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EVANGELISTA
O (Des)evangelho Segundo José Saramago
SALMA FERRAZ
1997
2
Agradecimentos
o meu amor
a minha gratidão
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...............................................................................................8
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................113
5
...
................................................
7
..................................................................
1 Fernando Pessoa. O Eu Profundo e os outros Eus (sel. poét.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, p.
142-146.
8
INTRODUÇÃO
“Deus está irremediavelmente sozinho. Deus está na
escuridão, o próprio Deus luta, procura, quer alguém que
Lhe estenda a mão, O ajude”.
HILDA HILST
2 Para o presente livro utilizaremos apenas a abreviatura ESJC. Todas as citacões do livro referir-se-ão
à 5a reeimpressão, publicada pela Companhia das Letras de São Paulo, 1992.
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outros, consagrados pelo cristianismo, como José e Maria, serão rejeitados pelo
quinto Evangelista.
Este evangelho humanista é construído por um evangelista que relê
episódios bíblicos dificilmente questionados, pelo lado demoníaco, instaurando
assim um "mundo às avessas", um (des)evangelho marcado pela "cosmovisão
carnavalesca", segundo os estudos de Mikhail Bakhtin.
A Historiadora Teresa Cristina Cerdeira da Silva, em seu livro José
Saramago - entre a história e a ficção: uma saga de portugueses, afirma que
Saramago reescreveu através dos seus livros anteriores ao Evangelho uma
"nova história de Portugueses (e não mais de Portugal)..."(p.28), pois relê a
História pelo lado dos perdedores, dos fracassados, compondo "romances onde
a marginalidade ganha voz e inverte o modelo ideológico" ( p. 266).
Podemos ir mais longe e dizer que o autor agora resolveu reescrever,
não outra história de portugueses, mas a maior e mais conhecida história do
mundo ocidental, a "história afinal arquiconhecida"(p. 127), a História de
Cristo, privilegiando não mais a História do Cristianismo, mas a História dos
Cristãos, projeto este que será complementado por In Nomine Dei, novamente
pelo lado dos perdedores, dos pecadores, dos fracassados, dos milenarmente
rejeitados, construindo o que Roberto Pompeu de Toledo chamou de Teologia
do Ateu3, e que nós denominamos de O Quinto Evangelista - O
(Des)evangelho Segundo José Saramago
Utilizaremos o prefixo Des, no sentido de "ação contrária",
"negação", "privação"4 do sentido primeiro da palavra "Evangelho", que
procede do grego euaggélion: "boas novas" ou "coisa que se tem por
verdadeira, ou que é digna de crédito"5. E, Evangelho Segundo Saramago, pois
após negar o sentido das "boas novas" presentes nos Evangelhos Canônicos, de
desconstruir a História mais conhecida do Ocidente, ele a partir daí, construirá
uma outra história, um outro Evangelho, Segundo Jesus Cristo, não o mito, mas
o homem, um Evangelho Antropocêntrico, porque na composição desta nova
teologia, "há um religioso que espreita e salva com terna complacência, por
acreditar nelas, essas figuras frágeis e indefesas que são os seres humanos"6.
Cremos que assim será possível darmos um pequena colobaração
para o entendimento destas "boas novas" apresentadas pelo Quinto Evangelista
que escreve um evangelho EM NOME DO HOMEM e não mais EM NOME DE
DEUS.
Antes, porém de estudarmos esses aspectos, somos tentados a
enquadrar o livro de Saramago dentro de uma certa tradição em parodiar,
dessacralizar os Evangelhos Canônicos. Tal tradição remonta à Idade Média,
3 Vide artigo intitulado "Cristo e o Deus Cruel". In: Revista Veja, São Paulo, 1992, p. 90-96.
4 Cf. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 540.
5 Id. Ibid., p. 736.
6 Roberto Pompeu de Toledo. Op. cit., p. 96.
10
afinal o enredo não passa de uma história muito antiga. E é exatamente nesse
contexto, desta História Arquiconhecida, que situamos O Quinto Evangelista.
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CAPÍTULO I
UMA HISTÓRIA ARQUICONHECIDA
7 Ricardo Arnt. Procura-se Jesus. In: Revista Super Interessante. São Paulo: Ed. Abril, Abr., 1996,
p. 56.
14
8 Harvey Cox, Professor de Teologia. In: Jesus Cristo no Cinema, documentário produzido pela CTVC,
EUA, 1992, do Diretor Martins Goodsmith, trad. Linke Peres A. de Araújo e exibido no Brasil pela
TV Cultura em Abr., 1994.
15
mencionados pertenciam ao cinema mudo), porém sua pessoa não aparece nas
filmagens. O enredo foi filmado, a partir do ponto de vista de Cristo; em
Barrabás (1935), o rosto de Cristo foi vetado na Grã-Bretanha, continuando
invisível, pois a Igreja assim o exigiu.
Em 1913, o Conselho Britânico de Censura Cinematográfica deixou
bem claras as seguintes proibições nos filmes sobre a vida de Cristo: a)
nenhuma nudez e b) nenhuma representação(visível) da pessoa de Cristo. Como
a pressão da Igreja foi muito grande, os diretores de cinema apelaram para um
recurso que deu certo. Por vezes, filmaram-se enredos que giraram em torno de
outras figuras paralelas dos Evangelhos ou da própria História, pois assim
poder-se-ia injetar histórias de sexo, traição e violência. Assim, Cristo poderia
aparecer no filme, como um pano de fundo, transformando-se em uma silhueta,
isso devido ao "peso da carga teológica" que sua figura representava. Cristo,
quando protagonista, não viria a se envolver com ações plausíveis e "reais", não
brigando, não amando, tornando-se “morno”. Com este artifício foi mais fácil
enganar a censura e alcançar o sucesso, como em Ben Hur, King of Kings, etc
Na seqüência, temos Rei dos Reis (EUA, 1961), de Nicolas Ray, que
ficou indeciso sobre o dilema humano/divino da vida do Cristo, prejudicando,
em muito, a aceitação do filme; The Greatest Story Ever Told, de George
Steven, filme este em que se buscou uma precisa veracidade histórica e no qual
os judeus foram absolvidos do papel de assassinos de Cristo. Um fato
interessante, nesse filme, é que muitos episódios foram montados a partir da
visualização de quadros famosos, como, por exemplo, a santa ceia, filmada a
partir da visualização de um quadro clássico de Leonardo da Vinci; O
Evangelho Segundo São Mateus (Itália, l964), do diretor marxista Pier Paolo
Pasolini, procurou recuperar o aspecto épico da vida de Cristo em detrimento
do Cristo ideológico criado pela Igreja.
