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2Z SATS wa, yo /co/ee Dados Internacionais de Catabgagdo na Publicagto (CIP) (Cémara Brasilaira do Livro, SP. Brasil) joldyicos, volume 3 organizadorus, Bibliografia ISBN 85-249-1053-4 2, Lingblatien — tudo ¢ ensino 1, Mussalin, Rentes, An Cristina 4.3805 cop 10 Indioas para cotilogo cietomatico 1. Linge 410 fernanda mussalim anna christina bentes organizadoras Ediiges Maria Helena Mains José Borges Noto * Luiz aia Cristina Figuerodo Silva + introducao a lingiistica fundamentos epistemologicos g. 92 5.96, 6? Volume 3 (idler emod, 2° edigio CORTEZ, EDITORA, 10 TEORIA DO DISCURSO: um caso de miiltiolas rupturas Sito Possent 1, Sern wm mado de pr em a riados" pelo anal, ama cien ue mics busetmente cers rove * ns ees Fregdentemente, no entanto, um campo torna-se tanto mais interessante ‘quanto mais é recartado. Pode parecer que com isso se perdem “materials”, que fendmenos fieam de fora da andlise, mas, em compensagio, dutiva das formas de nao dar relevo a um sem nimero de cada campo, as trivialidades podem ser diferentes) ou de ex aque uma disciplina dé conta de teelos os “fatos” — como se devesse estar sozi- tha no campo dos saberes. Este texto niio tem 0 objetivo de earacterizar de vérias maneiras a proble- tentard fazer a exposigao E) aa PART, Que THO Te esperé, por 1550, um mapa ~~ “mesmo do campo francés, mas apenas, através de um esboyo, uma tentativa de desenhar epistemologicamente um saber; ou, de forma ainda mais restrita, se~ gundo uma certa epistemologia, a da rupiura. A decistio se deve, em parte, a0 fato de que a AD reivindica explicitamente esse trago, € em parte porque essa 6 talver maneira mais produtiva de apresentar essa teoria ¢ de indicar algumas de suas priticas. ‘Além disso, otexto toma em consideragio basicamente a AD dos anos 1970 do século XX, exceto por algumas observagdes e pela impossibilidade de impedir ‘que o texto sofa alguma interferéncia dos desdabramentos posteriores,’ (ster. no. Gabi) pereetn Genericamente, ¢ reduzidas a seus tragos mais evidentes, hd duas manci- ras bisicas de analisar a histéria do conhecimento, seja ele 0 geral, seja 0 de cada campo. A tradigdo mais poderosa produz uma representagzio segundo a noe ack “ vamente: cada vez se suberia mais concebidas como aspectos do real. A sobre a8 mesmas coisas, ignordincia seria vencida aos poucos, em p parte pela organizagio da pesquisa. Haveria uma pro teoris, fruto de um progresso da raz, de uma corres terizaria 0 conhecimento, ‘A outa forma de considerar esta problemitiea ¢ a da ruptura. Os ttagos fundamentas so basicamente ou por estarem “espo- verdade tomam set ‘Creio que posse dei luiamente sumtin, a c jpossa ser adequadame ‘encontrar neta, a dsp ‘Trata-se de um outro of pela seguinte citagla de Fot tos?) so substitu, da extatgs 6 preciso isolar uns dos ou ios de pentodizagaio aotar para cada wma del ” usu rarquia, dominincia, escalonamento, determinaco univoca, exusaliide circular) pode ser descrito entre uma ¢ outra? Que séries de séries podem ser estabeleci- das? E em que quadro, de cronologia ampla, podem ser determinadas seqincias dlistntas de acontecimentos?( sm relapo acs economistas classicos parece ser A ruptura pode ser eficaz para explicar 0 proceso do conhecimento tanto zo clominio do individual, como propoe Bachelard (1938) —embora ele nao se refira somente a esse aspecto, na medida em que romper com o sexso comum, com a experiéncia quotidiana ¢ com diversos “milos” é condigtio de acesso a0 pengamento cientifico —, quanto no dominio dos diversos campos, ja que rom- per com 0 estigio anterior, seja ele j4 cientifico ou “ainda” ideoldgico, 6 condi- ‘go necessaria ora da cientificidade, ora da implantagdo de determinada teoria. No caso de tratar-se de rompimento com a ideologia ps cientificidadle — que parece ter sido a imagem que a AD fe, menos até certo momento —, ¥ deter-se um pouco em alguns det Recorro a Pécheux ¢ Balibar (1969), Embora 0 caso de que tratam ¢ que 10 paradigmatico seja Galilen, as afirmacdes valem certamente para tal, e para a AD, como vou proper. Comegam apresentando 0 que chamam de corte epistemolégico, definide recur kt a Nio se pense, no entanto, que antes do referido “principto” nio haja ‘naila, ov, pelo menos, nenhum conhecimento rel ‘Os autores advertem enle a um proceso de ypo de forma- rnio hd linha ha vazio, A ciéncin \. leva a uma rupture em a idéia de que qualquer reformulagio venha a ser considerada corte e, também, de que um corte seja cconcebido como mere reformulagao. Em suma, a ruptura pode dar-se de duas formas: (a) em relago @ wit teoria cientffica (Einstein rompe com a fisica newionana, ‘Saussure com a plifstica histérica), juando uma teoria desioca extra, toma seu lugar, no me campo anterior (ou Coexistente) ou construindo out pretagiio do que Khun chamou d lugdes clentificas) ideologia, ou a um conjunto delas, “iransformando” oc cia, ou seja, pasando a trati-lo segundo procedimentos ci Voltando ao panto que agui interessa: concebida a conoticzo, a tempero do contexto, ou 0 texto de cada um desses “temas” — Dy faz em cada um deles. z ponentes que se pode dizer que 2 AD rompe com ela, “A finalise de cantetidolé cronologicamente amterior & AD, que se cons- truiu, em parte, em oposigio a ela” (Charaucdeau & Maingueneau, 2002: 39) Essa teoria se desenvolveu basicamente no campo da sociologia, sob 08 ausp das teorias da informogio: part ela, 9 sentido de um texto sio os inf 1a & haseaddo em categonits temitices (pov, pelo pesquisador, so propostas - © exempl to da informagdo carasterfstico das tiotecas © dos cenitros de documentaga tos exemplos: “quantificagio de temas de tw obra, de Unt didrio ou de um periddico, a fim de tazer & luz os ‘ceatros de interesse do jornal ¢ a evolugdio desses centros de interesse” (Robin, * A ruptura da AD com a andlise de contetido se di tanto pela eritica Daseada em categorias tematicas” quanto peta diferente abordugem do AD introduz, a