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BRINCADEIRAS DE RODA
Nosso encontro de hoje foi muito especial, pois foi como voltar ao meu primeiro
ano escolar, brincando de roda com as outras crianças aos 4 anos. Aprendemos hoje o
conceito de Ludicidade de Luckesi que se diferencia do predominante, que é mais
voltado para o externo (elementos sócio-culturais). Luckesi defende a Ludicidade como
a vivência da inteireza do ser, sendo mais importante os aspectos internos do indivíduo
que vivencia a experiência.
Brincar de roda é um exercício bem complexo que nos permite vivenciar essa
plenitude, já que precisamos ter nosso corpo, mente e sentimentos voltados juntamente
para aquele momento: cantando a cantiga, obedecendo os comandos, nos divertindo e
observando nós mesmos e os outros. Música, movimento, risadas, contato físico, tudo
junto numa mesma experiência.
Bernadete falou sobre as cantigas de roda, sobre a resistência que elas
expressam. Lembro que minha cantiga preferida falava sobre jogar as crianças na lata de
lixo. Nós íamos entrando uma a um dentro da roda e quando as crianças de fora não
podiam mais fechar a roda, a lata se furava e essa era a hora mais esperada porque esse
era o momento em que estávamos livres. Naquela época, eu não entendia a música, mas
acredito que ela expressa que a união do povo é maior que a marginalização e a
opressão. A união pode gerar liberdade e transformação.
A aula de hoje foi muito significativa para mim, brincar de roda me fez perceber
a beleza da plenitude. Que a vida seja mais plena como uma brincadeira de roda!
Hoje o dia amanheceu mais lindo, pois é o meu aniversário! Eu mal podia
esperar pela aula de hoje, que felicidade saber que eu passaria parte do meu dia numa
aula tão especial. Começamos pintando mandalas para presentear um amigo. Enquanto
pintávamos, ouvíamos música. Procurei pintar minha mandala de borboletas com cores
de minha preferência como tons de roxo, rosa e azul para que a pessoa que a recebesse
pudesse levar um pouco de mim consigo. Como eu cheguei um pouco depois do início
da atividade e os pares já haviam sido sorteados, combinei de presentear Amanda com
minha mandala e ela disse que me daria a dela. Na mensagem da mandala eu desejei
que Amanda aproveitasse a vida, pois ela é um presente. Enquanto eu pintava a
mandala, a professora Bernadete veio me parabenizar pelo meu aniversário. Foi muito
bom receber um abraço dela, me senti querida. No momento da troca das mandalas, eu
fiquei encantada com as mensagens que todos desejaram para todos, e quando chegou
minha vez e da Amanda, todos cantaram “Parabéns” para mim. Eu não esperava por
nada e naquele momento vivi um sentimento de pertencimento, de aceitação. Nós nos
encontramos na existência do outro, como o texto que lemos de Rubem Alves. A
amizade tem uma inutilidade útil para nos tornar humanos. A verdadeira amizade é
lúdica, tem um fim em si mesma.
No segundo momento, mergulhamos no texto de Huizinga. Discutimos sobre a
natureza e o significado do jogo. Aprendemos que o trabalho e a arte surgiram ao
mesmo tempo na história da humanidade. Ao adquirir a postura ereta, o homem tem as
mãos livres e ele começa a transformar seus pensamentos em representações,
instrumentos, signos e depois a linguagem. Huizinga afirma que o jogo é anterior à
cultura (mais antigo) e que ele tem três funções biológicas: a descarga de energia vital, a
satisfação do instinto de imitação e a preparação para a vida adulta. O jogo é uma
atividade voluntária, desinteressado (não utilitário), é a imaginação da realidade, mas a
criança que brinca sabe que está representando.
Começamos a compreender a diferença entre brinquedo, brincadeira e jogo, de
acordo com Tizuko. O brinquedo é o material para fazer fluir o imaginário infantil; a
brincadeira é a ação que a criança desempenha; e o jogo é a brincadeira com regras
explícitas. Podemos dividir os jogos em tradicionais, transmitidos oralmente e sem
autoria; de construção, em que ocorre a reelaboração do material; de faz-de-conta,
composto pelas dramatizações; e educativos, com finalidades pedagógicas e muito
utilizado nas escolas.
Iniciamos hoje a formação das equipes, eu faço parte da equipe Equilibrium
junto com Camilla, Taísa e Jésica. Nos inspiramos nos 4 elementos: ar, terra, água e
fogo e nos organizamos para a confecção do estandarte da nossa equipe.
Antes do fim da aula, nos organizamos em roda para jogarmos jogos de
imitação. Jogamos o jogo do Mestre, que eu nunca havia jogado, depois o “Tipitar” e
outro jogo que o Palavra Cantada trouxe de volta em um de seus cds. Todos esses jogos
são tradicionais, mesmo não sendo tão conhecidos para muitos de nós foi mutio
divertido participar desse momento.