Em Godspell (EUA, 1973), de David Greene, tivemos uma sátira
irreverente e animada, na qual, pela primeira vez no cinema, foi apresentado
um Cristo contemporâneo, com cabelo afro e sapatilhas, vestido como um
palhaço, um Jesus dos anos 60, que só trazia diversão e, surpreendentemente, o
filme foi bem aceito pelos fundamentalistas; Jesus de Nazareth (1977), filmado
em quatro episódios, de Franco Zeffirelli, alcançou um estrondoso sucesso, pois
além da magnífica interpretação de Robert Powell e de todos os demais atores,
o filme foi cuidadosamente montado para não agredir nenhuma denominação
religiosa ou corrente teológica e atingir milhões de pessoas de todos as crenças
e todos os credos; A vida de Brian (EUA, 1979), de Terry Jones, constituiu uma
comédia que salientava a linguagem de uma época, ironizando os clichês (do
vocabulário, da entonação de voz, de postura) dos filmes anteriores sobre Cristo
e satirizando a iconografia cristã. O filme causou muitas controvérsias, pois
fazia comédia sobre episódios considerados sagrados pela Igreja e usava uma
linguagem extremamente irreverente.
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tanto." É a instauração do profano, pois Judas, após ter traído Cristo, acusou
Deus de tê-lo predestinado ao papel de traidor. Suas palavras finais, antes de
enforcar-se, foram: "Nunca saberei porque me escolheste. Para o teu crime.
Para esse teu sangrento crime... Tu me mataste." E o próprio Cristo exigia de
Deus, por meio de um rock misturado a gritos desesperados: "Quero saber, meu
Deus. Quero ver, meu Deus, porque razão tenho de morrer... Disseste-me como
e onde, mas não a razão". Em meio a esta agonia, apareceram no filme dezenas
de imagens de quadros da Idade Média e da Renascença sobre a crucificação de
Cristo.
Herodes, por sua vez, acusava Cristo de ir para a cruz de livre e
espontânea vontade, não dando a ele a chance de salvá-lo, e que Cristo fazia o
papel de "títere inocente", um superastro no auge da glória, no momento de
instalar a Jesusmania. No instante final, na cruz, Cristo, revoltado com os
propósitos de Deus, proclamava: "Vou beber o veneno do teu cálice. Prega-me
na tua cruz. Quebra meu corpo. Sangra-me, açoita-me. Mata-me, mas faze-o
agora, antes que eu mude de idéia." E a mensagem central do musical foi esta:
Cristo, um mísero "títere", que teve apenas alguns minutos de glória, como um
superastro, nada mais.
O musical/filme terminou com a seguinte canção: Jesus Cristo...
Jesus Cristo... Quem és? Parece que esta pergunta tem permeado todos os
estudos, filmes, musicais, livros, que versam sobre o Cristo Histórico e o Cristo
da fé.
Em 1989 o diretor Denys Arcand filma Jesus de Montreal, uma
produção conjunta entre Canadá e França com Lothaire Bluteau e Catherine
Wilkening. O enredo é o seguinte: um diretor de teatro assume uma montagem
da Paixão de Cristo e introduz algumas alterações conceituais no texto e no
papel principal. O espetáculo é combatido pela Igreja Católica de Montreal e o
diretor acaba sendo martirizado, como um Cristo moderno. Denys Arcand relê
o Evangelho Segundo São Marcos, em busca dos novos fariseus.
A “onda” chega até a década de noventa com inúmeros cds e
musicais profanos. Em 1997 o conjunto Marilyn Manson lança um cd intitulado
Antichrist Superstar, cujas letras “disparam como uma metralhadora
preferencialmente contra as religiões, criando um universo povoado de vermes
famintos, anjos decaídos, demônios sedentos de vítimas e corpos mutilados.”11
Dogma, Estados Unidos 1999 de Kevin Smith, choca os católicos
conservadores já que é um pastiche cômico dos dogmas do catolicismo. No
enredo da comédia dois anjos desobedecem as ordens de Deus e por isso são
expulos do Céu. Ao contrário de Lúcifer, os protagonistas não são condenados
ao Inferno, e sim a vagar pelo Estado americano de Wisconsin. Os anjos caídos
- Loki e Bartleby - desafiam as ordens divinas e não descansam até encontrar
uma saída jurídica que lhes permita retornar ao paraíso. Mas se assim
11 Okky de Souza. Rock do susto. In: Revista Veja, São Paulo, Abr., 1997, p. 135.
18
12 Para maiores esclarecimentos vide artigo Um Cristo latino-americado. In: A Notícia: Florianópolis, p. 15.
13 Norman Mailer. O Evangelho Segundo o Filho. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 7.
19
14 Diogo Mainardi. "Rosário de Deboches". In: Revista Veja, São Paulo, Nov., 1991, p. 130.
15 Id. Ibid., p. 130.
20
17 Conforme Maurício Cardoso em "Jesus 2000 - Os desafios do cristianismo às portas do novo milênio"
In: Revista Veja, São Paulo, Dez, 1999, p. 168.
18 Norman Mailer. Rebelde em paz In: Revista Veja, São Paulo: Abril, fev de 1998, p. 10.
19 Norman Mailer. Op. cit., p. 10.
23
20 No sentido de "qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolve uma
posição filosófica, ética, metafísica, etc"ou ainda "modo de pensar ou de agir, princípios...", conforme
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Op. cit., p. 1480.
24
CAPÍTULO II
EM NOME DO HOMEM
tranqüilamente, com sua bolacha, numa ceia sagrada e íntima, excluindo Deus
de tal banquete, visto que foram expulsos do Jardim por Ele. Deus fica triste,
sente-se sozinho, pois o paraíso não é mais onde Deus pensara que fosse, dentro
do Jardim do Éden, mas sim do outro lado dos portais deste Jardim e é para lá
que Deus terá que ir quando quiser encontrar suas criaturas e desejar
companhia. A inversão processa-se, a tristeza e o remorso recaem sobre Deus e
não sobre o casal.
Se todos os narradores, instituídos por Saramago no decorrer de sua
obra, têm uma preocupação constante em satirizar os personagens bíblicos,
episódios do Velho e Novo Testamento, os milagres e a Igreja Católica, nada,
em todos eles, é tão marcante como a ironia que destinam à figura de Deus. Há
um perfil específico que os narradores imprimem ao Iahweh de Saramago.
Observemos como já em Levantado do Chão, a preocupacão com
Deus se faz presente:
“...toda a gente sabe que Deus castiga sem pau nem pedra, do
fogo é que tem longa prática. OAMRR, p. 373.
