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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Inquérito Policial nº 00486/2017.100138-4

URGENTE RÉU PRESO!!!

CÂNDIDO LIMA JÚNIOR, brasileiro, casado, advogado,


inscrito na OAB/PA sob o nº 25.926-A, com endereço profissional e
eletrônico constantes no rodapé, onde recebe notificações e intimações
de estilo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com
fulcro no art. 5º, LXVIII da CF/88 c/c art. 647 e 648, II do Código de
Processo Penal, impetrar ORDEM DE HABEAS CORPUS COM PEDIDO
LIMINAR, em favor de PAULO RICARDO RODRIGUES VIEIRA,
brasileiro, solteiro, feirante, portador do RG 6278291 SSP/PA e CPF nº
011.955.042-33, residente e domiciliado na Rodovia Transamazônica,
s/n, Bairro Vila Marabá, saída para Marabá, no município de Novo
Repartimento/PA, por estar sofrendo flagrante constrangimento ilegal
perpetrado pelo Juízo da Vara Criminal da Comarca de Tucuruí/PA,
conforme será demonstrado a seguir:
I – DA SÍNTESE FÁTICA

O Paciente teve prisão temporária decretada pelo


Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 3ª Vara da Comarca de
Tucuruí, no curso de procedimento investigatório para apurar a morte
do nacional JONES WILLIAMS, ex-prefeito da cidade de Tucuruí/PA.

Inicialmente, insta ressaltar de imediato que o Paciente não


possui qualquer relação com o crime em comento, isto porque não
participou de qualquer ato que esteja vinculado ao evento criminoso,
tendo sido preso unicamente por ser conhecido de outros investigados.

E passados mais de 50 (cinquenta) dias de recolhimento


temporário ao cárcere, já tendo sido inquirido pelas autoridades
policiais no curso das investigações, o Paciente permanece preso
temporariamente.

Destarte, sabemos que a prisão temporária visa assegurar a


eficácia das investigações, de modo que o investigado não crie
embaraços para as investigações policiais, notadamente, influenciando
nos depoimentos de testemunhas ou destruindo provas.

As diligências deferidas no procedimento cautelar foram


todas cumpridas e neste sentido manter o Paciente preso até o
termino da prisão temporária é uma afronta a dignidade da pessoa
humana, pois não há mais riscos, fundados que o Paciente possa
obstaculizar a investigação, em sede de inquérito policial.

Ademais, o Paciente não possui antecedentes criminais, é pai


de família imprescindível ao sustento do seu lar e possui endereço fixo
conhecido pelas autoridades na Comarca do feito.
Repetindo, o Paciente é feirante e provedor de sua casa,
imprescindível aos cuidados dos filhos menores e a sua família
(documentos).

II – PRELIMINARMENTE

II.a – DA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO DE PRIMEIRO


GRAU PARA DECRETAR CISÃO DA INVESTIGAÇÃO E MEDIDAS
CAUTELARES

A priori, insta ressaltar que, no caso em questão, existem dois


procedimentos investigatórios em trâmite, o PIC nº 0011768-
74.2017.8.14.0001, referente aos acusados que não possuem foro
privilegiado, e o PIC nº 0012316-88.2017.8.14.000, que tramita em
favor dos investigados com prerrogativa de função.

A cisão do procedimento investigatório em razão da existência


de réus com foro privilegiado por prerrogativa de função fora
determinada pelo Juízo de Primeiro Grau, em flagrante violação da
competência absoluta do Tribunal de Justiça para perpetração de tal
ato.

Neste sentido, inclusive, é o entendimento do Superior


Tribunal de Justiça, conforme vejamos:

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM


HABEAS CORPUS . 1. INVESTIGAÇÃO
REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.
CONSTITUCIONALIDADE. RE N. 593.727/MG. 2.
PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL.
OBSERVÂNCIA. AUSÊNCIA DE DESIGNAÇÃO
CASUÍSTICA. GAECO. PROMOTORES COM
ATRIBUIÇÃO PRÉVIA. 3.
INCONSTITUCIONALIDADE DO PROVIMENTO N.
162/2008. NÃO VERIFICAÇÃO. POSSIBILIDADE
DE ESPECIALIZAÇÃO DE VARAS. 4.
ESPECIALIZAÇÃO DE VARAS. MEDIDAS
CAUTELARES FORMULADAS PELO GAECO.
IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAR FORO POR
PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. 5. QUEBRA DE SIGILO
BANCÁRIO. EMPRESAS INVESTIGADAS.
RELAÇÃO DIRETA COM DEPUTADO ESTADUAL
E PREFEITO. AUSÊNCIA DE CISÃO DA
INVESTIGAÇÃO. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. NULIDADE DA PROVA. 6.
RECURSO EM HABEAS CORPUS PROVIDO EM
PARTE. 1. Não há se falar em nulidade da
investigação conduzida pelo Ministério Público,
uma vez que o Pleno do STF, no julgamento do
RE n. 593.727/MG, firmou entendimento no
sentido de que "os artigos 5º, incisos LIV e LV,
129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, § 4º, da
Constituição Federal, não tornam a investigação
criminal exclusividade da polícia, nem afastam
os poderes de investigação do Ministério
Público". 2. O princípio do Promotor Natural visa
à designação do órgão acusador de forma
objetiva, com fixação de suas atribuições em
momento anterior aos fatos, haja vista o direito
do réu de ser acusado por um órgão escolhido de
acordo com critérios legais previamente fixados.
No caso dos autos, o GAECO foi criado por meio
da Resolução n. 12/2008, com atribuição para
oficiar na identificação e repressão a
"organizações criminosas e seus reflexos na
administração pública e no setor econômico, no
âmbito do Estado de Mato Grosso Sul". Assim,
embora a investigação tenha se iniciado na
Promotoria de Justiça de Corumbá, não há óbice
à sua remessa ao GAECO, haja vista se tratar
de órgão especializado no âmbito do Estado, não
havendo se falar em designação casuística.

3. "Consoante a jurisprudência desta Corte


Superior, não ofende os princípios do juiz natural
e da perpetuação da jurisdição a redistribuição
de processo pela criação de nova vara
especializada na Comarca com consequente
alteração da competência em razão da matéria,
para fins de melhor prestar a jurisdição e não de
remanejar, de forma excepcional e por razões
personalíssimas, um único processo. (HC
322.632/BA, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, julgado em 01/09/2015, DJe
22/09/2015).

4. A especialização não tem o condão de


modificar a competência fixada pelas normas de
processo penal e menos ainda pelas normas
constitucionais, mesmo que se trate de medida
cautelar formulada pelo GAECO. No momento do
deferimento da medida cautelar, já era do
conhecimento tanto do Ministério Público quanto
do Magistrado de origem o envolvimento de
pessoas com foro por prerrogativa de função.
Note-se que o Ministério Público, ao iniciar as
investigações, requereu, inclusive, a delegação
de funções de execução do Procurador-Geral de
Justiça.

5. Embora a quebra não tenha se referido


às pessoas que possuíam foro privilegiado,
a investigação os envolvia e o resultado
perseguido com a medida cautelar tinha
ambos como alvo. Importante deixar claro
que é possível que a investigação e o
processo sejam cindidos, para que as
pessoas que não possuem foro por
prerrogativa de função sejam investigadas e
processadas em 1º grau. Porém, como é
cediço, o desmembramento deve ser
pautado por critérios de conveniência e
oportunidade, estabelecidos pelo Juízo da
causa, no caso, o de maior graduação, ou
seja, o Tribunal de Justiça, o que não se
verificou na hipótese. Registre-se, por fim,
que a ação penal se encontra em trâmite
perante o Tribunal de Justiça. Manifesta,
portanto, a incompetência do Magistrado
que deferiu a medida cautelar de quebra do
sigilo bancário, devendo ser considerada,
pois, prova ilícita.

6. Recurso em habeas corpus provido em parte,


para anular a decisão de quebra de sigilo
bancário proferida pelo Juiz Titular da 1ª Vara
de Execução Penal em Campo Grande/MS, por
incompetência, devendo as provas nulas, por ele
ordenadas, serem desentranhadas dos autos.

Desta forma, a cisão da investigação criminal somente poderia


ter sido determinada por parte do Tribunal de Justiça do Estado Pará,
ato que não ocorreu, caracterizando-se de forma flagrante a usurpação
de competência cometida por parte do Juízo de 1º Grau, razão pela qual
todos os atos decorrentes da cisão devem ser declarados nulos de pleno
direito.

Neste ínterim, o próprio STJ, em relação a um dos co-réus, já


entendeu pela ilegalidade da cisão dos procedimentos investigatórios, ao
julgar a liminar de habeas corpus impetrado em favor de paciente que
também está sendo alvo das investigações em questão, de tal sorte resta
comprovada a ilicitude do desmembramento de procedimentos
investigatórios levados à cabo pelo Juízo de 1º Grau.

Destarte, a flagrante ilegalidade do desmembramento resulta


em violação gravíssima de competência, acarretando assim a nulidade
absoluta dos atos que derivam de tal ato, incluindo-se a decretação de
prisão temporária do paciente, in casu, visto que o Juízo de 1º Grau não
detém competência para decretação da prisão, razão pela qual se faz
mister a imediata soltura do acusado, revogando-se a prisão temporária
e expedindo-se, imediatamente, alvará de soltura.

III. DO DIREITO

III.a – DA DESNECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DO CÁRCERE

A Lei n. 7.960/1989, que dispõe acerca da prisão temporária,


em seu art. 1º, estabelece, in verbis, que:
Art. 1° Caberá prisão temporária:

I - quando imprescindível para as investigações


do inquérito policial;

II - quando o indicado não tiver residência fixa


ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade;

III - quando houver fundadas razões, de acordo


com qualquer prova admitida na legislação
penal, de autoria ou participação do indiciado
nos seguintes crimes:

a) homicídio doloso;

- Da imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial

A prisão do Paciente, in casu, não constitui medida necessária


para o prosseguimento das investigações policiais, isto porque o
Paciente em nenhum momento se mostrou propenso a obstruir a
investigação, ao contrário, não ofereceu qualquer resistência à prisão.

E mais, atualmente o inquérito policial se encontra concluso,


com todas as diligências já perpetradas, de tal forma que inexiste razão
para suspeitar de obstrução às investigações por parte do paciente

- Da necessidade da prisão

O Paciente, ora indiciado, foi preso unicamente pelo fato de


ser conhecido de alguns dos co-investigados, não podendo assim ser
responsabilizado por possuir relações de amizade com pessoas
supostamente envolvidas em delitos.

Compulsando-se os autos, verifica-se que inexiste qualquer


prova que justifique a segregação prisional do Paciente, isto porque este
último não praticou qualquer ato ilegal, não participou de nenhum dos
atos que culminaram com o evento criminoso, tendo sido detido
unicamente por conhecer outros investigados.

Desta forma, imputar ao Paciente qualquer responsabilidade


pelos atos de conhecidos é representa grave violação constitucional,
visto que é dever do Estado apresentar evidências suficientes para
embasar uma acusação, o que não acontece no caso em discussão
porque o Paciente não possui qualquer ligação com o evento criminoso.

Por esta razão, não prospera a necessidade de cárcere do


Paciente, e, por isso, pugna pela imediata REVOGAÇÃO DA PRISÃO
TEMPORÁRIA, para que possa o Paciente responder o processo em
liberdade, comprometendo-se a quaisquer outras medidas cautelares
que garantam o devido prosseguimento da Ação Penal.

III.b – DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA CONSTITUCIONAL

A Convenção Americana dos Direitos Humanos ou Pacto de


San José da Costa Rica, em seu art. 7º, ao tratar do Direito à Liberdade
Pessoal, estabelece que:

Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à


segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade


física, salvo pelas causas e nas condições
previamente fixadas pelas Constituições
políticas dos Estados-partes ou pelas leis de
acordo com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou


encarceramento arbitrários.
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser
informada das razões da detenção e
notificada, sem demora, da acusação ou das
acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve


ser conduzida, sem demora, à presença de
um juiz ou outra autoridade autorizada por
lei a exercer funções judiciais e tem o direito
de ser julgada em prazo razoável ou de ser
posta em liberdade, sem prejuízo de que
prossiga o processo. Sua liberdade pode ser
condicionada a garantias que assegurem o
seu comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem


direito a recorrer a um juiz ou tribunal
competente, a fim de que este decida, sem
demora, sobre a legalidade de sua prisão ou
detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou
a detenção forem ilegais. Nos Estados-partes
cujas leis prevêem que toda pessoa que se
vir ameaçada de ser privada de sua liberdade
tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal
competente, a fim de que este decida sobre a
legalidade de tal ameaça, tal recurso não
pode ser restringido nem abolido. O recurso
pode ser interposto pela própria pessoa ou
por outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este


princípio não limita os mandados de autoridade
judiciária competente expedidos em virtude de
inadimplemento de obrigação alimentar. (grifos
nossos)

