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Leandro R. Pinheiro*
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Boletim do Pão dos Pobres, ano XXVI, n 01, dez/1924 – jan-fev/1925, p.10.
pela solidariedade e caridade, “a mais santa das virtudes”4, pela
imprensa local e, principalmente, pelo Boletim da entidade, criado em
1898 e publicado até 1967. Este fora criado, justamente, para propalar
os valores cristãos e as atividades da obra e, a partir daí, conquistar
colaboradores (Desaulniers, 1995, p. 239).
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Boletim do Pão dos Pobres, ano XXVI, n 01, dez/1924 – jan-fev/1925, p. 07.
serviços públicos” (Fernandes, 1994, p. 21). É uma categoria ampla,
sem dúvida, que almeja demarcar, sobretudo, a autonomia da
sociedade civil frente ao Estado. Pode-se dizer que, na América
Latina, teria iniciado a partir do surgimento de movimentos sociais e
organizações não-governamentais, cujo propósito seria criar
alternativas de representatividade política nos contextos de regime
militar da década de setenta, onde os meios tradicionais (partidos e
sindicatos) estavam debilitados. Porém, com os processos de
redemocratização, relativiza-se a orientação política de tais iniciativas.
“É nesta fase que começa a se falar de um ‘Terceiro Setor’, além do
mercado e do Estado, formado por organizações dos dois blocos”: as
iniciativas modernas, alternativas e voltadas para o desenvolvimento
social sustentável, por um lado, e as entidades ligadas à caridade e
beneficência, tidas como conservadoras, por outro (Thompson, 1997,
p.45). Passa-se, então, a ser valorizada cada vez mais a funcionalidade
dessas iniciativas privadas para a economia (Menescal, 1996, p. 121),
sendo que a ênfase neste aspecto (observado, principalmente, no
discurso de apoio à solidariedade, corrente na imprensa 5) aumenta
com a política de “redução” do Estado e a otimização do Mercado.
O Pão dos Pobres e o Terceiro Setor
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Tem se verificado, nesta década, o desenvolvimento de várias iniciativas
representantes do chamado terceiro setor (funcional), como o CEBRAF (Centro
Brasileiro de Fundações) ou a Associação Riograndense de Fundações. E, da mesma
maneira, o Estado vem integrando sua necessidade de miniminização à ampliação
dos serviços sociais prestados por organizações sem fins lucrativos. Tem realizado-o
através do programa Comunidade Solidária (pelo qual articula recursos angariados
junto aos empresários com serviços sociais prestados por instituições da sociedade
civil), da lei das organizações sociais, da lei do voluntariado e da medida provisória
do balanço social, que fazem, justamente, incentivar a autonomia da sociedade civil.
Dentre as fontes usadas para tal constatação estão, principalmente: os jornais Zero
Hora e Folha de São Paulo, no período de maio/1997 à junho/1998; material
coletado no II Encontro Internacional de Fundações, realizado na PUCRS, nos dias
01 e 02 de outubro/1997; e as Homepages: www. gife.org.br, www. kanitz.com.br.
Atualmente, dado o novo contexto de valorização da solidariedade
social e de sua funcionalidade para o mercado no combate à exclusão,
é possível evidenciar indícios de revitalização da interação do Pão dos
Pobres junto aos demais agentes sociais 6. Prestando o mesmo serviço
social (formação profissional de jovens carentes), a instituição tem,
hoje, como fonte de recursos uma escola particular, uma livraria, os
serviços prestados pelas oficinas ao mercado (como já faziam
anteriormente), e, lembrando seu passado, doação de alimentos, além
de doações expontâneas dos benfeitores, correspondendo,
aproximadamente, a um terço do seu orçamento e possibilitando,
inclusive, a emissão de carnes, tendo em vista a regularidade com que
acontece, colocando os colaboradores, praticamente, sob o status de
sócios.
Considerações finais:
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Citação do diretor geral da entidade oriunda de entrevista realizada em
junho/1998.
Conforme os primeiros dados coletados, pode-se estar diante de
uma rearticulação do Pão dos Pobres com os demais agentes sociais e
de uma reorientação da obtenção de recursos materiais, incerrando um
período de apatia iniciado nos anos 70. Isto devido às novas
oportunidades que surgem no atual desenvolvimento da “cultura
solidária”, da promoção de determinados elementos da sociedade civil
no combate às deficiências sociais, levando esta entidade a parcerias
institucionalizadas na forma de projetos. Enquanto isso, a livre adesão
dos benfeitores de outrora também pode ser canalizada, embora sem a
força agregadora do capital religioso de antes, na forma do
voluntariado, hoje, legitimado como fonte de recursos humanos. A
ainda presente adesão comunitária verificada nas doações expontâneas
poderá significar uma forte adesão de voluntários à causa solidária da
formação profissional de jovens carentes e, consequentemente, da
constituição de cidadania.
Bibliografia: