03/06/2019 "Reescrevendo Limites De Gênero Através De Objetos Em A Cidade Sitiada" by De Carvalho, Isadora Grevan - Bulletin of Hispani…

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Bulletin of Hispanic Studies

Reescrevendo Limites De Gênero Através De

Objetos Em A Cidade Sitiada
By De Carvalho, Isadora Grevan

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limites-de-g-nero-atrav-
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Walter Benjamin descreve o processo dos sonhos e como säo manifestados no dia
a dia do individuo. Apesar de näo parecerem importantes (pelo seu valor de uso),
os objetos de consumo da nova era capitalista passam a ter uma influencia crucial
na psique do individuo e no impulso dos sonhos como desejo e determinaçâo,
especialmente quando ganham status de fetiche alegórico. Segundo Benjamin, as
descriçôes de arquitetura e de objetos de consumo servem também como uma
chave para os desejos mais intimos e alienados do ser humano pois funcionam
como alegorias. O novo trazido pelas novas mercadorias e reinvençâo das cidades
remetemnos cada vez mais para o que sempre esteve lá, aos escombros da história.
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A diferença agora está no fato de que todos os passageiros destas novas cidades
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através da flânerie, a arte de andar nas ruas e observar. Ao definir o termo alegoria
em seus muitos escritos de maneira muitas vezes obscura e caótica, alguns
elementos permanecem. A alegoria está associada a ideia de choque, mudança e
imanência. Ela também está extremamente ligada ao conceito de fetiche de
mercadoria desenvolvido por Marx e a perversao individual de Freud. Já para
McClintock, o fetiche é um objeto alegórico inventado na era de troca mercantil
entre culturas diversas, fruto de um mal entendimento e ao mesmo tempo de uma
necessidade de apropriaçao para a resoluçao do mesmo.

Ao lermos o livro A Cidade Sitiada de Clarice Lispector, esta mesma revelaçao do

imaginário dos sonhos e da psique revelada como estrutura na realidade material
da narrativa vem à tona. É impossível detectarmos quando os sonhos terminam e a
realidade consciente começa ou até mesmo detectar qualquer separaçao entre os
dois. A conglomeraçao de objetos funciona como as alegorias de Benjamin porque
nâo apontam para nenhuma definiçâo em particular, mas confundem o leitor na
sua multiplicaçao caótica de sentidos, redirecionando nosso desejo de
entendimento para mais imagens materiais em vez de apontar para definiçôes
específicas, como podemos ver no parágrafo seguinte:

Nesse momento propicio em que as pessoas viviam, cada vez que se visse -novas
extensôes emergiriam, e mais um sentido se criaria: era esta a pouco usável vida
íntima de Lucrécia Neves. E isso era S. Geraldo, cuja História futura, como na
lembrança de uma cidade sepultada, seria apenas a história do que se tivesse visto.
(Lispector 1998: 23)

O romance A Cidade Sitiada, onde as vozes interiores se revelam, paradoxalmente,

como exteriores e alienadas, parece estar em contraponto com outros livros de
Clarice Lispector, onde a voz interior toma um papel predominante nas narrativas,
apesar da natureza também paradoxal, estranha e distanciada da mesma. Benedito
Nunes realça que, apesar de conter alguns aspectos similares ao de outros
romances como 'a inquietude' e 'o desejo de transgredir os limites preestabelecidos'
(Nunes e Lispector 1989: 34), a diferença de outros romances está no caráter quase
burlesco e maquinal da obra, como ele descreve a seguir:
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Mas, em A Cidade Sitiada, ao contrario do que sucede naqueles romances, a

narradora se distancia da heroína e, descomprometida com as suas vivências,
empresta-lhe aos gestos e atitudes algo de maquinal, e aos pensamentos mais
secretos uma ênfase cómica. Vem daí, desse distanciamento assumido que reduz o
patético e o grave, o caráter burlesco da conduta de Lucrécia que se estende à
atmosfera do subúrbio. (1989: 34-35)

Por sua vez, Olga de Sá chega a afirmar que 'A Cidade Sitiada é um dos mais
estranhos romances da escritora' (1993: 40) e refere-se inúmeras vezes ao texto
como paródia e enigma. É também possível olhar para este texto enigmático como
apresentando estruturas ou relaçôes fetichísticas, que podem nos levar a novas
perspectivas do texto, desfazendo-se o enigma. Por causa do estilo seco da narraçao
em terceira pessoa, os personagens do romance fazem parte de um teatro de
objetos onde a cidade de Sao Geraldo ela mesma faz parte, como uma espécie de
personagem. …

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Vol. 93, No. 8 (/library/p439406/bulletin-of-hispanic-studies/i4089457/vol-93-no-8-2016)

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PUBLICATION DATE:
January 1, 2016

CONTRIBUTORS:

De Carvalho, Isadora Grevan (/searchglobal#!/?

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