O Decreto nº 678/1992 foi o responsável pela promulgação da


Convenção Americana sobre Direitos Humanos no ordenamento jurídico
brasileiro, de tal sorte que este diploma legal ingressa em nosso sistema
jurídico dotado de caráter constitucional, e, assim, imperativa a sua
aplicação, por se tratar de pacto sobre direitos humanos.
A Constituição Federal, em seu art. 5º, LIV, esboça o
fundamento jurídico do due process of law ou devido processo legal que,
atualmente, é considerado princípio fundamental e norteador de todos
os demais princípios constitucionais, com a finalidade de reprimir
abusos do Estado.

E mais, o devido processo legal se ramifica duas esferas, a


esfera formal (procedural due process of law) e a esfera substantiva
(substantive process of law), de tal forma que o primeiro refere-se ao
dever do juiz, enquanto representante do Estado, de observar os ritos e
a todos os aspectos que circundam o processo, e o segundo trata de
uma prestação jurisdicional justa e adequada, em observância aos
princípios da justiça e requisitos intrínsecos da lei.

Alexandre de Morais, ministro do STF, ao abordar o tema,


leciona que:

“o devido processo legal configura dupla


proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito
material de proteção ao direito de liberdade,
quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe
paridade total de condições com o Estado –
persecutor e plenitude de defesa (direito à
defesa técnica, à publicidade do processo, à
citação, de produção ampla de provas, de ser
processado e julgado pelo juiz competente, aos
recursos, à decisão imutável, à revisão
criminal)”.

A Carta Magna de 1988, ainda em seu art. 5º, LVII, dispõe


acerca do princípio da presunção de inocência, conforme vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LVII - ninguém será considerado culpado até

o trânsito em julgado de sentença penal


condenatória;

[...]

Desta forma, ainda que em recente julgamento o Supremo


Tribunal Federal tenha reconhecido a possibilidade de início de
cumprimento da sentença penal após o julgamento em 2ª instância, no
caso presente, o processo ainda se encontra em fase de instrução
criminal, sem sequer ter acontecido a primeira audiência do feito e, por
esta razão, o Paciente deve ser posto imediatamente em liberdade, sob
pena de mácula ao princípio da presunção de inocência.

III.c - DA PRIMARIEDADE E BONS ANTECEDENTES DO ACUSADO

É necessário ressaltar que o acusado é primário, haja vista


que não possui em seu desfavor nenhuma condenação penal
transitada em julgado, assim como não responde nenhum processo na
justiça. Este, inclusive, é raciocínio abordado por GUILHERME DE
SOUZA NUCCI ao ensinar sobre a “primariedade”:

“Primariedade é a situação de quem não é


reincidente. Este, por sua vez, é aquele que
torna a cometer um crime, depois de já ter
sido condenado definitivamente por delito
anterior, no País ou no exterior, desde que
não o faça após o período de cinco anos,
contados da extinção de sua primeira
pena”.(Código de Processo
Penal Comentado; 4ª ed.; ed. RT; São Paulo;
2015; p. 915).

Insta dizer, também, que o réu possui bons antecedentes,


pois como preleciona ainda GUILHERME DE SOUZA NUCCI:

“Somente é possuidor de maus


antecedentes aquele que, à época do
cometimento do fato delituoso, registra
condenações anteriores, com trânsito em
julgado, não mais passíveis de gerar a
reincidência (pela razão de ter ultrapassado
o período de cindo anos)”. (Op. Cit; p. 915).