21 Para maiores esclarecimentos sobre o discurso herético em Memorial do Convento, consultar o item
2.4 A trangressão do código religioso: a heresia, Capítulo 2 do livro José Saramago entre a história
e a ficção: uma saga de portugueses de Teresa Cristina. C. da Silva. Lisboa: Dom Quixote, 1989.
28
“O Senhor lhe pedirá contas, como mas vai pedir a mim, e a ti,
bispo, quando chegar a sua vez.
Mas eu perguntarei ao juízo de Deus por que permite Ele esta
mortandade dos homens que vem desde o princípio do mundo,
Estes ódios de crenças, estas vinganças de povos, esta
interminável dor do mundo,
A quem não basta a morte natural.”(IND, p. 146).
22 Osman Lins. Lima Barreto e o espaço romanesco. São Paulo: Ática, 1976, p. 95. Sobre este particular o
autor esclarece que: “Podemos com certeza, ir mais longe e afirmar que uma determinada obra enreda
-se, não raro, nas demais obras do mesmo escritor.”p. 95.
23 Roberto Pompeu de Toledo. Op. cit, p. 96, grifo nosso.
31
24 Julia Kristeva. A palavra, o diálogo e o romance. In: Introdução à Semanálise. São Paulo: Perspectiva,
1974, p. 64.
25 Robert Stam. O espetáculo interrompido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, p. 29.
26 Teresa Cristina Cerdeira da Silva . O quinto evangelista ou da tigela ao graal. In: Anais do XIV Encontro
de Professores Universitários Brasileiros de Literatura Portuguesa. Porto Alegre:Edipuc,1994, p.187.
27 Segundo Maria Helena de O. Tricca (comp). Apócrifos - Os proscritos da Bíblia. São Paulo: Mercuryo,
1992, p. 12, a palavra apócrifo procede do “grego apokryphos, pelo latim apokryphu, e significa
literalmente algo ‘oculto’, ‘secreto’ e posteriormente o termo passou a ser usado para distinguir
não só o livro de ‘autenticidade duvidosa’, mas principalmente os ‘espúrios’ou ‘suspeitos de heresia’-”.
32
28 O historiador John P. Meier (Um Judeu Marginal - repensando o Jesus Histórico, p. 32), aponta para o
fato de que o próprio cristianismo aceita a existência dos chamados “os anos obscuros” da vida de
Jesus que compreendem praticamente toda a sua vida, exceto três ou quatro anos, correspondentes
aos de seu ministério.
29 James H. Charlesworth. Jesus dentro do Judaísmo. Rio de Janeiro: Imago, 1992, p. 27.
30 Roberto Pompeu de Toledo. Op. cit, p. 91.
31 Teresa C. Cerdeira da Silva. José Saramago - entre a história e a ficção: uma saga de portugueses.
Lisboa: Dom Quixote, 1989, p. 26.
33
mundo das verdades ficcionais, à primeira vista inconciliáveis, podem vir a ser
harmonizados na instância narradora.”32
E é exatamente isso que o autor faz no ESJC, ou seja, os dados
históricos são entretecidos, enredados no tecido ficcional, sem limites e
imposições, conciliados e harmonizados.
Outro intertexto utilizado e, de certa forma, também indicado pelo
próprio narrador, é o intertexto com a pintura, uma vez que alguns episódios
são construídos a partir da observação de certos quadros ou gravuras, como por
exemplo, a cena de abertura, a crucifixão de Cristo. Esta cena, o mórbido
emblema europeu da agonia do filho do homem na cruz que cultua a morte em
vez da vida, foi composta a partir da mescla de três gravuras de Dürer (1471-
1528): Madalena abraçada à cruz, A grande crucifixão e A crucifixão).
Saramago coloriu sua letra com as cores da paleta de Dürer, numa homenagem
da escrita ao artista que é considerado um dos maiores pintores alemães.
A narrativa tem uma correspondência muito próxima com a pintura,
pois além do episódio da crucifixão de Cristo, que abre o livro, ser uma leitura
detalhada das gravuras de Dürer, dois outros episódios do livro, os primeiros
passos de Jesus e João Batista no deserto, guardam profundas relações com,
respectivamente, A Madona da Serpente e São João Batista de Caravaggio33.
A correspondência pintura/literatura é uma estratégia utilizada para aguçar
ainda mais a percepção do leitor, que, se conhecedor de pintura, fará uma
leitura mais profunda do texto.
O diálogo com outros textos da literatura ocorre com a citação de
dois consagrados escritores portugueses: Camões, o príncipe dos poetas
portugueses segundo Hernani Cidade e com o supra-Camões: Fernando Pessoa.
O vilancete extraído diretamente da lírica camoniana (Descalça vai Maria,
descalça vai ao campo... ESJC, p.31) é chamado ao texto de Saramago para
reforçar a dessacralização da personagem Maria e a citação de Pessoa, num dos
momentos mais tensos do livro, a cena da barca, também corrobora a
carnavalização, pois a intenção do narrador é implantar uma dúvida, melhor,
quase certeza, no leitor: o Diabo, talvez não passe de um mero Heterônimo de
Deus, sem nenhuma possibilidade de livrar-se da maldade despótica e
sanguinária de seu criador.
Os intertextos mapeados no ESJC têm uma funcionalidade definida:
corroem o texto primeiro, proporcionam o nascimento de um segundo texto
cuja finalidade é reforçar o posicionamento do autor implícito em relacão às
suas criaturas. O autor compôs um vitral colorido e multifacetado, absorvendo,
transformando, reescrevendo, ironizando, replicando os textos citados,
debruçando-se sobre outros saberes, o que caracteriza toda a obra de Saramago.
Um rico espelho que reflete em si pinturas, escrituras e poesias; enfim, um
32 José Saramago. “História e ficção.” In: Jornal de Letras. Lisboa, 1990, p. 17.
33 Roberto Pompeu de Toledo já havia apontado isso em seu artigo “Cristo e o Deus Cruel”, p. 91-93.
34
35 Termos usados por FORSTER, E.M. Aspectos do romance. Porto Alegre: Globo, 1968.
36 Norman Mailer. Rebelde em paz. In: Revista Veja. São Paulo: Abril, 11 fev, 1998, p. 9.
36
37 Para maiores esclarecimentos consultar Mikhail Bakhtin In. Problemas da Poética de Dostoiévski.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981, p. 100.
38
38 Os termos foram usados respectivamente por Roberto Pompeu de Toledo (os dois primeiros),
Luciana S. Picchio e Antônio Martins Gomes.Vide indicação bibliográfica completa no final do
livro.
