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‘nytulo: Redes culturais, diversidades e educngiio ‘Inés Barbosa de Oliveira ‘Paulo Sgarb (orgs) Pra Tera Rditoras Nida Alves e Regina Leite Garcia Revisto de provas Michelle Strzoda Diiagramagio ¢ copa ‘Domus Design Foto de capa ‘Vaner Correia Geréneta de produgdo ‘Maria Gabriela Delgado CIP-Beasit, Catalogagiio-na-fonte Sindicato Nacional dos Raitores de Livres, RS ee ‘Redes culturni, diversidades e edveagto / Ints Barbosa do Oliveira e Paulo Sgarb (orgs.).~ Rio de Janeiro: DP&A, 2002. (0 sentido da escola) Tnclul bibliografia ISBN 85-7490-207-1 1 Baucaglo. 2. Divarsidade éoltural. 1. Oliveira, Inés Barbosa de. H. Sgarb, Paulo. 1. Série. nee Inés Barbosa de Oliveira Paulo Sgarb (orgs.) |, Caldas; Alexandra Garcia; Boaventura de ro das Chagas ie T. Henn Fabris Lenildo Gomes de Almeida; Marcia Leite; Renata Araujo Lobo-= Vania Morgado; Wanda Medrado Abrantes ‘Alessandra da Costa| Redes culturais, diversidades e educagao Editoras Nilda Alves e Regina Leite Garcia ee a A. pedagogia dio gesto, do corpo, da simbologia ~~ em imagens Wanda Medrado Abrantes* O énibus que sai da Rocinha vai parando em certos pontos da periferia da cidade do Rio de Janeiro para transportar 08 participantes do “I Semingrio de alfabetizandos” até olocal previsto para. realizagao do evento, promovido pelo Centro da Mulher de timida, as mulheres comegam a falar sobre 0 significado desse evento para elas, incluindo as suas impressdes sobre o local do eneantro: ‘Que bom ter vindo. Sé em pensar que me livrei de marido, de cozinha, de filhos... ‘Estou contente por ter vindo. I bom estar num lugar calmo como esse. + Teeniea em asmuntas edueacionais na Universidade Federal Flaminense mn, Redes culturais, diversidades e educacio Pena nfo ter trazido uma maquina fotogrésica, para me lembrar depois das pessoas e desse lugar. - _Impressdes que vao se ampliando em diferentes espagos ¢ 'momentos do encontro, mas sem perder seu sentido maior f atribufdo pelo grupo, ou seja, o espaco de convivéncia, de |) solidariedade, do aprender mais, de serem respeitados como pessoas, de poderem falar de suas hist6rias pessoais e coletivas, ‘que parecem sangrar em muitos depoimentos. Talvez um sentido diferente daquele que imagindvamos —_modos de aprender e de ensinar alere a escrever — quando surgiu a idéia de realizar 0 “{Seminério de alfabetizandos” nos momentos de formagto das alfabetizadoras, em que af assumia o papel de formadora do grupo nessa dimensio pedagégica. Mesimo que néo se tenha dado continuidade a essa i i b e aprovaciio do projeto para captar 0s recursos necessérios & ‘realizagao do evento junto aos mais diferentes érgfios financiadores. Envolvimento que justifica a minha presenga no encontro, tendo como desafio maior participar do coletivo de educadoras & representantes do movimento de mulheres que deverdo apontar as pistas sobre o sentido da edueagio revelado pelos participantes do referido evento sob a forma de uma publicagso escrita. O presente trabalho eonstit expressiio escrita do que vi e sent primeiro movimento de 0 convivio com alunas, alfabetizadoras, eriangas (filhos e filhas), representantes do movimento de mulheres, enfim, moradoras das favelas que, - cotidianamente, lutam pela sobrevivéneia e por uma qualidade pela educadora argentina Denise Najmanovich (2001), assumo a autoria do meu discurso, atravessado pelas rmtltiplas dimensoeb quemaream 0 meu corpo na condigéo de mulher, mae, militante, educadora e de muitas outras experiéncias, tal como essa que pasco a narrar. Narrativa que, no seguindo a légica do R [A pedagogia do gesto, do