Desta maneira, a defesa requer sua liberdade para que possa


responder adequadamente ao processo penal em liberdade, visto que
não pode ser penalizado pela demora do Estado em findar a ação penal
em curso, e pela aplicabilidade do brocardo jurídico que impõe
a presunção de inocência até que se esgotem todos os recursos da
ampla defesa e contraditório.

Neste sentido alinham-se Américo Bedê Júnior e Gustavo


Senna (Princípios do Processo Penal: Entre o garantismo e a
efetividade da sanção), Aury Lopes Filho (Direito Processual Penal e
sua Conformidade Constitucional), Fernando da Costa Tourinho Filho
(Processo Penal), Paulo Rangel (Direito Processual Penal) e Vicente
Greco Filho (Manual de Processo Penal).

A certeza do direito penal mínimo no sentido de que nenhum


inocente seja punido é garantida pelo princípio humanístico e
constitucional in dubio pro reo.

Tal princípio expressa o sentido da presunção de não


culpabilidade do acusado até prova em contrário: é necessária a prova,
isto é, a certeza, ainda que subjetiva, da culpabilidade, não tolerando a
antecipação da condenação, como vem ocorrendo, in casu, e exigindo-
se a absolvição em caso de incerteza.

No sentido do exposto é a jurisprudência dos tribunais


brasileiros:

