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Antonio Carlos Gil Didatica do Ensino Superior SAO PAULO EDITORA ATLAS S.A. - 2015 6 Como planejar o ensino inicio das atividades do professor universitdrio nao se dé no primeiro dia de aula. Suas tarefas comecam com o planejamento, que se inicia algumas semanas ou alguns meses antes, dependendo da experiéncia do professor com a disciplina que pretende lecionar. Por mais erudito e experiente que seja, ele ndo pode dispensar essa etapa, pois gracas a ela é que seu trabalho assume racionali- dade e permite que seja avaliado. O planejamento requer do professor algumas habilidades distintas daquelas que estao diretamente relacionadas a pratica docente. Como foi lembrado no Ca- pitulo 3, o professor universitdrio desempenha diferentes papéis, e um deles 6 0 de planejador, 0 que nao o torna diferente de outros profissionais, com excecdo, provavelmente, daqueles que se ocupam de atividades puramente bragais ou me- cAnicas. Isto porque o estgio atual de desenvolvimento da Humanidade requer dos seres humanos, dentre outras, a capacidade de previsao. FE. preciso “saber para prever e prever para poder”, como dizia Augusto Comte, jd no século XIX. Amaioria dos professores universitarios reconhece a importancia do planeja- mento do ensino. Mas nem todos planejam seus cursos de maneira criativa. Mui- tos simplesmente seguem os capitulos de um livro-texto, sem considerar 0 que é realmente necessdrio que os alunos aprendam. Também é grande o niumero de professores que utilizam sem muita reflexdo os mesmos métodos de ensino e os mesmos procedimentos de avaliaciio. Assim, este capitulo é dedicado ao planejamento do ensino. Mais especifi- camente a elaboragao dos planos de ensino, que so os documentos preparados pelo professor que envolvem as decisdes mais importantes a serem tomadas ao longo do processo letivo. Apés sua andlise cuidadosa, 0 leitor sera capaz de: Como planejar o ensino 95. * conceituar planejamento do ensino; * caracterizar os diferentes niveis de planejamento do ensino; * elaborar planos de disciplina, de unidade e de aula. 6.1 O que significa planejar o ensino A maioria de nossas atividades é realizada de forma rotineira, nao requeren- do, portanto, o delineamento prévio de etapas de acao. Contudo, o planejamento faz parte do cotidiano do ser humano, pois estamos constantemente enfrentando situagdes que nao pertencem ao contexto de nossa rotina. Essas situacées preci- sam ser enfrentadas mediante a utilizaco de procedimentos racionais para que suas conseqiiéncias nao sejam insatisfatorias. E o planejamento constitui pressu- posto basico para o desenvolvimento de acées racionais. Existem muitas definicées de planejamento. Quase todas se referem a busca de equilibrio entre meios e fins, entre recursos e objetivos, mas diferem entre si em decorréncia do quadro de referéncia teérico adotado por seus autores. Até mesmo porque os estudos sobre planejamento ja possibilitam a identificagao de diferentes teorias de planejamento. Uma delas é a que se vincula A Teoria Geral dos Sistemas, segundo a qual “o planejamento envolve quatro elementos necessd- rios para a sua compreensao: processo, eficiéncia, prazos e metas” (CARVALHO, 1976, p. 14). Com base nesses quatro elementos, pode-se aplicar 0 conceito de planeja- mento as mais diversas atividades humanas. Assim, planejamento educacional pode ser definido como o processo sistematizado mediante o qual se pode con- ferir maior eficiéncia as atividades educacionais para, em determinado prazo, alcangar as metas estabelecidas. Ainda de acordo com o enfoque sistémico, o planejamento precisa ser enten- dido como parte de um sistema mais amplo (supersistema) que abrange outros sistemas (subsistemas). Dessa forma, o planejamento pode ser visto no contexto de um processo que envolve: diagndstico, planejamento, execuc4o e avaliacao. O planejamento educacional requer o conhecimento da realidade. E neces- sdrio sondar 0 que os estudantes conhecem a respeito do que vai ser ministrado, qual o seu interesse nesse aprendizado e qual a real necessidade desse conhe- cimento. Para isso, procede-se ao diagnéstico; da mesma forma que o médico, que, apds rigoroso exame de seu paciente, chega a uma conclusdo acerca de seu estado e de suas necessidades. Com esse diagndstico, o professor encontra-se em condigées de elaborar um plano de ensino apoiado na realidade. Inicia-se, entao, o processo de planejamen- to, que envolve a formulacio dos objetivos, a determinac&o dos contetidos a serem ministrados e as estratégias que sero adotadas para facilitar a aprendizagem. 