nogiio ingiifstica fazia antes de Saussure: estudar meensaio (do que trata? quais sio nota, assinaila que se refere a filologia como (1987), 6 centralmente a filologia que o autor se refere quando caracteriza a tradigdo, que, ao lado de uma certa conjuntura e de uma prética escolar espect- fica, preparam, segundo ele, o surgimento da AD. A filologia & af definida como ( cou kimaisn a» “a mais dificil arte de ler”. Ao que o autor acrescenta: “o filélogo quer conhecer ignificagio ou a intengio daquele cuja fila & conservada através da escrita" (p.9). Se accitarmos que de fato alfitotogiale © conjunto de procedimentos interpretugiio de textos que vigorou pelo menos até meado: que © suygimento de outros e a critica & filologia a tenham f pode-se dizer que a AD surge rompesdo com e desaparecer), a forma de varacterizagas da con) a suposigto de que sé povderia ter ac supor que hajat wn possam ter urna 56 NOS 0s textos anti 2 lingiistica his outro lado, ela devia aceitar a premissa de um pr autor, a0 qual se teria a “0 soa mes ingredientes contraditérios, Em outras palavras, a AD nfo aceita que haja obras ccuja interpretapio possdeva/mereca ser levada u cabo com procedimentos ba- ‘seados em uma concepedo de lingua que se refira diretamente ao mundo, em concepees de autor definido em termos de projeto e intengEo ¢ em concepcies porque esse decorre de fatores qe ni de conjunturas reduzidas a uniformidade cul fesse sentido, a AD pretende vra ow 0 mesmo enuncindo podem ocupar 0 “espaco" da filologia. operando em relagio a ele com procedimentos formagdes discursivas diferentes . fundados em outras concepgses de lingua, de autorlsujeito e de conjuntara, Em rias sobre a ambiglidede, tal como as suma, AD rompe com a concepeto de autor, coma de semfintica, um seatido origifario a ser descobe fo de lingua como ex- ‘A lingua niio € transparente, mus tem uma ordem prdpri 10 sé Fosse uniforme. at yt po do sentido, na medida em que a lin, so da mesma natureza que a teoria grarn 4 DA LINGUA, textos de AD apresentam uma voncepeiio de Kingua que & em boa me- assim como a nguat . lida, indireta, na medida em que mais se negam do que se propdem caracteris- teria que ser, podendo z foi dito, o sentido dec ingua nfo € transparente” é um exemplo. O fundam que a AD nio aceita que, dada uma palaves, seu sentido teja " antiga “universal” Uni dos efeitos dessa recusa ¢ uma segunda recusa: a da centralidade ou ‘autonomia da sintaxe (gramatica), A AD propde que a lingua tenha um fancio- enio parelalmente auvnomo, ou seja, que uma lingua funcione segundo mologia, morfologia e sintaxe; isto é a iingua tem uma a, mas gue so postas a funcionar de uma forma ou de outra Contesta que © sentido seja da order da Zs" critérios — uma seméintica nio é uma “fonologia” do s do. O sentido ¢ da ordem das, formagdes discursivas (FD), que, por sua vez, thor” para cade “finalidade” —o alemioe o grego para 1 ciéncia ete.) Mas a lingua nao & expressdo de pensamento tai 1 nogto de fmeionnmente dng, fet du opin susauinn,&desadada com rlevo (ve 190: 62), Come di audio dunounmvod ‘lativamente 2 ideologia (que so muito prékimos, quando niflo coineidem), propie que “idéins” sejam efeitos da linguiagem e, sendo assim, evidentemente, ; ingua no “este” um pensamento prévio, que seria fat de uma mente “sadin”, mag, ao contririo, € acondigito do pensamento.”” Tudo isso permite co ‘como um efeito (de sentido) reender que 0 seniido seja concebido pela AD as € por diversas formas (re- re como efeito, nunca como uma " pela lingua, A Iingua é a mate- idade discursiva, ou seja, © aspecto material de um discurso (0 que produz 0 de conceber 0 sentido como ndo sendo material). ‘Vale a pena acrescentar uma ol cstreitas as oe entre om ae ne fonnaeaesfin de consty ‘concepedio & duplo: a) tare por ‘que tentariam, por diversos caminhos, _ sempre “prod” derivas de inecreogtn «ao podern ean, fem ‘nterpretagBes wnivocas. © equfaco é exatamente o que se deve esperar. o: moitiani Claraments de que natureza, é a lingua (sto & que cla é uma setistem a deste) através de sepresentagdes formals de sus.ambi- cule :OOCMTEA. AeiGvament, de (dois ou mais) seatidos perfei mente distintos. nego heck x0 ‘5 DAPRAGHATICA jambém combats sociologias da linguagem io € a praginsticn O que & A pragmatica € 0 yerdadeiro Outro da AD. Por 4s gram@icas formais e universais, qu s verdadein has um instrumento para 0 cardler interativo da ati tungia de enunciagio, ete. ‘opcbes da AD” (p, 32). ‘A observagio € correta, Mas asm ae fo conteores, nem € um drama que cardidatos representa. PETS me~ nos, ake aOHIVET'ES discurso. Al, jogam-se embates de FDs historicamente constituidas, ¢ os “atores” nko devempenham papéis, mas ocupam posigoes — ‘eventualmente, sem sabé-to, De cert forina, pode-se dizer que’ AD tanto quer desveneithar-se da pragmatica (a ci dela um simulacro que continua de salucionar a questo do semti , de uma capacidase de. Nantemente conside- ado e af alterad, Mas, ‘quadro social no interior do qual i interlocugto se da. esquecido no simulacro construfdo pela AD, ¢ a pragt vé reduzida a uma teoria do sentido que se resolve pela intengao do cconsiderado sua fonte (redugio ma qual 0s ee s tilo se reeonhecem). De fato, como se pode ver, quando a AD ‘que € visado ¢ 0 sujeito, vertadei~ to fulcro das diferencas entre « FAD c outrss disiphinas em relagto ts quai ela produ sua ruptura. ™ sas ven AAD trata como equivoco o que considera 0 sociologismo ¢ o funciona- lismo que regem a pragmtica. O dominio em que isso pode ser mais bem veri- ‘eado talvez sejam os estudos de andlise da conversagfo. O quadro geral & ‘francamente pragmético, na medida em que supe sujeitos conhecedores das regras de conv (sempre contexiializada), que reagem hs reagdes de seus ‘6. ilerfocutores, mi © rumo do “discucsa”, inserindo esclarecimentos etc, WX" Tudo isso a AD considera que tem pouco a ver com o verdadeiro funcionanien- {0 discursive, no qual os sujeitos cumprem fungées niflo por decisio (nadarde— “Gcetamios fazer uma entrevisia co i por ou grape ‘deudeologia-e pmnferem os enunciados que “podem e devem dizer” j Um anatista do discurso rece: ses segundo as, quale 09 Talantes per-_ im para s8-lo ete, (6 é pago na mesma . quando Idem sobre deslizamento do sentido, dis esquecimento n° 1 € n® 2 ete.). uma de suas consequéneias a rup- sua modalidade cognitiva, tanto por- gua, do mundo, das regras), quanto, ssconhece © inconsciente. A con- rgia € de um sujeito uno € Consviente. Dois lerar que tanto 0 sujeito quanto 0 discurso Ap tragos inaccitiveis para a AD. prea Be 97a afeindos Gtravessidos) pelo inconsciente e ela deologia€ constfaive da WW" BB. Como fol dito, qualquer aushon um cetieenens (releviante) do sijetto sobre 0 discurso € descartado, ui fda 5? 5. Do TexTO Para a AD, 0 texto nfo é uma unidate de anélise, ao menos segunda as concepcies da lingiisties textual, Mutatis mutandis, 0 texio como objeto lin- gllstico € recusado por razdes muito semielhantes As invocadas para rejeitar a gua como instrumento ou meio. A AD nio associa texto e contexto, como em {o'algumas teorias da coeréncia, assim como nfo associa enunciados a contextes. Evidentemente, um texto nao pode ser irtelevante para a AD, mas sua relevncia decorre do fato de que cada ie ima cadeia (de um “arquivoy; decorre niio de Sef tomado como um texto, como uma unite © WoerENte de sentido, mas sim como uma superficie discurstva; uma manifesta. ‘de im processo discursive especitico, a0.aqaie mnogo utes i linearizagdo de um discurso ¢ como efeito do interdiscurso, na medida em que ©.gue se rotoma nfl € apenas 0 que deve ter sido dito antes, no, mesmo text ‘mas o que pode ter sido dito em outros texios pertencentes a0 mesmo ardii @ memoria da mesma FD). ‘Teorias de texto levam em conta conhecimentos prévios dos locutores ¢ meméria discursiva, do interdi seja, nilo hd propriamente tc) linearizagdes concretas (materiais) de discursos, * 1983a). A meméria seri, evident tagio desta nog esteja em Court termol*meméria discurs além de sua forlagio, so Assim, no dominio do discurso pol questdes camo: “do que nos lembramos, gica, do que convém dizer e do que ni a mea et sonsepo, Mas nem 15. As pexyuins sob poe han alton eben medida st ‘oda ne versie dt AD ae aplc perspctva eet rprevetinds oa om es ces O dom{nio de meméria € constituido, assim, por um conjunto de seqlén- cias que preexistem a um certo eounciado, Ea partir dele que se apreendem, por ‘exemplo, os funcionamentos discursivos de encaixamento do pré-construfdlo de articulagdo de enunciados. Ou seja, € a meméria que faz inervir o interdis- ‘curso como instdncia de constituigdo de um discurso tansverso que regula, para um sujeito enunciador, o modo de dao dos abjetos dos quais 0 discurso, Fala, bem como © modo de articulagtio desses objetos. Inclusive, & a partir da smeaidia que se pode aproximar os processos que garantem a referéncia dos omes para um sujeito jor e uutorizam assim a predicagio ¢ a coneferencialidade (Courti 56). Para que essa concepgic posigdo relativa & nogio de texto, iro nio somente afastar-se da ‘voncepsao de texto que combate, mas especificar mais claramente a concep¢io que aceita, ou seja, sul texto deveria ser cor A tese de que especificada, assim como 0 concei Maingueneau (1984) propbe, a prop to, que os préprios géneros preferidos de cada FD decorrem de sua semfintica slobal, bem como seu tom ou ethos. Além disso, poder ser investignda, nessa ireedo, a relevancia discursiva das formas espeaificas de coesio e de citagso (ver Bakiutin & Voloshinoy, 1929). 7 fale 6* mereceria ser mais tadiscurso, Por exemplo, edo humanismo devo- 7. DAS CoNDICOES DE PRODUGIO Se Iermos Pécheux (1969) A luz dos parimetros da ruptura, teremos que considerar crucial a passagem na qual 0 autor afirma que 0 estudo dos proces: sos discursivos supde duas ontens de pesquisa, uma das quais serd JAP © estido da ligagto ent as “circunstincias” de um discurso — que ehamaremos Is doqui em diane suascemedipterepeaducilo — ¢ seu processo de prodiugio. Esta ‘canta pelo pepe! dado a0 content ow @ sii como pano de fundo especifico dos discursos, que tornia poseIvel sua Formulagho e sux compreensio: este aspecto da questho que vamos tentar esclare- cer agora, através do exame eritien do concete saussuriano de intial (p. 75). terete wor prio mies de linpien da ran, sobre. qe saltremon sat, © xi ‘urge ser preenchide (ufase acess), dew teria ds inter-frase” (Rchex ke Face ecu k cise » AA citagdo toca em dois temas fundamentnis: (a) 0 conceito de circunstin- Sia seri substitufdo pelo de condigdes de producto — substituigfo euja finali- ‘ade € Gkatamente retirar 0 funcionamento do simplesmente substitui, mas com os quais: rompe, signi maneira, que esta versio seri considerada, a paitir de aj anterior (talve2 “rlo-cientifica”) nas anilises de texios. Ou seja, em u Pe, a pragmiética é declarada discurso, Essa afirmagio de Pécheux tica em um de seus fundament tias da conversagio e de 4 pragmiética (e algumas teo- como de discurso) concede o antes. En geral, wode dar a entender que * Or neno mv amos, que organizam um debate parlamentar), mas exatimente o que thes es- capa (ou pode thes escapar!): 0 fato de que cada um gnunela a partir de FOR es que silo historieamente constivuldas (Fala-se como deputado de uum partido, de uma frente, de situacio ou de oposigao, e diz-se 0 que #8 deve € ve pode dizer ‘nessa condigio). © que confere ou garante o sentido ao que uri, enuncti imediato em que esté situado ¢. -s0.qval.ss ligariam certes, relevante verificar segundo que posigtio um depatado fala de liberdade oa de desenvotrimento, do que lorar o fato de que ele se dirige a seus inter Jocutores em um cendri > _Péchewx (1969: 8 condigdes de produgio, a pi p-tproveita de algume forma, mas com 6 qual claramente rompe), Assim, por exemplo, entinciar responde a perguntas implcitas como sou eu para jo famoso exquema de Jakabson (do qual se "Quem é ele para que cu the fale