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Baseada em Projetos
4 de Abril de 2018
Atualmente, 48 instituições de ensino superior no Brasil estão se organizando para adotar, formalmente,
as metodologias ativas de aprendizagem como modelo pedagógico. Elas fazem parte do Consórcio STHEM
Brasil, uma iniciativa da Semesp e da Laspau, ONG que difunde o conceito da aprendizagem ativa na
América Latina.
No entanto, há centenas de outras instituições que também estão procurando adotar metodologias ativas, mas
ainda não participam do consórcio.
Assim como há escolas de ensino básico realizando o mesmo movimento,
universidades corporativas e empresas de cursos livres.
Apesar do aumento da procura sobre o tema das Metodologias Ativas, trata-se de uma
discussão que vem acontecendo há quase 30 anos. Em 1991, o professor C. Roland
Christensen, da Universidade de Harvard, liderou a publicação do livro “Education for Judgment”, no qual,
em conjunto com outros pesquisadores, aborda com profundidade os desafios de se adotar a aprendizagem
ativa como abordagem pedagógica.
Como pesquisador e professor, tenho estudado metodologias ativas de forma sistemática e estruturada, e
venho adotando-as em minhas disciplinas desde 2013, em cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de
Design, Cinema, Publicidade de Propaganda, Administração e em programas para formação de professores.
Sempre que compartilho minhas experiências, noto um grande interesse por parte de professores e gestores
educacionais em relação ao tema, e muitas dúvidas comuns acabam vindo à tona. Desta forma, preparei uma
série de três artigos para o Portal InovEduc onde abordarei três técnicas de metodologias ativas com as
quais tenho mais experiência e leituras:
Aprendizagem Baseada em Projetos
Aprendizagem Baseada em Equipes
Método do Caso
O objetivo é compartilhar experiências, percepções e discutir brevemente a fundamentação teórica de cada
técnica.
De acordo com o Book Institute For Education (2008), os projetos podem variar de uma semana até um ano,
envolvendo apenas uma disciplina ou tendo caráter interdisciplinar, integrando diferentes professores, séries,
comunidade e adultos fora da escola.
Normalmente uma pessoa é convidada a realizar um projeto quando possuí competências para tal, adquiridas
previamente, e que serão utilizadas no decorrer do processo. No caso da aprendizagem por projetos, o
objetivo é inverso. O estudante não possui as competências necessárias para realizar o projeto, e precisará,
justamente, desenvolvê-las durante o processo, para que seja capaz de entregar o produto ou artefato
demandado pelo professor.
Portanto, o projeto se transforma em um recurso de aprendizagem, onde o objetivo não é a entrega do
produto ou artefato, mas sim o processo de aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários
para se chegar no resultado final.
Neste caso, se o projeto for, por exemplo, a realização de uma feira de comidas orgânicas, para determinar
as porções e quantidades de alimentos a serem comprados e preparados, é preciso saber multiplicar e dividir,
e os estudantes deverão aprender estas operações não pela determinação do professor, mas sim para a
realização o projeto, o que confere sentido à aprendizagem.
Como se aplica?
O projeto deve ser elaborado previamente pelos professores, como se fosse uma espécie de roteiro da
experiência de aprendizagem que os alunos enfrentarão. Deve partir de uma questão norteadora, relevante
para a vida dos estudantes, e que seja capaz de despertar interesse e motivação.
Os estudantes deverão ser guiados pelos professores durante um intenso processo de pesquisa. O papel do
docente deixa de ser narrar conteúdos ou explicar teorias, e passa a ser o de planejar situações de
aprendizagem relevantes, mediar conflitos e impasses dentro da equipe, sugerir caminhos de pesquisa e
questionar permanentemente os estudantes.
Em tese, os professores devem determinar o nível de dificuldade e flexibilidade que o projeto deverá ter para
os alunos. É importante haver espaço para os estudantes customizarem suas pesquisas e resultados finais,
mas sem que isso represente um desvio de rota em relação aos objetivos de aprendizagem.
Como se avalia?
A aprendizagem por projetos pode ser avaliada de duas formas:
1. durante o processo, em um modelo formativo, em que o professor avalia os estudantes através de suas
interações com as equipes
2. e ao final, através do produto ou artefato gerado pelo projeto. O ideal é que ambas as dimensões sejam
contempladas. É importante frisar que o professor deve ter em mente as competências que os estudantes
precisam desenvolver, e deve colocar seu foco de avaliação nelas.
Um projeto é uma metodologia rica, que normalmente oferece aprendizados não planejados pelo professor e
conduz as equipes a experiências não previstas. Isto é muito importante para uma experiência proveitosa de
aprendizagem por projetos, porém os professores devem sempre ter muita clareza de quais objetivos de
aprendizagem estão em jogo e do que precisa ser avaliado primordialmente.
Trabalho em grupo
Avaliação
Dinâmica de grupos
É normal professores confundirem a aprendizagem baseada em projetos com atividades que envolvam
cooperação ou aplicação de conteúdos ministrados previamente. Nem todo trabalho em equipe ou grupo
significa aprendizagem por projetos. A principal diferença da aprendizagem por projetos para um trabalho
em grupo tradicional é: em um trabalho em grupo os estudantes aplicam conhecimentos que foram
previamente trabalhados em sala de aula, ou realizam uma pesquisa solicitada pelo professor.
Na aprendizagem por projetos os estudantes vivenciam uma experiência diferente, pois partem de um
desafio ou problema apresentado pelo professor, e precisam construir um produto ou artefato que responda a
este problema. A confusão costuma acontecer pelo fato de a aprendizagem por projetos envolver pesquisas e
investigações.
No entanto, o projeto não se concluí com a descoberta de informações, mas sim com a criação de produtos e
artefatos a partir dos dados pesquisados. Os estudantes precisam efetivamente pesquisar e criar algo ao final
do processo.
Alguns professores utilizam a aprendizagem por projetos como instrumento de avaliação, por entenderem
que no projeto, conhecimentos previamente trabalhados podem ser aplicados. No entanto, isto é uma forma
inadequada de utilizar a metodologia, pois o objetivo é que o aluno aprenda durante o desenvolvimento do
projeto, ou seja, ele precisa ser exposto a novos aprendizados. Utilizar o projeto como recurso de avaliação
não leva a novos aprendizados, e funciona mais como exercício ou reforço.
A aprendizagem por projetos exercita níveis mais altos da Taxonomia de Bloom, como avaliação e criação,
permitindo aos estudantes praticar estes domínios cognitivos. É justamente por isso que deve ser aplicada
num contexto de desafio. Ser utilizada como avaliação ou exercício em equipe não estimula a criação, mas
apenas a reprodução de algo previamente aprendido.
Outro ponto importante é o estímulo à colaboração. Projetos envolvem decisões e conflitos em equipe, e a
busca pelo consenso e construção coletiva é um fator de envolvimento dos alunos no processo. É também
relevante que o desenvolvimento do produto ou artefato envolva tanto habilidades que os estudantes já
possuem, quanto a aquisição de novas. Aprender dentro do grupo é outra característica importante da
metodologia.
Construir espaços de autonomia é crucial, de forma a permitir que os estudantes realmente se apropriem do
processo e se guiem pelos seus interesses. No entanto, autonomia é prima-irmã da curiosidade, e uma não
sobrevive sem a outra.