96 Didética do Ensino Superior * Gil De posse do plano, que constitui o documento que consolida as acées plane- jadas, o professor executa as atividades necessarias para o alcance dos objetivos pretendidos. Nessa etapa do processo é que se desenvolvem as acdes didaticas, tais como a exposi¢ao, a orientacao de leituras e a conducdo dos grupos de estudo. Entretanto, o processo de ensino nao se encerra com essas atividades. E in- dispensdvel verificar em que medida as aces didaticas foram suficientes para 0 alcance dos objetivos definidos no planejamento. Procede-se, assim, A avaliagao educacional, que consiste na coleta, andlise e interpretacao dos dados relativos ao progresso dos alunos. Essa avaliacdo nao ocorre apenas ao final das ages edu- cativas, mas ao longo de todo o processo. Tanto é que se pode falar em avaliacao diagnéstica, formativa e somativa. A avaliacdo diagnéstica ocorre no inicio do processo de aprendizagem com vistas a identificar os conhecimentos e as habilidades dos estudantes. A avaliacio formativa realiza-se ao longo do processo e fornece os dados necessdrios para aperfeicoar o processo ensino-aprendizagem. A avaliac4o somativa, por fim, clas- sifica os resultados de aprendizagem de acordo com os niveis de aproveitamento estabelecidos, proporcionando ao final da unidade ou do curso a verificacio do alcance dos objetivos preestabelecidos. A avaliacao, num contexto sistémico, nao pode ser vista apenas como ele- mento para definir se um aluno deve ser aprovado ou reprovado, mas como um conjunto de a¢6es intimamente associadas ao processo de aprendizagem dos alu- Nos e ao replanejamento das acées educativas. A avaliacdo constitui, portanto, importante elemento propiciador de feedback, entendido aqui como um processo pelo qual se fazem retroagir os efeitos de um sistema sobre as causas, com 0 propésito de alcangar os resultados pretendidos, o que significa intimo relaciona- mento da avaliacao com o planejamento. 6.2 Quais so os niveis de planejamento Tratou-se até aqui do planejamento educacional num sentido bastante am- plo. Mas esse planejamento da-se em diferentes instAncias e cada uma delas fica a cargo de diferentes atores. Por essa razdo, muitos autores no campo da Educagao tratam do planejamento em diferentes nfveis. Assim, procura-se, a seguir, carac- terizar quatro niveis de planejamento: planejamento educacional, planejariento institucional, planejamento curricular e planejamento do ensino. 6.2.1 Planejamento educacional O planejamento educacional é o que se desenvolve em nfvel mais amplo. £ 0 processo que objetiva definir os fins tiltimos da educagéo e os meios para al- cancé-los. O planejamento nesse nivel esta a cargo das autoridades educacionais, Como planejar o ensino 97 no ambito do Ministério da Educac&o, do Conselho Nacional de Educacio e dos orgaos estaduais e municipais que tém atribuigdes no campo da Educacio. O planejamento educacional refere-se diretamente A aco governamental, pois vincula o sistema educacional ao desenvolvimento socioeconémico do pais, do Estado ou do municipio. Trata-se de um planejamento a médio e longo prazo, que requer para sua execuc&o o diagnéstico claro e preciso da situacéo educa- cional do pais, a definicao das bases filosdficas que dario suporte a acdo gover- namental, a avaliagdo dos recursos humanos, materiais e financeiros requeridos, bem como a previsdo dos fatores capazes de interferir em seu desenvolvimento. Os produtos do planejamento educacional nao so constitufdos na maioria das vezes por aces pontuais, mas por documentos, como politicas, planos, pro- gramas e projetos capazes de orientar e de fornecer os meios necessdrios ao al- cance dos objetivos da Educacio. 