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ite Brigitte ural uma antropol ca B8/v 148 OTECA UNIVERSITARIA ate Brigitte aral uma antro sa Pol BB/v. 148 (73699005790) 0/98 50.000 PRINCIFUW Renate Brigitte Viertler Professora de Antropologia da Universidade de Sao Paulo da mudanca, i C1 URN LA LL 73699085 a j | i __ —— — Direcao Benjamin Abdala Junior Samira Youssef Campedel Preparagao de texto any Pieasso Batista Coordenacio de composi¢io ‘ProsuptsiPsginasse-om'adee Neide Hiromi Toyota Capa Ary Normanha Antonio Ubirajara Domiencio oTECAUNVE RS, OT ESL LONER, ISBN 85 08 03079 7 1968 Todos os direitos reservados Editora Atica S.A. — Rua Bardo de iguape, 110 Tel (PABX) 278-9322 — Caixa Postal 8656 End. Telegrafico “Bomlivro' — Sao Paulo | Sumario 1.0 que € ecologia cultural? 2. Raizes tedricas da ecologia cultural Os estagios de cultura A definigao di Historicismo A obra de Julian Steward Por que uma ecologia cultural?. Evolucionismo x Funcionalismo © conceito de adaptacao. le ecologia cultural x Evolucionismo Conceitos basicos de ecologia cultural _ O conceito de cultura As camadas da cultura Os tracos nucleares das culturas, sugeridos por Steward__ Os niveis de ii O estudo das integrac&o sociocultural das culturas _ relagdes entre culturas pertencentes a niveis de integracdo sociocultural diversos O problema metodolégico Os tipos inter< socioculturais culturais ou causas das mudangas 5 9 1: 14 15 16 18 18 19 22 22 23 25 27 29 30 31 5. Rumos da ecologia cultural ou antropologia ecolégica 38 Temas de ecologia cultural relativos 4 Amaz6nia __ 36 A contribuigao de Betty Meggers: varzea x terra firme 40 Robert Carneiro ¢ a teoria da circunscricao territorial, — a Daniel Gross ¢ a hipétese da limitacao de alimento protéico 42 Stephen Beckerman e a hipétese do impacto das epidemias 43 Conclusaéo quanto as principais contribuigdes ao estudo da Amaz6nia 43 A ecologia cultural e 0 estudo das sociedades complexas 44 6. Criticas 48 7. Vocabulario critico 51 8. Bibliografia comentada 56 1 O que é ecologia cultural? termo eco/ogia deriva da palavra grega oikos, que sig- nifica “‘morada”’ ou ‘‘habitagéo’’. A palavra ecologia, isto é, oikos (habitac&o) + logos (conhecimento) = 0 “‘estudo das habitacdes”’, foi criada pelo bidlogo Haeckel em 1870, definindo-a da seguinte forma: Ecologia é 0 estudo da economia, da organizagéo doméstica dos organismos animais. Inclul as relagdes dos animais com o ambiente organico e Inorganico, especialmente todas as re- lagdes benéficas @ Inimigas que Darwin mencionava como re- presentando as condig6es de luta pela existéncla. Apesar de haver acordo quanto ao fato de que a ecolo- gia trata dos organismos inseridos em determinado ambien- te, ligando-os a certas condigdes do espaco fisico, existe também um consenso de que ela, antes de uma disciplina, ¢ muito mais um tipo de abordagem ou um ponto de vista es- pecifico para o estudioso dos fenémenos da vida. Para viverem e sobreviverem pelo tempo, os organismos animais devem relacionar-se com um mundo inanimado, ¢ outro, constituido de outros organismos animais pertencen tes ow no a sua espécie. No caso de se tratar de organismos animais pertencen- tes A mesma espécie, falamos de populacdes ou comunida- des, que podem ser mais ou menos numerosas, ocupando territérios mais ou menos extensos. Em se tratando de orga- nismos pertencentes a outras, espécies, algumas delas sao for- necedoras do alimento e dos recursos materiais indispensaveis a sobrevivéncia, outras predadoras ou nocivas, interferem nas ‘condig6es usuais do abastecimento quando ndo ameacam a propria vida dos individuos da espécie em questao Cabe ressaltar que as modalidades de comportamento desenvolvidas por populagdes animais em relacdo a outras, quer pertencam a mesma espécie ou nao, articulam-se, por um lado, com as formas de organizagao social interna dos individuos de mesma espécie que convivem nas comunida- des, por outro, com a complexidade biolégica dos organis- mos dos individuos que a compdem. As formas de organizaciio social interna das diversas es- pécies animais ¢ vegetais visam aumentar as condigdes para a sobrevivéncia da populacdo por meio de modalidade de coo- peragdo, principalmente entre individuos pertencentes as me: mas cdmunidades de vida. No caso de organismos animais mais complexos, pode ocorrer a competicdo intra-especifica pela disputa dos mesmos nichos ecoldgicos entre membros de comunidades diversas. O comportamento evidenciado pelos individuos perten- centes as diversas espécies biolégicas varia em fungaio do au- mento de complexidade dos seus organismos. Assim, os insetos sociais, tais como as formigas ou abelhas, tendem a evidenciar menor variabilidade de comportamento entre as diversas comunidades ou sociedades em que vivem do que 98 primatas antropéides, ou seja, chimpanzés, gorilas, ba- buinos, orangotangos, cujas hordas ou bandos podem apre- sentar variacSes comportamentais de uma para outra regio, respostas adaptativas 2 condigdes fundamentadas em orga- nismos mais complexos. 1 © maximo de variacao possivel do comportamento é re- gistrado para os representantes da espécie humana, o Homo sapiens sapiens, resuitante de um longo proceso de evolu- so biolégica. Este remonta a 3,5 milhdes de anos atrés, quan- do se presume terem vivido individuos paleoniologicamente classificados como Australopithecus afarensis, a nartir do qual teriam surgido duas tendéncias evolutivas: uma, ievan- do & emergéncia temporaria dos hominidas Australopithecus (africanus, robustus, boise’); outra, conduzindo aos repre- sentantes do género Homo (habilis, erectus, sapiens). Ausiralopitnecus atricanus ~ robustus ~ bois e @ Home habilie~ erectus ~ sapiens <7 @. (603) (080.1) “neenderth As raizes biolégicas do homem atual remontam ao Ho- mo sapiens, portanto aos representantes deste segundo ramo, subdivididos em Homo sapiens sapiens e Homo neandertha- Jensis, populacées cujos restos fésseis datam de 300 000 anos atras. Os Homo neanderthalensis desapareceram enquanto os Homo sapiens sapiens passaram a ter a dominancia pri- meiro no Velho, posteriormente no Novo Mundo. Uma das caracteristicas biolégicas do Homo sapiens é © seu sofisticado desenvolvimento cerebral, permitindo-Ihe desenvolver capacidades mentais e fisicas préprias & sua es- pécie: o uso da linguagem articulada, pelo qual foi designa- do de Homo loquans; a fabricagao de instrumentos e outros artefatos, caracterizando-se como Homo faber; a criacdo e 0 uso de simbolos ¢ convengdes sociais, pelo que é chamado de Homo simbolicus; a sua liberagdo para a criatividade es- tética e um comportamento ligado ao imagindrio, tornando- 0 um Homo ludens. Apesar das diferencas fisicas entre os seres humanos — constatadas ao nivel de caracteristicas tais como cor da pele, 8 tipos sanguineos, forma do cranio, proporgdes relativasidas par- tes do corpo —, os. homens da. atualidade, descendentes do Ho- mo sapiens sapiens, pertencem a uma.espécie tinica, dotada de talentos especiais que se convencionou designar de cultura. ‘Tendo alcancado o maximo de complexidade biolégica, © Homo sapiens evidencia uma grande variedade de compor. tamentos no tocante as estratégias de convivéncia e sobrevi- véncia. As comunidades ou sociedades humanas organizam- Se base de regras muito variaveis relativas as formas de pro- ducdo ¢ de