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ASSAI - PR
2019
KAIKE MONTEIRO BORGES
ASSAI - PR
2019
IMPACTO DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS NO MUNICÍPIO DE ANDIRÁ/PR –
Um estudo sobre a participação dos médicos cubanos
Resumo
O reduzido número da oferta de médicos no Brasil é um obstáculo ao acesso universal e a
qualidade dos serviços oferecidos no cuidado em saúde. Para minimizar este problema, o
Governo Federal implantou em 2013 o Programa Mais Médico (PMM). A celeridade com que
o programa foi formatado trouxe alguns riscos, principalmente se considerar o grande número
de médicos Cubanos que foram recrutados para atuar no PMM. Em 14 de novembro 2018 o
Governo de Cuba, anunciou que estava tomando decisão de não continuar no PMM. Assim
convocou os médicos Cubanos atuantes no Programa no Brasil que retornassem para Cuba.
Diante deste cenário, o artigo tem por finalidade aferir o impacto da atuação dos médicos
cubanos dentro do Programa Mais Médico, tomando-se como estudo de caso o município de
Andirá/PR, buscando apreender se e até que ponto a referida atuação trouxe impactos
positivos para a assistência médica a população. Os resultados demonstram que no período de
2015 a 2018 cem por cento dos médicos do PMM no município de Andirá eram originários de
Cuba. Os médicos supriram a carência de atendimentos em duas UBS do município, com
cerca de quase mil atendimentos mensais. As saídas desses profissionais ocasionaram uma
série de transtornos à população, que tiveram significativa redução no número de
atendimentos. Uma vez que, médicos de outras UBS tiveram que revezar os atendimentos
para dar conta da lacuna deixada pelos Cubanos. Até a data da confecção deste artigo os
atendimentos ainda não haviam normalizado no município. Assim, a atuação dos médicos foi
positiva, todavia, a sua saída causou diversos transtornos, isso porque a comunidade que
estava acostumada com os atendimentos diários se deparou novamente com a falta da
presença de um profissional médico para oferecer o devido suporte.
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por finalidade aferir o impacto da atuação dos médicos cubanos
dentro do Programa Mais Médicos, tomando-se como estudo de caso o município de
Andirá/PR, buscando apreender se e até que ponto a referida atuação trouxe impactos
positivos para a assistência médica a população.
Este trabalho justifica-se na medida em que a assistência médica no Brasil tem sido
tema de discussão dos poderes púbicos em níveis federal, estadual e municipal, sem que se
avance no sentido de propiciar um atendimento de qualidade e com continuidade para a
população, em especial para aquela parcela da população mais carente que não tem condições
de arcar com um plano de saúde. Deste modo espera-se contribuir com esse debate, buscando
apresentar o impacto da atuação de médicos cubanos, tomando como estudo de caso o
município de Andirá, uma vez que este apresenta um perfil sócio econômico semelhante à
grande maioria dos municípios de mesmo porte.
Tendo em vista os objetivos elencados adota-se como perspectiva teórico/conceitual
uma discussão reflexiva de política pública, enquanto mecanismo de promoção do
desenvolvimento econômico, por meio de uma revisão da literatura sobre o PMM no país,
com ênfase na questão da saúde pública, seu financiamento, passando pela atuação do Sistema
único de Saúde (SUS), sua realidade e perspectivas. Em complemento a esta perspectiva
teórico/conceitual, apresenta-se uma análise descritiva das condições sócio/econômicas do
município de Andirá como um contexto da análise pretendida.
Trata-se de um estudo empírico/qualitativo, amparado por um levantamento de dados
primários obtidos com a aplicação de um questionário (vide anexo) buscando obterem-se a
informações relevantes para se aferir a medida do impacto da atuação dos médicos cubanos,
dentro do Programa Mais Médico no município de Andirá.
Tendo em vista o objetivo geral a ser alcançado, o presente trabalho comporta três
seções, além desta introdução: Na primeira seção, aborda-se a perspectiva teórico/conceitual
que balizou a análise realizada; Na segunda seção apresenta-se uma análise descritiva das
condições sócio/econômicas no município de Andirá, como contexto histórico para o estudo
pretendido. Finalmente a terceira seção apresenta uma guisa de conclusão.
