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A imaginagao sociolégica e quest6es criticas em C. Wright Mills: pontos de referéncia ao papel do educador Gastao Octavio Franco da Luz” Apresentagao £ exaustiva, na contemporaneidade, a abordagem do tiltimo século em fungio da velocidade das mudangas. Grosso modo, é possfvel identifi- car trés tendéncias basicas no modo de faze. a) uma que pretende a interpretagdo mais otimista, por meio da qual tudo 0 que se vem constituindo em crise deve ser compreendido como oportunidades. Nesta visio toffleriana de mundo, funciona a l6gica da oportunizacao de iniciativas, uma vez que pressupée quase que bastar um estado de alerta, que uma vez bem associado a “competéncias em pron- tidaio”, deve garantir 0 surgimento de espagos de atividades e ganhos, pois deste modo saber-se-ia “tirar vantagens” das transformagdes; b) uma segunda perspectiva emerge nos discursos patronais que, marcados por uma atmosfera de pretensa neutralidade, informam sobre a naturalidade dos adventos, sobre a inevitabilidade dos fatos e, sob a égide de um determinismo técito (no que entio, se fazem acompanhar por cien- tistas, tecnicos e tecnocratas), sobre a inexorabilidade do progresso cien- tffico, em relagio ao qual s6 restariam adequagdes € adaptagdes, com inevitaveis resultantes na ordem das perdas e ganhos; c) por tiltimo, encontram-se os trabalhos que recolocam a questao das mudangas numa concepgdo de exigéncias mais amplas e, certamente, mais ricas em dimensionalidade — refiro-me aos que, em seus recortes de * Professor do Departamento de Métodos ¢ Técnicas da Educagio da Universidade Federal do Parané. Educar, Curitibe, n.12, 961-85, 1996. Editora da UFPR a LUZ, G.0. da. A imaginagio socoligica ¢ qusties andlise, nfio perdem a perspectiva das pessoas, em especial dos que pos- sam ser chamados de pessoas comuns. E € neste ponto que, confrontada a iiltima com as duas anteriores formas de se interpretar os acontecimentos de nosso tempo, repousa uma sutil porém determinante diferenga de se discutir a(s) crise(s) — a aceitago de se ter gente enquanto paradigma. A otica humanista para a andlise das mudangas (ou revolugdes?) nao se prende somente ao resgate da questo ¢tica, moral, das conseqiiéncias dos processos decisérios nos ambitos da economia, das implementagdes tecnolégicas etc., sobre a vida das pessoas que na sociedade nao se aper- cebem de como foram envolvidas no fluxo das construgées hist6ricas. Ela é importante mesmo no trato racional que se deve dar no decorrer dos es- tudos, Assim € que, por exemplo, chama a atengio 0 fato de 0 processo de globalizagio, que caracteriza 0 final do século XX, enquanto se revela como foco de tensao pela incapacidade conjunta das instituigdes piblicas € do coletivo das pessoas Aquela se acomodarem, na instancia do privado, © comportamento humano revela muito methor capacidade de adaptacio a0 mundo televisivo por satélite, ao corteio eletrOnico, aos pacotes turisti- Cos internacionais ou ao emprego transocednico. Por outro lado, como outra forma de transformacio, a desintegracao dos velhos padres de re- lacionamento social humano e, como resultante, a quebra dos elos inter- geragdes, o que vale dizer entre passado e presente, geraria um individualismo associal absoluto, seja nas ideologias oficiais, seja nas ngo-oficiais. Este social, formado por individuos egocentrados sem inter conexdes, cuja meta se limita 4 busca da prdpria satisfagio (lucro, prazer...) afinal sempre fez parte dos pressupostos da teoria capitalista. Mas em sua génese nao foi assim que a revolucdo capitalista se processou. ‘Na aparente contradigao da sociedade burguesa, no se constitui em “enigma sociolégico” a introdugio de um individualismo radical na economia, despedagando todas as relagdes sociais ao faz@-lo, ao mesmo tempo em que sempre temeu o individualismo experimental radical na cultura, no comportamento ou na moralidade, Para tanto, com eficdcia construiu uma economia industrial baseada na empresa privada, combi- nando-a com motivagdes extramercado, como a ética protestante, com a nogdo de abstengao da satisfagao imediata, com a concepgo ética do tra- balho érduo, com as nogées de dever ¢ confianga familiar... Mas, neste fi- nal de século € milénio, 0 processo capitalista acaba corroborando o que ja havia sido prognosticado pelo Manifesto Comunista e por outros profetas da desintegragio dos valores: hoje encontramo-nos & deriva, configura- a Educar, Curiviba, n.12, 61-85. 1996, Editora da UEPR LUZ, G. 0. F. da. A imaginagao socioligica e quests mos uma “era de incertezas”, frente & qual nao dispomos de esquemas de referencia (Hobsbawn, 1995; p. 24-25), Como se nao mais fossem interessantes ou convenientes, os lagos valorativos se partiram e a questo nao é mais discutir a velocidade das mudangas, mas sim a violéncia da velocidade de mudangas, scus fatores causais, 0s nossos papéis frente a realidade e as perspectivas de estudo. Para tanto, uma apreciagiio de A imaginacdo socioldgica, de C, Wright Mills (1972), em dois capftulos da obra, “A promessa” ¢ “Da razio ¢ liberdade”, constitui-se em um exercicio de observagio da perenidade de relevancia das reflexdes do autor, bem como em fundamentagao argumen- tativa capaz de fazer frente aos discursos “objetivos” e/ou “neutros”, ao redor das quest6es da atualidade mundial, dos papéis da Cigncia Social, das pessoas enquanto componentes ativos do processo histérico e, des- tacadamente, do que cabe aos campos da educagdo e da cultura. Para a consecucio desta contribuigdo, quatro abordagens passam a ser feitas: qual 0 significado de imaginagao sociolégica; que relagoes exis- tem entre individuo e sociedade em Mills; qual a critica fundamental & Ciéncia Social contemporaneamente e quais as tarefas basicas para a Ciencia Social em nossos dias. O aforismo da imaginagao sociolégica Numa teoria é impossivel aceitar pequenas grandezas observaveis. Ao contrario, é a teoria que decide 0 que se pode observar. A. Einstein (..) e devemos lembrar que 0 que observamos ndo é & natureza mesma, mas a natureza imposta por nossa maneira de suscitar as perguntas. W. Heisenberg (apud Watzlawick, 1994, p.103) Um dos grandes dramas das pessoas comuns se localiza na niio-su- peracio de suas preocupagdes e angdistias, cujas origens nio Ihes sto claras. Quando tentam mobilizagdes, tendo em vista um fazer, uma agdo aparentemente solucionadora, percebem-se circunscritos, limitados por Ecducsr, Curivtos, m2, p.61-85. 1996. Editora da UFPR “B

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