CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E METABÓLICAS DA GESTANTE
Patrícia Paludo Rodrigues
As diversas modificações anatômicas, bioquímicas e fisiológicas no
corpo da gestante ocorrem para ofertar à criança que vai nascer, condições e alimentos necessários para seu desenvolvimento. Todos os sistemas do organismo feminino se adaptam à nova situação, bem como sua personalidade está intimamente envolvida nesse processo (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). As gestantes estão participando de uma transformação de comportamento em relação ao condicionamento físico e procuram manter os mesmos níveis de atividade quando do período anterior à gestação. Se previamente sedentárias, podem querer começar a participar de exercícios vigorosos durante toda a gestação e têm necessidade de informações relevantes a fim de direcionar seus programas de exercícios. As necessidades especiais na gestação podem variar e, em um extremo ser recomendado repouso no leito para algumas pacientes com gestação de risco, como aquelas que têm doença infecciosa aguda, hemorragia severa ou probabilidade de sofrer um aborto. No outro extremo, temos exemplos de gestantes correndo a maratona um dia antes do parto (WISWELL, 1999). Para WISWELL (1999), exercício físico durante a gravidez é provavelmente benéfico para a maioria das mulheres, porém, de certa forma, pode realmente ser prejudicial para gestante e feto, quando mal orientado e executado. Portanto, a recomendação do exercício - como tal - deve ser individualizada. KATZ (1999) defende a importância do condicionamento melhorado, pois é uma vantagem durante a gestação (porque ajuda a reduzir o cansaço que a maioria das gestantes sente). Além disso, segundo a autora, é importante fortalecer e tonificar os músculos que serão usados durante o trabalho de parto. Assim com a gravidez em boas condições, a gestante estará melhor preparada para as exigências físicas do nascimento. É necessário enfatizar que as mesmas generalizações sobre a resposta individual ao exercício também podem ser feitas sobre as atividades laboriais da gestante. O trabalho, neste contexto, pode exigir tanta energia quanto a gasta durante exercício moderado e ser considerado prejudicial ou benéfico, dependendo do indivíduo ou da situação (WISWELL, 1999). Hatch e Stein apud MATSUDO e MATSUDO (1994) constataram que o levantamento freqüente de cargas pesadas incrementa em 20-30% o risco de parto prematuro. Considerando o índice de fadiga a partir de valores de estresse postural, esforço físico, estresse mental e outros, foi verificado também o incremento nas taxas de nascimento prematuro na medida em que aumentava o índice ocupacional e o número de horas trabalhadas por semana. Em relação ao sistema neurológico, parece evidente que a gestante apresenta alterações significativas nos sentidos de percepção. O tempo de reação e força de membros superiores, especialmente quando são necessários movimentos rápidos, de deslocamento e equilíbrio, podem ser afetados durante a gestação. Isso tem implicações em segurança, tanto para as atividades laboriais quanto para o exercício (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). O metabolismo energético é amplamente modificado na gestação. O custo energético adicional da gravidez é estimado em aproximadamente 300 kcal/dia (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). Esse gasto é preciso para cobrir o crescimento e o desenvolvimento do feto, síntese de tecido materno como útero, mamas, gordura; para compensar o metabolismo aumentado decorrente de incremento da atividade dos sistemas cardiovascular, respiratório e urinário e adição do metabolismo fetal. Existem duas formas de atender a esse maior custo energético: por ingestão dietética aumentada ou redução do gasto de energia durante o dia. As duas maneiras são utilizadas durante a gestação, em parte pelo aumento de apetite, em parte porque a gestante reduz seu nível de atividade física. Devido não apenas às demandas impostas pelo feto em crescimento e a instabilidade mecânica e afrouxamento das articulações, mas também pela sensação de lassitude e sonolência provocada pelo aumento dos hormônios, principalmente a progesterona (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). No entanto, se a ingestão dietética for inadequada para atender às necessidades calóricas e de nutrientes da