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Jaa Torrano O SENTIDO DE ZEUS O MITO DO MUNDO 0 MODO MITICO DE SER NO MUNDO ‘SBD-FFLCH.USP wit TLUMAy/URAS Const sa Tori Copyright © desta eg: ators tines Lda Revise! ‘Ata Pala Cardoso composi: altri Arbos Murdos Ian 95-7521.0222 DEDALUS - Acervo - FFLCH 20900104001 1996 EDITORA ILUMINURAS LTDA. Oscar rie 1235 1426-01 «SioPslo-SP Tel: OI RS2A284 ax (OL}2825317 SUMARIO | AONTOLOGIA INSITA No MITO Do MUNDO 1. A Questo Decisiva da Ontlogia Mice 2,0 Mito das Musas 5 1 Dds 05: he to Aganoa Ia. 4) 0 Devir dos Deuses, a ‘Imager Imitante eInitado na mites, {. OMito de Promete, 8) Prometen de Curve Penst 1/0 Grande Framento dos Deuces 1] OFALANTE, MUNDO E SUAS FALAS 1, Posdon no Plano Terese. 2 A Initagio Cote ne 5.0 Muli es Iovibidade san 4) Os Impasss da Passagem — 1) 0 Doloso Sent de Dé nn |. Mito Imager no Conhecimento dos Deus. en Hil MIVO E CULTO Na TRAGEDIA, 13 1s a 28 3 50 50 56 so n 81 4 100 13 1. 0 SENTIDO DIONISIACO DE ZEUS [Nos primis, ateofani se dé como ofundamento de todas as possibilidades prosentes, passadas e futuras que pars os mortas homens no plano terestre se abrem. Nos primérdios, manifesta-se ‘ fundamen de todas as determinacbes do sere assim de sua ver- dade. Nos primérdios © como oxigem do teat, trigico e cOnico, tmanifestase o aspecto espetacalar ¢ hidico pelo qual se df a conhecer ode Zeus Dinniso que por natueza& com pereigo Devs ‘omaistervel para ments oss benSvoo. (GURIPIDES, Bacas 85955) ‘A tagédia na Grécia pertenee ao dominio do culto © enquanto tal tem origem no mito de Dioniso. A origem mitiea do géner0 ttigieo reside no devir do(s} Dens(es)cujo ser € de modo a mos- tearomse lgicae espetacularmente, “pois também os Deuses gos- tam de brincadeira”(philopatsmanes gar kat hot Theot, PLATAO CCrétlo 6c), Os Deuses Olimpios em geral parecem comprazer-se com epifanias espetaculares de modo a parecer manifesto que, se os rnomes dos Deuses Olfmpis significam algo como em verdadesig- nificam, nfo mais podemos ir buscar nenures sento nesse carter ‘manifestamenteIidico eespotacular da teofania de Deus(es) Ola pio), origem do teatro, trigico e cmico, na Grécia (Quando a origer do génerotrgi se diz “mica”, énecessétio entio ponsé-lana perspeciva du ontologia miteae isso a tigor diz entender essa origem no sentido da manifesta unidade de o genero sere devir desde a ilaténcia de Dionso. Nas Baas, tragéia de Eur‘pides assim intitulada conforme nela figuram os integeantes do coro, mostra-se a ambighidade funda us lo nome de Zeus igurada também nas variagbes singu- Juv plural e maseuino-feminine do nome pripeio aa Deus Bakkhas (vernsculizado “Baco") e comum a seus eultores Bakioit-ai (ver- ‘veulizad “Bacos(-as)” a fim de que se mantenha em vernéculo 0 jogo semfntico dessus vasiagées). Se nesse jogo sematica ene uakklios ¢ Bakkhoi-ai), “Baca” & “Bacosas)", e a0 modo jocos0 de © Deus ser ilatente, mestra-se a ambighidade fundamental do nome de Zeus, o sentido originante deste jogo s6 se revele em sua verlae original na peespectiva da ontologia mica, Para Hesfodo, a ambigtidade fundamental do nome de Zeus se ‘mostra também como duplicidade da fling de “Pastes” (Moira) que a Teogonia 8 uma inelui no extslogo dos filhos da Noite (7 217) ¢ no das nipeias de Zeus (F904). As “Parts” sio desfznios ‘de Zeus e assim naseidas das mipcias de Zeus ede "Lei" (Théinis) ra mesma medida em que Zeus conforma o§ seus imperectveis desfgnios as mesmas “Panes, filhas da Noite nascidas por eiss- paridade, Zeus venera a Noite imovtal domadoca de Deuses e de homens (il. XIV 259) e por isso nfo Ihe invade o dominio, mas mantém-se Zeus mesino de modo a ser ele mesmo o seu proprio lugar e dominio, e assim as “Pates” pertencem & uma ao dominio de ser (ilhas de Zeus ¢ de “Lei") ¢ a0 dominio da negagio de ser {geradas por Noite sem nenhum coasbio); ¢ assim as “Partes” ‘definers em cada cas para cada se a paticipagto de ser como. ter 0 nfo-er dos bens dos males. A ambigidude fundamental que fiz toda afitmagio implicar @ negagio € dita para o pensamento ‘eog6aico também na dupa iliaglo das “Parts”, Para Homero, « ambigUidads fundamental do nome de Zous se mostra também no episédio da morte de Sarpédon. Quando corago de Zeus tem dais desejos a agtar-the o espiio, ele con- ‘versa com Hera sua inne esposa, ouve da soberana de bovine viso Heera as ponderagdes do perigo que ® Zeus 6 aguardaria se sub- teufse 8 morte o seu filho Sarpédon ¢ assim o Pat dos homens e dos DDeuses deixa que sea para Sarpédon a soite desde outta dada 20s ‘mortais homens (fl. XVI 441), Para Plato, a ambigtidade fundamental é sempre e sobretudo @ 4o plexo que PIatio nomeia “partcfpagio”: méthenis, © também imilagio": mimesis, ¢ ainda “contunidade”: koinonta, que & das 16 formas intligiveis entre si mesmas assim como entre formas intligveis e imagens sensveis, ‘A ambigiidade do plexo reside na unidade fundamental cuj sor ambfguo ambiguamente se explicta com toda a sua simplicidade de ‘ser $6 a unidade do uno complexamente unificante, ie. a unidade cujo nome para Plato 18 agathén — bem e mal traduzido 0 Bem" [Nas Bacas de Burfpides, por muitos indfcios indiea-se em sua amb(gua simpliidade 0 plexo do Deus imorel da figura mortal, ( mais notivele assim primero indicio 6 a transmotagao da forma sensfvel, com o que Dioniso parece compeazerst Nas Bacas de Eurpides, 0 prologo € a primeira teofania: 0 p= Jogo no somente narra o mito de Dioniso, mas 6 0 mito mesmo de Dioniso que, tomando-s iatente como espetéculo para espectado- res, sconteos como teatro. Dioniso mesmo, present, diz a fala em ne 0 sentido dionistco de Zeus & manifesto e assim se manifestam (0s desfgni divinos come destino dos moxtais — personagens do rama, als, espectadores do teatro. Neste prlogo, 0 Deus primero de si mesmo declara vir de Zeus como filho de Zeus, e esse principio doutrinal reterase 40 longo esta tragéi, explicitando-se no plexo do ser divina o da figura ‘mortal o sentido dionisfaco de Zeus. (0 sentido do ser divino, na perspectiva aberta pela filosofia de Plat tomaseacessivel aos morals homens sob a designapio de eidos e idéa, names (ambiguamente nevito € feminino, ie. ambiguamente inanimado e animado) do ato de ver ede ser visto (dein) cujos formas nto noess{veis aos sentidos corpéreos, mas somenteacessiveis&inteligéneia(ndesis), 3 razio(I6gos) e 2 cién- cia (epistéme), so ditas “imoris” © “divinas” justamente. por ‘erem-se tomado, para aflosofia, 0 aceso preferencial ( tendente «a tomarse excludente dos demas modos de aeessa) 30 sentido do ser divino. Ora, este ser divino, para a filosofia, simplesmente se diz “ser” (e6n/ én), quando a palavra Theés toma-se veladamente ‘abscura como o legado de outra época. Entretanto, & na grande €poca do mito do mundo que vivem os grandes dramaturgos _gregos: 0 sentido do ser divino para eles € acessfel preferencial= ‘mente aoe sentidos imediatamente sensiveis, dada. simplicidade do plexo do ser divino e da figure mortal. ut © primeiro indieio da simplicidade desse plexo — 0 mais hotivele por isso primeico—6 a transmutagto da forma seasvel, com que Dioniso parece comprazer-se. Bnize outros indicios, docorrentes do mais notivel © par isso primeiro, hé a impossivel petseguigto ea impossive pristo do Deus, perpetruda por un mor- {al que assim entra numa relago muito possivel eom © Deus & nessa relago tome-se mais que simples mortal, ao prego de sua (0 como homem moval. Mais se clarficaria para n6s a implicidade do plexo no qual se explicita 0 sentido dio. sfco de Zeus, se nessa perspectivarelssemos 0s textos da ilada V1, 123-43, dois Hinas Homéricos a Dicniso, e Bacas de Euripides. ILIADA VL 119-43 Glauco hod Hipsoco, € ihe de Tideu pa tea ambos crinkam &vidos de btalhas ‘© quando quai estavam indo um sobre 0 ou, imi ieterroou o rita bravo Diomedes Quem és, 6d frente, ere mors homens? pois fot ¥i jamais na buala gloi- bores ances, agora muito reme vers dos curs todas ‘Porousai, minis lngissombra Inga esperase, flhos de inflzes assim defn a nina fog ‘Seno entanto algun ds Imortisdosoeite do Cu, lo eu poderia combate enna Deuses east, pos nem filho de Cava, o forte Lcurgo Fongiviven, paruerivalizou os Densescelestes: ‘una ver alo as itrizes do Loven Dion ‘no magsdivino Juvenk elas tas juntas saceérios vee po co por hoi Licup feriascom aguilh, e Dinisoapavorado ‘mergubou ma sas onda e Notiz acothew-o tuto no seo, fot tremor 0 teve por sitar homem oss veram do os Deuses dce-viventes © -locego flo de Cro e no mas longi vive porter aherecido a todos os Devses. [ioc as Deuces vetursos ana combatr, masse & dos most que laradofrto comer oxim-e gue mais el ira fm da na, us HINO HOMERICO VII —A DIONISO Em volta de Donia, de Stele magnisigne o iho Temibeae-e co luz ma praia do sal itive soe o quel aa imagem de jovem hones noprimeco Vigo e bela ciconvolvia a eabeleira ‘sombeae manto sobre fortes ombeo le ina puptteoe répido da nu de bons banens homens Piztas adiantaramse veloes sole o vneo mar, ‘ram timenos leou-0s malign lt, quando 0 vim acenarm enti rpido salar, de sbitoapararam, pseram-no em sn nau, jbilecs em seu corgi areca es ser iho doe mirdos poe Zeus eit asim quseram penta com exes doloosas moo seguravam cain, vies de loge cfam ths mos eds ps, ele com dove soso conemplava com olhas sombre, as pilot, quanto 0 nto, 005 es companhsioscoeamou e ssi flo Numinosos, a gue Deus agu aarastes prendeses paderaso? Nem pode onavio vos lvarbenfico ois ou Zeus este, ovo de argnieo ao Apolo, ‘0 Posdon, porque no aos moras homens simi, mis aos Deuses que to palo Olio. Bil deixenolo sobre aime tes nega {i.e no ances mlosobecle que no por cera ‘site sobre nis doloosos ventas e mtg io “Assim fos eo she dee em heonda payee: —Nominoso, v8 o vento ea as velas do navi, ‘omadas todas as armas, ist lis € para homens, pretend partir ou pra Hit, ou para Chie, (0u para os Hiperbecos, ou para mats loge poe fim did um ia amigos cele etodoso seus bens ‘ee irl, qian olga em nce Nun. ‘Assim disse evel vlaiaramse do navi, oprouo vento o mio. velaeem volta mas fetesaram-se logo luiram-es mirados tos ‘iho prime através do velox nao negro ‘sav potiel sofa bem olenteeerguirse odor ‘morale mirago pegoua todos os nau a0 vem jm dice da ven estes ge toda ‘viel ago ale suspendian:se muitos ‘chose em vols da vela enolou-se a negea hers Turia de lores egraciosoo fru solergueuse 9 «tc as cavihas ina coroase quand vicam ‘navi eno dravarte mandavam 9 plot vel sole proae ganda eno reo Seles urs ee fez de peseog0 Veloso ao luz os Sais ‘lesen ardent leo sobre o alto Banco tere epee olant pam pop fram fem yola do pleto que prademe espa taka estacaram-eatuidos, ee eid ergue-se {agate o chef e para fora a0 eit am pate todos una pus, quando vn, no sal diving © golinhos nasceram, mas do lot eve piedade fe dheeve see f-lo se todo feliz diseapalaven: —Corage!, divi guia, gato 20 mea Sri, Sou eu Dioniso masnifremente que gerou me Cada Sémele do Zeus em ator desposts, — Szadogoes, iho de Stmele Formas, mem hi como et esquecido com dogura mundiicarse 0 cant HINO HOMERICO XXVI—A DIONISO “HedercineDionso magnifemente principio a cantar {de Zeas ede Semele magissigneoespléadido lho ‘ve utiam as Ninasdebeoseabeos quo do Roi Pa ‘seoleram-no em ses seis eeuidadosas rian os vales de Jovem eee erescau por vontade do Pai fem bem cent gua conumeraro en os iors «quando as Deusasonutirum mult hineado enti pevagava através do rborosas moradas ‘aera ena aurora enndensado las sever juntos Ninf, ele as guia freente tem intel selva, “Tu asim te saudamos, 6 mlicachsado Dios, dns pore sandarmos is Sezses out Yer vemos eas Sazes outa ve