40
da era Cristã, perante os olhos do leitor do séc. XX, fazendo com que este
mergulhe naquela época ou dela se afaste. Podemos dizer que há um
embricamento entre o tempo épico da narrativa e o tempo histórico do leitor
buscado pelo texto, que parece querer identificar aspectos semelhantes e
diferentes entre estes tempos. Neste sentido, o pretérito histórico perde sua
noção de passado, adquirindo o sentido de atualidade presente, fazendo com
que o leitor tenha a impressão de que o enredo se desenvolve,
concomitantemente, à sua leitura do livro.
O ESJC é uma obra do século XX que retoma uma matéria
milernamente conhecida; não é apenas um romance de uma época passada e
significativa para toda a humanidade. Mais do que isso, é um texto em que as
épocas se intercruzam e configuram a verdadeira base temporal em que ele se
estrutura, realizando um duplo movimento do presente em direção ao passado e
deste em direção ao presente. A ação do passado é incorporada ao presente do
ato de escrever, o que comprova que o narrador apresenta uma visão
retrospectiva e crítica, pois isso parece fazer parte do "projeto político do autor
que o discurso generosamente realiza: narrar o passado com os olhos fitos no
presente"39.
Como exemplo dessa dupla temporalidade do narrador, que não está
confinado apenas ao presente do discurso, mas mantém seus olhos abertos para
os dois lados, relendo o passado "com a experiência vivida do presente"40,
adquirindo toda uma flexibilidade e transitando tranqüilamente entre o passado,
o presente e o futuro, citamos o exemplo abaixo:
44Maria Luíza Ritzel Remédios. O romance português contemporâneo. Santa Maria: UFSM, 1986, p.
49.
45Alfredo L. C. de Carvalho. Foco narrativo e o fluxo de consciência. São Paulo: Pioneira, 1981, p.
54. (neste capítulo o autor reconhece a dificuldade em distinguir precisamente análise mental,
fluxo de consciência e monólogo interior). No entanto, deve-se frisar que é justamente a diluição
de fronteiras entre os dois discursos - do narrador e da personagem - a direção que toma o texto
de Saramago.
43
46 Simone Pereira Schmidt. “No meu caso, o alvo é Deus: paródia e humanismo no Evangelho de
Saramago.” In: Discursos: Coimbra, 1994, p. 68.
44
47De acordo com Mikhail Bakhtin, literatura carnavalizada é "a literatura que, direta ou indiretamente,
através de diversos elos mediadores, sofreu a influência de diferentes modalidades de folclore
carnavalesco (antigo ou medieval). Todo o campo do cômico-sério constitui o primeiro exemplo
desse tipo de literatura", p. 92.
45
questão de que o leitor tenha sempre isto em mente, pois logo às páginas
iniciais do relato alerta:
destino inexorável, do qual não pode fugir, ocorrendo o mesmo com Cristo, seu
filho.
O que notamos é que, ao longo do texto, constrói-se uma relação de
semelhança entre o narrador e Deus. Aquele, na criação do seu universo
ficcional, não quer ser apenas um outro evangelista. Ele assume explicitamente,
e sem nenhuma modéstia, a posição de demiurgo (" ...nós, sim, que, como
Deus, tudo sabemos..."(p. 239 - grifo nosso), revelando também o poder e o
grau de sua onisciência, visto que "nós, pelo contrário, conhecemos tudo
quanto até hoje foi feito, dito e pensado, quer por eles quer pelos outros..." (p.
206 - grifo nosso). Está em todos os lugares, conhece os pensamentos mais
íntimos das personagens; sabe o fim desde o começo; e, se "para Deus o tempo
é todo um" (p. 49), para ele o tempo "é uma superfície oblíqua e ondulante..."
(p.168).
Ao mesmo tempo em que ressalta a sua onisciência, procura
restringir a onisciência divina, pois "... Deus, se de algo sabe, é dos homens, e
mesmo assim não de todos" (p.77) e "a vida da pobre gente já naquele tempo
era difícil e Deus não podia prover a tudo." (p. 90-grifo nosso).
Interessante ressaltarmos que o narrador, ao referir-se a si próprio,
usa a primeira pessoa do plural - nós, justamente a pessoa verbal que, no Velho
Testamento, marca o discurso proferido por Deus: "Façamos o homem à nossa
imagem, conforme à nossa semelhança..."(Gên. 1:26). Estranhamente,
observamos que será exatamente sobre esta personagem, na narrativa, que o
narrador concentrará toda sua mordaz ironia.
Após localizarmos as raízes da concepção da personagem Deus do
ESJC, de ressaltarmos a funcionalidade dos intertextos aqui presentes e
analisarmos alguns pontos importantes do estilo endiabrado do narrador, que
faz do seu texto um romance quase pictórico e cinematográfico, nos
aprofundemos no ponto principal deste estudo: Vida e Morte de Jesus Cristo,
Vida e Morte de Maria Madalena, Vida e Morte de José, Vida e Morte de
Lúcifer e de outros importantes personagens do QUINTO EVANGELHO, que
foi escrito IN NOMINE HOMINIS.
49
"Jesus foi de fato um profeta muito grande, pois nenhum outro se afogou
como ele tão completamente na humanidade."
Rubens Ricupero
58 As presente características foram relacionadas pelo teólogo Paulo Augusto de Souza Nogueira,
Professor de Literatura Bíblica do Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo
do Campo no artigo denominado “Procura-se Jesus Cristo”. In: Super Interessante, São Paulo, Ed.
Abril, Abr., 1996, p. 50-51.
51
CAPÍTULO III
O QUINTO EVANGELISTA
“As mentes mais poderosas dos últimos vinte séculos
debruçaram-se sobre esse paradoxo. Algumas das
explicações são belíssimas, outras são muito eficientes,
mas todas são torturadas. Daí cheguei à conclusão de
que talvez a melhor abordagem para essa história seja
a de um romancista.” Norman Mailer
JOSÉ62
problema que José resolve é com relação ao chamados irmãs de Jesus. À Igreja
Católica interessava pregar e provar a virgindade pós-parto de Maria. Sendo
assim, estes irmãos são atribuídos a um primeiro casamento de José, que seria
viúvo quando conhece, não biblicamente, Maria. Pompeu enfatiza que um
marido foi necessário para compor uma família, mesmo que a mulher Maria
prescindisse de seus préstimos para gerar filhos. A realidade é que José, nos
poucos episódios em que atua, parece intimamente mortificado, ferido em seus
brios de varão e de macho. Pompeu afirma que José, é por excelência, aquilo
que no teatro e no cinema se chama de ator coadjuvante, sua função é criar
condições para que os outros brilhem.63 Até no presépio sua função é
decorativa. Lembramos também que muitos judeus da época apontavam que
Jesus era filho ilegítimo de José.