gestante, haverá maior catabolismo protéico, ou seja, a proteína será utilizada como forma de obtenção de energia. Para KATZ (1999), uma dieta apropriada durante a gestação é muito importante, tanto para proteger a saúde como para assegurar um desenvolvimento pré-natal apropriado. Como a gestação é essencialmente um estado anabólico - com equilíbrio nitrogenado positivo todo o tempo - o aumento na quebra de proteínas para combater o suprimento energético inadequado reduzirá a disponibilidade de aminoácidos para a síntese materna e crescimento fetal, com resultados adversos. Efeitos semelhantes sobre o feto mais provavelmente ocorrerão com uma dieta restrita em proteínas apesar de uma ingestão calórica adequada. O ganho de peso na gestação, segundo ROMEM, MASAKI e ARTAL (1999), é o indicador mais prático de ingestão calórica. Para os autores, o ganho de peso materno médio é de 15,3 Kg até o final da gestação. Entretanto, Thompson e Billewicz apud ROMEM, MASAKI e ARTAL (1999), fizeram uma estimativa que serviu como referência para a compilação das Necessidades Dietéticas Diárias Recomendadas (RDAs) para a gestante. Os autores estimam que, uma primigesta saudável, comendo sem restrição, ganhará em média 12,5 Kg. Já para KATZ (1999), uma gestante ganha de 10 a 15 Kg em uma gravidez normal. A avaliação da composição corporal durante o período gestacional é considerada uma valiosa informação à assistência clínica e avaliação da paciente durante a gestação. A mulher, comparada com o sexo oposto, já possui uma tendência natural em acumular gordura sobre os quadris, as coxas e o abdome (o avental da gordura ventral), assim como os seios. Em geral, a mulher comum possui cerca de 3,5 Kg a mais de tecido adiposo subcutâneo que o homem (KLAFS e LYON, 1981). Sabe-se dos riscos da obesidade para a saúde, tais como diminuição da aptidão física, desenvolvimento de aterosclerose e hiperlipidemia. Para gestantes obesas ainda há o risco do diabetes gestacional. O ganho de peso de 12,5 Kg significa um aumento em cerca de 20% do peso corporal (para uma mulher de 60 Kg). A maior parte desse ganho de peso ocorre durante as últimas vinte semanas da gestação. Aproximadamente 40% do ganho total são representados pelo feto, placenta e líquido amniótico. Os 60% restantes são alterações de peso corporal da mãe (GIRANDOLA et al, 1999). A principal alteração na função do trato gastrintestinal na gestação é a redução na sua atividade. À medida que a gestação progride, o útero em crescimento desloca o estômago e os intestinos. Todas as alterações do sistema gastrintestinal decorrentes da gestação favorecem o refluxo gastroesofágico e resultam em indigestão e regurgitação freqüentes. Existe uma redução no tônus e na motilidade do trato gastrintestinal que resulta em prolongamento do tempo de esvaziamento gástrico e retardo do trânsito intestinal (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). O sistema endócrino também se relaciona com o exercício físico na gestação. Dentro das alterações hormonais que acontecem com o exercício na gestante, sem dúvida alguma a de maior preocupação é o comportamento dos níveis de glicose (MATSUDO e MATSUDO, 1994). As mudanças nos níveis de glicose são muito sensíveis ao tipo, intensidade e duração do exercício, assim como a condição física do indivíduo. Os níveis de glicose são mantidos a níveis mais estáveis durante o exercício leve e moderado na gestação. Porém, o exercício extenuante e prolongado pode induzir a hipoglicemia (baixo nível de glicose no sangue) mais rapidamente na gestação (Gorski apud MATSUDO e MATSUDO, 1994). Essa resposta hipoglicêmica observada principalmente no terceiro trimestre pode ter potencialmente efeitos adversos sobre o feto (Clapp et al apud MATSUDO e MATSUDO, 1994). No entanto, de acordo com Artal apud MATSUDO e MATSUDO (1994), o exercício pode se mostrar benéfico nas gestantes diabéticas tipo II (não insulínico-dependentes), já que níveis leves de exercício são de suficiente intensidade para induzir um efeito de treinamento físico, sensibilizar os receptores de insulina e aumentar a utilização de glicose nessas gestantes. Com relação ao sistema respiratório, as alterações são extensas, incluindo alterações anatômicas e funcionais. As referidas mudanças ocorrem muito precocemente em virtude da influência hormonal, principalmente da progesterona. A capacidade pulmonar total mostra