HABEAS CORPUS. TRAFICO. PRISÃO


PREVENTIVA. AUSENCIA DE
FUNDAMENTAÇAO IDONEA. OBJETIVA O
IMPETRANTE A CONCESSÃO DA ORDEM
PARA RELAXAR A PRISÃO CAUTELAR DO
PACIENTE, POSTO QUE PRESO EM
FLAGRANTE DESDE 23.02.2013, POR
SUPOSTAMENTE TER COMETIDO O CRIME
DE TRAFICO DE DROGAS SUSTENTANDO A
ILEGALIDADE DA MANUTENÇÃO DA
CUSTÓDIA CAUTELAR EIS QUE DESPROVIDA
DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA A DECISÃO
QUE CONVERTEU A PRISÃO FLAGRANTE EM
PREVENTIVA, COM FUNDAMENTO NO
RESGUARDO DA ORDEM PÚBLICA E PARA
ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENA,
SEM, NO ENTANTO APONTAR ELEMENTOS
CONCRETOS A JUSTIFICAR A SEGREGAÇÃO
CAUTELAR DO PACIENTE, BEM COMO NÃO
FEZ NENHUMA CONSIDERAÇÃO ACERCA
DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA
PRISÃO, RAZÃO PELA QUAL ARGUMENTA
SER A MESMA NULA, O QUE TORNA ILEGAL
A PRISÃO DO PACIENTE. ORDEM QUE
MERECE SER PARCIALMENTE CONCEDIDA.
COM EFEITO, VERIFICA-SE QUE DECISÃO
QUE CONVERTEU A PRISÃO EM
FLAGRANTE DO PACIENTE EM
PREVENTIVA TEM COMO FUNDAMENTO A
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E A
APLICAÇÃO DA LEI PENAL, SEM BASEAR-SE
EM FATOS CONCRETOS QUE
EVIDENCIASSEM A NECESSIDADE DA
PRISÃO CAUTELAR, ALÉM DA VEDAÇÃO DE
CONCESSÃO DA LIBERDADE PROVISÓRIA
CONTIDA NO ART. 44 DA LEI Nº 11.343/06.
CEDIÇO QUE COM A ENTRADA EM VIGOR
DA LEI 12.403/11 A DECRETAÇÃO OU A
MANUTENÇÃO DE UMA PRISÃO CAUTELAR
DEVE ESTAR EMBASADA NÃO SOMENTE NA
PRESENÇA DOS REQUISITOS DOS ARTS.
312 E 313, DO CPP, COMO TAMBÉM NA
DEMONSTRAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA E
DESNECESSIDADE DA APLICAÇÃO DAS
MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA
PRISÃO CONTIDAS NO NOVO ART. 319, DO
CPP. CEDIÇO QUE A MANUTENÇÃO DA
PRISÃO EXIGE A PRESENÇA DE
ELEMENTOS QUE A JUSTIFIQUEM, NOS
TERMOS DO ARTIGO 312 CPP. SENDO
ASSIM, CABE AO JULGADOR INTERPRETAR
RESTRITIVAMENTE OS PRESSUPOSTOS DO
ART. 312 DA LEI PROCESSUAL PENAL,
FAZENDO-SE MISTER A CONFIGURAÇÃO
FÁTICA DOS REFERIDOS REQUISITOS. E O
QUE SE CONSTATA É QUE O JUIZ AUTOR
DA DECISÃO NÃO INDICOU FATOS
CONCRETOS QUE PODERIAM ABALAR A
ORDEM PÚBLICA E TAMPOUCO
ESCLARECEU A CIRCUNSTÂNCIA QUE
ESTARIA A PREJUDICAR EVENTUAL
APLICAÇÃO DA LEI PENAL. DESSA FORMA,
VERIFICO AUSENTE A IMPRESCINDÍVEL
DEMONSTRAÇÃO DA NECESSIDADE
CONCRETA DA MEDIDA EXTREMA, UMA
VEZ QUE NÃO HÁ, NA DECISÃO QUE
CONVERTEU A PRISÃO EM FLAGRANTE EM
PREVENTIVA, RAZÕES IDÔNEAS QUE
EXPLIQUEM, NO CASO CONCRETO,
QUAISQUER DOS REQUISITOS DA PRISÃO
PREVENTIVA, EM ESPECIAL A GARANTIA
DA ORDEM PÚBLICA E A APLICAÇÃO DA
LEI PENAL. DESTAQUE-SE QUE A DECISÃO
GUERREADA NÃO APRESENTOU
FUNDAMENTOS CONCRETOS PARA A
DECRETAÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR,
CONSTANDO DELA APENAS AS GENÉRICAS
EXPRESSÕES DA LEI. NO TOCANTE À
VEDAÇÃO LEGAL À CONCESSÃO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA CONTIDA NO ART.
44 DA LEI 11.343/06, A MAIS RECENTE
JURISPRUDÊNCIA DO STF VEM
CONSIDERANDO-A INCONSTITUCIONAL POR
OFENSA AOS POSTULADOS
CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA, DO DEVIDO PROCESSO LEGAL,
DA PROPORCIONALIDADE E DA DIGNIDADE
DA PESSOA HUMANA. EMBORA NÃO TENHA
HAVIDO QUALQUER PROVA DE
PRIMARIEDADE, BONS ANTECEDENTES E
RESIDÊNCIA FIXA, INEXISTINDO OS
REQUISITOS PARA DECRETAÇÃO DA
PRISÃO PREVENTIVA, NOS TERMOS DO
ART. 310 DO CPP, NÃO HÁ RAZÃO PARA A
MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA. ASSIM, A
MOTIVAÇÃO MOSTRA-SE INSUFICIENTE,
POR GENÉRICA E ABSTRATA, FICANDO NO
MERO CAMPO DA POSSIBILIDADE E NÃO
DA INDISPENSÁVEL PROBABILIDADE
NORMATIVA. ASSIM, NÃO RESTOU
CARACTERIZADO QUE A ORDEM PÚBLICA
ESTEJA AMEAÇADA PELA SOLTURA DO
PACIENTE, QUE A INSTRUÇÃO CRIMINAL
SEJA AFETADA E QUE A APLICAÇÃO DA LEI
PENAL SEJA PREJUDICADA. POR OUTRO
LADO, SALIENTE-SE, QUE NA HIPÓTESE EM
APREÇO, DIANTE DA APLICAÇÃO DO
BINÔMIO NECESSIDADE E ADEQUAÇÃO,
VISLUMBRO SEREM PLENAMENTE
APLICÁVEIS AS MEDIDAS CAUTELARES
ALTERNATIVAS À PRISÃO, PREVISTAS NOS
ARTIGOS 319 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. NO CASO DO PACIENTE PARECEM
SER SUFICIENTES, PARA O RESGUARDO
DO PROCESSO, AS MEDIDAS CAUTELARES
PREVISTAS NOS INCISOS I E V DO ART. 319
DO CPP. DESTA FORMA, VISLUMBRA-SE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL TENDO EM
VISTA A AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO
CONSTITUCIONALMENTE LEGÍTIMA DA
DECISÃO QUE DETERMINOU A
SEGREGAÇÃO CAUTELAR DO PACIENTE,
FAZENDO A RESSALVA DE QUE O ALVARÁ
DE SOLTURA APENAS DEVE SER EXPEDIDO
CASO O MESMO NÃO ESTEJA PRESO POR
OUTRO MOTIVO. CONCESSÃO PARCIAL DA
ORDEM PARA SUBSTITUIR A PRISÃO
PREVENTIVA DECRETADA EM DESFAVOR
DO PACIENTE, APLICANDO-LHE AS
MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NOS
INCISOS I E V DO ART. 319 DO CPP, BEM
COMO PARA ASSINAR TERMO DE
COMPARECIMENTO A TODOS OS ATOS DO
PROCESSO PARA OS QUAIS FOR INTIMADO
E DE MANTER ATUALIZADO SEU
ENDEREÇO NOS AUTOS, SOB PENA DE
REVOGAÇÃO, SEM PREJUÍZO DE SER
NOVAMENTE DECRETADA SUA PRISÃO
CAUTELAR COM A DEMONSTRAÇÃO
CONCRETA DE SUA NECESSIDADE,
DEVENDO O MM JUÍZO A QUO
PROVIDENCIAR A INTIMAÇÃO DO
PACIENTE PARA ASSINAR TERMO DE
COMPROMISSO REFERENTE ÀS
CONDIÇÕES DAS MEDIDAS ORA IMPOSTAS,
DETERMINANDO A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ
DE SOLTURA, SE POR OUTRO MOTIVO NÃO
ESTIVER PRESO. (grifos nossos)