A vida de José, pai de Jesus na terra é misteriosa, mas começa com
um grande ato: ele aceita a gravidez da mulher Maria como obra do Espírito
Santo e passa a ser Pai e Protetor de Jesus, embora muitos o tenham visto
apenas como pai adotivo de Jesus. No passado foi acusado de ser um pai
relapso ou distante. A sua imagem de homem que recebia mensagens do Senhor
por meio de sonhos por muito tempo foi olvidada. Há poucos livros que falam
sobre José e no Brasil foi lançado São José, a personificação do Pai64 escritor
Poe Leonardo Boff. Boff retrata José como artesão que tinha oficina nos fundos
do quintal da casa e ali Jesus teria começado a trabalhar. Boff afirma que
provavelmente José e Jesus ternham trabalhado no campo no cultivo de plantas
e legumes e no pastoreio de cabras, ovelhas e gados. Sobre o fato de não haver
nenhuma palavras dita por José nos Evangelhos, Boff declara: “o silêncio é a
essência de José e a de quem ele personifica: o Pai celeste.”65 O grande
problema sobre este persoangem bíblico é que ele não pronuncia palavra
alguma e desaparece de cena misteriosamente, ninguém sabe como e nem
quando morreu. Só na França mereceu grandes estudos. O própio Corão escrito
em torno dos ano 600, dedica um capítulo a Maria e nenhuma linha José.
José foi retrato nas pinturas sempre como um ancião velho e
barbudo. Durante muitos séculos foi até motivo de graça na arte cristã primitiva
como aquele que não sabia de nada. A partir de 1.300 é reabilitado e passa a ser
considerado herói que trabalhava muito. É o santo Oficial dos Católicos do
México e do Canadá. Em 1570 Johannes Nolanus o retratou como jovem e
vigoroso, sepultando sua antiga imagem de velho barbudo. Segundo o artigo de
Célia Chaim o culto a São José começou provavelmente no Egito, passando
mais tarde para o Ocidente, onde hoje alcança grande popularidade. Em 1870, o
63 Toda esta brilhante análise do personagem José, que nós transcrevemos em discurso indireto livre, foi
feita por José Pompeu de Toledo no artifo Um certo José, publicado na Revista Veja, em 21/12/2005, p.
162.
64 Pelal Editora Verus.
65 Célia Chaim no artigo A Redescoberta de José In: Isto É, 2006, p. 54.
58
papa Pio XII o proclamou Patrono da Igreja Unviersal e, a partir de então, ele
passou a ser cultuado no dia 19 de março. Em 1955, Pio XII fixou o dia 1 de
Maio para São José Operário, o trabalhador. Em 1962, o papa João XXIII
colocou o nome de José no cânone da missa, a primeira inclusão registrada em
mais de 1.300 anos. O escritor Paulo Coelho afirma na entrevista citada acima
que “José é o protótipo da pessoa apenas coadjuvante, silenciosa e
anônima66. Ele ainda é uma sombra, embora benfazeja. É o modelo de cristão
anônimo.” Resumindo poderíamso dizer que José não nasceu santo, foi um
herói trabalhador e que conquistou pelo silêncio e humildade a santidade.
Mas o que nos interessa, no entanto, é o José do Quinto Evangelho.
Já nos comentários iniciais sobre José, logo às primeiras páginas do
romance, o narrador demonstra não ter muita simpatia por ele, pois revela o
ridículo e o cômico dessa personagem:
acima, de "José filho de Heli". No trecho abaixo, numa nova discussão com
Maria, Cristo exterioriza novamente sua mágoa com um certo desprezo pela
covardia de José, preferindo referir-se a ele como "teu marido", demonstrando
como o seu discurso se contrapõe ao discurso de seu pai e de sua mãe:
70 Northorop Frye (Modos da ficão trágica. In: Anatomia da Crítica. São Paulo; Cultrix, 1973, p. 51)
nos informa que "A comédia irônica leva-nos à personagem do ritual do bode expiatório e do
pesadelo, o símbolo humano que concentra nossos medos e ódios."
63
O narrador é afligido por sua onisciência, pois sabe que José morrerá
muito cedo, mas tem que fingir que não sabe. Trai-se, porém, e revela uma
certa angústia por vê-lo morto.
Ele também insiste que este não é aquele José, que se está no
domínio absoluto da paródia e do carnaval:
"... é que José, ainda que de um modo difuso, que mal lhe
passava ao nível da consciência, supunha agir por conta
própria e, acredite quem puder, com a mesma tenção de Deus,
isto é, restituir ao mundo, por um afincado esforço de
procriação, se não, em sentido literal, as crianças mortas, tal
qual tinham sido." p. 131.
75 Se procurássemos uma pintura que contasse sozinha a trajetória do José de Saramago, por exemplo,
poderíamos escolher sem receio o quadro do pintor Giusseppe Anciboldi conhecido como
Herodes com os cadáveres das crianças inocentes. Este pintor, nascido em Milão em 1527,
notabilizou-se por pintar quadros bizarros, compostos a partir de uma mistura de verduras,
utensílios domésticos, animais, pessoas, flores numa grande simbiose de elementos, misturando
aleatoriamente coisas animadas com inanimadas. O seu quadro mais famoso mostra uma gravura
do rostro de Herodes, que é montado a partir de centenas de pequenos bebês minúsculos e
contorcidos, demonstrando bem a loucura maníaca da face de Herodes. Não sabemos se o autor
observou este quadro também, mas ele, trocando-se a figura de Herodes por José, conta
perfeitamente toda a trajetória deste personagem Este quadro é citado e estudado no capítulo
dedicado à loucura, In: Maneirismo: O Mundo como Labirinto, de Gustav R. Hocke. São Paulo:
Perspectiva, 1986, p. 274
67
76 Carlos Heitor Cony. Um homem chamado José. In: Folha de São Paulo, 26 março de 2000, p. 1-2
Opinião, grifo nosso.
68
77 Luis Marques. As faces de Maria. In: São Paulo: Revista Veja, Ed. Abril, Dez., l996, grifo nosso.
78 Id. Ibid., p. 119, grifo nosso.
70
"... e se ela, afinal, está a mentir, não o poderá ele saber, mas
ela, sim, saberá que mente e mentiu, e rir-se-á dele por baixo
do manto, como há boas razões para crer que riu Eva de Adão,
de modo mais disfarçado, claro está, pois nessa altura ainda
não tinha um manto que a tapasse." p. 37.
