróico de todos aqueles outros que cumprem corretamente sua espinhosa missão.
Por esse motivo, não está disposto a conceder-lhes qualquer tipo de espaço.
Aqui, se antagoniza a “ética da corporação” (que na verdade é a negação de
qualquer possibilidade ética) com a ética da cidadania (aquela voltada à missão da
polícia junto a seu cliente, o cidadão).
O acobertamento de práticas espúrias demonstra, ao contrário do que muitas
vezes parece, o mais absoluto desprezo pelas instituições policiais. Quem acoberta o
espúrio permite que ele enxovalhe a imagem do conjunto da instituição e mostra,
dessa forma, não ter qualquer respeito pelo ambiente do qual faz parte.

CRITÉRIOS DE SELEÇÃO,
PERMANÊNCIA E ACOMPANHAMENTO
10ª - Essa preocupação deve crescer à medida em que tenhamos clara a
preferência da psicopatia pelas profissões de poder. Política profissional, Forças
Armadas, Comunicação Social, Direito, Medicina, Magistério e Polícia são algumas
das profissões de encantada predileção para os psicopatas, sempre em busca do
exercício livre e sem culpas de seu poder sobre outrem.
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Profissões magníficas, de grande amplitude social, que agregam heróis e
mesmo santos, são as mesmas que atraem a escória, pelo alcance que têm, pelo
poder que representam.
A permissão para o uso da força, das armas, do direito a decidir sobre a vida e
a morte, exercem irresistível atração à perversidade, ao delírio onipotente, à loucura
articulada.
Os processos de seleção de policiais devem tornar-se cada vez mais rígidos
no bloqueio à entrada desse tipo de gente. Igualmente, é nefasta a falta de um maior
acompanhamento psicológico aos policiais já na ativa.
A polícia é chamada a cuidar dos piores dramas da população e nisso reside
um componente desequilibrador. Quem cuida da polícia?
Os governos, de maneira geral, estruturam pobremente os serviços de
atendimento psicológico aos policiais e aproveitam muito mal os policiais diplomados
nas áreas de saúde mental.
Evidentemente, se os critérios de seleção e permanência devem tornar-se
cada vez mais exigentes, espera-se que o Estado cuide também de retribuir com
salários cada vez mais dignos.
De qualquer forma, o zelo pelo respeito e a decência dos quadros policiais não
cabe apenas ao Estado mas aos próprios policiais, os maiores interessados em
participarem de instituições livres de vícios, valorizadas socialmente e detentoras de
credibilidade histórica.

DIREITOS HUMANOS DOS POLICIAIS - HUMILHAÇÃO versus HIERARQUIA


11ª - O equilíbrio psicológico, tão indispensável na ação da polícia, passa
também pela saúde emocional da própria instituição. Mesmo que isso não se
justifique, sabe-mos que policiais maltratados internamente tendem a descontar sua
agressividade sobre o cidadão.
Evidentemente, polícia não funciona sem hierarquia. Há, contudo, clara
distinção entre hierarquia e humilhação, entre ordem e perversidade.
Em muitas academias de polícia (é claro que não em todas) os policiais
parecem ainda ser “adestrados” para alguma suposta “guerra de guerrilhas”, sendo
submetidos a toda ordem de maus-tratos (beber sangue no pescoço da galinha, ficar
em pé sobre formigueiro, ser “afogado” na lama por superior hierárquico, comer
fezes, são só alguns dos recentes exemplos que tenho colecionado à partir da
narrativa de amigos policiais, em diversas partes do Brasil).
Por uma contaminação da ideologia militar (diga-se de passagem, presente
não apenas nas PMs mas também em muitas polícias civis), os futuros policiais são,
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17º Batalhão de Polícia Militar
muitas vezes, submetidos a violento estresse psicológico, a fim de atiçar-lhes a raiva
contra o “inimigo” (será, nesse caso, o cidadão?).
Essa permissividade na violação interna dos Direitos Humanos dos policiais
pode dar guarida à ação de personalidades sádicas e depravadas, que usam sua
autoridade superior como cobertura para o exercício de suas doenças.
Além disso, como os policiais não vão lutar na extinta guerra do Vietnã, mas
atuar nas ruas das cidades, esse tipo de “formação” (deformadora) representa uma
perda de tempo, geradora apenas de brutalidade, atraso técnico e incompetência.
A verdadeira hierarquia só pode ser exercida com base na lei e na lógica,
longe, portanto, do personalismo e do autoritarismo doentios.
O respeito aos superiores não pode ser imposto na base da humilhação e do
medo. Não pode haver respeito unilateral, como não pode haver respeito sem
admiração. Não podemos respeitar aqueles a quem odiamos.
A hierarquia é fundamental para o bom funciona-mento da polícia, mas ela só
pode ser verdadeiramente alcançada através do exercício da liderança dos
superiores, o que pressupõe práticas bilaterais de respeito, competência e
seguimento de regras lógicas e supra pessoais.

NECESSIDADE DE HIERARQUIA
12ª - No extremo oposto, a debilidade hierárquica é também um mal. Pode
passar uma imagem de descaso e desordem no serviço público, além de enredar na
malha confusa da burocracia toda a prática policial.
A falta de uma Lei Orgânica Nacional para a polícia civil, por exemplo, pode
propiciar um desvio fragmentador dessa instituição, amparando uma tendência de
definição de conduta, em alguns casos, pela mera junção, em “colcha de retalhos”,
do conjunto das práticas de suas delegacias.
Enquanto um melhor direcionamento não ocorre em plano nacional, é
fundamental que os estados e instituições da polícia civil direcionem
estrategicamente o processo de maneira a unificar sob regras claras a conduta do
conjunto de seus agentes, transcendendo a mera predisposição dos delegados
localmente responsáveis (e superando, assim, a “ordem” fragmentada, baseada na
personificação). Além do conjunto da sociedade, a própria polícia civil será altamente
beneficiada, uma vez que regras objetivas para todos (incluídas aí as condutas
internas) só podem dar maior segurança e credibilidade aos que precisam executar
tão importante e ao mesmo tempo tão intrincado e difícil trabalho.

A FORMAÇÃO DOS POLICIAIS


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17º Batalhão de Polícia Militar
13ª - A superação desses desvios poderia dar-se, ao menos em parte, pelo
estabelecimento de um “núcleo comum”, de conteúdos e metodologias na formação
de ambas as polícias, que privilegiasse a formação do juízo moral, as ciências
humanísticas e a tecnologia como contraponto de eficácia à incompetência da força
bruta.
Aqui, deve-se ressaltar a importância das academias de Polícia Civil, das
escolas formativas de oficiais e soldados e dos institutos superiores de ensino e
pesquisa, como bases para a construção da Polícia Cidadã, seja através de suas
intervenções junto aos policiais ingressantes, seja na qualificação daqueles que se
encontram há mais tempo na ativa. Um bom currículo e professores habilitados não
apenas nos conhecimentos técnicos, mas igualmente nas artes didáticas e no
relacionamento interpessoal, são fundamentais para a geração de policiais que
atuem com base na lei e na ordem hierárquica, mas também na autonomia moral e
intelectual. Do policial contemporâneo, mesmo o de mais simples escalão, se exigirá,
cada vez mais, discernimento de valores éticos e condução rápida de processos de
raciocínio na tomada de decisões.
CONCLUSÃO
A polícia, como instituição de serviço à cidadania em uma de suas demandas
mais básicas — Segurança Pública — tem tudo para ser altamente respeitada e
valorizada.
Para tanto, precisa resgatar a consciência da importância de seu papel social e, por
conseguinte, a auto-estima.
Esse caminho passa pela superação das seqüelas deixadas pelo período
ditatorial: velhos ranços psicopáticos, às vezes ainda abancados no poder,
contaminação anacrônica pela ideologia militar da Guerra Fria, crença de que a
competência se alcança pela truculência e não pela técnica, maus-tratos internos a
policiais de escalões inferiores, corporativismo no acobertamento de práticas
incompatíveis com a nobreza da missão policial.
O processo de modernização democrática já está instaurado e conta com a
parceria de organizações como a Anistia Internacional (que, dentro e fora do Brasil,
aliás, mantém um notável quadro de policiais a ela filiados).
Dessa forma, o velho paradigma antagonista da Segurança Pública e dos
Direitos Humanos precisa ser substituído por um novo, que exige desacomodação de
ambos os campos: “Segurança Pública com Direitos Humanos”.
O policial, pela natural autoridade moral que porta, tem o potencial de ser o
mais marcante promotor dos Direitos Humanos, revertendo o quadro de descrédito
social e qualificando-se como um personagem central da democracia. As
organizações não-governamentais que ainda não descobriram a força e a
importância do policial como agente de transformação, devem abrir-se,
urgentemente, a isso, sob pena de, aferradas a velhos paradigmas, perderem o
concurso da ação impactante desse ator social.
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17º Batalhão de Polícia Militar
Direitos Humanos, cada vez mais, também é coisa de polícia!

UNIDADE 2 – DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

Direito Internacional Humanitário

1. Introdução
1.1. O que é o Direito Internacional Humanitário (D.I.H.)?
O Direito Internacional Humanitário (ou Direito dos Conflitos Armados) é um ramo do
Direito Internacional Público constituído por todas as normas convencionais ou de
origem consuetudinária especificamente destinadas a regulamentar os problemas
que surgem em período de conflito armado.
Estas podem ser fundamentalmente de três tipos:
O primeiro é constituído pelo chamado Direito de Genebra, isto é, pelas quatro
Convenções de Genebra de 1949 para a proteção das vítimas de guerra e dos seus
dois Protocolos Adicionais de 1977. Estes seis instrumentos jurídicos perfazem cerca
de 600 artigos codificando as normas de proteção da pessoa humana em caso de
conflito armado. Estes textos de Genebra foram elaborados (como aliás os próprios
títulos das Convenções o comprovam) com o único objetivo de proteção das vítimas
de guerra: tanto os militares fora de combate, bem como as pessoas que não
participem nas operações militares.
O segundo tipo de regras é chamado o Direito de Haia constituído pelo direito da
guerra propriamente dito, ou seja pelos princípios que regem a conduta das
operações militares, direitos e deveres dos militares participantes na conduta das
operações militares e limita os meios de ferir o inimigo. Estas regras têm vista a
necessidade de ter em conta necessidades militares das parte em conflito, nunca
esquecendo porém os princípios de humanidade. O Direito de Haia encontra a maior
parte das suas regras nas Convenções de Haia de 1899 (revistas em 1907), mas
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17º Batalhão de Polícia Militar
igualmente em algumas regras do Protocolo I Adicional às Convenções de Genebra
de 12 de Agosto de 1949.
O terceiro tipo de regras (ditas de Nova Iorque) prende-se com a proteção dos
direitos humanos em período de conflito armado. São chamadas regras de Nova
Iorque por terem na sua base a atividade desenvolvida pelas Nações Unidas no
âmbito do direito humanitário. Com efeito é importante referir que em 1968 a
Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a Resolução 2444 (XXIII) com o título
"Respeito dos direitos humanos em período de conflito armado", o que constitui um
marco, verdadeiro sinal da mudança de atitude desta organização no que diz
respeito ao Direito humanitário. Se, desde 1945 a O.N.U. não se ocupou deste ramo
do direito com a justificação de que tal indiciaria uma falta de confiança na própria
organização enquanto garante da paz, o ano de 1968 pode ser considerado como o
do nascimento deste novo foco de interesse. As Nações Unidas têm desde então
vindo ainda a mostrar um grande interesse em tratar questões como as relativas às
guerras de libertação nacional, e à interdição ou limitação da utilização de certas
armas clássicas.
1.2. A sua evolução histórica
Nas suas origens a guerra caracterizava-se pela ausência de qualquer regra para
além da lei do mais forte. As populações vencidas eram massacradas e, na melhor
das hipóteses, reduzidas à escravatura.
Mas o progresso das idéias, a necessidade de os beligerantes preservarem o seu
potencial humano, o medo de represálias e a tomada de consciência do caráter
irracional, inútil e economicamente prejudicial das destruições e massacres totais,
levaram os homens a considerar de modo diferente os vencidos. Desta forma
começaram a levantar-se vozes de moderação, tolerância e humanidade.
A título de exemplo podem ser referidas as leis de Manou (na India) que proíbem a
utilização de flechas envenenadas, exigem que o vencedor poupe os feridos, bem
como aqueles que se rendem e que respeite as leis das nações conquistadas.
Na China, um pensador do século IV A.C., Se-Ma, condena as destruições inúteis e
recomenda que não sejam atacadas as pessoas que não se possam defender e que
os feridos sejam tratados.
Os Incas tinham uma conduta paternal relativamente aos povos vencidos,
especialmente se estes fossem estrangeiros: tentando uma reconciliação.
A Europa e a zona do Mediterrâneo beneficiam da influência dos
ensinamentos do Cristianismo e do Islão. Mesmo se em certas ocasiões a
Igreja Católica parece esquecer os pedidos de não recurso à violência, o
que é certo é que ela permanece fiel à vontade de assegurar uma certa
humanização das guerras. Santo Agostinho escreveu:
"Se o inimigo que combate deve morrer, que tal seja por
necessidade, e não por tua vontade .... O vencido ou o
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17º Batalhão de Polícia Militar
capturado têm direito à compaixão."
No século X D.C. em vários Concílios é proclamada a inviolabilidade das igrejas, dos
mosteiros, dos pobres, dos mercadores, dos peregrinos, dos agricultores e dos seus
bens. Estes princípios constituem as regras da Paz de Deus, cuja violação é
sancionada pela excomunhão.
O Islão condena igualmente o crime, as mutilações, a tortura e protege os velhos,
mulheres, crianças, mosteiros muçulmanos e os seus bens dos efeitos da guerra.
Enfim, em 1762 Jean Jacques Rousseau escreve no seu Contrato Social que a
guerra não consiste numa relação de homem para homem, mas sim de Estado para
Estado, na qual os indivíduos só acidentalmente são inimigos. Segundo este autor o
fim da guerra transforma os antigos inimigos novamente em simples homens, o que
implica o respeito pelos soldados feridos e por aqueles que se encontrem em poder
do inimigo.
No entanto, o acontecimento que irá levar à criação de um corpo de normas escritas
relativas à proteção das vítimas da guerra, que constituirá a contribuição efetiva para
o desenvolvimento deste ramo do direito, só terá lugar em meados do século XIX:
1859 - Henry Dunant, cidadão suiço de 31 anos, chega a Solferino no dia 24 de
Junho (uma cidade do Norte de Itália) com vista a conseguir obter ajuda de Napoleão
III para uns investimentos que efetuara na Argélia. Nesse preciso dia desenrolava-se
uma batalha entre os exércitos Austríaco e Francês. Dunant fica horrorizado com a
falta de serviços médicos adequados que assegurassem o tratamento das vítimas e
improvisa ele mesmo, um apoio aos feridos da batalha.
1862 - De volta a Genebra Henry Dunant passa a escrito as recordações da
experiência que viveu, editando um livro com o título "Uma Recordação de Solferino",
que se tornou num sucesso imediato. Nesta sua obra Dunant faz duas sugestões:
por um lado propõe a criação de sociedades de ajuda a todos os feridos sem
distinção quanto à nacionalidade e, por outro lado, a adopção de uma Convenção
que assegurasse a proteção dos soldados feridos e do pessoal médico no campo de
batalha.
1863 - O Comitê Internacional de Socorro aos Militares Feridos em Tempo de Guerra
é criado, sendo os membros fundadores, para além do próprio Dunant, Gustave
Moynier, Guillaume-Henri Dufour, Louis Appia, Theodore Maunoir. Em Agosto deste
mesmo ano o Comité decide organizar uma Conferência Internacional em Genebra
com a participação de representantes governamentais. A conferência revela-se um
sucesso, tendo 62 delegados representando 16 Estados, adotado as resoluções que
estão na base do Movimento da Cruz Vermelha.
1864 - Primeira Convenção de Genebra. Esta Convenção é ratificada, entre 1864 e
1907 por 57 Estados - um recorde na época.
1868 - Declaração de São Petersburgo - o primeiro instrumento internacional que
regula os métodos e meios de combate. A Declaração, considerada como
enunciando o direito consuetudinário existente, proíbe o ataque a não combatentes,
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17º Batalhão de Polícia Militar
a utilização de armas que agravem inutilmente o sofrimento dos feridos ou que
tornem a sua morte inevitável e o emprego de projeteis com menos de 400g
contendo uma carga explosiva ou substâncias incendiárias.
1899 - Convenções e Declarações de Haia. Entre aquelas que não serão revistas em
1907 podemos citar a Declaração que proíbe por um lado a utilização de gás
asfixiante e por outro a utilização de balas "dum-dum".
1906 - Convenção de Genebra sobre os feridos e doentes nos exércitos.
1907 - 13 Convenções de Haia relativas, entre outros, às leis e costumes da guerra,
aos direitos e deveres das potências neutras em caso de guerra terrestre, ao regime
dos navios de comércio no início das hostilidades, à transformação dos navios de
comércio em navios de guerra, à colocação de minas submarinas automáticas de
contacto, ao bombardeamento por forças navais em tempo de guerra, à adaptação
dos princípios da Convenção de Genebra à guerra marítima e à proibição de lançar
projeteis e explosivos a partir de balões.
1923 - Regras de Haia sobre a guerra aérea (que nunca se tornarão) numa
Convenção.
1925 - Protocolo de Genebra de 17 de Junho relativo à proibição de utilizar gazes
asfixiantes, tóxicos ou similares na guerra.
1929 - Duas Convenções de Genebra sobre os feridos e doentes em campanha (I) e
sobre os prisioneiros de guerra (II).
1949 - Quatro Convenções de Genebra:
1. Convenção para melhorar a situação dos feridos e doentes das forças
armadas em campanha (Convenção I);
2. Convenção de Genebra para melhorar a situação dos feridos, doentes e
náufragos das forças armadas no mar (Convenção II);
3. Convenção de Genebra relativa ao tratamento dos prisioneiros de guerra
(Convenção III);
4. Convenção de Genebra relativa à proteção das pessoas civis em tempo de
guerra (Convenção IV).
1954 - Convenção e Protocolo de Haia para a proteção de bens culturais em caso de
conflito armado.
1977 - Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949
1. Protocolo Adicional às Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949
relativo à proteção das vítimas dos conflitos armados internacionais (Protocolo
I),
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17º Batalhão de Polícia Militar
2. Protocolo Adicional às Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949
relativo à proteção das vítimas dos conflitos armados não internacionais
(Protocolo II),
1981 - Convenção das Nações Unidas sobre a proibição ou a limitação da utilização
de certas armas clássicas que podem ser consideradas como produzindo efeitos
traumáticos excessivos ou como atingindo sem discriminação. Esta Convenção era
composta de 3 Protocolos anexos.
Em 1996 reuniu-se a Conferência para Exame da Convenção que aprovou
alterações ao Protocolo II relativo a minas, armadilhas e outros dispositivos e um
Protocolo IV relativo às armas que provocam a cegueira.

Unidade 3 – Direitos Humanos e a legislação brasileira


A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA E OS DIREITOS HUMANOS

No título I (DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS) da Constituição, proclama


que o Brasil se rege em suas relações internacionais pelo princípio da prevalência
dos direitos humanos (art. 4º, II), constituindo-se em Estado Democrático de Direito
tendo como fundamento a cidadania e dignidade da pessoa humana (art. 1º, II e III).
No título II (DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS) enumera os direitos e
garantias fundamentais, antecipando-os inclusive à própria estruturação do Estado.
No mesmo título, no capítulo I enuncia os “direitos e deveres individuais e
coletivos” (1ª geração). No capítulo II os “direitos sociais” (2ª geração). Esta
enumeração é exemplificativa e não terminativa, pois segundo o art. 5º, § 2º os
direitos e garantias expressos na Carta Magna não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que o
Estado brasileiro seja parte.

No mesmo artigo em seu § 1º acrescenta que as normas definidoras dos


direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

Assim, pela Constituição de 1988, depreende-se que os direitos nela


elencados são bilaterais tendo como sujeitos ativos as pessoas individualmente ou
em grupos determinados ou indeterminados, e como sujeito passivo o Estado, a
quem deve respeitá-los e cumpri-los. Todos os indivíduos e grupos devem respeitar
as liberdades reciprocamente uns dos outros.
A nova Constituição vem assim a fortalecer a tendência das Constituições
recentes, de reconhecer a relevância da proteção internacional dos direitos humanos
e dispensar atenção e tratamentos especiais à matéria.

O POLICIAL MILITAR E OS LIMITES DA LEI


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17º Batalhão de Polícia Militar
Deve-se ter a lei como único caminho, além de exigir que cada companheiro
também a tenha como linha de atuação.
Quando um policial militar comete qualquer ato que arbitrariamente atente
contra a dignidade humana, responde pôr sanções nas esferas administrativas, civil
e penal. Apesar do infrator ser individualmente responsabilizada, toda a Corporação
tem sua imagem macula diante da sociedade, e isso refletirá negativamente no
trabalho dos outros milhares de companheiros.

1 - Abuso de poder, abuso de autoridade


A Lei Federal 4.898/65, prevê penas para ações de quem, no exercício da
atividade pública, abusa da autoridade que lhe foi conferida.
O policial como autoridade deve estar atento ao disposto nessa lei, pois em
regra, ela criminaliza todas as condutas que desrespeitem os direitos da pessoa.
Por esta lei, constitui abuso de autoridade qualquer conduta que atente contra
a liberdade de locomoção, contra a inviolabilidade do domicílio, o sigilo de
correspondência, a liberdade de crença ou religião, incolumidade física, e outros
direitos inerentes à pessoa.
Comete abuso de autoridade quem pratica ação ou deixa de tomar
providências que tire a liberdade de locomoção de alguém, ou deixa de pôr em
liberdade, quem pôr lei a ela faça jus.
O desempenho de um bom trabalho policial é perfeitamente compatível com o
respeito à Cidadania das pessoas.

2 - O crime de tortura
A Constituição Federal já proibia expressamente a tortura, e o Estatuto da
Criança e Adolescente também previa pena para essa prática, mas pôr meio da Lei
Federal 9.455, de 07/04/97, a tortura passou a ser um crime autônomo.
A tortura é uma prática que afronta os direitos da pessoa, pois a coloca numa
situação degradante.
A tortura é caracterizada pôr qualquer ato que cause sofrimento físico ou
mental a alguém, com a finalidade de obter informação ou confissão sobre algum
fato, ou pôr mera discriminação racial ou religiosa.
O crime de tortura é inafiançável e não dá direito à graça ou à anistia, e sua
condenação implica na perda do cargo, função ou emprego público e a interdição
para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

3 - Responsabilidade administrativa, civil e criminal

A Lei Federal 4.898/65 responsabiliza as autoridades que abusam do


exercício do seu poder nas três esferas, ou seja, na administrativa, na civil e na
criminal.
Assim, se o policial que cometer uma das condutas classificadas como abuso
de autoridade, poderá sofrer punições na esfera administrativa, desde a transferência
do local de trabalho até a exoneração do serviço público; na esfera civil, poderá ser
obrigado a reparar os danos causados à vitima, e também ser penalmente punido,
inclusive com pena privativa de liberdade.
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17º Batalhão de Polícia Militar
Na verdade, se o policial militar estiver consciente do respeito aos direitos
inerentes à pessoa e tiver isso como meta, jamais está sujeito às penas previstas
nessa lei.

Unidade 4 – Polícia e Direitos Humanos

O policial cidadão é antes de tudo uma pessoa, e como tal, deve ser tratado e
deve tratar seus semelhantes.
A sociedade espera que o policial seja equilibrado, coerente, legalista, respeitoso,
e principalmente que tenha orgulho em exercer atividade tão importante para a
dignidade da pessoa e para que possa conscientizar-se da importância de sua
atividade e que ela está diretamente relacionada com o respeito à Cidadania é
necessário refletir sobre alguns princípios.

1 - Principio da dignidade
É este principio que garante o respeito à dignidade da pessoa, mesmo quando
ela comete infrações puníveis.
Assim, diante de um crime, o policial deve tomar as providências legais que
aquela conduta requer, mas jamais poderá desrespeitar a dignidade daquela pessoa.

2 - Principio da legalidade
O policial deve ser uma pessoa serena e convicta da importância da sua
atividade para sociedade.
Esta convicção requer entendimento de que a todos é permitido fazer o que
norma jurídica não proíbe, e a não fazer o que alei não manda.
Quando o policial age dentro dos parâmetros legais está defendendo os
interesses da sociedade, da sua Corporação e os seus próprios.

3 - Principio da presunção da inocência


Como importante agente da Cidadania, o policial deve ter preparo físico,
intelectual e emocional para manter a serenidade mesmo atuando em contato com
pessoas aflitas, com problemas e necessitadas.
O policial deve partir do principio de que todas pessoas são inocentes, e só
deve mudar esse posicionamento, diante de fatos concretos. É claro que considerar
alguém inocente não implica em deixar de tomar as necessárias medidas de
segurança pessoal. A inobservância desse principio pode levar o policial a cometer
abuso de autoridade pôr constrangimento ou violência arbitrária.

4 - Principio da auto-estima
O policial , antes de tudo, é um cidadão comum, e deve estar consciente disso
durante a sua atividade.
A sociedade espera estar sendo protegida, e para que o policial militar possa
proteger os direitos de alguém, é necessário que valorize os seus próprios direitos.
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17º Batalhão de Polícia Militar
Assim é indispensável que ele mantenha elevado seu nível de auto-estima, pois é
impossível que alguém respeite a vida alheia quando não se tem amor à própria vida,
quando não se valoriza a própria liberdade.

5 - Principio da prestação de serviço


A atividade policial é gratificante, mas, às vezes, ingrata, pois, na prática a
pessoa só procura a policia quando está em dificuldades. Assim, deve-se estar
preparado para, principalmente diante de seus eventuais erros, receber criticas ,
entendendo que faz parte das regras estabelecidas pelo regime democrático. Diante
dessas criticas o policial deve reavaliar sua conduta e o nível de prestação de
serviços.

6 - Principio do conhecimento e da segurança


O policial moderno deve ser comunitário, conhecendo exatamente o conteúdo
e a importância de sua atividade.
É necessário estar bem preparado, para que possa adquirir a segurança
indispensável ao exercício da difícil missão.
A sociedade não pode aceitar que, quem tem dever de proteger os bens, a
vida, a liberdade e a integridade física dos cidadãos seja um profissional inseguro,
indiscreto, impaciente e desrespeitoso.
A ignorância gera insegurança e precipitação, e isso ocasiona erros que, em regra,
representam injustiças e ofensas à dignidade humana. Os possíveis erros pessoais,
no exercício da atividade policial militar, além de trazerem conseqüências danosas à
Corporação, podem acarretar prejuízos irreparáveis à pessoa.

Definições

Privação da liberdade é a definição mais ampla da violação da liberdade de ir


e vir. Esta inclui a retenção de menores, de pessoas mentalmente doentes, de
viciados em drogas ou em álcool e de desocupados. A privação se estende a
situações em que esta é causada tanto por pessoas comuns quanto por agentes
públicos.
As definições a seguir foram extraídas do Conjunto de Princípios para a
Proteção de Todas as Pessoas sob Qualquer Forma de Detenção ou Prisão,
aqui designado de O Conjunto de Princípios.

 Captura designa o ato de deter uma pessoa sob suspeita da prática de um


delito, ou pela ação de uma autoridade;

 Pessoa detida designa qualquer pessoa privada de sua liberdade, exceto no


caso de condenação por um delito;

 Pessoa presa significa qualquer pessoa privada de sua liberdade como


resultado da condenação por um delito;
26
17º Batalhão de Polícia Militar
 Detenção significa a condição das pessoas detidas nos termos acima
referidos;

 Prisão significa a condição das pessoas presas nos termos acima referidos;

 Autoridade judicial ou outra autoridade significa uma autoridade judicial ou


outra autoridade perante a lei cujo status e mandato assegurem as mais
sólidas garantias de competência, imparcialidade e independência.

