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PAVIMENTOS FLEXÍVEIS
João Fortini Albano, Lastran/Ufrgs e Emir Masiero, DOC/Daer
Resumo
O presente trabalho relata o desenvolvimento parcial de uma pesquisa realizada pelo Laboratório
de Sistemas de Transportes - Lastran da UFRGS e a Diretoria de Operação e Concessões do
DAER com a finalidade de verificar os efeitos provocados pelo tráfego dos veículos de carga
sobre os pavimentos da rede de rodovias pavimentadas do Rio Grande do Sul nas condições de
com e sem fiscalização por pesagem. Para atendimento a este objetivo, foi executada uma
contagem volumétrica qualificada e um levantamento da quantidade veículos vazios e carregados
na BR 287, trecho Venâncio Aires – Tabai. O desempenho do pavimento foi avaliado através da
variação do Fator de Veículo – FV e a durabilidade através de alterações do Número N
acumulado, provocado por diferentes condições de carregamento. Concluiu-se que para a
rodovia estudada a inexistência de pesagem implica na possibilidade de aumentos em torno de
34,5% nos danos causados aos pavimentos e uma redução da vida útil em torno de 22,7%. Estes
valores podem ser considerados expressivos e apontam para custos adicionais que devem ser
desembolsados pela sociedade para a manutenção adequada das condições de conforto e
segurança na rodovia.
1. Introdução
Não se pode questionar nem minimizar a importância do transporte rodoviário de cargas.
Em termos nacionais, o setor tem a responsabilidade de 60,5% da movimentação das cargas.
Sem o transporte rodoviário, produtos essenciais não chegariam às mãos dos consumidores,
indústrias não produziriam e o comércio externo seria mínimo. Qualquer nação fica praticamente
paralisada se houver interrupção dos serviços prestados pelo setor. No Rio Grande do Sul, a
dependência da economia ao transporte rodoviário é ainda maior.
Nos últimos anos os transportadores têm enfrentado uma crise cujas conseqüências
encaminham o fechamento de empresas e uma redução no número de autônomos. Existem várias
causas que indicam a origem dos problemas. Técnicos do setor apontam para mudanças nos
paradigmas de mercado provocados pelos efeitos da globalização, a maior competitividade, a
redução da necessidade de manter estoques, etc. são condições que, somadas, reduzem o valor e
a demanda por fretes, situação que tem obrigado as empresas a amplas reformulações logísticas
como forma de sobrevivência. Reivindicam-se medidas oficiais de regulamentação como
possibilidade de contornar as dificuldades.
2. Método de trabalho
Os métodos de trabalho foram discutidos entre as partes. Avaliou-se que a pesquisa
deveria ser desenvolvida em curto espaço de tempo e com custos reduzidos. Decidiu-se
considerar o Fator de Equivalência de Cargas – FEC como parâmetro adequado para indicar as
respostas esperadas, dentro dos objetivos do trabalho. Pereira (1985) indica que o FEC tem sido
largamente utilizado como medida de desempenho de pavimentos porque, comparativamente,
mede os efeitos que os excessos de carga por eixo provocam nos pavimentos flexíveis. Os FEC
obtidos da equação geral de comportamento das pistas da AASHTO e do Corpo de Engenheiros
do exército dos USA são influenciados pela estrutura do pavimento do caso da AASHTO e pela
estrutura do pavimento e suporte do subleito no caso do CE. Os conhecidos autores Salomão
Pinto e Ernesto Preussler (2001) comentam que os FEC da AASHTO baseiam-se na variação da
serventia, dependem do tipo de pavimento e do número estrutural – SN (condições de
resistência) e que os FEC oriundos do CE avaliam os efeitos do carregamento considerando a
deformação permanente. Assim, com base nestes pressupostos, foram definidos os
procedimentos para detectar a influência dos excessos de carga sobre o pavimento da seguinte
forma:
Foi definida como primeira etapa da pesquisa um trabalho piloto na rodovia BR 287 da
rede de rodovias concedidas, trecho Tabai – Venâncio Aires onde foram executadas contagens
volumétricas classificadas. Posteriormente, foram contados veículos que trafegavam vazios e
carregados. Com estes valores oriundos do campo, formularam-se hipóteses de carregamento e
definido o crescimento da frota dos veículos de carga. Finalmente, calcularam-se os parâmetros
FV e N para o trecho estudado com e sem a existência de fiscalização por pesagem na frota.
Não foi necessária a correção do VDM para 24 horas no posto de Venâncio Aires, uma
vez que a empresa concessionária executou os levantamentos durante 24 horas por dia todos os
dias.
O cálculo dos percentuais das classes de veículos 2U foi efetuado com base em contagens
volumétricas classificadas feitas pela Equipe de Engenharia de Tráfego do DAER para o
Programa de Restauração (DAER, 2001) em rodovias localizadas na área de influência da
rodovia estudada. Utilizaram-se, também, contagens de tráfego de rodovias arteriais similares à
do presente trabalho como a BR 101 e a BR 116. Os cálculos efetuados indicam uma
discriminação média da categoria 2U em: 39,85% para a classe 2U(16) e 60,15% para a 2U(22).
Quadro 1 - VDM24 para a categoria 2U
Categoria BR 287
2U (16) 339,58
2U (22) 512,57
Quando existe fiscalização por pesagem, a carga excedente passa a ser transportada por
outros veículos. No presente trabalho procedeu-se uma distribuição dos excessos de carga e o
VDMa passa para o valor corrigido de 2079,20 veículos por dia. Para cada um dos cenários
descritos serão calculados o fator de veículo e o número acumulado de aplicações do eixo padrão
de 8,2t - N. Após, serão desenvolvidas comparações entre as diferentes situações.
9. Fator de Veículo – FV
O fator de veículo de uma frota pode ser calculado como FV = FE*FC e deve ser
interpretado como o número equivalente de operações do eixo padrão provocado pelo
deslocamento de um veículo médio representativo da frota. O fator de veículo representa também
uma grandeza proporcional ao dano ou consumo provocado pela ação do tráfego sobre o
pavimento. Portanto, pode-se apresentar o FV como um indicador do desempenho esperado do
pavimento.
BR 287
10,0
9,47
7,04
Fator de Veículo
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
CPesagem SPesagem
Condições de Carregamento da Frota
10. Número N
Os números N’s foram calculados de acordo com os procedimentos recomendados pelo
Manual de Pavimentação do DNER (1996). Determinou-se o valor de N para as duas distintas
hipóteses: com e sem fiscalização por pesagem. O período para considerado para análise foi de
10 anos, normalmente utilizado em estudos de tráfego, projetos de dimensionamento e
restauração de pavimentos no Brasil. A taxa de crescimento linear do tráfego considerada foi de
3,0% aa., valor usualmente adotado pelo DAER e DNIT.
5,0E+07
4,0E+07
Número N
3,0E+07
2,0E+07
1,0E+07
0,0E+00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Anos
CPesagem SPesagem
Referências Bibliográficas