reproducao qué, por sua vez, devem correspon- der a um minimo de viabilidade face As exigéncias neurolégi- cas ¢ fisiolégicas dos organismos humanos. Estes sao geneti- camente diversificados, pois pertencer a uma mesma espé nao significa que seus individuos sejam geneticamente idén- ticos. Explicam-se assim possiveis variagées culturais obser- vaveis de uma.para outra comunidade humana, bem como aquelas que podem ocorrer de um para outro subgrupo e de um para outro individuo da mesma comunidade. Além de pertencerem a uma espécie tinica, todos os ho- mens possuem uma caracteristica comum:_a de orientarem ©-seu comportamento por referenciais cujo conjunto desig- namos de cultura. Esta manifesta-se das formas mais variadas, as culturas fumanas, que correspondem a conjuntos de técnicas mate- riais ¢ espirituais estratégicas para a convivéncia interna e a sobrevivéncia da comunidade de vida no seu ambiente. As culturas humanas sao transmitidas de uma para ou- tra geracdo através de um processo educativo designado de endoculturacdo ou socializacdo. Por meio deste, ativam-se as capacidades mentais e fisicas dos filhotes humanos recém- nascidos, que, neste estdgio inicial, ainda néo podem ser con- siderados humanos ou humanizados jA que nao possuem ain- da a capacidade do uso da linguagem, da fabricagao de ins- trumentos, e da independ&ncia fisica, préprias aos adultds, Os bebés, apesar de nao serem humanos, so individuos bio. a) logicamente hominizados, descendentes de eas tencentes ao género Homo e a espécie Homo sapt aera ens. A aquisic@o das caracteristicas fisicas e mentais hw n nas constitui um processo gradativo, concebido de formas am ridveis de uma para outra cultura e de substratos ae rolégicos muito varidveis de um para outro individuo, ae designados de imaturos, em oposi¢&o aos omens mai i a cujas capacidades j4 tenham sido desenvolvidas durante oe oa calomtnuel, mini re também da linguagem falada, permite que 0 mature. poss 2 beneficiar-se das experiéncias dos maduros sem que e1 ane necessidade de revivé-las por conta propria. Kos ae a se um processo cumulativo de enriquecimento de a ee ae e solugdes culturais de uma para outra geracdo, d eaienae) de andipz aun, Boa ly cinta ee solucGes ditadas pela geracaéo 2 er eed i ios imaturos que, para conviverem e sol 7 do ee ae eas oe mas novas as préprias tradigdes. A definigdo de ecologia cultural Se integrarmos os dois conceitos até agora discutidos, o de ecologia ¢ o-de cultura, chegaremos a definis com ma preciso o sentido do que seja a ecologia cultural. A ecologia cultural ¢.0.estudo da rede de-relagbes que existe entre as comunidades.on sociedadea humana ¢ pee i ida. Na medida em : n anes aad ‘de culturas, € necessério inserir 0 conceito de cultura.no estudo ecolégico do Homem, ome A semelhanga dos outros organismos vives. as ei nidades humanas constroem redes intrincadas de relacio- namento com os seus ambientes de vida. Estes podem s 10 dobrados em duas modalidades: ambientes naturais e ambien- tes humanos. Os primeiros correspondem a condigées fisicas associadas a fauna, a flora, aos recursos minerais e hidro- graficos, caracteristicas dos solos e dos climas existentes nos territérios de exploragéo e de moradia das populacdes hu- manas. Note-se_que as culturas humanas nunca utilizam to- dos os recursos disponiveis no seu territério de ocupagao. Se- lecionam alguns deles em termos de tecnologia de que dis- péem. A habilidade tecnolégica nos leva a constatar a im- Portancia dos ambientes humanos. Sdo.representados pelos antecedentes histéricos.das culturas, que explicam a presen- ¢a.ou.auséncia de determinado padrao tecnoldgico, solugdes socialmente