Razões para Captura

A missão de aplicar a lei e manter a ordem pública pode colocar os


encarregados da aplicação da lei e os demais membros da sociedade em lados
opostos num dado conflito. Do interesse dos Estados na lei e na ordem resultou o
fato que os encarregados da aplicação da lei terem, não somente a
responsabilidade, mas também a autoridade para, se necessário, impor as leis do
Estado a que servem. Na maioria dos Estados, os encarregados da aplicação da lei
têm poderes discricionários de captura, detenção e do uso da força e de armas de
fogo, e podem exercê-los em qualquer situação de aplicação da lei.
Ninguém será privado de [sua] liberdade exceto com base em e de
acordo com os procedimentos estabelecidos por lei (PIDCP, artigo 9.1). Essa
cláusula deixa claro que as razões, bem como os procedimentos para uma captura,
devem ser baseados na legislação do Estado. O princípio da legalidade é violado
se alguém for capturado ou detido com base em princípios que não estejam
claramente estabelecidos na legislação nacional, ou sejam contrários a esta.
No sentido técnico, toda infração da lei ou toda suspeita da prática de um
delito (como denominada no Conjunto de Princípios) poderia acarretar a captura
da(s) pessoa(s) responsável(eis). Todavia, na prática da aplicação da lei nem toda a
suspeita da prática de um delito leva automaticamente (ou deveria levar) à captura
da(s) pessoa(s) responsável(eis). Existe um certo número de fatores que influenciam
a decisão de efetuar ou não a captura. Por exemplo, a gravidade e as conseqüências
do delito cometido, combinadas com a personalidade e o comportamento do(s)
suspeito(s), no ato da captura, devem ser consideradas. A qualidade e a experiência
(isto é, competência) dos encarregados da aplicação da lei envolvidos também
influenciarão, inevitavelmente a resolução de uma situação específica na qual o juízo
a respeito da captura ou não terá de ser exercido.
Captura ou Detenção Arbitrárias
....Ninguém será submetido à captura ou detenção arbitrárias.... A
proibição da arbitrariedade, na segunda frase do artigo 9.1 do PIDCP, representa
uma restrição adicional à privação da liberdade. Isto é direcionado tanto ao legislativo
nacional quanto às organizações de aplicação da lei. Não basta que a privação da
liberdade esteja prevista em lei: a própria lei não pode ser arbitrária, tampouco deve
ser a sua aplicação em uma dada situação. Entende-se que a palavra arbitrária,
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17º Batalhão de Polícia Militar
neste caso, contenha elementos de injustiça, imprevisibilidade, irracionalidade,
inconstância e desproporcionalidade.
A Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei

Os princípios da legalidade e necessidade, juntamente com a proibição da


arbitrariedade, impõem certas expectativas na conduta dos encarregados da
aplicação da lei, em situações de captura. Estas expectativas relacionam-se ao
conhecimento da lei e dos procedimentos a serem observados em situações
específicas e/ou circunstâncias que possam levar à privação da liberdade.
O Conjunto de Princípios declara que captura, detenção ou prisão somente
deverão ser efetuados em estrita conformidade com os dispositivos legais e
por encarregados competentes, ou pessoas autorizadas para aquele propósito.

Direitos no ato da Captura

Sempre que uma pessoa for capturada, a razão deve ser pela suspeita da
prática de um delito ou por ação de uma autoridade (Conjunto de Princípios,
Princípio 36.2).
Toda pessoa capturada deverá ser informada, no momento de sua
captura, das razões da captura, devendo ser prontamente informada de
qualquer acusação contra ela (PIDCP, artigo 9.2; Conjunto de Princípios, Princípio
10).
A pessoa capturada deverá ser levada a um local de custódia, devendo
ser conduzida prontamente perante um juiz ou outra autoridade habilitada por
lei a exercer poder judicial, que decidirá sobre a legalidade e a necessidade da
captura (PIDCP, artigo 9.3; Conjunto de Princípios, Princípios 11 e 37).
Estes dispositivos sobre captura e detenção repetem-se na CADH (artigo 7o)
e na CEDH (artigo 5o). A CADHP não contém nenhum destes dispositivos. Não há
uma definição clara do que se entende por prontamente. Em muitos Estados o
período máximo permitido antes que uma pessoa capturada seja trazida perante um
juiz ou autoridade similar é limitado a 48 horas; em outros Estados este período é
limitado a 24 horas. Este período de 48 ou 24 horas é mais comumente chamado de
custódia policial. O período que o segue é chamado de prisão preventiva.
Uma pessoa detida sob acusação criminal terá direito a julgamento
dentro de um prazo razoável, ou aguardar julgamento em liberdade (Conjunto de
Princípios, Princípio 38).
As autoridades responsáveis pela captura, detenção ou prisão de uma
pessoa devem, respectivamente, no momento da captura e no início da
detenção ou da prisão, ou pouco depois, prestar-lhe informação e explicação
sobre os direitos e sobre o modo de os exercer (Conjunto de Princípios, Princípio
13).
Prática Gerencial 2
28
17º Batalhão de Polícia Militar
Um exemplo de boa prática de aplicação da lei é a produção e disseminação de
folhetos explicando os direitos de pessoas capturadas. Em muitos países as
organizações de aplicação da lei produzem tais folhetos em várias línguas para
assegurar sua acessibilidade. Ao ser levada à custódia policial, a pessoa em questão
recebe um desses folhetos na sua língua materna, explicando seus direitos e como
exercê-los.
Direitos imediatamente após a Captura
A presunção da inocência aplica-se a todas pessoas detidas e deve também
refletir-se no tratamento delas.
São proibidas medidas além das necessárias para evitar a obstrução do
processo de investigação ou para manter a ordem e segurança do local de
detenção (Conjunto de Princípios, Princípio 36).
Uma pessoa detida tem o direito à assistência de um advogado e
condições razoáveis devem ser propiciadas para que este direito seja exercido. Um
advogado de ofício deve ser providenciado pela autoridade judicial ou outra
autoridade caso a pessoa detida não tenha advogado próprio, e de graça caso não
tenha condições financeiras (Conjunto de Princípios, Princípio 17).
Os direitos de uma pessoa detida e/ou seu advogado são os seguintes:
 ter oportunidade efetiva de ser ouvido por uma autoridade judicial ou outra
autoridade;
 receber comunicação pronta e completa de qualquer ordem de detenção,
juntamente com as razões para tal (Princípio 11);
 comunicar-se entre si e ter tempo e condições adequadas para consulta em
sigilo absoluto, sem censura e sem demora;
 comunicar-se entre si sob vigilância de um encarregado da aplicação da lei,
porém sem serem ouvidos;
 (...) tais comunicações serão inadmissíveis como prova contra a pessoa
detida, a menos que sejam conectadas com um crime em andamento ou em
planejamento (Princípio 18);
 ter acesso às informações gravadas durante toda a duração de qualquer
interrogatório, e dos intervalos entre interrogatórios, e à identidade dos
encarregados da condução dos interrogatórios e outras pessoas presentes
(Princípio 23);
 de tomar medidas, em conformidade com a legislação nacional, perante uma
autoridade judicial ou outra autoridade, para impugnar a legalidade da
detenção, de forma a obter sua libertação caso seja ilegal (Princípio 32);
 de apresentar requerimento ou queixa relativos ao tratamento do detido, em
particular no caso de tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante, às
autoridades administrativas ou superiores e, quando necessário, às
autoridades apropriadas investidas de poderes de revisão ou correção
(Princípio 33).
29
17º Batalhão de Polícia Militar
A proibição da tortura aplica-se às pessoas sob qualquer forma de detenção
ou prisão (Conjunto de Princípios, Princípio 6). Esta proibição está mais elaborada no
Princípio 21, que proíbe explicitamente que se tire vantagem da situação de uma
pessoa detida para obter-se uma confissão, incriminação própria, ou
testemunho contra outros.
A pessoa detida tem o direito de informar ou requerer às autoridades
competentes que notifiquem membros de sua família ou outras pessoas
apropriadas de sua escolha a respeito de sua captura, detenção ou prisão. Este
direito é renovado a cada transferência de local da pessoa (Conjunto de Princípios,
Princípio 16).
Além dos direitos mencionados acima, que estão diretamente ligados à
situação de captura ou o período imediatamente posterior, existe um certo número
de disposições no Conjunto de Princípios que se relacionam mais especificamente
ao bem-estar da pessoa detenta ou presa. Embora estas disposições sejam de
grande importância à aplicação da lei, é mais apropriado que elas sejam
apresentadas no capítulo sobre Detenção.
A Situação Especial das Mulheres
O princípio da não discriminação com base no sexo é um princípio
fundamental do direito internacional - inserido na Carta da ONU, na DUDH (artigo 2o)
e nos principais tratados de direitos humanos. De acordo com este princípio de não-
discriminação, toda a proteção oferecida a uma pessoa quando da captura e após
esta (apresentada acima) aplica-se igualmente a homens e mulheres.
No entanto, deve ser observado que o respeito pela dignidade inerente da
pessoa humana (Conjunto de Princípios, Princípio 1) e a proteção de seus direitos
podem ditar que proteção e consideração adicionais sejam dadas à mulher. Tais
medidas podem incluir, por exemplo, a garantia de que a captura de mulheres seja
feita por agentes femininos sempre que possível, que sua revista e de suas roupas
seja feita por uma agente feminina, e que as detidas do sexo feminino sejam postas
em locais separados dos detidos do sexo masculino. Essas formas (adicionais) de
proteção e consideração pela mulher não devem ser interpretadas como
discriminatórias, porque seu objetivo é compensar um desequilíbrio inerente - visam
criar uma situação na qual a condição das mulheres de gozarem os direitos que lhes
são deferidos é igual à dos homens.
A Situação Especial das Crianças e Adolescentes
A Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) define criança como sendo
todo ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for
aplicável, atingir a maioridade mais cedo ( artigo 1º ).
As Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça
Juvenil (Regras de Beijing) definem o menor como sendo uma criança ou jovem
que, perante os respectivos sistemas jurídicos, é passível de ser tratada por
um delito de uma forma diferenciada daquela de um adulto (Regra 2.2 a). De
30
17º Batalhão de Polícia Militar
acordo com as Regras de Beijing, um infrator juvenil é uma criança ou jovem
acusado de haver cometido um delito ou considerado culpado de ter cometido
um delito (Regra 2.2 c).

Os infratores juvenis têm os mesmos direitos que os infratores adultos,


porém gozam de proteção adicional, em virtude das disposições
específicas a este respeito contidas nos instrumentos internacionais. O
principal objetivo destas disposições específicas é o de retirar a criança
e o adolescente do sistema de justiça criminal e redirecioná-los à
sociedade.
Os ditos direitos podem ser traduzidos nas seguintes obrigações para os
encarregados da aplicação da lei:

 dar informações prontamente NO MOMENTO da captura sobre as razões


desta;

 informar à pessoa capturada, prontamente, qualquer acusação contra


ela;

 informar à pessoa capturada, prontamente, seus direitos e de como


exercê-los;

 registrar devidamente, para cada pessoa capturada:


- as razões para a captura;
- a hora da captura;
- a condução da pessoa para o local de custódia;
- a primeira apresentação daquela pessoa perante a autoridade
judicial ou outra autoridade;
- a identidade dos encarregados da aplicação da lei envolvidos;
- informações precisas sobre o local de custódia;

 comunicar este registro à pessoa capturada ou seu advogado na forma


prescrita por lei;

 trazer a pessoa capturada prontamente à presença de uma autoridade


judicial ou outra autoridade, que possa julgar a legalidade e a
necessidade da captura;

 providenciar um advogado à pessoa capturada e permitir condições


adequadas de comunicação entre eles;

 reprimir a tortura ou outro tratamento ou pena cruel, desumano ou


degradante, durante ou após a captura;

 assegurar à pessoa capturada seus direitos posteriores como detida


(vide também o Capítulo 9, Detenção);
31
17º Batalhão de Polícia Militar
 observar estritamente as regras para proteção da situação especial das
mulheres e das crianças e adolescentes.

Finalmente, deve ser enfatizado que, de acordo com os Princípios de


Prevenção e Investigação Eficazes de Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias e
Sumárias, é da responsabilidade dos governos assegurar um controle rígido
(incluindo uma clara linha de comando) sobre todos os agentes envolvidos em
capturas, detenções, custódia e prisão - bem como sobre aqueles autorizados a usar
força e armas de fogo.
Os agentes policiais com responsabilidades de comando e supervisão estão
obrigados a fazer com que as necessárias medidas de controle e a linha de comando
estejam estabelecidas, de modo a evitar mortes extrajudiciais durante captura e/ou
detenção.

Unidade 5 – Grupos vulneráveis

1. Introdução
O policial em sua rotina de trabalho está habituado a um procedimento padrão, com
pessoas que podem se locomover normalmente, que podem entender o que lhes é
solicitado, em fim, que não possuem características que dificultam o
desenvolvimento de seus procedimentos policiais. Porém, quando se depara com
uma pessoa que possui qualquer outra característica que a torna diferente das
demais, como por exemplo, uma deficiência física, sua orientação sexual, sua idade
avançada, entre outras, encontra, por vezes, dificuldades no trato com estas
pessoas.

A atividade de polícia, porém, exige um profissional, que saiba lidar com as pessoas
sem discriminá-las ou privilegiá-las, de forma imparcial tratando da garantia de seus
direitos, e da resolução dos conflitos de forma serena e igualitária.

A pessoa que possui uma característica que o diferencia dos demais espera ser
tratada não como um inútil, desprezível, ou como alguém que necessita tão somente
do assistencialismo e indulgência dos demais. Mas, sim, como um cidadão cumpridor
de seus deveres para com a sociedade em que vive, sendo respeitado seu clamor
pela proteção de seus direitos e por sua dignidade. Por isto, é imprescindível que o
policial conheça um pouco sobre as diferenças e procure sempre respeitá-las. O
policial deve conhecer os procedimentos que fogem aos padrões, contemplando
questões sobre Minorias e Grupos Vulneráveis, de forma a nortear a atuação do
policial no trato adequado com as pessoas integrantes destes grupos.

2. Grupo Vulnerável – Conceito –


32
17º Batalhão de Polícia Militar
Grupo Vulnerável é um conjunto de pessoas, que possuem características especiais,
que as tornam mais suscetíveis a violação dos seus direitos.

2.1Os 05 (cinco) principais grupos são:

a) Mulheres;

b) Crianças e adolescentes;

c) Idosos;

d) Homossexuais

e) Pessoas com deficiência física e sofrimento mental.

3 .Minorias

“Um grupo de cidadãos de um Estado, constituindo minoria numérica e em posição


não-dominante no Estado, dotada de características étnicas, religiosas ou lingüística
que diferem daquelas da maioria da população, tendo um senso de solidariedade
um para com o outro, motivado, senão apenas implicitamente, por vontade coletiva
de sobreviver e cujo objetivo é conquistar igualdade com a maioria, nos fatos e na
lei” .

3.1 Minorias étnicas

“São grupos que apresentam fatores distinguíveis em termos de experiências


históricas compartilhadas e sua adesão a certas tradições e significantes tratos
culturais, que são diferentes dos apresentados pela maioria”. ( Pouter 1986).

3.2 Minorias Lingüísticas

“São grupos que usam uma língua, quer entre os membros do grupo, quer em
público, que claramente se diferencia daquela utilizada pela maioria, bem como da
adotada oficialmente pelo Estado. Não há necessidade de ser uma língua escrita.
Entretanto, meros dialetos que se desviam ligeiramente da língua da maioria não
gozam do mesmo modo que religião, e, a seguir, etnia, precisam ser definidas,o
mesmo se dá com a expressão língua, e minorias lingüísticas. Língua é utilizada
como sinônimo de linguagem, querendo significar “método humano e não instintivo
de comunicar idéias, sentimentos e desejos, por meio de um sistema de sons e
símbolos sonoros” (Hornby - 1974)
33
17º Batalhão de Polícia Militar
3.3 Minorias Religiosas

“São grupos que professam e praticam uma religião (não simplesmente uma outra
crença, como o ateísmo, e.g.) Dienstein (1992:156) que se diferencia daquela
praticada pela maioria da população”. Esse é outro aspecto de relevo, a
conceituação de religião, para fins de proteção. Walker aponta que “religião envolve
crença em e conciliação de poderes considerados superiores ao homem os quais
são acreditados como reguladores e controladores do curso da natureza, e da vida
humana. Envolve elementos de crença, um corpo de dogma, atos de profissão de fé,
e ritual” (Dinstein, Yoram e M.Tobory 1992).