6.2.2 Planejamento institucional A Lei de Diretrizes e Bases da Educac4o Nacional (Lei n® 9.394/94), em seu art. 12, inciso I, prevé que “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, tém a incumbéncia de elaborar e executar sua proposta pedagdgica”. Essa proposta nao pode ser entendida apenas como uma carta de intencgdes ou uma exigéncia de ordem administrativa, mas como a consolidacdo de um tra- balho realizado em conjunto por todos os profissionais de uma escola com vistas a atender as diretrizes da educacdo nacional, bem como As necessidades locais e especificas de sua clientela. Trata-se de um instrumento que possibilita definir a aco educativa da escola em sua totalidade. Nesse sentido, essas atribuicées configuram-se como o planejamento institucional da escola. Esse planejamento institucional, por um lado, é politico, pois estabelece um compromisso com a formacio de um cidadao para um tipo de sociedade. Por outro, é pedagégico, pois define os propésitos e a forma de efetivacao das acées educativas da escola. Por essa razéo é que o resultado concreto desse planeja- mento pode ser chamado de Projeto Politico Pedagégico. O planejamento institucional é desenvolvido no ambito das Instituicées de Ensino Superior (IES). Por exigéncia do Ministério da Educacio, essas instituicdes tém que elaborar a cada cinco anos o seu Plano de Desenvolvimento Institucio- nal (PDI). Esse é o documento que identifica a instituigéo no que diz respeito a sua filosofia de trabalho, a missdo a que se propée, as diretrizes pedagdgicas que orientam suas a¢oes, a sua estrutura organizacional e as atividades académicas que desenvolve e/ou que pretende desenvolver. Para a elaboraco desse plano, as IES precisam definir sua misso institucio- nal e seus objetivos gerais. Também precisam descrever suas metas, bem como 98 Didética do Ensino Superior * Gil apresentar os dados referentes & sua organizacdo académica e administrativa, planejamento e organizacao didatico-pedagégica, oferta de cursos e programas, infra-estrutura académica e 0 projeto de acompanhamento e avaliacdo do desem- penho institucional. A elaborac&éo d= um PDI é importante para a instituigéo, porque possibilita refletir sobre 0 seu passado, presente e futuro, identificando seus pontos fortes e fracos, bem como as ameacas € as oportunidades a que pode estar sendo subme- tida, sobretudo quando sua elaboracao decorre de um processo de ampla mobili- zacgio e envolvimento de seus corpos docente, discente e técnico-administrativo. Dessa forma, o PDI passa a constituir uma carta de compromissos assumidos pela instituicéo com seus corpos dirigente, docente, discente e técnico-administrativo eo MEC, para atingir suas metas institucionais. 6.2.3 Planejamento curricular Em consonancia com o planejamento institucional, desenvolve-se o planeja- mento curricular. Fsse planejamento tem como objeto a organizagao do conjunto de acdes que precisam ser desenvolvidas no ambito de cada curso com vistas a favorecer ao maximo o processo ensino-aprendizagem. Constitui, portanto, uma tarefa continua e multidisciplinar que orienta a aco educativa da institui¢ao universitaria. Sua preocupagao bdsica é com a previsdo das atividades que o estu- dante realiza sob a orientacSo da escola com vistas a atingir os fins pretendidos. Durante muito tempo, as escolas superiores dispuseram de pouca margem de liberdade para realizar seu planejamento curricular. Isso porque a legislacaéo an- terior caracterizava-se por excessiva rigidez, com a fixacao detalhada dos curri- culos minimos. Todavia, a Lei de Diretrizes e Bases da Educagao (Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996), atualmente vigente, confere autonomia as Instituigdes de Ensino Superior para fixar os curriculos de seus cursos, desde que observadas as Diretrizes Curriculares gerais. ‘As Diretrizes Curriculares so definidas pelo Conselho Nacional de Educacao para os diferentes cursos e asseguram As Instituicdes de Ensino Superior ampla liberdade na composicao da carga hordria a ser cumprida para a integralizacéo dos curriculos, assim como na especificacdo