corpo, da simbologia... estabelecimento de categorias de andlise definidas a priori, busca, puxar alguns fios que foram tecendo a trama de toda essa experiéncia de criagdio de conhecimento, de valores ede agées no campo da educagéo de jovens e adultos, situados em determinados contextos sociais (favelas do Rio de Janeiro). Gestos, simbolos e linguagens: pe marcas da pedagogia ‘Acompanhando o movimento das mulheres na preparago doencontro, percebo que essa aco, tal como tantas denatureza educativa do mesmo grupo, émareada por muitos gestos, sfmbolos linguagens, cuja compreensio niio se revela na superficialidade dos atos. & preciso romper com os modelos explicatives simplistas ‘ereeonhecer a complexidade que eles encerram como, porexemplo, a selegio dos cartazes que comporsio as paredes dolocal doencontro, como revela a fotografia abaixo, Analisando os cartazes que compéem 0 pano de fundo da foto, 6 posstvel perceber a imagem de mulheres negras, sugerindo } Redes eulturais, diversidades e educagio A pedagogia do geste, do corpo, da simbologia. Ampliando a diseussdio sobre identidades descritas por aqueles que tém o poder de narrar 0 outro, o que pode significar, para os apesar do reconhecimento de poucos (linglistas, principalmente) Ge que no existe uma linguagem certa ou errada, na medida em jeto, como exigéncia dos érgiios financiadores: | Dominar a linguagem do poder, tal como aquela exigida no es Abelson ad oa tome a eee | projet e ampliarem ax ages do movimento “Aqui, talver, possamos apresentar um outro sentido da alfabetizago para as mulheres da favela e integrantes do movimento social organizado: aprender a ler ea escrever, a partir dos diferentes tipos de textos que circulam na ampla sociedade (incluindo a estrutura textual de projeto), de ncordo com os sos “Tetramento, Além desea idéia, a vivéncia da discussie de videos que contavam lutas de resisténcia dos grupos marginalizados (por ocasifio das comemoragies dos 500 anos de descobrimento, da narrative da histéria de Nelson Mandela e de Bob Marley) parecia apontar outros sentidos para a aprendizagem da leitara e da escrita daquele grupo em especifico: registrar as histérias coletivas de um povo e que nfo constam da histéria oficial, indo co Redes culturais, diversidades e educacéo muito além do, também presente, desejo pessoal de ler a Biblia, de escrever cartas aos familiares, de ler poesias. ‘Isso significa dizer também que nao estamos falando de aluno somente como os discursos pedagégicos tradicionalmente 0 fazem, desconsiderando que sao pessoas, marcadas pelas miltiplas jidentidades assumidas no dia-a-dia de suas vidas: mulheres, trabalhadoras, maes, amantes, religiosas, militantes de movimentos organizados, donas dé easa, moradoras de favelas pertencentes a uma classe social privilegiada, néo tém com quem deixé-los. A imagem de uma educadora amamentando 0 seu. fio ilustra essa dimenséo de pessoas totais (¢ nfo apenas alunos ou educadoras), marcando outra pedagogia, prépria dos grupos, populares. . _— Ao retornar & simbologia, aos gestos e deixar de penser nas muitas histérias que minha condigéo de classe social, de nfvel de escolaridade, decondigao énica prépria de uma sociedade marcada por A pedagogia do gesto, do corpo, da simbologia.. ‘uma profunda assimetria nas relagies entre grupos e pessoas. ‘Foi com esse sentimento que conheci muitas das situagdes que fazem parte do mundo dessas mulheres. Sobre os filhos, seus, ou de amigas, algumas contam como eles morreram nas méos, da polfcia. Outra fala que, para soltar um rapaz da comunidade, depois de preso injustamente, foi preciso contar ‘com a solidariedade de muitas pessoas da Igreja e da Associagao de Moradores, no sentido de arrecadar a quantia exigida pelo delegado, nica forma para que ele deixasse 0 rapaz em liberdade. * Sobre o espago privado de suas casas, muitos sfiomarcados por vérios tipos de violéncia: a polfcia que atira, e coloca em risco a vida de todos os seus familiares; o estupro de duas alunas, ‘quando cram riangas, cometido pelos seus respectivos padrastos; as ratazanas que circulam na casa, apesar das insistentes rreclamagées junto ao poder piiblico; a edueagao de pais alooblatras de algumas alunas, gerando todo o tipo de agressio fisica e educagdo que privilegie exclusivamente a dimensao cognitive, quando outras dimenstes sangram pelo corpo? Rememorar discussées e acontecimentos é também ensinar aos ouvintes como enfrentar situagdes semelhantes, descobrindo-se narradores na acepeSo benjaminiana, como nos lembra ‘Montenegro(2001). Recuperar a auto-estima de pessoas marcadas por muitas das histérias ali narradas 6 pensar uma outra pedagogia que problematize o discurso governamental e de tantos educadores 7 Roder culturais, diversidades e educagio. ‘que acreditam ser possivel existir um modelo tinico de educagio, 78 A pedagogia do gesto, do corpo, da simbologia... ‘lgumas “exigencias": quando feltasse, pr motivo de sade, nfo ‘queria ir peger o tal papel para justificar. Ele aceitou, trabalhei perversas de exclusio de milhares de pessoas do mundo do trabalho. Novamente, aqui, uma pedagogia que nao considera a dimensio do afeto, do respeito, da dignidade das pessoas nfio pode servir ao povo brasileiro. Nesse momento, o bidlogo chileno Humberto Maturana (1998) ajuda a compreender melhor essa idéia quando também reflete sobre o sentido da educagio para o seu pats: Sem acitarto sem respi por mesmo nea de asta fem que 0 abuso © a pobreza sejam erros que se possam ¢ se ‘qoeiram corigr, nla sim serve para Chile epara porochileno, ‘Trabalhar a auto-estima, no sentido de resgatar a aceitagio © o respeito das pessons, muitas vezes significa, para pessoas jovens'e adultas, rememorar a histéria de vida individual e coletiva, tal como foi vivenciado no seminério. Lembrangas que, quase sempre, sangram pelo corpo porque fazem lembrar da 79 Redes culturals, diversidades ¢ educagio violéncia, da negagio do ser, da intolerfncia, do preconceito softidos em muitos momentos e espagos de suas vidas, mas sempre necessérias para entender que essas hist6rias de vida nfo sfo determinadas e que podemos construjr uma outra histéria, E6 com essa esperanca, de construgfo de outras historias a ;nimos no encontro, Compreender os importantes que nelas foram desenvolvidas, as tantas formas de estarno mundo que elas inventarain e iziventam, para, com isso, pensar formas de acesso ao saber formal que as respeite © ‘considere, Formas de trabalhar que dignifiquem esses fazeres © saberes, expressos.em diferentes formas que n6s, edueadlores, precisamos aprender aler. Partilhar dessa pedagogia do gesto, da simbologia, da partilha, do respeito, mesmo que nfo seja a tiniea, 6 reforga 0 desejodde apostar naquelas pedagogias que buseam participarda construgao de um outro projeto de sociedade mais humana, mais justa e mais ética. Referéncias bibliograficas Maruman, HL. Emogées e linguayem na educagao e na politica. Belo Horizonte: Hd. urwo, 1998. ‘Movrmamcno, A.'T: Histéria oral e meméria. A cultura popular revisitada. ‘Sao Paulo: Contexto, 2001. ‘Nasmanovien, D. O sujeito encarnado. Questées para pesquisa no/do ‘cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

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