relativamente pouca alteração, apesar do espaço ocupado pelo útero. Na verdade, a elevação do diafragma em aproximadamente 4 cm provocada por alargamento das costelas inferiores é compensada pelo diâmetro transversal crescente do tórax. Portanto, a cavidade torácica não é reduzida (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). Para COSSENZA e CARVALHO (1999), a circunferência total do tórax na gestação aumenta de 5 a 7 cm e nem sempre retorna ao tamanho anterior. A respiração entre as mulheres, em comparação aos homens, apresenta- se essencialmente torácica ou costal; ao contrário, os homens apresentam uma respiração predominantemente abdominal ou diafragmática, que é considerada mais eficiente (KLAFS e LYON, 1981). Também ocorrem alterações funcionais respiratórias significativas na gestação. O aumento da capacidade inspiratória é de 300 ml, ou seja, a inspiração pode ser aumentada em 300 ml (ARTAL, GREENSPOON, WISWELL e ROMEM, 1999). O aumento de ventilação é atingido pela respiração mais profunda e não mais freqüente (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). Relacionado à ventilação aumentada, há um aumento gradual de até 40% no volume corrente (VC), de 500 ml no estado não-gravídico para 700 ml no final da gestação. Porém, o volume expiratório de reserva (VER) e o volume residual (VR) diminuem. O VER diminui 200 ml aproximadamente e o VR diminui 300 ml aproximadamente. Isto significa que ao expirar, a gestante terá uma menor reserva de oxigênio no pulmão. Conseqüentemente, reduz-se a capacidade para suportar períodos de apnéia, um fator que deve ser sempre levado em conta ao considerar a participação em esportes como mergulho ou corridas curtas (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). A gestação se caracteriza por um aumento de 10 a 20 % no consumo de oxigênio. A combinação da capacidade residual reduzida e aumento no consumo de oxigênio resulta em uma reserva de oxigênio mais baixa (ARTAL, GREENSPOON, WISWELL e ROMEM, 1999). Segundo ROMEM, MASAKI e ARTAL (1999), a elevação de aproximadamente 20% no consumo de oxigênio é facilitada pelo aumento de 40 a 50% na ventilação. Esse aumento na ventilação pode ser a causa da sensação subjetiva comum de dispnéia (restrição mecânica ou resistência de vias aéreas) na gestação, apesar da elevação do suprimento de oxigênio. O esforço adicional que é provocado pelo exercício é facilmente compensado dentro do sistema respiratório com a capacidade de aumentar em dez vezes. Ou seja, o sistema respiratório aumenta a ventilação para suprir as necessidades de oxigênio do exercício (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). As gestantes respondem ao exercício com aumento da ventilação durante o exercício leve (WISWELL, 1999). Conseqüentemente, a adaptação do sistema cardiovascular ocorre porque ele precisa fornecer maiores quantidades de oxigênio e combustível para todos os órgãos com atividade aumentada. O desempenho cardiovascular aumenta mais do que o fisiologicamente necessário, o que se reflete pela elevação do consumo de oxigênio. Com relação aos parâmetros hemodinâmicos, o volume sangüíneo aumentado é representado por 50% de elevação no volume plasmático e 20% do volume de eritrócitos (hemáceas) (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). Isso significa que ocorre redução do valor do hematócrito (quantidade relativa de plasma e glóbulos) de 40% no estado não-gravídico para aproximadamente 35%. O aumento do plasma é maior que o das células vermelhas do sangue, levando a uma “anemia fisiológica” da gravidez (anemia falsa que representa aumento maior do volume plasmático). Porém, a redução relativa na massa de hemáceas não interfere na distribuição de oxigênio nos vários órgãos. O exercício físico, por sua vez, produz alterações na composição do sangue, particularmente nas hemáceas (KLAFS e LYON, 1981). Mesmo depois de um esforço breve (e intenso), observa-se um aumento no número de hemáceas. Este aumento dependerá de fatores como carga de trabalho e duração do exercício. Há também um aumento de 40%, aproximadamente, do débito cardíaco (DC) nas gestantes (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). O DC é definido, segundo KLAFS e LYON (1981), como o volume de sangue ejetado pelo coração numa determinada unidade de tempo, expressado geralmente em litros por minuto. Parece que o DC é mais eficiente no