das unidades de estudos a serem ministradas. Elas indicam os tépicos ou campos de estudo e demais experiéncias de ensino-aprendizagem que comporao os curriculos, mas evitam ao maximo a fixagao de contetidos especificos com cargas hordrias predeterminadas, que nao poderao exceder 50% da carga hordria total dos cursos. Assim estabelecidas, as Diretrizes Curriculares asseguram ampla flexibilida- de as diferentes Instituigdes de Ensino Superior na elaboracao de seus curricu- los, que, dessa forma, passam a dispor de melhores condicdes para atender as necessidades diferenciais de suas clientelas e as peculiaridades das regiGes nas quais se inserem. Isso significa, por outro lado, que necessitam ser mais criativas e responsaveis. Como planejaroensino 99 6.2.4 Planejamento do ensino O planejamento do ensino é 0 que se desenvolve em nivel mais concreto e esta a cargo principalmente dos professores. Ele é alicercado no planejamento curricular e visa ao direcionamento sistematico das atividades a serem desen- volvicas dentro e fora da sala de aula com vistas a facilitar o aprendizado dos estudantes. O professor universitdrio, ao assumir uma disciplina, precisa tomar uma série de decisées. Precisa, por exemplo, decidir acerca dos objetivos a serem alcan- cados pelos alunos, do contetido programatico adequado para o alcance desses objetivos, das estratégias e dos recursos que vai adotar para facilitar a aprendiza- gem, dos critérios de avaliacdo etc. Todas essas decis6es, bem como os meios necessdrios para sua viabilizacao, fazem parte do planejamento de ensino, que se configura como condicgado essen- cial para 0 éxito do trabalho docente. De fato, 4 medida que as agGes docentes sao planejadas, evita-se a improvisac&o, garante-se maior probabilidade de alcance dos objetivos, obtém-se maior seguranga na direcdo do ensino e também maior economia de tempo e de energia. Na maioria das vezes, o planejamento do ensino é elaborado somente pelo professor responsdvel pela disciplina, mas recomenda-se que mais professores compartilhem a responsabilidade de sua elaborag&o. Quando isso ocorre, dé-se o planejamento cooperativo, que favorece o crescimento profissional, 0 respeito a diversidade, 0 ajustamento as mudancas, o exercicio da autodisciplina e da democracia. Para o planejamento de ensino, o professor procede inicialmente ao diag- néstico da realidade em que se insere a disciplina. Essa realidade envolve as ne- cessidades e as expectativas dos alunos, a importancia e o status da disciplina no contexto do curso, os recursos disponiveis para o seu desenvolvimento etc. Com base nesse diagndstico, o professor define os objetivos da disciplina, determina o seu contetido programatico, seleciona as estratégias e os recursos de ensino e define os procedimentos a serem adotados para a avaliacao da aprendi- zagem pelos alunos. A medida que o professor vai desenvolvendo o seu curso, pode receber feedback dos estudantes. Como o planejamento de modo geral apresenta alguma flexibilidade, o professor pode, com base nesse feedback, proceder a alteracdes com vistas a melhorar a qualidade do seu curso. Dessa forma, os estudantes vao se tornando co-participantes desse processo, caracterizando-o, de certa forma, como planejamento participativo. Também ao longo do desenvolvimento do curso, o professor faz novas leitu- ras, dialoga com outros professores, toma contato com novas experiéncias edu- cacionais e procede a avaliag&o do desempenho dos alunos e do seu proprio. 100 Didética do Ensino Superior + Gil Todas essas acGes podem indicar a necessidade de mudangas. Assim, o professor pode proceder ao replanejamento de seu curso, mediante redefinicao de objeti- vos, acréscimo ou supressao de contetidos ou mudanca nas estratégias de ensino. Muitas vezes, essas alteragées podem ser feitas no decorrer do préprio ano ou semestre letivo. 