Hoje foi o primeiro dia dos desafios das equipes. Minha equipe ficou com a
acolhida e eu confesso que estava nervosa, sem saber se conseguiríamos cumprir a
tarefa, porque eu não sabia ao certo como fazer a acolhida e minha equipe parecia não
ter compreendido também. Eu dei a ideia de confeccionarmos um catavento e a Camilla
tinha achado uma poesia sobre esse brinquedo. As meninas estavam um pouco atrasadas
e eu comecei a ficar nervosa, mas quando todos tinham concluído o catavento foi uma
diversão. Nos reunimos em círculo e ouvimos a poesia, então eu respirei mais tranquila.
O ambiente ficou por conta da equipe Amarelinha e a sala estava arrumada em
círculo e com um cheirinho, que para mim, era de limão. Depois da acolhida,
começamos a construir os estandartes. Posso dizer que na minha equipe todas
trabalhamos muito, a ideia era um escudo medieval, mas tivemos que entrar em
consenso para utilizar as ideias de todas sem que o estandarte perdesse o significado.
Então o resultado final foi um estandarte medieval, com os quatro símbolos, além de
gliter e babados, agradou a todas nós e ficamos muito orgulhosas com o trabalho. A
experiência de construção nos possibilitou também trocar ideias com as outras equipes,
trocar e compartilhar materiais, e se nos fosse permitido teríamos continuado com
aquela atividade por muito mais tempo
As equipes apresentaram seus estandartes com muita alegria. Os mágicos da
Pedagogia se apresentaram fazendo algumas mágicas, truques e surpresas! Depois a
Ciranda das Cores falou da escolha do seu nome, por causa da brincadeira de roda
“Ciranda”. A equipe Tamo Junto se formou com aqueles que não tinham equipe e eles
fizeram um estandarte lindo. A equipe Como é Bom fez um estandarte que parecia um
estandarte de Carnaval, cheia de fitas e seu nome vem da música “brincadeira de
criança, como é bom, como é bom”. A equipe Amarelinha se inspirou na brincadeira de
mesmo nome e construiu um estandarte móvel no formato de uma amarelinha. A equipe
Equilibrium nasceu da união de 4 pessoas diferentes representadas pelos 4 elementos,
de acordo com nossa personalidade: Camilla – água, Jésica – vento, Taísa – fogo e eu –
terra. O equilíbrio desses elementos faz tudo funcionar bem, então esse foi o nome
escolhido e com um toque de requinte, o escrevemos em latim.
Tivemos duas brincadeiras, a primeira foi um jogo da velha bem diferente. Um
tabuleiro no chão, duas equipes e 4 peões. Um membro de cada equipe colocava um
peão e em seguida, um membro de outra equipe fazia o mesmo. Ganhava a equipe que
fizesse uma linha, coluna ou diagonal. Os participantes tinham que fazer isso bem
rápido e foi muito divertido. A segunda brincadeira foi triângulo de bilas, eu logo quis
participar, pois essa brincadeira é muito tradicional na cidade em que nasci, Pentecoste.
Jogamos com algumas regras diferentes das que eu conhecia, mas o mais legal foi que
um dos guardinhas veio olhar a brincadeira e acabou por nos ajudar, dando dicas. A
Amanda venceu o jogo e a equipe dela ganhou uma literatura de cordel. O mais
importante foi que nos divertimos e interagimos, trocando experiências, negociando
regras em um momento único.
CONSULTA MÉDICA
Nesse dia, a equipe Tamo Junto fez uma ambientação bem diferente com
incenso. O engraçado foi que Taisa quando chegou achava que o ar-condicionado estava
pegando fogo, soltando fumaça ou algo assim, até ela descobrir que era só o incenso.
Também ganhamos um incenso, com uma mensagem sobre valorizar mais a sabedoria
que as riquezas. A acolhida também foi muito especial, a equipe Ciranda das Cores
preparou um espaço bem bonito com balões e fitas, parecia uma festa de aniversário!
Cada balão estava endereçado a uma pessoa da sala, tínhamos que encontrar nosso
balão, depois teríamos que interagir uns com os outros de acordo com a leitura de um
texto em que as palavras amor, amizade, alegria e paz representavam comandos como
aperto de mão, abraço e gargalhada. Foi muito divertido!