assim?" € também revela o de A sobre de fato mais complexa, 0 ‘ma as antecipapdes (p. ex. Imagem que 0 destinador faz que o destinatério fiz do de Pcheux insiste que essas imagens devem ser tomadas como represeniagées imagindrias, ou seja, que os lugares (de destinador e de destinatdrio) so representados nos processes discursivos em 4que siio colocados em jogo, Assim, se um diretor de prisdo se dlrige a presos, 0 iretor de prisdo € 08 presos niio devem ser concebidos como se se tratasse de ~ uma ceria pessoa (bonachona ou dura) diante de certas outras pessoas ¢ injustigadas ov tensas), envolvidas em uma relagio de interlocuedo, mas como ~S. |S posigdes historicamente constituidas em sociedades em que essas fungdes se ircunscrevem a certas regras e 28 quais se chega através de um conjunto do procedimentos. —~ A respeito das restrigdes que Pécheux fex A interpretagio desses logares, alguns anos depois, Pécheax ¢ Fuchs (1975) observam que 0 quadro fora fre- qientemente interpretado segundo um viés psicologizante (como se se tratasse (Pee 19, Oe + AD tra sb fo he 19D. SKS la seme we = 4 de representagdes miituas construfdas pelos interlocutores — desses que conhe- ‘como outro ¢ o contexto — e que permitira explicar, por exemplo, manobras). ‘Uma das razies das intempretagdes equivocadas é & ambighidakle do temo processo discursivo quanto uma se- fro. pode ser interpretads © no como a repr eolbgico, porque, como poate" “ao sentido Gie lingUistica de um discurs que nos falta radicalmente urn Porro ° rie Conti 6 vefculo, 0 espags que Exes dltimos elementos p; ‘unciagd, os enunciadores se assujeiiam & sua FD. Tanto em Pécheux (1969) quanto em Pécheux ¢ Fuchs (1975), as eondi- Pécheoux (19 fica basicamente que, do conjunto de elementos en- seg pe evita gue ee esi eves volvidos (destinador, destinatério, referente, eventuais antecipagdes de imagens), © elemento dominante pose variar de caso a caso, Por exemplo, em uma aula de filosofia sobre liberdade, diz ele, dominante seri a representago que os alunos fazer daquilo que 0 professor thes designa; em uma fala de diretor de prissio ‘08 presos, dominante seré 1 imagem que os presos fazem do diretor. Em Péchewx e Fuchs ue “o liame entre 0 imaginario eo exterior que o determi- dominadas por condig&es de proxlucio estiveis e homogéneas” (p. 182). No segundo caso, fica mais claro que as condigdes de produgio so histéricas, no sentido de nio circunstanciais. O leitor curioso por um caso exemplar'o encontrart em Courtine (1981), tanto pela discussiia teérica (genealdgica?) feita no capftulo I, que scpara 0 ossociol6gicos, quanto pela apresenta- obie histéria em AD © io invocd-la para explicitar condigdes de produgiio... ‘A questo das condigdes de produgdo parece perder prestigio na historia ir da AD, Nio é que se deixe de fazer alusdes a elas, ou mesmo de em trabalhos. Mas. a rigor, com o desprestigio cada vez maior dos discursos tomados em bloco.as.condigéies de produgdo se misturam em boa medida com o intendiscurso. Mesmo assim, continua-se a considerat 0 que nio 6 “lingtiistico", ou seja, as condigdes hisi6ricas de produgiio, Nesse sentido, vale registrar a abertura di (1988): trata-se de uma int laclio, que inclui as condig&es de producto, do fato de que eleitores franceses foram 4 rua cantando “On a gagné”, grito tipico de torcedores de futebol, quando Mitterand foi eleito presidente da Franga em 1982. Para coneluir 0 t6pico, esbogarei dois breves exemplos para ilustrar a im-_ portincia de considerar, erti.uma teoria do’diseurso, as condigdes histéricas de ‘produgTs do diseurso: . ‘mousse m a) na década de 1990, surgiu no Brasil um novo discurso no “esprago" empregoldesemprego, 0 10 da empregabilidade, que significa. basicamente, que nfo se trata de haver ou no postos de trabalho, mas de os postulantes estarem ou ndo qualificados para ocups-los. Ora, esse discurso néio circalava até recentemente, meate dispont do dos moyimentos femiti heres de postos de trabalho tidos como 108. Por mecanismos tipicos do genera (ver, ‘0 sexnb0 4 © sentido das palavras se re gliistica ¢ filos6fica. Nao vem a0 22. Para als detain, ver Pease F @ * | Dessa proposigfo se & m uu eres des, sendlo que 0 conjunto delas produz. (node produizir) um efeito de referén- cia cin seja, de Wenttfior objeto do mundo a partir de wma visio entre outras, he pode er mdo-ment * = Pécheux xpOe um procedimento cujo objetivo € p analisand ed Wesco los do processo de p dugo de um discurso- Esboga uma (coria do efelio mezafSrico, nos seguinies Termes! Sefam os temmids x € J, pertencentes a uma mesma categoria de uma lingua L, Existe pelo menos um discurso no qual x € y possam ser substitutdos lum pelo outro, sem mudar a interpretacio dese discurso? Trés casos silo logi- ‘camente possiveis: (1) we y nunca sfo sut (2) xe y stio substitut ‘veis um pelo outro eves, mas nlio sempre; is um pelo outro, Importa considerar (2) (3), quando a substituiglo & possfvel. (2) € 0 caso em que x ¢ y sho substitufveis apenas em um contexto dado (nos termos de Pécheux, isso significard em um discurso dado). Suponhamos que as palavras| sejam brilhante © notivel. Podemos dizer: Este matemdtico & x/9, bem como Sua demonstracdo joi x/y. Ambos so casos de substtuigdo contextual. As pa- inte ¢ notdvel podem ocorrer em ambos os contextos. Mas nilo se tuir um termo pelo outro em A luz lo farolé brithante.A luz do farol ‘quereria dizer outra coisa, se este fosse um enunciado possivel. (3), fez, representa o caso em que xe y seriam intereambiveis em qualquer (3) «ey sdo sempre subs tido” designado por x ¢ y; esse efeito caracteristico dos ifsticos “naturais”, por of is vas artifi- lui que 0 sentido nfo & fungo de um significan- tefpalavra, mas dew tesfpalavras relagio de mitua 5: nde, mas apenas em cada diseurso- hi ~~ —<———— os cox knoe : mente dado: Isso se sustenta, nesta teoria, pelo fato de que-o sentido das pala- Gas BAT IMT discurso remete sempre a ocorréncias anteriores. Ou ainda; qual- avras ‘ges implica uma meméria discursiva, de modo que as formulagbes ni ‘cem de um sujeito que apenas segue as repras de uma lingua, mas do ‘curso, vale dizer, as formulagBes estio sempre relacionadas 1 outras form goes, sendo que a relagio metaférica que funciona como matriz do sentido € historicamente dada. A posigao assumida em relagio bs dominio dos enunciados. As: substituibiidade por enunciados equ ta bem claramente em Pécheux © Fuc ido de um enuncindo decome de sus lentes nat mesma FD. Esta tose € expos-| (1975; 169): } Queremos dizer que, ‘vel da relagiio de tas seqiiencias Cor ‘pa medida em que se con: formagio diseursiva fo que explica, de passagern que Est tese explicite de forma clara o carter necessariamente | sentidos. E apenas em uma relagio parafrdsticn em GaN Win corpus discwsivo, que-umn efbito de sentido se produ ples, cada um em determinadas condigSes de produgio, seguem at meiro estd em Pécheux (1988: 20): 23, Oats exemple dos operdriog des ead rs edad # lata conta 2d \ palavras ou expresses é a mesmano | F vi (1) Mitiecand 6 eleito presidente da repdblica francesa/A esquerda francesa leva A vit6ria eleitoral dos presidencifves./A coalizio socialista-comunista se apodera da Franga. Em principio, os trés enunciados em (1), no discurso de que fazem parte, sto intercambisveis. O segundo exemplo esti mais claramente apresentado a natn 15 de Pécheux e Fuchs (1975: 238). cequitotiva ets at dos tweros Distribuigao Justa melhor das riquezas @ Essa matriz. permit smo. Pot exemplo, Distribuigiio mais js fh equitativa das riquezas, Melhor disiribuicdo dos lucros ete. A pardfrase tem umm papel extremamente relevante na AD ¢, por isso, me- recem destaque outros dois funcionamentos, parcialmente distintos, embora jus- tificados pela mesma teoria, Fuchs (1983) apresenta brevemente o “estado da ante” da pardfrase. Um trgeto do proprio texto que apresenta a doutrina fornece ‘exemplos ilustratis Ess divergencias de algunas expressdes, mas também © sobretudo & mullivocidade incrente a todo texto (as operagdex de constergo dex en ccomportam sempre une mar lizamentos as diversas pondera- Ses de decodificagdio), & pluratidade de niveis de decedificagiio (um enunciado rerpretagdo] se devem mio 86 a ambigtidade intrinscea As seqiitneins entre parénteses no trecho anterior sto parttrases das que ‘as precedem imediatamente, ou seja (aqui esd outra da mesma natureza...), so explicitagdes do sentido que tém, neste discurso, as seqiéncias anteriores. Em ‘outras palavras (mais uma dessas pariifrases...), por exemplo, a seqléncia “plu- eke ms ralidade de nfveis de decodificagio” € parafrasenda por “um enunciatlo pede ser tomado em sentido literal, ou em outro registro." Outro exemplo sho as parafrasazens de palavras cu expresses, com es~ truturas como X, 10 i Mainguenewu (198; parafrasagens de “Sidi ‘9, DA ENUNCIAGAT AAD deve muito & probiemitica da enunciagio. Mesmo quando se dedi- ‘cou basicamente a corpora fechados, © ‘experimentais, produrzidos ad hoc para dos, seu acontecimento sempre fol no lugdio dos enuncia~ opts as anilises tis, Una se ocup de avaiar ert que medida cetas “inacas” elas mesmas, como que destinadss no interior da problemitica da dei lingua cuja fungio 6 embrear 0 enuriedo As circum — € a0s interlocutores. ipna o dia em que se esere tempo da globalizagio e, portanto, esse tempo tratamento discursive da déixis 6 a 0. Basta ver a diferenga que faz acionar a ssi res ‘opograia ¢ cronografia (Mainguencau, 1987) para dar conta da daixis discur- siva, Assim, no analisar 8 por meio de um enfoque dixis reside basicamente na forma de y _analisados como interlocu ‘pessi > sursivas? O tempo € definido or ron ¥ “jar: do'uma "concepgio” ‘Aout fem que medida, no proprio ato de produgao de uma posigiio dos enunciadores € “marca- da”, nfo necessariamente por ‘mas. por procedimentos metaenunciativos, produzidos do interior da FD a que o enunciador perteoce ¢ que © condiciona a “trabalhar” para que a sequéncia que produz seja ums das que pode ¢ deve dizer. Um bom exemplo € 0 trecho @ seguir, de Pécheux € Fuchs (1975), que menciono pela definiglo do conceito, mas especialmente porque exibe exemplarmente o priprio proceso que descreve. igo consistem em um série de determi- nagdes sucessivas pelas quais do se constitui powco a poweo e que tem por caracteristica colocar 0 * ‘em conseqiiéncia rejetar o “nio-dito”, A. enunciagao equivale, pois, a teiras entre o que é “selecionado” tomado preciso aos poucos (através do que se constitui 0 “universo de discur- 50”), € 0 que € rejeitado. Desse modo se cha, pois, desenhiado num espago vazi0, ‘campo de “tudo 0 que teria sido possivel ao sujeito dizer (mas que nao diz)” ou © campo de "do a que se opoe 0 qu disse". Esta zona do “rejeiado” Pode estar mais ou menos prdxima da consciéncia © ha questOvs do interlocutor — visando a fazer, por exemplo, com que 0 sujeito indique com pres que cle queria dizer” — que 0 fazem reformular ax froateiras © re-investigar esta oma” (p. 176). Diremos. qué o8 processes de em Ea afrme ques gra. Xa mone w dfereng entre a fey rceente Finn, 1996). eougo kun m Quando dizem que cotocar o dito impl nifica que quem diz. uma coisa ni diz outra, rejeitaro ndo-dito, iso mo sig- se opde 0 que 0 sujeito disse”, “rej ‘expressOes que pertencem a outros de que 0 sujeito controla seu discurso, que diz tudo ¢ apenas 0 que quer, € que so assinaladas pelas aspas exatamente para que esse duplo pertencimento fi- de tomar preciso aos poucos © que vem sendo enunciado, de tomar preciso 0 ‘que significa, no discurso de Pécheux ¢ Fuchs, “selecionar o dito ¢ rejeiiar 0 néo-dito”. E a manobra continua; “Desse modo se acha, pois, desenado (..) 