herdadas. Os ambientes humanos, além das in- fluéncias histéricas, correspondem também aos efeitos socio- ldgicos, econdmicos e politicos desencadeados pela convivén- cia, amistosa ou hostil, de diversas comunidades culturalmen- te semelhantes ou nao, engendrando as mais variadas moda- lidades de troca de recursos, individuos e conhecimentos. As diversas formas de convivéncia intercomunitéria, intertribal © interétnica podem engendrar diversas formas de domina- ¢40, competicdo e interdependéncia. Em seu trabalho de investigacao, o ecdlogo tenta obser- var com o maximo de rigor formas de comportamento hu- mano explicitas, partindo de levantamentos de praticas so- ‘iais:_Quais as prdticas mais importantes observaveis na co- munidade X? Quais os fatores espaciais e temporais perti- nentes responsdveis pelo desencadear destas praticas? Como diagnosticar os impactos por elas causados no ambiente? Co- mo qualificar ou quantificar tais impactos? Ao tentar respon- der a este tipo de perguntas, o ecdlogo cultural afasta-se um pouco da posi¢do usualmente assumida pelo antropdlogo so- cial e cultural para quem as questdes cruciais sao: Quem em- prega certas praticas? Qual a conduta ideal de dada catego- tia de individuos?, e cujo objetivo é observar o aspecto mais normativo do que pratico do comportamento humano. un «A resposta as perguntas do ecdlogo cultural envolve a claboracdo de uma metodologia cientifica que permita 2 ana, lise e a compreens&o de processos sociais ligados a mudan- gas. Valendo-se das evidéncias fornecidas pelo Paleontélogo humano, pelo pré-historiador, pelo arquedlogo ¢ pelo hisee. riador, o estudioso da ecologia cultural tem como objetivo captar a lgica das transformacées socioculturais das popu- JacGes humanas em termos da construcio de hipoteses carats, E inegavel que as mudangas culturais sofridas pela hu- mmanidade alteraram, de modo irreversivel, as condigdes qua. Iitativas e quantitativas de sobrevivéncia humana em noseo planeta. Pensemos na enorme diferenca que existe entre uma pequena comunidade de cacadores do Paleolitico, época em gue o Homem ainda nao conhecia a ceramica nem domesti- cava plantas ou animais, e uma Populosa sociedade indus- trial dos dias atuais,’ abastecida por uma agricultura mecanizada, pela domesticagao de animais, por modos de Produc4o de artefatos materiais mediada por sofisticada ma- duinaria, por instituigdes politico-econdmicas de grande com. Plexidade, aglomerando grandes contingentes populacionais. Dado o fato de que as culturas humanas tendem a cons. tantes transformagdes, é necessdrio desenvolver uma meto. dologia que as estude cientificamente, explique as suas causas € conseqiiéncias, campo que constitui © foco de interesse da ecologia cultural, detentora de um instrumental conceitual vi- paren investigagdo das diversas modalidades de dinémica cultural. Raizes tedricas da ecologia cultural Embora tenha se constitufdo como abordagem sistemd- tica apenas em meados do século XX, a ecologia cultural re- presenta a fuséo de duas linhas do pensamento antropolégico: 0 evolticionismo e o historicismo culturais, acrescidas de in- fluéncias do determinismo geogréfico inspirado na antropo- geografia de Ratzel. © evolucionismo floresceu na Europa ¢ nos Estados Unidos do século XIX em nuancas das mais diversas, asso- ciadas as obras de autores como Frazer, Morgan, Tylor, Ba- chofen e Maine, cujas interpretagdes.de fendmenos socio- culturais dos mais diversos representaram as bases sobre as quais se erigiu @ antropologia, ou seja, 0 estudo cientffico do Homem. Partindo do pressuposto da unidade psiquica da huma- nidade, os.evolucionistas desta época