6.3 Como elaborar planos de ensino As decisées tomadas no processo de planejamento concretizam-se em docu- mentos, que habitualmente séo designados como planos. Assim, 0 planejamento educacional desenvolvido pelas autoridades governamentais dd origem a planos nacionais, estaduais ou municipais de educacio. Esses planos geralmente sido abrangentes, razao pela qual costumam subdividir-se em Projetos ou em progra- mas. Os projetos sao descricgées detalhadas de determinados empreendimentos a serem realizados, com o esclarecimento dos recursos necessdrios para 0 seu alcance. Os programas, por sua vez, sdo constituidos por conjuntos de projetos com objetivos semelhantes desenvolvidos num determinado ambito. O planejamento institucional conduz a elaboraco tanto do Projeto Politico Pedagégico como do Plano de Desenvolvimento Institucional. O planejamento curricular, que também é elaborado no ambito da escola, conduz aos planos de cursos, que esclarecem acerca dos objetivos dos cursos que a escola oferece, da populacao-alvo, da estrutura curricular, das condig6es para inscrig&o, dos proce- dimentos de avaliacdo etc. Os professores também consolidam as decisées decorrentes do planejamento em planos de ensino. Primeiramente, elaboram 0 plano da disciplina, que envol- ve de forma global as acdes a serem desenvolvidas durante o ano ou semestre letivo. Em seguida, elaboram os planos de unidade, que orientam sua agdo em. relacdo a cada uma das partes do plano da disciplina. Cada uma dessas partes ou unidades corresponde a ages a serem desenvolvidas ao longo de um certo nu- mero de aulas. E, 4 medida que especificam as atividades a serem desenvolvidas em cada uma das aulas, elaboram também planos de aulas. 6.3.1 Plano de disciplina O plano de disciplina constitui uma previsdo das atividades a serem desen- volvidas ao longo do ano ou do semestre letivo. Constitui um marco de referéncia para as ages voltadas para o alcance dos objetivos da disciplina. Representa tam- bém um instrumento para identificar a relacéio da disciplina com as disciplinas afins e com 0 curso tomado de forma global. A medida, portanto, que o professor concretiza suas decisées num plano, tem sempre A mao um roteiro dos caminhos a serem seguidos e das providéncias a serem tomadas no seu devido tempo. Como planejar 0 ensino 101 De modo geral, o plano de disciplina esclarece acerca de sua duracao, obje- tivos gerais, contetido programatico, estratégias de ensino, recursos didaticos e procedimentos de avaliacio. Para sua elaboragao concorrem muitos fatores, tais como orientacao da escola, habilidades do professor, recursos disponiveis etc. A rigor, o plano é apenas um roteiro abreviado e esquemiatico e seu principal valor esta principalmente no cardter pessoal de quem o executa. Mas deve ser lido e analisado por outras pessoas, tais como: coordenador do curso, professores res- ponsdveis pelas demais disciplinas e assessores pedagégicos. Por isso, na elabo- racao do plano, devem ser considerados alguns principios norteadores. Assim, 0 plano de disciplina deverd: a) relacionar-se intimamente com o plano curricular de modo a garantir coeréncia do cursos como um todo; Db) ser elaborado com linguagem clara, precisa e concisa; c) adaptar-se as necessidades, capacidades e interesses dos estudantes; d) ser elaborado com base em objetivos realistas, levando em considera- a0 os meios disponiveis para alcangé-los; e) envolver contetidos que efetivamente constituam meios para o alcance dos objetivos; f) prever tempo suficiente para garantir a assimilacdo dos contetidos pe- los estudantes; g) ser suficientemente flexfvel para possibilitar o ajustamento a situacdes que nao foram previstas; h) possibilitar a avaliacdo objetiva de sua eficiéncia e eficdcia. Nao existe um modelo rigido a ser seguido na elaboracio de um plano de disciplina. Todo plano, entretanto, deve apresentar numa seqiiéncia coerente os elementos a serem considerados no processo de ensino-aprendizagem. O roteiro apresentado a seguir indica, de maneira simples e funcional, como podem ser organizados num plano de ensino os seus diversos componentes. A. IDENTIFICACAO DO PLANO A primeira parte do plano de disciplina é constitufda por dados de identifica- cao. Geralmente, nessa parte séio indicados os seguintes dados: Data: Nome da instituigao: Curso: Disciplina: Ce a Nome do professor: 102 Didatica do Ensino Superior + Gil 6. Série ou