aos miplos erent. Nailiada VI, 119-43, a fala do grita-bravo Diomedes ("Cuidado ‘de Zeus") demoastra a porplexidade ano a figura de umn guerseto nfo visto jamais antes na batalha glorificadora de mortais. Por esta perplexidade, & lembrada a perseguigio das nutrizes do Lovco Dioniso por Licurgo (“Ato-de-Lobo") filho. de. Driante ("Cat- ‘yalho”): essa perseguigio busca 0 seu fundamento no equtvoco que 6 v8 a figura mortal da forma imoral e suseta assim o desvela- 120 mento da forma imortal de. modo desfavorivel 2 figurago que se cega A divindade da forma como sio eegos Lieurgo (ll, V1 139) e, aligs, Penteu: nas Bacas, Pesten obstinamente nfo vé a divindade 4a forma de modo que por fim ve vazias (he, sem homens) as ras pelas quis o Deus transmutado da forma imoxtal em figura tating ‘-conduz — para o ts0 de todos vestindo-o antes como miler — ‘a sacrificio do qual 6a vitma sem que ainda o sais, A perplexidade de Diomedes, ante a figura de guenero antes ali nfo vista, de certo modo corresponde 2 intelgéncia (ndesas, HLH. VIL 15) do piloto que conclama seus companheiros a nio molestarem a figura do jover simil aos Deuses. Licurgo e Penteu figuram relagdesinflizes com a forma isortal; 0 plata, que Dio- iso fer todo feliz (H.H. VIL $4), ¢ 0 cantor cultor das Musas “quando as Devsas © nutrram (a Dioniso) multi-hineado” (1. XXVI 8) figuram relagées flizes com a forma imortal.Infelizes © felizes essas relagSes so sempre revelugbes da forma iota, sendo infelizes ot felizes segundo a atitude dos mortals homens ante forma imotal ‘A liada VI, 119-43, insiste no vinculo que une Dioniso © Deuses celestes: Lieugo 6 punido pel flo de Crono, nem mais iveu, quando aborreceu a todos os Deuses imorais, como petseauidor de Dioniso, Os dois Hinos Homéricos a Dioniso insistem no vinculo que une Dioaiso e Sémele magnssigne e Zeus: “magnissigne” diz 0 maximo signo de Zeus que df a sina de infalfvel vitria, A conterplaco de Zeus em seu splendor, a qual ‘Sémele por parte de Hera dese e por forga de palare dad obtém. de Zeus, 6 tago decisivo da sina de Semele magnissgne ea causa 4e Dioviso sendo filho de mulher moral ser Deus imoral. A con- templagio de Zeus & para Sémele a mais completa unio com Zeus Pai e assim o espléndide filo nasce de novo da coxa de Zeus, para ‘que méxime comple em sua ambfgua unidade a unido do plexo em que a 86s 56 se da contemplagio da ambfgua vnidade do uno ‘unicamente unifiesnte no plexo de ser divino e de figura finita, O nome “Dioniso” (Didnyzor) di, para os gregos antigs, "Fillo de Zeus" (ef, Bacas |, 21, 466, 350, 859); as Ninfasnutrizes de Dio nso chamadas Dysai ("Donzelas"), a regido delas chamada Nyse Cover”) eo templo delaschamado Nyseion (“Javea”) tratiam o 121 Caysos: “Joven que compte 0 nome ‘de Dioniso, “Filho de Zeus No Hino Homérico VT, 0 piloro, ao notar a imoral forma na imagem do jovem lomem (que com dove sorriso contemplava com ‘olla sombrios 0s seus aptores),interpea seus eompanieitosrap- lores com 0 epiteto de Daiménioi (°Numinosos"), pois notando a otal forma na imagem finita compreendo que 0s seus compa nheirosentraram em cera relagio com os des{gnios os indiios de tum Datimon (*Nume”) e compreende tamibém que ssa relagao com Name reins ec ti a ti UIT (0s indicios que o piloto percebe permitenvihe iniear em qual dominio divino seus companhelros entra (ou Zeus 6 ete, ou 0 de augateo a0 Apolo, ‘ot Posdon, pore ao sos mots homens 6s, mas aos Dewses que tém opalicio Olimpia, NIL 1935) Dionisoéfitho de Zeus, imo de Apolo (e compari com ele o calendévio hearoligico de Delos, em que nos meses de inverno canta-s 0 diirambo dionsiaca e no esto do ano 0 ped apolinio),, junto com Posidoa, mas a seu préprio modo, Dioniso tem esteito ‘inexlo com Reta ("Fivéneia"), mie de todos os Deuses (et. Bacas 59, 79,130; HLH. XIV), ‘A resposta do chete dos pi as ao piloto ¢ “hedionda palavra (soygerdi..jthoi, HLH, VII 25), porque ecoa cegamente os terms ‘numinosos da fala do piloto, sem percebero sentido dees, eassima, “pedionde palavra" mostra & edionda cegveira na qual 6 cego para o falante o sentido numinoso dos incios numinosos (ef. a cegucira de Licurgo e de Peateu; como esses, 0 chefes6 v8 o sentido pat cularizante da individvatidade, cogo ao sentido totalizante da iden- tidade). Datinon (*Nume") designa algum Deus em sua relagio com algum destino paniular que esse Deus preside e que, dado por Deus 0 signo da sina, cumpre-se. Dioniso, como Deus das festas sazonals de invemno, da seiva vegetal e do vinho, do frémito ds flo resta,e do proprio comportamento cultual que empolga os mortais 12 homens, Dioniso diz de si mesmo “surgido aos mortais Nome que (Semele) gera para Zeus” (Bacas, 42) (Os indicios cujo sentielo naminoso opitoto percebeveritieam-se “anunciadores de novos indfcios numinosos cujo sentido apresentie es marinheros rrengs a0 modo de “miragfo” que 0s capture a todos 20 vitem 95 “mirados aos” que se thes Tuziram; e assim, & preseuga numinosa se ainuncia pela Wansmutago espetacular das Formas sensivels na figuragéo visual, gustativa,auditiva e otfativa do vino que (2) primeira através do velar navio negro ‘iavpotiel soni bem olote eens odor Jmol.) (HH TESS) (0 vinko vsiondro, a videiracheia de eachos, a negra hera Inst sigsa de flores, 0 grcioso fruto, as coroas forescentes das cavilhas, f leto, usa, 0 pavor que apavora os perseguidoresceg0s, 08 gol Fino ea besitude toda do pilotofigoram a presenca numinost da mortal forma, (0 Hino Homérico XXVLealebra0 “hederierine Dioniso magn fremente",e deserevendo por indiios sensveis « presenga nami fos, mostra © vinculo que unifiea o dominio de Dioniso, 0 das ‘Muses, o de Apolo e 0 das Horas (‘Sazbes”) como expliciagbes do sentido de Zeus ioniso ¢ Apolo sio Mousegétes, “corfeu de Musas”, Dion ‘guia at Mss as quais multi-hineado 0 nutstam (éthrepsan, H.. XXVI7) como o nua as Ninfas de belos cabelos (réphon, ib 3), num vate charnado “Jovem” (Nyse, ib 5), Assim mutihineado (olsomnon) 0 Deus pervaga através de “arborosas moradas” iyléentas enatlous, ib. 8), “condensado na hera ¢ na lauréced” (como também Apolo tem na aurcea sua teofania arbres): Ninfes putrzcs e Detsas Musas o seguem,¢ como signo de Dioniso 0 {rtmito (brdmos, ib, 9) domin a inefive flores, Na saudagao a ‘Dioniso multicacheado, o eantorcultor das Musas roga-the dar-nos, ‘ands que o saudantos, outra vez virmos ts SazTes e ovtra vez vir- tos aos milliplos effeulos das Sna%es; cis um modo muito coe ‘ro dese pedir longevidade, O mesmo vinculo de Dioniso © das ‘Muses ea mesma splica se Item no HH, VIL 34, 123 © pivodo das Bacas de Euripides (vv, 64-196) parece, na opi- ni de grandes hlenistas,imitae um auténtico hino cultual de Dionso, pis assim se apresenta nominalmente definido e metrica- mente stmado eoaforme a tradigzo colwal, AS associagbes, que esse piodo se fazer, do culto de Dioniso de cultos asst © ‘retense, poderiam ser origins da heranga indo-européia eomum alclenos,tcios e filos (© coro de Bacas se aresenta como uma procistio de mulheres ‘que das montaubas figs para as amplas ruas da Grécia vém tr- zero Dioniso, Fremente (Brémion) Deus fho de Deus. ‘A primeira esofe canta 2 beaitude hedsricoroada do cultor de Dioniso: 6 fee que por bom ume cosfitos dos Deuses vu, ssnffen seu vver, le no aso asa vida ‘as montana 6 um Baco em suataspusicagses, ctrabalhos de atte Grande Cibele soa sae, abandir ato oti ‘ccoroade de hers calor de Diniso, (cas 73-82) (0s rtos dos Deuses (telestis Theta) si “miradosat0s" (ha ‘mara érga, HH. VIL, 34) cuja visto confere ao vidente um coaheci- mento decisivo das imortais formas do mundo, um eonhecimento ‘que decide definitivamente 0 sentido da vida mortal do vidente, ‘desde que’ mortal entrou no dominio da forma de que hi “miados ‘alos assim numa relagao determinada por essa imortal form. A ‘beatin do feliz convvio com os Deuses & um tema tradicional e freqlentena poesia grega; a beaitude dinisfaca faz parte das fes- 8) DODDS, ER — Awe Basho eed with hrocton and comments ‘Oko Aline Cheon Pres, 1979p. 7 — Dlg, Ke Hera, 1m tas sazonais do calendério agricola dos camponeses da Atica, na trande época do mito do mundo. ‘A primeica autitrofe cara 0 duplo nascimento de Dioniso: do ‘entre de mie metal eds coxa de pai imortal, associando-0 2 teok- hia tauredrmia © & coroe de serpentes enelagadas das Loueas col toras do Deus 'A segunda estrofecelebra Tebas como lugar de nascimento da mile de Dioniso e descreve a presenga numinosa nas coroxs de hheras, ao surgimento da verde bri6nia de belas bagis, no empolea- ‘mento de quem se torna Baco com galhos de carvalho ou de abeto, ‘vestides as pintadas nébrdas,cingidas as rangas braneas de Item volta das fsteas soberbas — ¢ assim & santo, quando toda a terra or um coro e Fremente (Brdmias)levarotiaso A montanha, onde Ing uma maltiio de mulheres longe das rocase dos teres por agui- Igo de Dioniso. ‘A segutda antstrofecelebra Creta eomo lugar de nascimento do pai de Dioniso e desereveo culto dos Adolescentes e dos Coviba- tes, 0 culfo de Me Réiae 0 coros de Siitos Louces como festas sionisacas (0 epodo canta 0s ritos da avetbasta © da omophagia © seus Visionérios prodigios: nas montanhas, corte, vestido com a nébridn sagrada, a cagar 0 tangue de bode abatido por amor de ‘comé-o cru, eis nosso guia o Deus Fremente,evol!Pelo chi fi Tete, Hi vino, Mui mel necro; a névos é come de ineenso sro Bo Baque, aerguer 1 nea shams da toca, leste a sua hstea sla ‘a corida ens ares a prowoear eas ‘a compelicom grit ‘ange aos oa mole wanga. EE imlneoa evo reme asim: 6 vind, Baca 6 vind, Bacas! (Bacas 145.53) (© hino conch com wma vivida imager da beatiude dionistaca ‘como o vivo bilo de ser vivo: 125 Di pao lpr coma mie fo paso em pt de il pcm sos Baca (aces, 1548) ‘A beat visionéia figura-se na imagem senstvel da danga Iniquiew durante a qual fui lite pelo cho, vinho e mel nectrio © comno de incenso sifo 6 a névoa. A beatitude vidente e visivel da imagem figura ¢ forma fundante e fundada do Deus como a feliz tune de ser divino e ge ser humano, © hino constituido pelo prod das Bacas most como a pre= senga numinosa de Dioniso pode ser para.os mortals omens a ais benévola oa mais benétie, Em geral, © coro trigico se mostra como 0 que hié de mais ‘humano: composto em Atenas exclusivamente por cidados de Ate- has, 0 oro pensa nos termos préprios dos mortals os limites pro- prios dos mortais em suas relagdes entre eles mesmos dentro do horizon politico da pals em suas relagbes com os Deuses no ho- rizonte tanscendente da transcendEncia. O coro trigio € detemi- hao em sua extremada humanidade por recuar diante © antes da atitude que consitusa a esséncia de ser hers perante os Deuses (0 coro das Bacas, por Ser o que hé de mais hurmano —a saber, eres mortais em completa entrega arupeio de um apelo cujo sentido as ulttapassa —, figura feliz relagio com o divino, nos tet ‘os préprios dos mortise asim nos limites priprios aos morta. [Em geral, as personagens que falam ¢ agem entre un © outro coro trgico figuram um instincia de supra-humanidade determi hada por uma relagdo com os Deuses imoras que frequentemente ‘lrapassa os termes, os mites, as convenigncias e a compreeisio pr6ptios dos mortals homens: a instineia suprachumana de ser hee, © assim ter um poder que ultrepassa os Himites da ida dos homens mortais sobre a terra negra. ‘A cesstncia de ser herd determina-se mais oxiginalmente pela proximidade das formas transcendentes da vids dos Deuses imor- fais que pela transoendida finitade da ida Jos homens moras. A transcendéncia do transcendente di fundamento 20 que assim & transeenido,e assim os hess podem dispor de um poder decisivo sobre a regifo em que se encontrao seu thmulo, ose sinal ea sua 126 riemétia, sendo entio necessério concitiar a sua benevoléneia Iediante as heroikat tia, “honras herds”, sucifcis finebres ‘consagrados a Deuses eros a mortos que se revelaram herds. ‘As dats personagens que aparecem primeiro no primeiro eps lio das Bacas so, a rigor ¢ em Iidimo sentido, herds: 0 adivinbo ‘Tinéses (erdskopon... Teresa, “sonda-signo.. Signétio", Bacas 248s) eCadmo, fundador de Tebas. Vestidos cm Bacos, esses prs- tinos e venerives hersis tebanas testemunham a antighidade © a autenticidade do culto de Buco como pitas tradigges que coetness do tempo temes (2). (Bacar 201) ““Miraosatos” de Dioniso: 0 cego adivinho aparece sem 0 se teadicional menino guia sem esse guia como se enxergasse cami- ‘nha para ss portas do palicio de Cadmo; os ancies sentem-se sem fadigae ispostos« andar e a dangar como joven; enretanto, Pen- teu, 0 primo de Dionisoe eiteradamente dito filho de Ektfon (Vi perino”), parece ser cego &esséncia de ser Digniso filho de Zeus © enredo deste drama consitui o amibiguo percurse de Penten até consumar-se a revelagéo da idemtidade que 0 une a Dioniso como o aspecto sombrio e — até que se consume a revelagio da Jdentidade — inconsciente de Pionis, ‘A ambigtidage do percurso de Pentex reside em cocxistrem nele um sentido —a saber, o ico que, como cego & Divindade do Dioniso, Penteu vé — e outro sentido — a saber, 0 sentido sacrifi- ial que Dioniso,cuidadoso da cegueira de Pented,leva-o a vet 0 reconhecimento do sentido muminoso de Baco por Pentew ‘disse em dominio de aparente similitude e de apaiéncia dissimu- Tante como uma relagio infeliz de Dioniso com Penteu; a causa esse infelicidade reside na attude de Pentew que uma se revela a ‘numinosa sina (e assim o ser numinoso) de Penteu ea face somibria e Dioniso (a qual sempre se mostra aos que se detiveram na tude de Pent), A ‘tragSdia, em geral, constii-se de modo a expliitarem-se ‘quatro pontos de vista, desde os quatro graus de ser ede ilaténcia e de conhecimento, correspondentes As quato insincias nomeadas ‘com os nomes dos Deuses, das Numes, das herds e dos figurantes 127 sh cao — no coo tego sempre se figura a condo existencial dio omen (aida quando si0 Deuses of Ggurantes do coro: por ‘xeiplo, no Prometer Prisionero de Esquil, vers 8885), © ponto de vist divine, nas Bacas de Eaxipides, most-se isle pulogo no prio se explica motions consideragao tivin do posto de vista herbioo e ignorante da divindae dos sina vinos, quand Dioniso dz das ims de sua mie Sémele: lnmas de minha mie, a que meacsdeviam, Dioniso diziam no ter sugide de Zeus, mele, fia mer por algum mort, Zeus relia fas parte do tla, sofismas de Cadmo, pelos guts a matou Zeus, ladeavam, porque ment as nips, (2e0826-31) ‘A mesma interpetagio da mesma aparente aparéncia ecou na fala em que Penteu fla de Baco: squee diz que Dioniso ¢ Devs, quel diz costrado a coxa de Zeus ‘quem are todo nas ze ulminares ‘com a mle que nei de Zeus meni, (Baca 2425) Contra essa imerpretagto cega a divindade dos sinais divinos © contra esses mesmas que Ihes ignocam a divindade, € necessécio ‘que a cidade de Tebas, onde corre essa inerpretagko da aparente aparéncia, compreende nio ser inicida nos Baqueumas, e que Dio- nso se pronuncie em delesa de sua mie, mostrando-se as mortals ‘como Nume que ela gera da ufo com Zeus (Bacus 398s) AA Ignorineia (Agnomosfnan, Bacas 885) hontada por Penteu impede-o de reconhecer na aparente apaneia a divindade dos sinais divinos. Conta a interpreta de Penteu, que reduza divin- dade do indicio (lampdsin berauniais “luzes fulminantes” Bacas 244) a indicio de memtira(hét!gdmous epsesato “porque mipcias rmentiu” Bacas 245), 0 aséio do Deus euja aproximagio € di camente preaunciada por sins a que Penteu reterada e resolu mente € cego; € com o cero do assédio