preconizavam.a.com- parabilidade das culturas humanas & base de seqiiéncias de “‘estdgios” de desenvolvimento. Este era concebido, prepon- derantemente, como uma tendéncia, imanente a todas as cul- turas, de partir de estagios mais simples para outros de cres- 13 cente complexidade material e espiritual. Assim, culturas hu- manas “‘selvagens’’, muito simples em sua organizacfo so- cial e tecnologia, “primitivos", por vezes designados de ‘povos da Natureza’’, tenderiam a evoluir, isto é, a trans- formar-se e alcancar estdgios ou perfodos caracterizados por uma maior complexidade sociocultural, designado de ‘*har- hétie’’. Passando por este, a tendéncia seria a de evoluir pa- ra um estdgio de ‘‘civilizacdo"", na época identificado & civilizagdo industrial vitoriana européia. Em oposic&o as interpretacdes da Igreja — que apregoa- vaa “‘degeneracao”” do Homem, de um estado de pureza cul- tural e racial, com a miscigenacéo desencadeada pelo colonialismo do século XIX —, os evolucionistas defendiam ‘opredom{nio da evoluedo. Isto porque se escoravam nas pro- vas irrefutaveis das descobertas arqueolégicas da época, do- cumentos preciosos que atestavam a crescente complexidade das culturas e civilizagdes européias do passado, observavel a partir dos sitios arqueolégicos do Velho Mundo. Lembre- mos também das influéncias exercidas por Darwin no pensa- mento da época, ressaltando a mesma tendéncia ao nivel do processo de evolucdo biolégica, além das idéias do ‘‘evolu- cionismo social”’ preconizadas por autores.como, Spencer_e Comte. O evolucionismo, como tendéncia mais geral do pensa- mento do século XIX, representa uma expresso ideoldgica de condicSes histéricas especificas: 0 proceso de expanséo da sociedade industrial consolidando o império colonialista dominado pelas nagées européias, associado a um clima de otimismo expresso pela idéia de ‘‘progresso"’. Deste ponto de vista, a passagem de uma cultura de um estégio cultural mais simples para outro mais complexo representaria um pro- gresso, justificando as diversas modalidades de interferéncia em_relagdo as culturas colonizadas. Isto porque, na medida em que todos os homens possuem o mesmo potencial psiqui- 4 co, representantes de civilizagdes tal como a moderna socie- dade industrial t&m nao sé 0 direito mas o dever de resgatar, _para transformar em bons trabalhadores e cristaos, os mem- bros de culturas “‘primitivas’’, ‘‘selvagens””, pagdos pouco apegados & ética do trabalho, vinculada as concepgées de vi- da do,mundo europeu industrial. Os estdgios de cultura Contudo, os evolucionistas estudiosos das culturas hu- manas mais representativos, diferentemente de outros que pre- conizavam a idéia de que todas as culturas teriam que passar necessariamente pela mesma sequiéncia de estdgios, demons- traram com os seus trabalhos de investigacdo que nem sem- pre € poss{vel prever qual o estagio ariterior ou posterior do processo de transformacao de uma cultura humana. Os gran- des classicos da antropologia evolucionista do século XIX, tais como Tylor ¢ Morgan, diferentemente dos autores que designariamos de evolucionistas ‘“‘vulgares’’, admitem que a tendéncia de evolucéo imanente as culturas humanas possa sofrer interferéncias decorrentes de dois fatores. Um fa- tor histarico, decorrente dos efeitos acarretados sobre uma cultura causados pelo contato, em determinado momento de sua histéria, com representantes de outras culturas, que po- dem redundar em supressao, antecipacdo ou retardamento de certos estagios. Outro fator de interferéncia na légica do processo evolu tivo das culturas de estdgios mais simples para outros, mais “| complexos, decorre.das.condicSes.do habitat, ou seja, do seu ambiente fisico. Certos habitats estimulam o isolamento e a dispersdo humanos, outros, a aglomeracdo, pelas facilidades de comunicacao, efeitos que, acrescidos de influéncias histé- ricas muito varidveis, explicam o retardamento, a estabilida- de temporaria e o aceleramento evolutivo das diversas culturas. 