semestre: 7. Turno: 8. Carga hora 9. Classes em que é aplicado: 10. Numero de alunos em cada classe: 11. Monitores (quando houver): A apresentacao desses dados pode parecer ébviae conseqiientemente dispen- sdvel. Sua inclusio, no entanto, é muito importante, pois 0 plano de disciplina é documento que pode ser consultado a qualquer momento nao apenas pelo pro- fessor que 0 elaborou, mas também pelo coordenador do curso, por professores de disciplinas afins e mesmo pelos estudantes. A apresentacao de dados com cer- to nivel de detalhamento poderd ser importante para a avaliagao do plano. Pode- se verificar, por exemplo, a adequaciio entre a durac&o do curso e a extens’io do contetido, ou entre o ntimero de estudantes em sala e as estratégias de ensino. B. OBJETIVOS Os objetivos constituem o elemento central do plano e deles derivam todos os demais componentes. Esses objetivos sao formulados em termos gerais e indicam a funco da disciplina no Ambito do curso. Maiores esclarecimentos serao for- necidos no Capitulo 7. Entretanto, pode-se considera, por exemplo, a disciplina Estatistica num curso de Psicologia. Um de seus objetivos podera ser: “Capacitar os alunos para a aplicagiio de medidas e testes estatisticos necessdrios para a realizacdo de exames e pesquisas psicoldgicas.” Ou a disciplina Legislacao Tribu- taria, num curso de Administragdo de Empresas, que podera ter como um de seus objetivos: “Proporcionar os conhecimentos basicos de Legislacao Tributaria com vistas sua aplicacao no Ambito das empresas.” C. CONTEUDO O contetido corresponde aos temas e aos assuntos que serao estudados na disciplina com vistas ao alcance dos objetivos pretendidos. Esses temas podem ser organizados em unidades de ensino. A quantidade de unidades depende da especificidade da disciplina, mas recomenda-se nao mais do que cinco unidades Por semestre (ou dez por ano), com duragio de trés a quatro semanas cada uma. Por exemplo, a disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa Cientifica, ministrada em muitos cursos universitdrios ao longo de um ano letivo, poderia ter seu con- tetido distribuido pelas unidades: 1. Conhecimento cientifico. 2. Método cientifico. Como planejar o ensino 103 O processo de pesquisa. Pesquisa bibliografica e documental. Pesquisa experimental. Levantamentos de campo. Estudos de caso. Técnicas de coleta de dados. Pern answ Andlise e interpretac&o dos dados. 10. Redac&o do relatério. Os procedimentos sugeridos para a selecdo e a organizagdo dos contetidos sao apresentados no Capitulo 8. D. EMENTA. Algumas instituig6es exigem a apresentagdo da ementa da disciplina, que muitas vezes é confundida com os objetivos ou com o contetido programatico. De fato, apresenta intima relagao com esses dois componentes, mas torna-se bem. mais util quando se refere ao resumo do contetido da disciplina apresentado em poucas frases. Exemplo: Disciplina: Metodologia Cientifica Ementa: A légica dos procedimentos cientificos. Planejamento da pesquisa, coleta, andlise e interpretacdo de dados. Redacio de trabalhos cientificos. E, BIBLIOGRAFIA Nessa parte, devem ser apresentadas as sugestdes de leituras que deverdo ser feitas para aprender os contetidos. Convém ser bastante preciso em relacéo ao capitulo do livro ou ao artigo de revista que deverd ser consultado. Desaconselha- se a indicac&o de lista muito extensa de material para ser lido ou consultado e também de obras de dificil acesso. Sugere-se que essa seco seja subdividida em duas partes: Bibliografia Basica e Bibliografia Complementar. Essa subdivisao é muito importante, até mesmo para que o responsavel pela Biblioteca possa defi- nir a quantidade de exemplares a serem adquiridos. As referéncias a cada obra devem ser completas (autor, titulo da obra, local de publicacdo, editora e ano), e elaboradas preferencialmente de acordo com as normas definidas pela ABNT. Exemplo: MEDEIROS, Jo&o Bosco. Manual de redagio e normalizacdo textual. SAo Paulo: Atlas, 2002. 