cresce a cegueira que ‘caracteriza Penieu tanto quanto sua origem terrigena de filho de Ekhfon (“Viperino") tanto mais se muliplicem os indcios quanto 128 mais cego Pentew se mostra, tanto’ mais a soicitude de Deus & cegada pela titude cega de cope. Assim cego, Pentew ena vex ‘iis # mesten —como dee diz 0 oto: rio pro, ao intl one ts meats a Bacas 54288) PPentew mesmo se mostra un prdfsio (1éras) no uma Inz mor {al (phéta bréteion). Desde sucessivos milagres (thafima) 0 ponto de vista do Nume apresentase a Pentev, que cada vez o recusa. Primeio parece a Penteu, depois de ele se ausentar da pdlis, mi 2 novidade que ele ouve nesta pis os cots insttufdos por Dionis0, ito Buea ¢ Baguio, parece the por prennco como Loucassexscientes nae Afro ie antes que a Bn, Bocas 2248) PPenten, cego ao Nume dos indicios nominosos, v8, neste pre- ninco em gue sed primeira manifestagZo do Deus como Lovcas “acriseentes, apenas tm expecioso pretexto para encobrir a Iubri- Cidade e baixarias de Laucas,e assim, orientado por essa interpre taglo.cega ao Nume, Pentew se rorna om perseguidor das Lovcas, sspeitoso desse () focsteto Teiesio cantor na ere a, (Baca: 233) ‘Mas cis pare Penteu outro milagre: o sonda-signo Tirésias,cujo home © nomeia em fongie de seu offcio relative a prodigios {teas}, apatece-Ihe vestido de nébridas coloridas e Cadmo, 290 ‘temo de Penteu, com uma hstea como um Baco (Bacas 248 8). No diseurso de Tirésis a Peatev, nesse momento, apresenta-se a Pentew outta oportunidade de explicitar-se © ponto de vista do "Name teferente ao ser dos Deuses e 20 ser ante os Deuses: no dis- curso de Cadmo a Peoteu, em seguids, apresenta-se a Penteu a ‘oportunidade de expliita-se 0 pono de vista do Nume referente 80 teono dindstico de Penteue sorte dese trono. 129 ‘A esposta de Pentew a ambos os discursos (do Tiss e de ‘Cavn) fefigura a interpretagdo herbieae ignorante da divindade ‘dos sinas divinos quando cega ao Nume reduz a compreensto dos vel da banalidade do fazer umano, da baixaria eda cor- polo, © nesse nivel entende esses sais. A Penteu, 0 mito do inaimento de Dioniso parece-the menira (epseisata, Bacas 245); (0§ cots © 0s tos dionisfacos parecem-lhe mié novia; aexplici- taglo do ponto de vista do Nume no discurso de Tisésias a Penteu previamente Ihe parece interessado nos rendimentos da pizomancia; a explcitagto do ponto de vista do Name no discurso de Cadmo a Pentew previamente Ihe parece no ter sentido seno como seaili- dade ser sentido, Orientado por essa interpretagio herdiea © ignorante, Pentew nora limites propeios da eondigdo existencil de homente assim sa resposta a Tiréias e a Cadimo figura a transgressio em um uplo sentido: 1) no sentido da violéneia brutal a que do voz os imperaivos ‘com que Penteu pretende fazer justica & guntncia de Tirésia, desttuindo-Ihe os assentos onde ele sada augtiios, e dar caga av efeminado fraser que tazdoenga nova paras mulheres e polos letos (cas 3538) 2) no sentido da ukrapassagem dos limites que delimitam a fn tude existencial dos homens moras, sendo essa ulteapassagem eterminada pela maior proximidade dos Deuses imortais quando (06 herSis go interpetarem a apatente aparéncia dialogam com os Names. ‘A mesma duplicidade de sentido figura na transgressio de Pen- teu (quando mands destuir os assentos de sondar augérios epren- der 0 Baco mesmo) © nas “histeas trinsgressoras” (ndrthekas hybrisrds, Bacas 113). As hsteas poradas polas Baeas dizem-se “eansgressoras” (hybrids) em um dopla sentida: 1) No sentido de participagao em Ares (Areés te molran mealabn 8a snd le tem alguma paicipagio em Ares Bocas 302) 130 ‘quando Bacas armadas dos tirsos repelein seus aressores com invenetvel violencia; 2) no sentido da ultapassagem dos termos que determina a finitud existencial de homens moras, utrapassidos pels bealide

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