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Política pública é um tema que veio a baila com força nos últimos anos, sendo
destaque em debates, conferências, centros de estudos entre outros. A Política Pública
enquanto área do conhecimento e disciplina acadêmica surgiu nos Estados Unidos, dando
ênfase nos estudos sobre a ação dos governos. Teve como seus “pais” fundadores, H. Laswell,
H. Simon, C. Lindblom e D. Easton. (SOUZA. 2006)
Diversas definições são dadas para o que é política pública. Destarte, vários autores
vão trazer suas colaborações e citar seus pontos de vista sobre a questão. Dye (1984) vai
sintetizar o conceito afirmando que política pública se trata de o que o governo escolhe fazer,
ou não fazer. A definição mais conhecida é a de Laswel (1958) que afirmou que a análise das
políticas públicas deve responder o seguinte questionamento: “quem ganha o quê, por que, e
que diferença faz”.
Existe um processo onde estas políticas deverão ser formuladas. Tal processo é aquele
no qual o governo traduzirá seus projetos em ações concretas, que são os programas que
afetarão diretamente a sociedade. Também se admite a política pública como um campo
1
holístico podendo ser objeto de pesquisa de diversas outras disciplinas, como: psicologia,
sociologia, filosofia, economia, entre outras. São estas visões que irão compor está área do
saber. Considerando estes diversos “olhares” a política pública vai se desdobrar em planos,
programas e projetos que, uma vez implantados, serão objeto de avaliação e análise dos
pesquisadores. (SOUZA, 2006).
As políticas públicas de saúde vêm sendo realizadas no Brasil há vários anos. No
entanto, foi em 1988, com o advento da constituição cidadã que houve o estabelecimento da
saúde como direito do cidadão e dever do Estado. Nesse sentido, a Constituição Federal é
enfática quanto ao dever do Estado em seu Art. 196 “[...] garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”, bem
como no Art. 197 “São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle [...]”
(Brasil, 1988).
1
Holístico - Que considera o todo não somente como uma junção de suas partes; que busca entender os
fenômenos por completo, inteiramente.
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Da mesma forma, esta função do Estado é ratificada pela Lei Orgânica do SUS. “O
dever do Estado de garantir a saúde consiste [...] no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção,
proteção e recuperação” (Brasil, 1990).
De acordo com Reis, Araújo e Cecílio (2018) “a constituição do SUS, foi à maior
política pública de saúde brasileira”. Que teve um longo caminho trilhado até a conjuntura
atual.
Em 1990 foi criado o SUS (Sistema único de Saúde) por meio da Lei nº 8.080, de 19
de setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”.
(BRASIL, 1990)
Embora, o SUS seja um dos maiores programas de saúde já criado em todo mundo, ele
sempre enfrentou adversidades. Sendo que estas ao longo de mais de duas décadas de
existência gradativamente se agravaram. Vários impasses são enfrentados pelo SUS, o
subfinanciamento onde os recursos destinados à operacionalização do SUS ficam muito
abaixo de suas necessidades, as insuficiências da gestão local do SUS onde a gestão municipal
dos recursos do SUS funciona apenas em partes. Um levantamento realizado por
pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São
Paulo apresentou uma lista com alguns problemas enfrentados pelo SUS. Dentre eles destaca-
se: baixa resolutividade da rede básica de serviço, deficiência na formação dos profissionais
da saúde, deficiências na gestão dos sistemas loco regionais de saúde, (REIS; ARAÚJO;
CECÍLIO 2018).
Salienta-se que dentre as adversidades enfrentadas pelo SUS, destaca-se a falta de
acesso a Atenção Básica. Esta atinge grande parte da população brasileira, avolumando-se no
que diz respeito a regiões remotas, vulneráveis, e periferias das grandes cidades. Esse revés é
ocasionado em grande escala pela escassez de profissionais médicos. (KEMPER, 2016)
Conforme assevera Girardi et al (2016) o conceito de escassez se relaciona
infimamente com a economia, é usado para descrever situações onde os recursos disponíveis
não são suficientes para atender as demandas. Ou seja, quando o recurso, ou bem não satisfaz
a necessidade de todos os indivíduos. A escassez pode variar em grau e natureza. Quando
consideramos a demanda por assistência em saúde, especificamente de médicos, vislumbra-se
um cenário de carência e privação, incompatíveis com os estados democráticos, visto que
demonstram desigualdades no acesso a recursos sociais essenciais, que impactam
significativamente a vida dos cidadãos.
