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ALUTA PELA DEMOCRACIA Nunca, como hoje, a questo da democracia ocupou lugar tao destacado nas lutas politicas e sociais da América Latina ena reflexfio que sobre elas se exerce. Isto se deve, sem diivida, A dura experiéncia do perio- do de autoritarismo e repressao, de que a regiao re- centemente emergiu. Mas se deve, também, a que a idéia da democracia, tal como se apresenta para nés, cados que iranian eee habitual. ~~ Esta, primeiro, a soberania. Na América Latina, falar'de democracia implica, como pressuposto ne- cessério, colocar o tema da sua capacidade para auto- determinar-se, ou seja, desenhar suas metas em li- ‘berdade, atendendo primariamente As exigéncias “dos seus povos. E, assim, evocar o tema da de- “pendéncia e levar, por isso mesmo, a entender a Tuta pela democracia como luta de libertagao nacional. ~~Vem, depois, a justiga social. Porque, na América Latina, 0 conceito de democracia esté expressando hoje, na consciéncia dos povos e ni discurso dos seus dirigentes, a atengdo as necessidades mais urgentes, a superagao das condigoes de superexploracao e mi- séria em que vivem os trabalhadores, a edificacao de uma sociedade que, ao basear-se no respeito A vonta- —<<$<—— $$$ ~=-s.=22222282228. sstabeleram para a ‘Aoexaminar o movimento as tendéncias dos pro- eess0s de democratizapao em curso na América Latina, vémo-nos forgados a eonsiderar esses dife- rentes elementos e a manejarmo-nos em um contex- to que, primeira vista, parece exceder amplamente América Latina como objeto de estudo, a captar toda a riqueza e singularidade d cionais, que s6 de forma parcial podem ser enquadra- dos num esquema global de interpretagao e, em casos extremes, escapam totalmente a ele, E po isso que jocrdtieas que se desenvolvem atu: da América Central cabem muito me- ‘as que se processam no Cone Sul e que a democratizagao do regime socialista cubano fia in- teiramente fora de cogitaeao. ‘Uma adverténeia final: ao empregar 0 termo de- mocratizagdo ou redemocratizagao, nao estamos fa- zendo qualquer julgamento de valor sobre o que ocor- re na regido e de modo algum pretendemos sugerir que esses processos estejam fadados a tornar reali- dade a idéia de democracia a que nos referimos. Alu- dimos simplesmente & mudanga de governos milita- tres por governos civis ou & aplicagiio de mecanismos destinados a criar ou restabelecer instituigdes esta- tais representativas. Oimperialismo e a reconversao ‘A redemocratizagio Iatino-americana insere-se na “{adas as diferengas, a situacdo apresenta pontos em. ‘comum coma que se configurouao terminaraSegun- da Guerra Mundial. Naquela ocasiao, como poténcia exemplo do que fizera a lo XIX — os Estados Unidos 16 _Amirica Latina comega a desenhar-se o futuro que o capitalismo in- ternacional reserva a regido: uma América Latina integrada ainda mais estreitamente A economia mundial, mediante a sua transformagéo em econo- mia exportadora de novo tipo, ou seja, uma economia que, a0 lado da explorago mais intensiva de seus re- cursos naturais, redimensione a sua indistria para torné-la competitiva no mereado externo e comple- mentar a produgdo industrial dos grandes centros. "ara todos os paises da regio, isto implica a des- truigdo de parte do seu capital social, sobretudo na industria, porque somente ramos com vantagens comparativas reais ou que absorvam alta tecnologia e grandes massas de investimento aparecem como vidveis, nessa nova divisdo do trabalho. Compreen- de-se, assim, que a destruigdo seja mais dréstica em pafses como o Chile ', o Uruguai e mesmo a Argenti- na, do que em outros, como 0 Brasil e 0 México (embo- ra este, por sua proximidade com os Estados Unidos, se veja ameagado por uma quase anexagio),A recon- versao impli :m_a redistribui¢do do capital social em favor dos grandes grupos industriais ef nanceiros, a qual se estende aquela FE que ¢G0.do déficit publico, um dos instrumentos mais efe- tivos para tais fins, nas circunstancias atuais. Para a3 MASSaS, 6 preco da reconversdo é 0 agravamento da superexploragao do trabalho e a g fo desemprégo, qualquer que seja a sua forma, como re- sultado da destruigaode parte do capital social earé- pida modernizagio tecnolégica. ihiyi ds "A imposigao de um projeto dessa natureza néio po- dia realizar-se facilmente através das ditaduras mi- ii Busy Mauro Marini 17 litares, que os Estados Unidos contribuiram paraim- plantar na América Latina, a partir da década de sessenta. Na medida em que pressupde a diminuigio | doBstado(pela redugdoda sua base ‘econdmica ea li- mitacdo de suas fungdes), esse projeto contraria os rial de existéncia é proprio aparelho estatal. Mas as dita- jonais que havia outras razdes. Uma vez const duras militares formularam projetos — se nfo ameagavam o esquema de seguranga inter nacional dos Estados Unidos — criavam constantes atritos, seja em virtude do seu acerbo nacio (que provocou mais de uma ameaga de conflito na regio e acabou gerando um acontecimento como a guerra das Malvinas), seja pela pretensiio dos gover- nos castrenses de conquistar certa autonomia no pl no internacional, como se viu no caso do Brasil grave ainda, as Forcas Armadas se mostrarat pazes de construir regimes politicos estvei afinal, era a missao prioritaria que lhes fora designa- da pelos Estados Unidos. ‘Tudo isso levou o imperialismo norte-americano a propiciar mudangas institucionais que pudessem ser | tas sem rise par or sistemas de dominagao vi- ‘gentes, ao mesmo tempo que criava novos elementos de pressto, para garantir seu projeto de reconversio | econdmica. Durante a década de oitenta, a imposigio | dosiinteresses dos Estados Unidos a América Latina | refluiu gradualmente dos instrumentos de agao | politico:militar —a Casa Branga, o Pentigono,o De- partamento de Estado— para exercer-se mais ativa- ‘mente através de canais como 0 Departamento de Tesouro e 0 de Comércio, o Banco Central, os grupos privados e, naturalmente, o FMI e o Banco Mundial.

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