A discussão do texto ficou por conta da equipe Amarelinha. Eles fizeram um
“Show do Milhão”, com roleta e tudo! Quando acertávamos, ganhávamos dólares da
Disney e pontos para equipe. O texto trabalhado foi “Uma pirueta, duas piruetas…
Bravo! Bravo! A importância do brinquedo na educação das crianças e de seus
professores”, de Bernadete Porto e Sílvia Helena Vieira Cruz. O brincar é um direito
assegurado por lei, e isso se deve à sua relevância para o desenvolvimento integral do
ser. A teoria do brinquedo vem para respaldar essa conquista, mas ela precisa ser
vivenciada. Muitos autores, alguns já conhecidos por nós como Huizinga, Elkonin,
Kishimomoto, Luckesi, Piaget e Vygotsky, são citados na discussão sobre a importância
de se garantir a validação desse direito para todas as crianças. A ênfase do brincar pelo
brincar, não apenas com objetivos pedagógicos, é ressaltada, pois enquanto a criança
brinca ela se desenvolve, compreende o mundo, estabelece relações e vive um momento
de plenitude, em que sentimentos, ações e aprendizados não se encontram setorizados,
mas interligados. Por isso é importante que professores em formação e em atuação
compreendam a importância do brincar na vida das crianças, pelo caminho da
Ludicidade poderemos construir um mundo melhor, com pessoas vivendo plenamente.
Depois dessa discussão, fomos vivenciar a teoria do brinquedo, construindo
brinquedos e brincando! Construímos um balangandã com papel crepom. Cortamos os
papéis em tiras e compartilhamos as cores que trouxemos, o que foi muito mais
interessante, e todo mundo saiu com seu brinquedo bem colorido. Fomos para a frente
da FACED brincar com os balangandãs e enchemos a paisagem de cores flutuantes e
rodopiantes. Eu que estava no meio das cores, tentava imaginar como seria a visão
daquilo do lado de fora!
Voltamos para a sala e houve a premiação da equipe ganhadora da gincana na
aula passada e alguns tiveram que pagar uma prenda, dançando a música do quadrado,
que todo mundo acabou dançando ou cantando junto! Paiva nos trouxe sua memória em
forma de cordel, seus versos ricos me deixam feliz por conhecer alguém com alma de
poeta. A brincadeira foi apresentada pelos Mágicos da Pedagogia, que nos ensinaram
um truque muito legal de mentalismo com números. Já fiz esse truque com diversas
pessoas depois que aprendi e o resultado é sempre muito suspense, gargalhadas e
espanto.
Por fim, nossa equipe Equilibrium apresentou a memória. Passamos a aula
fazendo um vídeo dos melhores momentos, mas a tecnologia não estava disposta a nos
ajudar nesse dia. Ainda bem que tínhamos um plano B, inspiradas pelo Paiva e seus
cordéis, fizemos um cordel de cada momento da aula. Ficou engraçado e expressava o
que vivemos nesse dia de encontros e descobertas!
Hoje nosso ambiente foi o mais natural possível, pois estávamos sem energia
elétrica, então abrimos as janelas e fomos nos adaptando àquela situação. Nas mesas
encontramos um cartaz com uma poesia de Vinicius de Moraes, na nossa mesa havia a
poesia “O elefantinho”. Camilla e eu começamos a desenhar no cartaz e completamos a
poesia com versos sobre amizade, porque na minha opinião, o elefantinho tinha que
encarar o seu medo e fazer amizade com aquele passarinho. A acolhida aconteceu lá
fora. A dinâmica consistia em dar as mãos, memorizar a pessoa que estava a sua
esquerda e direita, depois andar se distanciando dessas pessoas até o comando de parar,
então tínhamos que dar as mãos às pessoas que memorizamos. Ficamos todos
embolados e tínhamos que voltar à roda inicial sem soltar as mãos, foi um verdadeiro
trabalho em conjunto! Foi muito legal saber que juntos conseguimos resolver melhor os
problemas do que quando estamos separados.
A discussão do texto aconteceu por meio de uma gincana. Como minha equipe
estava desfalcada, criamos uma equipe mista com Jonas e Rainara. Disputamos a
gincana, não ganhamos, mas valeu a participação. O texto trabalhado levanta uma
questão muito relevante sobre a teoria de Vygotsky. Uma teoria não pode ser mero
discurso, mas deve motivar a vida e a atuação do que a defende. Então, não basta falar
sobre o interacionismo, dizer ser interacionista quando sua prática não é coerente com a
teoria. Para ser interacionista é necessário compreender a teoria de Vygotsky e vivenciá-
la, então a prática falará mais alto que apenas um discurso.
Ser interacionista é compreender que a aprendizagem é ativa e fundamental para
o desenvolvimento do indivíduo, o conhecimento é constituído pelas atividades e
através das relações sociais, o indivíduo é capaz, competente, ativo e criativo. Além de
sentir o incômodo com o fracasso do aluno, defender o papel político da educação,
entender que o ensino está sempre condicionado à aprendizagem, acreditar na
capacidade criadora, ativa, reflexiva e construtora da cultura que a criança possui, mas
acima de tudo, interacionista deve ter esperança e acreditar na transformação do mundo
através da relações sociais, da plenitude, da beleza, da alegria e do amor.
Sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal, é necessário que compreendamos
como o brinquedo é importante para o desenvolvimento da criança. Quando ela brinca,
ela sempre age acima de sua idade, além do que já desenvolveu e isso faz com que ela
alcance níveis de desenvolvimento maiores a cada nova brincadeira. Retirar a
brincadeira da criança ou menosprezá-la representa a perda de oportunidades de
desenvolvimento através de vivências plenas.
Depois da discussão do texto, Paiva nos trouxe mais uma de suas memórias em
cordel. E então fomos construir o brinquedo do dia, o periquito baiano. Depois fomos
para fora fazer o periquito voar. No início ele não voava, e o guarda veio nos avisar que
o motivo era porque o rabo estava muito grande e deixava a pipa pesada. Quando
diminuímos o rabo do periquito, ele voou. Não tão alto quanto gostaríamos, mas o
suficiente para fazer aquele momento ser cheio de vida.
Fortaleza, 27 de maio de 2016
Hoje foi dia de Arraiá! Foi muito bom chegar na sala e ver as bandeirinhas e os
balões. Havia também uma mesa de guloseimas juninas. Agora que estamos no
finalzinho da disciplina, o clima de despedida é inevitável, mas as lembranças que já são
tantas sempre me farão lembrar da nossa turma e dos nossos encontros. Começamos
com uma dinâmica para formar novos grupos. Cada um recebeu uma frase
acompanhada de um desenho de um animal, o meu era um gato. Depois teríamos que
fechar os olhos e encontrar nosso grupo, nossos pares, através dos sons de cada animal.
Eu fui encontrada pela Taís e encontramos a Letícia e o Willian, o João chegou e
completou nosso grupo. Que dinâmica divertida, gargalhadas não faltaram.
Conversamos em grupo sobre o que gostamos e o que não gostamos na disciplina em
todos os aspectos. Foi difícil dizer o que gostamos mais, mas chegamos ao consenso de
que fomos bastante desafiados e isso nos ajudou a descobrir novas possibilidades. Sobre
o que não gostamos, discutimos sobre o fato de uma disciplina sobre Ludicidade, com
tantas vivências como essa, não ser obrigatória.
Discutimos em roda sobre o que todos escrevam no quadro. Acabamos
discutindo sobre currículo, sobre as relações de poder e as lutas travadas para favorecer
o poder de alguns. Depois, escrevemos as qualidades de um colega sorteado em um
certificado, eu sorteei a Letícia, mas eu não lembrava o nome dela. Eu tenho muita
dificuldade em aprender nomes de pessoas, de ruas, etc. Minha memória fotográfica é
bem melhor.
Vimos um vídeo do Palavra Cantada que nos ensinou a música Pipoca. Depois
tentamos brincar ao som da música, foi mais difícil do que parecia no vídeo. Me
lembrou as músicas que eu brincava na infância, mas o ritmo da música Pipoca é bem
diferente e acabava por me atrapalhar em alguns momentos. Depois nos grupos
menores, tínhamos que criar nossa própria coreografia da música, tivemos dificuldades
para construí-la, porque alguém sempre discordava de alguma parte. Quando nos
apresentamos, acabamos embolando a coreografia, mas valeu a diversão.
Depois do lanche junino, discutimos sobre o texto Estrelas. A exposição do texto
nos fez discutir sobre a criação da escola e as poucas mudanças ocorridas nela ao longo
do tempo não foram muito expressivas. Entendemos melhor a Pedagogia Tradicional e
concordamos que uma nova ordenação da escola voltada para a heterogeneidade,
acolhimento integral e protagonismo seria um bom caminho a seguir para uma educação
mais condizente com nosso tempo. Para isto, precisamos nos abrir ao uso de outras
linguagens como a arte, a estética e o cinema. A arte também é uma forma de
sistematização do conhecimento que toca muito além de nossa razão, chegando aos
nossos sentidos.
No último momento fizemos algumas atividades para exercitar nossas
expressões e nossa confiança no outro. O ponto alto foi voltar a brincar de “durin-
durin”, eu não sabia que tinha tanta saudade dessa brincadeira. Um momento de confiar,
de sentir-se livre, mas tão dependente do outro. Depois ficamos juntinhos sentindo o
ritmo da música, nos sentindo como grupo, nos olhando nos olhos, depois
descarregando toda a emoção do encontro em abraços. Depois tudo explodiu em dança,
em alegria, cantigas de roda e quadrilha. Uma mistura de emoções, sentimentos. Um
lugar de acolhimento, uma sensação de pertencimento é o que pode definir nosso
encontro de hoje. Ainda não acabou, mas já estou com saudade dos nossos encontros!