No Brasil têm-se as seguintes minorias: judeus, budistas, muçulmanos, evangélicos,


espíritas, praticantes de candomblé (religião ioruba) entre outros.

4 Diferença entre grupos vulneráveis e minorias

Os Grupos Vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria
ética, mas possui dentro desta minoria uma característica que a difere dos demais e
o torna parte de um outro grupo. Por exemplo, uma pessoa, que faz parte de um
pequeno grupo Islâmico em um país católico e também ser uma pessoa com
deficiência física. Sendo assim ela pertence a uma minoria religiosa (islã), mas
também pertence a um grupo vulnerável por ter uma deficiência física.

A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos éticos,


lingüísticos e religiosos. E os grupos vulneráveis estão relacionados às
características especiais que as pessoas adquirem em razão de sua tenra idade,
gênero, idade avançada, orientação sexual e deficiência física e sofrimento mental.

5 Atuação policial frente aos grupos vulneráveis

5.1 Mulheres

A igualdade é a essência de toda sociedade democrática comprometida com a


justiça e os direitos humanos. Em praticamente todas as esferas sociais e de
atividade, a mulher está sujeita a desigualdades por lei e de fato. Esta situação é
causada e agravada pela existência de discriminação na família, na comunidade e no
local de trabalho. A discriminação contra a mulher se mantém através da
sobrevivência de estereótipos (do homem assim como da mulher), de culturas
tradicionais e crenças prejudiciais às mulheres.”

Entende-se por discriminação contra mulheres qualquer distinção, exclusão ou


restrição baseada no sexo que tenha como efeito ou como objetivo comprometer ou
destruir o reconhecimento, o gozo ou o exercício pelas mulheres, seja qual for seu
estado civil, com base na igualdade dos homens e das mulheres, dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais no campo político, econômico, social,
cultural, civil ou qualquer outro campo.
34
17º Batalhão de Polícia Militar
5.2 Violência contra a mulher

O Comitê da Mulher (CEDM) definiu a violência baseada no gênero como:

“... violência que é dirigida à mulher pelo fato dela ser mulher ou que atinge a mulher
desproporcionalmente. Inclui atos que infrinjam sofrimento ou dano físico, mental ou
sexual, ameaças de tais atos e outras privações da liberdade...”

A violência contra a mulher um fenômeno tem existido através da história - não


sendo notada nem contestada. Após pressão internacional, muito recente para que
se considere a violência contra a mulher como uma questão internacional de direitos
humanos, a CEDM respondeu com a declaração específica de que a proibição geral
da discriminação baseada no gênero que consta na Convenção sobre a Mulher inclui
a violência baseada no gênero. O Comitê afirma ainda que a violência contra a
mulher constitui uma violação de seus direitos humanos reconhecidos
internacionalmente - não importando se quem cometeu a violação seja um policial ou
um civil. A responsabilidade do Estado perante a violência contra a mulher pode ser
invocada quando um policial está envolvido em um ato de violência baseada no
gênero e também quando o Estado deixa de agir com a devida diligência de modo a
evitar as violações dos direitos cometidas por particulares ou de investigar e punir
tais atos de violência, proporcionando compensação.

A violência doméstica é outra violação dos direitos humanos e um crime (na maioria
dos países) que os policiais podem ajudar a prevenir. Os homens que batem nas
suas mulheres ou companheiras estão normalmente confiantes de que o podem
fazer com impunidade - de que não serão denunciados à polícia e, mesmo que o
sejam, conseguirão escapar da punição. As autoridades policiais de uma forma geral
contribuíram para esta situação ao se recusarem não só em tratar a violência
doméstica como um crime, mas em intervir para acabar com a violência, baseados
supostamente na noção de que fosse um problema de família.

A violência doméstica não é um problema só de família - é um problema da


comunidade e esta em sua totalidade é normalmente responsável pela continuação
da violência: são os amigos e vizinhos que ignoram ou encontram desculpas para as
provas evidentes de violência; é o médico que apenas cuida dos ossos quebrados e
machucados; é a polícia e o tribunal que se recusam a intervir em assunto particular.
Os policiais podem ajudar a prevenir o crime de violência doméstica ao tratá-lo como
um crime. Eles são responsáveis por assegurar e proteger o direito da mulher à vida,
à segurança e à integridade corporal, ocorrendo uma evidente abdicação dessa
responsabilidade quando falharem em proteger a mulher contra a violência no lar.

Na maioria dos países do mundo, os crimes contra a mulher são insignificantes. É


dever de toda instituição policial analisar esses crimes, de modo a evitá-los, o
máximo possível tratando das vítimas com cuidado, sensibilidade e profissionalismo.
35
17º Batalhão de Polícia Militar
5.3 Mulher capturada

A não-discriminação rege que a mulher possui os mesmos direitos que o homem no


ato da captura. Também existem outras formas adicionais de proteção e
consideração a serem oferecidas à mulher durante a captura. Tais medidas incluem:

a) As garantias de que a captura das mulheres seja feita por uma policial do
sexo feminino ou por pessoa do sexo feminino, devidamente orientada (sempre que
possível);

b) De que as mulheres e suas vestimentas serão revistadas por uma policial do


sexo feminino (em todas as circunstâncias) e de que as mulheres capturadas serão
mantidas separadas dos homens capturados (sempre quando houver condições
logísticas e de segurança).

Deve-se observar que a proteção e consideração adicionais para a mulher em


situações de captura não devem ser tidas como discriminatórias, pelo motivo de que
se visa contrabalançar um desequilíbrio inerente, de fazer com que a possibilidade
da mulher gozar seus direitos seja igual à do homem.

5.4 Mulher detida

A mulher detida esta sujeita a procedimentos destinados a proteger os direitos e a


sua condição especial (especialmente da grávida e da lactente). Entre tais medidas
incluem-se as instalações médicas especializadas, pois a recusa ao tratamento
médico adequado a mulheres detidas constitui maus-tratos, proibido por leis
nacionais e internacionais; o alojamento separado para mulheres detidas e a
disponibilidade de pessoal do sexo feminino na justiça penal. Outras medidas
especiais podem ser necessárias para abranger a criação de filhos e tratamentos
durante a gravidez.

5.5 A mulher vítima da criminalidade e do abuso de poder

Verifica-se que a Declaração das Vítimas e as outras disposições importantes em


tratados são neutras em gênero. Não chegam nem perto em reconhecer que as
necessidades das mulheres vítimas da criminalidade e abuso de poder são, muitas
vezes, muito diferentes das necessidades das vítimas do sexo masculino, não
somente em termos físicos e psicológicos, mas também porque a vítima feminina
provavelmente sofreu um tipo de violação que é peculiar a seu sexo. Em muitos
casos, os policiais serão o primeiro contato que uma vítima do sexo feminino de um
crime terá, quando seu bem-estar deve ser da mais alta prioridade. Não se pode
desfazer o crime cometido, mas o auxílio e a assistência adequados farão com que
as conseqüências negativas do crime para as vítimas sejam definitivamente
limitadas.
36
17º Batalhão de Polícia Militar
Caso o incidente for de natureza doméstica ou a vítima conhecer o seu agressor, ela
poderá estar relutante em apresentar queixa com medo de represálias. O cuidado e
a assistência adequados para as mulheres vítimas de crime podem fazer com que
sejam necessárias medidas especiais, incluindo a proteção contra uma vitimização
posterior, o encaminhamento a abrigos e a prestação de serviços médicos
especializados. O respeito pelo direito à privacidade e à dignidade pessoal da mulher
vítima. A disponibilidade de policiais do sexo feminino para conduzir a investigação, e
providenciar instalações especiais dentro das delegacias para o conforto e bem-estar
da vítima.

No caso das mulheres vítimas de abuso de poder necessitarão também de proteção


especial para assegurar que seus direitos não sejam ainda mais violados. Há uma
preocupação em particular com a situação das mulheres vítimas de violência nas
mãos dos policiais e funcionários do Estado - vítimas que incluem as mulheres que
sofrem agressões enquanto capturadas. É nítido o dever das organizações de
aplicação da lei de assegurar-se de que qualquer alegação de violência deste tipo
imediatamente levada à presença da autoridade policial; que assistência médica,
aconselhamento ou outro serviço de apoio sejam oferecidos às vítimas e que a
implementação de seu direito à compensação seja facilitado.

5.6 Crianças e adolescentes

Crianças e adolescentes possuem direitos próprios que estão previstos em diversos


instrumentos internacionais e na legislação brasileira. A Constituição Federal
relaciona em seu art. 227 direitos destinados a conceder às crianças e adolescentes
absoluta prioridade no atendimento ao direito à vida, saúde, educação, convivência
familiar e comunitária, lazer, profissionalização, liberdade, integridade etc. Além do
que, é dever de todos (Estado, família e sociedade) livrar a criança e adolescente de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. Crianças e adolescentes possuem primazia em receber proteção e socorro
em qualquer circunstância, precedência no atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública, destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância e juventude, programas de prevenção e
atendimento especializado aos jovens dependentes de entorpecentes e drogas afins.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), estabelece um rol de direitos


específicos dessas pessoas, bem como regras especiais para o adolescente infrator.
Considera-se criança a pessoa até 12 anos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos.
O ECA também regula casos excepcionais de jovens que receberam medidas que se
esgotarão até depois dos 18 anos, como no caso do prolongamento da medida de
internação e no caso de assistência judicial.

5.6.1 Ato infracional

Ato infracional é a ação tipificada como contrária à lei que tenha sido efetuada pela
criança ou adolescente. São inimputáveis todos os menores de 18 anos e não
37
17º Batalhão de Polícia Militar
poderão ser condenados a penas. Recebem, portanto, um tratamento legal diferente
dos réus imputáveis (maiores de 18 anos) a quem cabe a penalização.

A criança acusada de um crime deverá ser encaminhada à presença do Conselho


Tutelar ou Juiz da Infância e da Juventude. Se efetivamente praticou ato infracional,
será aplicada medida específica de proteção como orientação, apoio e
acompanhamento temporários, freqüência obrigatória em ensino fundamental,
requisição de tratamento médico e psicológico, entre outras medidas.

Adolescente em caso de flagrância de ato infracional será levado até a autoridade


policial especializada. Os adolescentes não são igualados a réus ou indiciados e não
são condenados a penas (reclusão e detenção), como ocorre com os maiores de 18
anos. Recebem medidas sócias educativas, sem caráter de apenação. É totalmente
ilegal a apreensão do adolescente para "averiguação". Ficam apreendidos e não
presos. A apreensão somente ocorrerá quando for em flagrância ou por ordem
judicial e em ambos o caso esta apreensão será comunicada, de imediato, ao juiz
competente, bem como à família do adolescente.

5.6.2 Apreensão do adolescente infrator

A autoridade policial deverá averiguar a possibilidade de liberar imediatamente o


adolescente. Caso a detenção seja justificada como imprescindível para as
investigações e manutenção da ordem pública, a autoridade policial deverá
comunicar os responsáveis pelo adolescente, assim como informá-los de seus
direitos como ficar calado se quiser, ter advogado, ser acompanhado pelos seus pais
ou responsáveis etc. Após a apreensão, o adolescente será imediatamente
conduzido à presença do promotor de Justiça, que poderá promover o arquivamento
da denúncia, conceder remissão-perdão ou representar ao juiz para aplicação de
medida sócio-educativa.

5.6.3 Medidas aplicadas aos adolescentes

O adolescente que cometer ato infracional estará sujeito às seguintes medidas sócio-
educativa: advertência, liberdade assistida, obrigação de reparação do dano,
prestação de serviços à comunidade, internação em estabelecimento, entre outras.

5.7 Homossexuais

O Termo homossexual foi criado por um médico húngaro, Karoly Kertbeny, ao saber
que, em 1869 o código penal da Prússia criou alguns artigos que criminalizava o
sexo praticado entre homens. O médico insatisfeito com a nova lei enviou uma carta
ao Ministro da Justiça prussiano argumentando que a homossexualidade era uma
“propensão inata”, ou seja, uma tendência com a qual uma parte dos seres nascia.
Essa “propensão era incapaz de seduzir a maioria dos homens porque era
38
17º Batalhão de Polícia Militar
considerada naturalmente estranha a eles, presumindo que a atração pelo sexo
oposto era a” sexualidade normal “A partir de então se passou a designar como
homossexual pessoa do mesmo sexo que sentiam atração entre si”.

Em 1974 a Associação Americana de Psiquiatria (AAPP) deixou de considerar a


homossexualidade uma doença. Dezenove anos depois, em 1993, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) retira a homossexualidade da categoria das doenças
mentais. Em 1985, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece que a
homossexualidade não é um desvio nem transtorno mental.

5.7.1 Definições dos homossexuais

a) Gay - Homossexual Masculino:

Não necessariamente afeminado.

Barbie – Gay/homossexual masculino fisiculturista/malhador e ou pratica artes


marciais. Ex.: Jiu-Jitsu

Gay afeminado – usa artifícios femininos como peças do vestuário. Ex.: brincos,
anéis e trejeitos ao andar e ao se expressar.

b) Lésbica - Homossexual Feminino:

Não necessariamente masculinizada.


Quando profissionais do sexo – trabalham em prostíbulos, boates de strip-tease etc.

Quando masculinizadas – usam artifícios masculinos como peças do vestuário. Ex.:


polchete, camisas esporte ou social, camisetas regatas, e trejeitos ao andar e ao se
expressar.

c) Homossexual masculino que se traveste de mulher “Travesti”

Estão travestidos geralmente 24 horas por dia, transitam mais durante a noite, e em
sua maioria moram em casas de diárias e são “cafetinados” por outra travesti ou
mulher. 90% vivem exclusivamente do mercado do sexo nas vias públicas e por
telefone destas “agências” de programa.

d) Transexuais – “clinicamente” são heterossexuais e só após análise por equipe


multidisciplinar de psicólogos, psiquiatras, médicos de diferentes áreas pode-se
diagnosticá-los. Mesmo identificados, existe a dificuldade de se atrelar à nova
identificação (quando adequados sexualmente) no jurídico. Fica a critério do Jurista a
análise e aprovação de uma nova identidade adequada ao sexo transmutado.
39
17º Batalhão de Polícia Militar
Transexuais masculinos, adequação genitália ao sexo feminino.

Transexuais femininos, adequação genitália ao sexo masculino.