0 1 ngsunss sees . O leitor curioso © atento verificart que uma coisa puxa outra, € iscurso se constr de fato por esse processo de enunciago (como defen- is, @ sua maneira, a andlise da conversaglo, em alguns excelentes taba thos sobre a chamada repeticZo, que supastamente caracterizarin apenas esta modalidude lingitstica) 2” Embora a questo da enunciagio seja certamente complexa, para a AD, 0 ‘mais problemético acaba sencdo, por esiranho que parega, definir 0 enunciado, Du seja, 0 que se repete nas diversas enunciagées, na medida em que, de alguma forma, um discurso constrdi uma espécie de “mesmo” que possa ser constante- ‘mente retomndo; e isso deve ser possivel sem que um enunciado tenha um sen- cdo independente do discurso « que pertence, por um lado, ¢ apesar de materia lizar-se de formas bastante variaveis (ver 0 t6pico sobre parifrase, na seco 8). Por um lado, a tomada em consideragio da enunciagao de certa forma obrigou a ver as linguas de outra forma, em especial no que se refere & subjeti- vidade. Mas, por outro, as abordagens discursivas do tema sio tanto uma ruptu- em relagio a suas concepeses simplesmente lingtlfsticas, obrigando a situar mesmo ¢s “marcas” em dominios do imagindrio, além de fazer ver, no fio do discurso, as “manobras” 2 que a entinciagio obriga (chamando tengo para o 10, D0 xcowrécimeNTD A nogto de acontecimento € crucial para a AD. Em primeiro lugar, por sua relago com a enunciagao que, quase naturalmente, € concebida como um fato que nao se repete (a0 contririo do enuinciado), Em segundo lugar, por sua rela- ‘go com a hist6ria, campo para 0 qual a nog de acontecimento é uma e: de matéria-prima, Pode-se catacterizar'o acontecimento como o que foge & estrutura, ou ‘uma rede causal. Em um sentido, ele ¢ vnieo (talvez inesperado, embora se explique até facilmente « posteriori). Tragos dessa concepgiio podem ser ex conirados em Ducrot (1972; 168), par quem « enunciagio "é o acontecimento Cconstitufdo pelo aparecimento de um enuncindo. A realizagio de um enunciady & de fato um acontecimento histérico: é deda exis\éncia a alguma coisa que no cexistia antes de falar e que no existiré mais depois", Foucault (1968: 23) tam- bém o define por sua relagiio com a enunciagio; “a supressio sistemitica das 27. Ver, por exam, fran (1989) « Piva 1990) meu ian ” unidades permite restituir a0 enunciado sua singularidade de acontecimento; nfo é mais considerado simplesmente como manifestago episédica de uma significagdo mais profunda que cle; é tratado na sua irrupgaio histérica; o que se tenta observar € a incisdo que constitus sua crerge ". AAD, no entanto, nio concedeu ao acontecimento’ um lugar privilegiado, Proferiu o repetivel, o estrutural, com o atestam quase todas as pesquisas, que privilegiam a identificagio do mesmo em um arquivo. Certamente, hii uma inflexo ¢m Pécheux (1988: 56), que & 0 proposta de nao inserever 0 aconteci- mento na estrutura, inlexio que acompanha o abandon do sonho de que a AD fosse, na esieira do marxismno como tido por Althusser, uma ciéncia em sentido estrito. Mas Pécheus alerta que esta considoragdo do avontecimento ni ca em concebé-lo coma “um aerdlito miraculoso”. isto é, como ocorrendo pendentemente das redes de memdria € dos trajetos sociais. Essa nogio de acontecimento lembra bem nogdes enunciativas como as de Benveniste © de Ducrot (enunciagdo como’ scontecimento irrepetivel). © que iio deixa de ser, por um lado, notavel, pois absorve a hipstese de que algo ‘corre fora de uma estrutura, embora no ti ie. No emtanto, parece on produtivo econsistente para a AD que © do outros parimetros. le- sontecimento” (p, 290). i iais do porto de S cimentos eram o que era conhecido, 0 que era visi ‘ye 0 trabalho do histo- riador era buscar 0 seu sentido”, A histéri serial (no texto, esta palavra “equi- vale” a estratural) permite fazer aparecer estratos de acontecimentos dos quai mente diferentes. Foucault di exemplos relativos ao estudio mencionado: a entrada ¢ a saidn de um navio silo acontecimentos eonhecidos ¢ que se podem reconstituir. Mas a baixa ov 0 aumento dos pregos & timbém umm aconteci- meato. E por baixo desses, hit ainda outros, como a inversio de uma tendén- cia, ponto a partir do qual uma curva econdmica que tinhs sido erescemie tomna:se estivel ou entra em declinio — ¢ que pode nite ser percebida pelos contemporaneos (p, 291-92), r 7 wou Foucault dé outros exemplos: erescimento popuilacional, o enorme eres- cimento da quantidade de protefans absorvida pela populagio européia no sécalo XIX, extremaments importante pars a saide e a longevidade. Deles diz. Foucault que sio fatos muito mais importantes do que uma mudanga de Consti- ‘igo ou de uma passagem da monarquia & repuiblica (p. 292). Retenhamos essas uitimas nogées de acontecimento ¢ tentemos imaginar que poderiam significar para uma teoria do discurso, © acontecimento funda mental poderia deixar de ser aquele de que todos se dio conta (a publicagio de uuma obra, um manifesto, um editorial, um programa de govemno, ums proposta de pacto etc,), Para a AD, pelo menos em suas priticas de andlise, tal aconteci~ mento seria considerado relevante na medida em que ensejasse sua retomada ou sun repetigdo, ou se j4 forse uma. No entanto, além desses casos, poderfamos considerar como acontecimentos discursives — ¢ no apenss como reformula~ ¢bes ou novas enunciagdes do mesmo, isto é, como discursos — 0 estruturalis~ ‘mo, o feminismo, o nacionalismo etc. S facilmente possivel dar conta das discursividades e, especialmente, ter claro em que meclid dispositivos € 9 pela mesma semiintica (ver Maingueneat, 2.0 caso do feminismo, apenas camo exemplo hipotéticn: 6 certo que anifesto ou congress pode ser um grande acontecimento discursivo, em tomo do qual se organiza um arquivo (todo 0 que se passa a dizer pode recuperar de datas anteriores — em revistas, jornais, simpésios, entrevistas etc.). Mas hé mais: pot cexemplo, um diseurso do corpo, da lidade, da satide; , ninda, da fidelidad ainda 0 das creckes, do trabalho fernim assédio sexta. So fatos discur- analogia, 0 que Foucault .enos vistveis. B, por consequéncia, do tempo: que hi “ti- curacao diferentes” (p. 293). Por exemplo, ciclos curtos (nos quais pre- bem ¢ descem); ciclos mais importantes (de 50 a 