84 Sobre esta polêmica, consultar o capítulo II “Família, Estado Civil e Condição como Leigo” de John
P. Meier. In: Um Judeu Marginal - repensando o Jesus Histórico.Rio de Janeiro: Imago, l992,
pg. 312-348.
85 De acordo com Gérard Genette em Op. cit, p. 168, o discurso narrativizado é o relato de um
acontecimento qualquer, no qual não há a transposição de falas, equivalente ao discurso indireto
livre.
86 No sentido bíblico, este verbo refere-se ao conhecimento sexual. "E conheceu Adão a Eva. sua
mulher, e ela concebeu e teve Caim..." Gênesis 4:1
73
prostituta (já que o prazer feminino não era visto como das "mulheres de bem"
pela Igreja) e não para a Santa mãe de Jesus. Mas, muito pior que a sua
profanação sexual, é a sua profanação moral.
A profanação moral de Maria se inicia, como observamos, pelas
constantes intrusões extremamente irônicas do narrador e se acentua com a sua
sexualização. Entretanto, a revelação completa do caráter de Maria ocorre
através de alguns episódios nos quais ela participa ativamente. Examinemos
alguns trechos que evidenciam o seu discurso, a sua fala.
Maria tem medo da verdade e por esse motivo quase nunca inicia
uma polêmica ou uma conversa: quase todas as vezes que entra em ação, é
encurralada por alguém que lhe provoca a palavra e a leva a expressar suas
idéias. Foge do confronto provocado pelo diálogo. Nas poucas vezes em que
participa, sua palavra, seu posicionamento é provocado por um interlocutor
que domina e conduz o diálogo. Ela é forçada, em todos eles, através da
comunicação dialógica, a experimentar o sabor amargo da verdade.
A primeira cena, na qual o narrador aparece apenas indicando as
falas, será a de Maria e Pastor discutindo sobre a morte dos inocentes:
sabes, Sim. sei-o, viveste com ele e sem Deus durante quatro
anos, E ao fim de quatro anos com o Diabo encontrei-me com
Deus, Estás a dizer horrores e falsidades, Sou o filho que tu
puseste no mundo, crê em mim, ou rejeita-me, Não creio em ti
(...)
Não te cremos, disse a mãe, e agora menos que antes, porque
escolhestes o sinal do Diabo..." p. 302.
apenas "uma mãe portadora", mas que está triste porque queria ter sido a
esposa do Senhor naquela noite. É a soberba e o orgulho extremo da mãe de
Jesus. O anjo, diante de tanta prepotência, continua acusando Maria, apenas
uma mulher ignorante, por não ter acreditado em seu filho: "... e tu, céptica, e
tu, desconfiada..." p. 313.
A distância entre Cristo e sua mãe, que já era imensa, se transforma
num abismo intransponível, demonstrando bem a oposição de seus discursos:
"Não há cego tão cego como aquele que não quer ver, disse
Maria. Estas palavras enfadaram muito Jesus, que respondeu,
repreensivo, Cala-te, mulher, se os olhos do teu filho viram o
mal, viram-no depois de ti, mas estes mesmos olhos, que para
ti parece que estão cegos, viram também o que nunca viste e
com certeza não verás." p. 299 (grifo nosso).
Com relação ao conflito direto entre Maria e Cristo, existe uma outra
passagem relatada pelo Evangelista São João por ocasião do milagre das Bodas
de Caná, extremamente constrangedora para ser explicada pelos teólogos.
Estavam neste casamento Jesus, seus discípulos e sua mãe que, ao observar que
faltava vinho, lhe diz:
"Não tem vinho.
Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? ainda não
é chegada a minha hora." S. João 2: 3 e 4 (grifo nosso).
3. 3 - SANTA MADALENA
"Então Maria de Magdala, crente e apaixonada, irá gritar por
Jerusalém - 'ressuscitou, ressuscitou!' E assim o amor de uma
mulher muda a face do mundo, e dá uma religião mais à
humanidade!" Eça de Queiróz In: A Relíquia, p. 121 (grifo
nosso).
homenagem semelhante e foi por ele perdoada. O papa São Gregório I – o Grande - identificou as três
como uma só pessoa e, a partir de então, o culto a santa Maria Madalena floresceu em todo o mundo.
93Marcia Maia. Evangelhos Gnósticos. São Paulo: Mercuryio, 1992, p. 82.
80
"As curvas dos teus quadris são como jóias, o teu umbigo é
uma taça arrendondada, cheia de vinho perfumado, o teu
ventre é um monte de trigo cercado de lírios, os teus dois seios
são como dois filhinhos gêmeos de uma gazela..." p. 282.
"Eu vi Deus(...)
Sou como a tua boca e teus ouvidos, respondeu Maria de
Magdala, o que disseres estarás a dizê-lo a ti mesmo, eu
apenas sou a que está em ti..." p. 306.
"Não sei nada de Deus, a não ser que tão assustadoras devem
ser as suas preferências como os seus desprezos, Onde fostes
buscar tão estranha idéia, Terias de ser mulher para saberes o
que significa viver com o desprezo de Deus, e agora vais ter de
ser muito mais do que um homem para viveres e morreres com
o seu eleito, Queres assustar-me(...) Deus é medonho (...)" p.
309 (grifo nosso).
83
Rechaçado por sua família, Cristo vai encontrar alívio não somente
no corpo de Madalena mas, principalmente, na sua alma pois “... se refugiava
no corpo de Magdala como se entrasse num casulo donde só poderia renascer
transformado." p. 350.
As palavras que surgem dos lábios de Madalena revelam um saber
próprio de uma profetisa hebréia "e agora vais ter de ser muito mais do que um
homem para viveres e morreres como seu eleito... Deus é medonho..." Ela vai
aos poucos assumindo, na vida de Cristo, o papel que era originalmente
destinado a Maria, sua mãe. Porém, percebemos serem algumas falas de
Magdalena da autoria do autor implícito, como essa acusação de que "Deus é
medonho", pois veremos mais adiante, o desprezo veemente dele, em relação à
personagem Deus.
Madalena tem consciência de que vai assumir o papel que era
destinado à mãe de Jesus, o poder mátrio, como protetora e conselheira; por
isso pede:
"Pode ser, mas Deus, que fez o mundo, não deveria privar de
nenhum dos frutos da sua obra as mulheres de que também foi
autor, Conhecer homem, por exemplo, Sim, como tu vieste a
conhecer mulher..." p. 411.