Obs.: A transexualidade é psíquica e não genital, sendo que existem


transexuais que ainda não foram operados ou aguardam a possibilidade da cirurgia.
e) Bissexuais – Pesquisas demonstram que parte da heterossexualidade
tende à bissexualidade em algum ou todo o tempo de vida.
Exemplos são homens heterossexuais que procuram realizar “fantasias
sexuais” com travestis, garotos de programa, ou mulheres que atuam como homens
(usando próteses artificiais para penetração).
A diversidade sexual é uma realidade em nossa sociedade. O cidadão,
muitas vezes tem seus direitos desrespeitados pelo fato de ser homossexual. A falta
de informação da sociedade, que em sua maioria é homofóbica (discrimina e não
gosta do homossexual), o preconceito e o despreparo dos policiais que compõe o
sistema de segurança e outros setores públicos e privados, torna a vida do cidadão
homossexual extremamente penosa.
O policial como promotor de diretos humanos, e pedagogo da cidadania,
deve lidar com o cidadão respeitando sua orientação sexual, dando-lhe a atenção
devida quando se fizer necessária à intervenção policial no seu cotidiano.
O cidadão homossexual ordeiro, deve ser tratado de forma respeitosa sem
gracejos ou críticas por parte dos policiais que o abordam ou que são acionados, por
este,em situação de vítima da criminalidade e abuso de poder.
Em abordagens envolvendo homossexuais do sexo masculino ou feminino o
policial deve se pautar nas seguintes orientações conforme a lei estadual número
14.170 de 15/01/02(Determina a imposição de sanções à pessoa jurídica por ato
discriminatório praticado contra pessoa em virtude de sua orientação sexual):
Se o cidadão homossexual teve um direito seu desrespeitado como vítima de
crimes diversos, o policial que por ele for procurado deve tratá-lo com respeito
evitando constrangê-lo, ainda mais, com gracejos ou descrédito aos seus apelos;
Ao suspeitar de uma pessoa homossexual masculino o policial deverá de
maneira menos constrangedora possível, proceder à revista evitando apertar-lhe os
“seios”, se este os tiver, podendo realizar uma vistoria entre os mamilos como é
procedida em uma mulher, no restante do corpo a busca se procede normalmente;
No caso de busca em um homossexual feminino (lésbica) evitar apalpar
seios e partes intimas;
Ao detectar um homossexual feminino (lésbica), travesti e ou transexual
evitar o constrangimento através da reprodução do preconceito social, exemplo: ao
ler o nome de registro Carteira de Identidade em voz alta para outros policiais e ou
público presente;
Lembre-se não cabe ao policial externar o que pensa, com posições
pessoais, religiosas e morais em relação à homossexualidade, e sim advertir,
orientar e cumprir aquilo que por lei for exigido, aplicando assim os devidos
procedimentos.
O policial não deve coibir manifestações de afeto entre homossexuais (mãos
dadas, beijo na boca, abraços, entre outros) em logradouro público , estabelecimento
público, ou estabelecimento aberto ao público,e se solicitado a coibir deve orientar o
40
17º Batalhão de Polícia Militar
solicitante de que a manifestação de afeto não é crime mas a sua coibição
sim.Lembre-se sexo explicito é diferente de manifestação de afeto sendo que no
primeiro caso é necessário a providencia policial.

Pessoas com deficiência física e sofrimento mental

Deficiência
É toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica
fisiológica ou anatômica.
Tipos:
Lingüística: mudo;
Sensorial: auditiva, visual;
Mental: síndrome de down, oligofrenias, síndrome de autismo, algumas
psicoses entre outros;
Física: hemiplegias (paralisia de um dos lados do corpo), paraplegia,
amputados etc;
Neurológica: paralisia cerebral;
Alterações ao nível de Sistema nervoso Central;
Psicológicas: distúrbios, comportamentais do aprendizado e da sociabilidade;
Múltipla: Tretraplegia+cegueira+surdez;

Doença
Falta ou perturbações da saúde moléstia, mal, enfermidade, podendo ser
temporárias ou definitivas.

Incapacidade
Toda restrição ou falta (devido a uma deficiência) da capacidade de realizar
uma atividade na forma ou na medida que se considera normal a um ser humano.

Impedimento
Situação desvantajosa para um determinado indivíduo, em conseqüência de
uma deficiência ou de uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de
um papel que é normal em seu caso ( em função de idade, sexo e fatores sociais e
culturais).

Cuidados no trato com a pessoa deficiente


“Existe atualmente um grande número, que aumenta dia a dia, de pessoas
com deficiência. Está confirmada, pelos resultados de pesquisas com segmentos da
população e por investigações de respeitados pesquisadores, a estimativa de 500
milhões”.
As causas das deficiências variam em todo o mundo: o mesmo acontece
com a predominância e as conseqüências das deficiências. Essas variações são
conseqüências das diferentes circunstâncias sócio econômicas e das diferentes
disposições que cada sociedade adota para alcançar o bem estar de seus membros.
Segundo estudo realizado por peritos estima-se que pelo menos 350 milhões
de pessoas com deficiência vivem em regiões onde não há disponibilidade de
serviços necessários para ajudá-las a superar suas limitações. Grande parte destas
41
17º Batalhão de Polícia Militar
pessoas esta sujeita a barreiras físicas, culturais e sociais que dificultam sua vida,
mesmo quando se dispõe de ajuda para sua reabilitação.
Para se alcançar os objetivos de “igualdade” e de “plena participação”, não
bastam medidas de reabilitação voltadas para o indivíduo com deficiência. A
experiência tem demonstrado que é o meio que determina, em grande parte, o efeito
de uma deficiência ou incapacidade na vida diária da pessoa. Uma pessoa se torna
vítima do impedimento quando lhe são necessárias aos aspectos fundamentais da
vida, inclusive a vida familiar, a educação, o emprego, a moradia, a segurança
econômica e pessoal, a participação em grupos sociais e políticos, nas atividades
religiosas, nas relações afetivas e sexuais, no acesso a instalações públicas, na
liberdade de movimentos e no sistema geral da vida diária.“
O policial atua como um agente da cidadania, e como tal deve sempre que
possível saber comportar-se adequadamente em ocorrência que envolva pessoas
deficientes físicas e com sofrimento mental, lhes dando um tratamento digno,
encaminhando-as corretamente e solucionando seus problemas. Cuidados que o
policial deve ter ao abordar ou auxiliar uma pessoa deficiente:

Pessoa que usa cadeira de rodas


Não segure nem toque na cadeira de rodas. Ela como se fosse parte do
corpo da pessoa. Apoiar-se ou encostar-se na cadeira é o mesmo que se apoiar ou e
encostar-se à pessoa.
Se desejar, ofereça ajuda, mas não insista. Se precisar de ajuda, ele (a)
aceitará seu oferecimento e lhe dirá o que fazer. Se você forçar esta ajuda, isso pode
às vezes até mesmo causar insegurança.
Não tenha receio de usar palavras como "caminho" ou "correr". As pessoas
com deficiência também as usam.
Se a conversa durar mais do que alguns minutos, sente-se, se possível, de
modo a ficar no mesmo nível do seu olhar. Para uma pessoa sentada não é
confortável ficar olhando para cima durante um período relativamente longo.
Não estacione viatura em lugares reservados às pessoas com deficiência
física. Tais lugares são reservados por necessidade, não por conveniência. O espaço
reservado é mais largo do que o usual, a fim de permitir que a cadeira de rodas fique
ao lado do automóvel e a pessoa com deficiência física, possa sair e sentar-se na
cadeira de rodas, e vice-versa; além disso, o lugar reservado é próximo à entrada de
prédios para facilitar o acesso dessas pessoas.
Ao ajudar uma pessoa com deficiência física a descer uma rampa inclinada
ou degraus altos, é preferível usar a "marcha ré" para evitar que, pela excessiva
inclinação, a pessoa perca o equilíbrio e possa cair para frente.
g)Quando se tratar de pessoa suspeita deverá ser seguido todos os
procedimentos acima, e efetuado a busca pessoal e na cadeira de rodas.

Pessoa que usa muletas


Acompanhe o ritmo de sua marcha.
Tome cuidados necessários para que ele(a) não tropece.
Deixe as muletas sempre ao alcance das suas mãos.
Quando se tratar de pessoa suspeita deverá ser seguido todos os
procedimentos acima, e efetuado a busca pessoal , tomando-se cuidado com
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17º Batalhão de Polícia Militar
possíveis golpes de muleta do suspeito, e com pontas ou laminas que possam estar
escondidas no interior da muleta.

Pessoa com deficiência visual


Ofereça sua ajuda sempre que um(a) cego(a) parecer necessitar.
Mas não ajude sem que ele(a) concorde. Sempre pergunte antes de agir. Se
você não souber em que e como ajudar, peça explicações de como fazê-lo.
Para guiar uma pessoa cega, ela deve segurar-lhe pelo braço, de preferência
no cotovelo ou no ombro. Não a pegue pelo braço; além de perigoso, isso pode
assustá-la. À medida que encontrar degraus, meios fios e outros obstáculos, vá
orientando-a. Em lugares muito estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado,
ponha seu braço para trás de modo que a pessoa cega possa lhe seguir. Ao sair de
uma sala, informe o(a) cego(a) pois é desagradável para qualquer pessoa falar para
o vazio. Não se preocupe ao usar palavras como "cego", "olhar" ou "ver": os(as)
cegos(as) também as usam.
Ao explicitar direções para uma pessoa cega, seja o mais claro e específico
possível. Não se esqueça de indicar os obstáculos que existem no caminho que ela
vai seguir. Como algumas pessoas cegas não tem memória visual, não se esqueça
de indicar as distâncias em metros (p.ex. "uns vinte metros para frente") Mas se você
não sabe corretamente como direcionar uma pessoa cega, diga algo como "eu
gostaria de lhe ajudar. Mas como é que devo descrever as coisas?" Ele(ela) lhe dirá.
Ao guiar um(a) cego(a) para uma cadeira, guie a sua mão para o encosto da
cadeira, e informe se a cadeira tem braços ou não. Num restaurante, é de boa
educação que você leia o cardápio e os preços.
Uma pessoa cega é como outra qualquer, só que não enxerga; trate-a com o
mesmo respeito que trata uma pessoa que enxerga.
Quando estiver em contato social ou trabalhando com pessoas com
deficiência visual, não pense que a cegueira possa vir a ser problema e, por isso,
nunca as exclua de participar plenamente, nem procure minimizar tal participação.
Deixe que decidam como participar. Proporcione à pessoa cega a chance de ter
sucesso e de falhar, tal como qualquer outra pessoa.
Quando são pessoas com visão subnormal (alguém com sérias dificuldades
visuais), proceda com o mesmo respeito, perguntando-lhe se precisa de ajuda
quando notar que ela está em dificuldade.
Quando se tratar de pessoa suspeita deverá ser seguido todos os
procedimentos acima, e efetuado a busca pessoal , tomando-se cuidado de avisar o
suspeito que será procedido uma busca por outro policial e que ele fique calmo.

Pessoa com deficiência auditiva


Fale claramente, distinguindo palavra por palavra, mas não exagere. Fale
com velocidade normal, salvo quando lhe for pedido para falar mais devagar.
Cuide para que o (a) surdo(a) enxergue sua boca. A leitura dos lábios fica
impossível se você gesticula, segura alguma coisa na frente dos seus próprios
lábios, ou fica contra a luz.
Fale com tom normal de voz, a não ser que lhe peçam para levantar a voz.
Gritar nunca adianta.
Seja expressivo. Como os surdos não podem ouvir as mudanças sutis do
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17º Batalhão de Polícia Militar
tom de sua voz indicando sarcasmo ou seriedade, a maioria deles(as) "lerão" suas
expressões faciais, seus gestos ou os movimentos do seu corpo para entender o que
você quer comunicar.
Se você quer falar com uma pessoa surda, chame a atenção dela,
sinalizando com a mão ou tocando no seu braço. Enquanto estiverem conversando,
mantenha contato visual; se você olhar para outro lado enquanto está conversando,
o(a) surdo(a) pode pensar que a conversa terminou.
Se você tiver dificuldades para entender o que uma pessoa surda está
falando, sinta-se à vontade para pedir que ela repita o que falou. Se você ainda não
entender, peça-lhe para escrever. O que interessa é comunicar-se com a pessoa
surda. O método não é o que importa.
Se o (a) surdo (a) está acompanhado (a) por um intérprete, fale diretamente
à pessoa surda, não ao intérprete.
Ao planejar um encontro, lembre-se que os avisos visuais são úteis aos
participantes surdos. Se estiver previsto um filme, providencie um "script" por escrito,
ou um resumo do conteúdo do filme, se não tiver legenda.
Quando se tratar de pessoa suspeita deverá ser seguido todos os
procedimentos acima, e efetuado a busca pessoal.

Pessoa com paralisia cerebral


A pessoa com paralisia cerebral, anda com dificuldade ou não anda,
podendo ter problemas de fala. Seus movimentos podem ser estranhos ou
descontrolados. Pode, involuntariamente, apresentar gestos faciais incomuns, sob a
forma de caretas. Geralmente, porém, trata-se de uma pessoa inteligente e sempre
muito sensível – ela sabe e compreende que não é como os outros.
Para ajudá-la, não a trate bruscamente. Adapte-se ao seu ritmo. Se não
compreende o que ela diz, peça-lhe que repita: ELA O COMPREENDERÁ. Não se
deixe impressionar pelo seu aspecto. Aja de forma natural... sorria...é uma pessoa
igual a você.

Pessoa com deficiência mental


a) Cumprimente a pessoa com deficiência mental de maneira normal e
respeitosa, não se esquecendo de fazer o mesmo ao se despedir. As pessoas com
deficiência mental são, em geral, bem dispostas, carinhosas e gostam de se
comunicar.
b) Dê-lhes atenção, dirigindo-lhes palavras como: "que bom que você veio",
"gostamos quando você vem nos visitar", tentando manter a conversa até onde for
possível.
c) Seja natural. Evite a superproteção. A pessoa com deficiência mental deve
fazer sozinha tudo o que puder; ajude-a quando realmente for necessário.
d) Lembre-se: deficiência mental pode ser conseqüência de uma doença,
mas não é uma doença; é uma "condição de ser". Nunca use a expressão
"doentinho(a)" ou "bobinho(a)" quando se dirigir ou se referir a uma pessoa com
deficiência mental.
e) Lembre-se: deficiência mental não é doença mental.
f) Uma pessoa portadora de deficiência mental é, em primeiro lugar, uma
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17º Batalhão de Polícia Militar
pessoa.
g) Enquanto for criança, trate-a como criança. Quando for adolescente ou
adulto, trate-o como tal.

Deficiência mental severa


Existem deficiências, mais graves como o Autismo e outras, em que
indivíduo não interage com o mundo de forma adequada, apresentam sinais de
agitação, não conseguem se comunicar, não tem noção de perigo, e apesar de
serem dóceis, são arredias e reagem com agressividade em situações adversas.
O policial não poderá subestimar tais indivíduos que deverão ter total
atenção quanto na condução destas pessoas, para evitar que se machuquem ou que
causem um acidente;
Ao conduzir estas pessoas a pé, ter cuidados ao atravessar ruas, pois, o
indivíduo poderá lançar-se na frente de veículos em movimento;
Estas pessoas deverão ser conduzidas a um centro neuropsiquiátrico até
que seus parentes sejam encontrados.

