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LOWY, Michael.

As paisagens da verdade e a alegoria do mirante (para uma sociologia crítica do


conhecimento. In: ______. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchhausen

1) O modelo científico-natural de objetividade

1.a - séculos de desenvolvimento do capitalismo possibilitam desenvolvimento de uma ciência da


natureza livre de julgamentos de valor e pressupostos ideológicos.

→ Feudalismo tinha como pedra angular a ideologia na forma religiosa. Essa esfera do ser
social é que assegurava a reprodução do metabolismo feudal, com suas hierarquias e a extração do
sobretrabalho camponês por meio de pressões extra-econômicas. O capitalismo dilui a necessidade
dessa pressão extra-econômica, separando economia e política, ao menos no plano ideal. O
resultado é que, onde reina o modo de produção capitalista, a extração de sobretrabalho se dá por
legalidades da assim chamada estrutura econômica, nomeadamente na forma de apropriação do
mais-valor. Para Lowy, esse dado indica que, no capitalismo, relativamente aos modos de produção
anteriores, a ideologia tem um papel diferente na reprodução da dominação, imbricando-se a
elementos políticos e econômicos, deixando de lado fundamentos ético-religiosos que prejudicavam
a constituição da ciência como um campo relativamente autônomo.

1.b - A possibilidade da neutralidade axiológica nas ciências naturais.

→ Lowy defende que a ideia de uma ciência livre de valores corresponde, até certo ponto, à
realiadade no que diz respeito às ciências naturais. Isso não o faz esquecer que as condições de
produção influenciam o antes e o depois das descobertas científicas, isto é, o que será pesquisado e
os usos a que se prestarão os avanços alcançados pelos cientistas da área. A pesquisa propriamente
dita, em seu valor cognitivo, entretanto, seria, sim, livre de valores.

1.c - O erro dos positivistas: decalcar das ciências da natureza a metodologia para as ciências
sociais

→ Positivistas confundem as ciências da natureza e as ciências sociais, cujos limites são


mesmo permeáveis e pouco claros, ao menos em uma zona intermediária. Isso não significa dizer,
no entanto, que a natureza da pesquisa científica e de seus resultados nas ciências sociais obedece à
mesma lógica das ciências da natureza – mas este é precisamente o pressuposto lógico do qual
partem os positivistas em suas construções teórico-metodológicas. Assim, o carro-chefe dos
produtos científicos dessa corrente tende a ser o afastamento do sujeito em relação ao objeto, a fim
de que este não seja contaminado por valores daquele.

1.d - Diferenças entre ciências sociais e ciências da natureza, por Lowy

→ Caráter histórico dos fenômenos sociais, produzidos, reproduzidos e transformados pela


ação humana; a identidade parcial de sujeito e objeto enquanto seres sociais; problemas sociais são
palco de objetivos antagônicos das classes sociais em disputa, contradições que se expressam
também na ciência; conhecimento da verdade pode transformar estrutura social, o que motiva sua
pretensão à descoberta ou ao ocultamento; cientistas incorporam visões de mundo das distintas
classes sociais, partilhando de seus objetivos mais gerais.

Nas palavras de Lowy, as ciências sociais têm sua especificidade assim descrita.
“A realidade social, como toda realidade, é infinita. Toda ciência implica opção. Como o
reconhecia Max Weber, esta opção é nas ciências sociais e históricas ligada a certos valores, pontos
de vista preliminares e pressuposições axiológicas, que determinam, em ampla medida, as questões
que se colocam em relação à realidade social, à problemática da pesquisa. Entretanto, como
procuramos demonstrar, as visões sociais de mundo e os valores (que fazem parte dela) intervêm
também na análise empírica da causalidade, na determinação científica dos fatos e de suas conexões,
assim como na última etapa da pesquisa: a interpretação geral e a construção das teorias. Em outras
palavras: é o conjunto do processo de conhecimento científico-social desde a formulação das
hipóteses até a conclusão teórica, passando pela observação, seleção e estudo dos fatos, que é
atravessado, impregnado, "colorido" por valores, opções ideológicas (ou utópicas) e visões sociais
de mundo” (p. 203)

2) Momento relativista da sociologia do conhecimento

2.a - Os limites do positivismo, acima esboçados, indicam a necessidade de se procurar outra noção
para a construção de um modelo de objetividade científico-social.

