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O CUMPRIMENTO DO POSTULADO DE RELATIVI- DADE NA MECANICA CLASSICA - UMA TRADUCAO COMENTADA DE UM TEXTO DE ERWIN SCHRODINGER SOBRE O PRINCIPIO DE MACH A.L. XAVIER Jr. ¢ A. K. T. ASSIS Resumo - Apresentamos uma traduedo comentada de um importante artigo de Erwin Schrodinger sobre o principio de Mach: Anmalen der Physik, Volume 77, piginas 325-336 (1925), Die Erfillbarkeit dder Relaivtatsforderung in der Klasischen Mechanik. “Abstract - We present a commented translation to Portuguese of an important article by Erwin ‘Schrédinger on Mach’s principle: Annalen der Physik, Volume 77, pp. 325-336 (1925), Die Erfull- barkeit der Relatvitaesforderang in der Klassischen Mechanik L Introdugio Esta a primeira tradugSo para o portugués de um trabalho fundamental do fisico austriaco Erwin ‘Schrodinger (1887-1961) sobre o principio de Mach. A tradugio a partir do original em alemBo foi feita por A. L. X. Ir. A introduglo e as notas slo de A. K. T. A. ‘Tsaac Newton (1642-1727) publicou o Principia em 1687. L& apresentou suas famosas leis do movimento ali da gravtagio universal e os conceitos de espago, tempo e movimentos absolutos, Estes conceitos de espago e tempo absolutos foram criticados por Leibniz (1646-1716), Berkeley (1685-1753) ‘especialmente por Emst Mach (1838°1916). De acordo com estes autores s6 tem sentido empirico falar de movimento de um corpo em relaglo a outro corpo, eno em relagio ao espago vazio. Mach publicou seu livro mais importante, A Ciéncia da Mecinica, em 1883. Este livro influenciou fortemente a Einstein na formulagio da teoria da relatividade geral, mas depois se viu que esta teoria nfo inuplementava plenamente as idétas de Mach. isto o que Schrodinger tent fazer neste artigo, seguindo tum caminho diferente do de Einstein. O que Schrodinger vai chamar aqui de postulado de relatividade (ou de principio de Mach ¢ a idéia de que as energias de interagZo inclusive a energia cinética, devem depender apenas das distincias entre as particulas ¢ das derivadas temporais destes distincies nr=d/dt, ee. ‘Hé duasmaneiras principais de implementar matematicamente o principio de Mach (ver A.K,T. Assis, Foundations of Physics Letters, v.2, 301-318 (1989),"On Mach’s principle”). A primeira édizer que ‘2 somatéria de todas as forges atuando em qualquer corpo é sempre nula, em todos os sistemas de, referéncia (mesmo quando 0 corpo esté em movimento ¢ acelerado),¢ derivar as Forgas inerciis (-m@ a forga centrifuga, de Coriolis, etc.) «partir de uma interagdo gravitacional do corpo teste com o universo distante (as galaxias, como dizemos hoje em dia, ou as estrelas fixas, como diziam Mach e Schrodinger) ‘A outra é dizer que a soma de todas as energias de interaglo de qualquer corpo é uma constante ¢ derivar ‘energia cinética como uma energia de interagdo gravitacional do corpo teste com o universo distante. E este segundo procedimento que vai ser utilizado por Schédinger neste artigo. 'Em particular ele vai usar como base de seu trabalho ume energia potencial de interagio gravitacional do tipo Revista da SBHC, n. 12, p. 3-18, 1994 W=-G Nesta expresso @=667.10"!'n!/ por tymem sto as massas gravitacionais dos corpos 1 ¢ 2 separados pela distancia /dte e=3-108mis. Ao integrar esse expressfo para um corpo teste interagindo com 0 universo distante Schrodinger obtém a energia cinética mv~ 2 Como s6 comesou com massas gravi- tacionais, a massa m que aparece nesta iltima expresso jd é a massa gravitacional do corpo teste. Com isto explica automaticamenteo principio de equivaléncia, a que na energia cinética da mecainica classica esta massa ¢ a massa inercial do corpo teste, que conceitualmente ndo tem nenfuuma relagdo com a massa ‘gravitacional, embora experimentalmente se verifique que as duas sio proporcionais ou iguais. A velocidade que aparece na expresso da energia cinética para Schrodinger é a velocidade do corpo teste ‘em relago ao referencial das estrelas fixas, ou seja, em relagdo ao referencial no quel as estrelas como ‘um todo esto paradas ou apenas com um movimento radial, sem translacEo ou rotago do conjunto como «um todo. Sabe-se que amecénica clissica funciona muito bem nestereferencial, ou seja, sem anecessidade da introdugdo das forgas de Coriolis ou centrifuga, mas no havia explicagdo para isto classicamente. ‘Com este modelo de Schrodinger a explicagdo surge naturalmente. Para mim o mais curioso em todo o trabalho é que Schrodinger afirma que chegou nesta expressto ‘modificada para a energia potencial “heuristicamente”. O significado da palavra heuristica ¢ o metodo ‘analitico para o descobrimento de verdades cientificas, ou seja, 0 método de resolver problemas por raciocinio indutivo, avaliando a experiéncia passada ¢ descobrindo a solue%o por tentativa ¢ erro. Isto é, Schrodinger chegou nesta energia potencial por conta propria. Sem que ele soubesse uma energia potencial anéloga jé havia sido proposta quase 80 anos antes no eletromegnetismo por Wilhelm Weber, em 1848, Sua energia potencial entre ascarges q, © q, , que éuma gencralizaglo da de Coulomb, é dada por wih 1g 4neyr x Nesta expressiio ¢, =84510"%C"/Nn? _ & a permissividade do vacuo. Weber conseguiu derivar as leis de Gauss, Faraday ¢ Ampére a partir de sua lei. Para uma discussdo detalhada do trabalho de Weber ver: A.K.T. Assis, Revista da Sociedade Brasileira de Histéria da Ciéncia,. 5, p. 53-59, 1991,"Wilhelm Edouard Weber (1804-1891), Sua vida e sua obra:” A. K. T. Assis, Revista da Sociedade Brasileira de Histéria da Ciéncia,v. 7, p. 53-76, 1992, “Teorias de ago a distancia - Uma tradugo comentada de um texto de James Clerk Maxwell” ‘Weber nto trabalhou apenas com eletromagnetismo, mas propés a mesma lei para a gravitagto, cesta {dgia também havia sido proposta por Holzmuller, Tisserand e alguns outros na década de 1870. Paul Gerber chegou a uma lei anéloga para a gravitagfo em 1898, e seu trebelho ¢ citedo por Mach. Embora ‘nenhum destes autores aplicasse a lei de Weber para a gravitacdo para implementaro principio de Mach, isto foi feito em um trabalho similar ao de Schrodinger por Reisner em 1814 ¢ 1815, novamente sem citar a lei de Weber H. Reissner, Physikalishe Zeitschrifi v.15, p. 371-375, 1914, “Uber die Relativitat der Beschleunigungen in der Mechanik;” idem, v.16, p. 179-185, 1915, “Ober eine Moglichkeit die Gravitation als unmittelbare Folge der Relativitat der Tragheitabzuleiten.” E estranho que Schrodinger, sendo de lingua alem8 como Weber, nfo soubesse ou nao citasse um trabalho que teve uma repercussio tio grande como o de Weber e nem citasse nenhum destes outros autores. 3. 12, p. 3-18, 1994 Revista da SBHC, Este € 0 altimo artigo de Schrodinger antes de ele desenvolver e publicar seus trabalhos fundamentais de mecénica quiintica (equagto de Schrodinger, resolugto do atomo de hidrogénio, ete). Talvez seja este ‘o motivo pelo qual ndo deu muita continuidade ao artigo que esté sendo traduzido aqui, 2Tradugio ‘Elem conhecida a objegtolevantada por E, Mach ‘contra a mecdnica de patjculs sujetas a potencais cenirais,cujos fundamentos foram melhor apresentados por L-Boltzmann *. Tal objegdo diz que a ‘meeinica do ponto de vista de seus fundamentos,ndosatisfaz ao relevante postulado de relatividade. AS Teis da meofnica nfo valem para qusisquer sistemas de coordenadas em movimento, mes apenas para um ‘grupo de sistemas que se movem eciprocamente em movimento translacional uniforme. Empiricament, nosta-se