Terceira Idade
Uma das principais causas que levam as pessoas da terceira idade, ao
abandono e ao descrédito, é a situação de relaxamento e falta de execução das
normas em vigor. Assim, o afastamento das famílias, o internamento destas pessoas
em locais inadequados ao seu completo restabelecimento, manutenção do seu
estado físico e mental, o abandono por parte da sociedade, a começar da própria
família, caracteriza uma situação que coloca em risco a sua garantia e proteção
integral, nos termos da Constituição em vigor, desprezando, desta forma, todos
aqueles que deram suas vidas, em prol da nossa nação e aqueles que lutam para
vencer o preconceito e serem integrados a sociedade.
A pessoa idosa deve ter um tratamento que lhe garanta o direito à vida,
participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar. É bom deixar
claro que na lei Magna é declarado que a família, depois a sociedade e o Estado têm
o dever de amparar os idosos.
Portanto, será necessário o engajamento de todos para que este fundamento
seja implementado e se tome realidade.
O policial deve estar ciente destas premissas quando em sua rotina
operacional, deparar com uma situação que evolva uma pessoa de terceira idade. Na
atuação do policial frente a uma pessoa idosa ele deverá sempre que possível tomar
os seguintes cuidados.
O idoso deve ter um tratamento especial dentro de uma delegacia, será
convidado a assentar-se;
Também será ótimo lhe oferecer um cafezinho, água, o policial estabelecerá
um clima de confiança e respeito;
Se o idoso for suspeito, em respeitar a sua idade e/ou condições de saúde,
deve haver uma prévia conversa sobre o ato cometido para que o mesmo comece a
refletir nas conseqüências e esteja preparado, resguardados os aspectos de
segurança do policial;
Será esclarecida a orientação que o mesmo poderá receber, por parte
jurídica do Estado, e outras informações necessárias para os tramites;
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17º Batalhão de Polícia Militar
O idoso deverá, sempre que possível, ser acompanhado por algum membro
familiar;
O policial deverá evitar agressões verbal ou física aos familiares do idoso,
vítima de crime, isto poderá causar problemas sérios e até complicações em sua
saúde;

Atuação policial frente às Minorias

Discriminação
Política que objetiva separar e/ou isolar no seio de uma sociedade as
minorias raciais, sociais, religiosas, etc.
O racismo e a segregação social são estáveis em nossa sociedade, a todo o
momento deparamos com fatos que revelam a triste face do preconceito.
O policial deve se pautar sempre nos princípios do bom senso e
profissionalismo ao lidar com situações onde uma pessoa se sinta discriminada por
sua cor, religião, etnia, língua ou procedência nacional, demonstrando sempre
respeito pela crença e cultura das pessoas envolvidas deixando de lado suas
convicções culturais e religiosas e buscando a solução para o problema.
A lei nº 9.459, de 13/05/1997, tipifica o crime de racismo, usando três
principais verbos obstar, recusar e impedir alguém de exercer seus direitos previstos
pela lei em decorrência de sua cor, religião, etnia, língua ou procedência nacional. O
cuidado que o policial deve ter é de não enquadrar incorretamente uma pessoa no
crime de racismo, pois, algumas condutas estão tipificadas como crime de injúria e
não racismo, apesar das duas condutas ser crime a diferença é que o primeiro é
inafiançável.
O aspecto de segurança do policial não deve se confundir com a situação
social da suspeição, ou seja , pessoas que se trajam bem também podem ser
suspeita de algum crime, não se deve “rotular” as pessoas somente porque são
negras e ou pobres.
Em ocorrências que envolvam pessoas de cor negra o policial deve,
resguardados os aspectos de fundada suspeita e segurança, sempre que possível
agir da seguinte forma:
Não considerar de antemão que os negros são suspeitos (preconceito);
Não tratar os cidadãos negros, mesmo em casos suspeito, por apelidos
ofensivos à pertinência racial, o descumprimento da lei, não é uma característica de
nenhuma raça ou etnia;
Não discriminar numa atividade policial quando há negros e não negros e só
os primeiros são revistados;
Não agir preconceituosamente contra jovens vestidos de acordo com seu
grupo cultural (calças largas, bonés, cabelos descoloridos ou pintados, tranças,
rastafari , etc.) Em toda abordagem considerar que toda (o) cidadã (o), tem seus
direitos assegurados pela lei.
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17º Batalhão de Polícia Militar

TEXTOS SELECIONADOS

TEXTO 1 : A POSIÇÃO DA MULHER NA SOCIEDADE


Zuleika d’Alembert - Presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina
Permitam-me a liberdade de abordar o tema, não de uma maneira
especificamente jurídica, mas da melhor maneira que eu poderia fazê-lo em minha
qualidade de mulher, política, escritora e feminista: politicamente.
Não poderíamos falar nos direitos da mulher sem ter uma visão, mesmo que
breve, de sua posição atual dentro da sociedade. Baseada em informações
concretas, proporcionadas pelo diagnóstico feito por técnicas da Fundação Carlos
Chagas e sob a responsabilidade do CECF, para ser levado pela delegação de
mulheres ao Fórum 85, recentemente realizado na cidade de Nairobi, no Kenya,
podemos dizer que o desenvolvimento político, social, econômico e cultural do país
nas últimas décadas influi muito na maneira de existir, viver, pensar e agir de nossas
mulheres. A mulher, hoje, constitui metade da população brasileira; 36% de sua força
de trabalho ativa; metade do eleitorado e com fortes tendências a se tornar
majoritária nesse campo.
Politicamente, também avançou bastante. No que concerne às lutas gerais do
nosso povo, ela tem desempenhado um papel marcante, principalmente nas lutas
que, pouco a pouco, vão-nos levando à recuperação democrática de nosso país.
Nesse terreno, sua participação na luta por eleições diretas com a palavra de ordem
Direitos e Diretas é um, exemplo significativo. No que se refere às suas lutas
específicas, cabe destacar que cresce no Brasil de hoje a consciência feminista
expressa no combate pela igualdade, autonomia e dignidade da mulher. Sobretudo a
partir de 1975 o movimento feminista, principalmente em relação à irradiação de
suas idéias, tem-se desenvolvido como verdadeira brecha libertária entre as poucas
que conseguiram abrir-se, rompendo as barreiras das enormes restrições impostas
pelo sistema instaurado em 1964 à liberdade do debate social. Tudo isso somado
determinou sensíveis mudanças no comportamento em relação à igualdade de
direitos da mulher, principalmente entre a classe média e a aceitação, com menos
preconceitos no debate público, de temas candentes e até então proibitivos como o
direito à educação sexual das crianças e dos adolescentes, a contracepção, o
aborto, a sexualidade feminina, o controle pela mulher de seu corpo, o
homossexualismo, etc.
Em síntese, é a aceitação da nova mulher que surge na arena política
nacional assumindo com garra e paixão múltiplos deveres e defendendo direitos até
então relacionados e válidos somente para os homens. Esse é, realmente, o
fenômeno novo de nossa época no mundo e em nosso país; é o grande
acontecimento de nosso século e nós, homens e mulheres, temos de estar
preparados para aceitá-lo e encaminhá-lo de modo positivo.
O abismo entre os novos deveres e a ausência de novos direitos:
47
17º Batalhão de Polícia Militar
Apesar das grandes mudanças havidas na vida da mulher, somos obrigadas a
reconhecer que isso acontece com enormes sacrifícios de nossa parte, que
comumente nos impedem de competir em pé de igualdade com os homens. Na
verdade, assumimos novos deveres, mas continuamos, por falta de nossos direitos,
a arcar com os velhos deveres que continuam a pesar, fundamentalmente, em
nossos ombros. Exemplo: trabalhamos fora, estudamos, participamos do diretório de
nosso partido, pertencemos a uma organização de mulheres do bairro, mas
continuamos executando aquela velha função de dona-de-casa e socializadora das
crianças que nos consome, diariamente, horas e horas de trabalho. A função pública
não eliminou, mas tão-somente, somou-se às funções privadas, realizadas entre as
quatro paredes da casa. Esse fato nos impede, de um lado, de exercer plenamente
nossas novas funções, e de outro, continua a impregnar toda a sociedade de
preconceitos em relação ao novo papel que nos esforçamos por desempenhar.
Existe, pois, um abismo entre nossos novos deveres e nossos direitos
essenciais, que continua a nos ser sonegados. Vejamos, portanto:
No trabalho: a mulher não goza dos direitos de um trabalhador pleno.
Ganha salários menores; é preterida nas promoções a cargos de maior
responsabilidade; sua formação profissional tem um profundo viés sexista; as
empresas e demais locais de trabalho, em sua infra-estrutura, ignoram a existência
da mulher; o conceito de que o trabalho feminino é sempre um complemento ao
trabalho masculino desqualifica as atividades que exercem, que são, em geral,
secundárias e mal remuneradas. Na verdade, a mulher é um trabalhador pela
metade.
Na família: a mulher não partilha em pé de igualdade com o homem a direção
do núcleo familiar. Ela é tão-somente a “colaboradora” do marido, que continua como
o chefe legal da casa. Assim sendo, ele é quem arca, prioritariamente, com a
administração dos bens comuns e os da mulher, com o pátrio poder, com a escolha
do domicílio e pode até interferir no exercício ou não do direito ao trabalho por parte
da esposa, de acordo com suas conveniências.
A maternidade: (gravidez, parto e amamentação) é função que a mulher
continua a exercer solitariamente, sem nenhuma ajuda da família ou da sociedade.
Isto é, a maturidade não é considerada uma função social de magna importância
como o é produzir bens materiais para a sobrevivência da sociedade humana. E,
assim, a mulher, que reproduz o ser humano que fará as máquinas funcionares, em
vez de ser ressarcida pelo ônus que lhe acarreta pôr um filho no mundo, é, na
verdade, castigada (é posta fora do emprego quando está grávida; impedem-na de ir
ao banheiro com maior freqüência; não tem onde deixar o filho depois que ele nasce,
já que não existem equipamentos sociais nesse terreno, ou seja, creches, berçários,
pré-escolas, jardins de infância), etc.
Nega-se também à mulher o direito de escolher se quer ou não ter filhos ou
quantos desejaria ter, desde que a educação sexual nas escolas é ainda um tabu;
faltam informações científicas e culturais para que a mulher tenha um melhor
48
17º Batalhão de Polícia Militar
conhecimento sobre seu corpo; o aborto é duramente penalizado pelo código penal,
etc.
Finalmente, a mulher que trabalha fora de casa arca com a dupla jornada de
trabalho exercendo uma atividade – a de doméstica – que não é reconhecida como
trabalho, apesar de exigir da mulher suas melhores energias físicas e espirituais e
contribuir para a renovação da força de trabalho.
Na sociedade: a mulher ainda está bastante distanciada do poder político, dos
centros de decisões governamentais e dos postos-chave da administração pública.
Temos no país uma única vice-governadora, uma senadora, oito deputadas federais,
37 estaduais, umas quatro centenas de vereadoras e algumas prefeitas. Não chega
a cinco o número de mulheres que ocupam cargos nos diretórios nacionais dos
partidos e em suas comissões executivas. E na administração pública elas raramente
passam do terceiro escalão.
A cultura da submissão
Ao refletirem sobre esse quadro, as mulheres – principalmente as feministas –
botam a nu as raízes de sua opressão e exploração específicas, isto é, o ponto de
partida para seu status de inferioridade social em relação ao homem. Através de
estudos, pesquisas, entrevistas e análises, chegamos a uma conclusão: a mulher
não ocupa na sociedade um lugar desconfortável em relação ao homem, graças às
suas condições físicas, biológicas, naturais... como durante milênios nos fizeram
crer. Nada disso. Esse status de inferioridade, essa condição de cidadão de
segunda classe nos é imposta através de uma cultura milenar que a sociedade nos
impinge ainda quando estamos no ventre materno e nos condiciona e orienta para a
execução de um papel social de segunda categoria e a ocupar um lugar secundário
na sociedade e sem nenhuma manifestação de rebeldia”.