104 Didética do Ensino Superior + Gil E ESTRATEGIAS DE ENSINO Essa parte do plano deve esclarecer acerca das estratégias escolhidas para facilitar a aprendizagem dos contetidos, que sao apresentadas nos Capitulos 8,9e10. As estratégias devem ser listadas. Nao ha necessidade de detalhamento, mas as estratégias devem ser indicadas de forma bem especifica. Exemplo: ° Aulas expositivas. * Grupos de cochicho. * Semindrios. * Philips 66. * Dramatizacées. * Estudo dirigido. G. RECURSOS O plano de disciplina deve indicar também os recursos a serem utilizados pelo professor. Essa é uma providéncia muito importante, pois nem sempre a escola dispde de determinados recursos em quantidade suficiente para atender prontamente as necessidades da disciplina. E necessdrio também que o professor domine os equipamentos, para evitar a perda de tempo e os constrangimentos que a descoberta a ultima hora pode acarretar. Existe uma grande variedade de recursos de ensino, desde os mais simples, como quadros-de-giz, cartazes, Albuns seriados, reproduc&o de textos, até os mais complexos, como camara de video e projetor multimidia. Nem sempre ha necessidade de equipamentos sofisticados. Muitas vezes, o professor pode lancar mo de recursos bastante simples disponiveis pela comunidade, mas requer-se sempre a sua previsao. H. AVALIAGAO O plano de disciplina envolve também os procedimentos necessarios para ve- tificar em que medida os objetivos foram alcancados. A avaliagao podera ser feita Por provas objetivas, provas dissertativas, provas praticas, registro de observagao etc. Convém que o professor considere o sistema de avaliacao vigente na escola, pois seus regimentos poderiio limitar a atuacdo do professor quanto a modalida- de de avaliac&o, perfodo de avaliac&o, cdlculo das médias etc. Como planejar o ensino 105 I. CRONOGRAMA O plano deve apresentar a distribuicao das atividades durante 0 perfodo leti- vo. Geralmente, o plano é organizado em unidades de ensino. Nesse caso, indica- se cada uma delas com as datas em que ocorrero. Por exemplo, a unidade 1 ird de 3/3 a 17/3/2005; a 2, de 24/3 a 7/4/2005, e assim por diante. 6.3.2 Planos de unidade O plano de unidade é um documento mais pormenorizado que o plano de disciplina. Os objetivos so mais operacionais, isto é, designam clara e precisa- mente os comportamentos esperados dos alunos: nele os contetidos sao apresen- tados de maneira mais pormenorizada, assim como as estratégias de ensino, os recursos e os procedimentos para a avaliacao. Para que o plano seja util, reecomenda-se em sua construcdo a observacdo de alguns critérios: a) as unidades do plano devem ser construfdas em torno de um tema que envolva assuntos que se inter-relacionam ou se complementam; b) a organizagao do plano deve levar em consideracao nao apenas o orde- namento ldgico dos contetidos, mas também as dificuldades de apren- dizagem dos estudantes; c) recomenda-se que as unidades nao sejam muito desiguais em termos de extens4o; d) as unidades do plano devem relacionar-se entre si de forma tal que 0 plano apresente uma estrutura que o caracterize como um todo organi- zado facilmente compreensivel; e) o plano de unidade deve ser elaborado preferencialmente com a parti- cipacao dos estudantes; f) 0 plano deve ser elaborado de forma tal que cada unidade utilize con- tetidos das unidades anteriores, ao mesmo tempo em que oferece ele- mentos para a aprendizagem do contetido das posteriores; g) deve-se evitar que uma unidade requeira muito tempo para ser desen- volvida, pois unidades muito longas podem causar cansaco e desinte- resse. Nao se aconselha definir mais do que quatro semanas de duraciio para cada unidade. Os componentes dos planos de unidade so praticamente os mesmos dos planos de disciplina. Os planos de unidade devem, no entanto, ser elaborados de forma a facilitar a identificagao e os relacionamentos entre seus componentes. Apresenta-se a seguir um esquema de plano de unidade, que pode ser modificado segundo a conveniéncia de cada professor. 