97 Julio Cortazar. Situação do romance. In: Valise de Cronópio. São Paulo: Perspectiva, 1974, p. 7l , 72.
86
Cobaias de Deus
(Ângela Rorô/Cazuza)
Cagando e andando
Vou ver o ET.
Ouvir um cantor de blues
Em outra encarnação
"... nem gente mais culpada terá havido que meu pai, que se
calou quando deveria ter falado, e agora este que sou, a quem
a vida foi salva para que conhecesse o crime que lhe salvou a
vida, mesmo que outra culpa não venha a ter, esta me matará."
p.223.
"Pai, meu pai, por que me abandonaste, que isto era o que o
pobre rapaz sentia, abandono, desespero, a solidão infinda de
um outro deserto, nem pai, nem irmãos, um caminho de
mortos principiados." p. 189.
104 Mikhail Bakhtin. Formas de tempo e de cronotopo no romance. In: Questões de Estética e de
Literatura - A teoria do romance. São Paulo: Hucitec, 1993, p. 242.
95
Numa tensa conversa com sua mãe, ele esclarece e defende seu
próprio comportamento:
DEUS E O DIABO111
111 Auts. Sérgio Brito, Paulo Miklos e Nando Reis. Grav. Titãs, Disco WEA.
102
3.5. OS HETERÔNIMOS DO
CRISTIANISMO
"Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe.
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo"
José Régio In: Cântico Negro.
112 Sobre as diversas faces e mácaras do Diabo, consultar O Diabo - A Máscara sem rosto de Luther
Link. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
113 Carlos Roberto F. Nogueira. O diabo no imaginário cristão. São Paulo: Ática, l986, p. 18.
104
"... a palavra que mais vezes lhe sai da boca não é o sim, mas o
não (...)" p. 312.
114 Anatol Rosenfeld. O Teatro Medieval. In: O teatro épico. São Paulo: Perspectiva, l986, p. 35.
115 Maria Lucia P. de Aragão. Op. cit., p. 21.
106
117Sobre este particular Antônio Martins Gomes (A última tentação de Saramago. In: Jornal de
Letras. Lisboa, Jan, l992, p. 13), informa-nos que a figura de Cristo "continua a ser de alguém
que se eleva acima da raça humana, mas que não chega à categoria de deus. Jesus Cristo é,
assim, visto como um herói que, numa perspectiva mítica, pode ser filho de um deus e de
um ser humano, se coloca a um nível intermédio, tal como os heróis Ulisses, Hércules,
Ájax ou Aquiles. Daí a importância do destino fatalista, condicionante da ação das
personagens..." (grifo nosso)
"E por que foi que quiseste ter um filho, Como não tinha
nenhum no céu, tive de arranjá-lo na terra, não é original, até
em religiões com deuses e deusas que podiam fazer filhos uns
com os outros, tem-se visto vir um deles à terra para variar,
suponho, de caminho melhorando um pouco uma parte do
gênero humano pela criação de heróis e outros fenômenos ... "
p. 366.
119 Vide pinturas do pintor holandês Hyeronymos Van Bosch, em especial A tentação de Santo Antônio.
120 Gaston Bachelard. A água e os sonhos. São Paulo: Martins Fontes, p .139.
109
vez, há uma nova pista para o leitor, "as mãos de um corpo como o de Deus ..."
O narrador compara o Diabo a Deus e o Diabo, ao entrar na barca, ocupará uma
posição estratégica entre Deus e Cristo: é a posição de mediador e de
intercessor, no cristianismo, ocupada pelo Espírito Santo. É como se uma nova
trindade começasse a se delinear.
As relações perigosas entre os dois intensificam-se pelas constantes
pistas fornecidas pelo narrador:
"Jesus olhou para um, olhou para o outro, e viu que, tirando as
barbas de Deus, eram como gêmeos, é certo que o Diabo
parecia mais novo, menos enrugado, mas seria uma ilusão dos
olhos ou um engano por ele induzido ..." p. 388 (grifo nosso).
tempo ajoelhado a rezar que acabou por criar calos, onde, nos joelhos
evidentemente, e também se diz, isto agora é contigo, que fechou o Diabo numa
bota, ah, ah, ah, Eu, numa bota(...) isso são lendas (...)" p. 386.
O peso do elemento irônico e cômico, nas colocações feitas pela
personagem Deus, é surpreendente e cabe lembrar que "a ironia, é, sem dúvida,
um dos fortes elementos da paródia. É a consciência agindo sobre a
tradição"124. Em sua perversidade, a personagem discute com o Diabo os
purgatórios futuros de seus filhos, ironizando-os e zombando, galhofeiramente,
dos mesmos. Ele continua sua narrativa tétrica, às vezes patética, contando os
sacríficios dos anacoretas, dos monges, suas vidas piedosas para enfrentar os
demônios e as tentações, as flagelações, vigílias, orações, até chegar às ordens
monásticas da Idade Média. É um sumário perfeito que abrange, praticamente,
1500 anos.
Em meio a esta narrativa marcada pelo vermelho do sangue dos
inocentes, o Diabo intromete-se na conversa:
"Digo que ninguém que esteja em seu perfeito juízo poderá vir
a afirmar que o Diabo foi, é, ou será culpado de tal morticínio
e tais cemitérios, salvo se a algum malvado ocorrer a
lembrança caluniosa de me atribuir a responsabilidade de fazer
nascer o deus que vai ser inimigo deste, Parece-me claro e
óbvio que não tens culpa, e, quanto ao temor de que te atirem
com as responsabilidades, responderás que o Diabo, sendo
mentira, nunca poderia criar a verdade que Deus é, Mas então,
perguntou Pastor, quem vai criar o Deus inimigo, Jesus não
sabia responder, Deus, se calado estava, calado ficou, porém
do nevoeiro desceu uma voz que disse, Talvez este Deus e o
do deus inimigo. Esta voz não é de Deus, nem do Diabo e nem de Cristo, pois é
o Diabo quem pergunta e não poderia responder a si próprio, e Deus e Cristo
permanecem calados.
Surge então a seguinte pergunta: quem então está falando? Está
nítido que esta voz sem rosto não é de nenhum dos três, mas ousar é preciso. O
narrador posiciona-se tão favoravelmente ao Diabo e a Cristo, e tão
desfavoravelmente a Deus, em virtude do seu desejo inexplicável e insaciável
de matar milhões de inocentes, que sua voz se corporifica e ele “outra-se”,
juntamente, com o autor implícito, resolvem entrar na barca, tal é a angústia e a
importância deste momento. E entram na barca, para quê? Para
(des)evangelizar, explicitamente, o leitor: "Talvez este Deus e o que há-de vir
não sejam mais do que heterônimos, De quem, de quê, perguntou curiosa outra
voz, De Pessoa ..." p. 390 (grifo nosso).