TEXTO2 : MEDIDAS SÓCIO EDUCATIVAS E DIREITOS HUMANOS*


* Roteiro da exposição do Deputado Marcos Rolim nos painéis do Congresso
Nacional da ABMP ( Gramado, Nov. 99) e na III Conferência Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente (Brasília, Nov. 99)
Nota inicial - Minha participação recente em dois dos mais importantes eventos na
área dos direitos da criança e do adolescente no Brasil - o Congresso da ABMP e a
Conferência Nacional - me permitiu um contato mais sistemático com a polêmica
aberta em torno da necessidade de uma Lei de Execução das Medidas Sócio
Educativas. Minha intervenção naqueles eventos seguiu o roteiro que segue. A
decisão de publicá-lo aqui deve-se, basicamente, a um conjunto de solicitações que
tenho recebido de militantes da área, de diferentes estados brasileiros. É preciso,
não obstante, destacar as limitações de um roteiro que me foi útil apenas na medida
em que estruturou minha fala. Na verdade, eu deveria - a partir dele - conceber um
texto devidamente fundamentado, o que ainda não pude fazer. De outra parte, devo
dizer que as idéias básicas do roteiro reproduzem as principais conclusões da Tese
de Mestrado, "Retórica e Realidade dos Direitos da Criança no Brasil" apresentada
49
17º Batalhão de Polícia Militar
por Sinara Porto Fajardo na Universidade de Saragoza (Espanha). Ao longo destes
últimos anos, Sinara foi minha assessora na Comissão de Cidadania e Direitos
Humanos da AL/RS. Não apenas pela admiração que tenho por ela, mas,
fundamentalmente, pela concordância com suas teses, recomendo vivamente seu
trabalho a todos aqueles interessados em uma análise mais aprofundada do
Estatuto. Para facilitar o acesso a sua tese, tomei a decisão de publicá-la, na íntegra,
nesta página.
Marcos Rolim
O Estatuto da Criança e do Adolescente - importância e limites
Já se assinalou, suficientemente, o quanto o ECA expressa uma mudança de
paradigma. Particularmente, temos sustentado junto à opinião pública a importância
deste diploma legal contrastando-o com o paradigma antigo da " situação irregular" o
que se torna decisivo face à extraordinária ignorância das disposições do próprio
Estatuto; desconhecimento que, assinale-se, não é encontrado apenas entre as
pessoas do povo, mas também entre inúmeros operadores do direito e,
seguramente, entre a maioria dos políticos deste país. De tudo o que se possa dizer
a respeito das alterações introduzidas pela Lei do ECA, penso que poderíamos
sintetizar as mudanças preconizadas - e, ainda hoje, não garantidas - em torno de
três grandes temas:
1) Alteração de conteúdo - crianças e adolescentes como titulares de direitos
2) Alteração de método - substituição do assistencialismo pela sócio-educação
3) Alteração de gestão - descentralização e participação popular
Uma mudança de paradigma envolve a transposição de um ambiente conceitual. Um
paradigma é um ambiente onde os conceitos existem em uma determinada estrutura.
A mudança de paradigma exige uma outra estrutura conceitual e, normalmente, a
emergência de novos conceitos. Dito de uma forma mais simples: a mudança de
paradigma exige um pensar diferente. Resulta daí que as mudanças de paradigma
só podem ser concebidas enquanto processos de reforma cultural. Na base das
dificuldades para uma efetiva aplicação do ECA no Brasil encontraremos a ausência
desta reforma cultural. Experimentamos, então, uma permanente tensão entre as
normas e sua efetividade. Não raro, veremos o antigo paradigma surgir ali onde já
não seria possível tolerá-lo, ou onde já se imaginava um terreno " conquistado".
Este é o processo que vislumbramos hoje nas relações sociais e na ação do Estado
diante do ECA. Por óbvio, as leis não são suficientes para a transformação da
sociedade. Elas expressam , mais propriamente, a dupla condição de instrumento e
caminho, no sentido de " empoderarem" os agentes que demandam pelo direito e
autorizarem uma expectativa de regulação de situações conflitivas. A lei justa
contribui para a transformação social, senão pelas garantias que introduz, pelos
símbolos que constrói. O ECA é um exemplo destas possibilidades. No movimento
atual de defesa dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, adquire o caráter
50
17º Batalhão de Polícia Militar
de uma bandeira de luta simbolizando um projeto de sociedade fundado nos Direitos
Humanos e no interesse primordial de crianças e adolescentes.
É este mesmo caráter, não obstante, que favorece uma visão acrítica e fetichista da
legislação o que termina por dificultar uma análise mais profunda dos seus limites
enquanto instrumento de transformação social. Tomo como referência desta
exposição, o trabalho desenvolvido por uma grande amiga minha, com quem tive o
prazer de trabalhar na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa do RS, Sinara Porto Fajardo. É ela quem assinala:
" A garantia dos direitos dos adolescentes em conflito com as normas jurídicas não é
violada apenas nas fases de execução das medidas sócio-educativas devido às
péssimas condições das entidades de internação; nem tampouco pelo escasso
empenho na implementação de medidas abertas e semi-abertas. Há uma
ambiguidade básica no próprio modelo de justiça juvenil desenhado no ECA, que
expõe uma questão tampouco resolvida no plano internacional, que é a tensão
produzida entre um caráter penal e garantista, por um lado e entre um caráter mais
pedagógico e flexível, por outro. Em realidade, o que temos é a vigência de um
sistema onde, em regra, não são oferecidas nem garantias, nem educação, nem
proteção."
Podemos destacar pelo menos 4 grandes temas a partir dos quais se desenvolvem
significativas ambigüidades:
1) Representação do Estado em relação aos direitos fundamentais:
Qual o modelo de Estado que a positivação dos direitos fundamentais autoriza? O
que se imagina, a partir do ECA - e da própria C.F. - é um Estado conceitualmente
afeto ao Bem Estar Social. Como se sabe, estamos muito longe disto no Brasil e, ao
que tudo indica, caminhando em sentido oposto.
2) Proteção da infância e juventude X "controle social"
· proteção a partir da violação da infância
· medida Sócio Educativa a partir da violação da segurança
3) O conceito de proteção integral
· não há clareza quanto aos métodos de proteção - enfoque intervencionista, tutelar,
que se contrapõe ao conceito de criança e adolescente como sujeitos de direitos.
4) O modelo de justiça juvenil
· Equilíbrio catastrófico entre o pedagógico e o penal
· Pedagógico e não garantista - duração indeterminada das medidas
· Garantista e não pedagógico - direito de não falar qualquer coisa que prejudique
sua defesa- direito de mentir. Há um hibridismo de modelos no ECA: pelo discurso,
51
17º Batalhão de Polícia Militar
afirma-se um modelo de bem estar; pela prática, um sistema protetor e de justiça. Os
riscos destas ambiguidades:
O protecionismo com ênfase terapêutica reforça a estigmatização do adolescente.
Sempre que o delito é tomado como expressão de uma patologia, obteremos
consequências claramente não garantistas na execução das medidas. Por outro
lado, se o discurso educativo é, no mais das vezes, uma expressão retórica e
alienada produzida pelo próprio sistema, o que teremos é a concretização de uma
falácia pedagógica introduzida pelo ECA segundo a qual a sócio educação
indeterminada é caminho para a reintegração social.
Paralelamente, reforça-se o espaço para a legitimação de uma visão penalista
estreita pela qual se imagina que a repressão seja uma resposta concreta aos
conflitos sociais. Na justiça juvenil brasileira, então, nos parece correto afirmar que a
ambiguidade principal , tanto aquela presente no texto legal, quanto na prática da
execução das ditas medidas sócio educativas, dá-se entre as dimensões do
pedagógico e do penal.
As medidas sócio-educativas contrapõe-se à noção de pena, pelo menos no que diz
respeito ao seu sentido retributivista, tendendo à uma ênfase retórica de conteúdo
pedagógico que não se reflete na prática. Sobre o caráter pedagógico do modelo, o
ECA é claro como quando, por exemplo, no inciso VI do artigo 122 define a
internação em estabelecimento educacional como medida sócio-educativa. Note-se:
"em estabelecimento educacional" (!) Alguém aqui pode conceber um
estabelecimento educacional com celas, com guardas, com desnudamentos para
revistas, etc ?
Ora, a privação da liberdade, se imposta e realizada com base no ECA, é medida
sócio-educativa e não condição para a mesma. Ao não cumprir-se a Lei, entretanto,
surge a necessidade de justificar a privação de liberdade como meio para se
concretizar o conteúdo educacional nunca efetivado da medida imposta. Essa
distorção resulta também justificadora de medidas cada vez mais repressivas em
termos de segurança das unidades.Várias violações de direitos emergem destas
ambiguidades, entre elas:
1 ) sentenças baseadas em "antecedentes criminais" (sic)
2) a duração indeterminada das medidas sócio-educativas, o que viola os princípios
da proporcionalidade, legalidade e segurança jurídica.
3) Laudos técnicos baseados mais no comportamento do que nos objetivos definidos
individualmente;
4) Medicalização ou psiquiatrização do conteúdo das medidas;
5) Coisificação do adolescente infrator, etc.
Estas características - extremamente funcionais à ineficácia da execução das
medidas sócio-educativas - terminam por reforçar o alarme social, abrindo espaços
para o retorno de modelos superados. O que temos, então, é um discurso legitimador
52
17º Batalhão de Polícia Militar
do ECA que desconsidera a fragilidade ou mesmo a inexistência de garantias
quando da sentença e quando da execução. A ênfase garantista do processo é
contraditada pela ênfase comportamentalista no julgamento e pela ênfase repressiva
na execução. O discurso pedagógico legitima o modelo simbolicamente enquanto a
prática repressiva e terapêutica constituem a realidade mesma a partir do objetivo do
controle social.
A demanda punitiva:
Todos os indicadores disponíveis estão a demonstrar um aumento em nosso país
daquilo que costumo denominar a "demanda punitiva". Firma-se na opinião pública
um sentimento cada vez mais sólido de que é preciso punir mais, que as leis tem
sido brandas e complacentes com os criminosos, que deve-se colocar mais policiais
nas ruas, que deve-se construir mais presídios, etc. Neste caldo cultural, cresce o
apelo em favor da redução da idade penal. Por certo, este resultado seria
inconcebível não fosse o persistente trabalho de desinformação assegurado pelos
grandes meios de comunicação com relação ao próprio ECA.
Em verdade, não temos sequer condições reais de estabelecer a dimensão
verdadeira da insegurança pública que atormenta os cidadãos. De um lado, há a
"sensação de insegurança" , experiência de angústia ou pavor vivida como realidade
cada vez mais amplamente; de outro, há a insegurança efetiva que só pode ser
medida a partir dos riscos de vitimização. Como não temos, no Brasil, rigorosamente,
pesquisas de vitimização, não sabemos, ao certo, as dimensões do problema. O que
sabemos, pelos dados disponíveis, é que a violência sobre crianças e adolescentes
constitui um fenômeno cuja radicalidade e importância deveria ultrapassar em muito
as preocupações públicas manifestas quanto ao tema da "violência juvenil".
Entretanto, as projeções simbólicas em torno da idéia do "adolescente perigoso" se
tornaram muito mais fortes do que aquelas que deveriam se difundir a partir da idéia
do "adolescente em perigo", o que em si mesmo assinala uma inversão desprovida
de qualquer base empírica. De novo, aqui, percebe-se o quanto a ficção pode contar
mais do que a realidade. Seja como for, é hora de nos unirmos em torno de ações
concretas junto à opinião pública que esclareçam as pessoas a respeito do ECA e
que barrem o caminho para a redução da idade penal. Uma larga campanha de
coleta de assinaturas em todo o Brasil contra a tese da redução da idade penal seria
uma iniciativa da maior importância política.
Precisamos de uma Lei de Execução de Medidas Sócio Educativas ?
O debate em curso sobre a necessidade de uma Lei de Execução de Medidas Sócio
Educativas precisa ser travado a partir de dois pressupostos fundamentais: primeiro,
o de que as partes envolvidas no debate possuem argumentos relevantes e que
ambas buscam os mesmos objetivos; segundo, a idéia de que o próprio debate deve
orientar-se pelos interesses primordiais dos adolescentes em conflito com a Lei.
A polarização construída até agora pela polêmica introduz uma enorme facilidade em
ceder à simplificação. Pior do que isso, o debate pode degradar-se em uma disputa
destrutiva com a reprodução de posturas sectárias e intolerantes. Ora, a diferença
53
17º Batalhão de Polícia Militar
deve ser saudada e recebida como um bom sinal. É preciso, então, estar atento aos
argumentos apresentados a favor e contra a necessidade de uma Lei de Execução
das Medidas Sócio Educativas, recolhendo o que de melhor eles têm oferecido.
Entendo que a possibilidade de uma Lei de Execução de conteúdo fortemente
garantista assinalaria um avanço considerável na aplicação do ECA. Em verdade,
garantias nomeadas detalhadamente em uma Lei podem, na medida em que
restringem a margem de discricionariedade de Juizes e Promotores, por um lado e
de administradores e técnicos, por outro, democratizar o próprio sistema de justiça
juvenil em nosso país constrangendo a prática de inúmeras arbitrariedades que
vitimam os adolescentes em conflito com a lei. Por certo, o ante projeto apresentado
pelo Desembargador Amaral e Silva está longe de se constituir em uma referência
para uma boa e justa lei. Cabe-lhe o mérito de ter apresentado à discussão pública a
primeira proposta. Sua proposta, todavia, não merece acolhida por incorporar
disposições equívocas e sustentar medidas de natureza repressiva em si mesmas
inaceitáveis como o isolamento disciplinar, a suspensão de visitas ou o uso de
algemas.
Os argumentos sustentados contra a necessidade de uma Lei de Execução das
Medidas Sócio Educativas podem ser agrupados em dois grandes eixos:
primeiramente, em torno da idéia de que o ECA já estabelece todas as garantias,
bastando, portanto, aplicá-lo. Este argumento não me parece sustentável. Em
verdade, o ECA deixou de nomear inúmeras garantias aos adolescentes em conflito
com a lei permitindo, a partir de seus princípios gerais, uma ampla margem de
interpretação pelo que, por decorrência, legitima-se o arbítrio. Na segunda linha, há
os argumentos que se agrupam em torno da idéia de que uma Lei de Execução
significaria, na prática, a introdução de um "direito penal juvenil" no Brasil, pelo que
se agrediria o cerne do próprio Estatuto. Verifica-se, aqui, uma tendência bastante
significativa de se disputar doutrinariamente a prevalência de esquemas abstratos
em detrimento dos esforços por centralizar o debate em torno das pessoas mesmas.
Não me parece relevante saber se a "proporcionalidade" é um princípio adstrito ao
direito penal, ou se a "prescrição" é compatível com as finalidades pedagógicas do
ECA. O que me parece relevante saber é se regras orientadas por estes princípios
podem ser boas ou não para os adolescentes em conflito com a lei.

TEXTO 3 : AMAZÔNIA E QUESTÕES INDÍGENAS.