(TJ-RJ - HC: 00179705720138190000 RIO DE


JANEIRO VOLTA REDONDA 1 VARA
CRIMINAL, Relator: SIRO DARLAN DE
OLIVEIRA, Data de Julgamento: 07/05/2013,
SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL, Data de
Publicação: 09/05/2013)

Nesse desiderato, impõe-se iminente a revogação do cárcere


preventivo, visto que a prisão não se justifica e, sendo o réu PRIMÁRIO
e de BONS ANTECEDENTES, com residência fixa e trabalho de carteira
assinada até data imediatamente anterior à sua prisão, não existem
barreiras para a imposição de medidas alternativas que visem garantir o
comparecimento do Paciente ao juízo.

IV – DA LIMINAR
A concessão da liminar em sede habeas corpus se baseia no
poder geral de cautela e tem como requisitos o preenchimento do
“periculum in mora” e “fumus bonis iuris”, os quais se verificam
presentes nos autos.

No que diz respeito ao periculum in mora, em razão da


constante possibilidade real de e concreta de dano irreversível ao
paciente, que se encontra preso em estabelecimento penal na cidade de
Belém/PA.

No que se refere ao fumus bonis iuris, este se encontra


caracterizado pela verossimilhança das alegações apresentadas por esta
impetração, notadamente no tocante aos fatos aqui relatados
concernentes ao constragimento ilegal da prisão do paciente, visto que
inexistem quaisquer provas apresentadas pela Polícia que justifiquem a
segregação do Pciente.

Desta forma, os requisitos para a concessão de medida


liminar estão preenchidos, na forma da lei, razão pela qual se requer o
deferimento da liminar, no intuito de que seja revogada a prisão do
paciente e, consequentemente, expedido imediatamente alvará de
soltura, para que este possa acompanhar o processo em liberdade.

V – DOS PEDIDOS

ANTE O EXPOSTO, é a presente impetração para requerer


seja oficiada a autoridade coatora, a fim de que esta preste informações,
intimando-se o Ilustre Membro do Ministério Público para que se
manifeste, assim como a concessão da ORDEM DE HABEAS CORPUS
em favor de PAULO RICARDO RODRIGUES VIEIRA, mantendo-se a
liminar anteriormente concedida, no intuito de que seja REVOGADA A
PRISÃO do paciente, devendo SER EXPEDIDO IMEDIATAMENTE O
RESPECTIVO ALVARÁ DE SOLTURA, nos termos do art. 648, II, do
Código de Processo Penal.

Termos em que, pede deferimento.

Brasília, 08 de janeiro de 2017.

Cândido Lima Júnior

OAB/PA 25.926-A

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