O diálogo do trecho acima remete-nos, sem dúvida, à literatura
portuguesa, na medida em que "heterônimos" e "Pessoa" estão ligados ao poeta
português Fernando Pessoa128. Quanto às duas vozes saídas do nevoeiro e que
respondem ao Diabo, tendemos a identificá-las, respectivamente, ao narrador e
ao autor implícito que sai da sua camuflagen, do seu silêncio e explicita-se,
surpreendentemente, no momento mais crucial da narrativa, deixando, ainda
que por alguns instantes, o disfarce (Wayne C. Booth) ou a máscara (Wolfang
Kayser)129 cair, para ganhar, se não corpo, uma voz que se mostra apreensiva tal
é a gravidade do momento. Essas duas vozes pairam no ar, para explicitar aos
três e ao leitor, o que todos, provavelmente, já sabiam: o deus inimigo que
surgirá - a besta do Apocalipse, cujo número é 666, o anti-Cristo, não passa de
um heterônimo de Deus, reportando-nos a Pessoa, ao seu fenômeno complexo
de desdobrar-se em vários outros, o esplêndido e espantoso caso de sua vasta
criação heteronímica. A abordagem do problema da heteronímia cristã na barca
denota por si só que estamos diante de uma narrativa dialética. A intrusão do
narrador é tão absurdamente espantosa, entrando na diegese e agindo, que se
faz um silêncio constrangedor e que se impõe a todos.
Todas as pistas fornecidas pelo narrador ao leitor agora se
esclarecem: a sugestão de abrir Deus e encontrar o Diabo dentro dele, a fala do
discípulo Tiago sobre as relações existentes entre Deus e o Diabo, a semelhança
física entre os dois, destacada nas descrições, o interesse dos dois pelos mesmos
assuntos. Com todas essas pistas, o que o narrador quer frisar para o leitor é que
o Diabo é simplesmente um heterônimo de Deus, ou seja, seu alter ego. Mais
128 Fernando Antonio Nogueira Pessoa, autor de Mensagem e com vasta obra heteronímica, tem
desafiado os críticos da literatura portuguesa contemporânea. Na impossibilidade de citar todos
os textos que abordam a questão dos heterônimos de Pessoa, remetemos a um texto clássico de
João Gaspar Simões: Vida e obra de Fernando Pessoa. 2.ed. Lisboa: Bertrand, Amadora, s/d.
129Sobre esta terminologia específica consultar Maria Luiza Ritzel Remédios em obra já citada
anteriormente.
121
130 David Hayman. Um passo além de Bakhtin - Por uma mecânica dos modos. In: Sobre a Paródia.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro número 62, 1980, p. 3l.
131 Mikhai Bakhtin. Op. cit., p. 168.
132Julia Kristeva. op. cit., p. 76.
122
136 Bruno Paes Manso e Fernando Luna. Satã entre nós. In: Revista Veja. São Paulo: Abril, Ed. 1583, ano
32, n. 5, fevereiro de 1999.
127
Tudo isso em nome de uma obra "sagrada", realizada, devido a um voto feito por
D. João V, para que sua mulher lhe desse um herdeiro.
O narrador concebe a imagem de um Diabo inocente e misericordioso,
incapaz de relacionar tal crueldade a uma obra "santa", uma vez que nem mesmo
ele teria "imaginado suplício assim para a coroação dos castigos do seu inferno".
Espanta-se com a missa profana que o padre reza em cima da pedra no dia seguinte
à morte do trabalhador. Neste sentido, o profano instaura-se, o discurso do
narrador é herético, pois é o "narrador que compara a morte de um homem à morte
de Cristo, que inverte o conceito de inferno, que faz do frade o sacrílego, do diabo,
um aprendiz, do trabalhador morto, a vítima imolada"137 e herético também, uma
vez que se posiciona ao lado de seiscentos homens desconhecidos pela história
oficial.
Se em Memorial do Convento o Diabo já nos é mostrado sobre outro
ângulo, no ESJC ele é o grande protagonista e está presente nos momentos mais
cruciais da narrativa, passando de “desherói” para herói. Isso, de certo forma, faz-
nos recordar o satanismo no sentido atribuído por Milton que, em seu grande
poema O Paraíso Perdido, reserva a Satanás o papel de protagonista,
transformando a rebelião do anjo caído em um tema glorioso, privilegiando o
pecado e a revolta, deixando a Adão, praticamente, um papel secundário. Teria
chegado, finalmente A Hora e a Vez de Lúcifer?
Nomodiabopadrofilhospritossantamêin!
A simpatia de Saramago pelo Diabo é, um sentimento não muito
herético, pois está ancorado em verdades presentes na própria bíblia. É Couté
quem constata, após analisar os evangelhos bíblicos, que há um número excessivo
de encontros e diálogos entre Cristo e Satanás. Neles há uma convivência até certo
ponto tranqüila entre os dois, ocorrendo uma certa malealidade no entrechoque de
propostas. Segundo o autor, nos evangelhos bíblicos:
"... limitei-me a tomar para mim aquilo que Deus não quis, a
carne, com a sua alegria e a sua tristeza, a juventude e a
velhice, a frescura e a podridão, mas não é verdade que o
medo seja uma arma minha, não me lembro de ter sido eu
quem inventou o pecado e o seu castigo, e o medo que neles
há sempre." p. 386.
139 Bruno Paes Manso & Fernando Luna. Satã entre nós. In: Revista Veja, São Paulo, fev. 1999, ed.
1583, p. 58.
140Ernest Cassirer. Linguagem e Mito. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 68.
129
CONCLUSÃO
A HERESIA DO SARAMAGUIANISMO
"É preciso que o homem se passe, com armas e bagagem, para o
lado do homem." André Breton
146 Laura Capriglione. Soldados da fé e da prosperidade. In: Revista Veja. São Paulo: Ed.. Abril, Jul.,
1997, p. 92. Cabe esclarecer que um dos motivos que causou a indignação de Lutero foi a venda de
indulgências realizada pelo para Leão X. Para reconstrução da basílica de São Pedro (Roma) o Papa
oferecia a remissão total ou parcial dos penas que o pecador iria sofrer, dependendo da quantia de dinheiro
que o pecador doasse.
147 Relato fornecido por Ernesto Bernardes no artigo O Paraíso perdido. In. Revista Veja. São Paulo, Ed.
Abril, 1997, Abr., 1997, p. 102.
134
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