→ Uma saída é a inclusão do momento relativista neste modelo, ressaltando que todo
conhecimento relativo à sociedade é derivado de uma certa perspectiva, da qual participa o
observador. Esta é atravessada por diversos elementos, cujo preponderante, em termos de
possibilidades de objetivação, é a condição de classe. Com isso se quer dizer que há interpretações
verdadeiras e falsas, e que estas não são determinadas pela condição de classe do sujeito objetivante,
mas pela habilidade científica do observador. Contudo, as interpretações verdadeiras, elas próprias,
devem ser escalonadas hierarquicamente, de acordo com as possibilidades de verdade de cada
discurso, estas por sua vez determinadas pela condição de classe do intérprete.

“é forçoso reconhecer que certos pontos de vista são relativamente mal:: favoráveis à verdade
objetiva que outros, que certas perspectivas de classe permitem um grau relativamente superior de
conhecimento que outras. Não se trata de opor de forma mecânica e maniqueísta a verdade e o erro
(ou "a ciência" e "a ideologia"), mas estabelecer uma hierarquia entre os diferentes pontos de vista,
uma sociologia diferencial do conhecimento” (p. 205).

2.b - O modelo de objetividade científico-social pretendido deve considerar a condição de classe do


sujeito objetivante. Há, portanto, diferentes potencialidades de verdade relacionadas às diferentes
classes sociais.

→ Diante desta ótica, Lowy defende que o ponto de vista proletário é potencialmente
superior por ser ele uma classe revolucionária. Assim, em sua época vitoriosa, também a burguesia
fora uma classe social revolucionária, e portanto com ponto de vista superior em relação à nobreza.
A partir disso se explica o iluminismo, cujos apontamentos eram superiores às doutrinas da igreja
ou do direito divino dos reis. Avançando para a época capitalista, a classe revolucionária,
homologamente, tem também superioridade em seu ponto de vista, por poder enxergar aquilo que a
dominação burguesa esconde, nomeadamente a extração de mais-valor pelas regularidades do
capital. Nesse sentido, Lowy aproxima burguesia e proletariado, ainda que em épocas distintas; o
autor o faz, entretanto, para em seguida diferenciar as duas classes. Isso porque, se ambas têm em
sua história a potencialidade revolucionária, a particularidade do proletariado como última classe
revolucionária faz com que sua visão seja ainda superior àquela verificada entre a burguesia quando
do advento do modo de produção capitalista como modo de produção reinante. Seguindo as sendas
de Marx, afirma que, por ser o proletariado a classe que sofre o mal em geral, também ele tem a
capacidade de redimir toda a humanidade e enxergar todas as explorações e opressões advindas da
estrutura social.

3) paisagens da verdade e autonomia relativa da ciência


- A imagem do mirante: pontos de vista de classes sociais e seus privilégios

→ A fim de discutir as diferenças objetivas das formas de olhar características de classe


social, Lowy recorre à conhecida alegoria do mirante. Imagina diversos patamares encravados em
uma montanha, uns mais altos, outros mais baixos, identificando nos andares superiores o ponto de
vista da classe revolucionária da época – no caso capitalista, o proletário – e, nos inferiores, o ponto
de vista conservador – burguês. Discute, a partir daí, a relativa autonomia da ciência, para sustentar
que, se os mirantes elevados dão maiores possibilidades objetivas de se chegar a verdades mais
amplas, isso por si só não é garantia da efetivação dessa superioridade. Isso porque a habilidade do
observador também conta, isto é, sua destreza no trato com os instrumentos científicos.
Eventualmente, mesmo partindo do ponto de vista proletário, um analista pode ofertar ao público
elaborações e conclusões ainda inferiores àquelas verificadas entre a burguesia – devido à relativa
debilidade de sua capacidade científica. Um exemplo disso é o stand stalinista, cujas conclusões
eram ainda inferiores aos economistas políticos burgueses. Ocorre, no entanto, que intelectuais e
cientistas particularmente hábeis no seio da burguesia, jamais conseguirão ofertar uma visão da
totalidade social, ao menos sem abandonar as hostes burguesas e, consequentemente, seu patamar
de observação. Isso porque a altura de seu mirante torna impossível a observação da paisagem por
completa, ainda que assegure uma visão nítida de aspectos particulares da imagem.

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