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Segue o ciclo dedicado ao Filho. Em vista dos subterfúgios de Ário para negar a
perfeita divindade do Filho, os Padres de Niceia decidiram incluir uma glosa de suma
importância: “Isto é, da essência(ousía) do Pai”. Os Padres assistentes do Concílio,
especialmente Santo Atanásio, que acude como diácono de Alexandro de Alexandria,
testemunharam depois a intenção do Concílio ao introduzir este inciso: sublinhar a
estrita geração natural do Filho por parte do Pai. O Concílio quer proclamar em
forinequívoca que o Filho não é ago feito pelo Pai, mas uma comunicação do próprio
ser do Pai por modo de geração.
Especial importância teológica reveste o fato de que, para reafirmar o quanto se vem
dizendo em torno da filiação do Verbo, utiliza-se um termo filosófico e não bíblico:
homousios. Precisamente porque o Pai entrega ao Filho sua própria substância ao
gerar-Lhe, é necessário dizer que o Filho tem a mesma substância que o Pai. A
intenção do Concílio é patente: rechaçar a “helenização” do Cristianismo propugnada
por Ário. E para rechaçar o compromisso ariano com o pensamento helênico, utiliza
um termo próprio da cultura grega.
Por outro lado, nos encontramos nos começos do uso da linguagem filosófica para
expressar a fé. Isto explica que a linguagem seja, todavia, muito fluida, sem que os
termos tenham adquirido o sentido exato que adquiriram posteriormente, no século
IV. Aqui “hypostasis”- etimologicamente, o que está embaixo – aparece equivalente a
“ousía”, substância ou essência, ou seja, o que uma coisa é. A distinção entre “ousía” e
“hypostasis”, irá se estabelecer poucas décadas mais tarde, com os Padres Capadócios.
Em qualquer caso, Niceia, ao dizer que o Filho é gerado da “ousía”do Pai, está dizendo
que é gerado da essência ou substância. O Verbo provem da “essência”, como quem
diz das mesmas entranhas do Pai e não é, como as criaturas, fruto externo de um ato
de sua vontade onipotente.
Aí está o iter idearum do Símbolo ao usar o homousios: Jesus Cristo é Filho, logo é
gerado; é gerado, logo provém da mesma essência do Pai; provém da essência do Pai,
logo não tem essência diversa da sua, pois todo filho recebe a mesma natureza do pai.
Isso vai sendo enraizado aos poucos na vida da Igreja. Embora se pensasse que
com a introdução desse novo termo, a crise Ariana seria solucionada, não foi, de fato,
o que aconteceu. Foram necessárias diversas pontualizações e esclarecimentos
posteriores ao longo da história. De toda forma, mesmo com a Crise Ariana, a Igreja
permaneceu na ortodoxia, à exemplo de Santo Atanásio, mantendo a fé na sua
integralidade e pureza.