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Diante deste 2gap entre a oferta de serviços médicos e a demanda, o Estado se depara
com há necessidade de prover, através das políticas públicas ações para solucionar a questão.
Vale ressaltar que a experiência do Brasil em fomentar, bem como recrutar e fixar médicos
para atuar em áreas distantes de centros urbanos e/ou de difícil acesso, não é novidade.
Conforme corrobora Maciel Filho (2007), onde destacou exemplos de iniciativas como: o
Projeto Rondon (1960 – 1989), o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e
Saneamento (1976-1985), o programa de interiorização do trabalho em Saúde (2001-
2004).Não obstante pode-se mencionar o programa de valorização da Atenção Básica
em2011,e finalmente o Programa Mais Médicos para o Brasil, em 2013.
Conforme afirmativa de Oliveira et al (2015, p. 626) “O Programa Mais Médicos foi
introduzido no Brasil em julho de 2013, como parte de uma série de medidas para combater as
desigualdades de acesso à atenção básica resolutiva.” Portanto, o Programa Mais Médico, é
considerado uma das políticas públicas mais abrangentes já adotados pelo governo para lidar
com a escassez de médicos.
Em meados de 2013 uma série de protestos rapidamente alastrou-se por todo território
nacional. O cenário político era complexo e exigiam ações rápidas do governo. Em meio à
crise, a política de saúde seria marcada pela adoção de programas novos, específicos, que se
tornariam marcos de governo. Sendo eles; a expansão das Unidades de Pronto- Atendimento
(UPA), e a criação do Programa Mais Médico. (MACHADO, LIMA, BAPTISTA, 2017).
O PMM foi criado pelo Governo Federal com apoio dos Estados do Distrito Federal e
dos Municípios. Estimulado pela tentativa de trazer respostas a uma dificuldade histórica, o
provimento e fixação de médicos no SUS. Especialmente no que tange a municípios de
pequeno porte e áreas remotas do Brasil, influenciado pelo movimento “cadê o médico?”, que
reuniu prefeituras de todo o Brasil que não tinham condições de ampliar sua estrutura de
atendimento à saúde. (FILHO, LIMA, 2018)
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), há uma imensa disparidade
na proporcionalidade de médicos para cada mil habitantes entre os países que detém serviços
de saúde públicos universais. No Brasil (1,8 médico para mil habitantes), Reino Unido (2,8
2
Gap- é uma palavra inglesa que significa lacuna, vão ou brecha. A palavra é também utilizada com o
significado de diferença.
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médico para mil habitantes), Canadá (2,5 médicos para mil habitantes), Espanha (3,8 médicos
para mil habitantes), Portugal (4,4 para mil habitantes), Cuba (7,5 médicos para mil
habitantes). Somando-se a esses dados, o Brasil tem o sistema de saúde com financiamento e
execução públicos para mais de 70% da população. Além do mais, é o único com mais de 100
milhões de habitantes que assumiu o desafio de ter um sistema universal, público e gratuito de
saúde.
Buscar, soluções para ampliar a cobertura da Atenção básica em áreas vulneráveis não
é uma prerrogativa apenas do Brasil. Outros países também têm buscado estas alternativas.
Contudo, não há uma resposta simples para o problema de escassez do profissional médico.
As experiências internacionais vão demonstrar que são necessárias diversas estratégias para
lidar com este dilema. (FILHO, LIMA 2018).
Assim, diante dos apelos dos Prefeitos, por intermédio do movimento “cadê o
médico?” supracitados, que ocorreu em janeiro de 2013, e os apelos populares por mais
médicos e mais saúde, o Governo Federal em julho de 2013 lançou o programa mais médico
(PMM) por intermédio da Medida Provisória nº 621, que posteriormente foi convertida na Lei
nº 12.871 de 22 de outubro de 2013, que Instituiu o Programa Mais Médico, alterou as Leis
no 8.745, de 09 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 07 de julho de 1981. (BRASIL, 2013)
Em conformidade com Kemper (2016) o processo de implantação do PMM foi
interposto por embates ideológicos e disputas judiciais creditadas por entidades médicas. Elas
afirmavam ser uma medida unilateral do Governo Federal, com fito apenas na atividade
eleitoreira sem qualquer planejamento.
A estruturação do PMM foi baseada em três eixos de ação. O desenvolvimento dos
três eixos ocorre de maneira simultânea. Primeiro, investir em melhorias da infraestrutura da
rede de saúde. Segundo, ampliar reformas educacionais dos cursos de graduação em medicina
e residência médica no país. Finalmente o terceiro eixo que trata do provimento em caráter
emergencial de médicos em áreas vulneráveis. (OLIVEIRA et al, 2015).
Portanto, o programa visa de maneira genérica promover melhorias nas UBS,
alterações na formação dos profissionais de medicina, além da ampliação da oferta de vagas
em residência médica e provimento emergencial de médicos para as regiões com maior
vulnerabilidade do país. (FILHO e LIMA, 2018).
deveriam ser tratadas pelo governo, principalmente na Atenção Primária à Saúde (APS). Os
indicadores claramente apontavam, quando comparado a outros países, para um número
insuficiente de médicos por habitantes, má distribuição no território brasileiro, além da
complexidade em atrair, bem como fixar estes profissionais nas regiões mais necessitadas.
(GIRARDI, et al, 2016).
Para Filho e Lima (2018) o provimento emergencial de médicos foi trabalhado como
estratégia para suprir de maneira temporária a escassez de profissionais nas regiões mais
vulneráveis. Logo, o Projeto Mais Médico se tornou responsável pela ação de provimento de
médicos em caráter emergencial. Inicialmente por três anos, podendo ser renovado por outros
três.
Para implantar o projeto, o Governo Federal buscou estudar o modelo de cooperação e
intercâmbio de profissionais baseado em experiências de outros países. O Reino Unido, por
exemplo, conta com uma expressiva quantidade de médicos estrangeiros desde os anos de
1960, atualmente 37% dos profissionais que atuam na saúde do Reino Unido são estrangeiros.
Outro exemplo é os EUA, lá 25% dos médicos em atuação se formaram em outros países.
(PINTO et al, 2014).
Destarte, inspirado em experiências internacionais, principalmente nos governos de
Portugal e Espanha, o governo brasileiro resolveu aderir à prática de intercambio de médicos.
O governo verificou ainda estes países como potenciais originários de mão de obra. Isso por
conta da proporcionalidade alta de médico por cada mil habitantes. Além do fato de terem
foco de sua formação na saúde da família, bem como pela proximidade de seus idiomas e
crise economia enfrentada na época. De acordo com Filho e Lima (2018) Cuba foi
identificada como um dos maiores potenciais para oferta de mão de obra. Conforme
supramencionado, com proporção de 7,5 médicos por mil habitantes.
Não obstante, o governo brasileiro buscou através da divulgação de Editais de
Chamamento, atrair profissionais para o PMM. A Lei do mais médico disciplina os critérios
de prioridade para o preenchimento das vagas. São eles; prioridade para médicos com registro
no Brasil, qualquer médico formado no Brasil ou no exterior que tenha seu diploma
revalidado no Brasil. Após esta etapa se ainda restarem vagas chama-se o segundo grupo, que
é composto por médicos brasileiros formados no exterior, sem o diploma revalidado. Havendo
ainda vagas estende-se o chamamento a médicos estrangeiros com habilitação para o
exercício da medicina no exterior cujo diploma não tenha sido revalidado no Brasil.