que tas sistemas tém eixos aproximadamente em repouso ou em movimento translacional Informe em relagdo as estrelas fixas, mas os fundamentos da mecénica clissica nfo do nenhuma cexplicaglo para isto, (Nota 1) "A teoria da relatividade’geral também nto satisfaz, em sua forma original ®, a0 postulado de Mach, ‘como logo se viu (Nota 2). Apés a derivagto do movimento secular do peridlio de mercirio, que se tmostrou em espantosa concordincia com a experigncia, quslquer pessoa ingénua pode se perguntar: Em reloglo a que se d, de acordo com ateoria, o movimento da elipse,o qual, de acordo com a experiéncia, ‘© diem relaglo ao sistema aproximado das estrelasfixas? "Tem-se como resposta que # teori exige tal movimento em relagdo a um sistema de coordenadas que satisfazno infnito, a determinadas condigdes de fonteira. O vinculo entre estas condigdes e a presenga das estrelas fixas nto ¢, de nenhuma maneira, claro, j que as estrelas nfo sto levadas em conta nos céleulos. ‘0 tratamento destas dificuldades ¢ feito pela teoriacosmologica que postula um universo espacial- mente fechado, evitendo, assim talvez, condigBes de fronteira. Pelasdificuldades conceitusis que esta {eoria cosmologica ainda possui * endo pelas complicagies mateméticas desta teoria, a solugtio de quesiBes verdadeiramente fundamentais, que parecem evidentes a formaglo em cigncia natural, nos parece conduzir a uma situagdo tal que nfo seja simples se obter uma visfo clara ¢ concisa da realidad, No duvido que, quando essa resposta for encontradasatisfazendo a teori, ela nto sb saisfaré plena mente, mas poderd ser colocads em uma forma que possibile uma visdo completa da ealidade em outros sentidos. Do ponto de vista atual, no € sem sentido se perguntar se o principio de Mach no possa ser tomado vélido por uma modificagto na teoria clissica e se a pregonderancia do sistema inercial das estrela fixas nfo possa ser compreendida de uma maneia simples "A expressdo para a energia potencial na mecénica de.particulas, em especial o potencial de Newton, satisfaz, sem oulras conseqhénces,o principio de Mach, ja que ele 6 depende das disténcias dos corpos tendo de sun posigdo absolota no espago. Pode-se, portanto, manter essa expressfo, ja que ela &aplicavel 4do ponto de vista do postulado. Telvez cla seja uma primeira aproximagdo para uma lei da natureza algo nals complicada, Por outro lado, tem-se também a energia cintica. Ela é, de acordo com @ mecinica ‘lista, determinada pelo movimento absolulo no espago, enquanto que, pera paticulas pontuais, somente movimentos, dstinciase variagBes de dstincias relatives podem scr observadas. ‘Pode-se perguntar se talvez nfo fosse possivel que a energia cinética, assim como a potencial dependesse néo apenas de uma particula, mas da energia de interagdo das duas massas,e, assim sendo, Gadistincia e velocidade relativa das duas particulas. De todas as possveis expressOes para essaenergia, ‘escolhemos heuristicamente a que salsfaz ds seguints exigtncias 1. MACH, E. Die Mechanik in ihrer Enowicklung. Leipzig, FA. Brockhalus, 3. ed. 1897. Ver especialmente a segto 16. 2 BOLTZMANN, L, Vorlesungen aber die Prinsipe der Mechanik. Leipzig J. A. Bart, 1897. EINSTEIN, A. Ann. D. Phys. n.49, p. 769, 1916 WEYL, H. Raum, Zeit, Materi. 5, ed. §39.- Berlin J. Springer. 1923. Ver também 0 artigo “Massentrigheit ind Kosmos” do mesmo autor no 12° ano, (1924) em *Namurissenschaften. 5 Aresposiaaessa questiojé fo apresentada por Mach na sua lei de inéeia. Essa presenta teve no obstante, ‘ouco impacto, jé que Mach tomou uma interas8o de inérciaindependente da distinc (ver artigo jécitado, 1.228 seguintes). Revista da SBHC, n. 12, p. 3-18, 1994

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