Ten.-Brig.-do-Ar SÉRGIO XAVIER FEROLLA – Ministro do STM

A questão indígena, em face de algumas perguntas que nós


acreditávamos que já estavam respondidas, voltou à ordem do dia - integrar ou
segregar o índio? Até há poucos anos a política era de integração, e foi essa política
que vigorou ao longo da história do Brasil. Nós nos orgulhamos de sermos formados
de uma mistura, uma mescla de povos de 3 raças; sempre nos orgulhamos disso,
porque houve sempre a integração. Hoje há tendência de segregar o índio, a
pretexto de preservar a sua cultura, manter uma janela, mantê-lo numa vitrina é mais
ou menos a linha da FUNAI.
54
17º Batalhão de Polícia Militar
Isso ainda está se discutindo: que extensão deve ter uma terra
indígena, por que a área ianomâmi é tão grande ? Por que a área do alto Rio Negro
dos tucanos é enorme? Quais os critérios para demarcar uma reserva indígena?
São questões ainda não respondidas. E, por que não são respondidas? Eu lhes
asseguro, sem medo de errar: sentimos, pela vivência na Amazônia, a pressão
enorme de Organizações Não Governamentais, para que não se chegue a uma
decisão. Ainda no tocante ao índio e à preservação do meio ambiente, as ONGs têm
um papel exageradamente acentuado quanto a explorar ou não as riquezas de uma
terra indígena. A Constituição de 88 diz que as áreas muito grandes podem ser
exploradas, mas declaram que isso precisa ser regulamentado. A regulamentação
até agora não existe, embora o assunto esteja sendo discutido objetivamente no
Congresso Nacional.
Vários senadores e deputados, sentindo o problema, mudam muito a
sua maneira de pensar. Um deles era o presidente da Comissão de Meio Ambiente,
e com toda a pressão que sofre sobre o assunto: (permitir ou não exploração de
riquezas em terras indígenas), mostrou que encara o prob1ema favoravelmente à
exploração. Só para nós termos uma idéia, no território nacional, 11% são terras
indígenas; 83% de todas as terras indígenas estão na Amazônia. Aí nós temos 144
mil índios, de um total de 326 mil existentes no País.
A população indígena no Brasil é pouco mais de 1% de nossa
população, mas estes 1% dispõem de 11°% do território. É muito importante para
nós vermos a influência de terras indígenas nos Estados. No Acre, no Amapá e no
Tocantins é muito pequena. No Amazonas 21% do Estado são terras indígenas;
praticamente 20% do Pará são terras indígenas e Roraima não existe como Estado.
Está inviabilizado, como unidade federativa de direito e de fato, porque somente em
terras indígenas tem quase 58% de seu território. Agregando as áreas preservadas
(áreas de proteção ambiental), sobra pouquíssimo para o Estado conduzir uma
atividade econômica. A tendência é piorar. No momento nós estamos com um
conflito muito grande na área do Iurabutã que é bem lá ao norte junto com a fronteira
da Guiana, onde pretendem transformar várias áreas isoladas em uma só. Os
políticos de Roraima, a começar pelo governador, estão lutando tenazmente contra
tal tendência. As áreas indígenas constituem, na Amazônia um conjunto maior que
Portugal, Espanha, Alemanha, Bélgica e Majorca.
A FUNAI e outras organizações ligadas ao problema índio na
Amazônia, cada uma vê seu problema isoladamente. O Poder público, seja federal,
seja estadual, terá sempre muitas limitações para conduzir atividades sócio-
econômicas, e não há como integrar a Amazônia sem conduzir atividades sócio-
econômicas. O que desejam os 7G (sete grandes) e as ONGs é que a Amazônia
seja preservada exatamente como ela está; não se derrube uma árvore, não se
mate um jacaré (crime inafiançável), e permaneça como patrimônio da humanidade !
É nossa grande preocupação, essa expressão chamada "patrimônio da
humanidade". Ela está consolidando cada vez mais, a nível internacional, a cobiça e
a tendência à intervenção.
Nós fizemos um jogo, sobrepondo diversas áreas para vermos o
problema corno um todo. Começamos com os corredores ecológicos na Amazônia,
em número de cinco, sobre eles jogando-se as Áreas de Proteção Ambiental
verifica-se que a maioria delas cai nos corredores, só que os corredores ampliam
55
17º Batalhão de Polícia Militar
enormemente essas áreas e criaram locais onde não existiam áreas de proteção
ambiental; sobre elas joguemos as reservas indígenas e as terras indígenas. Ver-se-
á então o que sobrou da Amazônia. Eu gostaria de destacar que no quadro atual já
se formou um corredor de isolamento ao longo da nossa fronteira, e o Estado pouco
vai chegar aí, porque quem domina, quem comanda, e exerce pressão em cima
disso, são Organizações Não Governamentais. E o pobre índio é o homem
essencialmente rnanobrado, seja por um lado seja pelo outro.
A Constituição determina que tenhamos uma faixa de 150 quilômetros
ao longo da fronteira e tudo isso está sendo observado ( muito mais do que 150 km
de largura na fronteira já temos nesse corredor que está se formando). Quando nós
jogamos as reservas minerais conhecidas em cima das áreas de restrição
verificamos que elas não estão sempre em cima dessas áreas supostas intocáveis.
Qual a razão? Porque não há interesse em que nós sejamos parceiro eficiente na
produção de minérios a nível internacional. Se entrarmos com o nosso enorme
potencial iremos baixar preços, competir ("congelamento" independente de nossa
vontade, mas um congelamento de fato, a nível internacional, dos nossos recursos).
Na região dos 6 lagos temos a maior reserva de nióbio do mundo, o mineral do
próximo século. São 90% das reservas conhecidas de nióbio do mundo e nós não o
podemos explorar !!
Em Carajás e Urucu, as pressões demográficas são mais que óbvias.
Logo após a Guerra de Secessão americana, foi feita nova proposta ao Imperador
Pedro II para que permitisse que excedentes populacionais fossem aceitos na
Amazônia. Proposta também feita a Jânio Quadros para aceitar considerável
contingente de indianos. Entre Palmeira do Javari e Assis Brasil são 1.470 km, um
absoluto vazio sem qualquer presença do Estado. Entre Bonfim e Clevelândia são
1.600 km, e ali também o govemo não está presente.

TEXTO 4: A REEDIÇÃO DO HOLOCAUSTO


* Manuel Cambeses Júnior
Coronel-Aviador da Reserva da Força Aérea.

Ansioso para que o assentamento na Terra Santa ocorresse de forma


pacífica, o mundo deixou-se engabelar pela retórica de Israel e ignorou, durante bom
tempo, os seus atos. Os anos noventa do século passado foram testemunhas de
uma fervorosa expansão dos assentamentos israelenses nas zonas palestinas, tanto
por parte do Partido Trabalhista como por parte do Likud.
Uma década depois dos acordos de Oslo, duplicou-se o número de colonos
judeus e reduziu-se a distância entre qualquer área palestina vigiada e a presença
israelense, a aproximadamente nove quilômetros.
A macabra política de governo promovida pelo líder israelense Ariel Sharon,
de transformar a Terra Santa em um campo de concentração para os palestinos,
bem como o histórico comentário do consagrado escritor português José Saramago,
de que essa malfadada política reflete “o espírito de Auschwitz”, induzem a que se
reabra o debate sobre a acusação de que o Estado de Israel, lamentavelmente, está
perpetrando um verdadeiro holocausto contra o povo palestino.
56
17º Batalhão de Polícia Militar
Na execução da política de perseguição e extermínio empreendida pelos
nazistas contra a população judia, período da História que ficou conhecido como
Holocausto, temos que diferenciar três etapas principais que se realizaram com
objetivos e métodos diferentes: primeiramente, o movimento fascista, ocorrido na
Alemanha, entre 1923 e 1933; em segundo lugar, o Estado fascista pré-bélico e,
finalmente, o período compreendido entre 1939 e 1945, ou seja, durante o
transcorrer da Segunda Guerra Mundial.
Na primeira fase, Adolf Hitler escreveu o seu livro Mein Kampf, que acabou
proporcionando a base ideológica ao Partido Nacional Socialista Alemão do
Trabalho (NSDAP), fundado em 1920. Os judeus e o bolchevismo passam, a partir
daí, a ser encarados como “eixos do mal” das desgraças nacionais alemãs.
Ademais, a superioridade racial germânica e a necessidade de conquistar outras
nações para dispor de um Lebensraum (espaço vital) suficiente, formaram o alicerce
ideológico do nascente movimento que pretendia derrubar o Estado liberal para,
num passo seguinte, apossar-se do poder.
Com relação ao programa de dominação israelense, podemos inferir que não
existe nada de novo em relação ao que já foi registrado anteriormente pela História.
O uso propagandista de uma estrutura binária ideológica – o bem e o mal -, para
influenciar e manipular a população é uma forma bastante conhecida e sobejamente
utilizada por líderes mundiais, em diversas ocasiões. Os Estados, os partidos
políticos, os demagogos e as elites dominantes sempre utilizaram esse arquétipo de
pensamento para impor seus interesses.
O racismo, por sua vez, é a apologia mais funcional para todo projeto
antiético, desde a justificativa grega da escravidão e a submissão terrorista da
população indígena americana, até o Holocausto judeu e os inesperados êxitos
eleitorais de Adolf Hitler na Alemanha.
O uso político-sociológico-eleitoral do anti-semitismo judeu termina com a
conversão do movimento nazista, em janeiro de 1933, em Estado fascista. De um
incipiente movimento coadjuvante à instalação de uma cruel ditadura, os fatos
ocorreram celeremente, metamorfoseando a nação alemã em um complexo
ideológico-jurídico estatal, destinado a cumprir duas funções principais: excluir a
população de descendência judia da proteção da constituição e, conseqüentemente,
permitir a apropriação de suas riquezas.
A “arianização” das propriedades judias, ou melhor, a apropriação indébita
de fábricas, bancos, estabelecimentos comerciais e demais valores produtivos da
classe empresarial com descendência judia, bem como a marginalização de
profissionais judeus em cargos de administração pública, atividades educacionais,
médicas e jurídicas, entre outras, liquidou com a incômoda competição que
anteriormente havia com os capitalistas alemães e permitiu o enriquecimento
parasitário do Partido, de vários estabelecimentos bancários, de “camaradas
nazistas” bem colocados e de instituições do Estado.
O desmesurado crescimento do Estado nazista exigia enormes fundos e,
evidentemente, a expropriação dos ativos judeus constituía o caminho mais rápido
para satisfazer as necessidades econômicas do leviatã, produzindo a primeira onda
de “limpeza étnica” promovida pelo Holocausto.
Na Alemanha, a exclusão social-jurídica do povo judeu foi acelerada, no
ano de 1933, com a legislação que obrigava a população definida como judia a
57
17º Batalhão de Polícia Militar
ostentar uma estrela amarela (estrela de David) em suas vestes quando saíam de
suas casas. Tal discriminação racista foi institucionalizada, inicialmente, pela Igreja
Católica na Idade Média, quando, juntamente com o estabelecimento dos guetos
judeus, o Vaticano decretou que a população judia deveria portar um boné amarelo
ao transitar pelas ruas.
A terceira fase do Holocausto tem início com a invasão da Polônia pelas
tropas de Hitler, e, em 1942, os nazistas resolvem aplicar a “solução final” à
população judia européia, ou seja, a sua eliminação física. As técnicas de matança
utilizadas anteriormente, como a fome, as enfermidades e os fuzilamentos, não
foram suficientes para atender aos ímpetos do ditador, razão pela qual se planejou a
aniquilação em massa com a fria lógica ditada pelos próceres do Partido. O campo
de concentração de Auschwitz, onde milhares de seres humanos foram mortos pela
inalação de gases tóxicos e posteriormente cremados, constituiu o paradigma dessa
insana e macabra ação.
Ao estabelecermos parâmetros comparativos entre o projeto de
dominação nazista de Adolf Hitler e o sionista de Ariel Sharon, verificamos existirem
evidentes diferenças. O Estado sionista, obviamente, não emprega campos de
extermínio em massa, não pratica uma política de genocídio e não constitui um
Estado fascista, mas sim, uma democracia burguesa liberal. Entretanto, os
elementos coincidentes entre ambos os projetos são igualmente evidentes: a
essência das políticas de Hitler e Sharon estão calcadas, fundamentalmente, no
expansionismo bélico. O Lebensraum de Hitler era o leste da Europa e, o de Sharon,
a Palestina.
A apropriação deste espaço vital aos palestinos se realiza mediante a
“limpeza étnica” dos territórios ocupados pela força militar. Os métodos utilizados
para tal fim são, essencialmente, os mesmos empregados pelas forças de ocupação
de Hitler, ou seja, a destruição da base econômica do povo palestino; seu
confinamento em grandes guetos amuralhados - dos quais não podem entrar ou sair
sem a permissão dos conquistadores - o uso sistemático de assassinatos políticos,
execuções extra-judiciais, torturas, destruição de propriedades e castigos coletivos,
entre outros.
A bem da verdade, é importante enfatizar que a política estabelecida por
Ariel Sharon com relação ao povo palestino, viola os preceitos do direito
internacional estabelecidos pela Organização das Nações Unidas, e ferem os
princípios mais elementares da sadia convivência internacional.
O núcleo ideológico do sionismo, representado por Ariel Sharon e que é
compartilhado por amplos setores do Partido Trabalhista, fundamenta-se na noção
de “povo eleito” e da “Grande Israel” bíblica. Esses são, fundamentalmente, os
equivalentes teológicos que se equiparam à ideologia da “raça superior” e do
Lebensraum dos nazistas.
Da mesma maneira que, no século passado, as potências ocidentais não
empreenderam nenhum esforço coletivo no sentido de impedir o extermínio histórico
dos judeus, a política sionista conta, na atualidade, com o explícito apoio do
Governo estadunidense, da silente posição da União Européia e da inação da
imprensa mundial. Evidentemente que, sem esse imprescindível apoio, a odienta e
criminosa política de Ariel Sharon com relação à Palestina não estaria sendo
implementada.
58
17º Batalhão de Polícia Militar
Israelenses e palestinos parecem ter olvidado que a sadia convivência
entre vizinhos e a inter-relação econômica é um fator sinérgico e impulsionador do
crescimento e demonstração de maturidade política. Lamentavelmente, estão agindo
na contramão da História e, conseqüentemente, devem aprender a conviver com a
idéia da própria extinção como parte de uma realidade cotidiana.

TEXTO 05: DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem
conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o
advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer,
libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do
Homem;
Considerando que é essencial a proteção dos direitos do Homem através de
um regime de direito, para que o Homem não seja compelido, em supremo recurso, à
revolta contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações
amistosas entre as nações;
Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a
sua fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da pessoa
humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram
resolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condições de vida
dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em
cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efetivo
dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da
mais alta importância para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos
Humanos como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim
de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente
no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito
desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem
nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e
efetivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos
territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1° - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em


direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade.
59
17º Batalhão de Polícia Militar

Artigo 2° - Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades


proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de
raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem
nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além
disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou
território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de
soberania.
Artigo 3° - Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4° - Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o


trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5° - Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis,


desumanos ou degradantes.

Artigo 6° - Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares,


da sua personalidade jurídica.

Artigo 7° - Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual
proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8° - Toda a pessoa direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais


competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela
Constituição ou pela lei.

Artigo 9° - Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10 - Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja
eqüitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que
decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em
matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11
1- Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que
todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
2- Ninguém será condenado por ações ou omissões que, no momento da sua
prática, não constituíam ato delituoso à face do direito interno ou internacional. Do
mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no
momento em que o ato delituoso foi cometido.

Artigo 12 - Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua


família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e
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17º Batalhão de Polícia Militar
reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção
da lei.

Artigo 13°-
1- Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no
interior de um Estado.
2- Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o
seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14°
1- Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de
asilo em outros países.
2- Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente
existente por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos
princípios das Nações Unidas.
Artigo 15°
1- Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de
mudar de nacionalidade.

Artigo 16°
1- A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir
família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o
casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2- O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos
futuros esposos.
3- A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à
proteção desta e do Estado.

Artigo 17°
1- Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade.
2- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18°
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;
este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a
liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em
público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19°
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o
direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir,
sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de
expressão.
61
17º Batalhão de Polícia Militar
Artigo 20°
1- Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2- Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21°
1- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios, públicos do
seu país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente
escolhidos.
2- Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções
públicas do seu país.
3- A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve
exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio
universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que
salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22°
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode
legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de
harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23°
1- Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
eqüitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2- Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3- Quem trabalha tem direito a uma remuneração eqüitativa e satisfatória, que lhe
permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e
completada, se possível, por todos os outros meios de proteção social.
4- Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar
em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24° - Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a
uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25°-
1- Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua
família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e
tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na
velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias
independentes da sua vontade.
2- A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social.

Artigo 26°
1- Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos
a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é
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17º Batalhão de Polícia Militar
obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos
estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu
mérito.
2- A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço
dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos
raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nações
Unidas para a manutenção da paz.

Artigo 27°
1- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios
que deste resultam.
2- Todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer
produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28° - Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano
internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e as
liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29° -
1- O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o
livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
2- No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão
às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade
democrática.
3- Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente e
aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30° - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de


maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se
entregar a alguma atividade ou de praticar algum ato destinado a destruir os direitos
e liberdades aqui enunciados.

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