100 anos); depois, ainda c seculares, se 80 a 150 anos; finalmente, por baixo desses jos e séculos (por exemplo ica do século XVI 90 XIX). Pode-se encontrar algo assim nas diseursividades, desde que se opere com outra hnogiio de ncontecimento além da usual — umn fato tinico, que nio se repete. Para tanto, considerar a histéria deveria ser mais do que inserir um acont veto em uma série; teria que significar uma verdadeira nptura linear, e io, por exemplo, uma aperacio como a de Courtine ‘bora recuse a histéria coma cronologia quando teoriza, nio fa go hun * hagvar linearmente 0 que ocorre entre cristios ¢ comunistas de 1937 a 1970 quando analisa. Feta nopio plural de acontecimento permite romper, em primeiro lugar, com uma histéria que procurasse em tudo o sentido, Em segundo, cam a relaglo discurso-enunciago como evento singular, Além disso, poderia permitir espe- cificar mais finamente os elementos que, em um discurso, dé fato escaparn aos sujeitos e aqueles dle que eles tém conhecimento, conforme estejam em urna ou em outra camada, assim como acontece com 0s diversos tipos de acontecimen- tos hist6ricos, segundo aramente na ruptara com qualquer concepcio em especial, a nogiio de acontecimento & ygeneidade, intertex- Sob diversos nomes — tualidade — cada um i de interdiseurso € certamer Em Charaudemu © Mi sentadlo com wm sentido res tamento do sujel- erdiscurso e exclui que radentemente-umas das fornasiio diseursiva sua dependéncis Bes discursivas, ‘Uma das teses de Peche! mua, pela transparéncia lagio ag “toelo complexo intrincado no complexo das formagt Importa destacar dessa form relagio ito todo complexo cor passagem, na qi ‘com deminante” das formacies submetido A lei de desigualdade- bordinasaio que (..) caraeteriza ‘6 complexo das formagbes ideolSgicas” (ibidem). 2 ust nes 0 interdiscurso, como definido assim por Pécheux (1975), lerabra.a nogiio de universo de discurso, como definido por Mainguenean (ver adiante). Esse conceito “amplo” de interdiscurso talvez. dé conta do “fato” de que um diseurso ‘no nasee de um retorno 2s préprias coisas, mas de um trabalho sobre outros discursos (Maingueneau, 1987: 120), Apecar da riqueza potencial dessa conceituagén, provavelmente essa nogiio no € operacional (ou é bem Por exemplo, Courtine ( sido aos cristios — em sua cont confrontaco com todos as dem mais produtivo analisar corpora ‘gbes discursivas sineréni estudo mostra entre outras eoisas que & nicos (embora sem perder de vista as rela im se verifica exatamente a repetigiio, Essa sobre 4 nogio de interdiseurso, que nfo fice redu- 2ido &s relagces mantidas entre discursos em uma mesma époea. Provavelmente © resultado da andlise de Courtine nfo. se deve ao ueaso, ou seja, fatos assim ‘ocorrem também em outras FIDs e nilo apenas nease caso espectfico, o do discurso comunista dirigido aos eristios, embora essa seja uma questo empitice. Ein suit andlise, partindo do enunciado (3), considerado nuclear flo acs cristios no tem abyolutamente nada de uma, uma politica de prinel (3) Nossa politica e: tien de circunst ‘em primeiro lugar, que ele provém de uma seqiléncia discursi- ‘va que responde condigzes de produgo (CPs) determinadas (& extraida de talver pouco original, de manobrar, de idade (M. Thorez, out, de 1937) 2° ano Aner $i Entretanto, 0 enuneiado (3), diz Courtine, nfo se limita a relagSes como a ‘que mantém com (4), pertencemte & FD comunista, porque essa FD 56 tem exis- téncia discursiva na contradigio que a ope a formulagses como (5), produzich em um discurso antagdnico: esses artis que ncon- de junho de 1976) ‘Uma formula como (6) poderia condensar de maneira aproximativa todos ‘esses entuncindos: versus cursivo, espace discurst Por universo disc ‘mesmo que nib possa ser apreendiclo em sua slobalidade, ide para © analista e define apenas uma extenso mixima, © (m-s€ fecipracamente em uma regiio de- em confronto aberto, em sianga, na for- entre discursos que possuem a mesma fungo rm de neutralidade aparente st aga es. Social, mas divergem sobre © modo pelo qual ela deve ser preenchida. Pode tratar-se do campo politica, filosofico, dramatirgico, gramatical ete, Para o autor, € no interior do campo discursive que um discurso se consti- tui, € sua hipdtese € que glo pode: ser descrita em termos de opera ‘ges regulares sobre FDs jé existentes. almente, Maingueneau propde isolar esparos discursivos, isto 6, subconjuntos de FDs cuja relagio o analista julg relevante para seu propésito. ‘Tais restrigdes devem resultar apenas de hipdteses fundadas sobre umm eonhect- mento des textos e um saber histérieo, que serfo em seguida confirmados ou infirmados quando a pesquisa progredir. ida acrescenta que reconhecer 0 primado do interdiscurso signi- wstruir um sistema no qual a definigao da rede seméntica que Giecunscreve a especificidade iscurso coincide com a definigao das re- lagaes desse discurso com seu Outro. Assim, sempre haveria um espago de ‘wocas entre discursos, que nilo podesiam ser uma identidade fechada. Esse pon- contradiz as teorias espontineas dos enunciadores que, longe de al descentramento radical, reivindicam a autonomia de seu discurso, Assim, 0 Outro niio deve ser pensado como uma espécie de “envelope” do dliscurso, nem cada discurso como o envelope de citagbes. No espago discursi= t.0 no € nem um fragmento localizavel, uma citagdo, nem uma entida- jor. Nao € necessério que 0 Outro seja localizavel por alguma raptum Ia compacidade do discurso,”” © Outro encontra-se na raiz.de um Mes- mo sempre j4 descentrado em relacdo a si préprio, que néo € em momento allgum passivel de ser considerado sob a figura de uma plenitude autSnoma, O Quiro € 0 que faz sistematicamente falta a um discurso e Ihe permite fechar-se em um todo. 8 aquela parte de sentido que foi necessdrio que 0 discurso sacrifi- ccasse para constituir sua identidade — e cajos elementos nunca silo tomados, u retomados, a nfo ser como simulacros. Disso decorre 0 cardter essencialmente dialégico de