1s Como se pode observar, os evolucionistas culturais, ao ressaltarem os dois fatores de interferéncia no. prosesng fa Potético de evolugdo das culturas humanas, chan eee Para a investigacdo cientifica da histéria das culturas ¢ he toricismo, que parte da idéia de ‘‘éreas culturais, instrime, fal metodol6gico indispensavel aos pesquisadores auc Alem disto, formularam a idéia de “provincias eeoms4fiene, Proposta de Bastian que influenciou profundamente as con. cepedes ligadas ao estudo das relagdes entre cultura ca oc, ambiente fisico, inspirada na antropogeogratia de Ratesl. fac ndo deixou de marcar a obra de investigadores posteriones tais como Clark Wissler e Julian Steward, o fundados os Historicismo x Evoluci ionismo Cético quanto & possibilidade de se propor esquemas mais gerais no estudo das culturas humanas, Franz Bose © fundador do ‘historicismo cultural” norte-amerieano, na” terava as grandes dificuldades inerentes ao método compara. ‘vo_preconizado pelos evolucionistas. De acordo com este autor, seria temerario partir da comparagao de culturas hu- manas sem antes conhecer as suas origens histéricas. Cada uma delas constitui o fruto de processos socioculturais, psicold- gicos, histéricos e geograficos unicos, razdo pela qual é con- veniente partir do estudo sistematico de culturas Pertencen- Muito diferenciadas. Seguindo a argumentacao do mesmo aa, for antes de comparar culturas que no pertencem & mesma area cultural ¢ cujos processos pudessem ser meticulosamente investigados, € preciso demonstrar a comparabilidade dos fa. nOmenos que se_queira investigar. Assim, apesar de seme, 16 thantes na sua forma, muitos dos fendmenos socioculturais correspondem a convergéncias de processos histéricos muito diferenciados, cuja comparagao ou elaboragao mais genéri, ca em termos de estdgios de desenvolvimento no possuiriam nenhum valor cientifico. «Com Boas, deparamo-nos com uma posicdo particula- © Hista que, avessa as generalizacdes, propde a investigagao cri. teriosa de processos socioculturais especificos, de preferéncia enquacracos em habitats e condicdes histéricas bem conhe. cidas. Por seu intermédio, surgiram uma série de contribui. $6es etnogrdficas importantes sem que, no entanto, se avan. gasse em termos de propostas tedricas de maior peso para a compreensao da dinamica cultural de modo geral. Apesar de sua formacao geografica, Boas realga o pou- £0 peso dos fatores ligados ao ambiente fisico para explicar 0s fenémenos culturais. Estes so explicaveis a partir da com. preensdo detalhada de processos socioculturais de natureza hist6rica e configuracional, formulaco esta que justifica con, -Siderar. Boas, o fundador do “‘configuracionismo” norte. americano. Esta perspectiva é divulgada por diversos disci. pulos de Boas — Benedict, Herskovits, Opler, Linton — que preconizam o carter tinico de cada cultura, reforcando a in. terpretacao particularista ¢ atomizante, em detrimento da bus. ca de leis gerais de causa e efeito, para explicar as variacoes culturais do Homem. Contudo, a interpretaggo dada por Boas as relagdes en-| {re as culturas o seu ambiente natural, longe de ser satisfa| téria, continua preocupando alguns dos seus discipulos, em especial Kroeber, que retoma o problema por meio da anali- se das relac6es entre ‘

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