homem, quando comparado à mulher, o que pode ser explicado pelo maior conteúdo de hemoglobina em seu sangue e o maior tamanho do seu coração. Entretanto, com as alterações decorrentes da gestação, observa-se o aumento do DC em gestantes. O principal aumento no débito cardíaco ocorre no início da gravidez, no final do primeiro trimestre, período durante o qual o consumo de oxigênio apenas começa a aumentar (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). O DC pode ser aumentado em no máximo três vezes. No entanto, a função pulmonar pode ser aumentada em dez vezes, o que representa um fator limitante na capacidade de trabalho cardíaco. Percebe-se que a contribuição do volume de ejeção para o aumento do DC ocorre mais entre 15 a 25 semanas de gestação (até 30%), diminuindo depois até o fim do período gestativo (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). O DC aumentado também é atingido à custa do crescimento do coração. Para COSSENZA e CARVALHO (1999), embora o DC aumente, a pressão sangüínea diminui, devido à distensibilidade venosa. O volume diastólico final médio do coração aumenta entre 70 e 80 ml durante a gestação em virtude da elevação do enchimento diastólico e pela hipertrofia muscular. Com o DC aumentado e a pressão arterial média (PAM) diminuída, o resultado é uma pressão de pulso aumentada, ou seja, pulso latejante. Uma conseqüência inevitável, decorrente do DC crescente com a redução da PAM, é a resistência periférica da circulação da gestante ser reduzida. Observa-se então que aspectos como pulso latejante, aumento do débito cardíaco e do consumo de oxigênio e redução da resistência periférica são os de um estado hipercinético, semelhante ao hipertireoidismo (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). O aumento do DC é mais significativo quando se deita em decúbito lateral esquerdo. Nessa posição, o útero coloca menor pressão sobre a aorta (COSSENZA e CARVALHO, 1999), o que sugere a posição adequada para a gestante dormir. A frequência cardíaca (FC), outro componente do débito cardíaco, contribui mais no início da gravidez. A FC de repouso começa a aumentar a partir de oito semanas de gestação, atingindo um platô em torno de 32 semanas, aproximadamente 20 bpm acima do estado não-gravídico (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). A excitabilidade aumentada do coração leva a extra-sístoles atriais e ventriculares mais freqüentes. Essas pessoas necessitam ser acompanhadas com cuidado durante o exercício (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). Klaus e Noack apud KLAFS e LYON (1981) encaram a gestação como um período de treinamento para o organismo materno, pois os aumentos no volume sangüíneo e no metabolismo acarretam intensas demandas sobre os sistemas fisiológicos. Portanto, para os estudiosos, a gestação pode ser encarada como um período de condicionamento intensivo ou de treinamento, em que o corpo é capaz de preencher corretamente essas demandas. Um fator importante que precisa ser levado em conta ao orientar exercício físico para a gestante é a alteração no débito cardíaco e na pressão arterial que ocorrem com alterações na postura. Devido à mobilidade uterina, a mudança na postura altera seu eixo. Na posição ereta, a o útero cai para a frente, enquanto ao deitar cai para trás e repousa sobre a coluna vertebral, freqüentemente comprimindo a veia cava e a aorta abdominal. O resultado é a redução do débito cardíaco e a hipotensão na posição deitada (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). No período gestacional, o volume sangüíneo aumenta, exigindo que as artérias e veias suportem maior volume de sangue. Além disso, as válvulas nas veias das pernas têm que suportar maior pressão, devido ao peso adicional no abdômen. Sob essa tensão, as válvulas podem se tornar menos eficientes no retorno do sangue para o coração e pulmões; então, as veias ficam dilatadas, visíveis e, às vezes, bem incômodas (KATZ, 1999). No sistema urinário, os rins crescem cerca de 1 cm de comprimento. Os ureteres penetram na bexiga em um ângulo perpendicular. Isso pode resultar em refluxo de urina para fora da bexiga de volta para o ureter. Assim, existe uma maior probabilidade de desenvolvimento de infecções urinárias devido à estagnação urinária. No terceiro trimestre do período gestativo, a freqüência da micção aumenta (COSSENZA e CARVALHO, 1999).
CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DA GESTANTE
O útero em constante crescimento é a principal causa das alterações que
ocorrem na estática e na dinâmica do esqueleto da gestante. Aspectos bem familiares da gestação são o abdômen protuso, a marcha gingada e a hiperlordose lombar. Após 12 semanas de gestação o útero se torna um órgão abdominal, deslocando os intestinos e entrando em contato direto com a parede abdominal. As dimensões do útero aumentam cento e cinqüenta vezes durante o período. Sua capacidade aumenta mais de mil vezes e o peso, em até vinte vezes (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). Devido às alterações do útero, tanto em tamanho como em forma, é necessário que outros músculos o mantenham na posição apropriada. Os músculos abdominais reto e transversos do abdômen mantêm o útero suspenso com segurança no centro da pelve. Próximos ao útero se encontram os músculos abdominais e os do assoalho pélvico, que também oferecem suporte e participam no trabalho de parto e nascimento. O assoalho pélvico é uma lâmina muscular composta de múltiplas camadas que se estendem entre a púbis e o cóccix, formando o suporte inferior da cavidade abdomino-pélvica. Esta lâmina muscular é perfurada pela uretra, vagina e reto; seu principal músculo é o pubococcígeo. O assoalho pélvico dá suporte aos órgãos pélvicos e seus conteúdos, suportando o aumento da pressão intra- abdominal na gestação, e provendo controle esfincteriano às aberturas do períneo (região situada entre a porção mais inferior dos grandes lábios e ânus). A disfunção do assoalho pélvico causa frouxidão dos músculos e tecidos moles. Os órgãos pélvicos caem de seu alinhamento normal devido ao aumento da pressão sobre a musculatura desse assoalho e pode ocorrer prolapso, ou seja, queda ou deslocamento de um órgão de seu local normal, em extensão variável - por insuficiência de seus meios de sustentação (COSSENZA e CARVALHO, 1999). Os músculos do assoalho pélvico precisam suportar o peso do útero; então o assoalho pélvico desce até 2,5 cm devido ao aumento da pressão intra- abdominal e ao peso aumentado do útero. Durante o processo de nascimento, o assoalho pode ser distendido, rompido, ou ambos. O bom tônus muscular melhora o apoio e o suporte do peso e também ajuda a manter as funções dos intestinos e de outros órgãos, já que eles ficam dispostos de forma diferente por causa do crescimento do útero (KATZ, 1999). Portanto, devem ser prescritos à gestante exercícios que aumentem o tônus da musculatura do assoalho pélvico, para manter o alinhamento normal e evitar o prolapso (saída anormal dos órgãos de seu lugar). Por outro lado, deve ser dada ênfase aos exercícios de relaxamento da região pélvica, necessários no momento do parto para facilitar a passagem do bebê (COSSENZA e CARVALHO, 1999). Os músculos abdominais - principalmente o reto do abdômen - chegam a se separar até quinze centímetros ao final da gestação, segundo Período pós-parto (2002). Para COSSENZA e CARVALHO (1999), uma separação maior que 2 cm do músculo reto abdominal, da linha média na linha alba é considerada uma patologia denominada diástase do reto. A diástase do reto possivelmente ocorre na gestação como resultado de efeitos hormonais sobre o tecido conectivo e das alterações biomecânicas da gravidez, muito comuns no terceiro trimestre. Esta patologia parece menos comum em mulheres com bom tônus muscular abdominal antes da gestação. Os exercícios abdominais são importantes não só na fase de expulsão no momento do parto; mas também para evitar a diástase e uma possível herniação das vísceras abdominais. O centro de gravidade é considerado como sendo o ponto do corpo no qual o peso total do organismo fica centralizado. Para HALL (2000), o centro de gravidade ou massa de um corpo é o ponto ao redor do qual o peso e a