todo enunciado do discurso, « impossibilidade de dissociar a interag3a dos discursos do funciona- mento intradiscursivo: Essa imbricacao do Mesmo e do Outro roulba a coexén- cia semintica das formagées discursivas qualquer cardter de “esséncia". caso fem que sua inserigdo n io discursiva tira o p nia seria acessdria; nfo é dela prépria que a forma- io de sui fade, mus de um conflito regrado, 1 eropeonde comtiativa, Mai clarament, ext etoouho uate os Authier-Revuz (1982) propée um quadio de ruptums que emerge a partir dessa nogiio de heterogeneidade, que vale a pena apresentar, na medida em que Oe om contraste concepedes que atravessam a lingua e o diseurso: o didlogo/o ‘monélogo; 0 miltiplo, o plural/o dnico: o outro no unv/um € 0 outro: as frontei- ‘as no heterogéneo/o homogéneo: 0 conflituosa/o imével; 0 relativo/o absoluto, O primeiro ¢ umareformulagio da nogio 1975), Trata-se de uma ruptura com a nogio de p no que ela tem de psi mentos da lingua, © anterior, que produz um efeito de evi outro, © que é uma verdade para uma sucesso da operagao x, a op x digo para que se possa dizei 0 discurso transvers magi do dbvio, Pécheux (1975) explicita que a possi de uma seqiéncia por outra (que produz ade implicacao com as sequéne do galvandmetra", no contexto ‘Aos casos de implicagaio (A. dete ‘com a seatiéacia (constatamos Alconstata 0 (¢ afinna que es efeitolo efeito peta en 36 sc eT Dois esclarecimentos com relagdo 4 nogio de discurso transverso: (a) hi tuma semelhanca entre os discursos transversos ¢ os implfcitos — em ambos os 4805, algo que nifo dito &, no en endido”; (b) hé uma diferenga ante entre ambos: no caso dos impl dlescoberta do sentido “riio- depende em boa medida de um. con e um contexto, de um cu frame — exemplo clésico de implicto: diss sla 12 horas pars peratura © w fervura da agua na fsica clicsice, ow entre'a tara de juros 6 a de inflago, conforme a teoria econdmica que se adote) ‘Assim, 9 que podemos perceber é que a nogéo de interdiscurso, inclusive ‘em seus desdobramentos, rompe com conceitos que, de alguma forma, fundam- se Sobre os pressuposios da homogeneidade e do centramento, seja do discurso, seja do sujeito, Isto 6, para a AD, 05 discursos no slo independentes uns dos Outros € no sto elaborados por um sujeito. 12 po swerno Para. a AD, nilo hi ocutor, muito menos emissor. Hé sujeito (al- tecnativamente, enunciador). O que & evidentemente, na esteira das rupturas com a pragmética e com as teorias lingtfsticas dominantes, outra ruptura, tal- ‘ez a mais importante para a teoria, Althusser est na origem das formulagbes baésieas da AD também no que se Fefere & questo do sujeito © do sentido. Por iss0, a comentar algumas distingOes feitas por Althusse suficientemente as bases a partir das quais @ AD esmo tempo em que tornam claro pesto de ruptura cor otras ecu uncon # perso, Vale lembrar, entretanto, que vir mais interessantes que a de assujeitad categoria propde como ruptura em ‘autores propdem concepyies talvez sem que nada se perca do que essa ipo a9 “passado”. Por exemplo, Lacan, camente”. Mas, part o propésito deste texto, centrarsi Althusser. Duas questdes sibordadas neste texto interessam aqui: a do Suje sujeito. QuestOes cruciais, demarcadoras entre 0 idealistno fundamentals para entender aspectos dia Linguagem e lingua. Uma das questoes fundadoras da andl inka abordagern em 0 Ego-Cogito, ao Sujeito Transcendei Aquele que a faz etc. Ao dizer que no ha dizer que nio siio 0s home hisi6ria, porque dizer isso levi que aceitam que a historia & fe Mas Althusser diz que ha su passagens como as seguintes: 34. Maingveneny (1980: 67 afin que iT, qu exerce infu detest, qe espe de algata fom x0 projets excels frances” ae esa «es (Que 0s indivfduos humans, ou se, socinis, sho ativor na histéria —como agentes des diferentes prtcas soins do process histérca de produ ede reprodyt0 — 6 am fato, Mas (..) nfo sho sujel ‘constiuintes” no sentido flow séfico (énfase acrescida) desses termos (p. Salvo engano, Althusser é claro em relagio a0 que rejeita no que e constituinte, que seja sujeito da his ria, B mais claramente: ‘A posictio do materalismo dialético me parece cars, No xe pode comprcehder (begrefen: conceber), ox si de revolugto de formagies tama Esséncia ou wna Causa (sinda que fosse 0 Homem), que 0 Sujeito, esse “ser” on." Supanho que se pode passar, sem grandes muidangas, da problemtica da relagio sujeto-histéria para a problenice dx relagosujeto-ingua 6, mais es- Pecificameate, sujeito-discurso, recolocanda a questio: 0 6 sajeito na ow da lingua, do ou no diseurso. para a AD (pelo menos, como posi formulada por Pécheux (1983b), carnct ‘Um processo de producdodiscursivaé concebido como uma maquina autodeter- minad e fechada sobre si mesma, de tal modo que um sujeto-estrutura deter Resumindo: a AD rompe com concep¢io de sujeito uno, livre, caracteri- ado pela consciéncia (isto, sem inconsciente, sem ideotogia) e tomado como origem. No entanto, con a competéncia discursiva. mono nets, ze 33, cNauK? Provavelmente, a AD quis ser cientifica, Provavelmente, nio é, nunca foi. E nisso niio vai urna avaliagiio de demsrito, antes pelo contrério, Talvee se pos- 18 dizer ds Anilise do Discurso 0 que Fouca do marxismo e da psicand- F posstvel que se posse istemologizaysio — propastos A propésito de tima formato discursiva, pode-se descrever diversas emergin- clay distineas. O romento pari do gual una pre cacersva se idan ‘que sim. Os movimentos de ruptura sie anélogos tros dominios dos sal a ontras solugdes no é In; Poxigoes-1, Rio de Janeiro: Greal, 1973 = ssa «eas AUTHIER-REVUZ, J. Hétérogencité monuée et hétérogenité constitutive: élements Pour une approche de l'autre dans le discours. DRLAV, v, 26, p, 1982. - Patavras incertas, Campinas da Unicamp, 1988, Riode Janeiro: Contiaponto, 1938, lacofia da linguagem. So Paulo: BRANDAO, H.H.N. Jato a andise do disco, Campinas: Bora da Usicamp, 199) CHARAUDEAU. 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