Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
Salmo 31.5 "nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me remiste, SENHOR, Deus
de verdade".
Introdução
Mesmo que a maioria das correntes de pensamentos atribua valor à vida, o critério
de valor difere muito em cada uma dessas. Muitas contradizem o ensinamento da
Palavra de Deus levando a decisões meramente utilitárias quanto ao término da
vida humana. Essa situação faz com que o servo de Deus necessite basear suas
convicções sobre a rejeição da eutanásia naquilo que a Bíblia nos revela sobre
essa questão fazendo-o assumir uma postura positiva na preservação da vida e
no cuidado aos que sofrem.
Eutanásia é um assunto que vem recebendo cada vez mais atenção em todo o
mundo. Você sabia que existe uma organização mundial chamada ERGO
(Euthanasia Research & Guidance Organization -- Organização de Pesquisa e
Direcionamento sobre a Eutanásia), que publica seus anúncios e trabalhos na
Internet? Na realidade, existem tantas organizações defensoras da Eutanásia, que
elas se estruturaram em uma federação mundial (a World Federation of Right to
Die Societies, ou Federação Mundial das Sociedades do Direito à Morte). Nos
Estados Unidos, o estado do Oregon promulgou uma legislação que permitia a
eutanásia, em 1987, chamado de Ato de Morte com Dignidade. Esta lei foi,
posteriormente, em 1994 e 1997, submetida a dois plebiscitos, que a repeliram.
Vários estados, dos Estados Unidos, possuem atos legislativos que estão
presentemente sendo questionados na Corte Suprema daquele país, equivalente
ao nosso Superior Tribunal Federal. Na Austrália, o território do Norte emitiu
legislação permitindo a eutanásia, em 1995. Essa lei foi, em 1997, repelida pelo
Parlamento Federal Australiano. Em paralelo a tudo isso, provavelmente todos já
acompanharam as notícias contemporâneas sobre o trabalho do médico norte-
americano, Dr. Jack Kevorkian, inventor da máquina do suicídio, que auxiliou
pessoalmente várias pessoas a encontrarem a morte. Este médico,
presentemente, responde a vários processos criminais, em função de suas ações
em favor da eutanásia.
2. O Valor da Vida.
O humanismo secular reconhece valor à vida, mas atribui a essa uma qualidade
que é circunstancial (dependente das circunstâncias). Nesse sentido, a aferição
subjetiva da qualidade de vida é determinante no julgamento se esta vida deve ser
terminada ou não. A visão bíblica apresenta o valor da vida, como uma questão
inerente ao fato de que ela é um dom de Deus. A própria criação da vida humana
representa o ápice do trabalho criativo de Deus (Gn 1.26) e é chamado na Bíblia
como sendo a "coroa da Criação". Como o homem foi criado à imagem e
semelhança de Deus o seu valor não se desvanece.
A visão humanista identifica sofrimento como sendo um fator que diminui essa
"qualidade" de vida, chegando a legitimar o término dessa, quer voluntariamente,
quer pelo arbítrio ou determinação de outro, como, por exemplo, a de um parente
próximo.
A visão bíblica, além de atribuir valor intrínseco à vida, e não circunstancial, possui
outra visão do sofrimento. Ela reconhece que sofrimento não é algo desejável e
pode diminuir o nosso desfrutar imediato desta vida, numa visão meramente
temporal, como registra Paulo em 1 Co 1.8, "...a tribulação que nos sobreveio... foi
acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida". O
sofrimento também pode ocorrer como resultado direto do pecado (Tg 4.8-9), mas,
em várias ocasiões, ocorre dentro dos propósitos insondáveis de Deus, com a
finalidade didática de nos ensinar alguma coisa. Nesse sentido, paradoxalmente,
em vez de retirar qualidade da vida, pode adicionar qualidade real. O sofrimento
pode fazer com que nos acheguemos e dependamos mais de Deus e capacitar,
tanto ao que sofre como aos que dele precisam cuidar, ao aprendizado de lições
preciosas para o crescimento conjunto dos fiéis, como ensina 2 Cr 1.3 e 4, que
diz: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das
misericórdias e Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa
tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma
tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus".
Com essa visão, pensando nos resultados benéficos, podemos até nos gloriar nas
tribulações (Rm. 5.3-4).
· Que a morte dos justificados por Deus, pelo trabalho de Cristo Jesus, é "preciosa
aos olhos do Senhor" (Sl 116.12) porque por ela já se encontrarão com o seu
criador, mas em nenhuma passagem há aprovação para que essa morte seja
apressada ou para que a vida seja terminada arbitrariamente, essa morte ocorre
no seio da providência divina.
· Que a morte dos ímpios, longe de ser liberação de sofrimento, é o início do
sofrimento eterno maior (Hb 9.27 e 10.31).
4. A Eutanásia e o Aborto.
Aqueles que defendem a eutanásia não gostam de classificar o aborto como tal,
mas existe muita semelhança, porque o aborto, como está sendo amplamente
praticado em vários países do mundo ocidental, é o término de uma vida humana,
baseado numa decisão utilitária de outra pessoa. Também diz-se que o feto não
possui ainda "qualidade de vida". Podemos ver, assim, a semelhança da
argumentação com a defesa da eutanásia. Não é nosso propósito tratar do aborto,
mas esse é claramente contrário à palavra de Deus, que se refere ao feto como
uma pessoa em vário trechos (ex.: Salmo 51.5; Lucas 1.41).
Será que o padrão de término de uma vida pode ser assim subjetivamente
estabelecido? Ele poderia ser dependente apenas da cabeça e das conclusões de
cada um? Se esse padrão, ou essa maneira de gerarmos padrões, for aceita, o
que impedirá de partirmos da eutanásia e aborto voluntário para a eutanásia e
aborto imposto? O que impedirá que as pessoas virem vítimas, não apenas de
seus próprios pecados e decisões erradas próprias, mas também de políticas
populacionais, sociais, ou raciais, estabelecidos por um organismo maior –
governamental ou eclesiástico? Vamos passar a defender o aborto obrigatório
para diminuir os bolsões de pobreza? Não podemos esquecer o que já aconteceu
na história. Na Alemanha Nazista do III Reich havia uma expressão:
leibensunwertes Leben – "a vida que não vale a vida". Com esse moto justificou-
se o genocídio e a matança de judeus, ciganos e pessoas aleijadas, pois a vida
deles não "valia a pena ser vivida". Hoje em dia vemos a nossa sociedade usurpar
o lugar de Deus e procurar passar a determinar sobre quem deve ou pode morrer,
fugindo totalmente aos padrões estabelecidos por Deus, em Sua Palavra.
No meio desse debate, vamos nos lembrar desses seguintes pontos essenciais
que nos são ensinados na Bíblia:
c. A morte não é o fim e nem uma fuga em si ao sofrimento, mas ela é o resultado
do pecado (Rom. 6.23).
d. Muitas vezes ela ocorre com sofrimento e dor, nos propósitos insondáveis de
Deus, como tribulação e dor podem ocorrer sem relacionamento direto com a
morte (2 Cor. 4.8-10).
e. Esse sofrimento nem sempre é uma conseqüência direta do pecado (João 9.3),
mas ocorre para que Deus seja glorificado.
É importante sabermos que não nos compete tomar a vida, mas temos, sim, o
dever de preservá-la. Temos que nos lembrar que Deus ama aos Seus e está
ciente dos seus sofrimentos e das suas dores. Ele pode nos sustentar e nas
ocasiões em que tivermos de tomar decisões, vamos buscar a sua presença em
oração, e, com a Palavra de Deus na mão, aplicar os Seus princípios.
Solano Portela