Vale ressaltar que não podem participar do programa, médicos que tenha se formado
em países que a média de médico para cada mil habitantes seja inferior a do Brasil, (1,8 para
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De acordo com o Portal do Mais Médico (2019), com dois anos de existência o
programa já contava com 18.240 médicos, estes se distribuíam por 4.058 municípios do
11
A figura acima demonstra o resultado da pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Data
folha entre os dias 18 e 19 de dezembro de 2018. Onde, em 130 municípios foram entrevistadas um
total de 2.077 pessoas. Nota-se que com a saída dos médicos cubanos do programa Mais
Médicos, 49% avaliaram que a saúde pública do país iria piorar 38% que iria melhorar 8%
que ficará igual e 5% não opinaram. (DATAFOLHA, 2018)
O pessimismo da população apontado na pesquisa se dá pelo grande número de
médicos cubanos que atuavam no Brasil, de acordo com o CONASENS (2018) no final do
ano de 2018, os profissionais do país caribenho representavam mais da metade dos médicos
do programa, onde dos 5.570 municípios do país, 3.228 (79,5%) só tinham médico pelo
programa, e 90% dos atendimentos à população indígena eram realizados por estes
profissionais.
Com o êxodo cubano, a grande dificuldade enfrentada pelo governo se encontra no
preenchimento das vagas deixadas por estes. Em 2018 foi lançado edital de chamamento de
médicos para preenchimento destas vagas que contou com 98% de brasileiros inscritos.
Contudo, em uma relação nominal de médicos divulgada pelo Ministério da Saúde, informou
que foi realizado o cruzamento de informações no CNES (Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde) onde constatou que dos 7.271 profissionais alocados, 2844 já
atuavam na Estratégia Saúde da Família. Ou seja, conforme afirma o presidente da
COSEMS/MA (2018) “ao invés de somar profissionais, esse novo edital está trocando o
problema de lugar. Se o médico sai de um serviço do SUS para atender em outro, o município
de origem fica desassistido”.
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Total 41
Fonte: IPARDES (2019)
3
Outros: brasileiros formados no exterior ou estrangeiro, com a exceção de Cuba.
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Além do mais, deve se ponderar que dos 21 municípios pertencentes a esta Regional
de Saúde, 28,57% possuíam apenas médicos cubanos no seu quadro de profissionais que
preenchiam as vagas do PMM.
Período 2015-2018
Médicos brasileiros 0
Médicos cubanos 4
Usuários atendidos na UBS 120
Atendimento usuários por médico cubano na UBS 30
Quadro 1 - Quantitativo de atendimento médio na UBS durante vigência do Programam Mais médicos –
Município de Andirá/PR
Fonte: Elaborado pelo autor a partir das normas NBR 6022, NBR 6024 e NBR 14724.
segunda a quinta-feira. Isso porque, à carga horária destes profissionais era de 32 horas
semanais. Logo, tem-se um total de 240 atendimentos semanais, e considerando a mesma
lógica uma média de quase mil atendimentos mensais. Estes números para uma cidade de
pouco mais de vinte mil habitantes é expressivo.
Foi solicitado aos responsáveis pela Secretaria de saúde municipal que informassem
quantos pacientes eram atendidos nas UBS Timburi e UBS Santa Helena antes do PMM.
Entretanto, em entrevista com a diretora do Departamento Administrativo da Saúde, foi
informado que não possuíam os dados solicitados em seus registros.
O quadro – 2 demonstra que a presença dos médicos cubanos era essencial para o
atendimento da demanda por atendimentos médicos no município
Total de Médicos Cubanos O município de Andirá recebeu no total de 04 médicos cubanos entre 2015 e
integrantes do Programa Mais 2018, sendo que o município possui 02 vagas para o Programa Mais Médico.
Médicos no período de
referência.
Total de médicos brasileiros Não houve participação de médicos brasileiros no Programa Mais Médico
integrantes do Programa Mais
Médicos
Quantitativo de médicos Os médicos cubanos vieram para suprir a falta de médicos da UBS Timburi,
brasileiros no Programas Mais no qual o médico havia pedido exoneração, e da UBS Santa Helena, no qual
Médicos, após a saída dos não havia médico concursado.
médicos cubanos.