106 Didética do Ensino Superior * Gil PLANO DE UNIDADE, Escola: Série: Professor: Curso: Turma: Ano/Semestre: Disciplina: Unidade: Carga hordria: Objetivos __Cronograma __Contetidos_stratégias Recursos __Avaliacao 6.3.3 Plano de aula A maioria dos trabalhos relativos ao planejamento do Ensino Superior nao trata da elaboraco de planos de aula. Esses instrumentos si0 muito importantes no ensino fundamental, onde se requer dos professores a especificacéo dos compor- tamentos esperados dos alunos, bem como dos meios utilizados para alcangé-los. O que distingue o plano de aula do plano de unidade é que este é bem mais restrito. De modo geral, limita-se 4 previsio do desenvolvimento a ser dado ao contetido da materia e as atividades de ensino-aprendizagem propostas de acor- do com os objetivos no ambito de cada aula. Isso nao significa que o plano de aula seja dispensdvel. Muito pelo contrario. Até ha professores que elaboram planos de aula sem que tenham realizado planos de unidade, nem mesmo pla- nos de disciplina. A rigor, aqueles nao constituem planos de aula, mas planos de discurso, pois o que a maioria dos professores faz, quando nao elabora planos de disciplina ou de unidade, é a ordenacio de sua fala, j4 que 0 contetido minis- trado nao decorre de objetivos claramente formulados. Quando o professor elabora cuidadosamente o plano de discipliiae 6 plano de unidade, com o esclarecimento dos objetivos, a especificagao dos contetidos e a determinagio das estratégias e recursos mais eficazes, bem como os proce- dimentos de avaliac&o, a elaboracdo do plano de aula se torna bastante simples. O que o professor tem a fazer, nesse caso, é principalmente especificar os con- tetidos, cuidando para que cada um de seus tdpicos seja desenvolvido mediante a utilizagao das estratégias e dos recursos mais adequados, com rigorosa previsio do tempo e das atividades que ficarao a cargo dos alunos. Como planejar o ensino 107 6.4 Quao rigidos devem ser os planos Uma pergunta formulada com freqiiéncia por professores universitarios refe- re-se a rigidez com que os planos de ensino devem ser seguidos. A resposta nao é simples, j4 que depende de muitos fatores. A experiéncia € certamente um dos mais importantes. Professores experientes conseguem pla- nejar com mais precisdo. Mas mesmo estes com freqiiéncia admitem que seus planos necessitam de corregées. Nenhum plano pode ser considerado absolutamente rigido. Por isso, os pro- fessores precisam estar dispostos a promover ajustes em seus planos. No entan- to, antes de proceder a qualquer mudanga, convém verificar em que medida as dificuldades séo devidas a fatores pessoais. Pode ocorrer, por exemplo, que o professor esteja sendo demasiado prolixo em suas apresentagdes, ou que venha abordando alguns tépicos de maneira superficial. Ou que tenha proposto temas para discussao que levaram a classe a desviar-se do assunto. Também é possivel que as aulas nao tenham caminhado bem em virtude da falta de motivagéo dos estudantes ou de qualquer outro fator ligado ao comportamento deles. A maioria dessas situacées pode ser modificada mediante a introducao de certa dose de humor ou a injecdio de um pouco mais de energia nas prelecées. Por isso, qualquer que seja a raz4o pela qual o professor esteja tendo dificuldade para levar a cabo o plano, deve procurar primeiramente rever suas atitudes em sala de aula. Um problema bem mais sério é 0 que se refere 4 avaliagéo. Os estudantes tendem a ficar ansiosos quando percebem 0 nivel de exigéncia da disciplina. Por isso, convém que o exato volume dos trabalhos requeridos seja indicado logo no inicio do curso. O professor deve evitar a reducdo das tarefas. Também nao deve perguntar se os estudantes gostariam que houvesse mudangas nas exigéncias. Isso poderia comprometer a lideranca do professor em sala de aula e o interesse dos alunos na realizacao das tarefas. Os planos, a despeito de sua flexibilidade — que é caracteristica desejével em sua elaboracio —, devem ser seguidos. O professor deve, portanto, considerar que o planejamento de ensino envolve muito mais do que aquilo que vai ser dito em classe. Portanto, convém que o professor esteja atento para as dificuldades rela- tivas 4 formulacdo dos objetivos, selecao dos contetidos, escolha das estratégias e recursos de ensino e procedimentos de avaliagdo, que serao considerados nos capitulos seguintes.

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