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Nesta compreensão de que a luta entre bem e mal, a comissão de frente encenou
a luta entre os anjos da luz e os das trevas, disputa antiga e contínua, mas com vitória
garantida ao Bem pela morte e ressurreição de Jesus, como apresenta a cosmologia
cristã. Durante a performance artística, o ator que encena o Cristo, salta da escultura de
Antão e é flagelado,violentado pelo diabo e cai ao chão na posição de crucificado em
sua aparente derrota. Contudo, a coreografia não para aí, mas segue com o Salvador
ressuscitando e abençoando a todos na Marques da Sapucaí, em alusão à Páscoa Cristã:
paixão, morte e ressurreição. Então o espetáculo se reinicia!
Alguns sujeitos religiosos, cheios de “zelo” pela sua religião, fizeram um corte
tendencioso, reduzindo toda a apresentação à suposta vitória do anjo vermelho, o diabo,
negando o restante da encenação. É como se, ao assistir o filme “A Paixão de Cristo”
(2004), eles fizessem uma edição em que o filme termina com a flagelação de Jesus.
Curiosamente, Mel Gibson, nesta película, lança mão de uma personagem que
simboliza o diabo, que durante as cenas de sofrimento, parece estar induzindo os
guardas e gozando de um suposto controle sobre o Messias ensanguentado. Mas
ninguém se indignou.
O teólogo e educador Rubem Alves nos deixou pistas sobre o perfil das pessoas
que, apressadamente, lançaram “pedras digitais” sobre a belíssimo espetáculo da
Gaviões da Fiel: “Fundamentalismo é uma atitude que atribui um caráter último às
suas próprias crenças. O mais importante não é o que o fundamentalista diz mas como
ele diz. É a atitude dogmática e autoritária com respeito ao sistema de pensamento, e
inversamente a atitude de intolerância e inquisitorial ante qualquer tipo de ‘herege’ ou
‘revisionista’ que o caracteriza”.(“O enigma da religião”, 1993)
A luta de Santo Antão continua a ser travada nos corpos e nos perfis virtuais:
nossas tendências malignas em constante combate com nossa bondade. Todavia, o mal
venceu uma batalha no coração daqueles que, tendo fixado seu olhar na suposta derrota
de Cristo, ofenderam o carnavalesco e membros da Gaviões da Fiel, pois, como afirma
Jesus, “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12, 34).
Penso que a única falha da Escola foi um Jesus branco de olhos claros, como se
o Messias cristão tivesse nascido na Europa. Mas um Jesus moreno seria mais um
escândalo para os fariseus do internet.