massa de um corpo estão equilibrados igualmente em todas as direções. Nas análises dos movimentos, o deslocamento do centro de gravidade funciona como índice do movimento corporal. É um conceito extremamente importante, pois o centro de gravidade determina o equilíbrio corporal. As pernas mais curtas e a pelve mais ampla da mulher (em comparação com o homem), estabelecem um centro de gravidade mais baixo e conseqüentemente lhe proporcionam um melhor equilíbrio que o homem (KLAFS e LYON, 1981). Porém, nas gestantes, observa- se o centro de gravidade alto, instável e em ascensão (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). A orientação anterior do útero no período gravídico desloca o centro de gravidade da mulher, resultando em lordose lombar progressiva e rotação da pélvis sobre o fêmur. Isso desloca o centro de gravidade de volta sobre a pélvis, evitando queda para frente (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). As mamas em crescimento (em torno de 500g ao fim da gestação), também contribuem para alterar o centro de gravidade. De acordo com KATZ (1999), exercícios corretos fortalecerão os músculos do peito, ajudando no apoio dos seios. A estabilidade da gestante é obtida a partir de uma sobrecarga aumentada sobre os músculos e ligamentos da coluna vertebral. Por isso, a dor lombar tão característica. Para manter a linha de visão e compensar a lordose lombar, a gestante aumenta a flexão anterior da coluna cervical, além de andar curvada com abdução de ombros. O exagero desta posição pode levar a um aumento de parestesias (sensações anormais e alucinações sensoriais) sobre a distribuição do nervo ulnar, com aumento da fraqueza motora (a síndrome da mão na gravidez) (ROMEM, MASAKI e ARTAL, 1999). Conforme ilustra KATZ (1999), músculos dorsais e abdominais fortes podem reduzir tensões nas costas, quadris e pernas. A cintura pélvica se altera profundamente, além de seu conteúdo. Os ossos que fazem parte da pélvis são mantidos juntos pela fibrocartilagem com pequenas cavidades articulares sinoviais e reforçada pelos ligamentos pélvicos: o púbico e o sacroisquiático. O enfraquecimento da cartilagem e o aumento do fluido da sinóvia e do espaço sinovial ampliam as articulações pélvicas. O que se observa é uma mobilidade articular aumentada e uma pélvis instável refletida em marcha gingada. Conforme ilustram KLAFS e LYON (1981), durante a gestação os ligamentos se afrouxam e relaxam, em conseqüência da ação de certos hormônios, permitindo um certo grau de movimento ao nível da sínfise pubiana e, conseqüentemente, uma certa expansão da pelve. Este fenômeno também é observado, porém em menor grau, nas mulheres não gestantes durante o período menstrual. De acordo com ROMEM, MASAKI e ARTAL (1999), essas alterações também acontecem em outras articulações e músculos, devido aos hormônios estrógenos e a relaxina. Porém, a partir do terceiro trimestre da gestação, a gestante apresenta mobilidade reduzida de articulações de tornozelos e punhos, devido à retenção de água. Isso torna visível o edema no tornozelo da maioria das gestantes e parestesias nas mãos, fraqueza muscular e síndrome do túnel do carpo. O espaço no túnel do carpo é limitado; e com um edema significativo da partes moles ocorrido na gestação, o nervo mediano (muito importante porque supre a mão e enerva os músculos do polegar que permitem a oposição do polegar com os dedos) pode ser comprimido. Há queixas de dormência e formigamento do polegar, do indicador e dos dedos médios; falta de destreza ao utilizar a mão secundariamente à perda da função do polegar; e dores à noite (KARZEL e FRIEDMAN, 1999). Para ROMEM, MASAKI e ARTAL (1999), alguns esportes como esquiar, andar a cavalo, ginástica e tênis podem provocar mais lesões em gestantes, pois exigem agilidade, equilíbrio e força, principalmente das mãos.