Quantitativo de usuários Nós tivemos 02 médicas inscritas para as vagas, porém conseguimos
atendidos antes da vinda dos homologar apenas 01, já que a outra médica entrou em contato com a gestão
médicos cubanos para o informando que não assumiria a vaga, pois foi convocada em um concurso
município de Andirá. público. Assim estamos com uma vaga em aberto
Quantitativo de usuários Os médicos atendiam em média 30 pacientes por dia, de segunda a quinta-
atendidos durante a feira. Já que a carga horária do programa é 32 horas semanais
permanência dos médicos
cubanos no município de
Andirá
Quantitativo de usuários Com a saída dos médicos cubanos, o Ministério da Saúde abriu edital
atendidos no município de convocando médicos brasileiros para suprir essas faltas, assim as duas vagas
Andirá após a saída dos para o nosso município foram preenchidas, porém como disse anteriormente
médicos cubanos? foi homologada apenas uma médica. Enquanto não iniciam suas atividades a
Secretária Municipal da Saúde solicitou que os médicos da UBS santa Inês e
UBS Timburi realizassem atendimento 2x por semana na UBS Industrial e
UBS distrito, para que a população não fique sem atendimento.
Quadro 3–Síntese Condições de Atendimento Médico de Usuários na UBS de Andirá - Vigência do Programa
Mais Médico (2015-2018).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir das normas NBR 6022, NBR 6024 e NBR 14724.
4 CONCLUSÃO
levar em consideração a celeridade com que o programa foi formatado, e os prováveis riscos,
principalmente devido a concentração na vinda de cubanos para prestar atendimentos em
diversas localidades no país. Logo, o presente estudo buscou aferir o impacto da atuação dos
médicos cubanos dentro do referido Programa Mais Médico, tomando-se como estudo de caso
o município de Andirá/PR, este buscou compreender, se, e até que ponto a referida atuação
trouxe impactos positivos para a assistência médica a população.
É importante destacar a dificuldade para obtenção de dados mais robustos para
consolidar este trabalho. A incipiência dos dados cedidos pelo órgão não possibilitou uma
analise mais profunda do impacto do Programa Mais Médicos no município de Andirá/PR.
De acordo com a OMS, há uma imensa disparidade na proporcionalidade de médicos
para cada mil habitantes entre os países que detém serviços de saúde públicos universais. No
Brasil, por exemplo, a média é (1,8 médico por mil habitantes). Somando-se a esses dados, o
Brasil tem o sistema de saúde com financiamento e execução de investimento público para
mais de 70% da população. Além do mais, é o único país com mais de 100 milhões de
habitantes que assumiu o desafio de ter um sistema universal, público e gratuito de saúde.
Essa dificuldade refletiu no Município de Andirá que sofre com a falta de médicos
para suprir a demanda dentro do município. Esta falta vai ocasionar uma série de transtornos,
como, a dificuldade de enviar pacientes para realizar tratamentos em cidades da região,
aumentando o sofrimento do cidadão, bem como onerando os cofres públicos com gastos com
transporte.
Contudo, a chegada do PMM no município de Andirá colocou a possibilidade de
melhoria no oferecimento da saúde púbica local. Os médicos cubanos chegaram ao município
em meados de 2015, no período de 2015 a 2018 passaram quatro médicos pelo programa,
todos eles de origem Cubana. O fato de 100% dos médicos serem oriundos do país caribenho
indica a grande dependência da mão de obra dos médicos cubanos.
Os profissionais médicos atuavam em duas Unidades Básicas de Saúde, localizadas
nos bairros Timburi e Santa Helena. O quantitativo de atendimento médio nestas duas UBS
durante a vigência do PMM era uma média de 30 pacientes, de segunda a quinta-feira. Isso
porque, à carga horária destes profissionais era de 32 horas semanais. Logo, tem-se um total
de 240 atendimentos semanais, e considerando a mesma lógica uma média de quase mil
atendimentos mensais. Estes números para uma cidade de pouco mais de vinte mil habitantes
é expressivo.
Quando os médicos Cubanos retornaram para o país de origem percebeu-se um grande
transtorno para a população, que novamente se viu desassistida. No que tange ao quantitativo
22
de usuários que são atendidos após a saída dos profissionais Cubanos do PMM no Município
de Andirá, até a data da resposta da pesquisa os atendimentos não haviam recomeçado. Para
minimizar o transtorno, foi solicitado que médicos que preenchem o quadro de servidores de
outras UBS no município prestassem assistência para as unidades que estão descobertas.
23
5 REFERÊNCIAS
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ANEXO
QUESTIONÁRIO